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Teologia Sistemática III Aula 10: A Escatologia Cristã nas diversas tradições do cristianismo Apresentação Nesta aula, trataremos da variedade de concepções teológicas da escatologia no âmbito das diversas Tradições cristãs. O Cristianismo desenvolveu ao longo dos Milênios uma série de percepções e doutrinas acerca dos novíssimos, isto é, as coisas últimas da existência humana. A Morte, a Ressurreição, o Juízo Final, o Fim do Mundo, a Parusia, entre muitos temas foram se modi�cando na medida em que, de um lado, adensava-se a compreensão do Evento Cristo, a fonte da escatologia Humana, e do outro, as diversas tradições cristãs, sobretudo, a partir da Reforma Protestante (sec. XVI), assimilando e modi�cando as doutrinas escatológicas cristãs, segundo os contextos interpretativos em que se encontravam. Objetivos Listar as doutrinas escatológicas no Catolicismo Romano; Identi�car as diversas vertentes escatológicas no universo plural do Protestantismo. Palavras inicias A Escatologia, como vimos na aula anterior, não é um simples corolário da convicção da Ressurreição de Cristo, sendo, ao mesmo tempo, seu Fundamento. Como todas as formas de pensamento humano, podemos rastrear seu desenvolvimento. Não existe pensamento humano no vácuo, sem referências históricas. Fonte: pixabay Não se trata de reduzir a Doutrina, ou seja, a Revelação Divina a mero dado histórico, ao contrário, quando aceitamos a lógica Divina, da Encarnação, percebemos a relevância em não desencarnarmos os modos pelos quais, iluminados pelo Espirito Santo, a Igreja foi realizando (e continua) o itinerário da compreensão plena da Verdade (Jo 16,13). Por isso, exporemos a doutrina escatológica a partir da premissa de sua recepção histórica, presente e detectável já nas Sagradas Escrituras, no decorrer da História de Israel. Primeiramente, o Cristo é o fundamento da Escatologia, n’Ele se desenvolveu a nova e de�nitiva Lógica da redenção no tempo. O tempo redimido foi assumido pelo Verbo que se fez Carne (Jo 1, 14). O Contexto da nova escatologia se dá no fato que Cristo é a realização de�nitivas das Promessas feitas a Israel. Na verdade, a compreensão das Verdades Divinas reveladas se encontra disposta à nossa inteligência no âmbito das coisas históricas. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Uma verdade abstrata serve somente para explicitar uma falsa perenidade, pois, à moda platônica ideal, parece resistir intacta ao tempo, mas ao fugir da necessidade humana de con�gurar-se, permanece só... não morre... e assim, não fruti�ca na vida (Jo 12), na existência humana dos crentes. Atenção Em Jesus, Deus se diz e se revela inteiramente ao Homem, dizendo e revelando ao mesmo tempo o homem a si mesmo. Nele, a história e o cosmos adquirem uma signi�cação única. Contudo, o Homem, a história e o cosmos seguem, ainda, seu próprio curso. Deus não os obriga à cristi�cação, mas apresenta-lhes o modelo crístico como o único que pode levá-los à plenitude de sentido. O processo de conversão do Homem, da história e do cosmos ao Cristo é também feito da tensão inerente à escatologia do reino que se aproxima. No momento da acolhida deste reino, Deus se faz presente, lançando aquele que acolhe tal anúncio na aventura da esperança que o mesmo suscita. É essa a perspectiva que parece desdobrar-se no ínterim que separa a ressurreição da ascensão-pentecostes ou na espera pela Parusia, que caracteriza de forma acentuada as gerações que compuseram o NT. Assim, podemos avançar para os aspectos históricos da evolução do pensamento escatológico no interior das diversas tradições cristãs. Fonte: pixabay Escatologia Milenarista Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Segundo Costa (2008), tais projetos, projeções e esperanças, que de ordinário receberiam por quali�cação (geralmente negativa), no senso comum, o título de utopias, ao suporem a iminência da instauração do melhor dos mundos