Buscar

TEOLOGIA SISTEMÁTICA III-Aula 7 até a 10-Excelente ajuda para testes Simulados e ou Avaliação Final-AV

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 88 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 88 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 88 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Teologia Sistemática III
Aula 07: A Igreja no Novo Testamento
Apresentação
Nesta aula, estudaremos a Igreja à luz da Revelação do Novo Testamento. Pudemos ver antes, na aula anterior, de que maneira o Antigo Testamento delineou
profeticamente a figura da Igreja, em diversas etapas da História de Israel.
Agora iremos refletir como, a partir dos Evangelhos e dos outros textos do Novo Testamento, partindo de Jesus, a Igreja é o maior evento da Redenção em sua definitividade.
Passaremos, assim, pelos Evangelhos, pelas Cartas e pelo Apocalipse. Mas será mister aprofundar nosso estudo nos Atos dos Apóstolo, registro histórico-teológico da Igreja nascente.
Objetivos
Identificar de que maneira Jesus, em sua trajetória histórico-messiânica, funda a Igreja na pessoa dos Apóstolos/Discípulos;
Examinar a experiência da Igreja no Livro dos Atos dos Apóstolos e como a pena de São Lucas delineou a silhueta da Igreja apostólica (Pedro/Paulo);
Analisar, por fim, as experiências das Cartas Paulinas, do Evangelho e do Apocalipse de São João.
 (
(Fonte:
 
thanasus
 
/
 
Shutterstock)
)Jesus quis e fundou a Igreja?
Para falarmos da Igreja no Novo Testamento temos que apreciar primeiro a pergunta sobre as relações entre a existência de Igreja e a Pessoa de Jesus. De fato, o conceito teológico mais abrangente da Igreja é ser “de Cristo”.
Em que sentido na ação e ministério de Jesus se encontram alguns dos elementos essenciais do Mistério da Igreja? Podemos afirmar que Jesus quis e fundou a Igreja?
Um segundo elemento, que já estudamos e, por isso, se torna prévio às nossas reflexões eclesiológicas, é a Figura e Ação do Espírito Santo em relação à Igreja. Não por acaso, a dupla obra literária de São Lucas aponta para esta síntese: Onde está o Espírito Santo ali estará também a Igreja. Sem ele seria apenas um grupo empolgado de seguidores de um sujeito extraordinário.
Ao contemplar este tema, deparamo-nos com uma tarefa enciclopédica, pois se abre para nós uma nova perspectiva, de certa maneira infinita de possibilidades, graças à multiplicidade de conceitos e experiências de Igreja que encontramos ao longo dos diversos textos canônicos do Novo Testamento.
 (
Atenção!
 
Aqui
 
existe
 
uma
 
videoaula,
 
acesso
 
pelo
 
conteúdo
 
online
)
Saiba mais
Ora, por isso mesmo, traçaremos limites ao percurso pelo termo ekklesia no interior do Novo Testamento, restringindo-nos, assim, a alguns textos mais significativos na literatura Lucana, no Evangelho e nos Atos dos Apóstolos , na literatura Paulina, na qual faremos apenas uma breve alusão, tendo em vista a amplitude de uma tal empresa e, por fim, nos escritos Joaninos.
Na primeira parte de nossa exposição, buscaremos expor de modo sucinto os traços principais da eclesiologia bíblica, no âmbito dos Evangelhos Sinóticos e de Atos dos Apóstolos, onde se encontram juntos os dois paradigmas da realidade da Igreja no Novo Testamento.
De um lado, a experiência eclesiológica, como esta ocorre e vem experimentada. A Igreja
como realidade empírica.
Do outro, o conceito de Igreja, que surge da
consciência reflexiva, expressa na literatura
canônica como discurso de uma realidade.
Os textos do Novo Testamento que selecionamos servirão de janelas, pelas quais, de
certa maneira, pode-se captar o quadro geral da compreensão primitiva da Igreja sobre si mesma e também sobre o Espírito Santo, atuante e imprescindível nesse processo de autoconsciência eclesial.
Em seguida, esboçaremos um perfil da Igreja no âmbito da realidade Joanina, determinando aquilo que se pode demonstrar a partir de uma visão oblíqua desta realidade, extraída dos textos mesmos.
De fato, a expressão ekklesia ocorre raramente nos textos Joaninos do Evangelho e das Cartas, estando mais presente no texto do Apocalipse. Contudo, como no conjunto da tradição literária neotestamentária, não se determina de modo inequívoco por uma determinada conceituação que respondesse à pergunta:
Mas afinal de contas, o que é a Igreja?
Une-se a esta questão outro elemento, não menos complexo, que é a ação do Espírito Santo no contexto do Cristianismo Primitivo. Trata-se da Esperança messiânica que se realiza através da Doação do Espírito Divino como um Sinal dos novos tempos, a superação do Mal e a instauração do definitivo Eon. A Igreja é o Novo Israel!
E, ao mesmo tempo, o discurso que a Igreja elabora sobre esta presença pneumática
em sua própria maneira de agir e anunciar o Cristo como único Salvador.
 (
(Fonte:
 
legnda
 
/
 
Shutterstock)
)O Espírito Santo e o Mistério da Igreja no
Novo Testamento
É muito ampla e diversificada a afirmação de fé e, sobretudo, muito rica a experiência do Espírito Santo no Novo Testamento.
Aqui cabe uma análise do ponto de vista da Igreja, seja porque ela o experimenta, seja porque ela fala sobre Ele, formulando um artigo de fé, em que afirma a Personalidade do Espírito de Deus, revelado definitivamente em Jesus Cristo.
Como dissemos, o Espírito é um objeto complexo em relação à Igreja, pois, de um lado, Ele mediu o conhecimento que a Igreja tem de si própria e, por outro lado, é a Igreja que fixa uma linguagem sobre o Espírito que corresponda à consciência Divina da 3ª Pessoa da Trindade, como a conhecemos na linguagem da tradição ortodoxa.
A Igreja só conhece seu Mistério quando em contato com o Espírito, pois este dá acesso ao âmago do Cristo e, assim, ao epicentro de sua consciência enquanto Igreja.
A Perspectiva Igreja-Espírito na obra de Lucas-Atos
Leitura
Sobre este assunto leia:
RABUSKE, J. I. A IGREJA EM SUAS ORIGENS: Revisitando os Atos dos Apóstolos.
Teocomunicação 42/1, p. 5-18, 2012.
Muitos são os caminhos para demonstrar este axioma a partir do Novo Testamento. Assim, temos que enfrentar a questão sobre as relações históricas entre Jesus e a fundação da Igreja.
 Sobre Loisy e o Modernismo
 Clique no botão acima.
Tomamos aqui o termo modernismo em sentido teológico, sabendo embora que outros sentidos lhe andam também ligados, como são os sentidos literário e artístico. Em sentido teológico trata-se de um movimento desencadeado na Igreja Católica na viragem do séc. XIX para o séc. XX com o objetivo de adaptar a doutrina e as estruturas do catolicismo às tendências do pensamento
contemporâneo. Os adeptos deste movimento pretenderam assumir-se como renovadores da Igreja para melhor a adaptar às condições modernas do pensamento e da ação. Na medida em que este foi um movimento que partiu do interior da Igreja, e para defesa da mesma Igreja, os modernistas não desejaram, pelo menos à partida, romper com o catolicismo, mas adaptá-lo às exigências da modernidade, e por isso chegou a ser apresentado como uma autêntica renascença católica. Em 1900 Adolfo Harnack publica o seu livro A Essência do Cristianismo, enquanto Loisy inicia um curso de ciências religiosas na Escola de Altos Estudos.
FELICIO, M. R. A Viragem do século (XIX-XX). O Modernismo. Mathesis 11 (2002), 373-387. Disponível em:
//www4.crb.ucp.pt/biblioteca/Mathesis/Mathesis11/mathesis11_373.pdf Acesso em 31 de julho de 2019
Saiba mais
Leia também o documento oficial da Igreja sobre o Modernismo de Pio X.
Para esta corrente de pensamento já ultrapassada, a Igreja se institui a si própria diante da frustração da Parusia, entendida como tardia e, portanto, obrigando os dirigentes
eclesiásticos a remodelarem as expectativas e substituí-las por uma forma estável, institucional.
Os Evangelhos colocam o problema de outra maneira:
Cristo toma a iniciativa de compor um grupo de discípulos mais estreito às suas tarefas, que se distinguirá de outros, os 72 ou ainda discípulos da multidão, pela designação de ‘Apóstolos’.
É o que se lê, por exemplo em Lc 9, 1-6 e paralelos:
Reunindo Jesus os doze apóstolos, deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demônios, e para curar enfermidades. Enviou-os a pregar o Reino de Deus e a
curar os enfermos. Disse-lhes:“Não leveis coisa alguma para o caminho, nem bordão, nem mochila, nem pão, nem dinheiro, nem tenhais duas túnicas. Em qualquer casa em que entrardes, ficai ali até que deixeis aquela localidade. Onde ninguém vos receber, deixai aquela cidade e em testemunho contra eles sacudi a poeira dos vossos pés”. Partiram, pois, e percorriam as aldeias, pregando o Evangelho e fazendo curas por toda parte.
(Mt 14,1s = Mc 6,14ss)
 (
Atenção!
 
