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CAS – USO DA FORÇA E TÉCNICAS NÃO LETAIS Diretoria de Educação 2022 Curso de Aperfeiçoamento de Sargentos - CAS USO DA FORÇA E TÉCNICAS NÃO LETAIS 2ª Edição - 2022 CAS – USO DA FORÇA E TÉCNICAS NÃO LETAIS Diretoria de Educação 2022 Espírito Santo. Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social. Polícia Militar do Espírito Santo. Apostila de Uso da Força e Técnicas Não Letais: Polícia Militar do Espírito Santo/Espírito Santo. 2. ed. - Vitória: PMES, 2022. 27 p.: il, 22cm 1. Segurança Pública 2. Polícia Militar. 3. Curso de Aperfeiçoamento de Sargentos. 4. Uso da Força e Técnicas Não Letais. CAS – USO DA FORÇA E TÉCNICAS NÃO LETAIS Diretoria de Educação 2022 Mensagem do Diretor Prezado(a) Aluno(a), XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX ALESSANDRO MARIN – CEL QOCPM Diretor de Educação da PMES CAS – USO DA FORÇA E TÉCNICAS NÃO LETAIS Diretoria de Educação 2022 Sumário 1. INTRODUÇÃO _________________________________ Erro! Indicador não definido. 2. INSTRUMENTOS DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO Erro! Indicador não definido. 3. MATRIZ OPERACIONAL DOS NÍVEIS DE SUBMISSÃO E USO DA FORÇA ____ Erro! Indicador não definido. 4. CLASSIFICAÇÃO DAS TÉCNICAS E TECNOLOGIAS RELACIONADAS AO USO DA FORÇA _________________________________________ Erro! Indicador não definido.3 5. AGENTES QUÍMICOS _________________________________________________ 15 6. PRINCIPAIS AGENTES QUÍMICOS UTILIZADOS NA PMES __________________ 19 7. PRINCIPAIS RECURSOS UTILIZADOS NO USO DIFERENCIADO DA FORÇA NA PMES__________________________________________________________________ 22 Referências Bibliográficas _________________________________________________ 255 Ficha Técnica ___________________________________________________________ 26 CAS – USO DA FORÇA E TÉCNICAS NÃO LETAIS Diretoria de Educação 2022 5 1. INTRODUÇÃO O texto constitucional brasileiro por meio do art. 144 elenca as instituições responsáveis pela segurança pública, bem como detalha suas atribuições: Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: I - polícia federal; II - polícia rodoviária federal; III - polícia ferroviária federal; IV - polícias civis; V - polícias militares e corpos de bombeiros militares. VI - polícias penais federal, estaduais e distrital. § 5º Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil (BRASIL, 1988). Entre os órgãos do Sistema de Defesa Social, destaca-se a Polícia Militar, força auxiliar e reserva do Exército Brasileiro, que possui competência para o exercício da atividade de polícia ostensiva para a preservação da ordem pública. O trabalho realizado pela Polícia Militar é complexo e possui diversos fatores, de modo que se torna necessário ao operador de segurança pública possuir diversas habilidades para compor o rol de possibilidades de intervenção conforme cada caso concreto. Entre essas habilidades destaca-se o uso de força (MINAS GERAIS, 2013). Nesse entendimento, o uso da força legitimada do Estado funciona como CAS – USO DA FORÇA E TÉCNICAS NÃO LETAIS Diretoria de Educação 2022 6 mecanismo de regulação social, de modo que não pode ser utilizado indiscriminadamente, sem regras claras quanto a sua utilização (ESPÍRITO SANTO, 2020). A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) explicita a intenção do controle da atividade estatal quanto ao uso da força, uma vez que condena a tortura, o tratamento degradante e desumano. A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB/88), por sua vez, recepciona estes termos por meio do artigo 5º, III, sendo que, especificamente quanto à tortura, o inciso XLIII, classifica como crime inafiançável e insuscetível de graça ou anistia (ESPÍRITO SANTO, 2020). Dentro do cenário brasileiro, a Matriz Curricular Nacional para Ações Formativas dos Profissionais da Área de Segurança Pública apresenta a preocupação e a necessidade de educar profissionais capazes de lidar com as diferentes formas de violência, o que