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Programa de Educação Continuada a Distância Curso de Hiperatividade/Transtorno de Déficit de Atenção Aluno: EAD - Educação a Distância Parceria entre Portal Educação e Sites Associados Curso de Hiperatividade/Transtorno de Déficit de Atenção MÓDULO I Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada, é proibida qualquer forma de comercialização do mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos na bibliografia consultada. 2 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores 3 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores MÓDULO I A prevalência do transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) deveria ser facilmente conhecida, porque, quando um transtorno é comum em medicina, seu diagnóstico em geral é feito prontamente e, em conseqüência, sua prevalência é de fácil detecção. Entretanto, isso não ocorre com o TDAH. Um ponto importante a ser lembrado é que esse transtorno, apesar de comum, tem sua prevalência em função de precisão diagnóstica. Na literatura, o TDAH é freqüentemente descrito de maneira não- objetiva quanto à sua delimitação e ao uso de critérios para se fazer o diagnóstico, influenciando os dados de prevalência. Na última década grandes avanços foram obtidos nessa área. O quadro clínico está melhor definido. As co-morbidades têm sido mais detalhadas. Vários fatores etiológicos têm sido mais investigados, particularmente na área biológica, como anormalidades nos circuitos subcórtico-frontais. As pesquisas genéricas, embora não tenham encontrado genes definitivos na etiologia desse transtorno, apresentam investigações promissoras. Também fatores de risco ambientais têm sido pesquisados e associados à fragilidade genética. TIPOS DE ESTUDO Há três tipos de estudo que podem auxiliar na determinação de aspectos epidemiológicos do TDAH, são eles: os estudos de caso, os longitudinais e os retrospectivos. Independentemente do tipo de estudo, a noção de normalidade é fundamental, embora muitas vezes seja de difícil definição. Deve-se fazer uma avaliação para indicar se um determinado comportamento de crianças pode ser comparado com o de um outro grupo de crianças da mesma faixa etária e sexo. É chamado enfoque normativo. O estudo do caso consiste na cuidadosa descrição, por um ou mais médicos, do diagnóstico, da evolução e do transtorno de um paciente. É o tipo mais básico de estudo clínico, e tem grande tradição na medicina. Esse estudo pode ser realizado em séries temporais, já que as medidas podem ser tomadas ao longo de um determinado 4 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores tempo. A partir de um controle rigoroso, é possível obter a validade interna, que é a capacidade da amostragem de permitir assumir, no final do estudo, qual a direção e o valor das relações causais observadas. Nesse estudo, a validade externa não é grande, já que não se pode generalizar a partir de sujeitos únicos, mas pode ser aumentada mediante a repetição do estudo com diferentes casos. Trata-se de um modelo de pesquisa pouco utilizado com pacientes com TDAH, segundo a literatura. As desvantagens desse tipo de estudo são as informações originais incompletas; má memória das informações; a escolha não-aleatória dos casos, além do longo tempo de pesquisa. Em estudo realizado no nosso meio, Golfeto (1997ª) exemplifica a utilidade do estudo de caso para o acompanhamento de pacientes com TDAH ao longo do tempo. Johnston (1996) chamou a atenção para a necessidade da realização de estudos retrospectivos do TDAH, pois poucos analisam a vida pregressa dessas crianças e a de seus pais. Entretanto, os estudos retrospectivos apresentam problemas metodológicos de difícil resolução. Examinando prontuários antigos, precisamos decidir quais crianças pertenceram ao grupo do TDAH. Estudos longitudinais com grupo-controle seriam os mais adequados para nos dar maior precisão da definição do TDAH, bem como das diferenças de acordo com sexo e etapas do desenvolvimento (Barbosa e Gaião, 2001). Entretanto, são mais difíceis de ser implementado logisticamente e de custo muito mais elevado (ver, na seqüência, a descrição dos estudos longitudinais no TDAH). ESCALAS DE AVALIAÇÃO McClure e Gordon (1994) enfatizaram a importância dos estudos epidemiológicos do TDAH, principalmente usando instrumentos de rastreio disponíveis à comunidade científica. O uso destas escalas ou questionários apresenta, em linhas gerais, as seguintes vantagens: permite a homogeneização das informações; possibilita a quantificação dos sintomas; estabelece perfis estereotipados, permite a economia de tempo e é de fácil manejo. É importante que a escala utilizada apresente uma linguagem acessível à população a que se destina, devendo, ainda, constituir-se de itens compatíveis com a sintomatologia pesquisada. 5 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Esses instrumentos podem ser aplicados utilizando o ponto de corte, o que vai permitir detectar, a princípio, crianças “prováveis positivas” para esses transtornos, facilitando assim a avaliação diagnóstica que será realizada pelo especialista, mediante cuidadosa história clínica contada por pais e professores. As escalas de avaliação não são instrumentos de diagnóstico porque sofrem de uma baixa especificidade e sensibilidade, sendo úteis para as pesquisas de porcentagem da sintomatologia e no rastreio diagnóstico da sintomatologia do transtorno. O uso de escalas de triagem esbarra no limite clínico, pois a hiperatividade ocorre em outros transtornos psiquiátricos além do TDAH, facilitando, assim, a detecção de casos falso-positivos. Além disso, são poucos os instrumentos validados e normatizados para a população brasileira. Características clínicas e psicossociais relacionadas com TDAH Sexo e idade Em amostras clínicas, os estudos encontravam uma proporção de nove meninos para uma menina. Estudos comunitários sugeriam uma taxa de quatro meninos para cada menina. Assim, Brown e colaboradores (2001) mostram que é alta a prevalência em meninos, em torno de 9,2%, enquanto em meninas a taxa é de 3%. O DSM-III estimava a prevalência de TDAH em 10,1% dos meninos e 3,3% das meninas na faixa etária entre 4 e 11 anos de idade e em 7,3% dos meninos e 3,4% das meninas na faixa etária entre 12 e 16 anos de idade (Szatmari e cols., 1989). Em uma comunidade de Nova York, Cohen e colaboradores (1994), utilizando como critério diagnóstico o DSM-II-R, encontraram taxas de prevalência de 8,5% em meninas e 17,1% em meninos na faixa etária de 10 a 13 anos, 6,5% em meninas e 11,4% em meninos na faixa etária entre 14 e 16 anos de idade; e 6,2% em meninas e 5,8% em meninos na faixa etária entre 17 e 20 anos de idade. Esser e colaboradores (1990) fizeram um estudo longitudinal com 356 crianças de 8 anos de idade. Os pais e as crianças responderam os questionários de Conners. Foram rastreadas 216 crianças com idade de 8 anos. Os pesquisadores aplicaram 6 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores entrevistas estruturadas nos pais e as 216 crianças foram submetidas a examesneurológicos, neuropsicológicos e testes de habilidades específicas. A amostra final de 108 crianças; 8,3% de meninos com TDAH e 0% de meninas. A prevalência de sintomas hipercinéticos foi de 34,3% em meninos e 26,9% em meninas; a prevalência de impulsividade foi 24,2% em meninos e 19,4% em meninas; a prevalência para a desatenção foi de 24,1% em meninos e 10,2% em meninas. Esses pacientes foram reexaminados aos 13 anos de idade, e os dados apontaram 3% de meninos com TDAH e 0% das meninas, sendo que a amostra foi de 95 meninos e 96 meninas. A prevalência para o sintoma de hiperatividade foi de 18% nos meninos e de 4% nas meninas. Os sintomas de desatenção e impulsividade não foram detectados. Entretanto, alguns estudos tendem a mostrar que a taxa de prevalência do TDAH é semelhante entre os sexos. Breen e Altepeter (1990), em estudo sobre diferenças comportamentais e cognitivas entre meninos e meninas com TDAH, observavam que não houve diferença significativa entre os sexos. Esse foi o primeiro trabalho a divergir dos pesquisadores da época, quando, segundo Gaião (2001), ainda não se predizia a igualdade da freqüência do TDAH em ambos sexos. Idade É importante afirmar que as diferentes faixas etárias teriam influencia fundamental nos cálculos das taxas de prevalência. Como mencionado anteriormente, existe maior número de pesquisas epidemiológicas na faixa etária dos 7 aos 14 anos de idade do que em outras, provavelmente pela maior facilidade de se diferenciar as crianças portadoras de TDAH em relação às demais nessa faixa etária. Entretanto, Kadesjo e colaboradores (2001) estudaram 132 crianças com TDAH na faixa etária de 3 a 7 anos, comparando-as com 131 crianças sem TDAH. Esses dois grupos foram submetidos ao pareamento por idade, sexo e nível socioeconômico. Poucas crianças com TDAH, 6%, pareciam ser “normais” no que concerne ao nível de atividade e de atenção em exames clínicos. Esses autores chamam atenção para a possibilidade de diagnóstico mesmo em idade pré-escolar, embora diagnosticar o transtorno seja mais difícil nessa faixa etária em razão da atividade motora normalmente 7 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores