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Ética e Legislação em Enfermagem

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Programa de Educação 
Continuada a Distância 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Curso de 
Ética e Legislação Profissional 
em Enfermagem 
 
 
 
 
 
 
 
Aluno: 
 
 
 
EAD - Educação a Distância 
 Parceria entre Portal Educação e Sites Associados 
 
 
 
 
 
 
 
2 
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Curso de 
Ética e Legislação Profissional 
em Enfermagem 
 
 
 
MÓDULO I 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para 
este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização do 
mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores 
descritos na Bibliografia Consultada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
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SUMÁRIO 
 
- Fundamentos da ética e da moral. 
 
- Ética profissional e responsabilidade civil da enfermagem. 
 
- Definição de bioética seus os princípio fundamentais. 
 
- A confidencialidade: Questões éticas relativas ao segredo profissional e a autonomia e 
privacidade. 
 
- Limites éticos da interação sobre o ser humano: clonagem, reprodução assistida e 
aborto. 
 
- Sofrimento, tanatologia, doente terminal e processo de morrer. 
 
- Toxicomania e suicídio. 
 
- Teologia bioética e cuidado psicoespiritual. 
 
- Ética e pesquisa em saúde. 
 
- Entidades de Classe – ABEN, Sistema COFEN x CORENs, Sindicato e CIE. 
 
- Resolução COFEN n.º 311/07 – Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem. 
 
- Lei nº 7.498/86 e Decreto Lei n.º 94.406/87. 
 
- Resolução COFEN nº 146/92 Enfermeiro 24 horas. 
 
- Resolução COFEN nº 172/94 Comissões de ética. 
 
- Resolução COFEN nº 191/96 Anotação de enfermagem. 
 
- Resolução COFEN nº 209/98 Código Eleitoral COFEN x COREN. 
 
- Resolução COFEN nº 218/99 Juramento e símbolos da enfermagem. 
 
- Resolução COFEN nº 225/00 Prescrição a distância. 
 
- Resolução COFEN nº 252/02 Aplicação do Código de Ética. 
 
- Resolução COFEN nº 270/02 Home Care. 
 
 
 
 
 
 
4 
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- Resolução COFEN nº 272/02 Sistematização da assistência de enfermagem. 
 
- Resolução COFEN nº 278/03 Proibição de realizar sutura. 
 
- Resolução COFEN nº 279/03 Proibição de realizar gesso e tala gessada. 
 
- Resolução COFEN nº 280/03 Proibição de auxiliar em cirurgia. 
 
- Resolução COFEN nº 281/03 Repetição de prescrição. 
 
- Resolução COFEN nº 283/03 Prática de acupuntura. 
 
- Resolução COFEN nº 290/04 Especialidade em enfermagem. 
 
- Resolução COFEN nº 292/04 Captação de órgão. 
 
- Resolução COFEN nº 293/04 Dimensionamento Enfermagem. 
 
- Resolução COFEN nº 300/05 Atendimento pré-hospitalar. 
 
- Resolução COFEN nº 302/05 Anotação de Responsabilidade Técnica. 
 
- Resolução COFEN nº 303/05 Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos de saúde. 
 
- Resolução COFEN nº 305/05 Casas de Parto. 
 
 
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
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MÓDULO I 
 
 
1. Fundamento da ética e da moral 
 
1.1 Introdução 
 
O homem busca, constantemente, o entendimento do mundo como forma de 
sobrevivência e evolução, por meio da filosofia alcançou as primeiras explicações sobre a 
natureza, onde a tradição cultural e o mito configuraram a própria visão de mundo. No 
período socrático (séc. V e IV a.C.) começaram as reflexões sobre a condição humana e 
explicações sobre os comportamentos, surgindo novas maneiras de pensar com base em 
algo já pensado, e com isso os homens alcançavam novas possibilidades de olhar e 
interpretar o mundo; o que o caracteriza não apenas como parte da natureza, mas 
também como um ser social que interpreta e transforma a realidade, criando um novo 
éthos – “modo de ser”, “conduta de vida” ou caráter. 
Segundo Oguisso (2006) existiam duas concepções fundamentais de ética: a 
primeira como ciência do fim, na qual a conduta do homem deve se dirigir, e dos meios 
para atingir esse fim, ou seja, o homem dirigido pela sua natureza; já a segunda reporta-
se aos motivos ou causas que levam o homem a ter essa ou aquela conduta. 
Ethos – Ética em grego designa a morada humana, não é algo pronto e 
construído de uma só vez. Ético significa tudo àquilo que ajuda a tornar melhor o 
ambiente para que seja uma moradia saudável: materialmente sustentável 
psicologicamente integrada e espiritualmente fecunda. A partir destes conceitos 
analisamos o homem dominando a natureza, mudando o seu percurso natural e 
inscrevendo novos costumes. 
Dessa forma, ética não é moral da forma que entendemos hoje, como um 
conjunto de normas, e sim indica o lugar onde esses costumes tomam forma e como as 
pessoas costumam viver em sociedade. A ética está baseada em princípios, valores, 
sentimentos, emoções que cada pessoa traz dentro de si; ela reflete o ato de pensar e 
 
 
 
 
 
6 
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questionar, ou seja, um modo de ser, e com isso o homem apresenta condutas 
conscientes que se refletem em suas escolhas e ações. 
Ao se lançar no mundo as pessoas sentem sua impotência para entender todos 
os fatos e aplicar tudo aquilo que considera ser o melhor em prol do coletivo. 
Na década de 30, ao trabalhar com jovens o Cardeal belga Cardjn introduziu o 
Método “Ver, Julgar, Agir, Rever”, com intuito de desenvolver uma consciência crítica, 
ampliando a capacidade de estabelecer normas básicas para seu comportamento e para 
seu modo de agir, levando as condutas éticas: 
 VER - enxergar elemento fundamental tornando o olhar profundo e não 
superficial das coisas, observar os fatos e determinar as causas; 
 JULGAR - aprofundamento nas consequências de cada fato objetivamente; 
é analisar sem pré-conceitos; 
 AGIR - ação consciente e segura de mudar o que se deseja e julgou ser 
necessário fazer; 
 REVER - implica na avaliação tranquila e honesta de tudo o que se fez, 
aprendendo com os sucessos e fracassos. 
Este Método, a princípio, parece mecânico ou pouco natural, mas à medida que 
se apropria destas etapas o homem consegue ter uma prática consciente e crítica em prol 
de uma sociedade justa e de homens felizes. 
 
1.2 Fundamentos da ética 
 
Ética é a ciência que tem por objetivo os atos morais, produzidos pela vivência e 
prática dos valores determinados em um grupo social em um tempo e espaço; os atos 
éticos são exclusivos do homem que ao agir consciente, livre e responsável caracteriza as 
condições fundamentais do ato moral. 
Outro conceito descrito no Manual de Fiscalização COFEN-1984, diz que ética é o 
“conjunto de princípios colocados a disposição do ser humano com vistas a sua 
preservação e elevação, procede diretamente do criador e é constituída pelos elementos 
básicos da vida (inclusa saúde), harmonia, liberdade, justiça, alegria, do amor, do 
equilíbrio, da razão e da inteligência”. 
 
 
 
 
 
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A ética nasce da necessidade de fazer o bem, o que implica o reconhecimento de 
um valor, das coisas e das pessoas; não existe o bem absoluto, o bem precisa ser 
ensinado; essa tarefa não é fácil, pois para o homem agir bem é necessário que haja um 
processo de aprendizagem, o que requer tempo e amadurecimento, por meio da 
convivência com outras pessoas e como mundo em que está inserido. 
O primeiro nível do conhecimento emerge das práticas do cotidiano que resultam 
da repetição sistemática do fazer coisas de forma organizada; esse processo leva o 
homem a fazer uso da sua inteligência (razão - ato de pensar) de um modo prático. Ao 
assumir uma atitude, o homem usa também como ferramentas a consciência, a vontade e 
algumas virtudes como prudência e tolerância, as quais são imprescindíveis para 
estabelecer relações harmônicas com as pessoas e o mundo em que vive. Ao fazer suas 
escolhas o homem é capaz de produzir algo fundamental na ética, que é o agir 
consciente, aplicando aquilo que considera bom, agindo bem e para o bem. 
O homem está em constante processo de aprendizado, questionando, criando e 
alterando a cultura e a história. Para enfrentar as dificuldades usa o conhecimento em 
diferentes níveis: o físico, o mental, o emocional e o espiritual. A inteligência se refere à 
capacidade de intuir e de ler no interior da realidade um sentido de valor e a razão se 
refere a contar e analisar, o espírito é algo muito profundo e envolve a vida, a ética, o 
estético e a metafísica, porque vai além do físico e contempla aquilo que transcende. 
Todos estes níveis de conhecimentos promovem uma integração, pois existe uma 
interface entre essas dimensões que não se separam na atividade humana. 
É muito importante atribuirmos valores às coisas, aos objetos e até à conduta 
humana, pois o próprio agir humano é uma forma de expressar valores, a partir deles é 
possível conceber o mundo em que vive e conhecer a si e aos outros. Oguisso (2006) 
afirma que “os valores éticos advindos do modo de viver de cada pessoa ajudam esta a 
tomar decisões ao se dirigir a algo ou a alguém”, e completa: 
 
O modo de pensar, à vontade, o sentir e agir religam os elementos constitutivos da 
tomada de decisão, mostrando mediante o ato em si a identidade de cada pessoa, 
pois o homem existe para criar e realizar coisas, e dessa forma vai construindo o 
modo de viver, aprendendo a cuidar de si, do outro e do mundo com ser humano 
consciente de suas escolhas e atos (OGUISSO, 2006,). 
 
