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____________________________________________________________________________________________________ Medicina – 4º Semestre – Farmacologia Biotransformação de fármacos Um homem de 61 anos que sofria de epilepsia estava recebendo carbamazepina, um fármaco anticonvulsivante metabolizado para uma forma inativa pela isoenzima CYP3A4. Poucos dias atrás, o paciente sentiu uma azia irritante se automedicou com cimetidina, um inibidor da maioria das isoenzimas do citocromo P450. Começou a ficar desorientado, sonolento, com a visão borrada e fala alterada. O que explica esse quadro? ADME se refere aos 4 parâmetros da farmacocinética, que são: absorção, distribuição, metabolização e excreção. Absorção é a passagem da via em que o fármaco foi ingerido para a circulação sistêmica. No caso da via oral, especificamente, durante essa etapa acontece o metabolismo de primeira passagem. Distribuição é distribuir para os tecidos, aonde chegar sangue chega o fármaco junto. Porém, ele não vai se depositar em todos os tecidos, somente naqueles para os quais tem receptor ou se tiver afinidade por alguma proteína do tecido. O fármaco passa novamente pelo fígado para que ocorra a biotransformação, e depois passa pelos rins, onde ocorrerá o processo de excreção. Essa é a curva de uma dose única. Pensando em um fármaco por via oral, sempre vai ter uma concentração plasmática máxima, um pico máximo de concentração que é atingido e a partir do momento que está sendo distribuído, metabolizado e excretado ocorre uma diminuição dessas concentrações plasmáticas. A farmacocinética está preocupada em determinar essas alterações temporais que acontecem nas concentrações plasmáticas. Caso clínico Metabolismo ou Biotransformação ____________________________________________________________________________________________________ Medicina – 4º Semestre – Farmacologia Biotransformação de fármacos Metabolismo ou Biotransformação diz respeito a modificações químicas nos grupos substituintes dos fármacos. Objetivos: ✓ Facilitar a excreção renal – transformando o fármaco em metabólitos sem atividade farmacológica que são hidrossolúveis. ✓ Gerar metabólitos mais ativos, ou seja, uma molécula é convertida em outra, que chamamos de metabólito. A partir de um fármaco podemos ter mais de um tipo de metabólito sendo gerado. Ex: morfina em morfina 6-glicuronídeo – neste caso, o metabólito formado também tem atividade analgésica, até maior que a própria morfina. ✓ Inativar metabólitos tóxicos para evitar toxicidade no organismo. Ex: n-acetil-pbenzoquinonaimina – metabólito do paracetamol que é hepatotóxico, neste caso, a finalidade da biotransformação é transformar esse metabólito em outro que não seja tóxico. ✓ Ativar pró-fármacos – uma molécula que tem pouca ou nenhuma atividade farmacológica, ele precisa ser convertido, por uma reação de biotransformação, na molécula que vai ter atividade farmacológica, que é o fármaco propriamente dito. Ex: prednisona em prednisolona O objetivo principal do pró-fármaco é reduzir a perda inicial que ocorre durante o metabolismo de primeira passagem. ____________________________________________________________________________________________________ Medicina – 4º Semestre – Farmacologia Biotransformação de fármacos Locais que possuem enzimas que fazem o processo de biotransformação: ✓ Fígado - principal ✓ Parede do trato gastrintestinal ✓ Pulmões ✓ Pele ✓ Rins A capacidade do fígado de modificar os fármacos depende da quantidade que penetra nos hepatócitos: + hidrofóbico, + metabolização Hidrofílicos entram pelos transportadores SLC (do inglês, solute carrier). Exemplos de fármacos que sofrem com o metabolismo de primeira passagem ____________________________________________________________________________________________________ Medicina – 4º