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TEOLOGIA SISTEMÁTICA III-Aula 9-A Escatologia Cirstã_compressed

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Teologia Sistemática III
Aula 09: A Escatologia Cristã
Apresentação
Nesta aula, trataremos dos problemas da ESCATOLOGIA CRISTÃ.
O que significa esta antiga palavra grega? E por que ainda a utilizamos no que diz respeito à nossa Fé, à sua inteligência (Teologia)?
O tempo tem significado na compreensão do Mistério de Deus para o Judeu- Cristianismo, então como o lemos na Tradição e nas Escrituras? A Revelação Divina e a Escatologia têm alguma relação?
O Evento Cristo, Verbo Encarnado e Glorioso, após a sua Paixão e Morte, pregado ao longo dos milênios e celebrado na Liturgia, implica em uma concepção escatológica da História e da Fé?
Muitas questões serão colocadas nesta aula com o objetivo de elucidarmos os conteúdos presentes sob o conceito de ESCATOLOGIA.
Objetivos
Definir a escatologia como conceito fundamental do Cristianismo;
Analisar as diversas questões implicadas no conceito de escatologia: a História, a Ressurreição e o Juízo Final;
Identificar os fundamentos cristológicos da Escatologia.
I. (
(Fonte:
 
Dream
 
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Shutterstock)
)O termo e conceito: Escatologia
De onde vem esta palavra? Qual seu significado? Por que a Teologia apreendeu e ainda utiliza este conceito?
1) A palavra escatologia se fundamenta em textos das Escrituras, por exemplo:
Isaías (2:2): “Nos últimos dias o momento do templo do SENHOR será estabelecido como o principal; será elevado acima das colinas, e todas as nações correrão para ele”.
Miqueias (4:1): “Nos últimos dias o momento do templo do SENHOR será estabelecido como o principal [...]”.
Primeira carta de Pedro (1:20): “[...] conhecido antes da criação do mundo, revelado nestes últimos tempos em favor de vocês”.
Primeira carta de João (2:18): “Filhos, esta é a última hora e, assim como vocês ouviram que o anticristo está vindo, já agora muitos anticristos têm surgido”. (LOPES, 2011, p. 51).
2) No âmbito religioso, a escatologia é considerada uma doutrina que estuda todas as coisas que acontecerão antes e depois do Juízo Final, ou seja, o fim da espécie humana no planeta Terra. Neste sentido, a escatologia pode assumir um tom apocalíptico e profético, tendo como verdade a ideia de morte e ressurreição
Diversos conceitos emergem desta ideia e experiência fundantes no Judaísmo e, sobretudo, no Cristianismo.
Tempo e História, isto é, o conceito de Revelação;
Fim dos Tempos ou consumação da História;
Apocalíptica e Profecia;
Ressurreição dos Mortos;
Juízo Final.
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)
II. Fundamentos Teológicos da Escatologia: a esperança, a fé e caridade
“Quem come da minha carne e quem bebe do meu sangue tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia”, diz Jesus no Evangelho de João (Jo 6,51) ou, o que é equivalente, “quem crer em mim, não terá mais sede” (Jo 6,35).
Assim, em poucas palavras, o Senhor resume toda a promessa do Pai para os que
acreditam n’Ele, seja por meio do renascimento batismal (cf. Jo 3,3-15), seja pela vida eucarística (cf. Jo 6,30-58).
E o símbolo da Fé resume a mensagem bíblica em termos bem parecidos: “espero na ressurreição dos mortos e a vida do mundo futuro”.
Trata-se de uma promessa que determina, - ou deveria determinar - profundamente toda a vida do cristão e toda a predicação da Igreja. “Estamos feitos para o céu”, dizia João Paulo II numa catequese romana.
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(Fonte:
 