aumentada nessa fase do desenvolvimento (Golfeto, 1997a e b). Os sintomas podem persistir na adolescência e na vida adulta, e nesse período etário o diagnóstico torna-se mais difícil. Um fator complicador no diagnóstico para o TDAH na adolescência e na vida adulta é que as co-morbidades do TDAH são mais facilmente identificadas como o problema principal ou mais grave. Tal fato dificulta o uso de técnicas metodológicas para calcular a taxa de prevalência desse transtorno na população (Mannuzza e cols., 1998). Em um estudo sobre TDAH, com 15 anos de duração, Weiss e Hechtman (1993) referiram que 66% das crianças diagnosticadas com TDAH, quando adultas, continuavam apresentando, de forma total ou parcial, déficit de atenção. Lambert e colaboradores (1987), em um estudo epidemiológico, demonstraram que, cinco anos depois, 43% das crianças diagnosticadas com TDAH ainda apresentavam hiperatividade, enquanto Gittelman e colaboradores (1985), em um estudo prospectivo com adolescentes e adultos masculinos, todos diagnosticados no passado com TDAH, encontraram 32% destes com déficit de atenção e hiperatividade. Weiss e colaboradores (2000) mostram porcentagem de persistência de 60%; Barkley e colaboradores (1990) sugerem porcentagem de persistência em torno 65% Hart e colaboradores (1994) indicam porcentagem de persistência um pouco acima de 60%; e Biederman e colaboradores (1996) mostram porcentagem de persistência maior do que 80%. Os estudos longitudinais de Wender (2001) mostraram taxa de prevalência entre 2 e 7% de TDAH em adultos, numa proporção de dois homens para uma mulher. Esse mesmo autor estima que de 60 a 70% das crianças que apresentavam TDAH continuam com esse diagnóstico na vida adulta. Concluímos, assim, que a persistência desses transtornos, apesar de estudos de prevalência distintos, confirma-se com uma cifra elevada. Portanto, o pressuposto de que o transtorno desapareceria com a entrada na adolescência não tem suporte na literatura científica. Percebe-se, ainda, que a persistência do transtorno na vida adulta pode estar associada a um prognóstico ruim para esses pacientes. Babinky e Lambert (1999) estudaram a relação entre TDAH, transtorno de conduta na infância e atividades criminais, utilizando o DSM-IV como critério diagnóstico. A amostra constou de 230 8 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores crianças do sexo masculino e 75 do sexo feminino, com idade média de 9 anos. Esses indivíduos foram estudados prospectivamente e os resultados foram comparados com os de grupo-controle, constituído por 360 presidiários, com idade média de 26 anos. Os dados foram colhidos por meio de entrevistas com os pais e os professores das crianças, e entrevistas com os presidiários. Os resultados dessa pesquisa mostram que o TDAH tipo hiperativo/impulsivo e os problemas de conduta na infância ocorreram independentemente, bem como predizem risco de encarceramento para meninos e não para meninas. Ambos predispõem à criminalidade na vida adulta. A história de vida das crianças com TDAH do tipo hiperativo/impulsivo associa-se a alto risco para comportamentos anti-sociais. Crianças com transtornos de conduta têm alto risco para atitudes criminais mais graves, como assaltos, roubos e uso de armas, enquanto os hiperativos/impulsivos têm risco para atividades criminais menos graves, tais como vandalismo e agressões físicas. FATORES DE RISCO A verificação de fatores de risco é fundamental nos estudos epidemiológicos sobre o TDAH e será abordada em etiologia. Variáveis sociodemográficas como raça, número de irmãos, idade dos pais, nível cultural familiar, transtornos psiquiátricos na família, conduta agressiva dos pais, transtorno mental materno e fatores de risco pré e perinatais são importantes. Desse modo, as taxas de prevalência podem variar significativamente em diferentes ambientes sociais. Entretanto, os estudos mais consistentes com o grupo-controle em relação aos fatores de risco na literatura sobre o transtorno são escassos. Segundo Wolraich e colaboradores (1996), a determinação dos fatores psicossociais que estão associados com o TDAH provém de informações fundamentais sobre sua distribuição nas populações. Assim, o papel da influencia psicossocial nos transtornos é, a muito tempo, de interesse na epidemiologia psiquiátrica. Um dos primeiros estudos apontados na literatura é a correlação positiva entre baixo nível socioeconômico e hiperatividade e agressividade, porém sem correlação com a taxa de 9 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores desatenção. Scahill e colaboradores (1999), estudando 449 crianças da zona rural, observaram que o TDAH está associado a múltiplas mudanças familiares, baixa renda familiar, crianças que vivem em lugar superpovoado, história de doença psiquiátrica materna e famílias desestruturadas. Segundo Baptiste (1998), ocorre uma maior prevalência de hemorragia vaginal, pré-eclampsia e 20% de prematuridade e baixo peso ao nascer nas crianças com TDAH. Segundo esse autor, fatores de risco como anóxia, encefalites, traumatismo craniano e intoxicações por chumbo e monóxido de carbono podem estar associados a alguns casos de TDAH. Segundo Smucker e Hedáyat (2001), é importante explorar a história psicossocial da família. O impacto de fatores psicossociais, tais como pobreza, desintegraçãosocial e eventos traumáticos, foi ainda pouco pesquisado. As adversidades impostas por certos fatores psicossociais aumentam os riscos para o TDAH ou o TDAH aumenta os riscos de adversidades psicossociais? São necessários, ainda, estudos longitudinais que incluam análise da vulnerabilidade genética e adversidades sociais para ajudar a entender melhor esses achados. COMENTÁRIOS: A epidemiologia em psiquiatria é mais complexa do que a epidemiologia em outras áreas da medicina, como a das moléstias infecciosas, por exemplo. Ao refletir sobre a peculiaridade do ser humano, de ser único e individual, iremos nos deparar com inúmeras variáveis que nos levarão a incontáveis vieses. Como lidar com essas variáveis e vieses? Escalas são utilizadas para coletar dados. Será que ao somar esses resultados não se está somando o que não se pode somar? Será que não se está comparando resultados que são incomparáveis? Diferentes pesquisas, que têm utilizado as mesmas escalas, com os mesmos desvios padrão, são comparadas com resultados de outras pesquisas no que se refere 10 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores à idade, ao sexo e às condições socioeconômicas. Esperava-se que tal informação fornecesse resultados semelhantes. Será que estas escalas podem conduzir os sujeitos das diferentes pesquisas a dar respostas semelhantes? E, portanto, levar a resultados semelhantes? Os critérios diagnósticos são os mesmos, assim como o ponto de corte. O especialista faz o diagnóstico e pode induzir os pacientes em suas respostas. É difícil a pesquisa em que o especialista está num experimento cego, ou seja, ele não é isento de conhecimentos prévios. O método nem sempre leva a resultados semelhantes, as pesquisas são conduzidas para um conjunto de informações controvertidas. As pesquisas epidemiológicas nos fornecem acúmulos de resultados que apontam para novas pesquisas que têm como meta identificar essas controvérsias e, se possível, chegar a conclusões unânimes, amplificar as informações e diminuir o redutivismo dos números. Com a introdução da computação, a pesquisa epidemiológica sofreu uma verdadeira revolução graças à possibilidade de aumento da capacidade dos bancos de dados, além da criação de técnicas de análises estatísticas. A computação também tornou possível o aperfeiçoamento dos testes de significância estatística, cada vez mais precisos e específicos. Essa análise, em estudo de casos, poderia ser a solução para evitar pesquisas muito estruturadas e divergentes? E a análise poderia abrir caminho para pesquisas em situações mais abrangentes? A epidemiologia deve desenvolver técnicas de pesquisa mais apuradas para detectar as inúmeras possibilidades que cada ser humano traz dentro de si e de estabelecer relações com o meio ambiente. Assim, abre-se a possibilidade de uma “epidemiologia clínica” da saúde mental coletiva menos biológica. Etiologia Apesar de todos os estudos realizados para tentar descobrir as possíveis causas do TDAH, elas ainda continuam desconhecidas e, embora hipóteses existam em abundância, nenhuma responde satisfatoriamente por todos os casos; como afirma Arnold e Jensen (1999). Nenhuma hipótese isolada obteve aceitação como causa, 11 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores porém, várias formas apoiadas por evidencias convincentes, focalizadas em alguma anormalidade de funcionamento cerebral, genética ou adquirida e até mesmo através da socialização. Segundo Kaplan, Sadock e Grebb (1997), por mais que não exista base neurofisiológica ou neuroquímica específica para o transtorno, o TDAH está associado a outros transtornos que afetam as funções cerebrais, como o transtorno de aprendizagem. As exposições tóxicas pré-natais, pré-maturidade e insulto mecânico pré-natal ao sistema nervoso central fetal, também são fatores que podem contribuir para o TDAH. Apesar de estar caracterizado por sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade, existem diferentes quadros clínicos, bem como várias possibilidades de tratamento, indicando que, pelo menos ao nível fenotípico, o TDAH é uma patologia bastante heterogênea (ROMAN, et al., 2003). Fatores Genéticos A primeira ligação entre a hiperatividade e a hereditariedade foi estabelecida pelo estudo dos familiares da criança hiperativa. O comportamento dos pais, aflitos e agitados, pode proporcionar que uma criança tenha hiperatividade, e esta criança, mesmo não existindo outros membros na família com TDAH, pode desencadear problemas comportamentais em outros membros pela difícil convivência e pelo ambiente caótico que geram. Os estudos com famílias não excluem a possibilidade de que a transmissão familiar do TDAH tem origem ambiental. Mostrando, dessa forma, a importância de estudos com gêneros e adotados para determinar se uma característica é de fato influenciada por fatores genéticos. Com os gêmeos pode-se observar quanto do fenótipo em questão é herdável, bem como qual a contribuição de fatores ambientais. Entretanto, as evidencias mais fortes da herdabilidade do TDAH são fornecidas pelos estudos com adotados, uma vez que conseguem distinguir com mais precisão os efeitos genéticos dos ambientais (ROMAN, et al., 2003). 