Aqui
 
existe
 
uma
 
videoaula,
 
acesso
 
pelo
 
conteúdo
 
online
)
Lumem Gentium, que lemos na aula passada, também indica elementos sobre esta questão das relações entre Cristo, em sua etapa histórica e a Igreja:
Veio pois o Filho, enviado pelo Pai, que n'Ele nos elegeu antes de criar o mundo, e nos predestinou para sermos seus filhos de adopção, porque lhe aprouve reunir n'Ele todas as coisas (cf. Ef 1, 4-5. 10). Por isso, Cristo, a fim de cumprir a vontade do Pai, deu começo na terra ao Reino dos Céus e revelou-nos o seu mistério, realizando, com a própria obediência, a redenção. A Igreja, ou seja, o Reino de Cristo já presente em mistério, cresce visivelmente no mundo pelo poder de Deus. Tal começo e crescimento exprimem-nos o sangue e a água que manaram do lado aberto de Jesus crucificado (cf Jo 19,34), e preanunciam-nos as palavras do Senhor acerca da Sua morte na cruz: “Quando Eu for elevado acima da terra, atrairei todos a mim” (Jo 12,32 gr). Sempre que no altar se celebra o sacrifício da cruz, na qual “Cristo, nossa Páscoa, foi imolado” (1 Cor 5,7), realiza-se também a obra da nossa redenção (LG 3).
(Paulo VI, 1965, 3) Disponível em: //www.vatican.va. Acesso em 31 de julho de 2019.
E ainda sob a lógica teológica do Reino de Deus (Mc 1,15: “Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo; fazei penitência e crede no Evangelho”), a mesma LG afirma:
O mistério da santa Igreja manifesta-se na sua fundação. O Senhor Jesus deu início à Sua Igreja pregando a boa nova do advento do Reino de Deus prometido desde há séculos nas Escrituras: “cumpriu-se o tempo, o Reino de Deus está próximo” (Mc 1,15; cf Mt 4,17). Pelo que a Igreja, enriquecida com os dons do seu fundador e guardando fielmente os seus preceitos de caridade, de humildade e de abnegação, recebe a missão de anunciar e instaurar o Reino de Cristo e de Deus em todos os povos e constitui o germe e o princípio deste mesmo Reino na terra. Enquanto vai crescendo, suspira pela consumação do Reino e espera e deseja juntar-se ao seu Rei na glória.
- (Paulo VI, 1965, 5.): cf.
//www.vatican.va
Aqui cabe recordar que os estudiosos falam de Atos dos Apóstolos como obra histórico-teológica sob a égide do Evangelho Lucano que, de certa maneira, estende-se e autoexplicita-se na história e na práxis da Igreja das primeiras horas.
Nesses relatos surge um elemento
comum e paralelo entre o Espírito e a Igreja, em relação a Jesus o Cristo: o testemunho. Em todos eles o testemunho é ocular (trata-se de experiência da visão profético-pneumática). Por isso estes são considerados as testemunhas que
corroboram aos leitores/ouvintes do Evangelho seu caráter de portadores de anúncio do Evento Divino.
Esse processo encontra-se de modo definitivo e acabado nos Discursos de Pedro e dos Apóstolos nos Atos. Trata-se de uma voz humana. Divina aquela da Igreja, que anuncia e realiza com serrais o Evento Redentor e seu Epicentro no mundo! (Ao lado da autoridade Pétrea, aquela de Tiago cf. Atos 15,28).
Aqui, ressalta-se o centro da consciência da Igreja. Ela viu e sabe o que viu. Ele diz e afirma aquilo que Deus fizera através da Mediação Definitiva de seu Filho Jesus de Nazaré (cf Joel 3 coloca o acento da Revelação da Igreja sob a égide da escatologia pneumática, típica do ambiente primitivo).
Dois elementos unem-se e complementam-se nos textos da obra Lucana: Sinais- milagres, isto é, evento numinoso da continuidade histórica de Jesus o Ressuscitado em relação à sua Igreja, e a revelação do Plano Significado de sua obra. Ação Divina e
acesso a significação, ou seja, a consciência de ser intérprete autorizada dos Eventos que sinalizam uma Presença Potente. Pedro, na primeira parte de Atos, sinaliza no seu apostolado os gestos e situações de Jesus: ele sofre espancamentos (At 5, 40; 12,1-14), sua sombra cura doentes (At 5, 15s) e ele ressuscita uma pessoa (Tabita: At 9,37).
A Perspectiva Igreja-
Espírito no “Corpus Paulinum”
Não poderíamos abandonar o Novo Testamento sem uma rápida, mas
 (
(Fonte:
 
Janece
 
Flippo
 
/
 
Shutterstock)
)conclusiva, visão da obra Paulina nas Cartas. O Primeiro testemunho literário cristão, as cartas autênticas e dêuteropaulinas, oferece-nos um memorial muito importante da relação entre o Espírito e a missão-essência da Igreja.
Aqui é irrefutável dizer que Lucas-Paulo- João, como o conjunto dos textos canônicos do Novo Testamento, se inter- relacionam profundamente e ao mesmo tempo distinguem-se entre si como uma característica própria ao ambiente do Cristianismo Primitivo. Isto é, unidade e diferença equilibram-se sobre o fundamento de uma experiência de
Revelação e Testemunho do Conteúdo Vital da Redenção.
Arauto de Cristo, a Eclesiologia Paulina exibe traços carismáticos evidentes. Trata-se de uma forma social que se autocompreende a partir da Revelação do Espírito de Cristo.
Paulo entende que conhecer Cristo se realiza na Igreja.
Isto fica patente em sua própria experiência pessoal de Conversão na qual a Igreja e Cristo se identificam: At 9, 4s (Caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia:
 (
(Fonte:
 
Casezy
 
idea
 
/
 
Shutterstock)
)“Saulo, Saulo, por que me persegues?”. Saulo disse: “Quem és, Senhor?”
Respondeu ele: “Eu sou Jesus, a quem tu persegues. [Duro te é recalcitrar contra o aguilhão]) pois aquilo que somos eclesialmente realiza-se somente na explicita comunhão com Ele, por meio do Dom e da Promessa (cf Rm 8,10).
A Igreja em João e o Evangelho de João na Igreja
O Cristianismo (Eclesialidade) em João é considerado distinto no que tange à questão do conceito de Igreja nos Escritos Joaninos e da discussão do uso destes documentos, particularmente do Evangelho, na Igreja Antiga.
Mesmo não encontrando o termo ekklesia no Evangelho, a discussão coloca-se a partir de textos como:
Jo 10, 1-10; 15, 1-15, ou ainda o cap 17 com a oração sacerdotal de Jesus, mais claramente ainda nos discursos de Adeus (Jo 14-16).
Nestes discursos sublinha-se uma relação de continuidade entre Jesus Glorificado e a comunidade dos seus discípulos, indicando-nos assim uma forma de concepção Joanina de Igreja (suposição que encontra certa confirmação em 1 Jo).
O problema se coloca sobre a possibilidade de deduzir uma concepção Joanina de Igreja a partir de textos Joaninos relevantes.
O autor cita a discussão entre E. Schweizer, como representante da visão protestante e
R. E. Brown, como representante da tese católica.
Para Smith, mesmo considerando o valor do debate dogmático, isto é, sobre a doutrina eclesiológica desenvolvida tanto em campo católico como naquele Protestante, o
conceito de comunidade cristã ou Igreja não seria irrelevante para a definição e a
compreensão da realidade específica, concreta e histórica do Cristianismo Joanino.
Assim, enquanto o conceito de comunidade cristã ou da Igreja, na literatura Joanina,
certamente não é irrelevante para a definição e a compreensão da realidade concreta e específica da história do cristianismo Joanino, o esclarecimento deste conceito pode ser possível com base na própria exegese (SMITH, 1987, p. 3, tradução nossa).
Atenção
É importante ainda ressaltar que a exegese destas perícopes discutidas deverá ajudar- nos a superar o conflito das interpretações para obter a visão mais objetiva possível desta realidade eclesial tão específica.
Elementos Eclesiológicos nos Escritos
Joaninos
I. Segregação-Separação
Uma simples leitura de diversos textos Joaninos deixa-nos a impressão de que por detrás de certas expressões existe um claro sentimento de distinção ou mesmo separação do que os circundava.Encontra-se, porém, nos textos Joaninos certa
concepção de missão.
Diversos elementos diferenciam a eclesiologia, isto é, a compreensão da Igreja na tradição Joanina em relação aquela Paulina ou Lucana. Destacam-se, entre outros elementos, os seguintes:
O Paráclito
Clique nos botões para ver as informações.
A questão da Pneumatologia seria um elemento importante na identificação dos elementos Joaninos (isto é, do material propriamente Joanino). O mais importante é a possibilidade de afirmar que os discursos de Jesus sobre o Espírito constituem, verdadeiramente, o principal material de constatação da existência de um conteúdo tradicionalmente joanino. Temos, entre os Capítulos 14-16, os discursos de Adeus sobre o Espírito e a Igreja, que constituem a matéria básica da identidade e da missão nas Igrejas Joaninas.
A Figura do Discípulo Amado
Esta figura tem uma significativa importância para o problema das origens do Joanismo. No cap. 21, ele é apresentado como uma figura histórica, conhecida por todos. Ele representa, desde o princípio, um elo entre a Teologia dos Escritos e a Tradição.
Neste sentido, os círculos de tradição Joanina, por meio do Discípulo Amado, eram associados à pregação genuína de Jesus, Ele mesmo. Pelo “nós”, presente em tantos textos do Evangelho e da Iª Carta, eles sentiam-se em continuidade com a Tradição de Jesus Histórico. Como testemunha desta Tradição de Jesus.
Outra maneira de afirmar este campo comum à chamada Tradição Joanina é o uso polêmico entre os diversos setores ao interno do ambiente Joanino em relação à interpretação ortodoxa (autêntica) da mesma tradição. Apesar da característica autonomia da tradição Joanina, esta encontra seu terreno de nascimento e evolução no solo comum das tradições da Igreja Primitiva.
O ambiente profético-carismático:
Outro elemento característico muito importante no Joanismo seria a atividade profético-carismática, que desempenhava um papel importante no desenvolvimento da Tradição Joanina. Se o Judaísmo sectário era presente na germinação da
Tradição Joanina, a profecia inspirada poderia muito bem prover uma ocasião específica para a emergência da afirmação cristã-joanina, na forma de Palavras de Jesus.
Contudo, este fenômeno se estenderia, sem dúvida, a toda literatura neotestamentária como uma forte característica do ambiente religioso da Cristandade Primitiva.
Dentro desta perspectiva, torna-se importante considerar o fenômeno da profecia inspirada e itinerante dentro do âmbito do movimento eclesial Joanino, como um dos elementos que ajuda a estabelecer a origem social e eclesial da pneumatologia e também como um elo de relação entre os escritos joaninos.
Vê-se nos ditos do Paráclito de 14, 5-6 e 16, 12-15, a enunciação de uma teoria sobre o fenômeno de expressão inspirada pelo espírito que visa, por um lado, fundamentar-se no próprio ministério histórico de Jesus e assim validá-lo (14, 26) e, por outro, conferir algum controle sobre ele, colocando-o dentro do contexto para uma representação de Jesus que não era apenas a palavra se tornar carne, mas aquele que falava palavras com o status irrevogável dos mandamentos divinos.
Quando na 1 Jo vê-se os vestígios do mesmo aspecto problemático do processo Joanino de criatividade inspirada pelo espírito, descobre-se que o autor invoca reiteradamente a Tradição (1, 1-4) como a pedra de toque da crença e a impõe a seus leitores para testar todo espírito (4, 1-6).
A Igreja no Livro do Apocalipse
 (
(Fonte:
 