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Fongfung
 
AF
 
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)
A promessa é grande, inimaginável e, por sua vez, simples, com a simplicidade das grandes coisas. Deus promete ao crente que perseverar até o fim (Mt 10,22) nada menos do que uma participação perpétua na sua própria vida trinitária.
E a causa do cristianismo cai ou - se mantém de pé - se essa promessa for ou não cumprida.
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)
Saiba mais
Dois elementos precisam ser analisados para entendermos a importância capital da ESCATOLOGIA no conjunto da Fé Cristã: o primeiro é a REVELAÇÃO e o segundo é a
RESSURREIÇÃO de Cristo, único e verdadeiro Evento escatológico na História Humana.
III. Revelação e Escatologia
Agora vamos recordar alguns princípios vistos nas aulas de Teologia fundamental: os conceitos de Revelação e Salvação, que distinguem o Judaísmo e sobretudo, o Cristianismo das gnoses, conhecimento sem perspectivas de salvação.
O Concílio Vaticano II, reunião máxima da Igreja desde o Concilio de Jerusalém, em que Pedro e Paulo se encontraram (At 15), foi celebrado nos anos 60 do século passado e
colocou algumas questões centrais sobre as relações entre a Revelação Divina e a História humana, como um dos seus suportes que vale apena examinar:
Aprouve a Deus na sua bondade e sabedoria, revelar-se a Si mesmo e dar a
conhecer o mistério da sua vontade (cf. Ef 1,9), segundo o qual os homens, por meio de Cristo, Verbo encarnado, têm acesso ao Pai no Espírito Santo e se tornam participantes da natureza divina (cf. Ef 2,18; 2 Ped 1,4). Em virtude desta revelação, Deus invisível (cf. Col 1,15; 1 Tim 1,17), na riqueza do seu amor fala aos homens como amigos (cf. Ex 33, 11; Jo 15,14 15) e convive com eles (cf. Bar 3,38), para os convidar e admitir à comunhão com Ele. Esta economia da
revelação realiza-se por meio de ações e palavras intimamente relacionadas entre
si, de tal maneira que as obras, realizadas por Deus na história da salvação, manifestam e confirmam a doutrina e as realidades significadas pelas palavras; e as palavras, por sua vez, declaram as obras e esclarecem o mistério nelas
contido. Porém, a verdade profunda tanto a respeito de Deus como a respeito da salvação dos homens, manifestasse-nos, por esta revelação, em Cristo, que é, simultaneamente, o mediador e a plenitude de toda a revelação (PAULO VI, 1965, 7.)
(PAULO VI) Constituição Dogmática ‘Sacrossanctum Concilium’. Roma: Vaticano, 1965. Disponível em: //www.vatican.va.
(Acesso 25 de maio de 2019)
Eis o axioma teológico que se infere dos textos bíblicos, como narrativas desta extraordinária ação de Deus:
Em virtude desta revelação, Deus invisível (cf. Col 1,15; 1 Tim 1,17), na riqueza do seu amor fala aos homens
como amigos (cf. Ex 33, 11; Jo 15,1415) e convive com eles (cf. Bar 3,38), para os convidar e admitir à comunhão com Ele.
 O que este texto nos diz?
 Clique no botão acima.
Primeiro que o modo da revelação exprime a intenção divina de conviver com os seres humanos.
Essa expressão pode parecer banal, mas sua verdadeira compreensão se origina no desastre da perda do Paraíso, como nos relata o livro do Gênesis, no capítulo 3:
O Senhor Deus, pois, o lançou fora do jardim do Éden, para lavrar a terra de que fora tomado. E havendo lançado fora o homem, pôs querubins ao oriente do jardim do Éden, e uma espada inflamada que andava ao redor, para guardar o caminho da árvore da vida (Gn 3, 23-24).
Aqui, como se pode observar, trata-se do fato que após ou em consequência do pecado original perdemos o acesso a Deus e fomos expulsos de sua Presença, que, aliás, como afirma o amargo diálogo dos Vv 8-10, tornara-se motivo de medo e de escondimento:
E ouviram a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim pela viração do dia; e esconderam-se Adão e sua mulher da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim. E chamou o Senhor Deus a Adão, e disse-lhe: Onde estás? E ele disse: Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me (Gn 3, 8-10).
Falar aos homens, como amigos, era algo impensável nas circunstâncias do pecado, mas ocorreu exclusivamente em virtude da Natureza amorosa de Deus. A revelação, por isso, pode ser entendida como um supremo gesto amoroso em nossa direção, uma declaração de amor de Deus aos Homens, como lemos em Jo 3, 16:
Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
Mas, mesmo no mais profundo antigo Testamento, abundam declarações de amor divino ao Povode Israel, entre outros:
O Senhor não tomou prazer em vós, nem vos escolheu, porque a vossa multidão era mais do que a de todos os outros povos, pois vós éreis menos em número do que todos os povos; mas, porque o Senhor vos amava, e para guardar o juramento que fizera a vossos pais, o Senhor vos tirou com mão forte e vos resgatou da casa da servidão, da mão de Faraó, rei do Egito (Dt 7, 7-8).
Segundo o teólogo Estevão Bettencourt, o conceito, a prática ou a demonstração do amor verdadeiro descrevem ação de Deus e circunscrevem seu Ser Divino:
Ao falar de Deus Amor, tocamos o âmago da mensagem bíblica, única entre as mensagens religiosas da humanidade; requer a coragem de professar que Deus primeiro nos amou, e nos amou quando éramos ingratos e rebeldes. Platão julgava que a Divindade nem sequer respondia ao amor do homem, porque ela nada teria a ganhar com isso; portanto, se houve alguma atitude de amor para com a Divindade, nunca houve a recíproca segundo o mesmo. Ora foi
precisamente sobre este pano de fundo que ressoou a pregação evangélica; esta só pode ter tido origem no próprio Deus, que assim se revela, e não na mente do homem, por mais religioso que fosse. A singularidade do Cristianismo está nesta afirmação de que Deus é o primeiro a nos amar (BETTENCOURT, 2008, p. 145).
Em um segundo momento, chegamos ao termo principal. A história é o campo decidido por Deus para se encontrar com os seres humanos:
Esta economia da revelação realiza-se por meio de ações e palavras intimamente relacionadas entre si, de tal maneira que as obras, realizadas por Deus na história da salvação, manifestam e confirmam a doutrina e as realidades significadas pelas palavras; e as palavras, por sua vez, declaram as obras e esclarecem o mistério nelas contido (PAULO VI, 1965, 2).
Cf. PAULO VI. Constituição Dogmática ‘Sacrossanctum Concilium’. Roma: Vaticano, 1965. Disponível em: //www.vatican.va. (Acesso 25 de maio de 2019).
A história humana é nosso ambiente exclusivo, por sermos medidos sempre nas coordenadas de tempo e espaço. Não existe significação humana sem as
coordenadas. A comunicação entre nós mesmos, como seres sociáveis, se dá na história e a constitui.
 (
(Fonte:
 