12 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Lesão Cerebral Segundo Kaplan, Sadock e Grebb (1997), algumas das crianças com TDAH podem durante o período fetal e perinatal ter sofrido uma lesão cerebral mínima ou sutil do Sistema Nervoso Cerebral. Esta lesão poderia ter sido causada por insultos circulatórios, tóxicos, metabólicos, mecânico, bem como por estresse e insulto físico ao cérebro durante a primeira infância, causados por infecção, inflamação e traumatismo. Esta gravidade mínima, sutil e subclínica da lesão cerebral podem ser responsáveis pela gênese de distúrbios do aprendizado e do TDAH. Sinais neurológicos não focais (leves) são freqüentes. Barkley (2002) descreve que algumas pesquisas no inicio do século XX convenceram os cientistas de que lesões cerebrais provenientes de infecções, trauma por queda ou no crânio e complicações da gravidez ou parto, eram as principais causas dos sintomas apresentados no TDAH. Porém, com o passar do tempo, há mais de 20 anos, os cientistas perceberam que a maioria das crianças com TDAH não apresentavam história de lesões cerebrais, estando apenas relacionadas 5 a 10% das crianças que desenvolveram o TDAH devido a algum tipo de lesão cerebral, embora deva haver algo disruptivo no desenvolvimento dessa porção do cérebro. Fatores Neuroquímicos Segundo Barkley (2002), alguns cientistas sugeriram que alguns neurotransmissores se encontram diminuídos nos portadores do TDAH, e, como descrevem Kaplan, Sadock e Grebb (1997), eles ainda têm sido associados com sintomas de déficit de atenção e hiperatividade, como efeito positivo das medicações sobre o transtorno. A dopamina e noradrenalina são afetadas pelos estimulantes, levando a hipótese de neurotransmissores que incluem uma possível disfunção dos sistemas tanto adrenérgico quanto dopaminérgico. Vários neurotransmissores podem estar envolvidos no processo, o que evidencia que não existe um único 13 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores neurotransmissor responsável no desenvolvimento do TDAH. Fatores Neurofisiológicos Algumas crianças apresentam um atraso maturativo na seqüência evolutiva e podem apresentar um quadro clínicotemporário do TDAH, que com o tempo pode ser normalizado, quando logo detectado pelo EEG (KAPLAN, SADOCK e GREBB, 1997). Chumbos De acordo com Weiss (1995), estudos confirmaram que altos níveis de chumbo no sangue produzem transtornos cognitivos e comportamentais em algumas crianças, estando estes associados a maior risco de comportamento hiperativo e desatenção. Por ser um metal sem nenhum valor biológico conhecido, quando ingerido, pode envenenar o sistema energético humano. Alguns estudos, segundo Barkley (2002) evidencia a relação entre o chumbo e a hiperatividade, mostrando que níveis altos de chumbo no organismo podem causar o TDAH. Fatores Psicossociais e Estressantes O ambiente psicossocial é de suma importância para tentar diagnosticar a causa do TDAH. Crianças que experimentaram perdas ou separações precoces apresentavam sintomas característicos deste transtorno, como descrevem Arnold e Jensen (1999). Os estressores sociais devem contribuir de alguma forma para o desenvolvimento ou gravidade dos sintomas, já que os sintomas de TDAH são intensificados por estresse, por situações não-estruturadas e por exigências complexas por desempenho. Arnold e Jensen (1999) ainda enfatizam que os ambientes, na sociedade atual, 14 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores são excessivamente estimulantes à criança, uma vez que ela vivencia jogos de videogames, televisão, múltiplas atividades extra-escolares, convive com pais estressados que vivem correndo sem tempo para nada, inclusive para ela, e que a cobram excessivamente; conseqüentemente, ela pode ficar habituada a muitas novidades, estímulos complexos e seus sistemas de atenção podem não responder aos estímulos de nível mais baixo envolvidos no trabalho escolar. De acordo com Kaplan, Sadock e Grebb (1997), os eventos psíquicos estressantes, uma perturbação no equilíbrio familiar, e outros fatores indutores de ansiedade contribuem para a iniciação ou perturbação do TDAH. Substâncias ingeridas durante a gravidez Barkley (2002) descreve que crianças nascidas de mães alcoólatras apresentam maior risco de problemas de comportamento com hiperatividade e falta de atenção, e até mesmo com o TDAH clínico. Algumas pesquisas científicas evidenciam que a exposição ao fumo de cigarro se relaciona a problemas de comportamento semelhantes aos que os professores do TDAH apresentam. Como podemos verificar, as mães podem ser responsáveis diretas pelo desenvolvimento do TDAH em seus filhos, pelo hábito de fumar e pelo consumo de álcool durante a gravidez, submetendo-o a ingerirem essas substâncias que causam prejuízos á saúde e podem também ser causadores do TDAH. Barkley alega que existem vários mitos sobre as possíveis causas do TDAH, sem nunca ter tido base científica para tais. Pesquisas evidenciaram que não existem nenhuma relação desses fatores com o TDAH. Entre eles, se encontram: a ingestão de produtos químicos e aditivos nos alimentos, o açúcar, deficiências de vitaminas, fungos, problemas no aparelho vestibular, fraco controle paternal sobre as crianças, televisão em excesso. Entretanto, Barkley (2002) nos alerta para o fato de sempre que ouvirmos afirmações sobre as causas do TDAH devemos determinar se os estudos simplesmente encontraram uma associação entre algum fator e o risco para o TDAH ou se realmente foi descoberta uma ligação específica entre ambos. 15 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Estudos mostraram que os pais que apresentam o TDAH são mais propensos a ter filhos com este transtorno, devido os fatores hereditários, bem como complicações durante a gravidez ou no parto, mãe fumante, consumidora de álcool, mãe com convulsões, internadas várias vezes durante ou após o parto, bebês prematuros e de baixo peso, têm maior probabilidade de desenvolver o TDAH mais tarde, durante a infância (BARKLEY, op cit.). Podemos perceber que existe uma variedade de possíveis causas para o TDAH, mas que nenhuma isoladamente é comprovada como a desencadeadora desse transtorno. Verificamos, ainda, que os fatores genéticos e alguns problemas ocasionados pela lesão cerebral constituem uma das causas mais importantes para explicação do TDAH. Epidemiologia Os números de prevalência para o TDAH podem variar imensamente, dentro de um mesmo país, dependendo do contexto social. As variáveis sociodemográficas como raça, número de irmãos, idade dos pais, nível cultural familiar, transtornos psiquiátricos na família, conduta agressiva dos pais, transtorno mental materno e fatores de risco pré e perinatais são importantes por possuírem influência nessas prevalências (GOLFETO e BARBOSA, 2003). O papel da influência psicossocial nos transtornos há muito tempo já interessa a epidemiologia psiquiátrica, como dizem Golfeto e Barbosa (2003), sendo um dos primeiros estudos apontados na literatura, a correlação positiva entre o baixo nível socioeconômico, hiperatividade e agressividade, sem, contudo, estar correlacionado com a desatenção. Os estudos de Scahill e cols. (1999) com 449 crianças que vivem na zona rural, citados por Golfeto e Barbosa (2003), mostram que o TDAH está associado a mudanças familiares, baixa renda, história de doença psiquiátrica materna, família desestruturada, bem como à relação destas crianças viverem em lugares superpovoados. Como é visto em diversos autores, a predominância do TDAH é mais freqüente 16 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores em meninos do que em meninas. Como descrevem Golfeto e Barbosa (2003), em amostras clínicas, nove meninos para uma menina; em amostras comunitárias, quatro meninos para cada menina; no DSM-III 10,1% dos meninos e 3,3% das meninas na faixa etária entre 4 a 11 anos, e 7,3% dos meninos e 3,4% das meninas entre 12 e 16 anos. Entretanto, Breen e Altepets (1990) em estudos