Wesley
 
Almeida
 
/
 
cancaonova.com)
)
Se, a tradição Joanina das Igrejas estabelece-se, como vimos, a partir de uma leitura crítica do Evangelho/Cartas Joaninas, o Apocalipse une-se a este bloco, mesmo com profundas diferenças, sobretudo pela característica atividade profético-carismática da Comunidade dos profetas-Irmãos de João, o Vidente.
I. Apoc 1,10: Uma Joanina experiência “profética”?
Estamos diante de um elemento constitutivo da experiência “profética” neotestamentária, ou melhor, cristã?
Já no Antigo Testamento, os profetas experimentam a visão como instrumento privilegiado na Revelação Divina.
Na profecia clássica não ocorrem, como no ciclo de Elias e Eliseu e nas corporações proféticas, o fenômeno de uma recepção extática ou espetacular do Espírito por parte dos ungidos ou dos profetas. Parece que o próprio João reconhece-se, na linguagem desta experiência, inserido dentro da esfera profético-comunitária.
João descreve as circunstâncias da sua chamada como uma atividade profética, pois com o Espírito se estabelece um contato particular, novo, ao ponto de o Espírito tornar- se como âmbito no qual ele se move.
A Igreja no Apocalipse situa-se na experiência da visão/audição do vidente de Patmos (cf Ap 1,10; 4,2), no contexto da profecia cristã primitiva, sobretudo no atormentado momento eclesial sob o domínio de Domiciano.
São-nos revelados aspectos da vida da Igreja no período do cumprimento escatológico da promessa e do retorno glorioso de Cristo diante das concretas circunstâncias da perseguição e do sofrimento por causa do Evangelho.
 (
Atenção!
 
Aqui
 
existe
 
uma
 
videoaula,
 
acesso
 
pelo
 
conteúdo
 
online
)
Eu, João, vosso irmão e companheiro nas tribulações, na realeza e na paciência em união com Jesus, estava na ilha de Patmos por causa da Palavra de Deus e do testemunho de Jesus. Em um domingo, fui arrebatado pelo Espírito, e ouvi, por trás de mim, voz forte como de trombeta (Ap 1, 9s).
Para compreender a expressão de Ap 1,10, deve-se partir da premissa da mudança de papel da parte do Vidente, pois seu banimento teria sido o trauma mais forte no
conjunto das situações de tensão no interior das Igrejas. Ele se vê praticamente obrigado a escrever, a manter uma relação de correspondência com suas comunidades, que se tornam seus leitores.
Assim ele tenta demonstrar. A linguagem profética de João é justificada pela sua distância física, mas também pelo fato de que aqueles a quem ele envia sua mensagem (revelação) são, como ele, profetas, isto é, possuem o mesmo Espírito.
Por trás disso fundamenta-se a relação entre o livro e sua mensagem: a communitas, razão pela qual encontramos tal linguagem e um semelhante vocabulário difuso na
cultura apocalíptica do mundo mediterrâneo e da Ásia Menor de então, devidamente transformada, ou melhor, adaptada ao patrimônio (de fé) comum ao autor e às Igrejas do Apocalipse (como vemos nas Cartas às 7 Igrejas: Ap 2,1-3,22).
O Vidente de Patmos se autocompreende e se apresenta às comunidades baseado sobre a autoridade deste múnus profético e suas visões consistiriam em profecias de sustento e encorajamento.
“Quem tiver ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas”
Neste momento terá lugar de relevo a questão do falar do Espírito, particularmente na seção de Ap 2–3, nas mensagens às Igrejas (comunidades) da Ásia Menor. Esta questão funcionará para compreender e situar o fenômeno da Profecia, como um fator enfático na relação lógica entre o Espírito e a Igreja, delineada a partir da irrupção deste Espírito. Na História, a Igreja atua A Palavra de Deus e o Testemunho de Jesus diante do mundo hostil.
Atividade
1. A partir da leitura de A Igreja em suas origens: Revisitando os Atos dos Apóstolos, indique alguns elementos da Igreja nos Atos dos Apóstolos que sejam mais
característicos dela.
2. Em Ap 1,9-10, encontra-se uma citação sobre o Espírito e a Profecia. Explique de que maneira eles se relacionam na Igreja do Apocalipse.
3. A palavra Igreja vem do grego, ecclesia, que significa assembleia ou reunião. O que isso pode significar na realidade e na atuação das igrejas? Escolha a resposta CORRETA:
a) As igrejas devem, por isso, incentivar a fé pessoal e dissociada das relações sociais.
b) A atuação das igrejas deve realizar exclusivamente nas redes sociais que congregam as pessoas.
c) A Igreja é fruto das sociedades, sem as quais ela não tem sentido e razão de ser.
d) As igrejas são assembleias de privilegiados, de poucos que podemse salvar deste mundo.
e) A Igreja é sinal de unidade e de reunião de todos os Povos para a Salvação em Cristo.
Referências
SANTOS, P. P. A. O Espírito e a Igreja: As perspectivas do Novo Testamento, em particular dos Escritos Joaninos. Atualidade Teológica 21, p. 73-93, 2002.
ROLOFF, J. A Igreja no Novo Testamento. São Leopoldo: Sinodal, 2005.
RABUSKE, J. I. A IGREJA EM SUAS ORIGENS: Revisitando os Atos dos Apóstolos. Teocomunicação 42/1, p. 5-18, 2012.
Próxima aula
Questão da Igreja nas diversas tradições cristãs;
Ecumenismo.
Explore mais
Leia os textos:
UNITATIS REDINTEGRATIO. SOBRE O ECUMENISMO;
Re-pensando ecumenismo;
BRAKEMEIER. ECUMENISMO: REPENSANDO O SIGNIFICADO E A ABRANGÊNCIA DE UM TERMO. Persp. Teo. 33, p. 195-216, 2001;
WOLFF, E. O ecumenismo no horizonte do Concílio Vaticano II. Atualidade Teológica.
Ano XV nº 39, p. 403-428, 2011;
ALTMANN, W. EVANGELIZAÇÃO: Reflexão a partir de Lutero e no contexto
ecumênico protestante mundial. Estudos Teológicos. v. 16, n. 1, p. 18-29, 1976.
Teologia Sistemática III
Aula 08: A Igreja nas diversas tradições cristãs
Apresentação
Nesta aula, exploraremos uma das tarefas mais complexas na vida das igrejas
cristãs no século XX, o Ecumenismo. Aqui chamamos de complexa, pois se viveu durante séculos em uma atmosfera de contendas e conflitos violentos entre cristãos. Guerras, mortes, difamações e perseguições recíprocas construíram muros quase intransponíveis.
Mas o século XX, após o pavoroso panorama do Nazismo e da Segunda Guerra, exigiu novos comportamentos que buscassem construir uma atmosfera de paz e diálogo entre os povos.
A Religião e o próprio Cristianismo não poderiam ficar fora desse esforço humanitário. Religião, que indica não só comunhão com o Divino, com o
Transcendente, mas também união entre os seres humanos, a construção de uma rede fraterna e solidária.
As palavras voam velozes e lisonjeiras, mas a realidade é mais complicada. Nela sempre temos um arsenal de motivos para estar separados e em conflitos.
Por isso, pode-se denominar o Ecumenismo como a arte do Espírito Santo nas Igrejas de Cristo. Uma verdadeira revolução nos comportamentos e métodos de evangelização cristã.
Objetivos
Examinar os significados e desafios do conceito e da experiência do
Ecumenismo;
 (
(Fonte:
 
Sogno
 
Lucido
 
/
 
Shutterstock)
)Analisar, no estudo do Ecumenismo, os aspectos teológicos do Diálogo entre as igrejas cristãs.
Os dois fundamentos
Partiremos de dois Princípios fundamentais para iniciar nossa aula:
O primeiro fundamento se origina da Cristologia: a Fé em Cristo produz e garante a unidade dos cristãos?
O segundo fundamento perpassa a Eclesiologia: de que maneira a Igreja de Cristo
se traduz em diversas igrejas particulares e separadas?
O Documento Unitatis Redintegratio (a
Reintegração da Unidade)
Com alguns conceitos deste documento do Vaticano II, passamos às análises sobre a questão do Ecumenismo.
I. Significado
A palavra é de origem grega e significa o universo (casa) dos habitantes que
compartilham algo em comum entre si, mesmo pertencendo a etnias e regiões diversas do mundo:
Essa palavra tem origem no vocábulo grego oikoumene. Este, por sua vez, é derivado da palavra oikos, que significa casa, lugar onde se vive, espaço
onde se desenvolve a vida doméstica, onde as pessoas têm um mínimo de
bem-estar. Ecumênico significa abranger toda espécie humana, em sentido UNIVERSAL.
Esta universalidade engloba pelo menos as seguintes dimensões:
 (
1
) (
2
)
Geográfica
Se estende a todos os lugares e recantos da terra.
Cultural
Envolve os povos de diversas culturas ou modos de viver.
 (
3
)
Política
Considera todos os povos, independentemente do sistema político em que vivam.
 (
4
)	 (
5
)
De gênero
Supera as discriminações de gênero ou identidade sexual.
Social
Supera as discriminações sociais e de classe.
 (
6
)
Racial
Supera as discriminações raciais ou as decorrentes da cor da pele.
Saiba mais
Sobre uma visão ecumênica não católica do Concilio Vaticano II, em particular deste Documento Unitatis Redintegratio: PEREIRA, G. L. Direções para a espiritualidade ecumênica: um olhar de um não católico sobre Unitatis Redintegratio. Atualidade Teológica 53, p. 281-293, 2016.
No Novo Testamento, essa palavra é usada em várias ocasiões para se referir ao mundo inteiro, a toda a terra e ao mundo vindouro.
Mateus 24, 14.
Lucas 2, 1; 4, 5; 21, 26.
Atos 11, 28.
Romanos 10, 18.
Hebreus 1, 6;2, 5.
Apocalipse 12, 9.
Promover a restauração da unidade entre todos os cristãos (1) é um dos principais propósitos do sagrado Concílio Ecumênico Vaticano II. Pois Cristo Senhor fundou uma só e única Igreja (2). Todavia, são numerosas as Comunhões cristãs que se apresentam aos homens como a verdadeira herança de Jesus Cristo (3). Todos, na verdade, se professam discípulos do Senhor, mas têm pareceres diversos e caminham por rumos diferentes (4), como se o próprio Cristo estivesse dividido (Unitatis Redintegratio 1:) cf Fonte: //www.vatican.va.
 (
Atenção!
 