remete ao entendimento de saber operar e compreender as consequências em virtude do uso da força em seus mais variados níveis (BRASIL, 2014; ESPÍRITO SANTO, 2020). Logo, o monopólio do uso da força pelo Estado possui inúmeros elementos de regulação, de modo que os agentes encarregados da aplicação da lei devem conhece-los, estando aptos e preparados para sua utilização de forma plena e adequada (ESPÍRITO SANTO, 2020). O uso da força é inerente ao trabalho policial militar e, a partir do entendimento de que há diferenciados níveis de força, diversas habilidades são exigidas. Assim sendo, tomando por base uma proposta de uso diferenciado da força será possível conceituar, planejar, treinar e comunicar os critérios sobre o uso da força por parte dos policiais, mantendo o equilíbrio adequado em relação a reação dos abordados (MINAS GERAIS, 2013). Cabe destacar que a utilização da força como mecanismo legal deve ser o meio CAS – USO DA FORÇA E TÉCNICAS NÃO LETAIS Diretoria de Educação 2022 7 para a garantia da manutenção da ordem jurídica, executada, impreterivelmente, de maneira impessoal. A complexidade da ação policial torna o emprego da força extremamente meticulosa. Logo, os parâmetros discricionários do agente aplicar da lei devem pautar-se em conceitos jurídicos que legitimem a ação do Estado (ESPÍRITO SANTO, 2020). O policial militar, portanto, além de atuar de forma legal também deve descrever de maneira objetiva e detalhada, os motivos que o levaram a utilizar determinado nível de força, bem como todo o contexto envolvido em sua tomada de decisão (ESPÍRITO SANTO, 2020). Ao adotar um modelo de uso diferenciado da força se espera que o Policial Militar empregue de forma legal, legítima, conveniente e proporcional os diversos níveis da força. Nesse contexto, apresentam-se os instrumentos de menor potencial ofensivo com alternativas a serem empregadas de maneira anterior ao uso da força potencialmente letal (MINAS GERAIS, 2013). CAS – USO DA FORÇA E TÉCNICAS NÃO LETAIS Diretoria de Educação 2022 8 2. INSTRUMENTOS DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO O termo Instrumentos de Menor Potencial Ofensivo (IMPO) refere-se à Lei nº 13.060, de 22 de dezembro de 2014, que visa disciplinar o uso dos IMPO pelos agentes de segurança pública, em todo o território nacional. Essa legislação estabelece que nos cursos de formação e capacitação dos agentes de segurança pública deverão existir conteúdos programáticos que os habilitem ao uso dos instrumentos não letais, cabendo ao Poder Executivo a edição de regulamento classificando e disciplinando a utilização dos instrumentos não letais (ESPIRITO SANTO, 2020). A Secretaria Nacional de Segurança Publica utilizou por muitos anos o termo “não letal” para caracterizar o campo de conhecimento atualmente delimitado pela Lei nº 13.060, de 22 de dezembro de 2014. Entretanto, faz-se importante ressaltar que a definição “não letal” possui ponto de interesse no objetivo que pretende alcançar e não na descrição do sistema (ALEXANDER 2003). Fica evidente, portanto, que o predicado “não letal” não significa que essas armas não podem causar a morte, mas que sua intenção é de que nãoo sejam, e para o caso de serem utilizadas seja improvável o resultado morte ou dano permanente (CHARLES, 2013, p. 16). Assim, conforme assevera Riani (2013, p. 85): é preciso entender que a não letalidade é mais do que um conjunto de técnicas ou de equipamentos. O conceito de não-letalidade é o que rege toda a produção, utilização e aplicação de técnicas, tecnologias, armas, munições e equipamentos não-letais em atuações policiais. O EAL que pauta suas ações por este conceito sabe que deve utilizar todos os recursos disponíveis e possíveis para preservar a vida de todos os envolvidos em uma ocorrência policial, antes de usar a força letal. Portanto, com vistas a adequação à legislação vigente tomaremos como referencia a conceituação “Instrumentos de Menor Potencial Ofensivo”. A Secretaria Nacional de Segurança