realizados mostram que a taxa de prevalência do TDAH é semelhante para meninos e meninas; sendo o primeiro trabalho a divergir das opiniões dos pesquisadores da época, pois ainda não existia a freqüência do TDAH em ambos os sexos. Golfeto e Barbosa (2003) ainda descrevem que aqui no Brasil os estudos realizados por Gaião e Barbosa (2001) enfatizam que a sintomatologia hipercinética está presente, na mesma intensidade e freqüência, tanto em meninas como em meninos, encontrando uma prevalência de 3,7%. Segundo Arnold e Jensen (1999) as meninas que sofrem com TDAH podem estar mais prejudicadas na cognição e atenção do que os meninos. Um estudo realizado por Biederman e cols. (2002) constatou que: “... o sexo feminino estava mais associado ao tipo predominantemente desatento em relação ao sexo masculino; os meninos apresentavam mais distúrbios de aprendizagem e outros problemas de comportamento escolar em relação às meninas. As meninas com TDAH tinham o menor risco de co-morbidade com transtorno bipolar, transtorno de conduta e transtorno desafiador de oposição em relação aos meninos. A baixa probabilidade de as meninas apresentarem desordens psiquiátricas, cognitivas e comprometimentos funcionais, em relação aos meninos, poderia resultar do gênero. Essas diferenças influem no cálculo de prevalência entre os sexos” (GOLFETO e BARBOSA, 2003, p. 25). Medidas necessárias para um diagnóstico satisfatório De acordo com Gaião e Barbosa (2001), a falta de critérios operacionais que sejam aceitos universalmente permite que ocorram limitações nos esquemas 17 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditosdeste conteúdo são dados a seus respectivos autores diagnósticos atuais. Gaião e Barbosa mencionam ao citar Gherpelli e Reed (1997) que por mais que os critérios incluam sintomas comportamentais específicos, existe uma necessidade um julgamento clínico subjetivo para decidir se o comportamento encontrado pode ser qualificado como um sintoma ou sinal diagnóstico, ou se esse conjunto de comportamento é suficientemente importante em nível funcional para ser considerado como uma entidade nosológica. O aspecto mais importante do processo de diagnóstico é um cuidadoso histórico clínico e desenvolvimental. A avaliação desse transtorno inclui, freqüentemente, um levantamento do funcionamento intelectual acadêmico, social e emocional da criança. De acordo co Goldstein e Goldstein (2002), para obter um diagnóstico minucioso é necessário incluir a coleta e a observação de oito tipos de informação tais como: O histórico do desenvolvimento da família e da criança, já que são fundamentais as informações relativas aos problemas que a família teve, os métodos utilizados para impor disciplina, e quais os sinais precoces de temperamento da vida da criança. A inteligência é outro fator que deve receber atenção, pois muitas crianças podem apresentar problemas de hiperatividade como resultado de frustrações, sem ser necessariamente uma dificuldade temperamental, já que as crianças com inteligência abaixo da média ficam mais vulneráveis às exigências; por isso é importante realizar testes de inteligência, para verificar o nível intelectual desta criança. Uma avaliação completa da hiperatividade precisa incluir dados sobre a personalidade e desempenho emocional da mesma, assim como o seu desempenho escolar: os amigos são outro meio de obter informações sobre a hiperatividade, já que é difícil a criança hiperativa manter amizades. Outros fatores como a disciplina e o comportamento em casa e na sala de aula são importantes para que ocorra uma avaliação detalhada de como é seu comportamento e quais suas atitudes para seguir regras e respeitar limites. O último fator é a consulta médica, que deve incluir detalhes em observações para obter um diagnóstico preciso. Para tal investigação, Martins, Tramontina e Rohde (2003) enfatizam que é necessário que um médico psiquiatra, neurologista ou pediatra, conheça o desenvolvimento normal com os comportamentos esperados nas diferentes fases do 18 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores seu desenvolvimento normal com os comportamentos esperados nas diferentes fases do seu desenvolvimento e as possíveis manifestações correntes nas várias formas de distúrbios que ocorrem durante o desenvolvimento: toda história da criança, seu passado, seu desenvolvimento no contexto familiar, o relato da concepção, da gestação e do parto, o desenvolvimento neuropsicomotor, cognitivo, funcionamento escolar, amizades, como a criança é inserida no contexto familiar, bem como a história médica familiar com especial atenção à história do TDAH. Os pais exercem um papel fundamental para a realização da avaliação dos sintomas, como, onde, quando, com quem, e em que intensidade acontece. É importante também ouvir a criança, avaliando a sua visão sobre a presença dos sintomas da doença. Segundo estes mesmos autores, o diagnóstico do TDAH também pode envolver avaliações complementares de outros profissionais com especialidade médicas, como uma avaliação das capacidades auditiva e visual, já que algumas dificuldades atentativas podem ocorrer na vigência desses déficits sensoriais. Como também recorrer à escola, pedindo auxilio aos professores para responderem escalas para avaliar a desatenção, hiperatividade, impulsividade; também se faz necessário recorrer a uma avaliação neurológica, neuropsicológica e psicopedagogia ou pedagógica. Gaião e Barbosa (2001) enfatizam importância do pesquisador ou clinico informar-se detalhadamente sobre a conduta da criança e utilizar instrumentos que permitam quantificá-la, como é o exemplo do Questionário Abreviado de conners para Pais e Professores, que é um dos instrumentos mais utilizados para detectar os Transtornos Hipercinéticos; o qual é composto pelos fatores: Hiperatividade, desatenção, passividade e tensão. De acordo com a CID-10 (1993), esse transtorno e denominado de Transtornos Hipercinéticos (F-90) e subdividido em Transtorno de conduta Hipercinética (F-90.1) e Transtorno Hipercinético não especificados (F-90.9). Esse grupo de transtorno e caracterizado por início precoce, com um comportamento hiperativo, desatenção e falta de envolvimento persistente nas tarefas, conduta evasiva nas situações e persistência no tempo destas características de comportamento. Para classificar o Transtorno Hipercinético segundo a CID-10, é fundamental a 19 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores criança atenção comprometida (que é manifestada por interromper tarefas prematuramente e por deixar atividades inacabadas) e hiperatividade (que implica em inquietação excessiva, em especial, em situações que requerem calma relativa). Ambas são necessárias e devem ser evidentes em mais de uma situação, como na escola, em casa e na clínica. • Outras características presentes nesse transtorno, segundo a CID-10: • Falta de inibição em relacionamentos sociais. • Imprudência em situações que envolvem algum perigo. • Zombarias impulsivas das regras sociais. • Os transtornos de aprendizado e inabilidade motora, porém, quando presentes, não devem ser parte do diagnóstico real do Transtorno Hipercinético; • Os Transtornos de Conduta não são critérios nem de exclusão, nem de inclusão para o diagnóstico. Enquanto para o DSM_IV (Manual Diagnóstico e Estatístico de transtornos Mentais), é denominado de transtorno de Déficit de Atenção/hiperatividade, subdividido em três tipos: 314.01 Transtorno de Déficit de Atenção/hiperatividade, Tipo Combinado, quando pelo menos seis dos critérios do A1 e A2 estão presentes durante os últimos seis meses. 314.00 Transtorno de déficit de Atenção/hiperatividade, Tipo Predominantemente Desatento, quando pelo menos seis dos critérios do A1 estão presentes durante seis meses, sem a existência de pelo menos seis critérios do A2, neste tempo. 314.01 Transtorno de Déficit de Atenção/hiperatividade, Tipo Predominantemente Hiperativo-impulsivo, quando pelo menos seis dos critérios utilizados no A2 estão presentes durante seis meses, sem a presença dos critérios do A1 neste mesmo período. O aspecto mais importante do processo de diagnóstico é um cuidadoso histórico clínico do desenvolvimento da criança. Ele deve incluir dados recolhidos com professores e outros adultos que, de alguma forma, interagem de maneira rotineira com a pessoa avaliada. Porém, a clínica é soberana para diagnóstico do TDAH, como 20 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores descrevem Martins, Tramontina e Rohde (2003), enfatizando que a sintomatologia da desatenção, hiperatividade e/ou impulsividade, quando forem apresentadas nos ambientes sociais como casa e escola, de forma acentuada os critérios do DSM-IV ou da CID-10 deve receber o diagnóstico do TDAH, mesmo sem apresentar alterações no exame neurológico, na avaliação neuropsicológica ou, ainda, em qualquer outro exame neuroimagem. A criança hiperativa Para compreender a hiperatividade, é necessário conhecer a criança hiperativa; como funciona o seu desenvolvimento, quais as características apresentadas como conseqüência desse distúrbio, e como ela se diferencia das “criançasnormais”. O início da vida de uma criança é marcado por um forte predomínio da vertente afetiva, marcado pela necessidade