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17/08/2017 1 HISTÓRIA DA ANESTESIA Primeiros Fármacos e Métodos para Anestesia Utilizados • Em humanos: ▫ Opiáceos, álcool ▫ Compressão de artérias carótidas • 1540: ▫ Produção de éter com efeito soporífero em aves ▫ Paracelsus • 1800: ▫ Propriedades anestésicas do óxido nitroso ▫ Sir Humphrey Davy • 1824: ▫ Atenuação da dor por inalação do óxido nitroso e CO2 ▫ H. H. Hickman (Fantoni & Cortopassi, 2009; Tranquilli et al, 2014) • 1860: ▫ Albert Niemann (Ale) ▫ Isolamento de cocaína ▫ 1878 → Anrep utilizou como anestésico local • 1875: ▫ Hidrato de Cloral ▫ Ore → anestesia intravenosa • 1884: ▫ 1ª vez: bloqueios anestésicos de condução ▫ Halsted e Hall (Fantoni & Cortopassi, 2009; Tranquilli et al, 2014) • 1885: ▫ Anestesia espinhal com cocaína ▫ G. L. Corning • Decorrência de efeitos adversos: ▫ Anestesia geral não empregada na prática veterinária até meados de século XX • Início do século XX: ▫ Éter e clorofórmio • Final dos anos 1920: ▫ Descoberta dos barbitúricos ▫ Anestesia geral aceita (Fantoni & Cortopassi, 2009; Tranquilli et al, 2014) ANESTESIA VETERINÁRIA • Poucos dados até século XIX • 1824: ▫ Henry Hickman ▫ Uso de óxido nítrico e dióxido de carbono em cães – aliviar estímulo doloroso • A partir da demonstração de Morton em 1846 ▫ Relatos de anestesia em animais • 1847: ▫ Jean Pierre Flourens ▫ Relato do efeito anestésico do clorofórmio em animais • 1852: ▫ George H Dadd ▫ Pioneiro, nos EUA, na anestesia geral em animais ▫ Utilização de éter e clorofórmio (Fantoni & Cortopassi, 2009; Carter & Story, 2013) 17/08/2017 2 • 1853: ▫ Jackson – professor do Morton ▫ Utilização do éter para anestesia em cavalos, bovinos, ovinos e cães • 1885: ▫ Primeira vez da anestesia epidural em cães ▫ 1898: anestesia espinhal • 1890: ▫ Penhale ▫ Anestesia loclal com cocaína ▫ Fredrick Hobday: anestesia do olho • 1910: ▫ Jorge Spitz (MV argentino) ▫ Um dos primeiros autores a reconhecer a importância da anestesia (Fantoni & Cortopassi, 2009; Carter & Story, 2013) • 1937: ▫ Wright ▫ Utilização do tiopental • 1941: ▫ J. G. Wright ▫ Primeira edição do Veterinary Anaesthesia • 1947: ▫ Edward Mayhew ▫ Experimentos em cães e gatos com inalação de éter • 1950: ▫ Técnicas anestésicas intravenosas e inalatórias em pequenos animais • 2ª metade do Século XX ▫ Uso da cetamina (1972) em gatos ▫ Intubação endotraqueal ▫ Bloqueios locorregionais guiados por US ▫ TIVA (Fantoni & Cortopassi, 2009; Carter & Story, 2013) Anestesia Veterinária no Brasil • 1940: ▫ Primeiros relatos ▫ E. A. Matera e J. F. Tabarelli Neto ▫ Trabalhos publicados na Revista da Faculdade de Medicina Veterinária da USP ▫ “Contribuição para o estudo da anestesia intravenosa pelo thionembutal no cão (adaptação do método fracionado de Lundy)” • 1975: ▫ Primeira disciplina de Anestesiologia Veterinária ▫ Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – UNESP, Botucatu • 1983: ▫ Residência em Anestesiologia Veterinária - FMVZ/UNESP, Botucatu ▫ Modalidade lato sensu • Década de 1990: ▫ Outros programas de residência/aperfeiçoamento foram surgindo (Fantoni & Cortopassi, 2009) MORBIDADE E MORTALIDADE NA ANESTESIA VETERINÁRIA • Na Medicina Humana: ▫ 1-10 a cada 100.000 pacientes vem a óbito ▫ Riscos: idade avançada, comorbidades, cirurgias de urgência e alguns tipos de cirurgias ▫ 0,033% taxa de mortalidade em humanos por eventos anestésicos na América do Norte • Estudos na América do Norte, Europa e África do Sul: ▫ Mortalidade perianestésica em cães: 0,11-0,43% ▫ (110-430 a cada 100.000 