Pública traz a reflexão de que os instrumentos de menor potencial ofensivo, por si só, não garantem a “não letalidade”, enfatizando a importância do treinamento e a maturidade profissional para correta utilização desses instrumentos. Portanto, o objetivo de reduzir ao máximo o resultado morte CAS – USO DA FORÇA E TÉCNICAS NÃO LETAIS Diretoria de Educação 2022 9 somente será alcançado caso o profissional que operar o instrumento de menor potencial ofensivo for devidamente capacitado. Os instrumentos de menor potencial ofensivo têm ampla aplicação na área da segurança pública e, diferentemente das armas letais convencionais, que destroem principalmente por meio de explosão, penetração e fragmentação, os IMPO empregam outros meios, que não a destruição física para neutralizar seus alvos (ESPÍRITO SANTO, 2020). Essas tecnologias tem o objetivo, portanto, de reduzir a letalidade das ações policiais, quando oferece outras ferramentas para o uso seletivo da força, amparando a ação policial, tanto no âmbito moral e ético, mas principalmente na esfera legal (ESPÍRITO SANTO, 2020). A doutrina base para o Curso de Operações Químicas, promovido pelo Batalhão de Operações Policiais Especiais da Polícia Militar do Distrito Federal, referência nacional no assunto, dissemina a ideia de não existir distinção consistente entre os termos não letal e menos que letal. Imprescindível, portanto, é o conhecimento técnico do profissional acerca de cada munição, equipamento e suas características no emprego real, para que as armas ditas não letais surtam os efeitos esperados e não produzam letalidades ou lesões graves (ESPÍRITO SANTO, 2020). Nesse contexto, o conceito de Arma não Letal: São armas especificamente projetadas e empregadas para incapacitar pessoal ou material, ao mesmo tempo em que minimizam mortes, ferimentos permanentes no pessoal, danos indesejáveis a propriedade e possuam comprometimento com o meio-ambiente (ESPÍRITO SANTO, 2020, grifo nosso). CAS – USO DA FORÇA E TÉCNICAS NÃO LETAIS Diretoria de Educação 2022 10 3. MATRIZ OPERACIONAL DOS NÍVEIS DE SUBMISSÃO E USO DA FORÇA Objetivando a teoria que envolve o uso da força legal por parte do Estado à prática policial, diversos protocolos foram criados em distintos países, resultando em inúmeros modelos esquemáticos, dentre os quais adotaremos neste curso o modelo desenvolvido no Centro de Treinamento da Polícia Federal (Federal Law Enforcement Training Center - FLETC). NÍVEIS NÍVEL DE SUBMISSÃO NÍVEL DE USO DA FORÇA NÍVEL 1 NORMALIDADE Situação rotineira em que não há a necessidade de intervenção direta dos agentes de segurança, em nenhuma situação específica. PRESENÇA FÍSICA Prevenção de crimes ou contravenções. O infrator buscará, em tese, local com maior facilidade para a prática de delitos. NÍVEL 2 COOPERAÇÃO O oponente é positivo e submisso às determinações, não oferece resistência e obedece. Pode inclusive, ser abordado, revistado e algemado com certa facilidade, caso seja VERBALIZAÇÃO Habilidades de comunicação por parte do agente. Muitas vezes por meio da verbalização se consegue maior eficácia do que a utilização de outros níveis de força CAS – USO DA FORÇA E TÉCNICAS NÃO LETAIS Diretoria de Educação 2022 11 necessário. NÍVEL 3 RESISTÊNCIA PASSIVA O oponente pode oferecer um nível preliminar de desobediência que, via de regra, consiste no não acatamento das ordens do agente público. O indivíduo permanece parado, recusando-se em obedecer. A conduta é primordialmente passiva, não existindo a resistência física aos procedimentos dos agentes. TÉCNICAS DE MÃOS LIVRES E IMPO Utilização de técnicas que permitem alcançar os objetivos almejados pelo agente público sem causar lesões aos oponentes ou minimizando-as. NÍVEL 4 RESISTÊNCIA ATIVA O oponente oferece resistência (por meio de força física ou de intensidade de ações) às técnicas empregadas pelo agente. A indiferença aumenta a um nível de forte desafio físico. Exemplo: Fuga. INSTRUMENTOS DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO O emprego de técnicas de mãos livres ainda é eficiente. Usam-se instrumentos de menor potencial ofensivo, os quais possuem maior potencial de força. Tais tecnologias podem causar lesões de baixa gravidade. NÍVEL 5 AGRESSÃO NÃO LETAL O agressor age com resistência ativa e hostil contra os agentes de segurança ou terceiros, culminando em ataque físico. INSTRUMENTOS DE MAIOR POTENCIAL OFENSIVO Usam-se instrumentos capazes de cessar imediatamente a confrontação ao agente de segurança ou a terceiros. Todas as tecnologias utilizadas nos itens anteriores são passíveis de serem utilizadas assim como outras mais contundentes tais como uso de bastões, tropa montada, utilização de granadas, dentre outros. NÍVEL 6 AGRESSÃO LETAL Ameaça iminente a vida do agente ou de terceiros. FORÇA POTENCIALMENTE LETAL Visa cessar a ameaça ou agressão letal e assegura a submissão e controle definitivos. É o caso mais extremo de nível de uso da força e devem ser utilizado depois de esgotados todos os outros recursos anteriores. CAS – USO DA FORÇA E TÉCNICAS NÃO LETAIS Diretoria de Educação 2022 12 Ao analisar o modelo acima apresentado percebe-se o escalonamento dentro dos próprios Instrumentos de Menor Potencial Ofensivo, apresentando as expressões MAIOR, MÉDIO e BAIXO, com o intuito de esclarecer que há a necessidade da percepção do nível de resistência apresentada para que seja aplicada a força necessária. A seleção da melhor opção tecnológica a ser utilizada está intimamente ligada às circunstâncias que os casos concretos apresentam (ESPÍRITO SANTO, 2020). CAS – USO DA FORÇA E TÉCNICAS NÃO LETAIS Diretoria de Educação 2022 13 4. CLASSIFICAÇÃO DAS TÉCNICAS E TECNOLOGIAS RELACIONADAS AO USO DA FORÇA Riani (2013) destaca que as Técnicas Não Letais são classificadas de acordo com três critérios básicos: tipo de alvo, tecnologia empregada e o emprego tático. 4.1 QUANTO AO TIPO DE ALVO a) Anti-pessoal: quando a arma/equipamento/tecnologia tem como objetivo o indivíduo (espargidores de agentes lacrimogêneos, munições de impacto controlado, armas de condutividade elétrica, granadas explosivas, etc.), no intuito de conter fugas, agressões ou mesmo força-lo a adotar condutas como desocupar um local determinado. b) Anti-material: quando a arma/equipamento/tecnologia tem como objetivo veículos ou instalações (redes para veículos, arames embaraçadores, tiras de espetos, pulso eletromagnético não nuclear, laser contra sensores, etc.) a fim de paralisar suas atividades. 4.2 QUANTO A TECNOLOGIA CAS – USO DA FORÇA E TÉCNICAS NÃO LETAIS Diretoria de Educação 2022 14 a) Física: usam a energia cinética ou ação física para debilitar ou incapacitar (projéteisde impacto controlado, jatos d’água, redes de imobilização de pessoas ou veículos e tira de espetos). b) Química: usam agentes químicos para debilitar ou incapacitar por reação química entre o agente químico e a pessoa, ou objeto (CS, OC, supercolas, agentes derivados de petróleo utilizados contra instalações e pneus de veículos). c) Energia dirigida: usam irradiação térmica ou energia acústica para debilitar ou incapacitar (origem eletromagnética: luzes estonteantes, granadas de luz e som, laser não cegante, armas de atordoamento, luzes pulsantes / estroboscópicas, micro-ondas, hologramas; ORIGEM ACÚSTICA, as ruidosas e os infrassons). d) Biológica: usam seres vivos como instrumentos de força, sendo os mais utilizados os semoventes (cães, cavalos e búfalos). e) Impacto psicológico: usam técnicas de dissuasão para influenciar psicologicamente os indivíduos, contribuindo para evitar o uso da força fídica (movimento de tropa de choque e blindados). 