especial, de carinho, apoio e reconhecimento, necessidade de respostas afetiva dos outros, que inclui o reconhecimento, o desejo de afeto dos pais e dos outros, necessidade de conseguir e obter satisfação pela realização e aumento da auto-estima. O modo como o indivíduo irá satisfazer suas necessidades irá depender dos fatores mais básicos da situação da vida, como descreve Rogers (1994). A criança percebe sua existência como pertencendo a sua realidade, a verdade que existe é a dela, com isso possui uma tendência a atualizar as potencialidades de seu organismo, tende a valorizá-la e atuar conforme seu marco de referência interna, comportando-se em suas realizações como um todo organizado e estruturado. Sua experiência é acompanhada de um processo contínuo de avaliação, ela procura as experiências que percebe como positivas para si e evita aquelas percebidas como negativas (ROGERS e KINGET, 1977). De acordo com Palácios e Hidalgo (1995), esta fase pode ser chamada de estágio do personalismo que se inicia de maneira conflitante, no qual a criança esforça-se para afirmar um ego que acaba de descobrir no final da primeira infância, sendo caracterizado pela teimosia, onde a criança impõe seus desejos, ocorrendo, dessa forma, uma crise de oposição, deixando a convivência cotidiana tensa; gerando conflitos e ameaças da retirada de afeto. Toda essa oposição é uma forma de fortalecer 21 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores seu ego. Depois de superar esta situação é uma forma de fortalecer seu ego. Depois de superar esta situação, a criança muda de atitudes, e esforça-se para conquistar os demais, para obter seu afeto e aprovação, estando esta atitude da criança relacionada com a necessidade de aceitação condicional, que segundo a Teoria da Personalidade de Rogers, se refere à necessidade do indivíduo ser aceito, ou que haja consideração positiva das suas experiências, principalmente quando a outra pessoa é importante para a criança. Conseqüentemente, a criança vai fazer uso freqüente de suas habilidades e destrezas, repetindo especialmente aquelas que descobriu provocarem maior admiração. Trata-se do período de graça, que Wallon situa em torno dos 3-4 anos, no qual a criança tenta “seduzir” os demais com a ostentação de suas “gracinhas”. Em torno dos 4-5 anos, elas introduzem um novo elemento que é a imitação dos modelos adultos, que se traduzem em gestos e atitudes, na forma de se expressar e, pouco a pouco, na forma de pensar. Segundo Andrade (2003), logo nos primeiros anos de vida notam-se alterações no processo de desenvolvimento neurológico e emocional de criança que apresentam TDAH, as mães destas mesmas crianças relataram em estudos que seus filhos se mexiam muito, mesmo antes do nascimento (vida intra-uterina). As crianças, no seu primeiro ano de vida, são bebês que podem apresentar baixo peso, ficam em estado de hiperalerta, dormem pouco e têm sono agitado, dirigem o olhar a qualquer estímulo, movimentam os membros superiores e inferiores com freqüência, apresentando desta forma os primeiros sinais de hipercinesia, como descreve Gaião e Barbosa (2001), ao citar Golfeto (1997), e acrescenta que o déficit da atenção é um sintoma de difícil observação nesta etapa evolutiva. Os bebês sentem cólicas abdominais intensas, regurgitam o leite com freqüência, sugam o leite com força, com características de voracidade e não gostam de colo e são sempre insatisfeitas, são crianças irritadas que choram muito nos primeiros meses de vida. Quando começam a andar caem mais do que andam, apresentam dificuldades de ficarem quietas sejam em cadeiras ou até mesmo no chão. Já apresentam sinais de impulsividade, pois estão sempre em situações ou lugares perigosos. Ao completarem um ano fica mais fácil de os pais perceberem sua agitação, pois são mais agitadas do que as outras da sua idade, sendo necessário ser vigiada constantemente, pois, vivem fazendo arte que, em 22 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores geral, é mais grave do que o esperado para a idade está sempre buscando novas situações e novos estímulos. Segundo Gaião e Barbosa (2001), a partir dos dois anos tornam-se ainda mais agitadas, perdem o interesse pelos brinquedos e os destroem, mudam de atividade com freqüência, observando desta forma os primeiros sinais de desatenção. Outro fator importante nesta fase diz respeito à fala da criança que se apresenta mais lenta com alterações fonoarticulatórias, com omissões distorções fonéticas ocasionando em algumas crianças retardo na linguagem. As alterações da fala, quando não diagnosticadas a tempo, poderão acarretar dificuldades ou alteração no processo de alfabetização. A sintomatologia clássica da Síndrome Hipercinética já está bem- desenvolvida e presente, na idade pré-escolar, evidenciando a desobediência como sinal de indisciplina. A criança com TDAH tem uma aparência normal, não há nenhum sinal exterior de que algo esteja fisicamente errado com o Sistema Nervoso Central ou seu cérebro, e pode ter uma inteligência normal, o que dificulta diagnosticá-la de “pestinha”. Ela sempre perde os objetos, é desordenada, é distraída, esquecendo-se das horas do almoço, jantar, do banho e de fazer as tarefas. Tem esquecimento fácil; possui mais energia e menos necessidade de sono e repouso. Para essas crianças, é difícil controlar a atividade, atenção e interações sociais para conformarem-se às normas esperadas da situação em particular. Esses traços levam-nas a estarem seguidamente em apuros com adultos, e serem malquistos por seus pares. Geralmente tiram notas baixas na escola e podem apresentar deficiências específicas de aprendizado e/ou transtorno concomitante de conduta (WEISS, 1995). Barkley (2002), descreve que o TDAH é um transtorno real, que ocasiona problemas e obstáculos reais, podendo ser associado a um desgosto e uma irritação. Entretanto, este autor alega que para ser comprovado que o TDAH é um transtorno comportamental real, os cientistas precisam demonstrar que este transtorno se faz presente, logo no início do desenvolvimento da criança; sendo persistente durante o período de desenvolvimento, e que é de difícil explicação puramente por fatores ambientais ou sociais, que está associado a fatores biológicos que podem afetar o funcionamento do cérebro ou de seu desenvolvimento, como o exemplo da genética, 23 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores traumas, toxinas, entre outros. Deve-se conseguir distinguir com precisão a criança hiperativa da criança normal, sem este transtorno. O transtorno ocorre em diferentes situações, embora existam ocasiões em que ele não se apresenta e que a criança é afetada, invariavelmente, em sua capacidade de responder com sucesso às situações que se esperam a crianças de sua faixa etária. Como podemos perceber, as características do TDAH aparecem bem cedo para a maioria das pessoas, logo na primeira infância. O distúrbio é caracterizado por comportamentos crônicos, com duração mínima de seis meses, que se instalam definitivamente antes dos sete anos. De acordo com Castro e Malagris (2003), os estudos mais recentes consideram que uma criança, para apresentar esse distúrbio, deve apresentar déficit de atenção, atividade motora excessiva e impulsividade por falta de controle em um nível que interfere em seu rendimento escolar e em seus relacionamentos familiares ou sociais. Porém, Barkley (2002) reconhecemais dois problemas adicionais para aqueles com TDAH, que são: dificuldades para seguir regras e instruções e variabilidade extrema em suas respostas a situações. Esses sintomas estão associados a um déficit primário na inibição do comportamento, que é o símbolo do TDAH. Para compreender o TDAH é necessário conhecer melhor as características supracitadas que serão descritas nos módulos seguintes. ------------------- FIM DO MÓDULO I -------------------- Curso de Hiperatividade/Transtorno de Déficit de Atenção MÓDULO II Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada, é proibida qualquer forma de comercialização do mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos na bibliografia consultada. 