 
 
 
 
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Construímos os conceitos de ética como uma ação individual onde cada pessoa 
tem a sua, na qual se baseia em princípios, valores e sentimentos que cada um traz 
dentro de si e a partir de sua própria escolha é possível se aproximar ou se distanciar dos 
valores de outras pessoas. 
 
1.3 Fundamentos da moral 
 
A moral, por sua vez, vem de dentro da sociedade, com valores selecionados e 
determinados como “verdades”, é a parte da vida concreta e trata da prática real das 
pessoas que se expressam por costumes, hábitos e valores culturalmente estabelecidos. 
Uma pessoa é moralmente aceita quando age em conformidade com os costumes e 
valores consagrados, que podem ser questionados pela ética; podendo ser moral, mas 
não ética, pois segue os costumes apenas por conveniência. 
Podendo resumir que ética sempre irá referir-se ao valor da ação humana, ação 
consciente, racional e com liberdade de optar por este ou aquele valor para fundamentar 
o seu agir e a moral é o conjunto de normas e costumes que tende a regulamentar o agir 
das pessoas e ao mesmo tempo oferece oportunidade para a pessoa refletir sobre o valor 
do agir humano. 
É comum o pensamento de que moral e ética são sinônimos, contudo analisando 
as origens etimológicas dos termos percebemos a diferença. A ética tem sua raiz no 
termo grego éthos que quer dizer “modo de ser” ou “caráter” e a moral provém do latim 
mos ou mores e quer dizer “costume ou costumes”, ambos são adquiridos por hábito e 
não são, portanto, decorrentes de disposição natural; não nascemos com eles, mas 
adquirimos na medida em que nos relacionamos com os outros semelhantes em um 
determinado contexto social e histórico. 
 
A ética leva o indivíduo à reflexão fundamentada em princípios que norteiam suas 
condutas e tomadas de decisões e a moral se define pela necessidade do homem 
de instituir regras de como conviver com outras pessoas, sendo que essas regras 
provêm da própria sociedade” (OGUISSO, 2006). 
 
 
 
 
 
 
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O objeto da ética é constituído de atos conscientes e voluntários dos indivíduos, 
os quais podem repercutir e trazer consequências a outro indivíduo; o conceito de moral 
engloba o que deve ser e o que é. 
Um ato para ser moral deve possuir motivação aceita pela coletividade, 
considerando o motivo, fins, meios utilizados para obtenção dos resultados, bem como a 
liberdade e a consciência para agir são predicativos imprescindíveis do ato moral. Assim, 
a pessoa responde pelo ato quando age conscientemente, ou seja, com autonomia e 
liberdade, tendo como parâmetro os valores coletivos. 
 
1.4 A enfermagem e a ação ética 
 
O profissional de enfermagem precisa pensar não somente na prática do cuidar, 
mas no valor de sua ação, na relação com o outro e na disposição de utilizar ou não o 
recurso tecnológico disponível. A cada ato é preciso ter consciência crítica para analisar 
os aspectos positivos e negativos de seu fazer; e o indivíduo que recebe seu cuidado 
deve ter segurança e tranquilidade de que sua ação lhe trará benefício e não malefício e 
de que está sendo realizada dentro dos princípios da justiça, autonomia, responsabilidade 
e competência. 
O paciente e o profissional estão inseridos nas esferas humana, ética e social 
com dilemas e ambiguidades no agir e no pensar, por isso o discernimento, a reflexão em 
relação às atitudes, crenças e valores devem fundamentar o agir livre, consciente e 
responsável. 
A enfermagem por trabalhar em equipe, convive com pessoas que possuem 
aspectos culturais e sociais diversos, levando a ocorrência dos dilemas éticos pela 
diferença de valores, crenças e experiências, bem como da formação ética, humana e 
profissional de cada indivíduo. Oguisso afirma que: 
 
Os dilemas éticos são situações em que a pessoa se vê ‘forçada’ (tem que decidir) 
a tomar decisão entre duas ou mais alternativas de ação. Neste sentido a pessoa 
ao decidir deve ser o mais imparcial possível, pois muitas vezes as soluções dos 
dilemas éticos exigem um compromisso vinculado à responsabilidade pela escolha 
da ação (OGUISSO, 2006). 
 
 
 
 
 
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Como os valores não são absolutos e as questões éticas não contêm fórmulas 
matemáticas com respostas exatas e fechadas é preciso compreender e refletir sobre os 
princípios éticos e utilizar a autonomia e a experiência para caminhar, às vezes, na 
incerteza, mas nunca se omitindo da responsabilidade de cuidar do paciente e dos 
membros de sua equipe. 
A conduta humana tem as qualidades de constância e dinamismo que são 
apreendidas durante as experiências e de acordo com os valores, conflitos culturais, 
pessoais e profissionais que refletem em sua ação. Esta ação depende também dos 
recursos disponíveis e da situação vivida que influencia na qualidade do ato. 
Diante de um grupo, tomar uma decisão ética requer a utilização de método 
reflexivo e crítico, para obter um consenso ético; e um ato decisório que resulte da 
ponderação e conjugação das atividades e reflexões feitas por este grupo, visando evitar 
injustiças, alcançando o bem comum. 
No exercício profissional de enfermagem, como em qualquer outro trabalho, 
estamos diante de dilemas ou conflitos éticos, para enfrentá-los, primeiramente, é preciso 
ter uma ordem de valores que nos dê segurança de priorizar a necessidade e o interesse 
da pessoa envolvida.O ato decisório depende diretamente das concepções e dos valores 
adquiridos, pautados nos conhecimentos e nas experiências acumulados ao longo da 
nossa história e que são influenciados pelo meio em que o fato ocorra. 
Corroborando com Oguisso (2006), concluímos que “o profissional de 
enfermagem deve dispor sólidos princípios éticos para agir perante os frequentes dilemas 
éticos que integram o cuidado.” 
 
 
2. Ética profissional e responsabilidade civil da enfermagem 
 
2.1 A ética na prática profissional de enfermagem 
 
A escolha por uma profissão deve ser conduzida pela intuição de acreditar-se 
capaz de executar as atividades técnicas científicas e conseguir cumprir com as regras 
desta prática, na enfermagem podemos afirmar que é preciso conhecer os conceitos de 
 
 
 
 
 
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competência, responsabilidade, autonomia, justiça e dignidade humana e saber aplicá-los 
na promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde da pessoa e da 
coletividade. 
Em toda formação profissional de enfermagem é previsto o aprendizado das 
competências e habilidades referentes à prática, mas nem sempre é compreendida pelo 
aluno a dimensão de sua ação, para reconhecer os problemas sociais que ameaçam a 
saúde e a vida; e reconhecer o paciente como um ser holístico que como tal precisa ser 
cuidado utilizando as virtudes humanas de justiça, equidade, resolutividade, dignidade, 
honestidade e lealdade. 
O código de ética dos profissionais de enfermagem determina como direitos e 
deveres a aplicação destas virtudes e ainda fornece elementos para o pensar e o agir 
profissional diante de si mesmo e do outro, mas com pouca abertura para que sejam 
seguidos de forma rigorosa, dado o seu caráter prescritível. Oguisso completa dizendo 
acerca do o código de ética: 
 
É um instrumento legal que reúne um conjunto de normas, princípios morais e dos 
direitos relativos à profissão e ao seu exercício; exprime o que é esperado dos 
profissionais de enfermagem diante da sociedade, paciente, outros profissionais, 
bem como a capacidade de reconhecer a todos como pessoas técnicas, científicas 
e humanamente capazes de desempenhar um determinado conjunto de funções 
(OGUISSO, 2006.) 
 