Aqui
 
existe
 
uma
 
videoaula,
 
acesso
 
pelo
 
conteúdo
 
online
)
 Unitatis Redintegratio (UR)
 Clique no botão acima.
O significado conotativo é mais complexo e desafiador. Partimos das definições dadas no documento Unitatis Redintegratio (UR):
a) Restauração da unidade entre todos os cristãos (UR 1)
Esta é a definição da tarefa ecumênica. Dar voz e corpo à vocação originária dos cristãos, a unidade. Encontrar aspectos comuns e válidos proveniente do Depósito da Fé, que estabeleçam pontes entre todos aqueles que professam a Fé em Cristo no mundo inteiro.
b) Pois Cristo Senhor fundou uma só e única Igreja (UR 1)
Este é um dos pontos mais complexos no diálogo ecumênico. Cristo que funda uma única Igreja. Na verdade, segundo o Novo Testamento, há um único Pastor, mas muitos rebanhos. A Igreja apostólica é a única igreja fundada pela morte e ressurreição de Cristo.
c) Todavia, são numerosas as Comunhões cristãs que se apresentam aos homens como a verdadeira herança de Jesus Cristo
Aqui se coloca o entrave entre a história, em sua sucessão de eventos concretos e os Princípios que pairam como critério sobre os fatos. De um lado, uma fé
confessada sobre os quatro Evangelhos, do outro, o desenvolvimento de
tradições eclesiásticas que se distinguem e identificam às vezes em contrastes as diversas identidades cristãs. Numerosas e contrastantes.
d) Todos, na verdade, se professam discípulos do Senhor, mas têm pareceres diversos e caminham por rumos diferentes.
O conceito de discípulos do Senhor reorganiza a vida eclesial. Não são as igrejas e suas estruturas o centro da questão ecumênica, mas o discipulado de Cristo, em torno do qual se legitimam as confissões cristãs.
II. Princípios Teológicos (Cristológico)
 (
(Fonte:
 
Igoror
 
/
 
Shutterstock)
)Jo 10. 16:
Tenho ainda outras ovelhas que não são deste aprisco. Preciso conduzi-las também e ouvirão a minha voz e haverá um só rebanho e um só pastor.
Efésios 4:1-6
 (
(Fonte:
 
Igoror
 
/
 
Shutterstock)
)Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz.
Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; Um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos vós.
Por isso, muitas igrejas cristãs entenderam seu dever de buscar a unidade, construir uma cultura religiosa e teológica para reintegrar-se na unidade (Unitatis Redintegratio).
 (
(Fonte:
 
Maleo
 
/
 
Shutterstock)
) (
Atenção!
 
Aqui
 
existe
 
uma
 
videoaula,
 
acesso
 
pelo
 
conteúdo
 
online
)
Diálogos da Igreja Católica
A Igreja Católica, desde seu último Concílio (VaticanoII: 1962-1965), tem realizado esforços para realizar e concretizar práticas ecumênicas dentro de seu rebanho e estabelecer cada vez mais um diálogo frutuoso com as outras denominações cristãs.
I. Concílio Vaticano
 (
(Fonte:
 
Zaur
 
Rahimov
 
/
 
Shutterstock)
)O Concílio Vaticano II (CVII), XXI Concílio Ecumênico da Igreja Católica, foi
convocado no dia 25 de Dezembro de 1961, através da bula papal Humanae salutis, pelo Papa João XXIII. Este mesmo Papa inaugurou-o, a ritmo extraordinário, no dia 11 de outubro de 1962. O Concílio, realizado em 4 sessões, só terminou no dia 8 de dezembro de 1965, já sob o papado de Paulo VI. Nestas quatro sessões, mais de 2.000 Prelados
convocados de todo o planeta discutiram e regulamentaram vários temas da Igreja Católica. As suas decisões estão expressas nas 4 constituições, 9 decretos e 3 declarações elaboradas e aprovadas pelo Concílio.
(Font: //www.vatican.va)
II. Conselho Mundial das Igrejas
Este esforço já se concretizara também com a criação do Conselho Mundial das Igrejas que se dispôs a congregar e animar o diálogo e a convivência entre as diversas denominações cristãs:
 (
(Fonte:
 
Jambronk
 
/
 
Shutterstock)
)O Conselho Mundial de Igrejas (CMI - World Council of Churches, WCC) é a principal organização ecumênica em nível internacional, fundada em 1948, em Amsterdam, Holanda. Com sede em
Genebra, Suíça, o CMI congrega mais de 340 igrejas e denominações em sua membresia. Estas igrejas e
denominações representam mais de 500 milhões de fiéis presentes em mais de 120 países.
O atual secretário geral do CMI é Olav Fykse Tveit, luterano da Noruega, e o Moderador do Comitê Central é Walter Altmann, luterano do Brasil, eleito após a IX Assembleia Geral, realizada em Porto Alegre, Brasil, em fevereiro de 2006. Entre seus membros estão igrejas protestantes e ortodoxas, além de algumas
denominações pentecostais (evangélicas) e independentes.
A Igreja Católica não tem nenhum vínculo e não faz parte da organização, mas tem com ela um grupo de trabalho permanente e participa como membro pleno de algumas
comissões, como a Comissão de Fé e Ordem, e a Comissão de Missão e Evangelismo. Atualmente propugna-se por um Fórum Cristão Global, num intento sem vínculos institucionais, de trazer a uma só mesa de diálogo todas as grandes famílias cristãs: ortodoxa, católica, anglicana e protestante (incluindo esta última aos pentecostais ou evangélicos).
Após terem sido realizados encontros regionais - o Fórum Cristão Global Latino- americano e Caribenho tendo sido realizado em junho de 2007, em Santiago do Chile -, realizou-se o primeiro Fórum Cristão Global em Limuru, no Quênia, em novembro de 2007.
Ecumenismo
Importante retomarmos nossa leitura sobre os princípios teológicos do Ecumenismo:
O Senhor dos séculos, porém, prossegue sábia e pacientemente o plano de sua graça a favor de nós pecadores. Começou ultimamente a infundir de modo mais abundante nos cristãos separados entre si a compunção de coração e o desejo de união (1). Por toda a parte, muitos homens sentiram o impulso desta graça. Também surgiu entre os nossos irmãos separados, por moção da graça do Espírito Santo, um movimento cada vez mais intenso em ordem à restauração da unidade de todos os cristãos. Este movimento de unidade é chamado ecumênico. Participam dele os que invocam Deus Trino e confessam a Cristo como Senhor e Salvador, não só individualmente, mas também reunidos em assembleias (2). Cada qual afirma que o grupo onde ouviu o Evangelho é Igreja sua e de Deus. Quase todos, se bem que de modo diverso, aspiram a uma Igreja de Deus una e visível, que seja verdadeiramente universal e enviada ao mundo inteiro, a fim de que o mundo se converta ao Evangelho e assim seja salvo, para glória de Deus (3).
A Eclesiologia é outro princípio importante sobre a questão ecumênica. Trata-se de uma teologia acerca da Igreja.
O ecumenismo não é uma estratégia de boa vizinhança, mas um gesto de Fé. A Igreja é sinal da Unidade Humana adquirida pela Cruz e Ressurreição de Cristo, um desejo de Cristo.
 (
(Fonte:
 
thanasus
 
/
 
Shutterstock)
)
a) Começou, ultimamente, a infundir de modo mais abundante nos cristãos separados entre si a compunção de coração e o desejo de união. Os cristãos, espalhados em diversas denominações, devem se interessar pelo diálogo, o mesmo que a Igreja de Pedro e Paulo, nos Atos dos Apóstolos, estabeleceu com Judeus e Gregos.
b) Por toda a parte, muitos homens sentiram o impulso desta graça. Também surgiu entre nossos irmãos separados, por moção da graça do Espírito Santo, um movimento cada vez mais intenso em ordem à restauração da unidade de todos os cristãos. Este movimento de unidade é chamado ecumênico. Participam dele os que invocam Deus Trino e confessam a Cristo como Senhor e Salvador, não só individualmente, mas também reunidos em assembleias.
Uma ação do Espírito Santo, isso define o desejo irresistível dos cristãos separados propensos à UNIDADE: “um movimento cada vez mais intenso em ordem à restauração da unidade de todos os cristãos”.
 (
Atenção!
 