4.3 QUANTO AO EMPREGO TÁTICO a) Incapacitante: tira totalmente a capacidade operativa do opositor (na PMES os únicos são a Taser M26 e a Condor Spark). b) Debilitante: atua principalmente causando dor, no desconforto ou na inquietação reduzindo a capacidade combativa/operativa. c) Proteção: são empregados para a defesa do agente de segurança pública (capacete, escudo, máscara de proteção contra gases, colete balístico e trajes anti- tumulto). CAS – USO DA FORÇA E TÉCNICAS NÃO LETAIS Diretoria de Educação 2022 15 5. AGENTES QUÍMICOS Os agentes químicos se caracterizam por serem substâncias que se dispersam através do ar através de processos químicos especiais, causando uma série de efeitos psicofisiológicos, instantâneos e não permanentes, causando irritações nos: • Olhos • Boca • Garganta • Pulmões • Pele • Mucosas Além disso há sensação de queimação, lacrimejamento intenso, fechamento involuntário das pálpebras, dores no peito, dificuldade respiratória, tosse, náuseas e diarreia, de modo que a pessoa atingida, torna-se temporariamente incapaz (MINAS GERAIS, 2013). Em razão dos efeitos causados os agentes químicos são projetados e usados com a finalidade de incapacitar, momentaneamente, indivíduos, bem como dispersar multidões, minimizando as mortes e os ferimentos mais graves (MINAS GERAIS, 2013). 5.1 CLASSIFICAÇÃO Pode-se classificar os agentes químicos considerando a sua classificação básica, estado físico, emprego tático e efeitos fisiológicos. 5.1.1 Classificação Básica Basicamente os agentes químicos são classificados como gases, fumígenos ou incendiários. a) Gases são os agentes químicos utilizados com o objeto de neutralizar pessoas a partir de efeitos específicos, de acordo com sua composição. Ao se classificar os CAS – USO DA FORÇA E TÉCNICAS NÃO LETAIS Diretoria de Educação 2022 16 gases, não se considera o estado físico inicial do agente, podendo ser sólido, líquidos ou gasosos; b) Fumígenos são agentes químicos que, através da queima, hidrólise ou condensação, produzem fumaça ou neblina; c) Incendiários são os agentes que, gerando altas temperaturas, provocam incêndios em materiais combustíveis. 5.1.2 Estado Físico Quanto ao estado físico os agentes químicos podem se apresentar nas formas: a) Sólida – em pó ou cristais, prensado ou granulado; b) Líquida – comum ou pressurizado; c) Gasosa – Submetido a condições normais os agentes não se apresentam, inicialmente, em estado físico gasoso. Normalmente apresentam-se no estado físico sólido, passando ao estado físico gasoso através da queima, ou ainda, inicialmente no estado físico líquido, passam ao estado gasoso pela evaporação. 5.1.3 Emprego Tático Para fins de emprego tático, os agentes químicos se classificam em: a) Causadores de baixa – Levam a morte ou incapacitação prolongada em virtude dos efeitos que produzem sobre o organismo humano; b) Inquietantes – Agentes químicos que produzem efeitos leves e temporários, contudo, desagradáveis, de forma a reduzir a capacidade combativa daqueles que são expostos a esses agentes; c) Incapacitantes – São os agentes químicos que atuam sobre as funções psíquicas do individuo, levando a perturbação mental e desordem muscular; d) Fumígenos – Os agentes químicos fumígenos se dividem em dois grupos: - De cobertura: Usados com a intenção de cobrir o ambiente com fumaça, dificultando a visualização; CAS – USO DA FORÇA E TÉCNICAS NÃO LETAIS Diretoria de Educação 2022 17 - De sinalização: Empregado em ações e operações em que há necessidade de sinalização, razão pela qual, é representado por fumaça colorida. e) Incendiários – Empregados para provocar incêndios em instalações e materiais, ou contra pessoas. A PMES emprega taticamente os agentes químicos inquietantes e os fumígenos em suas ações/operações. 5.1.4 Efeitos Fisiológicos É a classificação dos agentes químicos que leva em consideração os efeitos que podem ser causados sobre o organismo humano: a) Sufocantes – Geram irritação e inflamações nas vias respiratórias (brônquios e pulmões); b) Vesicantes – Agem sobre a pele ocasionando queimaduras e, também sobre os olhos, provocando cegueiras e conjuntivite; c) Tóxicos do sangue – Uma vez absorvidos pelo organismo, afetarão funções vitais ao se combinarem com a hemoglobina, de modo a bloquear a capacidade do sangue em transportar oxigênio; d) Tóxicos dos nervos – Uma vez absorvidos pelo organismo, afetarão as funções vitais ao agir sobre o sistema nervoso; e) Lacrimogêneos – Agem sobre os olhos e as vias áreas superiores, produzindo irritação, dor intensa, lacrimejamento, salivação abundante e náuseas; f) Vomitivos – Provocam tosses, espirros, náuseas, vômitos e debilidade mental, com efeitos temporários; g) Psicotóxicos – Agem sobre as funções físicas e mentais, ocasionando falta de coordenação muscular, perda de equilíbrio, perda de visão e perturbação mental. 