Semestre – Farmacologia Biotransformação de fármacos REAÇÕES DE FASE I: (funcionalização) • Oxidação (mais comum) - CYP’s • Redução • Hidrólise Nesse tipo de reação é adicionado algum tipo de grupamento químico funcional. Geralmente vai ser um grupamento químico que seja mais reativo, como oxigênio e nitrogênio, exatamente para que seja possível ir para a reação de fase 2. REAÇÃO DE FASE II: (conjugação) • Glicuronidação (mais comum) - UGT’s • Sulfatação • Glutationização • Metilação • Acetilação Conjugação = ligação direta de uma molécula ao fármaco A adição dessas moléculas na fase 2 vai deixar o fármaco mais polar, a mais comum é a Glicuronidação, que é a adição de um glicuronídeo. Geralmente essas reações ocorrem de maneira sequencial, mas isso não é regra, ou seja, pode ocorrer uma reação de fase 2 sem que tenha ocorrido uma reação de fase 1, tudo depende das características da molécula. As reações de fase II também podem preceder as reações de fase I. Reações de fase I e fase II e eliminação direta de fármaco. Tipos de reações de biotransformação ____________________________________________________________________________________________________ Medicina – 4º Semestre – Farmacologia Biotransformação de fármacos Objetivo de o fármaco passar por reações de fase 1 e de fase 2: aumentar a hidrossolubilidade e produzir metabólitos que não tenham atividade farmacológica. Normalmente um grupamento polar/reativo (OH, NH2, COOH, SH) é introduzido Objetivos: ✓ Aumento na hidrossolubilidade ✓ Ponto de ataque para as reações de fase II ✓ Inativação parcial do fármaco ✓ Formação de metabólito mais ativo ou tóxico ✓ As enzimas que vão mediar esse processo de oxidação do fármaco são tipicamente oxidases: • Oxidações dependentes do CYP450 • Oxidações independentes do CYP450 CYP450 = citocromo P450 Localização das enzimas metabolizadoras ✓ Enzimas microssomais: se localizam no RE dos hepatócitos (ex: CYP). ✓ Enzimas não-microssomais: citoplasma, mitocôndria e plasma (ex: álcool desidrogenase, monoamina oxidase, colinesterase plasmática, respectivamente). ✓ Enzimas da flora intestinal (bactérias do intestino) Reações Fase I ____________________________________________________________________________________________________ Medicina – 4º Semestre – Farmacologia Biotransformação de fármacos ✓ São hemeproteínas, ou seja, tem um grupamento de ferro na sua estrutura. ✓ Superfamília de enzimas relacionadas, mas distintas – tem 74 genes que as codificam ✓ Se diferenciam entre si pela sequência de aminoácidos, sensibilidade a inibidores e agentes indutores e na especificidade das reações ✓ 74 famílias de genes CYP, das quais as três principais estão envolvidas no metabolismo de fármacos no fígado humano: CYP1, CYP2 e CYP3. Esse gráfico representa as principais enzimas que metabolizam fármacos. Podemos perceber que quase metade de todos os fármacos são metabolizados pela CYP3A4. ✓ Cinco CYPs (1A2, 2C9, 2C19, 2D6* e 3A4) são responsáveis por aproximadamente 95% do metabolismo oxidativo dos fármacos * antidepressivos e opioides ✓ Existem polimorfismos genéticos – podem produzir isoformas diferentes, significando uma diferença na capacidade de metabolização. Enzimas do citocromo P450 ____________________________________________________________________________________________________ Medicina – 4º Semestre – Farmacologia Biotransformação de fármacos Exemplos de fármacos que são substratos de isoenzimas P450 A. Oxidações dependentes do citocromo P450 B. Oxidações independentes do citocromo P450 • Álcool desidrogenase• Monoamina oxidase (MAO) Uma mesma enzima pode metabolizar vários fármacos diferentes. O mesmo fármaco pode ser substrato de várias CYPs. Existem fármacos que podem inibir a CYP diminuindo a metabolização. Da mesma forma existem fármacos que aumentam a expressão de CYPs, aumentando a