 
 
Apesar do ensino da ética e legislação e da exigência do cumprimento da norma 
é possível detectar no sistema de saúde problemas de insucesso no tratamento e má-
prática profissional decorrentes de negligência, imperícia e imprudência por parte dos 
profissionais de enfermagem; foco da nossa discussão, não que sejam os únicos 
profissionais de saúde a cometer infrações éticas legais. 
Segundo D’Assumpção (1998) a má-prática, ainda que carregue em si certa dose 
de sentenciamento prévio, nos parece a menos inadequada, caracterizando uma prática 
que não foi boa, já que resultou em danos ou insatisfação para o paciente. Como a prática 
implica num trabalho coletivo, inclusive do próprio paciente, além do envolvimento do 
 
 
 
 
 
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meio onde o procedimento foi realizado, ela será utilizada para indicar o problema 
decorrente da não observação dos preceitos científicos, éticos e legais da profissão. 
O primeiro ponto a ser analisado é o contrato de serviço, sim, existe entre o 
profissional de enfermagem e o paciente um contrato, mesmo que este não seja 
formalizado em documento escrito e registrado nos órgãos legais; o prontuário com todos 
os registros e resultados de exames complementares, bem como a análise posterior dos 
fatos e do comportamento pessoal entre o contratante (paciente) e o contratado 
(profissional), é utilizado para abertura de processo e formulação de acusações contra o 
profissional. 
Como não é exata a relação contratual, torna-se difícil compreender o que 
significa “imprudência, negligência e imperícia” já que estes três elementos são 
continuamente evocados para caracterizar a má-prática. 
A imprudência ocorre quando o profissional não utiliza todos os meios disponíveis 
ao seu alcance para obter o resultado, ou quando utiliza uma conduta e/ou tratamento 
incerto de resultado duvidoso; a imprudência seria o afoitamento desnecessário, a avidez, 
a falta de cautela ou precaução, não se detendo por bom senso nem diante da 
possibilidade de causar um acidente ou dano a alguém. 
A negligência é a postura ou conduta do profissional que realiza suas atividades 
de forma inadequada por falta de cautela, desleixo ou falta de habilidade técnica, não há 
observância das normas que nos ordene a operar com atenção, capacidade, solicitude e 
discernimento; pode ser definida ainda, pela inércia psíquica, a indiferença do agente que, 
podendo tomar as devidas cautelas exigíveis, não o faz por displicência ou preguiça 
mental. 
Por fim, a imperícia seria aquele profissional que, não tendo os conhecimentos ou 
qualificações necessárias para um determinado procedimento, decidisse executá-lo, 
resultando disto prejuízos mais o menos graves para o paciente, levando-o até mesmo à 
morte. Esta atitude se caracteriza pela realização de atividades das quais o profissional 
não tem especialização e presume saber, mas tem apenas conhecimentos superficiais, 
não tendo capacidade de solucionar os problemas que não lhes estão destinados. 
Mediante esta compreensão, empenhados em evitar tais práticas, acreditamos 
ser possível obter uma melhor assistência de enfermagem, que se completa quando o 
 
 
 
 
 
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profissional consegue agregar as virtudes fundamentais no trato com qualquer ser 
humano, assim, certamente reduzirá os riscos de uma má-prática. 
A princípio, as virtudes humanas de justiça, prudência, respeito e solidariedade 
parecem ser necessárias apenas no convívio social, mas como separar o individual do 
profissional? 
A enfermagem como profissão essencialmente humanística deve utilizar em cada 
tomada de decisão e ação diária (seja ela profissional ou não) os seus conceitos, 
conhecimentos, experiências e as virtudes para conseguir ter liberdade, autonomia e 
resolutividade. 
D’Assumpção (1998) apresenta algumas recomendações para prevenir a má-
prática profissional: 
 
1- Adequado relacionamento da equipe com o paciente; onde o paciente é ouvido 
e considerado em todas suas dimensões (física, psíquica, emocional e espiritual) e o 
profissional seja respeitado pelo saber especializado e não pela imposição autoritária do 
tratamento, desta forma um bom relacionamento que ressoa em um atendimento mais 
adequado. 
 
 
 
2- Informações corretas e prévias; diálogo objetivo e completo com informações a 
respeito do que deverá ocorrer no tratamento, quais as complicações possíveis, 
colocadas de maneira clara, porém inteligente, de modo a não assustar o paciente e seus 
familiares, quais as expectativas de ambas as partes. Tais elementos ajudarão 
enormemente a evitar a ocorrência de má-prática e, quando estas acontecerem, ajudarão 
a evitar desgastes, processos e aborrecimentos, os quais acabarão por impedir a 
correção adequada dos problemas surgidos. Com isto, estabelece uma relação contratual 
formal, que dará ao profissional maior segurança e tranquilidade na execução das 
medidas terapêuticas necessárias. 
 
 
 
 
 
 
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3- Comportamento do profissional na execução da terapêutica; a linguagem 
verbal e não verbal da equipe pode transmitir informações inverídicas e que causem 
insegurança ao paciente,bem como o tratamento entre os profissionais que pode 
harmonizar ou estressar o ambiente, levando a uma assistência de menor qualidade. 
 
4- Assistência integral após o ato terapêutico; a responsabilidade do profissional 
não termina após um ato terapêutico, o profissional responde pelas consequências do seu 
ato, não garantindo uma cura, mas uma terapêutica integral e comprometida visando 
satisfazer o paciente e não lhe causando mal algum. 
 
Germano (1993) discute em seu texto, “Ideais Éticos” e prática profissional: uma 
confirmação dos “bons sentimentos”? que os aspectos da prática da enfermagem devem 
ter ênfase em problemas éticos no que se refere ao relacionamento e atenção 
dispensados aos usuários dos serviços. Para exemplificar destacamos as ocorrências 
vivenciadas nas instituições de saúde no processo de atendimento dos profissionais de 
enfermagem. 
O primeiro problema ético é decorrente das políticas de saúde no Brasil que 
privilegiam as práticas médicas curativa, individual, assistencialista, especializada e 
privatista em detrimento de medidas de saúde pública, de caráter preventivo e de 
interesse coletivo. Isto resultou no crescimento da medicina elitista, tecnológica e um 
atraso no atendimento primário. Esse fato é um problema ético, pois ocorre uma maior 
alocação de recursos humanos e financeiros voltados às especializações médicas mais 
onerosas e que atendem a um número menor de pessoas. Os profissionais não são 
sensibilizados para as precárias condições de vida da população, e alguns não 
conseguem executar a educação em saúde com o paciente e com a comunidade para 
prevenção e promoção da saúde. 
Deste surge outro o problema: o desrespeito à dignidade e ao valor humano, 
quando há discriminação social no trato com a saúde do ser humano; quando não 
preparamos de forma impecável o instrumental cirúrgico ou quando, por desatenção, 
trocamos o medicamento do paciente, todas estas situações envolvem aspectos éticos, 
pois colocam em risco a integridade física do paciente. 
 
 
 
 
 
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O terceiro problema ético é a burocratização da assistência se sobrepondo à 
humanização, decorrente da busca incessante do lucro, que apresenta no serviço de 
saúde pela deficiência quantitativa e qualitativa de profissionais de enfermagem, 
inviabilizando a possibilidade de prestar uma assistência digna, segura e humana. Um 
exemplo desta realidade foi detectado em um estudo publicado na Revista Brasileira de 
Enfermagem que verificou a frequência elevada com que a enfermagem realiza 
anotações “fantasmas” sobre cuidados de rotina, como a verificação dos sinais vitais, 
temperatura, pulso e respiração sem verificá-los. 
Diante destes problemas e dezenas de outros vivenciados na prática diária dos 
profissionais de enfermagem surge a dúvida: como mudar este quadro? O pensamento de 
Vasquez é de que o caminho seja pelo ensino da ética estruturado a partir da 
compreensão da realidade social e com o exercício crítico e sistemático das questões 
mais gerais da saúde e da sociedade, para que a assistência de enfermagem não seja a 
repetição das distorções e arbitrariedades já existentes. 
A formação profissional de enfermagem precisa ser construída de forma reflexiva 
e histórica, evitando a utilização da filosofia especulativa que busca solucionar os 
problemas éticos, deduzindo-os como princípios absolutos. Vasquez (1975) diz que “o 
comportamento moral é próprio do homem como ser histórico, social e prático, isto é, 
como um ser que transforma conscientemente o mundo que o rodeia; que faz da natureza 
externa um mundo à sua medida humana e que, desta maneira, transforma a sua própria 
natureza”. Acrescenta o autor: “o comportamento moral não é a manifestação de uma 
natureza humana eterna e imutável, dada de uma vez para sempre, mas de uma natureza 
que está sempre sujeita ao processo de transformação que constitui precisamente a 
história da humanidade”. 
Retomando ao conceito de má-prática profissional, precisamos discutir o que 
fazer diante de um caso que porventura ocorra, visto que todos os profissionais de 
enfermagem estão sujeitos a erros e falhas, mesmo quando não agimos com 
imprudência, imperícia ou negligência, decorrentes das situações institucionais, 
organizacionais e administrativas do serviço e das condições materiais e humanas 
disponíveis. 
 