rudall30
 
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)
IV. História da Salvação: Um conceito prévio à revelação?
Deus amantíssimo, desejando e preparando com solicitude a salvação de todo o gênero humano, escolheu por especial providência um povo a quem confiar as suas promessas. Tendo estabelecido aliança com Abraão (cf. Gên 15,18), e com o povo de Israel por meio de Moisés (cf. Ex 24,8), revelou-se ao Povo escolhido como único Deus verdadeiro e vivo, em palavras e obras, de tal modo que Israel pudesse conhecer por experiência os planos de Deus sobre os homens, os compreendesse cada vez mais profunda e claramente, ouvindo o mesmo Deus falar por boca dos profetas, e os difundisse mais amplamente entre os homens (cf. Salm 21, 28-29; 95, 1-3; Is 2, 1-4; Jer 3,17). A economia da salvação de antemão anunciada, narrada e explicada pelos autores sagrados, encontra-se nos livros do Antigo Testamento como verdadeira palavra de Deus. Por isso, estes livros divinamente inspirados conservam um valor perene: “Tudo quanto está escrito, para nossa instrução está escrito, para que, por meio da paciência e consolação que nos vem da Escritura, tenhamos esperança” (Rom 15,4) (PAULO VI, 1965, 14).
Cf.. PAULO VI. Constituição Dogmática ‘Sacrossanctum Concilium’. Roma: Vaticano, 1965. Disponível em: //www.vatican.va. (Acesso 25 de julho de 2019).
Alguns teólogos têm se debruçado sobre a temática das relações entre Deus que se dá conhecer a e história humana. Isto é, como estabelecer
parâmetros entre a revelação divina, como experiência transcendente, e a realidade humana da história (imanência)?
Vejamos o que nos diz WERBICK, Jürgen (1993) em seu artigo sobre esta questão. Ao mesmo tempo, em outra chave de leitura, vem sendo tratada também por LACOSTE, J.- Yves (2004).
V. A Profecia e a Apocalíptica: a história do agir de Deus na história?
 (
(Fonte:
 