metabolização. ____________________________________________________________________________________________________ Medicina – 4º Semestre – Farmacologia Biotransformação de fármacos Aumento da síntese de enzimas → maior velocidade de biotransformação Indutor enzimático é uma substância que vai aumentar a síntese das enzimas que fazem o processo de biotransformação. Esse aumento acontece através de eventos de indução de expressão gênica dessas enzimas. Se aumenta a expressão gênica, aumenta a produção, consequentemente, aumenta a quantidade de enzimas. Essa indução geralmente acontece através de interações entre medicamentos, muitas vezes não intencionais, porém, podemos explorar essas características farmacocinéticas de forma intencional. Como é um evento que envolve transcrição gênica não é instantâneo. Essas interações vão depender da dose dos fármacos e também do tempo de tratamento, ou seja, o tempo em que essa interação está acontecendo. Depois de ter sido administrada a rifampicina (600 mg diariamente durante alguns dias), a meia-vida plasmática da varfarina diminuiu de 47 h (curva vermelha) para 18 h (curva verde), logo, acelerou a excreção, diminuindo o efeito. Indutores enzimáticos ____________________________________________________________________________________________________ Medicina – 4º Semestre – Farmacologia Biotransformação de fármacos Analisando o gráfico de interação medicamentosa entre a Rifampicina e o Diazepam. Sabendo que o Diazepam é um fármaco metabolizado pela CYP3A4 e que a Rifampicina é um indutor dessa enzima, explique o que acontece nessa interação. O indutor enzimático vai aumentar a quantidade das enzimas metabolizadoras CYP3A4, com isso, aumenta o processo de biotransformação do Diazepam, diminuindo sua biodisponibilidade, logo, diminui seu efeito, de acordo com o gráfico ele fica abaixo da janela terapêutica. Sabendo que a codeína é um pró-fármaco e que junto com ela foi ingerido um medicamento que é indutor da CYP2D6, explique o que pode acontecer nessa interação. Como a codeína é um pró-fármaco, ela precisa do processo de biotransformação para ser ativada, ao induzir o aumento da quantidade de CYP2D6 podemos causar um efeito tóxico no paciente, pois uma quantidade maior de fármaco ativo vai ficar disponível após a biotransformação da codeína gerando um pico de concentração plasmática, podendo ficar acima da janela terapêutica e gerar toxicidade. A inibição da atividade das enzimas pode ocorrer: - Formação de um complexo com o ferro hêmico do citocromo P450 (interferindo no processo de oxidação) ou pela depleção de cofatores - Diminuição da síntese das enzimas microssomais, diminuindo a transcrição gênica. Consequências? Se o fármaco 2 for um inibidor da enzima que faz biotransformação do fármaco 1, a quantidade de enzimas diminui, a biodisponibilidade do fármaco 1 aumenta porque seu processo de biotransformação está reduzido, logo, a excreção do fármaco 1 diminui e ele se acumula no organismo, podendo favorecer a um efeito de toxicidade. Agora, se o fármaco 1 for um pró-fármaco, as enzimas que o ativam estarão diminuídas, logo, uma quantidade menor de moléculas serão ativadas, diminuindo sua biodisponibilidade, consequentemente, seu efeito. Inibidores enzimáticos ____________________________________________________________________________________________________ Medicina – 4º Semestre – Farmacologia Biotransformação de fármacos Um paciente que faz uso de Sinvastatina começa a tomar Fluoxetina. Sabendo que a Sinvastatina é metabolizada pela CYP3A4, e que a Fluoxetina é um inibidor de CYP2D6, explique o que pode acontecer com este paciente. Não vai ter interação entre os dois medicamentos, pois a Fluoxetina inibe a CYP2D6 e a Sinvastatina é metabolizada pela CYP3A4, são enzimas diferentes. Voltando ao caso clínico... Resposta: Ao utilizar um inibidor