 
 
 
 
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Considerando que a enfermagem tem por finalidade o cuidado, diante de qualquer 
falha, a primeira ação deve ser a atenção verdadeira ao cliente, não importando que o 
problema tenha ocorrido por culpa do paciente ou de qualquer outro membro da equipe, o 
mais importante é que sejam tomadas as medidas necessárias pra sanar ou atenuar o 
problema. Esta atenção e cuidado deve se estender aos familiares do paciente que, 
igualmente, sentem-se prejudicados e inseguros e mesmo diante do comportamento 
tenso e agressivo, o profissional deve ser capaz de melhor absorver os fatos 
desagradáveis e, se possível, participar com o paciente e familiares do problema para 
solucioná-lo mais rápido e adequadamente. 
Frente a uma complicação, cabe ao profissional responsável analisar 
cuidadosamente cada fato, as causas, as suas consequências e as possibilidades de 
solução; uma vez bem definido em todos os aspectos, o problema deve ser apresentado 
ao paciente e aos familiares de maneira clara e objetiva, permitindo a compressão plena 
por parte de leigos. Nesta explicação procurará ser perspicaz, dando as informações de 
modo que sejam bem compreendidas e sem possibilidade de distorções. Depois de 
assumir uma posição terapêutica, o profissional deve ser firme em sua posição evitando 
intranquilidade e desconfiança, mas não pode ser grosseiro ou intransigente, precisa ver, 
rever, pensar, repensar e só então dizer o que aconteceu impedindo que apareçam 
muitas versões para o mesmo fato. 
Concluímos que diante de um caso de má-prática, o profissional deve rever todos 
os seus conhecimentos, buscar novos conhecimentos e nunca ter a vaidade tola de 
querer resolver tudo sozinho, ele deve escolher colegas de sua confiança e que tenham 
experiência suficiente para ajudá-lo sem criar mais confusões; não existe uma regra, um 
protocolo estabelecido para resolver questões de má-prática profissional, mas pela soma 
de nossos conhecimentos técnico, científico, ético e legal, experiências profissionais e 
aplicação nos valores e conceitos individuais é possível, mesmo diante de uma falha, 
continuar cuidando do paciente, dos familiares e da equipe para que não ocorram maiores 
malefícios e para que o fato não se repita em nossa trajetória profissional. 
 
 
 
 
 
 
 
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2.2 Responsabilidade profissional 
 
No passado, não muito distante, os acidentes eram raros, e quando aconteciam, 
não geravam responsabilidade, já que reinavam somente pequenas indústrias e os 
operários manejavam utensílios inofensivos; com a Revolução Industrial a locomoção 
passou a ter maior velocidade, dispúnhamos de equipamentos eletroeletrônicos 
radioativos, tratamentos com quimioterápicos, entre outros avanços da ciência e medicina 
que refletiram diretamente no comportamento do homem, o que ele faz e como ele o faz. 
Neste contexto, a palavra responsabilidade começou a ter sentido e ser utilizada para o 
homem que, individualmente, ou, coletivamente, exerce uma atividade que possa trazer 
algum risco a outrem, independente de sua intenção de cometê-los. 
O termo “responsabilidade” tem origem nas palavraslatinas respondere e 
responsus, de responder ou ser responsável. O dicionário Aurélio define o termo como a 
qualidade ou condição de responsável, ou seja, responder pelos próprios atos ou de 
outrem. 
A reflexão sobre responsabilidade e competência constitui um instrumento 
norteador para a tomada de decisões com base em normas legais e princípios ético-
profissionais, e a ética profissional e parte da ética geral que tem por objetivo despertar 
esse tipo de reflexão e análise. 
Antigamente, a ética se ocupava, quase que exclusivamente, de ação individual e 
era objeto de estudo de filósofos e teólogos. Hoje, por causa das transformações 
ocorridas na sociedade e dos avanços científicos e tecnológicos, a prioridade passou a 
ser o sujeito social que precisa discutir e decidir sobre descobrimentos da engenharia 
genética, clonagem e outros assuntos polêmicos que desafiam os códigos de ética, as 
argumentações filosóficas e religiosas. 
Segundo Oguisso (2006), as ações profissionais baseiam-se em parâmetros ou 
fundamentos, como os valores, a consciência e a liberdade. Os valores são como forças 
que impulsionam as ações humanas, um indivíduo sem valores perde o sentido da vida e 
se aliena, são normas, princípios ou padrões sociais aceitos pelo indivíduo, classe ou 
sociedade, e pelos quais uma determinada pessoa ou coisa é estimável em maior ou 
menor grau. 
 
 
 
 
 
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A consciência, do ponto de vista psicológico, é o sentimento de nossa própria 
identidade, é o eu, um fluxo temporal de estados corporais e mentais que engloba o 
passado o presente e o futuro. A palavra consciência significa com conhecimento e com 
sabedoria, é a percepção que o ser humano tem dos outros, de si e do meio em que vive. 
A liberdade, para o homem, significa a possibilidade de traçar caminhos, ensaiar e 
propor alternativas, superar limites, fazer escolhas. Não basta saber como agir ou ter 
condições de fazê-lo, é necessário também querer agir, pois a liberdade tem sempre uma 
finalidade, ninguém é livre sozinho, da mesma forma que é quase impossível ser feliz 
sozinho. Por isso, a liberdade é sempre uma conquista coletiva e não pessoal, e só pode 
ser pensada na relação com o outro e com o mundo. 
Com a definição e aceitação destes conceitos pelos homens surge outro 
igualmente importante: o conceito de responsabilidade, obrigação de responder pelos 
próprios atos ou de outrem, sempre que estes violem direitos de terceiros protegidos por 
lei, e de reparar ou indenizar os danos causados. 
Por fim, a responsabilidade é sempre a obrigação de responder por alguma coisa; 
significa, pois, obrigação, encargo, compromisso ou dever de satisfazer ou executar 
alguma coisa que se tenha convencionado, ou ainda, suportar as sanções decorrentes 
daquela obrigação. Existem três modalidades de análise da responsabilidade: a civil, a 
penal e a ético-profissional. 
É interessante termos alguns conceitos, comumente utilizados no processo civil 
ou penal, para compreender os assuntos da próxima secção. Primeiramente, a definição 
de ato Ilícito que se refere a um comportamento do agente, positivo (ação) ou negativo 
(omissão), que desrespeite a ordem jurídica, cause prejuízo a outrem, pela ofensa a bem 
ou a direito deste. Este comportamento (comissivo ou omissivo) deve ser imputável à 
consciência do agente, por dolo (intenção) ou por culpa (negligência, imprudência ou 
imperícia) contrariando, seja um dever geral do ordenamento jurídico (delito civil), seja 
uma obrigação em concreto (inexecução da obrigação ou de contrato). 
Culpa, derivado do latim culpa (falta, erro cometido por inadvertência ou por 
imprudência) é compreendido como a falta cometida contra o dever, por ação ou omissão, 
procedida de ignorância ou de negligência; a culpa pode ser maliciosa, voluntária ou 
inobservância da diligência que é devida na execução do ato a que se está obrigado, 
 
 
 
 
 
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revela a violação de um dever preexistente não praticado por má fé ou com a intenção de 
causar prejuízo aos direitos ou ao patrimônio de outrem. 
Dano, este termo, em sentido amplo, vem a ser a lesão de qualquer bem jurídico, 
o que inclui o dano moral, mas em sentido estrito, dano é a lesão do patrimônio, e 
patrimônio é o conjunto de relações jurídicas de uma pessoa, apreciáveis em dinheiro. 
Silva (2000) define nexo causal como: “a composição da responsabilidade civil, da 
relação de causa e efeito entre o feito e o dano objeto de ressarcimento.“ Na prática, isso 
significa que mesmo que haja culpa e dano, não haverá obrigação de reparação se não 
puder se estabelecer a ligação entre um evento e outro, ou seja, o nexo causal. 
 
 
2.3 Responsabilidade civil 
 
Plácido e Silva afirmam que “responsabilidade civil é aquela resultante da 
inexecução das obrigações que se tenham assumido contratual ou convencionalmente.” 
A reparação civil é a denominação que se atribui à indenização ou ao 
ressarcimento do dano. É definida como: 
 
A reparação civil é restabelecimento, restauração do mal causado, conste esse 
mal de ofensa à pessoa ou ofensa à coisa, reparar o dano significa restaurar o 
direito violado, com a volta das coisas ao status quo, sempre que possível, e, 
quando não o for, estabelecendo um novo estado, o que mais se aproxime do 
anterior à lesão (RODRIGUES). 
 
A reparação pode ser natural, quando o dono de uma coisa é ilicitamente 
subtraído do bem e obtém de volta em igual estado. Quando há impossibilidade de 
restituição da coisa, dá-se a reparação pecuniária; quando se avalia um dano moral em 
dinheiro, é porque este se constitui intermediário de todas as trocas, mas, na realidade, 
não há senão equivalência entre a dor sofrida com o dano e a compensação que o 
dinheiro pode oferecer na aquisição de algo útil à vitima. 
Para ser obrigada a reparar um dano, a pessoa deve ser juridicamente capaz, o 
que é definido pelo Código Civil, Lei n.º 10.406/02, que estipula que a capacidade jurídica 
 
 
 
 
 
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é o ato de poder dispor livremente de algo de acordo com a própria vontade ou interesse; 
os indivíduos civilmente incapazes são: menores de dezesseis anos, portadores de 
enfermidade ou deficiência mental ou que, mesmo por causa transitória, não puderem 
exprimir sua vontade. 
Alguns artigos do Código Civil podem impactar nas ações de enfermagem. O Art. 
186 diz que “aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, 
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.” 
E o Art. 944 que destaca a indenização medida pela extensão do dano, isto é, quanto 
maior o dano ou prejuízo, maior a indenização. Assim, se houver lesão física ou outro 
dano à saúde, o profissional deverá indenizar o paciente das despesas do tratamento e 
dos lucros cessantes até o fim da convalescença, além de algum outro prejuízo que ele 
prover haver sofrido. Se houver morte, a indenização consiste, sem excluir outras 
reparações, no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto 
da família; e, na prestação de pensão (alimentos) às pessoas a quem o morto os devia, 
levando-se em conta a duração provável da vida da vitima. 
Portanto, responsabilidade civil consiste na obrigação de indenizar e só haverá 
indenização quando existir prejuízo a reparar. O Código Civil aplica a obrigatoriedade de 
reparação ou indenização pelo exercício de atividade profissional, sem distinção da 
categoria ou nível de qualificação, isso significa quequalquer profissional (nível superior 
ou médio) que causar dano a alguém no exercício de sua atividade, fica obrigado a 
indenizar a vítima pelo prejuízo causado, conforme o Art. 951. 
 