25 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores MÓDULO II Déficit de atenção “A desatenção é considerada como uma dificuldade freqüente de prestar atenção a detalhes, de seguir instruções, de terminar trabalhos escolares e/ou domésticos” (CASTRO e MALAGRIS, 2003,p. 79). Um aspecto intrigante desta característica é a sua variabilidade. A criança distraída, quando começa a fazer alguma coisa se esquece de terminar, como as tarefas da escola ou algum trabalho doméstico; quando vai a algum lugar pára no caminho para falar com alguém, para brincar ou apenas para entreter-se com um animal ou um passarinho que passa voando. Essas mudanças ocorrem porque elas perdem o interesse em uma tarefa ao se distrair com outras; elas tentam manter sua atenção em atividades mais longas que as usuais, esta constitui a parte mais difícil de prestar atenção para essas crianças. Entretanto, Weiss (1995, p. 561) afirma: “... Contudo, essas mesmas crianças amiúde são capazes de concentrar-se por horas a fio em uma atividade que apreciam especialmente e na qual são boas (...). Uma possível explicação para esta” desatenção seletiva “estar relacionada à motivação e prazer pela tarefa. As crianças hiperativas são particularmente incapazes de prestar atenção a tarefas que consideram entediantes, repetitivas ou difíceis, e que não lhe dão satisfação”. Barkley (2002) comenta uma pesquisa realizada por ele e colaboradores, na qual constatou que crianças com TDAH não têm problemas para absorverem informações e distinguir que é importante na hora que são solicitadas a realizar, enfatizando que elas têm a mesma capacidade que as crianças sem TDAH, para observar ou ouvir algo. 26 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Brioso e Sarriá (1995), ao citar Veja (1998), comentam que uma forma de compreender o alcance dos distúrbios de atenção nos hiperativos é fazer referência ao desenvolvimento normal do controle da atenção. Até os dois anos de idade, a atenção da criança é controlada e determinada por estímulos externos, esta criança não possui ainda controle voluntário, o qual só começa a surgir entre os dois anos de idade. A criança já consegue se concentrar em alguns aspectos de estimulação externa, mas sua atenção ainda é dominada pelos estímulos, e desta forma, continua sendo dirigida pelo exterior. Só a partir dos seis anos que o controle da atenção passa a ser interno. A criança já consegue desenvolver estratégias para atender os estímulos que ela considera importantes para solucionar problemas, sejam eles ou não os aspectos mais centrais da estimulação externa. Conclui-se que com as crianças hiperativas estes processos encontram-se alterados, já que o processo de atenção continua sendo dirigido à estimulação externa. “As crianças com TDAH são freqüentemente acusados de “não prestar atenção”, mas na verdade elas prestam atenção a tudo. O que não possuem é a capacidade para planejar com antecedência, focalizar a atenção seletivamente e organizar respostas rápidas.” Podemos identificar a desatenção pelos seguintes sintomas: dificuldades de prestar atenção a detalhes, de manter a atenção em tarefas e até mesmo nas brincadeiras, errar por descuido, não conseguir terminar as tarefas escolares, e/ou domésticas, bem como dificuldades para organizá-las, seguir instruções, parecendo não ouvir o que lhe falam, ter facilidade para perder objetos, que são necessários para tarefas ou atividades, como também ser distraído por estímulos alheios à tarefa, evitar envolver- se em tarefas que exijam esforço mental constante (KNAPP, et al., 2002). Atividade Motora Excessiva Segundo Goldstein e Goldstein (2002), as crianças hiperativas tendem a ser 27 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores excessivamente agitadas e ativas. Geralmente é percebido nos diversos ambientes em que a criança interage, pela dificuldade que ela apresenta de ficar parada, não conseguindo controlar o corpo em situações que exijam que fiquem sentadas e em silêncio por muito tempo. Essa característica do TDAH pode ser descrita como inquietação, impaciência, fala em excesso, a criança parece movida por um motor, não consegue permanecer sentada, produz sons estranhos, está sempre em movimento e atrapalhando o funcionamento de algo; estas são algumas das muitas definições que escutamos, quando se referem à atividade motora da criança portadora do TDAH. A ausência de um objetivo concreto, para a atividade corporal excessiva e desorganizada é que permite diferenciá-la da superatividade, que observamos no desenvolvimento normal da criança em certas situações, como comentam Brioso e Sarriá (1995). Impulsividade ou falta de controle A impulsividade é uma característica que faz com que a criança apresente dificuldades de seguir regras, de pensar antes de agir, dando respostas precipitadas, o que, geralmente, não faria se pensasse antes. Segundo Castro e Malagris (2003), a impulsividade está igualmente relacionada a dificuldades de esperar por sua vez, intrometendo-se em conversas e brincadeiras, refletindo um comportamento inadequado, que rotula esta criança como inconseqüente. Observa-se nas crianças hiperativas uma tendência à satisfação imediata de seus desejos e pouca tolerância a frustrações. Essa sintomatologia ocasiona graves conseqüências na vida da criança, como: comprometimento cognitivo, atrasos específicos do desenvolvimento motor e da linguagem, dificuldades de leitura e de aprendizagem, como descreve Gaião e Barbosa (2001). A hiperatividade é um tipo de conduta desnecessária, caracterizada pela desatenção e inquietude num nível impróprio para a idade da criança. 28 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Socialização da criança hiperativa: escola e amigos De acordo com Weiss (1995), um dos aspectos mais marcantes da criança portadora do TDAH consiste nos relacionamentos, nos problemas que se envolvem em casa, na escola e com os amigos. Elas geralmente são mal vistas por seus colegas, professores, irmãos e pais. Um relacionamento duradouro e saudável é quase impossível, e esta impopularidade transformar-se-á em isolamento social. As crianças portadoras de TDAH ultrapassam a festiva barreira das travessuras engraçadinhas, deixam de ser adoráveis diabinhos e se transformam em um verdadeiro transtorno na vida dos pais, professores e todos que estiverem a sua volta. Elas parecem ignorar as regras de convívio social e, devidoao incômodo que causam, acabam sendo considerada de má índole, caráter ou coisa parecida. No entanto, é preciso deixar claro que as crianças hiperativas não são, de forma nenhuma, más. Além disso, elas não se convencem facilmente e não conseguem se concentrar na argumentação lógica dos pais, já que essas crianças têm extrema dificuldade em sentar e dialogar”. No período da infância, só se dispõe a brincar com uma criança hiperativa, crianças mais jovens ou crianças com problema similar, conforme descreve Weiss (1995), pois as avaliações feitas pelos colegas indicam que estas crianças causam problemas, levando os outros a situações constrangedoras, difíceis e de aborrecimento, o que as tornam não queridas. O comportamento da criança hiperativa torna-se ciente para crianças de todas as idades, ocasionando em rejeição, já que elas são vistas de forma negativa. Geralmente, por que tendem a agir sem pensar, sendo inadequadas socialmente, argumentativas, ativas e falantes em excesso, incapazes de cooperar, compartilhar ou esperar sua vez, elas tornam-se não queridas e rejeitadas por seus parceiros de jogos. Essa rejeição ocasiona frustração e resulta em aumento da agressividade e 29 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores tentativa de controlar os amigos, o que as leva a outros comportamentos errados e a uma maior rejeição; conseqüentemente restringe-se ainda mais a oportunidade que tem a criança hiperativa de desenvolver e praticar as habilidades sociais adequadas. Entretanto, as crianças negligenciadas são mais tímidas, retraídas, evitam interação com seus pares e possuem menos comportamentos agressivos (GOLDSTEIN, GOLDSTEIN, 2002 e ANDRADE, 2003). Segundo Goldstein e Goldstein (2002), as brincadeiras são o elo de ligação entre as crianças, onde são desenvolvidas e mantidas amizades. Pesquisadores enfatizam a importância dos jogos como forma das crianças aprenderem a controlar seu ambiente e fortalecer as habilidades sociais e de raciocínio. O jogo irá auxiliar as crianças a intensificar contatos com o mundo, como desenvolver uma auto-imagem adequada. Entretanto, se por um lado, na fase pré-escolar, a brincadeira do faz-de-conta é uma atividade que ajuda as crianças a desenvolver os fundamentos básicos para o desenvolvimento social normal; por outro lado, os pré-escolares hiperativos, ou do grupo de risco, podem ser privados dessas interações por causa do seu comportamento desatento e impulsivo, deixando, desta forma, de dar os primeiros passos necessários para um desenvolvimento social adequado. A criança hiperativa, na idade escolar, aventura-se no mundo e não tem a família para agir como amortecedor. Ela agora precisa lidar com as regras e os limites de uma educação organizada, o comportamento que antes era tolerado por ser engraçadinho, não é mais aceito, pois parece imaturo e não se ajusta com as expectativas da escola. Com estes comportamentos, a professora passa a ocupar grande parte do seu tempo com essas “crianças difíceis”, e volta-se de forma negativa para elas, pois estão sempre reclamando que a criança hiperativa interrompe a aula constantemente, não presta atenção, não se senta quieta, atrapalha o rendimento da turma, não termina seus trabalhos e não escuta. São incapazes de planejar ou aderir a um curso de ação (GOLDSTEIN e GOLDSTEIN, 2002 e SMITH E STRICK, 2001). Por desconhecer a melhor forma de lidar com a criança hiperativa, o professor vivencia um alto nível de ansiedade e de estresse que passa a ser sentido por todos na sala de aula, levando essa dificuldade aos outros alunos que não sabem como conviver 30 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores com um hiperativo, pois não compreendem o motivo de tanta agitação, nem o fato de não terminarem as tarefas e tirarem notas baixas; tendo ainda comportamentos agressivos ou de liderança autoritária, como descrevem Castro e Malagris (2003). Desta forma, acabam exigindo condutas que a criança hiperativa não tem