Aqui
 
existe
 
uma
 
videoaula,
 
acesso
 
pelo
 
conteúdo
 
online
)
Atenção
O Ecumenismo, por isso, supõe dois elementos uníssonos: de um lado a Pneumatologia, que já pudemos apreciar em aulas passadas e, do outro, o primeiro fruto de Pentecostes, a Igreja, Mistério da Comunhão com Deus e entre os Homens.
Este é o sagrado mistério da unidade da Igreja, em Cristo e por Cristo, realizando o
Espírito Santo a variedade dos ministérios. Deste mistério o supremo modelo e princípio é a unidade de um só Deus, o Pai e o Filho no Espírito Santo, na Trindade de pessoas (UR 2)
(Fonte: //www.vatican.va)
Aqui as Igrejas se inspiram nas palavras de São Paulo, citada acima em Ef 4:1-6. Será que este será o rumo do futuro? Igrejas com diferenças tão profundas serão capazes de produzir líderes menos sectários?
Video
Vejam este vídeo: União das igrejas e a profecia.
Um movimento ecumênico mundial?
Por movimento ecumênico entendem-se as atividades e iniciativas, que são suscitadas e ordenadas, segundo as várias necessidades da Igreja e oportunidades dos tempos, no sentido de favorecer a uestanidade dos cristãos (1). Tais são: (2) primeiro, todos os esforços para eliminar palavras, juízos e ações que, segundo a equidade e a verdade, não correspondem à condição dos irmãos separados e, por isso, tornam mais difíceis as relações com eles; (2) depois, o «diálogo» estabelecido entre peritos competentes, em reuniões de cristãos das diversas Igrejas em Comunidades, organizadas em espírito religioso, em que cada qual explica mais profundamente a doutrina da sua Comunhão e apresenta com clareza as suas características.
Com este diálogo, todos adquirem um conhecimento mais verdadeiro e um apreço mais justo da doutrina e da vida de cada Comunhão. (3) Então estas Comunhões conseguem também uma mais ampla colaboração em certas obrigações que a consciência cristã exige em vista do bem comum. E onde for possível, reúnem-se em oração unânime. (4) Enfim, todos examinam a sua fidelidade à vontade de Cristo acerca da Igreja e, na medida da necessidade, levam vigorosamente por diante o trabalho de renovação e de reforma (UR 4)
Fonte: //www.vatican.va
Quatro aspectos nos ajudam a entender com lucidez quais seriam as propostas e desafios às eclesialidades cristãs diante da tarefa ecumênica.
I. Primeiro
Clique nos botões para ver as informações.
As atividades e iniciativas, que são suscitadas e ordenadas, segundo as várias necessidades da Igreja e oportunidades dos tempos, no sentido de favorecer a unidade dos cristãos.
É preciso traçar com clareza o significado do movimento ecumênico, em um
contexto socioeclesial, e todas as forças sociais empregadas na construção de um diálogo efetivo e concreto entre cristãos.
O ecumenismo, por suas óbvias dificuldades, exige um conjunto de ações ordenadas pelo sopro do Espírito Santo, que orienta as Igrejas na construção de horizontes mais francos de unidade.
II. Segundo
O diálogo estabelecidoentre peritos competentes, em reuniões de cristãos das diversas Igrejas em Comunidades, organizadas em espírito religioso, em que cada qual explica mais profundamente a doutrina da sua Comunhão e apresenta com clareza as suas características.
O estabelecimento do diálogo significa uma ativação lúcida e humilde da vontade firme de criar pontes, escutas e conhecimento recíproco. Constitui a etapa mais difícil e fundamental na construção de um verdadeiro ecumenismo. Não há unidade sem conhecimento recíproco e aceitação dos valores do outro.
Ao mesmo tempo, este diálogo exigirá dos peritos competentes que dialoguem entre tradições que passaram séculos se ofendendo e por isso se desconhecem e não se respeitam. Exigirá também um grupo especializado em conhecer a verdade do outro e expor a própria. O diálogo não se estrutura à base de opiniões e
preconceitos. Tudo começa com a disposição eclesial de se colocar em escuta recíproca.
III. Terceiro
Também uma mais ampla colaboração em certas obrigações que a consciência cristã exige em vista do bem comum.
Estabelecidas as bases de conhecimento recíproco, por meio do diálogo, criam-se as condições para uma convivência que respeite os valores alheios.
Nesse momento, nascerá a ocasião de colaborar, em particular na construção de um mundo, do entorno das igrejas, mais semelhante. O diálogo ecumênico sem ação social comum entre as igrejas cristãs indica uma ação estéril entre amigos e
não transforma as energias boas do diálogo em bem repartido com o mundo (bem comum).
IV. Quarto
Todos examinam a sua fidelidade à vontade de Cristo acerca da Igreja e, na medida da necessidade, levam vigorosamente por diante o trabalho de renovação e de reforma.
Alguns conceitos-experiências brotarão frutuosos da consecução de atividades
ecumênicas entre igrejas somente se, como resultado do diálogo ecumênico, surgir nas igrejas, graças ao conhecimento daquilo que o Espírito Santo suscitou em todos os cristãos, um renovado e decidido trabalho de renovação e reforma.
Não se edifica a unidade com mesmices e apegos orgulhosos. Somente com uma
corajosa humildade oriunda do reconhecimento recíproco o ecumenismo levará as igrejas a um verdadeiro desenvolvimento.
Atividade
1. Jo 10. 16: Leia esta passagem no seu contexto e, tendo em conta o conceito de ecumenismo, explique o que Jesus afirmou nesta passagem.
2. “Também uma mais ampla colaboração em certas obrigações que a consciência cristã
Rexeigfeeermênvicsitaasdo bem comum”. De acordo com esta passagem de UR existe uma relação entre o ecumenismo e ao bem comum. Explique esta ilação.
ALTMANN, W. Evangelização: Reflexão a partir de Lutero e no contexto ecumênico protestante mundial. Estudos Teológicos. v. 16, n. 1, p. 18-29, 1976.
BRAKEMEIER, G. Ecumenismo: Repensando o significado e a abrangência de um termo. Persp. Teo. 33, p. 195-216, 2001.
ROTTERDAN, Sandson. Re-pensando ecumenismo. Disponível em:
https://revistasenso.com.br/2017/07/31/re-pensando-ecumenismo/. Acesso em: 23 ago. 2019.
VATICAN. Decreto Unitatis redintegratio sobre o ecumenismo. Disponível em:
//www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat- ii_decree_19641121_unitatis-redintegratio_po.html. Acesso em: 23 ago. 2019.
WOLFF, E. O ecumenismo no horizonte do Concílio Vaticano II. Atualidade Teológica. Ano XV, nº 39, p. 403-428, 2011.
Próxima aula
Escatologia Cristã;
Explore mais
Leia também:
ANCONA, G. A Escatologia Cristã. São Paulo: Loyola, 2013.
ERICKSON, M. J. Escatologia. São Paulo: Vida Nova, 2010.
LOPES, E. P. Escatologia e Milenarismo na História da Igreja Cristã. Ciências da Religião – História e Sociedade. v. 9, n. 1, p. 46-73, 2011.
Teologia Sistemática III
Aula 09: A Escatologia Cristã
Apresentação
Nesta aula, trataremos dos problemas da ESCATOLOGIA CRISTÃ.
O que significa esta antiga palavra grega? E por que ainda a utilizamos no que diz respeito à nossa Fé, à sua inteligência (Teologia)?
O tempo tem significado na compreensão do Mistério de Deus para o Judeu- Cristianismo, então como o lemos na Tradição e nas Escrituras? A Revelação Divina e a Escatologia têm alguma relação?
O Evento Cristo, Verbo Encarnado e Glorioso, após a sua Paixão e Morte, pregado ao longo dos milênios e celebrado na Liturgia, implica em uma concepção escatológica da História e da Fé?
Muitas questões serão colocadas nesta aula com o objetivo de elucidarmos os conteúdos presentes sob o conceito de ESCATOLOGIA.
Objetivos
Definir a escatologia como conceito fundamental do Cristianismo;
Analisar as diversas questões implicadas no conceito de escatologia: a História, a Ressurreição e o Juízo Final;
Identificar os fundamentos cristológicos da Escatologia.
I. (
(Fonte:
 
Dream
 
Perfection
 
/
 
Shutterstock)
)O termo e conceito: Escatologia
De onde vem esta palavra? Qual seu significado? Por que a Teologia apreendeu e ainda utiliza este conceito?
1) A palavra escatologia se fundamenta em textos das Escrituras, por exemplo:
Isaías (2:2): “Nos últimos dias o momento do templo do SENHOR será estabelecido como o principal; será elevado acima das colinas, e todas as nações correrão para ele”.
Miqueias (4:1): “Nos últimos dias o momento do templo do SENHOR será estabelecido como o principal [...]”.
Primeira carta de Pedro (1:20): “[...] conhecido antes da criação do mundo, revelado nestes últimos tempos em favor de vocês”.
Primeira carta de João (2:18): “Filhos, esta é a última hora e, assim como vocês ouviram que o anticristo está vindo, já agora muitos anticristos têm surgido”. (LOPES, 2011, p. 51).
2) No âmbito religioso, a escatologia é considerada uma doutrina que estuda todas as coisas que acontecerão antes e depois do Juízo Final, ou seja, o fim da espécie humana no planeta Terra. Neste sentido, a escatologia pode assumir um tom apocalíptico e profético, tendo como verdade a ideia de morte e ressurreição
Diversos conceitos emergem desta ideia e experiência fundantes no Judaísmo e, sobretudo, no Cristianismo.
Tempo e História, isto é, o conceito de Revelação;
Fim dos Tempos ou consumação da História;
Apocalíptica e Profecia;
Ressurreição dos Mortos;
Juízo Final.
 (
Atenção!
 
Aqui
 
existe
 
uma
 
videoaula,
 
acesso
 
pelo
 
conteúdo
 
online
)
II. Fundamentos Teológicos da Escatologia: a esperança, a fé e caridade
“Quem come da minha carne e quem bebe do meu sangue tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia”, diz Jesus no Evangelho de João (Jo 6,51) ou, o que é equivalente, “quem crer em mim, não terá mais sede” (Jo 6,35).
Assim, em poucas palavras, o Senhor resume toda a promessa do Pai para os que
acreditam n’Ele, seja por meio do renascimento batismal (cf. Jo 3,3-15), seja pela vida eucarística (cf. Jo 6,30-58).
E o símbolo da Fé resume a mensagem bíblica em termos bem parecidos: “espero na ressurreição dos mortos e a vida do mundo futuro”.
Trata-se de uma promessa que determina, - ou deveria determinar - profundamente toda a vida do cristão e toda a predicação da Igreja. “Estamos feitos para o céu”, dizia João Paulo II numa catequese romana.
 (
(Fonte:
 
Artit
 
Fongfung
 
AF
 
/
 
Shutterstock)
)
A promessa é grande, inimaginável e, por sua vez, simples, com a simplicidade das grandes coisas. Deus promete ao crente que perseverar até o fim (Mt 10,22) nada menos do que uma participação perpétua na sua própria vida trinitária.
E a causa do cristianismo cai ou - se mantém de pé - se essa promessa for ou não cumprida.
 (
Atenção!
 