2.4 Responsabilidade Penal 
 
Para Stoco, a “responsabilidade penal pressupõe uma turbação social, 
determinada pela violação da norma penal, sendo necessário que o pensamento exorbite 
do plano abstrato para o material pelo menos em começo de execução”. 
No exercício da enfermagem o aspecto penal da responsabilidade pode ser 
observado quando ocorre a delegação de funções; ao responder pelos atos de outrem, o 
indivíduo assume a responsabilidade por haver mandado ou determinado que se fizesse 
alguma coisa, delegando uma tarefa ou função para outra pessoa. Portanto, quem delega 
 
 
 
 
 
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uma função assume a responsabilidade pelo que mandou fazer e quem recebe a 
delegação deve prestar contas do que fez, isto é, também responde pelos atos e assume 
a parcela de responsabilidade correspondente. 
O Art. 29 do Código Penal Brasileiro prevê que “quem, de qualquer modo, 
concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua 
culpabilidade; ”assim se a participação for de menor importância, a pena pode ser 
diminuída de um sexto a um terço. 
Se houver homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras reparações: no 
pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família; e, 
na prestação de pensão (alimentos) às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em 
conta a duração provável da vida da vítima; se houver lesão ou outra ofensa à saúde, o 
ofensor deverá indenizar o ofendido das despesas do tratamento e dos lucros cessantes 
até o fim da convalescença, além de algum outro prejuízo que o ofendido prove haver 
sofrido. 
O Código Penal, com o objetivo de proteger a incolumidade da pessoa humana, 
capitula entre os crimes de periclitação da vida, os maus tratos no Art.136, no qual refere 
que “expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou 
vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia quer privando-a de 
alimentação ou cuidados indispensáveis (...) constitui crime”. Essa privação pode causar 
mal-estar, desconforto e, por vezes, infecção, sofrimento ou agravamento da moléstia. 
Havendo denúncia de familiares com relação à dor física, grande desconforto 
desnecessário, como num simples caso de assaduras, por exemplo, pode-se exigir do 
profissional que o causou uma reparação pecuniária. 
Segundo Oguisso (2006), o concurso de pessoas pode ocorrer no crime 
profissional por meio da co-autoria e da participação, o crime profissional é aquele 
praticado por quem exerce uma profissão, utilizando-se dela para a atividade ilícita. Por 
exemplo, alguém que exerce atividade de enfermagem, sendo profissional regularmente 
habilitado nessa área, e pratica, intencionalmente, crime de aborto ou de maus tratos. 
Há na co-autoria a decisão comum para a obtenção do resultado ou da 
consecução do objetivo previamente delineado para a ação. Na participação, o sujeito não 
 
 
 
 
 
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comete a conduta típica, ou seja, prevista na lei (homicídio, por exemplo), mas pratica 
atividade (s) que contribui (em) para a ocorrência do delito (ou crime). 
Tanto na co-autoria como na participação, o sujeito responderá pelos seus atos, 
levando-se em conta o Art. 59 do Código Penal que prevê: “o juiz, atendendo à 
culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos 
motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da 
vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção 
(...), as penas que julgar pertinentes a cada caso. 
Outra atividade corriqueira dos profissionais de enfermagem que pode ser 
analisada e considerada pelo Código Penal é o registro de enfermagem, elaborado 
diariamente para anotar todas as assistências realizadas ao cliente durante o 
atendimento, bem como a evolução do estado geral do paciente dentro das competências 
da enfermagem. O referido código no Art. 299 especifica que constitui crime de falsidade 
ideológica “emitir em documento público ou particular declaração falsa ou diversa da que 
devia ser escrita, com fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre 
fato juridicamente relevante”. “Pode ser praticado por omissão, por não anotar o que 
deveria ser anotado, ou por comissão, ou seja, inserir ou fazer inserir uma informação 
falsa ou diversa da que deveria ser registrada”. A penalidade prevista é de reclusão de um 
a cinco anos e multa, se o documento for público; e de um a três anos, se o documento 
for particular. 
 
2.5 Responsabilidade ético-profissional 
 
Na trajetória histórica da enfermagem observamos a preocupação inicial da 
enfermeira pioneira no Brasil, em elaborar o Código de Ética do exercício profissional de 
enfermagem, para garantir a segurança e padrão de atendimento que atendesse aos 
anseios dos profissionais e pacientes. 
Em 1958, foi aprovado o primeiro Código de Ética, revisto em 1975, 1993, 2001 e 
a última revisão e atualização ocorreu em 2007. É por meio da homologação de normas 
específicas dos preceitos éticos e legais que o profissional adquire a competência ética 
 
 
 
 
 
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legal, visto que, a competência técnica é alcançada pela formação técnica ou acadêmica, 
elas são indispensáveis, complementares e necessárias a boa prática profissional. 
Por isso, o profissional de enfermagem não pode ter apenas uma noção de ética 
e de legislação, estes conhecimentos e conceitos devem ser utilizados diariamente nas 
inúmeras atividades do cuidar, porém o que normalmente observamos é uma 
preocupação maior com a técnica e o procedimento deixando a atenção aos fundamentos 
da enfermagem em segundo plano, levando a falhas éticas e legais elementares; gerando 
aflições, decepções e prejuízo ao profissional e ao cliente. 
Como serão discutidas posteriormente, as Resoluções do COFEN que dispõem 
do Código de Ética dos profissionais de enfermagem e o Código de Processo Ético, 
deteremos neste momento a apresentar os princípios fundamentais do exercício da 
enfermagem: 
 
1- A enfermagem é uma profissão comprometida com a saúde e a qualidade de 
vida da pessoa, família e coletividade. 
 
2- O profissional de enfermagem atua na promoção, prevenção, recuperação e 
reabilitação da saúde, com autonomia e em consonância com os preceitos éticos e legais. 
 
3- O profissional de enfermagem participa, como integrante da equipe de saúde, 
das ações que visem satisfazer as necessidades de saúde da população e da defesa dos 
princípios das políticas públicas de saúde e ambientais, que garantam a universalidade de 
acesso aos serviços de saúde, integralidade da assistência, resolutividade, preservação 
da autonomia das pessoas, participação da comunidade, hierarquização e 
descentralização político-administrativa dos serviços de saúde. 
 
4- O profissional de enfermagem respeita a vida, a dignidade e os direitos 
humanos, em todas as suas dimensões. 
 
 
 
 
 
 
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5- O profissional de enfermagem exerce suas atividades com competência para a 
promoção do ser humano na sua integralidade, de acordo com os princípios da ética e da 
bioética. 
 
Ao estudarmos estes princípios entendemosque o profissional de enfermagem 
assume a responsabilidade da assistência ao cliente/paciente, independente de querer ou 
não; pois ao habilitar-se um profissional passa a ter a obrigação de cumprir com os 
valores da enfermagem (enquanto coletividade), valores estes considerados como bens 
necessários para sua existência e pela permanência do relacionamento com o cliente e 
seus com seus pares. 
A enfermagem tem a obrigação de prestar um serviço utilizando a prudência e 
diligência normais do cuidado sem, contudo, garantir um resultado; pois sua obrigação é 
de meio, o objeto de seu contrato é a própria assistência ao paciente, devendo prestá-la 
sem risco e utilizando todos os meios disponíveis ao seu alcance. 
A responsabilidade ética decorre de responder por uma infração ética, ou seja, 
pelo descumprimento de normas, valores ou princípios éticos dos profissionais de 
enfermagem; por meio do estudo e atualização reduz a possibilidade do erro. Porém, 
caso ele venha a ocorrer, as medidas administrativas e éticas são tomadas pelo Conselho 
Regional de Enfermagem, órgão fiscalizador e disciplinador do exercício profissional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
-------------------- FIM DO MÓDULO I -------------------- 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Curso de Ética e Legislação 
Profissional em Enfermagem 
 
 
 
 
 
 
 
MÓDULO II 
 
 
 
 
 
 
Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para 
este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização do 
mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores 
descritos na Bibliografia Consultada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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MÓDULO II 
 