IgorZh
 
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)Diferentemente dos judeus, os cristãos mantiveram, ou melhor, depois de um intervalo, retomaram seu interesse pela história. A espera do fim do mundo era um fato muito mais opressor entre os cristãos que entre judeus e resultou em
uma nova avaliação crítica contínua dos eventos como portentos. O pensamento apocalíptico era um estímulo à observação histórica. Além disso, e isto
foi decisivo – a conversão de Constantino implicou a reconciliação da maioria dos líderes cristãos com o Império Romano (especialmente o Leste) e deu à Igreja um lugar preciso nas questões humanas (MOMIGLIANO, A. 2004, p. 50).
O pensamento de período profético que se constitui na literatura pré-exílica e especialmente no período pós-exílico (séc. VI a. C.) destaca-se por ter feito dos
princípios básicos da fé judaica os alicerces de uma potente narração de tipo histórico, na qual eles contam de modo coerente o Agir de Deus. Partem da eleição e da Páscoa até chegar aos eventos da Criação e do pecado.
Saiba mais
A profecia tomou a história como espaço de realização da santa e justa vontade de Deus. Mas fez falar também Javé como o Criador, que como Senhor da Criação, não deixa disputar duradouramente sua propriedade por usurpadores, mas será Rei e Senhor (WERBICK, 1993, p. 352).
No mesmo período, em época mais tardia, este projeto historiográfico, esta vontade de escrever e registrar o Desígnio Divino na história por parte dos teólogos de ambiente profético ou deuteronomista, será confrontada pela apocalíptica.
 Escatologia Apocalíptica e Jesus e o Adiantamento da Parusia
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)
Temas e ideias da antiga mitologia judaica e da especulação helenística
compõem as diversas influências que determinamos nos escritos apocalípticos. Trata-se de uma verdadeira cosmovisão, que podemos traçar na estrutura dos apocalipses judaicos e cristãos. A fonte desta visão pode ser determinada pela antiga literatura bíblico-profética.
A perspectiva desta escatologia apocalíptica pode ser entendida como desenvolvida a partir da escatologia profética: comum entre ambas, a perspectiva é a crença de que, de acordo com o PLANO DIVINO, as condições adversas do mundo presente podem terminar no julgamento do mal e na vingança dos Justos, abrindo assim uma nova era de prosperidade e paz (Is 65,16b-17a).
Este ponto em comum faz com que, tanto a escatologia profética como a apocalíptica, sejam vistas como dois lados da mesma moeda. O
desenvolvimento de uma para a outra não é inelutavelmente cronológico, mas é inegável que ambas se entrelaçam com mudança nas condições sócio-políticas.
Trata-se daquelas condições de mudança que inspiram uma interpretação baseada no desígnio Divino: o esforço humano vem selado pela intervenção divina favorável.
Períodos de extremo sofrimento tendem a colocar em xeque a efetividade da reforma humana e assim propiciar uma radicalização da visão que a escatologia apocalíptica fornece da realidade, tendendo a propor uma rígida visão dualística da salvação divina, com a destruição deste mundo e a ressurreição do crente para a uma existência celestial abençoada.
Diante do passado judaico pleno de infidelidades e erros repetitivos, acompanhados de castigos e falimentos, a apocalíptica propõe uma
perspectivística do futuro que nasce a partir de crises profundas ocorridas entre os exílios, repatriações e invasões:
A história perdeu sua transparência para o agir salvífico e educativo de Javé para com o seu povo. A Apocalíptica, para manter a esperança do Deus que opera Salvação apelou não mais para os acontecimentos passados. A História – a velha – parecia dominada de tal forma pelo pecado e pelo mal, que parecia ir