são aqui tomadas como resultantes de apropriações (mormente inconscientes) do milenarismo, como milenarismos implícitos. "Ora nos dias desses reis, o Deus do céu suscitará um reino que jamais será destruído e cuja realeza não será deixada a outro povo. Ele pulverizará e aniquilará todos esses reinos, e subsistirá para sempre" (Daniel 2:44) O termo messianismo é submetido aqui à mesma dilatação do raio de alcance aplicada ao termo anterior, uma vez que além de comunicar a crença no advento providencial (i.e., por obra e graça divina) de um personagem salví�co/redentor, remete também às expectativas seculares de reti�cação da realidade depositadas sobre homens ou coletividades que se tomavam por especiais. Por sua vez, o termo milenarismo tem, em primeiro plano, o sentido comum, e estrito, de crença religiosa na qual se projeta a concretização futura dos mil anos de paraíso terreal. Fonte: pixabay Entretanto, ainda no campo religioso, percebe-se o deslocamento desse sentido para um outro espaço, o celeste, de modo que essa conotação também será levada em conta aqui, principalmente porque a existência dessa segunda conotação, apesar de negligenciada pelos estudos milenaristas, divide, ainda em nossos dias, as opiniões sobretudo nos meios cristãos não católicos. Para além disso, levando-se em conta o religioso implícito em formulações seculares, aqui o termo milenarismo refere-se também a determinados projetos, projeções e esperanças que, com maior ou menor grau de so�sticação, estabeleciam, em imagens, uma espécie de enfrentamento (e, ao mesmo tempo, fuga) da história vivida tendo em vistas fundar (e tomar por refúgio) um futuro marcado pela superação das estruturas atuais do mundo e pela instauração de�nitiva de uma ordem caracterizada pela perfeição dos valores, das estruturas e das relações. Segundo Costa (2008), tais projetos, projeções e esperanças, que de ordinário receberiam por quali�cação (geralmente negativa), no senso comum, o título de utopias, ao suporem a iminência da instauração do melhor dos mundos são aqui tomadas como resultantes de apropriações (mormente inconscientes) do milenarismo, como milenarismos implícitos. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Escatologia messiânica Temas e ideias da antiga mitologia judaica e da especulação helenística compõem as diversas in�uências que determinamos nos escritos apocalípticos. Trata-se de uma verdadeira cosmovisão, que podemos traçar na estrutura dos apocalipses judaicos e cristãos. A fonte desta visão pode ser determinada pela antiga literatura bíblico-profética. A perspectiva desta escatologia apocalíptica pode ser entendida a partir da escatologia profética: comum entre ambas as perspectivas é a crença que, de acordo com o plano divino, as condições adversas do mundo presente podem terminar no julgamento do mal e na vingança dos Justos, abrindo assim uma nova era de prosperidade e paz. (Is 65,16b-17a), a ponto de serem vistas, tanto a escatologia profética como a apocalíptica, como dois lados da mesma moeda. Segundo Rowley (1980), o desenvolvimento de uma para a outra não é inelutavelmente cronológico, mas é inegável que ambas se entrelaçam com mudança nas condições sociopolíticas. Trata-se daquelas condições de mudança que inspiram uma interpretação baseada no desígnio Divino: o esforço humano vem selado pela intervenção divina favorável. Períodos de extremo sofrimento tendem a colocar em xeque a efetividade da reforma humana e assim propiciar uma radicalização da visão que a escatologia apocalíptica fornece da realidade, tendendo a propor uma rígida visão dualística da salvação divina, com a destruição deste mundo e a ressurreição do crente para a uma existência celestial abençoada. Milenarismo cristão Um simples sobrevoo sobre a longa história da Igreja mostra de que maneira evolui, não sem con�itos, a compreensão cristã primitiva sobre a escatologia após o período bíblico da formação e consolidação do Cânon,ou