cães) ▫ Riscos: idade avançada, doença pré-existente, status ASA, gatos obesos ou caquéticos, procedimentos de emergência ou maior complexidade (Carter & Story, 2013) • Variação na taxa de mortalidade relacionada a eventos anestésicos na literatura: ▫ No cão: 0,11-1,5% ▫ No gato: 0,06-1,08% ▫ No cavalo: 0,12-1,6% • Estudo francês: ▫ Gatos com 1,9x mais chance que cão em vir a óbito decorrente de um procedimento anestésico • Estudo 2010-2016 – Florida (ONG): ▫ Castração de cães e gatos, machos e fêmeas ▫ Cães: 42.349 (21.549 fêmeas e 20.800 machos) ▫ Gatos: 71.557 (38.026 fêmeas e 33.531 machos) ▫ Mortalidade perianestésica (até 24h após administração do 1º fármaco) = 34 gatos e 4 cães => 0,03% ▫ Risco de mortalidade: 2x maior para fêmeas (Bille et al, 2012) (DeLay, 2016) (Levy et al, 2017) 17/08/2017 3 Razões para maior mortalidade na anestesia veterinária Anestesia nem sempre realizada por profissionais capacitados Realização do procedimento anestésico por enfermeiros que tem outros deveres fora do centro cirúrgico Monitorização anestésica pobre Monitorização durante todos os períodos anestésicos é essencial para reconhecimento e estabilização prévia do paciente (DeLay, 2016) (Griffin et al, 2016) DEFINIÇÕES ANESTÉSICAS • Anestesia: ▫ Deriva do termo grego “anaisthaesia” ▫ Significa insensibilidade • Tranquilização: ▫ Redução de ansiedade, torna paciente relaxado, mas consciente • Sedação: ▫ Depressão central associada à sonolência • Analgesia: ▫ Ausência de dor • Neuroleptoanalgesia: ▫ Estado de narcose associado à profunda analgesia, mantendo a consciência • Alodinia: ▫ Resposta dolorosa a estímulos não dolorosos • Hiperalgesia: ▫ Resposta exagerada ao estímulo nocivo • Narcose: ▫ Alteração do estado de consciência devido à intoxicação por determinadas substâncias, como os narcóticos ▫ Sono profundo com pouca responsividade ▫ Pode ou não ter analgesia • Analgesia / Anestesia local: ▫ Perda de sensibilidade em área circunscrita do corpo • Analgesia / anestesia regional: ▫ Perda de sensibilidade de área (limitada) maior do corpo • Anestesia geral: ▫ Inconsciência e analgesia ▫ Induzidas por depressão controlada do SNC ▫ Sem resposta à estímulo nocivo ▫ Funções sensoriais, motoras e autonômicas reflexas: diminuídas • Anestesia cirúrgica: ▫ Estágio da anestesia geral que provê inconsciência, relaxamento muscular e analgesia • Anestesia balanceada: ▫ Associação de fármacos direcionados para respostas específicas durante a anestesia • Anestesia dissociativa: ▫ Dissociação dos sistemas tálamo-cortical e límbico ▫ Estado de anestesia cataleptoide ▫ Reflexos oculares e de deglutição mantidos ▫ Associação com sedativo forte, relaxante muscular → redução de hipertonia muscular persistente CONSIDERAÇÕES SOBRE ANESTESIA GERAL 17/08/2017 4 Efeitos/Fenômenos que podem modificar efeito anestésico • Condições do SNC ▫ Excitado ou deprimido • Atividade metabólica do animal • Existência de enfermidade ou afecção • Captação e distribuição do anestésico Variação biológica • Pequenos animais ▫ Taxa metabólica basal mais alta por unidade de área corpórea • Animais obesos: ▫ Menor taxa metabólica basal por unidade de peso corpóreo • Animais desnutridos: ▫ Menor requerimento anestésico • Recém nascidos: ▫ Taxa metabólica basal mais baixa • Animais muito novos e idosos ▫ Mais sensíveis • Taxa metabólica de machos ▫ ≥ 7% em relação às fêmeas • Prenhez ▫ Aumenta taxa metabólica basal T a x a m e ta b ó li c a Idade Auge na puberdade Avaliação das ações anestésicas ANESTESIA GERAL = PERDA DA CONSCIÊNCIA