5.2.2 Persistência CAS – USO DA FORÇA E TÉCNICAS NÃO LETAIS Diretoria de Educação 2022 18 A persistência consiste no período de tempo que o agente permanece em concentração eficiente no ponto em que foi lançado. A persistência do agente químico irá variar conforme seu estado físico, bem como suas propriedades físicas e químicas. Fatores como a temperatura, velocidade do vento, processos de dispersão, estabilidade do ar, topografia do terreno, vegetação, natureza do solo, bem como a quantidade lançada, influenciarão diretamente na persistência do agente. CAS – USO DA FORÇA E TÉCNICAS NÃO LETAIS Diretoria de Educação 2022 19 6. PRINCIPAIS AGENTES QUÍMICOS UTILIZADOS NA PMES Os agentes químicos mais utilizados como instrumentos de menor potencial ofensivo pela PMES são os lacrimogênios, quais sejam, o 2-clorobezilidenomalononitrila ou ortoclorobenzalmalonitrilo (CS), sintetizado em laboratório, e os a base de Capsaicinóides, chamados popularmente de “gás de pimenta” ou no meio militar de OC, caracterizado por ser uma substância natural extraída das pimenteiras (ESPÍRITO SANTO, 2020; RIANI, 2013). 6.1 ORTOCLOROBENZALMALONITRILO – CS O 2-clorobezilidenomalononitrila ou ortoclorobenzalmalonitrilo é conhecido no ambiente militar pela sigla “CS”, sendo empregado por policiais para dispersar multidões e conter manifestantes sem, contudo, causar mortes ou lesões permanentes. O CS é utilizado de modo a causar mal-estar no alvo, mas como a concentração é controlada, se torna incapaz de causar agravos permanentes ou óbitos (ESPÍRITO SANTO, 2020). A sigla CS se refere ao agente químico 2-clorobezilidenomalononitrila e não possui relação com a sua composição orgânica. A sigla é uma homenagem aos descobridoresdo composto, os ingleses Carson e Stougton, funcionários do laboratório inglês de armas químicas, o CBW, na década de 1930 (ESPÍRITO SANTO, 2020). São efeitos fisiológicos do agente químico CS: CAS – USO DA FORÇA E TÉCNICAS NÃO LETAIS Diretoria de Educação 2022 20 Fonte: Minas Gerais, 2013. 6.2 OLEORESINA DE CAPSAICINA – OC A oleoresina de capsaicina (oleoresin capsicum), também é muito utilizada por agentes de segurança pública, e é extraída dos grupos químicos chamados de capsaicinóides, sendo estes encontrados nas pimenteiras. Também conhecido pela sigla OC, a oleoresina de capsaicina é popularmente conhecida como “gás de pimenta”. Os efeitos fisiológicos do OC são análogos aos apresentados no caso de uso do CS e podem ser verificados no quadro acima, entretanto, a ação do OC no corpo humano provoca maior ardência que o CS. Já o CS provoca maior sensação de constrição no peito e sufocamento, quando em contato com as vias aéreas do homem. Além disso, a descontaminação do CS tende a ser mais rápida que a do OC (ESPÍRITO SANTO, 2020). Esses agentes químicos podem ser usados pelos policiais, quando esses avaliam a ocorrência e lançam mão de espargidores, de munições para lançamento do agente químico, de projéteis detonantes e de granadas. CAS – USO DA FORÇA E TÉCNICAS NÃO LETAIS Diretoria de Educação 2022 21 Tanto o CS quanto o OC desempenham importante papel para os profissionais da segurança pública, porque quando usados, alinhados à técnica e à conduta operacional adequada, ajudam a dispersar multidões, isolar áreas, bem como debilitar possíveis infratores (Riani, 2013). Além do CS e do OC, o hexacloroetano (C2Cl6), abreviado no meio militar como HC, também é bastante usado pelas Polícias Militares. Essa substância é usada na fabricação das granadas de efeito