condição de seguir, resultando em rejeição. Algumas pesquisas revelam que a criança hiperativa não é escolhida como a vizinha de carteira, a melhor amiga, parceira nas atividades e ainda como crianças das quais as outras não querem brincar na hora do recreio. É o que mencionam Goldstein e Goldstein (2002) e acrescentam que a criança hiperativa tem um forte efeito sobre o comportamento do professor em relação à classe como um todo. O que faz que os professores das crianças hiperativas sejam mais objetivos e restritivos em suas interações, não apenas com essas crianças, mas também com as outras crianças da classe. Além disso, a ocorrência de conflito entre as outras crianças da classe também parece maior quando não se lida com a criança hiperativa de uma maneira eficiente. De acordo com estes mesmos autores, uma das observações mais freqüentes feitas pelos professores é de que as crianças hiperativas parecem estar sonhando acordadas, estão interessadas em alguma coisa diferente daquilo que o professor possa estar focalizando no momento. Seu comportamento é desigual, imprevisível e não reativo às intervenções normais do professor. Contexto familiar da criança com TDAH De acordo com estudos a criança hiperativa exerce um impacto significativo e às vezes inesperado sobre os membros da família, levando, algumas vezes, à falência emocional desta família pela incapacidade que esta criança tem de se ajustar às expectativas dos seus familiares, ocasionando vários prejuízos como o desgaste emocional, de energia, de tempo, das relações e da saúde mental desta família, que corre um maior risco de ter todas as espécies de problemas. 31 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores A criança com TDAH pode provocar um grande desequilíbrio na dinâmica de toda família, gerando discórdia, inclusive no casal, em relação aos procedimentos utilizados na disciplina da mesma. É difícil para os pais lidar com a variação de comportamento desta criança, já que ela consegue certo controle sobre algumas atividades solicitadas pelos pais, levando-os a interpretar estes comportamentos da criança como de propósito ou executados só para irritá-los (CASTRO e MALAGRIS, 2003). Estas crianças possuem a capacidade de esgotar seus pais, deixando-os envergonhados pelo comportamento inadequado e pelas diversas críticas que recebem, assim como rejeitados ou culpados, como descrevem Smith e Strick (2001). É comum que os pais culpem uns aos outros pelos problemas da criança e os fatores estressantes multipliquem-se. Os irmãos da criança hiperativa também têm sentimentos negativos sobre elas, pois logo percebem que ela concentra mais tempo e atenção dos pais, o que torna uma fonte de inveja, ciúme, raiva e frustração, principalmente quando os irmãos são mais novos. A diferença de tratamento entre eles e a criança hiperativa acarreta, para os primeiros, perda de benefícios ou discriminação, o que aumenta ainda mais os sentimentos negativos. A relação entre os irmãos é muito difícil, pois sua baixa tolerância à frustração a conduz a não aceitar os direitos dos outros, como também afasta a possibilidade de troca de afeto. Os irmãos da criança que sofre do TDAH tendem a crescer cansados e exasperados por ter que conviver com essa força disruptiva e instável (CASTRO e MALAGRIS, 2003; GOLDSTEIN e GOLDSTEIN, 2002; BARKLEY, 2002). As interações com os pais também são difíceis, mas com os pais elas parecem se comportar melhor, sendo menos negativas e mais capazes de permanecer em tarefas do que quando em companhia dasmães. O fator para isto é uma incógnita, contudo pode estar relacionado ao fato das mães terem mais responsabilidade para interagir com essas crianças. Muitas vezes é deixada à mãe a tarefa de interagir com este filho nas circunstâncias do dia-a-dia, como prepará-lo para ir à escola, ensinar suas tarefas escolares, além de cuidar dos outros filhos e das tarefas do lar, mesmo quando trabalham 32 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores fora de casa. A mãe geralmente se utiliza com carinho, do diálogo e da razão para lidar com os problemas de comportamento dos filhos, enquanto a maioria dos pais é menos paciente, e não se empenham num repetido apelo para que seu filho hiperativo realize uma tarefa. Outro fator provável para estas crianças obedecerem mais rápido ao pai, é que ele, ao contrário da mãe, interage menos com o filho, e gasta o tempo em atividades agradáveis e não nas atividades rotineiras. Com isto o marido culpa a esposa por não ter o domínio da criança, porém, quando o pai cuida mais da criança. Logo percebe as dificuldades do filho e passa a concordar com o relato da mãe (BARKLEY, 2002 e GOLDSTEIN e GOLDSTEIN 2002). Várias são as reações dos pais diante dos problemas comportamentais apresentados pelos filhos. De início tentam resolver de sua forma, negando que seu filho possa apresentar algum problema e com isso evitam o auxilio médico, pois seus filhos são apenas ativos pela energia da idade e afirmam que esta teimosia é da fase e logo passará. De acordo com Barkley (2002), os pais tentam ignorar ou negar a atenção a seus filhos quando estes exibem comportamento disruptivo, como forma de diminuir o problema, já que acreditam que estas crianças estão querendo chamar atenção; com isto, pedem para elas pararem de se comportar desta ou daquela forma, dando-lhes ordens e direções no intuito de tentar controlar os impulsos da criança. Como não obtêm resultados positivos, utilizam o meio habitual da disciplina física ou outras formas de punição, como perdas de privilégios a fim de tentarem controlar esses comportamentos. Alguns pais, depois dessas tentativas, simplesmente desistem e algumas vezes fazem eles próprios às tarefas dos filhos, ou deixam por fazer; eles desistem de lhes dar ordens e deixa-os fazer o que lhes agrada. Muitos pais quando chegam a esse ponto, podem passar por depressão, baixa auto-estima e pouca satisfação com o papel de pais. Ele ainda adverte que a convivência com essas crianças portadoras do TDAH pode comprometer a saúde mental dos pais e seu compromisso com a paternidade, podendo até piorar se esses pais já tiveram problemas emocionais. A decisão de buscar ajuda geralmente ocorre quando estas crianças entram em 33 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores idade pré-escolar e percebem que seu filho se comporta de forma diferente em relação a outras crianças, pela sintomatologia apresentada (déficit de atenção, impulsividade e hiperatividade) que se torna difícil de ser ignorada, quando finalmente concluem que algo está errado. É no ambiente escolar que a grande maioria dos pais toma conhecimento que o comportamento impulsivo e desatento do seu filho não é apenas característico da idade, sendo necessário atenção e um tratamento. Barkley (2002) alerta os pais que quando começarem a suspeitar que seu filho pode sofrer do TDAH, procure logo auxílio. Quanto antes os pais identificarem os sintomas e procurarem auxilio de profissionais especializados como médicos (neurologistas, pediatra), psicólogo ou psiquiatra, para obterem uma avaliação completa e detalhada, que conduzam ao tratamento, mais cedo serão evitadas os malefícios que este transtorno ocasiona na vida da criança e dos que convivem ao seu redor. De acordo com Barkley (2002) os pais podem ter algumas reações emocionais quando descobrem que seus filhos são portadores do TDAH. Alguns se sentem aliviados, aceitando de forma positiva, enquanto outros negam. Eles engajam-se na negação do rótulo, do diagnóstico ou da base neurológica. Quando eles são os últimos, a saber, que seu filho é portador do TDAH é natural negar o problema até que possam refletir sobre a informação, e conhecer esse transtorno. Outros pais, no entanto, recebem a informação com alívio, porque já existe uma causa para o comportamento do filho e desta forma já podem buscar auxílio e libertar-se do peso que carregam quanto à incerteza e a culpa de terem criado um problema. Outro tipo de reação comum frente ao diagnóstico é os pais sentirem ira, e voltá-la a todos que lhe asseguram que seu filho não tem nada de errado, ou àqueles que culpam os pais pelo transtorno do seu filho. Outra reação que é natural é a tristeza; tem pais que se entristecem com a preocupação pelos filhos, pelos riscos que ele pode correr e pelas mudanças na família para se adaptarem a nova realidade de ter um filho portador de TDAH. Esta tristeza com o tempo é amenizada. Porém, o resultado desejado sobre a informação é a aceitação de como seu filho é, e como pode se tornar com o auxilio do tratamento. Com esta aceitação, é 34 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores necessário reconhecer que algumas coisas não podem ser modificadas, devendo-se aceitar as limitações de seu filho evitando intolerância, raiva e frustração, com toda e qualquer pressão inadequada sobre a criança. A partir do momento que os pais aceitam seus filhos como são, passam a enxergar adiante das limitações dele e a ver como ninguém seus esforços e talentos únicos (BARKLEY, op cit.). Muitas informações que os pais têm sobre o transtorno são erradas, e isto pode intensificar o problema e não solucioná-lo. Eles criam uma variedade de concepções erradas sobre seu filho hiperativo, como