Aqui
 
existe
 
uma
 
videoaula,
 
acesso
 
pelo
 
conteúdo
 
online
)
Saiba mais
Dois elementos precisam ser analisados para entendermos a importância capital da ESCATOLOGIA no conjunto da Fé Cristã: o primeiro é a REVELAÇÃO e o segundo é a
RESSURREIÇÃO de Cristo, único e verdadeiro Evento escatológico na História Humana.
III. Revelação e Escatologia
Agora vamos recordar alguns princípios vistos nas aulas de Teologia fundamental: os conceitos de Revelação e Salvação, que distinguemo Judaísmo e sobretudo, o Cristianismo das gnoses, conhecimento sem perspectivas de salvação.
O Concílio Vaticano II, reunião máxima da Igreja desde o Concilio de Jerusalém, em que Pedro e Paulo se encontraram (At 15), foi celebrado nos anos 60 do século passado e
colocou algumas questões centrais sobre as relações entre a Revelação Divina e a História humana, como um dos seus suportes que vale apena examinar:
Aprouve a Deus na sua bondade e sabedoria, revelar-se a Si mesmo e dar a
conhecer o mistério da sua vontade (cf. Ef 1,9), segundo o qual os homens, por meio de Cristo, Verbo encarnado, têm acesso ao Pai no Espírito Santo e se tornam participantes da natureza divina (cf. Ef 2,18; 2 Ped 1,4). Em virtude desta revelação, Deus invisível (cf. Col 1,15; 1 Tim 1,17), na riqueza do seu amor fala aos homens como amigos (cf. Ex 33, 11; Jo 15,14 15) e convive com eles (cf. Bar 3,38), para os convidar e admitir à comunhão com Ele. Esta economia da
revelação realiza-se por meio de ações e palavras intimamente relacionadas entre
si, de tal maneira que as obras, realizadas por Deus na história da salvação, manifestam e confirmam a doutrina e as realidades significadas pelas palavras; e as palavras, por sua vez, declaram as obras e esclarecem o mistério nelas
contido. Porém, a verdade profunda tanto a respeito de Deus como a respeito da salvação dos homens, manifestasse-nos, por esta revelação, em Cristo, que é, simultaneamente, o mediador e a plenitude de toda a revelação (PAULO VI, 1965, 7.)
(PAULO VI) Constituição Dogmática ‘Sacrossanctum Concilium’. Roma: Vaticano, 1965. Disponível em: //www.vatican.va.
(Acesso 25 de maio de 2019)
Eis o axioma teológico que se infere dos textos bíblicos, como narrativas desta extraordinária ação de Deus:
Em virtude desta revelação, Deus invisível (cf. Col 1,15; 1 Tim 1,17), na riqueza do seu amor fala aos homens
como amigos (cf. Ex 33, 11; Jo 15,1415) e convive com eles (cf. Bar 3,38), para os convidar e admitir à comunhão com Ele.
 O que este texto nos diz?
 Clique no botão acima.
Primeiro que o modo da revelação exprime a intenção divina de conviver com os seres humanos.
Essa expressão pode parecer banal, mas sua verdadeira compreensão se origina no desastre da perda do Paraíso, como nos relata o livro do Gênesis, no capítulo 3:
O Senhor Deus, pois, o lançou fora do jardim do Éden, para lavrar a terra de que fora tomado. E havendo lançado fora o homem, pôs querubins ao oriente do jardim do Éden, e uma espada inflamada que andava ao redor, para guardar o caminho da árvore da vida (Gn 3, 23-24).
Aqui, como se pode observar, trata-se do fato que após ou em consequência do pecado original perdemos o acesso a Deus e fomos expulsos de sua Presença, que, aliás, como afirma o amargo diálogo dos Vv 8-10, tornara-se motivo de medo e de escondimento:
E ouviram a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim pela viração do dia; e esconderam-se Adão e sua mulher da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim. E chamou o Senhor Deus a Adão, e disse-lhe: Onde estás? E ele disse: Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me (Gn 3, 8-10).
Falar aos homens, como amigos, era algo impensável nas circunstâncias do pecado, mas ocorreu exclusivamente em virtude da Natureza amorosa de Deus. A revelação, por isso, pode ser entendida como um supremo gesto amoroso em nossa direção, uma declaração de amor de Deus aos Homens, como lemos em Jo 3, 16:
Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
Mas, mesmo no mais profundo antigo Testamento, abundam declarações de amor divino ao Povo de Israel, entre outros:
O Senhor não tomou prazer em vós, nem vos escolheu, porque a vossa multidão era mais do que a de todos os outros povos, pois vós éreis menos em número do que todos os povos; mas, porque o Senhor vos amava, e para guardar o juramento que fizera a vossos pais, o Senhor vos tirou com mão forte e vos resgatou da casa da servidão, da mão de Faraó, rei do Egito (Dt 7, 7-8).
Segundo o teólogo Estevão Bettencourt, o conceito, a prática ou a demonstração do amor verdadeiro descrevem ação de Deus e circunscrevem seu Ser Divino:
Ao falar de Deus Amor, tocamos o âmago da mensagem bíblica, única entre as mensagens religiosas da humanidade; requer a coragem de professar que Deus primeiro nos amou, e nos amou quando éramos ingratos e rebeldes. Platão julgava que a Divindade nem sequer respondia ao amor do homem, porque ela nada teria a ganhar com isso; portanto, se houve alguma atitude de amor para com a Divindade, nunca houve a recíproca segundo o mesmo. Ora foi
precisamente sobre este pano de fundo que ressoou a pregação evangélica; esta só pode ter tido origem no próprio Deus, que assim se revela, e não na mente do homem, por mais religioso que fosse. A singularidade do Cristianismo está nesta afirmação de que Deus é o primeiro a nos amar (BETTENCOURT, 2008, p. 145).
Em um segundo momento, chegamos ao termo principal. A história é o campo decidido por Deus para se encontrar com os seres humanos:
Esta economia da revelação realiza-se por meio de ações e palavras intimamente relacionadas entre si, de tal maneira que as obras, realizadas por Deus na história da salvação, manifestam e confirmam a doutrina e as realidades significadas pelas palavras; e as palavras, por sua vez, declaram as obras e esclarecem o mistério nelas contido (PAULO VI, 1965, 2).
Cf. PAULO VI. Constituição Dogmática ‘Sacrossanctum Concilium’. Roma: Vaticano, 1965. Disponível em: //www.vatican.va. (Acesso 25 de maio de 2019).
A história humana é nosso ambiente exclusivo, por sermos medidos sempre nas coordenadas de tempo e espaço. Não existe significação humana sem as
coordenadas. A comunicação entre nós mesmos, como seres sociáveis, se dá na história e a constitui.
 (
(Fonte:
 
rudall30
 
/
 
Shutterstock)
)
IV. História da Salvação: Um conceito prévio à revelação?
Deus amantíssimo, desejando e preparando com solicitude a salvação de todo o gênero humano, escolheu por especial providência um povo a quem confiar as suas promessas. Tendo estabelecido aliança com Abraão (cf. Gên 15,18), e com o povo de Israel por meio de Moisés (cf. Ex 24,8), revelou-se ao Povo escolhido como único Deus verdadeiro e vivo, em palavras e obras, de tal modo que Israel pudesse conhecer por experiência os planos de Deus sobre os homens, os compreendesse cada vez mais profunda e claramente, ouvindo o mesmo Deus falar por boca dos profetas, e os difundisse mais amplamente entre os homens (cf. Salm 21, 28-29; 95, 1-3; Is 2, 1-4; Jer 3,17). A economia da salvação de antemão anunciada, narrada e explicada pelos autores sagrados, encontra-se nos livros do Antigo Testamento como verdadeira palavra de Deus. Por isso, estes livros divinamente inspirados conservam um valor perene: “Tudo quanto está escrito, para nossa instrução está escrito, para que, por meio da paciência e consolação que nos vem da Escritura, tenhamos esperança” (Rom 15,4) (PAULO VI, 1965, 14).
Cf.. PAULO VI. Constituição Dogmática ‘Sacrossanctum Concilium’. Roma: Vaticano, 1965. Disponível em: //www.vatican.va. (Acesso 25 de julho de 2019).
Alguns teólogos têm se debruçado sobre a temática das relações entre Deus que se dá conhecer a e história humana. Isto é, como estabelecer
parâmetros entre a revelação divina, como experiência transcendente, e a realidade humana da história (imanência)?
Vejamos o que nos diz WERBICK, Jürgen (1993) em seu artigo sobre esta questão. Ao mesmo tempo, em outra chave de leitura, vem sendo tratada também por LACOSTE, J.- Yves (2004).
V. A Profecia e a Apocalíptica: a história do agir de Deus na história?
 (
(Fonte:
 
IgorZh
 
/
 
Shutterstock)
)Diferentemente dos judeus, os cristãos mantiveram, ou melhor, depois de um intervalo, retomaram seu interesse pela história. A espera do fim do mundo era um fato muito mais opressor entre os cristãos que entre judeus e resultouem
uma nova avaliação crítica contínua dos eventos como portentos. O pensamento apocalíptico era um estímulo à observação histórica. Além disso, e isto
foi decisivo – a conversão de Constantino implicou a reconciliação da maioria dos líderes cristãos com o Império Romano (especialmente o Leste) e deu à Igreja um lugar preciso nas questões humanas (MOMIGLIANO, A. 2004, p. 50).
O pensamento de período profético que se constitui na literatura pré-exílica e especialmente no período pós-exílico (séc. VI a. C.) destaca-se por ter feito dos
princípios básicos da fé judaica os alicerces de uma potente narração de tipo histórico, na qual eles contam de modo coerente o Agir de Deus. Partem da eleição e da Páscoa até chegar aos eventos da Criação e do pecado.
Saiba mais
A profecia tomou a história como espaço de realização da santa e justa vontade de Deus. Mas fez falar também Javé como o Criador, que como Senhor da Criação, não deixa disputar duradouramente sua propriedade por usurpadores, mas será Rei e Senhor (WERBICK, 1993, p. 352).
No mesmo período, em época mais tardia, este projeto historiográfico, esta vontade de escrever e registrar o Desígnio Divino na história por parte dos teólogos de ambiente profético ou deuteronomista, será confrontada pela apocalíptica.
 Escatologia Apocalíptica e Jesus e o Adiantamento da Parusia
 Clique no botão acima.
 (
Atenção!
 