moral, usadas no controle de distúrbios civis, já que é um eficaz produtor de fumaça e também como sinalizadora, no caso da necessidade de produzir fumaça colorida. À temperatura ambiente se apresenta no estado sólido, porém quando em contato com o ar passa o estado gasoso. CAS – USO DA FORÇA E TÉCNICAS NÃO LETAIS Diretoria de Educação 2022 22 7. PRINCIPAIS RECURSOS UTILIZADOS NO USO DIFERENCIADO DA FORÇA NA PMES As principais tecnologias e instrumentos de menor potencial ofensivo usados pela PMES são os bastões, lançadores, munições de impacto controlado (MIC), espargidores, granadas, Dispositivos Elétricos Incapacitantes (DEI ou DEC) e os equipamentos de proteção individual e coletiva. 7.1 BASTÕES Os bastões representam ferramentas de extrema importância para a atuação do Policial Militar, não somente pela sua utilização efetiva, mas também pelo impacto psicológico produzido, quando os militares são vistos portando adequadamente esse instrumento. Os mais usados pela Polícia Militar são: o bastão cilíndrico e linear, feito em madeira ou polímero e o modelo tipo tonfa ou PR-24, geralmente confeccionado em polímero. O uso de bastões deve ser treinado continuamente e fiscalizado por quem tem essa função, porque tanto a forma como o Policial Militar porta o bastão (postura e local adequado para o bastão), quanto a maneira como fará o uso efetivo, caso necessário (técnica operacional e habilidade), são determinantes para a obtenção de um resultado mais aceitável para seu uso. É considerado, como já apresentado, uma arma não letal contundente. 7.2 LANÇADORES Em regra, lançadores são os dispositivos especialmente desenvolvidos para o lançamento e dispersão de agentes químicos e para disparo de munições de menor potencial ofensivo. São utilizados pela PMES, para as finalidades elencadas, a espingarda calibre 12, os lançadores para munições calibre 37mm a 40mm (Lançador Federal, True Fly, AM 600, AM 637 e AM 640), e o lançador FN 303. CAS – USO DA FORÇA E TÉCNICAS NÃO LETAIS Diretoria de Educação 2022 23 7.3 MUNIÇÕES DE IMPACTO CONTROLADO As munições de impacto controlado representam outra possibilidade de uso policial, porque associada às outras ferramentas e estratégias, o seu uso contribui para alcançar o sucesso na ação policial. Elas podem ser usadas tanto em controle de distúrbios e rebeliões em presídios quanto em ocorrências policiais corriqueiras, mas que seja necessário reduzir a resistência e a capacidade combativa do agressor. A distância recomendada pelo fabricante, para efetuar disparos é de 20m, exceção feita para as munições modelo PSR, que podem ser usadas a distâncias a partir de 5m e para as usadas no lançador FN 303, que podem ser disparadas a partir de 1m. O disparo de munições de impacto controlado deve sempre visar atingir o infrator nos membros inferiores (nas pernas). O disparo nunca deve ser feito visando o solo ou parede de edificação, para evitar o ricochete e uma direção secundária indesejável para o projétil. 7.4 PRINCIPAIS GRANADAS UTILIZADAS PELA PMES As granadas usadas pela PMES são artefatos, que por meio de um processo específico liberam agente químico no ambiente. Esse processo que ocorre para eliminação do agente químico é característico do tipo de granada que se usa. Em regra, em todas as granadas, após o processo de iniciação, o sistema gera a queima de pólvora, para ocorrência das demais fases até a eliminação do agente químico do interior do artefato. Essas granadas são divididas basicamente em dois grupos: granadas explosivas, nas quais ocorre a detonação de carga explosiva, para rompimento do invólucro de borracha, para, em seguida ocorrer a eliminação do agente químico, e granadas fumígenas, nas quais não ocorre o rompimento do corpo da granada, porém, surgem aberturas para liberação do agente químico. Essas granadas fumígenas podem ser apenas fumígenas (à base de hexacloroetano) ou fumígenas e lacrimogêneas (com CS ou OC em seu interior). CAS – USO DA FORÇA E TÉCNICAS NÃO LETAIS Diretoria de