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Prévia do material em texto

CRISTOLOGIA
CURSOS DE GRADUAÇÃO – EAD
Cristologia - Prof. Dr. Pe. Hélcion Ribeiro
Vivo e moro em Curitiba. Tenho três amores: sou professor, 
padre e escritor. Dou aulas de Teologia Sistemática. Lecionei em 
Florianópolis, São Paulo e Curitiba. Como padre, trabalhei em 
Lages (SC), Florianópolis e atualmente em Curitiba (Paróquia 
Sagrados Corações de Jesus e Maria). Como autor, publiquei 
vários livros quase todos de antropologia teológica. Os principais 
são: Ensaio de antropologia cristã (Vozes); Condição humana e 
solidariedade cristã (Vozes); Quem somos? Donde viemos? Para 
onde vamos (Vozes); A realização de nosso Deus e a do homem 
(Loyola); Teologia da religiosidade popular latino-americana 
(Paulus). Também tenho escrito muitos artigos de teologia. No momento estou 
escrevendo outro livro versando sobre o tema antropologia teológica. Como estudo, 
fiz graduação de filosofia, pedagogia e teologia. Fiz também mestrado e doutorado em 
missiologia, e pós-doutorado em antropologia teológica. Lecionei cristologia, escatologia 
e antropologia teológica no Studium Theologicum (Curitiba) e na Pontificia Universidade 
Católica do Paraná, por muitos anos.
Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação
CRISTOLOGIA
Helcion Ribeiro
Batatais
Claretiano
2014
Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação
© Ação Educacional Clare ana, 2014 – Batatais (SP)
Versão: ago./2014
232 R367c 
 Ribeiro, Hélcion 
 Cristologia / Hélcion Ribeiro – Batatais, SP : Claretiano, 2014. 
 214 p. 
 ISBN: 978-85-8377-158-6 
 
