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1 Camila Carminate – 8 FASE Leucemia Mieloide Aguda FISIOPATOLOGIA As leucemias agudas caracterizam-se pela proliferação rápida de um clone que também perde sua capacidade de diferenciação, com conseqüente acúmulo de células de aspecto citológico imaturo ou blastos no sangue periférico e na medula óssea. A proliferação exagerada do clone dentro da medula óssea leva a uma inibição da hematopoese normal, resultando em anemia, plaquetopenia e neutropenia e nos sintomas secundários a tais citopenias, como cansaço, fraqueza, síndrome purpúrica e febre. Nos idosos, a doença é mais freqüentemente associada a síndromes mielodisplásicas, mieloproliferativas, cariótipos de mau prognóstico e à expressão de fenótipos de resistência a múltiplas drogas. A fisiopatologia da leucemia mielóide aguda envolve grande quantidade de alterações moleculares que alteram os processos de regulação de proliferação, diferenciação, apoptose e reparo do DNA, entre outros. É possível encontrar mutações dos genes FLT-3, Rãs, CKit, P53, fusão dos genes PML-RARalpha, CBFbeta-MYH11 e expressão exagerada de Bcl2, entre muitos outros. Estas alterações se traduzem na proliferação descontrolada de um clone de células de linhagem mielóide, com conseqüente infiltração da medula óssea à falência desta. QUADRO CLÍNICO Falência medular caracterizada por cansaço, fraqueza e palidez cutânea e de mucosas, decorrentes da anemia; quadro purpúrico caracterizado por petéquias, sangramento gengival e metrorragias; equimoses cutâneas secundárias a plaquetopenia; e processos infecciosos secundários a neutropenia; Infiltração de órgãos e tecidos pelo clone leucêmico, como discreta hepatoesplenomegalia, infiltração de gengivas com consequente hipertrofia gengival e, mais raramente, infiltração cutânea; Massa tumoral formada por mieloblastos acometendo coluna espinhal e órbita (evento raro); Leucostase, síndrome caracterizada por isquemia de múltiplos órgãos e por disfunção respiratória e do SNC. Associada a número elevado de blastos circulantes, habitualmente acima de 100.000/mm3. INVESTIGAÇÃO DIAGNÓSTICA O diagnóstico de leucemia mielóide aguda é feito pelo estudo do hemograma e do mielograma. O hemograma mostra anemia, plaquetopenia e habitualmente leucocitose às custas de blastos, ou número normal ou diminuído de leucócitos normais com a presença de blastos. O mielograma mostra uma medula inteiramente substituída por blastos. Na leucemia mielóide aguda, os blastos têm uma relação núcleo- citoplasma mais baixa, com cromatina frouxa, presença de vários nucléolos e citoplasma granular, com a presença de bastonete de Auer. Com este intuito, deve-se fazer imunofenotipagem dos blastos por meio de citometria de fluxo, na presença de certos marcadores ou antígenos de membrana, como CD13, CD14, CD33, que permitem definir a origem mielóide do blasto. Na ausência de citometria de fluxo, deve ser feita a citoquímica dos blastos, pois a presença de grãos peroxidasepositivos ou sudan black positivos ou uma reação de ANAE positiva permitem 2 Camila Carminate – 8 FASE definir se o blasto é mieloide ou não, e ainda se há componente monocítico. Ao diagnóstico, também é necessário colher material de medula óssea para fazer cariótipo, já que, dependendo das anomalias cromossômicas encontradas, é possível classificar as leucemias mielóides agudas em três grupos prognósticos, assim como é necessária a pesquisa do gene BCR/ABL por PCR para, junto com o resultado do cariótipo, fazer o adequado planejamento terapêutico. FATORES PROGNÓSTICOS Idade: os pacientes com 60 anos ou mais têm pior prognóstico que os pacientes mais jovens; Quadro de mielodisplasia prévia ao diagnóstico ou tratamento quimioterápico anterior, especialmente com drogas alquilantes; Cariótipo: nos pacientes com menos de 60 anos de idade, os portadores de t(8;21), t(15;17) e inv(16) ou t(16;16) têm prognóstico favorável; os