Aqui
 
existe
 
uma
 
videoaula,
 
acesso
 
pelo
 
conteúdo
 
online
)
Temas e ideias da antiga mitologia judaica e da especulação helenística
compõem as diversas influências que determinamos nos escritos apocalípticos. Trata-se de uma verdadeira cosmovisão, que podemos traçar na estrutura dos apocalipses judaicos e cristãos. A fonte desta visão pode ser determinada pela antiga literatura bíblico-profética.
A perspectiva desta escatologia apocalíptica pode ser entendida como desenvolvida a partir da escatologia profética: comum entre ambas, a perspectiva é a crença de que, de acordo com o PLANO DIVINO, as condições adversas do mundo presente podem terminar no julgamento do mal e na vingança dos Justos, abrindo assim uma nova era de prosperidade e paz (Is 65,16b-17a).
Este ponto em comum faz com que, tanto a escatologia profética como a apocalíptica, sejam vistas como dois lados da mesma moeda. O
desenvolvimento de uma para a outra não é inelutavelmente cronológico, mas é inegável que ambas se entrelaçam com mudança nas condições sócio-políticas.
Trata-se daquelas condições de mudança que inspiram uma interpretação baseada no desígnio Divino: o esforço humano vem selado pela intervenção divina favorável.
Períodos de extremo sofrimento tendem a colocar em xeque a efetividade da reforma humana e assim propiciar uma radicalização da visão que a escatologia apocalíptica fornece da realidade, tendendo a propor uma rígida visão dualística da salvação divina, com a destruição deste mundo e a ressurreição do crente para a uma existência celestial abençoada.
Diante do passado judaico pleno de infidelidades e erros repetitivos, acompanhados de castigos e falimentos, a apocalíptica propõe uma
perspectivística do futuro que nasce a partir de crises profundas ocorridas entre os exílios, repatriações e invasões:
A história perdeu sua transparência para o agir salvífico e educativo de Javé para com o seu povo. A Apocalíptica, para manter a esperança do Deus que opera Salvação apelou não mais para os acontecimentos passados. A História – a velha – parecia dominada de tal forma pelo pecado e pelo mal, que parecia ir
caminhando de forma irredutível e irresistível rumo ao fim catastrófico (...) mas que se abreviassem as aflições do fim dos tempos e chegasse logo ao fim a velha era, que se tornara insuportável, com o seu agir salvífico escatológico, fazendo irromper em breve o seu reinado do fim dos tempos (WERBICK, 1993, p. 353).
2. Jesus e o adiantamento da Parusia
A apocalíptica cruzou-se com a ilusão de uma história da Salvação que se imporia sem cessar em Israel e desde Israel; este se evidenciou para a
apocalíptica como instrumento inútil nas Mãos de Deus; por isso não pôde mais apelar para as promessas ou para as manifestações graciosas de Javé.
Conforme essa visão apocalíptica, Javé levaria avante o seu projeto salvífico não em continuidade com o sucedido até o momento, mas em radical descontinuidade, e seria em favor dos que não se deixaram seduzir pela perversidade desta era (WERBICK, 1993, p. 353).
Eis um ponto fundamental de partida da obra cristã, do tempo, da palavra e da ação de Jesus. De um lado apresenta estes aspectos da descontinuidade em relação à interpretação da Torah, como se lê nos quatro Evangelhos: Senhor do Sábado é um episódio da vida de Jesus que aparece nos três evangelhos sinóticos:
Mateus 12:1-8,
Lucas 6:1-5 e
Marcos 2:23-28.
Relatam o encontro de Jesus, seus apóstolos e os fariseus na primeira de suas quatro controvérsias sobre o Sabbath. No versículo referido, lê-se a marca apocalíptica por causa da autointitulação como o Filho do Homem:
Porque eu, o Filho do Homem, sou Senhor do próprio sábado (Mt 12, 8).
Expressão que procede da literatura profética de Daniel, com acentuado sabor apocalíptico. Por outro lado, Jesus em sua pregação e em sua práxis, diferencia- se da apocalíptica judaica ao pretender testemunhar a irrupção do Reino de Deus. Esta é a categoria mais escatológica da pregação de Jesus. Uma realidade que se exibe no tempo, mas que se realiza no futuro. As Parábolas do Reino, seção obrigatória nos três Evangelhos, bem demonstra isso.
O Cristianismo sabe ter iniciado com o pleno Mistério de Cristo, realizado em sua Cruz e Ressurreição, uma nova e verdadeira História humana e religiosa:
A História de Israel chegou ao seu termo. E porque essa história é biblicamente indissociável da história de todas as nações, a plenitude dos tempos (Gl 4,4) pode passar pelo fim puro e simples da história: O cristianismo primitivo sabe que saiu de uma história, sabe que um novo eon se abre com ele, não sabe nem se crê investido de outra missão a não ser a de chamar à conversão, esperando a volta iminente (a Parusia) do messias ressuscitado (LACOSTE, 2004, p. 835).
VI. A escatologia e a nossa esperança
É digna de observação a forma pela qual, no Novo Testamento, os crentes encontrariam toda a firmeza e a pujança de sua fé na experiência de encontrar-se com Jesus Cristo ressuscitado.
À simples lembrança da vida terrena do Senhor e do seu exemplo luminoso tinha para eles pouco sabor. Sua fé nova encontrou o conteúdo cabal, o ponto de apoio inabalável na Pessoa do Ressuscitado dentre os mortos, n’Aquele que é Vivo e intercede por nós junto ao Pai (Heb 7, 25).
 (Fonte: MeSamong / Shutterstock)
Efetivamente ressuscitando para sempre, o próprio Filho encarnado Deus demonstrou seu amor incondicional pelos homens que, matando-o na Cruz, haviam rejeitado esse amor. Seria preciso assinalar alguns pontos, quanto a esta Fé simples e incontestável da primeira hora da era cristã, uma fé talvez de certa forma domesticada entre os cristãos de épocas mais recentes.
Primeiro, pode-se observar que os que viram o Mestre depois de ressuscitado, logo vincularam esses encontros com a Promessa de uma ressurreição futura, destinada precisamente a eles. Cristo ressuscita, portanto, eles, que acreditaram no Senhor, tornam-se portadores da mesma Promessa de ressurreição.
 (
(Fonte:
 
Rachata
 
Sinthopachakul
 
/
 
Shutterstock)
)
Atenção
Em outras palavras, a ressurreição de Cristo, em quem eles creram, foi percebida espontaneamente como um bem para os crentes.
O discípulo de Cristo incorpora-se à Ressurreição do seu Senhor. São Paulo indagava aos Coríntios:
“Pois se de Cristo se prega que ressuscitou dentre os mortos, como entre vós, alguns afirmam que não existe Ressurreição dos mortos? (1 Cor 15,12)
E também:
Sabemos que quem ressuscitou o Senhor Jesus, também com Jesus nos ressuscitará e nos fará estar entre vós" (2 Cor 4,14).
Como fruto da união do crente com Cristo, de sua incorporaçãoà Páscoa, a morte humana desempenhava um papel muito real, prático e imediato na vida dos novos
crentes, precisamente pela Vivacidade de sua esperança na ressurreição. Com efeito, estavam dispostos a morrer até mesmo uma morte injusta e cruel em troca da promessa da ressurreição, dando um testemunho (marturia) de sua fé em Jesus Cristo.
Em poucas palavras, a morte do cristão foi percebida e vivenciada como uma verdadeira participação na morte de Cristo e, consequentemente, em sua ressurreição: o que
aconteceu com Ele se tornaria presente, por força do Espírito Santo, nos que acreditam n’Ele, ou seja, nós somos incorporados à sua Páscoa.
Novamente e com força escatológica, comprova-se que a vida humana, desembocando inevitavelmente na morte, e a própria morte serão compreendidas e resolvidas principalmente à luz da imortalidade percebida ou Prometida.
Atividade
1. Segundo a Teologia de Paulo, em Cor 15, por que a Ressurreição é um conceito escatológico tão essencial à vida cristã?
2. O Conceito de Apocalíptica judaico-cristã ancora-se no conceito mais amplo de
escatologia. Explique esta afirmação usando o artigo de WERBICK, Jürgen (1993, p. 351- 361).
3. Quais são os Fundamentos Cristológicos da Escatologia? Escolha a questão CORRETA.
a) Cristo é Senhor do Tempo, sua Páscoa resultou na redenção do próprio tempo.
b) Não há uma verdadeira fundamentação cristológica para o fim dos tempos, um mistério.
c) O Cristianismo não possui, como o judaísmo, um sistema profético que se apoie nas visões do futuro.
d) d) A escatologia só possui fundamentos no Antigo Testamento, na velha profecia ou nos apocalipses.
Reef) eCrriêstno cfuinadsou no passado de Israel a visão do futuro e somente na ressurreição tem-se uma visão obscura do devir.
ANCONA, G. A Escatologia Cristã. São Paulo: Loyola, 2013.
BITTENCOURT, E. Com amor eterno eu te amei. Revista Pergunte e Responderemos. Rio de Janeiro: Lumen Christi, ano XLIX, abr. 2008, n. 550, p. 145.
ERICKSON, M. J. Escatologia. São Paulo: Vida Nova, 2010.
LACOSTE, J. Yves. História. In: LACOSTE, J.-Yves. Dicionário Crítico de Teologia. São Paulo: Paulinas e Loyola, 2004, p. 834-839.
LOPES, E P. Escatologia e Milenarismo na História na Igreja Cristã. Ciências da Religião
– História e Sociedade. v. 9, n. 1, p. 46-73, 2011.
MOMIGLIANO, A. As raízes clássicas da Historiografia Moderna. Bauru: EdUSC, 2004, p. 50.
WERBICK, Jürgen História/Agir de Deus. In: EICHER, P. Dicionário de Conceitos Fundamentais de Teologia. Petrópolis: Vozes, 1993, p. 351-361.
Próxima aula
Escatologia Cristã nas tradições cristãs.
Explore mais
Pesquise na internet em sites, vídeos e artigos relacionados ao conteúdo visto.
Em caso de dúvidas, converse com seu professor online por meio dos recursos disponíveis no ambiente de aprendizagem.
Teologia Sistemática III
Aula 10: A Escatologia Cristã nas diversas tradições do cristianismo
Apresentação
Nesta aula, trataremos da variedade de concepções teológicas da escatologia no âmbito das diversas Tradições cristãs. O Cristianismo desenvolveu ao longo dos Milênios uma série de percepções e doutrinas acerca dos novíssimos, isto é, as
coisas últimas da existência humana.
A Morte, a Ressurreição, o Juízo Final, o Fim do Mundo, a Parusia, entre muitos temas foram se modificando na medida em que, de um lado, adensava-se a
compreensão do Evento Cristo, a fonte da escatologia Humana, e do outro, as diversas tradições cristãs, sobretudo, a partir da Reforma Protestante (sec. XVI), assimilando e modificando as doutrinas escatológicas cristãs, segundo os contextos interpretativos em que se encontravam.
Objetivos
Listar as doutrinas escatológicas no Catolicismo Romano;
Identificar as diversas vertentes escatológicas no universo plural do Protestantismo.
Palavras inicias
 (
Fonte:
 
pixabay
)A Escatologia, como vimos na aula anterior, não é um simples corolário da convicção da Ressurreição de Cristo, sendo, ao mesmo tempo, seu Fundamento. Como todas as formas de pensamento humano, podemos rastrear seu desenvolvimento. Não existe pensamento humano no vácuo, sem referências históricas.
Não se trata de reduzir a Doutrina, ou seja, a Revelação Divina a mero dado histórico, ao contrário, quando aceitamos a lógica Divina, da Encarnação, percebemos a relevância em não desencarnarmos os modos pelos quais, iluminados pelo Espirito Santo, a Igreja foi realizando (e continua) o itinerário da compreensão plena da Verdade (Jo 16,13).
Por isso, exporemos a doutrina escatológica a partir da premissa de sua recepção histórica, presente e detectável já nas Sagradas Escrituras, no decorrer da História de Israel.
Primeiramente, o Cristo é o fundamento da Escatologia, n’Ele se desenvolveu a nova e definitiva Lógica da redenção no tempo. O tempo redimido foi assumido pelo Verbo que se fez Carne (Jo 1, 14).
O Contexto da nova escatologia se dá no fato que Cristo é a realização definitivas das Promessas feitas a Israel. Na verdade, a compreensão das Verdades Divinas reveladas se encontra disposta à nossa inteligência no âmbito das coisas históricas.
 (
Atenção!
 