da enzima CYP3A4 a quantidade de enzimas diminui, aumentando a biodisponibilidade da carbamazepina, logo, aumenta o seu efeito, isso explica os sintomas de toxicidade que o paciente está apresentando. ____________________________________________________________________________________________________ Medicina – 4º Semestre – Farmacologia Biotransformação de fármacos ๏ É a combinação dos fármacos e/ou seus metabólitos com moléculas endógenas hidrofílicas, visando torná-los mais hidrossolúveis para posterior excreção ๏ Substratos: metabólitos das reações de oxidação e compostos que já contêm grupos químicos apropriados para conjugação, como hidroxila (-OH), amina (-NH2) ou carboxila (-COOH) A conjugação com ácido glicurônico é a mais comum ✓ Um fármaco (representado por D) ou metabólitos desse fármaco (representados por D-OH e D-NH2) são conjugados a um componente endógeno pela ação de transferases (são as enzimas responsáveis por essa conjugação). ✓ O ácido glicurônico, um açúcar, é em geral o grupo mais conjugado a fármacos; porém, as conjugações com acetato, glicina, sulfato, glutationa e grupos metila também são comuns. As enzimas que fazem a reação de transferência com o ácido glicurônico são as UGTs. UGT’s (UDP-glicuroniltransferase): superfamília de enzimas que catalisam a conjugação do ácido glicurônico. • Alguns fármacos podem inibir UGT’s ou aumentar a sua expressão. Inibição de UGT: diminui a excreção do fármaco. Indução de UGT: aumenta a excreção do fármaco. • Recém-nascidos tem níveis deficientes de UGT. Reações Fase II - Conjugação ____________________________________________________________________________________________________ Medicina – 4º Semestre – Farmacologia Biotransformação de fármacos ____________________________________________________________________________________________________ Medicina – 4º Semestre – Farmacologia Biotransformação de fármacos Metabolismo do paracetamol Acetilcisteína é utilizada nos casos de intoxicação por Paracetamol porque é uma precursora de glutationa (GSH). Aumentando a quantidade disponível de glutationa, aumenta a conjugação, reduzindo os metabólitos tóxicos, minimizando o processo de lesão hepática. 1. Fatores genéticos - polimorfismos Principalmente polimorfismos de nucleotídeos da CYP, gerando uma variabilidade no perfil de metabolização dos fármacos. Ex: Isoniazida: sofre acetilação no organismo - Acetiladores/metabolizadores rápidos: é aquele indivíduo que metaboliza o fármaco mais rápido que a população em geral, podendo diminuir o efeito; para essa pessoa talvez seja necessário aumentar a dose. - Acetiladores/metabolizadores lentos: é o oposto do anterior; com eles, o ideal é iniciar com a menor dose possível e ir ajustando. Fatores que interferem na biotransformação ____________________________________________________________________________________________________ Medicina – 4º Semestre – Farmacologia Biotransformação de fármacos____________________________________________________________________________________________________ Medicina – 4º Semestre – Farmacologia Biotransformação de fármacos 2. Doenças Hepatopatias: diminuem metabolização, pode aumentar a toxicidade. Cardiopatias: podem reduzir o fluxo sanguíneo para o fígado e comprometer metabolismo de substâncias como amitriptilina, morfina, verapamil e lidocaína. 3. Idade Fetos e recém-nascidos: menor conjugação e atividade enzimática reduzida (ex: cloranfenicol) Idosos: atividade metabólica reduzida 4. Nutrição • A glicina (conjugação), originam-se da dieta; • Determinados alimentos podem ser indutores ou inibidores enzimáticos: - Brócolis, couve de bruxelas e carne grelhada: indutores CYP1A2 - Suco de toranja (grapefruit): inibidor da isoforma CYP3A4 https://youtu.be/SZ2ZVkvLUfc https://youtu.be/SZ2ZVkvLUfc
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