1. Definição de bioética seus os princípio fundamentais 
 
Em virtude dos inúmeros avanços tecnológicos, principalmente no campo da 
biomedicina, discutem-se muito acerca da bioética; porém o termo bioética é 
recente, ele foi empregado pela primeira vez em 1971, pelo médico oncologista Van 
Rensselder Potter. 
Segundo Oguisso (2006,) ele “cunhou o termo ‘bioética’ depois de procurar 
por muitos meses as palavras certas para expressar a necessidade de equilibrar as 
orientações científicas da biologia com os valores humanos. Ao juntar em um só 
campo os conhecimentos da biologia e os da ética, objetivava ajudar a humanidade 
em direção a uma participação racional, mas cautelosa, no processo da evolução 
biológica e cultural.” 
Potter entendeu a bioética como o estudo do homem, isto é, o estudo do 
respeito à pessoa humana em uma perspectiva ecológica e enfatizava as 
responsabilidades pessoais, defendendo a busca de uma sabedoria capaz de 
examinar as possibilidades para promover a saúde e a sobrevivência humana, a 
justiça social e o conhecimento que instruiria a espécie humana quanto a seu papel 
e a sua responsabilidade moral para com todo ser vivente, sendo assim uma ponte 
para o futuro. 
Segre (1999) definiu bioética como a parte da ética, ramo da filosofia que 
enfoca as questões referentes à vida humana (portanto a saúde) e tendo a vida 
como objeto de estudo, trata também da morte (inerente à vida), como um ramo da 
ética porque avalia os prós e contras de uma determinada conduta, levando em 
conta os princípios e os valores morais existentes na sociedade. A bioética depende 
da contribuição de matéria como a filosofia, a medicina, a sociologia, a biologia, o 
direito, entre outras, que darão subsídios, por meio de conceitos, definições, análises 
de comportamentos sociais, entre outros, para que o caso concreto possa ser 
estudado pela bioética. 
 
 
 
 
 
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Literalmente, o termo bioética significa “ética da vida”, ao juntar esses 
vocabulários em um mesmo termo, não somente se criou uma nova palavra, mas 
também se provocou uma transformação na maneira de fazer ciência e ética, 
aproximando os dois campos do conhecimento. A bioética busca entender o 
significado e o alcance das novas descobertas, criando regras que possibilitem o 
melhor uso dessas novas tecnologias, entretanto, esta regra não possui coerção; ela 
surgiu como a possibilidade de resposta à necessidade atual de encontrar um 
caminho para lidar com a hostilidade à ética em geral, que decorria das posições 
extremas correntes, de abençoar ou de amaldiçoar toda inovação que surgia. 
Apresentou-se como um caminho do meio, ou “de prudência”, buscando evitar a 
simples proibição das coisas, mas sem cair no pólo oposto. 
Para atuar neste novo campo de ação era necessária a interação de 
profissionais e estudiosos oriundos das mais diversificadas áreas do conhecimento 
humano. Médicos, biólogos, psicólogos, psicanalistas, cientistas sociais, filósofos, 
religiosos, juristas, enfermeiros, são exemplos de pessoas, de diferentes formações, 
que têm um papel a desempenhar na discussão bioética; porque a bioética discute a 
vida e a saúde humana, e esses temas devem ser abordados e discutidos dentro da 
própria sociedade, com um leque de participação de pessoas tão aberto quanto 
possível. Sendo que as matérias como engenharia genética, a reprodução assistida, 
o aborto, o planejamento familiar, a disponibilidade (ou não) de órgão para 
transplantes, o suicídio assistido (denominado eutanásia), devem ser 
regulamentadas e procedidas democraticamente, coroando o “direito da cidadania”. 
Não sendo mais colegiados de médicos ou juízes (ou de qualquer outro 
grupo corporativo) que haverão de decidir sobre matéria que dizem respeito aos 
aspectos humanos, atuando como sujeito (e não como objetos) de nosso destino, 
manifestando o que consideramos adequado ou inadequado, construtivo ou 
destrutivo, como uma equipe multiprofissional em favor de toda a sociedade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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O conceito de Bioética será entendido como um grito pelo resgate da 
dignidade da pessoa humana em face aos processos técnico-científicos na 
área da saúde, bem como em face às condições de vida socioeconômicas e 
políticas, por meio de um diálogo multiprofissional, multidisciplinar e 
pluralista. As características básicas da disciplina bioética são pluralismo 
social, base democrática e orientação da práxis (BARCHIFONTAINE apud 
PESSINI, 1996). 
 
1.1 Conceitos de Bioética 
 
A primeira edição da Enciclopédia de bioética, editada em 1978, sob a 
coordenação de Warren Thomas Reich definiu bioética como: “o estudo sistemático 
da conduta humana no âmbito das ciências da vida e da saúde, enquanto essa 
conduta é examinada à luz de valores e princípios morais”. 
Devido ao entendimento literal da palavra “princípio” como regra ou norma 
de comportamento, um guia de ação, houve diversas críticas sobre este conceito, 
sendo necessária a revisão da conceituação de bioética. 
Uma nova definição de bioética foi elaborada e publicada na 2ª e 3ª edições 
da Enciclopédia: “o estudo sistemático das dimensões morais, incluindo a visão, a 
decisão, a conduta e as normas, das ciências da vida e da saúde, utilizando uma 
variedade de metodologias éticas num contexto interdisciplinar”. 
Van Ressenlaer Potter pronunciou em um vídeo apresentado no IV 
Congresso Mundial de Bioética, realizado no Japão, em 1998: 
Desde o início, chamei bioética como nova disciplina que combinaria 
conhecimento e reflexão. Ela deve ser vista como uma abordagem 
cibernética em relação à contínua busca de sabedoria pela humanidade, 
que defini como o conhecimento de como usar o conhecimento para a 
sobrevivência humana epara o aperfeiçoamento da condição humana. 
Concluindo, peço a você que pense em bioética com uma nova ciência ética 
que combina humildade, responsabilidade e uma competência 
interdisciplinar, intercultural e que potencializa o senso de humanidade 
(Tradução de Leo Pessini à revista O mundo da saúde, n.6, v.22). 
 
 
 
 
 
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1.2 Princípios da Bioética 
 
Dentre os paradigmas mais comuns destacam-se: 
 
1 - O do liberalismo, que tem nos direitos humanos a justificativa para o 
valor central da autonomia do indivíduo sobre seu próprio corpo e as decisões 
relativas à sua vida; 
 
2 - O das virtudes, que coloca a tônica na boa formação do caráter e da 
personalidade das pessoas ou dos profissionais; 
 
3 - O da casuística, que incentiva a análise sistemática de casos a fim de 
reunir características paradigmáticas que se prestará para analogias em situações 
com circunstâncias semelhantes; 
 
4 - O narrativo, que entende a intimidade e a identidade experimental pela 
pessoa ao contarem ou seguirem histórias como um instrumento facilitador da 
análise ética; 
 
5 - O do cuidado, que defende a importância das relações interpessoais e 
da solicitude; 
 
6 - E o principialista, baseado nos princípios da beneficência, não 
maleficência, autonomia e justiça. 
Os princípios são como regras gerais, que dão abertura considerável para o 
juízo, não funcionando como um guia preciso de ação que informa exatamente como 
agir em cada circunstância. Eles constituem em referenciais que alertam para a 
necessidade de não ser maledicente, de ser justo, de respeitar a autonomia das 
pessoas e de ser beneficente para com elas, porém determinar como essas 
orientações se dá na realidade é tarefa para o discernimento e o equacionamento 
éticos. 
 
 
 
 
 
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O principialismo, então, constitui metodologia de análise ética que busca 
ponderar os argumentos morais em situações concretas tendo em vista 
dirimir, se possível, os conflitos pela escolha dos melhores argumentos. 
Assim, não faz abstração dos casos, porque a ponderação e a 
especificação dos princípios, bem como a compreensão de suas 
implicações e das repercussões e consequências das escolhas disponíveis, 
somente tornam-se possíveis com a realização de juízos e discernimentos 
em circunstâncias concretas, especialmente as conflitivas, quando se busca 
um modo de resolver pendências. A necessidade de ponderar e especificar 
princípios prima facie nos casos de conflito implica compromisso, mediação 
e negociação e permite o crescimento moral (OGUISSO 2006,). 
 
O princípio da autonomia diz respeito à liberdade individual, ou seja, 
considera-se que a própria pessoa saiba o que é melhor para si, mas a decisão deve 
ser tomada com plena consciência. Deve haver uma troca de informações entre 
profissional e paciente, de modo que o primeiro tem que colocar à disposição do 
segundo todas as informações possíveis e tratamentos disponíveis, devendo 
também responder a toda e qualquer dúvida que por ventura possa surgir para o 
paciente. 
Este princípio está diretamente ligado ao livre consentimento do paciente na 
medida em que este deve ser sempre informado; em outras palavras, o indivíduo 
tem a liberdade de fazer o que quiser, mas, para que esta liberdade seja plena, é 
necessário oferecer a completa informação para que o consentimento seja 
realmente livre e consciente. Segundo, Oguisso: 
 
O indivíduo autônomo age livremente segundo seu plano auto-escolhido, ao 
passo que os que têm autonomia reduzida são, em certa medida, 
controlados pelos outros ou incapazes de deliberar ou agir com base em 
seus desejos e planos. Assim, é por causa dos atos condicionadores dos 
agentes envolvidos que se analisa em que medida a expressão autonômica 
das pessoas ocorre ou não. O indivíduo precisa proceder de maneira 
intencionada, com conhecimento e na ausência de solicitações externas 
controladoras do agir, ou seja, é preciso estar esclarecido e ter liberdade 
(OGUISSO, 2006). 
 