Insensibilidade à dor Inconsciência Relaxamento muscular Ausência de resposta reflexa “Agentes que induzem anestesia adequada em uma espécie e cirurgia podem não induzi-la com dose similar em outra espécie” Diferenças espécie-específicas Diferenças individuais Avaliação de cada paciente é fundamental ETAPAS DA ANESTESIA Avaliação e preparo do paciente Medicação pré-anestésica (MPA)Indução anestésica Manutenção anestésica Recuperação anestésica 17/08/2017 5 AVALIAÇÃO E PREPARO DO PACIENTE Antes da anestesia... Histórico do paciente Exame clínico completo Categorização do paciente Saúde física, dor, nível de estresse, risco anestésico CLASSIFICAÇÃO DA CONDIÇÃO CLÍNICA CATEGORIA (ASA) CONDIÇÃO CLÍNICA EXEMPLOS I Aparentemente hígido Procedimentos eletivos, OVH eletiva, nodulectomia cutânea, exames de rotina II Doença sistêmica leve Neonatos e geriátricos, gestantes, obesos, fratura simples, hérnias sem complicações, infecção localizada, cardiopatia compensada III Doença sistêmica moderada Febre, desidratação, anemia, caquexia, anorexia, hipovolemia moderada, fraturas complicadas, ruptura diafragmática, pneumotorax IV Doença sistêmica grave, com ameaça constante à vida Choque, uremia, toxemia, desidratação e hipovolemia graves, anemia grave, descompensação cardíaca e/ou renal, febre alta, síndrome DVG V Pacientes moribundos (expectativa de vida 24h, com ou sem cirurgia) Choque e desidratação profundas, tumor maligno terminal, falência múltipla de órgãos, TCE E Emergência (deverá ser acrescentado ao estado físico do paciente) I – V Avaliação pré-anestésica • Determinação da condição clínica do paciente Presença ou ausência de doenças Gravidade da dor (quando presente) Nível de estresse • Estabelecimento de qualquer condição/situação anormal que possa afetar captação, ação, eliminação e segurança do anestésico • Sistemas orgânicos de maior importância: ▫ Nervoso, cardiopulmonar, hepático e renal • História do paciente ▫ Avaliação de dor • Inspeção ▫ Atitude, condição geral, conformação física, temperamento, estresse ou desconforto • Palpação, percussão e ausculta • Exames laboratoriais e procedimentos especiais • Anormalidades observadas e corrigidas • Estabelecimento de risco e prognóstico para o paciente Interpretação cautelosa de exames laboratoriais Correlação com exame clínico Histórico Exame clínico Determinação de doença e exames laboratoriais 17/08/2017 6 Peso corpóreo e sinais vitais FC e pulso, FR, PA, temperatura e dor Histórico de saúde anterior e atual Queixa atual Intensidade e duração Conjunto de sintomas da doença Prenhez Exposição a fármacos Histórico anestésico anterior Última alimentação Exames de rotina a serem pedidos devem levar em consideração a importância dos dados fornecidos por tais em relação ao protocolo anestésico a ser empregado IDADE Estado físico (ASA) Até 6 meses 6 meses a 6 anos > 6 anos I e II Hct, PPT, Glicemia Hct, PPT, Função renal Hct, PPT, Função Renal, ECG, Urinálise III Hemograma, PPT, glicemia, Função renal, pH, HCO3, Gases sanguíneos, Urinálise Hemograma, ECG, Glicemia, Funções renal e hepática, pH, HCO3, Gases sanguíneos, Urinálise Hemograma, Glicemia, ECG, Funções renal e hepática, eletrólitos (Na, K, Ca), pH, HCO3, Gases sanguíneos, Urinálise IV e V Hemograma, Glicemia, ECG, Funções renal e hepática, eletrólitos (Na, K, Ca), pH, HCO3, Gases sanguíneos, Urinálise (Fantoni & Cortopassi, 2009) Tudo isso para... • Classificação do paciente de acordo com o ASA • Prognóstico estabelecido juntamente com o proprietário • Comunicação dos riscos