portadores de anomalias cromossômicas complexas -7, anormalidades do (3q), Del(5q) e - 5, t(6;9), t(6;11) e t(11;19) têm prognóstico adverso ou desfavorável, e o resto das anormalidades cromossômicas, incluindo cariótipo normal, tem prognóstico intermediário. Ao diagnóstico, a presença de mutações no receptor de tirosinaquinase FLT3 confere pior prognóstico; Resposta à terapia de indução de remissão: os pacientes que entram em remissão completa têm sobrevida francamente melhor que os que não entram. TRATAMENTO TRATAMENTO DE SUPORTE Verificar se existe acesso venoso adequado. Se o paciente for um neutropênico febril, antes de começar a quimioterapia, é necessário iniciar antibióticos de amplo espectro. Para preservar a função renal, o paciente deve ser adequadamente hidratado em forma endovenosa com 3.000 mL de soro/m2 em 24 horas e usar alopurinol 600 mg/dia VO. Para evitar náuseas e vômitos, usar ondansentrom na dose de 8 mg antes da quimioterapia e a cada 12 horas após o término desta. Fazer uso de concentrados de plaquetas em forma profilática se o nível destas cair abaixo de 10.000/mm3 no sangue periférico. O uso de fatores de crescimento, como G-CSF ou GM-CSF, está indicado em infecções fúngicas e é recomendado em pacientes neutropênicos que permanecem febris apesar do uso de antibióticos de amplo espectro. TERAPIA DE INDUÇÃO DE REMISSÃO COMPLETA O objetivo primário desta etapa é diminuir a massa tumoral e restituir a hematopoese normal. Há várias décadas, a terapia-padrão para indução de todos os tipos de LMA, salvo a LMA M3, consiste no uso de daunorrubicina (45 a 60 mg/m2/dia durante 3 dias, EV, em 60 minutos) e citarabina (100 a 200 mg/m2/dia EV, de forma contínua durante 7 dias). Este ciclo pode ser repetido 14 a 28 dias após o início, se não for obtida uma remissão completa caracterizada por ausência de blastos, número normal de neutrófilos e plaquetas acima de 100.000/mm3 no sangue periférico, e presença de menos de 5% de blastos na medula óssea. Para a LMA M3, a adição de ácido all-transretinóico (ATRA) ao tratamento quimioterápico é mandatória, já que melhora a porcentagem de remissão completa obtida e diminui as complicações hemorrágicas. TERAPIA PÓS-REMISSÃO Para os portadores de anomalias cariotípicas de bom prognóstico, 3 ou mais ciclos mensais de quimioterapia com citarabina em doses elevadas (3 g/m2 a cada 12 horas nos dias 1, 3 e 5 do ciclo) é tratamento preconizado. Para os portadores de anomalias cariotípicas de prognóstico intermediário ou adverso, o tratamento de escolha nos menores de 60 anos de idade é um transplante alogênico com doador HLA- 3 Camila Carminate – 8 FASE compatível na família ou, como segunda opção, um doador HLA- compatível não-relacionado. Nos maiores de 60 anos de idade, a melhor opção, independentemente do cariótipo, é usar citarabina em doses intermediárias (1,5 mg/m2 a cada 12 horas nos dias 1, 3 e 5 do ciclo) por mais de um ciclo, conforme tolerância. Nestes pacientes, é aconselhável fazer uso de GCSF ou GM-CSF após a quimioterapia para diminuir o número de dias em que o paciente fica neutropênico. Nos pacientes portadores de LMA M3, deve- se fazer uso de ATRA junto com a quimioterapia pelo menos durante 15 dias a cada 3 meses. TERAPIA DOS PACIENTES COM LMA E PRESENÇA DA TRANSLOCAÇÃO BCR/ABL Raramente, é possível fazer o diagnóstico de uma leucemia mielóide crônica em fase blástica ao se deparar com o que parecia ser uma LMA de novo, pois esta apresenta a translocação BCR/ABL. Nestes casos, o uso de mesilato de imatinibe, na dose mínima de 600 mg/dia VO, durante pelo menos 30 dias, é capaz de induzir remissão completa em número apreciável de doentes que, após remissão hematológica, podem fazer, em melhores condições, um transplante de medula óssea alogênico ou quimioterapia, como a descrita acima, para consolidar aremissão e diminuir a chance de recidiva.
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