caminhando de forma irredutível e irresistível rumo ao fim catastrófico (...) mas que se abreviassem as aflições do fim dos tempos e chegasse logo ao fim a velha era,que se tornara insuportável, com o seu agir salvífico escatológico, fazendo irromper em breve o seu reinado do fim dos tempos (WERBICK, 1993, p. 353).
2. Jesus e o adiantamento da Parusia
A apocalíptica cruzou-se com a ilusão de uma história da Salvação que se imporia sem cessar em Israel e desde Israel; este se evidenciou para a
apocalíptica como instrumento inútil nas Mãos de Deus; por isso não pôde mais apelar para as promessas ou para as manifestações graciosas de Javé.
Conforme essa visão apocalíptica, Javé levaria avante o seu projeto salvífico não em continuidade com o sucedido até o momento, mas em radical descontinuidade, e seria em favor dos que não se deixaram seduzir pela perversidade desta era (WERBICK, 1993, p. 353).
Eis um ponto fundamental de partida da obra cristã, do tempo, da palavra e da ação de Jesus. De um lado apresenta estes aspectos da descontinuidade em relação à interpretação da Torah, como se lê nos quatro Evangelhos: Senhor do Sábado é um episódio da vida de Jesus que aparece nos três evangelhos sinóticos:
Mateus 12:1-8,
Lucas 6:1-5 e
Marcos 2:23-28.
Relatam o encontro de Jesus, seus apóstolos e os fariseus na primeira de suas quatro controvérsias sobre o Sabbath. No versículo referido, lê-se a marca apocalíptica por causa da autointitulação como o Filho do Homem:
Porque eu, o Filho do Homem, sou Senhor do próprio sábado (Mt 12, 8).
Expressão que procede da literatura profética de Daniel, com acentuado sabor apocalíptico. Por outro lado, Jesus em sua pregação e em sua práxis, diferencia- se da apocalíptica judaica ao pretender testemunhar a irrupção do Reino de Deus. Esta é a categoria mais escatológica da pregação de Jesus. Uma realidade que se exibe no tempo, mas que se realiza no futuro. As Parábolas do Reino, seção obrigatória nos três Evangelhos, bem demonstra isso.
O Cristianismo sabe ter iniciado com o pleno Mistério de Cristo, realizado em sua Cruz e Ressurreição, uma nova e verdadeira História humana e religiosa:
A História de Israel chegou ao seu termo. E porque essa história é biblicamente indissociável da história de todas as nações, a plenitude dos tempos (Gl 4,4) pode passar pelo fim puro e simples da história: O cristianismo primitivo sabe que saiu de uma história, sabe que um novo eon se abre com ele, não sabe nem se crê investido de outra missão a não ser a de chamar à conversão, esperando a volta iminente (a Parusia) do messias ressuscitado (LACOSTE, 2004, p. 835).
VI. A escatologia e a nossa esperança
É digna de observação a forma pela qual, no Novo Testamento, os crentes encontrariam toda a firmeza e a pujança de sua fé na experiência de encontrar-se com Jesus Cristo ressuscitado.
À simples lembrança da vida terrena do Senhor e do seu exemplo luminoso tinha para eles pouco sabor. Sua fé nova encontrou o conteúdo cabal, o ponto de apoio inabalável na Pessoa do Ressuscitado dentre os mortos, n’Aquele que é Vivo e intercede por nós junto ao Pai (Heb 7, 25).
 (Fonte: MeSamong / Shutterstock)
Efetivamente ressuscitando para sempre, o próprio Filho encarnado Deus demonstrou seu amor incondicional pelos homens que, matando-o na Cruz, haviam rejeitado esse amor. Seria preciso assinalar alguns pontos, quanto a esta Fé simples e incontestável da primeira hora da era cristã, uma fé talvez de certa forma domesticada entre os cristãos de épocas mais recentes.
Primeiro, pode-se observar que os que viram o Mestre depois de ressuscitado, logo vincularam esses encontros com a Promessa de uma ressurreição futura, destinada precisamente a eles. Cristo ressuscita, portanto, eles, que acreditaram no Senhor, tornam-se portadores da mesma Promessa de ressurreição.
 (
(Fonte:
 