anestésicos ao proprietário • Seleção de substâncias anestésicas adequadas ao caso RESPOSTA AO ESTRESSE • Adaptação de alterações neurais, comportamentais, endócrinas, imunes, hematológicas e metabólicas ▫ Dirigidas para manter/restaurar a homeostase • Dor aguda pode produzir estresse significativo em cães gatos • Aumento da atividade simpática central ▫ ↑ FC e PA, transpiração, piloereção, dilatação de pupilas • Elevação [catecolaminas] ▫ ↑ glicogenólise e gliconeogênese → induz a resistência à insulina • Amplificação da resposta de alarme, ansiedade, medo e até raiva • Leucograma de estresse ▫ Quantidade elevada de leucócitos polimorfonucleares imaturos (desvio à esquerda) e redução no número de linfócitos Preparo do paciente • Jejum alimentar • Jejum hídrico • Antibioticoterapia profilática • Fluidoterapia em pacientes desidratados ou hipovolêmicos • Oxigenoterapia • Considerar doenças pré-existentes ▫ Cardiopatias, nefropatias, hepatopatias 17/08/2017 7 Assim, consideramos... • Espécie, raça e idade do paciente • A condição física do paciente • Tempo, tipo e gravidade do procedimento cirúrgico ▫ Habilidade do cirurgião • Familiaridade com a técnica anestésica a ser aplicada • Equipamentos e pessoal disponível “O fato a ser destacado é que a familiaridade completa com uma técnica equivale, pelo menos, ao aumento de 30% na eficiência e segurança anestésica. Se uma pessoa domina uma técnica, não vale a pena mudar para uma nova e menos conhecida, a não ser que a mudança ofereça grande vantagem.” (Clarke & Hall, 1990) Risco anestésico-cirúrgico • Incerteza e risco potencial de fatalidade ou complicações anestésico-cirúrgicas Condição clínica Risco anestésico Risco cirúrgico Escolha do protocolo visa à segurança do paciente • Fatores inerentes ao paciente ▫ Influência das respostas à anestesia, à captação, à distribuição e à eliminação • Condição física do animal • Necessidades específicas de cada espécie • Necessidades específicas para o caso ▫ Exigências relativas para sedação, contenção, analgesia, relaxamento e segurança • Secundariamente: ▫ Conveniente ao cirurgião ▫ Procedimento executado de forma eficiente • Morbidade e mortalidade perioperatórias ▫ Aumentam com gravidade de doença preexistente • Pacientes geriátricos e pediátricos ▫ Baixa capacidade de resposta ao estresse ▫ Baixas reservas funcionais • Pacientes deprimidos, nervosos ou irascíveis • Aspectos cirúrgicos ▫ Duração, complexidade, órgão comprometido, condições cirúrgicas e emergência • Fatores anestésicos ▫ Escolha do anestésico, técnica e duração da anestesia Bibliografia • Bille C, Auvigne V, Libermann S, Bomassi E, Durieux P, Rattez E. Risk of anaesthetic mortality in dogs and cats: an observational cohort study of 3546 cases. Vet Anaesth Analg 2012; 39:59-68. • Carter J, Story, DA. Veterinary and human anasthesia: na overview of some parallels and contrasts. Anaesth Intensive Care 2013; 41:710-718. • DeLay J. Perianesthesic mortality in domestic animals: a retrospective study of postmortem lesions and review of autopsy procedures. Veterinary Pathology 2016; 1-9. • Fantoni DT, Cortopassi SRG. Anestesia em cães e gatos. São Paulo: Roca, 2009. • Levy JK, Bard KM, Tucker SJ, Diskant PD, Dingman PA. Perioperative mortality in cats and dogs undergoing spay or castration at a high- volume clinic. Veterinary Journal 2017; 224:11-15. • Tranquilli WJ, Thurmon JC, Grimm KA. Lumb & Jones Anestesiologia e Analgesia Veterinária. São Paulo: Roca, 2014. 17/08/2017 8 Dúvidas?
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