seja, no decorrer da história da Igreja ao longo dos milênios cristãos. No Universo do Catolicismo romano, diversos autores, entre os quais se destacam Agostinho de Hipona (sec. V), que, in�uenciado por seu contemporâneo Ticonius, irá sistematizar a vida apocalíptica católica, baseada no princípio da historização da Escatologia. As revoluções e novidades advindas dos �ns dos tempos ocorrem paulatinamente na Igreja (história), pois nesta se realizam as últimas coisas, prometidas por Cristo, antes de seu Retorno. Agostinho de Hipona (354 - 430)". Fonte: //www.filosofia.com.br/ Saiba mais Leia a História e milenarismo no apocalipse de João de Patmos e no expositio in apocalypsim de Joaquim de Fiore: um estudo comparativo. A Reforma Protestante e as Concepções Escatológicas javascript:void(0); javascript:void(0); Martinho Lutero por Lucas Cranach, o Velho. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Martinho_Lutero A reforma Protestante propugnada por Martinho Lutero no século XVI pode ser entendida no contexto teológico do séc. XVI, como uma luta escatológica contra a Igreja Católica. Isto é, ele entendeu que a corrupção do sistema religioso cristão era muito profunda. As concepções escatológicas que inauguram a reforma baseavam-se, por isso, numa concepção do mundo, que, a partir de diversas referências históricas, como Constantino (ano de 324 d.C.), ou a derrota da armada espanhola católica em 1588 para a inglesa protestante, somados aos 1.000 anos constituiriam os marcos de um novo Milênio. Os representantes da Reforma, por isso, um renascimento do milenarismo, entendido a partir da noção de eventos históricos extraordinários que inseririam o mundo, e as Igrejas no Armaghedon, na batalha �nal, pela puri�cação total. A recepção desta visão supõe a acolhida de uma teologia que anula a história como portadora de hecatombes em contraste com a visão de Agostinho. Atividade 1. O que signi�ca para a formação do pensamento escatológico cristão a noção de Milenarismo? javascript:void(0); 2. Em que se caracteriza a escatologia da Reforma Protestante e que elementos se distinguem? 3. O que é o fenômeno do Milenarismo cristão? a) Demagogia de seitas cristãs desenvolvidas ao longo dos séculos para atrair seguidores. b) A expectativa criada pela interpretação de textos apocalípticos sobre o futuro da Salvação em Cristo. c) Interferência da Cabala judaica na interpretação do livro do Apocalipse durante a Idade Média. d) Não existe milenarismo cristão, pois a fé não conhece crendices e superstições. e) O fenômeno se refere às expectativas de Davi e da descendência de Judá sobre o Cristianismo. Notas Referências ANCONA, G. A Escatologia Cristã. São Paulo: Loyola, 2013. COSTA, V. M. De medos e esperanças - Uma história das crenças apocalípticas, messiânicas e milenaristas no contexto do movimento de Belo Monte (1874-1902). Dissertação de Mestrado. Bahia: UFBA, 2008. Erickson, M. J. Escatologia. São Paulo: Vida Nova, 2010. LACOSTE, J. Y. História. In: LACOSTE, J.Y. Dicionário Crítico de Teologia. São Paulo: Paulinas e Loyola, 2004, p. 834-839. Lopes, E. P. Escatologia e milenarismo na história da igreja cristã. In: Ciências da Religião – História e Sociedade. v. 9, n. 1 , p. 46-73, 2011. Rowley, H. H. A Importância da Literatura apocalíptica. São Paulo: Paulinas, 1980. SANTOS, P. P. A. O Apocalipse Cristão e os Rolos de Qumran. Literatura e Movimentos apocalípticos no Mundo Antigo e suas relações com Projetos Contemporâneos. In: Communio, v. 22, n.1, p. 133-156, Rio de Janeiro, 2004. WERBICK, J. História/Agir de Deus. In: EICHER, P. Dicionário de Conceitos Fundamentais de Teologia. Petrópolis: Vozes, 1993, p. 351-361. Explore mais SANTOS, P. P. A. O Apocalipse Cristão e os Rolos de Qumran. Literatura e Movimentos apocalípticos no Mundo Antigo e suas relações com Projetos Contemporâneos. In: Communio, v. 22, n.1, p. 133-156, Rio de Janeiro, 2004.
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