citam Golstein e Goldstein (2002), estando entre estas concepções a idéia que com o tempo ele vai superar, pois faz parte da fase, e, com isto, os pais desculpam a desatenção, a hiperatividade e a impulsividade. Outra concepção é de que a mãe não é boa, sendo acusada de ser muito permissiva ou exigente; outro fator pode ser rotular a criança que de desatenta e impulsiva de propósito, o que leva a pressuposição que esta criança é má, que suas ações são idealizadas para lhe trazer vantagens á custa de todos os outros. Alguns pais, pelos seus próprios sentimentos de culpa, terminam transferindo sua culpa aos outros, pela forma de tratar esta criança. Como percebemos, existem várias concepções erradas acerca da hiperatividade e isto se deve à falta de informações corretas, já que alguns pais procuram pessoas desinformadas, alguns não admitem que seu filho sofre de um Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade, isolam-se e não buscam auxilio dos especialistas, nem buscam ler sobre o problema do filho, alimentando-se de possíveis causas que, segundo eles, serão superadas mesmo sem tratamento. Como isso, percebemos ser essencial a estes pais buscar informações, lerem a respeito do transtorno para entenderem qual a melhor maneira de auxiliar seus filhos. Porém, é essencial que os pais aceitem o fato de que seu filho é portador do TDAH, e lute junto com a criança, para auxiliá-la a transpor o máximo de problemas que a deficiência impõe. A partir do momento que os pais aceitarem seus filhos com todas suas limitações e adquirir conhecimentos acerca do transtorno, naturalmente passarão a compreender os comportamentos apresentados pelos filhos com outros olhos, e desenvolver uma consciência da maneira pela qual interage com ele. De acordo com 35 Este material deveser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Goldstein e Goldstein (2002), os pais devem ver o mundo com os olhos do filho hiperativo, o que irá auxiliá-lo a lidar com ele no cotidiano. É importante salientar que os pais têm um papel fundamental para auxiliar estas crianças, porém, faz-se necessário também aprenderem a cuidar de si, já que este trabalho é cansativo e estressante. O TDAH em meninas: O transtorno de Déficit de Atenção Hiperativida (TDAH) tem sido atualmente um dos temas mais pesquisados na área da psicologia infanto-juvenil, com o intuito de descobrir na sua etiologia, a possibilidade da prevenção, bem como uma forma mais eficaz de seu diagnóstico, sem correr o risco de confundir com os outros transtornos que muito se parecem com o TDAH. O TDAH está caracterizado por apresentar uma diversidade de sintomas, como: hiperatividade, déficit de atenção, impulsividade, agitação motora, desobediência constante, dificuldade em seguir as regras, falta de persistência em continuar suas tarefas, antecipam respostas a questões não concluídas, imprudência etc. Estas condutas afetam tanto o desenvolvimento emocional e global da criança, como sua adaptação social, acarretando, também, prejuízos no âmbito acadêmico, mesmo que essa criança apresente um nível satisfatório de inteligência. A hiperatividade infantil tem apresentado uma série de problemas, tanto conceituais como metodológicos, sendo, ainda, considerada um dos aspectos mais confusos deste tema, a sua etiologia. Inúmeros fatores são considerados como determinantes da conduta hiperativa, dando prioridade à hipótese neurológica. Mas a partir dos anos 70, a denominação desta alteração não só descansa nos supostos fatores etiológicos, mas, também, centra-se nas características comportamentais, genéticas e ambientais, prevalecendo à idéia de uma causa orgânica. Nas hipóteses neurológicas, freqüentemente tem-se mostrado a etiologia da 36 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores hiperatividade com uma existência de uma Lesão Cerebral. Esta hipótese tem sido bastante criticada por RUTTER (1982), que diz que provavelmente menos de 5% de crianças hiperativas mostram evidencia de dano cerebral claro. No geral, o TDAH depende de alterações neuropsíquicas e neurofisiológicas do Sistema Nervoso Central. Este se atribui a fatores genéticos, gestacionais ou nocivos, riscos de prematuridade, como, também, as complicações anóxias ou traumas obstétricos. Sabe-se, que a criança do sexo feminino portadora do TDAH o seu quadro clínico é mais acentuado e comprometedor que os meninos. Estudos realizados com crianças apenas do sexo feminino, com o intuito de comprovar que as meninas sofrem do mesmo transtorno com a mesma intensidade de sintomas e apresentando as mesmas seqüelas e danos nas mais diversas áreas de seu desenvolvimento. O objetivo maior foi o de detectar a taxa de prevalência das crianças portadoras do TDAH e de fazer o uso das provas psicológicas como um dos instrumentos de intervenção e inclusão dos testes como meio de diagnóstico e, também, outros objetivos que venham acrescentar nos achatados tão importantes para o meio científico. Hiperatividade: Como lidar? Critério de avaliação do paciente hiperativo Existe, sem dúvida, certa subjetividade na avaliação do paciente, pois isso depende do grau de tolerância das pessoas que convivem com a criança. As primeiras observações, na maior parte das vezes, são feitas pelos professores, que notam ser o comportamento da criança muito agitado. Isto é percebido quando comparado ao comportamento das outras crianças durante as aulas. Além disso, notam que o desempenho da criança em relação à média do grupo está, também, defasado. A mãe, no seu convívio diário, percebe, também, que o comportamento da criança é diferente quando comparado com outros filhos ou com os filhos dos amigos, caso seja único. Há vezes em que o comportamento hiperativo é 37 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores confundido com a falta de limites no processo educacional. Havendo sinais sugestivos de hiperatividade, a criança deve ser encaminhada para uma avaliação clínica especializada com profissionais familiarizados com o quadro, sejam neuropediatras ou psiquiatras. Há vezes que o paciente é encaminhado para avaliação e terapia psicológica ou psicopedagógica e a hiperatividade não é considerada. Nesses casos o tratamento surte pouco efeito e muito tempo é perdido até se alcançar algum resultado satisfatório. A avaliação multidisciplinar é um procedimento de grande valia para o diagnóstico, pois em muitas ocasiões o trabalho individual pode mascarar o comportamento hiperativo. A caracterização da hiperatividade é sempre coincidente quando o paciente é avaliado por vários profissionais? Nem sempre há unanimidade na determinação da hiperatividade, pois há vezes em que a criança se apresenta hiperativa na escola e isto não é percebido ou não é considerado pelos pais, em casa. Muitas vezes, no consultório médico, a criança apresenta um comportamento mais tranqüilo, o que deixa os familiares admirados, sugerindo que as queixas referidas são de outra criança. Diante disso, o pediatra, não muito familiarizado com o quadro, até tranqüiliza os familiares. Há outras situações, ainda, em que os pais discordam entre si, pois a mãe considera a criança hiperativa, mas o pai não aceita esta apreciação, alegando ser esse comportamento próprio da idade, e que ele, o pai, apresentava comportamento semelhante na mesma fase da infância. Naquela época era considerado, somente, como criança peralta, mas atualmente, na idade adulta, está muito bem-adaptado, sob os aspectos sociais, familiares e profissionais, aparentemente sem seqüelas. Não raro, são criados conflitos entre o casal, pois os pontos de vista são discordantes. Há pais que consideram ser a mãe o foco maior do problema, por não saber lidar, de modo adequado, com o filho. Algumas vezes os pais parecem fugir ou, de modo proposital, ignorar o problema. Assim, 38 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores não comparecem às reuniões na escola, nem acompanham o desempenho do filho nas diversas atividades. Nesse caso, a falta de participação desses pais, somada a pouca convivência com o filho, torna impossível desenvolverem critérios objetivos para avaliação do comportamento da criança. Em decorrência disso, não enxergam e não admitem a existência do quadro hiperativo. São as mães que recebem as reclamações escolares, sentem diretamente as dificuldades no relacionamento com os filhos e, muitas vezes, devem lidar com a questão sem a participação efetiva dos pais. Os pais justificam a sua ausência por estarem atarefados, terem agendado reuniões importantes e inadiáveis ou viagens de interesse profissional que os impedem de comparecer, inclusive às consultas médicas. Ir às entrevistas com psicólogos, nem pensar, pois para a maioria dos pais esta providencia é inaceitável, pois eles imaginam não terem e nem serem o problema. A partir de quando se percebe que a criança é hiperativa? A hiperatividade pode ser notada em várias fases do desenvolvimento da criança, seja quando lactente, pré-escolar, escolar ou adolescente. Quais são as evidencias do comportamento hiperativo do lactente? No lactente podem ser evidenciadas algumas características, tais como: • Muito chorão e sem causa aparente; • Inquieto; • Apresenta dificuldade
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