 
 
 
 
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O princípio da não maleficência significa que jamais se deve praticar algum 
mal ao paciente, é a garantia de que danos previsíveis serão evitados; afirma uma 
obrigação de não causar danos aos outros, e o termo “dano“ não fica restrito aos 
aspectos físicos, como a dor, as incapacidades e a morte, mas inclui os âmbitos: 
psíquico, social, moral e outra série de prejuízos. 
Por beneficência entende-se “fazer o bem”, “cuidar da saúde”, “favorecer a 
qualidade de vida”, evitar ou minorar os danos; a ponderação entre risco e 
benefícios, tanto atuais como potenciais, individuais ou coletivos, comprometendo-se 
com o máximo de benefícios e o mínimo de danos e risco. 
O profissional de saúde deve sempre fazer uma avaliação do procedimento 
a ser usado, para que o paciente não sofra desnecessariamente sem obter 
resultados, ou seja, na sua avaliação os benefícios têm que superar os riscos, assim 
como os sofrimentos, para valerem à pena; deve informar ao paciente acerca dos 
riscos e benefícios, além de dar sua opinião sobre o caso, mas a decisão final 
caberá ao paciente, principal interessado. 
Cumpre-se dizer que o profissional não está obrigado a fazer o que o 
paciente deseja; se a opinião deste for contrária às convicções e aos valores 
pessoais do profissional, este poderá recusar o tratamento, tendo o paciente que 
procurar outro profissional. Este princípio é muito relevante em questões como 
aborto, transplante de órgãos, eutanásia e experimentação com seres humanos. 
As normas abarcadas pela não maleficência apenas exigem se refrear, 
intencionalmente, de ato que cause dano, tendo suas regras, usualmente, a forma 
de proibição, ou seja, de “não fazer X”, ao passo que as de beneficência requerem 
uma ação direta de ajuda, seja prevenindo ou eliminando o dano, promovendo o 
bem. Assim, a compactação das obrigações de não maleficência e beneficência em 
um único princípio não permite perceber que as obrigações de não prejudicar os 
outros (não roubar, não mutilar e não matar) são diferentes das de ajudá-los (prover 
benefícios, proteger os interesses e promover bem-estar). 
A beneficência provê o objetivo primário e racional da atenção à saúde, ao 
passo que o respeito à autonomia – junto a não maleficência e à justiça – estabelece 
os limites morais para as ações profissionais na persecução de seus objetivos. 
 
 
 
 
 
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No principialismo, a justiça é vista em seu sentido comutativo ou distributivo, 
a justiça distributiva abarca a distribuição justa, equitativa, apropriada e determinada 
por normas justificadas nos termos da cooperação social e a distribuição dos direitos 
e responsabilidades na sociedade, incluindo os direitos civis e políticos. 
O filósofo John Rawls, explica uma teoria que propõe a distribuição de 
recursos em uma sociedade democrática em duas etapas: 
1 - Uma primeira que exige igualdade na distribuição dos deveres e direitos 
básicos, todas as pessoas devem ter os mesmos direitos e liberdades civis, como o 
direito à expressão de opinião, à reclamação, à associação, à informação, à 
privacidade, etc.; 
2 - Uma segunda, aceitando o princípio da diferença, é justa ação que tenha 
consequências desiguais para os envolvidos apenas se resultar em benefícios 
compensatórios para cada um e, particularmente, para os membros considerados 
“menosfavorecidos” ou “menos afortunados” da sociedade. 
 
Essa teoria teve repercussão na sociedade ocidental moderna, 
especialmente na área da saúde e, no Brasil, foi considerado um dos pilares do 
Sistema Único de Saúde. A aplicação desses preceitos à alocação de recursos 
escassos na assistência à saúde proporia manter-se o princípio da universalidade na 
distribuição de recursos, pois isso significaria respeitar a primeira etapa, a igualdade 
entre as pessoas; em seguida destinar o restante dos recursos para as camadas 
sociais ou as pessoas mais desfavorecidas. 
Concluímos que cobra-se dos que estão voltados para o desenvolvimento 
científico sua responsabilidade social e ética como a consideração das 
consequências de ordem moral das pesquisas e avanços tecnológicos almejados 
e/ou conquistados, e dos que se dedicam à ética são exigidas discussões e 
reflexões mais próximas da realidade e capazes de dar conta da dinamicidade e 
velocidade com que as novidades advindas da tecnociência se incorporam à vida 
das pessoas e à prática dos profissionais, sem perder de vista os dilemas e os 
conflitos das situações que persistem ao longo dos anos, como a epidemiologia das 
desigualdades sociais e sua interface com os perfis de saúde e doença. 
 
 
 
 
 
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2. A confiabilidade: questões éticas relativas ao segredo profissional 
e à privacidade 
 
O primeiro artigo do Código de Ética dos profissionais de enfermagem diz: 
“exercer a enfermagem com liberdade, autonomia e ser tratado segundo os 
pressupostos e princípios legais, éticos e dos direitos humanos”. O cumprimento 
deste preceito, e dos outros 131 artigos da referida norma, depende não só do 
conhecimento literal de cada item, mas da compreensão dos conceitos filosóficos, 
culturais, sociais e políticos da prática profissional, que se relacionam diretamente 
com a pessoa humana em sua individualidade, privacidade e fragilidade. 
Na assistência à saúde, o segredo compreende as informações a que o 
profissional tem acesso no exercício de suas atividades, quando transmitidas pelos 
pacientes ou responsáveis, obtidas por meio da anamnese, exame físico, dos 
cuidados ao paciente, ou provenientes das observações de outros profissionais, dos 
resultados de exames e procedimentos administrativos. Considerando que a 
assistência é desenvolvida por uma equipe multiprofissional a troca de informações 
é necessária, mas deve se limitar àquelas que cada profissional precisa para realizar 
suas atividades em benefício do cuidado do paciente. 
A enfermagem, especificamente, em decorrência da proximidade com o 
paciente na atividade de “cuidar”, tem acesso a muitas informações pessoais, e por 
este motivo faz-se necessário um vínculo de confiança, que é estabelecido 
previamente no início dos procedimentos. 
Segundo Cohen (1999), a confiança surge da empatia com uma pessoa e da 
idéia de que o indivíduo ao qual revelaremos esse segredo é uma pessoa íntegra e 
não nos irá expor ao ridículo ou à humilhação frente a nossa fraqueza, esta 
confiança emerge dos sentimentos de ligação, segurança, intimidade e respeito ao 
ser humano. 
Devemos considerar o segredo como um compromisso entre pessoas ou um 
determinado grupo de pessoas responsáveis, portanto competentes, sendo que no 
caso específico da relação profissional será o paciente quem irá revelar a sua 
 
 
 
 
 
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intimidade, e o profissional da área de saúde quem se comprometerá do ponto de 
vista ético em guardar segredo. 
Portando, a confidencialidade neste tipo de relação não pode ser confundia 
nem pelo profissional, nem pelo paciente, pois os limites estão implicitamente 
determinados pela própria relação, devendo ter-se de forma clara que este tipo de 
confidência e intimidade se dá exclusivamente no nível profissional. 
Diferentemente do que podemos pensar guardar um segredo não é apenas 
uma relação social muito particular, é um acordo tático entre pessoas, é exercício de 
cidadania; expresso na norma constitucional, no Art. 5º, § X: “são invioláveis a 
intimidade, a vida privada, a honra e a imagens das pessoas, assegurando o direito 
a indenização pelos danos material ou moral decorrentes da sua violação”. É uma 
conduta ética da enfermagem expressa no Art. 19° “respeitar o pudor, a privacidade 
e a intimidade do ser humano, em todo seu ciclo vital, inclusive nas situações de 
morte e pós-morte.” 
A privacidade e a confidencialidade das informações são dois princípios 
complexos e distintos, porém é possível correlacioná-los, uma vez que a privacidade 
consiste no conjunto de informações sobre uma pessoa, a qual pode decidir mantê-
las sob seu exclusivo controle, ou comunicá-las, decidindo quanto e a quem, 
quando, onde e em que condições. Já a confidencialidade relaciona-se à garantia 
(no sentido de confiança) de que as informações dadas não sejam reveladas sem 
autorização prévia da pessoa em questão. A privacidade das informações é direito 
dos pacientes e a confidencialidade é dever dos profissionais em relação às 
informações geradas no relacionamento entre ambos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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2.1 Rompimento do segredo profissional 
 
Existem situações onde o segredo profissional pode ser quebrado com o 
consentimento da pessoa, o dever legal ou a existência de uma justa causa; que é 
avaliada pela verificação entre os interesses individuais e públicos, entre riscos 
individuais e benefícios sociais. 
 
Especificamente podemos citar alguns exemplos: 
1- A informação sobre o estado de saúde é direito do paciente, há um 
compromisso do profissional e do serviço de saúde para com o usuário em não 
negar informações a este, porém a terceiros pagantes (empregador, seguro de 
saúde, autoridade policial), caso solicitem, estas informações somente poderão ser 
fornecidas com o consentimento do paciente, representante legal ou da família, em 
caso de falecimento. 
 