Aqui
 
existe
 
uma
 
videoaula,
 
acesso
 
pelo
 
conteúdo
 
online
)
Uma verdade abstrata serve somente para explicitar uma falsa perenidade, pois, à moda platônica ideal, parece resistir intacta ao tempo, mas ao fugir da necessidade humana de configurar-se, permanece só... não morre... e assim, não frutifica na vida (Jo 12), na existência humana dos crentes.
Atenção
Em Jesus, Deus se diz e se revela inteiramente ao Homem, dizendo e revelando ao mesmo tempo o homem a si mesmo. Nele, a história e o cosmos adquirem uma
significação única. Contudo, o Homem, a história e o cosmos seguem, ainda, seu próprio curso. Deus não os obriga à cristificação, mas apresenta-lhes o modelo crístico como o único que pode levá-los à plenitude de sentido.
 (
Fonte:
 
pixabay
)O processo de conversão do Homem, da história e do cosmos ao Cristo é também feito da tensão inerente à escatologia do reino que se aproxima. No momento da acolhida deste reino, Deus se faz presente, lançando aquele que acolhe tal anúncio na aventura da esperança que o mesmo suscita.
É essa a perspectiva que parece desdobrar-se no ínterim que separa a ressurreição da ascensão-pentecostes ou na espera pela Parusia, que caracteriza de forma acentuada as gerações que
compuseram o NT. Assim, podemos avançar para os aspectos históricos da evolução do pensamento escatológico no interior das diversas tradições cristãs.
Escatologia Milenarista
 (
Atenção!
 
Aqui
 
existe
 
uma
 
videoaula,
 
acesso
 
pelo
 
conteúdo
 
online
)
Segundo Costa (2008), tais projetos, projeções e esperanças, que de ordinário receberiam por qualificação (geralmente negativa), no senso comum, o título de utopias, ao suporem a iminência da instauração do melhor dos mundos são aqui tomadas como resultantes de apropriações (mormente inconscientes) do milenarismo, como milenarismos implícitos.
"Ora nos dias desses reis, o Deus do céu suscitará um reino que jamais será destruído e cuja realeza não será deixada a outro povo. Ele pulverizará e
aniquilará todos esses reinos, e subsistirá para sempre" (Daniel 2:44)
O termo messianismo é submetido aqui à mesma dilatação do raio de alcance aplicada ao termo anterior, uma vez que além de comunicar a crença no advento providencial (i.e., por obra e graça divina) de um personagem salvífico/redentor, remete também às
expectativas seculares de retificação da realidade depositadas sobre homens ou coletividades que se tomavam por especiais.
Por sua vez, o termo milenarismo tem, em primeiro plano, o sentido comum, e estrito, de crença religiosa na qual se projeta a concretização futura dos mil anos de paraíso terreal.
 (
Fonte:
 
pixabay
)
Entretanto, ainda no campo religioso, percebe-se o deslocamento desse sentido para um outro espaço, o celeste, de modo que essa conotação também será levada em conta aqui, principalmenteporque a existência dessa segunda conotação, apesar de negligenciada pelos estudos milenaristas, divide, ainda em nossos dias, as opiniões sobretudo nos meios cristãos não católicos.
Para além disso, levando-se em conta o religioso implícito em formulações seculares, aqui o termo milenarismo refere-se também a determinados projetos, projeções e esperanças que, com maior ou menor grau de sofisticação, estabeleciam, em imagens, uma espécie de enfrentamento (e, ao mesmo tempo, fuga) da história vivida tendo em vistas fundar (e tomar por refúgio) um futuro marcado pela superação das estruturas atuais do mundo e pela instauração definitiva de uma ordem caracterizada pela
perfeição dos valores, das estruturas e das relações.
Segundo Costa (2008), tais projetos, projeções e esperanças, que de ordinário receberiam por qualificação (geralmente negativa), no senso comum, o título de utopias, ao suporem a iminência da instauração do melhor dos mundos são aqui tomadas como resultantes de apropriações (mormente inconscientes) do milenarismo, como milenarismos implícitos.
 (
Atenção!
 
Aqui
 
existe
 
uma
 
videoaula,
 
acesso
 
pelo
 
conteúdo
 
online
)
Escatologia messiânica
Temas e ideias da antiga mitologia judaica e da especulação helenística compõem as diversas influências que determinamos nos escritos apocalípticos. Trata-se de uma verdadeira cosmovisão, que podemos traçar na estrutura dos apocalipses judaicos e cristãos.
A fonte desta visão pode ser determinada pela antiga literatura bíblico-profética. A perspectiva desta escatologia apocalíptica pode ser entendida a partir da escatologia profética: comum entre ambas as perspectivas é a crença que, de acordo com o plano divino, as condições adversas do mundo presente podem terminar no julgamento do mal e na vingança dos Justos, abrindo assim uma nova era de prosperidade e paz. (Is 65,16b-17a), a ponto de serem vistas, tanto a escatologia profética como a apocalíptica, como dois lados da mesma moeda.
Segundo Rowley (1980), o desenvolvimento de uma para a outra não é
inelutavelmente cronológico, mas é inegável que ambas se entrelaçam com mudança nas condições sociopolíticas. Trata-se daquelas condições de mudança que inspiram uma interpretação baseada no desígnio Divino: o
esforço humano vem selado pela intervenção divina favorável.
Períodos de extremo sofrimento tendem a colocar em xeque a efetividade da reforma humana e assim propiciar uma radicalização da visão que a escatologia apocalíptica fornece da realidade, tendendo a propor uma rígida visão dualística da salvação divina, com a destruição deste mundo e a ressurreição do crente para a uma existência
celestial abençoada.
Milenarismo cristão
 (
Agostinho
 
de
 
Hipona
 
(354
 
-
 
430)".
 
Fonte:
)Um simples sobrevoo sobre a longa história da Igreja mostra de que maneira evolui, não sem conflitos, a compreensão cristã primitiva sobre a escatologia após o período bíblico da formação e
consolidação do Cânon, ou seja, no decorrer da história da Igreja ao longo dos milênios cristãos.
No Universo do Catolicismo romano, diversos autores, entre os quais se destacam Agostinho de Hipona (sec. V), que, influenciado por seu contemporâneo Ticonius, irá sistematizar a vida
apocalíptica católica, baseada no princípio da historização da Escatologia.
As revoluções e novidades advindas dos fins dos tempos ocorrem paulatinamente na Igreja (história), pois nesta se realizam as últimas coisas, prometidas por Cristo, antes de seu Retorno.
//www.filosofia.com.br/
Saiba mais
Leia a História e milenarismo no apocalipse de João de Patmos e no expositio in apocalypsim de Joaquim de Fiore: um estudo comparativo.
A Reforma Protestante e as Concepções Escatológicas
 (
 
 
Martinho
 
Lutero
 
por
 
Lucas
 
Cranach,
 
o
 
Velh
o.
 
Fonte:
)A reforma Protestante propugnada por Martinho Lutero no século XVI pode ser entendida no contexto teológico do séc. XVI, como uma luta escatológica contra a Igreja Católica. Isto é, ele entendeu que a corrupção do sistema religioso cristão era muito profunda.
As concepções escatológicas que inauguram a reforma baseavam-se, por isso, numa concepção do mundo, que, a partir de diversas referências históricas,
como Constantino (ano de 324 d.C.), ou a derrota da armada espanhola católica em 1588 para a inglesa protestante, somados aos 1.000 anos constituiriam os marcos de um novo Milênio.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Martinho_Lutero
Os representantes da Reforma, por isso, um renascimento do milenarismo, entendido a partir da noção de eventos históricos extraordinários que inseririam o mundo, e as Igrejas no Armaghedon, na batalha final, pela purificação total. A
recepção desta visão supõe a acolhida de uma teologia que anula a história como portadora de hecatombes em contraste
com a visão de Agostinho.
Atividade
1. O que significa para a formação do pensamento escatológico cristão a noção de
Milenarismo?
2. Em que se caracteriza a escatologia da Reforma Protestante e que elementos se distinguem?
3. O que é o fenômeno do Milenarismo cristão?
a) Demagogia de seitas cristãs desenvolvidas ao longo dos séculos para atrair seguidores.
b) A expectativa criada pela interpretação de textos apocalípticos sobre o futuro da Salvação em Cristo.
c) Interferência da Cabala judaica na interpretação do livro do Apocalipse durante a Idade Média.
d) Não existe milenarismo cristão, pois a fé não conhece crendices e superstições.
e) O fenômeno se refere às expectativas de Davi e da descendência de Judá sobre o
ReCfreistriêanniscmioa.s
ANCONA, G. A Escatologia Cristã. São Paulo: Loyola, 2013.
NCoOtSaTsA, V. M. De medos e esperanças - Uma história das crenças apocalípticas, messiânicas e milenaristas no contexto do movimento de Belo Monte (1874-1902). Dissertação de Mestrado. Bahia: UFBA, 2008.
Erickson, M. J. Escatologia. São Paulo: Vida Nova, 2010.
LACOSTE, J. Y. História. In: LACOSTE, J.Y. Dicionário Crítico de Teologia. São Paulo: Paulinas e Loyola, 2004, p. 834-839.
Lopes, E. P. Escatologia e milenarismo na história da igreja cristã. In: Ciências da Religião – História e Sociedade. v. 9, n. 1 , p. 46-73, 2011.
Rowley, H. H. A Importância da Literatura apocalíptica. São Paulo: Paulinas, 1980.
SANTOS, P. P. A. O Apocalipse Cristão e os Rolos de Qumran. Literatura e Movimentos apocalípticos no Mundo Antigo e suas relações com Projetos Contemporâneos. In:
Communio, v. 22, n.1, p. 133-156, Rio de Janeiro, 2004.
WERBICK, J. História/Agir de Deus. In: EICHER, P. Dicionário de Conceitos Fundamentais de Teologia. Petrópolis: Vozes, 1993, p. 351-361.
Explore mais
SANTOS, P. P. A. O Apocalipse Cristão e os Rolos de Qumran. Literatura e Movimentos apocalípticos no Mundo Antigo e suas relações com Projetos Contemporâneos. In:
Communio, v. 22, n.1, p. 133-156, Rio de Janeiro, 2004.

Continue navegando