Rachata
 
Sinthopachakul
 
/
 
Shutterstock)
)
Atenção
Em outras palavras, a ressurreição de Cristo, em quem eles creram, foi percebida espontaneamente como um bem para os crentes.
O discípulo de Cristo incorpora-se à Ressurreição do seu Senhor. São Paulo indagava aos Coríntios:
“Pois se de Cristo se prega que ressuscitou dentre os mortos, como entre vós, alguns afirmam que não existe Ressurreição dos mortos? (1 Cor 15,12)
E também:
Sabemos que quem ressuscitou o Senhor Jesus, também com Jesus nos ressuscitará e nos fará estar entre vós" (2 Cor 4,14).
Como fruto da união do crente com Cristo, de sua incorporação à Páscoa, a morte humana desempenhava um papel muito real, prático e imediato na vida dos novos
crentes, precisamente pela Vivacidade de sua esperança na ressurreição. Com efeito, estavam dispostos a morrer até mesmo uma morte injusta e cruel em troca da promessa da ressurreição, dando um testemunho (marturia) de sua fé em Jesus Cristo.
Em poucas palavras, a morte do cristão foi percebida e vivenciada como uma verdadeira participação na morte de Cristo e, consequentemente, em sua ressurreição: o que
aconteceu com Ele se tornaria presente, por força do Espírito Santo, nos que acreditam n’Ele, ou seja, nós somos incorporados à sua Páscoa.
Novamente e com força escatológica, comprova-se que a vida humana, desembocando inevitavelmente na morte, e a própria morte serão compreendidas e resolvidas principalmente à luz da imortalidade percebida ou Prometida.
Atividade
1. Segundo a Teologia de Paulo, em Cor 15, por que a Ressurreição é um conceito escatológico tão essencial à vida cristã?
2. O Conceito de Apocalíptica judaico-cristã ancora-se no conceito mais amplo de
escatologia. Explique esta afirmação usando o artigo de WERBICK, Jürgen (1993, p. 351- 361).
3. Quais são os Fundamentos Cristológicos da Escatologia? Escolha a questão CORRETA.
a) Cristo é Senhor do Tempo, sua Páscoa resultou na redenção do próprio tempo.
b) Não há uma verdadeira fundamentação cristológica para o fim dos tempos, um mistério.
c) O Cristianismo não possui, como o judaísmo, um sistema profético que se apoie nas visões do futuro.
d) d) A escatologia só possui fundamentos no Antigo Testamento, na velha profecia ou nos apocalipses.
Reef) eCrriêstno cfuinadsou no passado de Israel a visão do futuro e somente na ressurreição tem-se uma visão obscura do devir.
ANCONA, G. A Escatologia Cristã. São Paulo: Loyola, 2013.
BITTENCOURT, E. Com amor eterno eu te amei. Revista Pergunte e Responderemos. Rio de Janeiro: Lumen Christi, ano XLIX, abr. 2008, n. 550, p. 145.
ERICKSON, M. J. Escatologia. São Paulo: Vida Nova, 2010.
LACOSTE, J. Yves. História. In: LACOSTE, J.-Yves. Dicionário Crítico de Teologia. São Paulo: Paulinas e Loyola, 2004, p. 834-839.
LOPES, E P. Escatologia e Milenarismo na História na Igreja Cristã. Ciências da Religião
– História e Sociedade. v. 9, n. 1, p. 46-73, 2011.
MOMIGLIANO, A. As raízes clássicas da Historiografia Moderna. Bauru: EdUSC, 2004, p. 50.
WERBICK, Jürgen História/Agir de Deus. In: EICHER, P. Dicionário de Conceitos Fundamentais de Teologia. Petrópolis: Vozes, 1993, p. 351-361.
Próxima aula
Escatologia Cristã nas tradições cristãs.
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