Educação 2022 24 7.5 DISPOSITIVOS ELÉTRICOS INCAPACITANTES As Pistolas Elétricas TASER e SPARK são constituídas basicamente por uma bateria (conjunto de pilhas) acoplada a uma pistola que dispara dois dardos munidos de eletrodos. Estes eletrodos são semelhantes a anzóis e podem penetrar até uma profundidade de cinco centímetros no corpo. Os eletrodos estão preparados para se espetarem na pele ou nas roupas do atingido sem se soltarem. São disparados através de um sistema de ar comprimido a uma velocidade de aproximadamente 180 metros por segundo e permanecem ligados à arma através de fios. A arma pode também ser usada como uma arma de contato causando desconforto e dor. Através dos elétrodos são descarregados 50000 volts de eletricidade durante cinco segundos e a descargas podem ser repetidas várias vezes. No caso da TASER, a carga transmitida pelos eletrodos pode ser prolongada além dos 5 segundos se o gatilho permanecer pressionado, diferentemente da SPARK, que interrompe automaticamente o ciclo após os 5 segundos, mesmo com o gatilho sendo pressionado. Esta descarga elétrica de alta voltagem provoca contrações musculares violentas e incontroláveis, dor generalizada e o colapso gradual do indivíduo. Os espasmos podem ser violentos de tal forma que chegam a provocar fraturas ósseas. Um indivíduo que seja submetido a várias descargas pode ficar inconsciente e sofrer queimaduras (no caso da TASER), lesões que o fabricante nacional da SPARK afirma não existirem. Essas pistolas foram classificadas pelo Exército nacional como de uso restrito das polícias e das guardas municipais. A pistola elétrica SPARK é de fabricação nacional enquanto a TASER apenas possui representação no Brasil, sendo de fabricação Norte americana. CAS – USO DA FORÇA E TÉCNICAS NÃOLETAIS Diretoria de Educação 2022 25 Referências Bibliográficas ALEXANDER, John B. Armas não-letais: alternativas para os conflitos do século XXI. Tradução de José Magalhães de Souza. Rio de Janeiro - Welser-Itage: Condor, 2003. 374 p. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 1988. BRASIL. Ministério da Justiça e Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Guia de Direitos Humanos: conduta ética, técnica e legal para Instituições Policiais Militares. Brasília, 2008. BRASIL. Ministério da Justiça e Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Portaria Interministerial nº 4.226, de 31 de dezembro de 2010. Estabelece Diretrizes sobre o Uso da Força pelos Agentes de Segurança Pública. Brasília: 2010. BRASIL. Ministério da Justiça. Secretaria Nacional de Segurança Pública. Rede Nacional de Educação a Distância para Segurança Pública. Curso Técnicas e Tecnologias Não-Letais. Marcelo Tavares de Souza e Marsuel Botelho Riani. BRASIL. Ministério da Justiça. Secretaria Nacional de Segurança Pública. Diretrizes para as atividades formativas para os profissionais da área de segurança pública no âmbito do Sistema Único de Segurança Pública – SUSP. Brasília, 2003. ESPÍRITO SANTO. Polícia Militar. Apostila de Uso Diferenciado da Foça – Curso de Formação de Soldados. Vitória: PMES, 2020. 56 p. MINAS GERAIS. Polícia Militar. Manual Técnico-Profissional nº 3.04.012/2013- CG: Regula a Utilização de Armamentos, Equipamentos e Munições de Menor Potencial Ofensivo na Polícia Militar de Minas Gerais. Belo Horizonte: PMMG – Comando-Geral, 2013. 212 p. RIANI, Marsuel Botelho. Técnicas Não-Letais na Segurança Pública e Privada. São Paulo: Sicurezza, 2013. 214 p. SILVA, Charles Souza. Aspectos táticos e econômicos para o emprego de técnicas não letais durante as manifestações de junho e julho de 2013 na Grande vitória. 2013. 75 f. Monografia. Faculdade Brasileira. Vitória, 2013. CAS – USO DA FORÇA E TÉCNICAS NÃO LETAIS Diretoria de Educação 2022 26 Ficha Técnica APOSTILA / COORDENAÇÃO CAP QOC VINÍCIUS MUZI RIOS APOSTILA / CONTEUDISTA CAP QOC VINÍCIUS MUZI RIOS CAS – USO DA FORÇA E TÉCNICAS NÃO LETAIS Diretoria de Educação 2022 27
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