2- No caso de moléstias compulsórias, o profissional de saúde tem 
obrigação de notificar as instâncias sanitárias evitando a propagação e prejuízo à 
coletividade. 
 
3- Quando há casos confirmados ou suspeitos de maus tratos a crianças, 
adolescentes e idosos, existe a obrigação legal de romper com segredo profissional. 
 
4- Se houver pedido de informação nos casos de apuração de crimes 
relacionados à prestação de socorro médico ou de omissão de socorro, homicídio ou 
lesão corporal causados por integrantes da equipe de saúde, o estabelecimento e os 
profissionais estão obrigados a revelar as informações necessárias. 
 
5- Quando a não revelação da informação pode pôr em risco a vida de 
outra(s) pessoa(s) identificável (eis), o rompimento do segredo profissional é 
obrigatório. 
 
 
 
 
 
 
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3. Limites éticos da intervenção sobre o ser humano: clonagem, 
reprodução assistida e aborto 
 
Existem limites éticos na intervenção sobre o ser humano? Sim, existem e 
apóiam-se na lei natural que observa a sucessão de eventos que ainda não 
conseguimos modificar. O cientista e ou pesquisador que desconhece os limites de 
sua liberdade avança no seu projeto até que se encontre o “limite”, e, às vezes, cria 
conflitos e a partir de então avalia a priorização dos valores individuais e as 
necessidades da comunidade. Segre entende que 
 
O homem plenamente desenvolvido é capaz de perceber os seus conflitos 
interiores,apto para estabelecer hierarquias de valores com relação, por 
exemplo, à preservação ou extinção da vida, da liberdade ou da saúde, 
cônscio de que ele tem limitações, mas disposto a superá-las; este homem, 
plenamente integrado, resolve seus conflitos, toma decisões e as assume; 
este homem, que se tornou, portanto, um “ser ético” tem condições de 
elaborar regras, de criar codificações que protejam sua individualidade, sem 
vulnerar regras as de outrem. O conjunto destes homens leva em conta as 
necessidades do grupo, é que vai elaborar as leis, de toda sorte (civis, 
criminais, administrativas, etc.) estabelecendo inclusive as punições para os 
desobedientes (SEGRE, 1999). 
 
A liberdade dos novos estudos pode ter limitações coerentes com o “pensar” 
e o “sentir” da maioria das pessoas, contrariando a idéia de se matar uma criança 
indesejada independente de ter três ou oito meses; conflitos éticos apelam para a 
afetividade e não para o raciocínio que justifica o aborto. 
Não apenas com relação ao aborto, mas há que se falar sobre os limites 
éticos da intervenção sobre o ser humano. Desde o início da vida (engenharia 
genética, reprodução assistida, planejamento familiar), passando pela ética dos 
transplantes de órgãos (principalmente quando se tratam de doadores vivos), até o 
fim da vida (eutanásia, suicídio assistido), nos defrontamos sempre com um dilema 
 
 
 
 
 
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crucial: até que ponto pode se decidir quando a sua própria vida, a vida de seus 
filhos, gerando-a ou extinguindo-a; até que ponto é a sociedade que define os limites 
do que se pode, ou não, fazer; submetemo-nos, ou não, a uma suposta lei natural 
(demarcaria, segundo já comentamos, os limites daquilo que o homem ainda não 
pode modificar) ou à norma religiosa, qualquer que seja sua origem? Não é a ciência 
que dará a resposta a estas questões existenciais, à ciência cabe apenas oferecer 
subsídios para que cada pessoa, por meio das reflexões éticas, dê a sua própria 
resposta a cada dilema, sopesando os valores em conflitos, e interagindo com o 
pensar ético de sua comunidade. 
 
3.1 Clonagem e reprodução assistida 
 
O termo “clone” tem origem na palavra grega Klón, Klonós e significa 
rebento, pequeno ramo, broto. Do termo grego formou-se a palavra inglesa clone, da 
qual se apropriaram quase todos os idiomas ocidentais. 
Hoje em dia, clone significa também a cópia geneticamente idêntica de um 
ser vivo; antigamente, clone era apenas uma colônia de organismos nascida, de 
uma forma assexuada, de um elemento unitário. 
Existem duas formas de clonagem: a natural, que ocorre espontaneamente 
pela separação das células de um embrião, em seu estágio inicial de multiplicação 
celular, produzindo novos indivíduos exatamente iguais quanto ao patrimônio 
genético, como ocorre com os gêmeos univitelinos; e a artificial, feita pela 
substituição do núcleo de um óvulo por outro proveniente de uma célula de um 
indivíduo já existente, esta foi a forma utilizada por Ian Wilmut para clonar Dolly. 
Em julho de 1996, em Roslin, Escócia, nasceu Dolly, uma ovelha da raça 
Finn Dorset, fruto da clonagem das glândulas mamárias de outra ovelha adulta; a 
técnica empregada foi a retirada do DNA de um óvulo não fertilizado, fundindo-a a 
célula do úbere e implantando, a seguir, no útero de uma ovelha. Dolly é o primeiro 
mamífero criado com a participação exclusiva de fêmeas; o código genético das 
duas não tem diferença, foi todo duplicado, o que significa dizer que é exatamente 
igual a outra de sua espécie, mesmo em nível molecular. 
 
 
 
 
 
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Elida Sá, define clonagem como sendo uma forma de reprodução 
assexuada, produzida artificialmente, baseada em um único patrimônio genético 
que, na verdade, implica na produção e não na geração de um ser. 
Almeida (2000) afirma que a técnica de clonagem, associada à engenharia 
genética, trará avanços enormes à humanidade, principalmente se usada na área 
veterinária. A clonagem poderá ajudar a revelar como o ambiente dentro das células 
embrionárias regula a função dos genes e, deste modo, permitir que se enfrentem 
doenças genéticas, eventualmente possibilitando aos cientistas transformar um gene 
“ruim” em um gene “bom”. 
O aspecto negativo da clonagem humana é o risco em manipular 
diretamente o ser humano e tornar o homem em meio e não fim das novas 
tecnologias e evoluções da ciência. 
As questões éticas da clonagem começam com a necessidade de respeitar 
o princípio da autonomia, porque o patrimônio genético e o direito à imagem são 
pessoalíssimos e por isso, é necessário o consentimento do doador da célula matriz 
que dará origem ao clone. Depois, analisando a priorização de uso dos recursos 
financeiros no desenvolvimento deste projeto temos conhecimento que outras áreas 
essenciais para a população não os tem, então é necessário considerar o princípio 
da justiça. 
O clone será um ser humano, fruto de uma reprodução assexuada realizada 
no laboratório por meio de uma técnica. Frente a esta informação como este 
indivíduo entenderá sua identidade pessoal e genealógica? Será que é possível 
respeitar os princípios da beneficência e da não maleficência no desenvolvimento 
deste projeto de clonagem? As questões éticas são inúmeras e complexas e não se 
esgotam em um único estudo, pois a cada fase do estudo outros conflitos surgem. 
A Constituição Brasileira de 1988, já prevendo os avanços da biomedicina, 
estipulou no Art. 225 § 1º, II e V, a preservação da diversidade e a integridade do 
patrimônio genético do país e a fiscalização das entidades dedicadas à pesquisa e à 
manipulação de material genético; o controle da produção, comercialização e do 
emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco de vida, à 
qualidade de vida e ao meio ambiente. 
 
 
 
 
 
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A Lei n.º 8.974, de 5 de janeiro de 1995, regulamentou o Art. 225 e seu § 1º, 
II e V, da CF estabelecendo as normas de segurança e os mecanismos de 
fiscalização no uso de técnicas de engenharia genética. No Art. 1º estabelece 
normas de segurança e mecanismos de fiscalização no uso das técnicas de 
engenharia genética na construção, cultivo, manipulação, transporte, 
comercialização, consumo, liberação e descarte de organismo geneticamente 
modificado, visando proteger a vida e a saúde do homem, dos animais e das 
plantas, bem como o meio ambiente. 
A lei não proíbe a utilização das técnicas de fecundação e inseminação 
assistida porque nesta não há modificação do patrimônio genético, elas apenas 
auxiliam a reprodução humana. Entretanto, se forem usadas com modificação do 
patrimônio genético, estarão indo contra a lei, pois esta veda a utilização das 
técnicas de reprodução assistida para o fim de produzir um indivíduo com alteração 
genética. 
 
O único caminho viável no caso da clonagem humana, ao sair da ficção, é o 
esclarecimento, a transparência das instituições públicas e privadas e a 
conscientização bioética não somente dos pesquisadores que detêm o 
conhecimento científico e tecnológico, como também dos dirigentes, 
empresários, estudantes em seus vários graus, da população como um 
todo. Cabe ao pesquisador, ao cientista, esclarecer, mas cabe à sociedade 
discutir e elaborar as normas bioéticas que limitarão os experimentos e as 
aplicações da clonagem humana (MARQUES). 
 
3.2 Reprodução assistida 
 
A Reprodução Medicamente Assistida (RMA) consiste, essencialmente, em: 
inseminação artificialmente, que pode ser homóloga quando o esperma

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