 1. Cristologia. 2. Jesus. 3. Morte. 4. Ressurreição. 5. Dogmas. 
 I. Cristologia. 
 
 
 CDD 232
Corpo Técnico Editorial do Material Didático Mediacional
Coordenador de Material Didá co Mediacional: J. Alves
Preparação 
Aline de Fátima Guedes
Camila Maria Nardi Matos 
Carolina de Andrade Baviera
Cá a Aparecida Ribeiro
Dandara Louise Vieira Matavelli
Elaine Aparecida de Lima Moraes
Josiane Marchiori Mar ns
Lidiane Maria Magalini
Luciana A. Mani Adami
Luciana dos Santos Sançana de Melo
Patrícia Alves Veronez Montera
Raquel Baptista Meneses Frata
Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli
Simone Rodrigues de Oliveira
Bibliotecária 
Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11
Revisão
Cecília Beatriz Alves Teixeira
Felipe Aleixo
Filipi Andrade de Deus Silveira
Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz
Rafael Antonio Morotti
Rodrigo Ferreira Daverni
Sônia Galindo Melo
Talita Cristina Bartolomeu
Vanessa Vergani Machado
Projeto gráfico, diagramação e capa 
Eduardo de Oliveira Azevedo
Joice Cristina Micai 
Lúcia Maria de Sousa Ferrão
Luis Antônio Guimarães Toloi 
Raphael Fantacini de Oliveira
Tamires Botta Murakami de Souza
Wagner Segato dos Santos
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer 
forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na 
web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do 
autor e da Ação Educacional Claretiana.
Claretiano - Centro Universitário
Rua Dom Bosco, 466 - Bairro: Castelo – Batatais SP – CEP 14.300-000
cead@claretiano.edu.br
Fone: (16) 3660-1777 – Fax: (16) 3660-1780 – 0800 941 0006
www.claretianobt.com.br
SUMÁRIO
CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 9
2 ORIENTAÇÕES PARA ESTUDO ......................................................................... 10
UNIDADE 1 INTRODUÇÃO À CRISTOLOGIA 
1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 31
2 CONTEÚDOS .................................................................................................... 31
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 31
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 32
5 PONTO DE PARTIDA E CONCEITO DE CRISTOLOGIA ...................................... 33
6 DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA CRISTOLOGIA ...................................... 34
7 OPORTUNIDADE E DIFICULDADES EM CRISTOLOGIA ................................... 39
8 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 41
9 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 42
10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 43
UNIDADE 2 JESUS, DESDE A HISTÓRIA BÍBLICA DA SALVAÇÃO
1 OBJETIVOS ....................................................................................................... 45
2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 45
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 46
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 47
5 ANTIGO TESTAMENTO COMO BASE E FUNDAMENTO DA CRISTOLOGIA 
NEOTESTAMENTÁRIA ....................................................................................... 48
6 EXPERIÊNCIAS SALVÍFICAS NO ANTIGO TESTAMENTO ................................. 49
7 JESUS DE NAZARÉ, SUA HISTÓRIA E SUA ATUAÇÃO ...................................... 57
8 A HISTÓRIA DO HOMEM JESUS ....................................................................... 58
9 A ATUAÇÃO DE JESUS DIANTE DOS OUTROS ................................................. 69
10 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 77
11 CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 79
12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 80
UNIDADE 3 O DESTINO DE JESUS: MORTE E RESSUREIÇÃO
1 OBJETIVOS ....................................................................................................... 81
2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 81
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 82
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 82
5 A MORTE DE JESUS .......................................................................................... 84
6 A RESSURREIÇÃO DE JESUS O TESTEMUNHO NEOTESTAMENTÁRIO ....... 89
7 QUEM É JESUS? A REFLEXÃO TEOLÓGICA NEOTESTAMENTÁRIA ............ 96
8 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 102
9 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 104
10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 105
UNIDADE 4 REFLEXÃO HISTÓRICO DOGMÁTICA: A CRISTOLOGIA DOS 
DOGMAS
1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 107
2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 108
3 ORIENTAÇÃO PARA O ESTUDO DA UNIDADE ................................................. 108
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 108
5 NOVO TESTAMENTO COMO NORMATIVO PARA A CRISTOLOGIA ............... 109
6 EVOLUÇÃO DOGMÁTICA NOS CONCÍLIOS CRISTOLÓGICOS ........................ 110
7 TRÊS GRANDESRESPOSTAS E AS CONCLUSÕES DOS CONCÍLIOS ................ 123
8 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 126
9 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 128
10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 129
UNIDADE 5 CRISTOLOGIA SISTEMÁTICA
1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 131
2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 132
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 132
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 134
5 AS CRISTOLOGIAS HOJE ................................................................................... 136
6 O HOMEM JESUS .............................................................................................. 139
7 O DESTINO DE JESUS: A MORTE ...................................................................... 154
8 O RESSUSCITADO: AUTORREVELAÇÃO DE DEUS E DO HOMEM .................. 168
9 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 180
10 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 182
11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 183
UNIDADE 6 O LUGAR E O PAPEL DE CRISTO NO PLANO DE DEUS
1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 185
2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 185
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 186
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 187
5 O LUGAR DO SALVADOR NO PLANO DE DEUS ............................................... 188
6 TEOLOGIA DA SALVAÇÃO SOTEREOLOGIA ................................................... 191
7 CRISTO SALVADOR ATUANDO ENTRE NÓS ..................................................... 196
8 JESUS, O EMANUEL E SALVADOR NOSSO ...................................................... 200
9 SEGUIR JESUS ................................................................................................... 208
10 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 210
11 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 212
12 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 212
13 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 213
CRC
Caderno de 
Referência de 
Conteúdo
1. INTRODUÇÃO 
Seja bem-vindo! Você iniciará o estudo de Cristologia, que 
compõe os cursos de graduação oferecidos na modalidade EaD do 
Claretiano. 
A Cristologia é a base dos estudos teológicos. Com base 
na visão cristológica que se constrói toda a teologia. Dizia Jesus: 
"Quem me vê, vê o Pai". Ele é o revelador do Pai e do próprio ser 
humano. A grande “novidade” do Vaticano II foi recentralizar tudo 
em Cristo e, a partir dele, repensar todas as questões da fé. Se as-
sim não fosse, que sentido teria em sermos "cristãos"?
Conhecer Jesus Cristo para amá-lo e segui-lo, enquanto cris-
tãos, é o caminho a que a Cristologia remete. Sem dúvida, o conhe-
cer Jesus não é uma mera questão de saber quem é o biografado, 
nem do conhecimento de sua atuação e influência na história. Nós 
cremos em Jesus Cristo vivo e atuante hoje, no passado e sempre 
(cf. Hebr. 13, 8.).
© Cristologia10
Como teologizar é estabelecer as razões da própria fé, espe-
ro que você esteja bem motivado para aprofundar os conhecimen-
tos sobre Jesus Cristo. Para isso, você deverá ler e estudar os textos 
indicados e complementares.
Observar a sua maneira (e a dos outros) de se relacionar com 
Cristo e crescentemente responder: "E para você, quem sou?" (Mt. 
16, 15).
2. ORIENTAÇÕES PARA ESTUDO 
Abordagem Geral 
Você estudou anteriormente Antropologia Teológica. E isto 
tem certa vantagem, apesar de cada uma delas serem autônomas. 
Mas, se você lembra: lá, na Antropologia, dizia-se que hoje se faz 
uma antropologia cristológica. Aqui, pelas novas tendências, qua-
se seria possível dizer: faz-se uma cristologia antropológica – tal é 
a ênfase na pessoa de Jesus. 
É certo que Jesus Cristo é o fundamento de nossa fé. E é 
também, sem dúvida, o fundamento de toda a teologia cristã. A 
partir do Concílio Vaticano II, das orientações da Igreja e da teo-
logia contemporânea, nenhum cristão se aproxima de Deus sem 
passar por ele. Não é em vão que Jesus mesmo disse ser “o cami-
nho”. Ainda acrescentou: só conhece ao Pai, aquele a quem o Filho 
quiser revelar. 
Estudar cristologia é encontrar-se com Jesus Cristo. É um 
encontro de estudos. Porém, é mais que isto. É um encontro de 
fé. Não poucos teólogos insistem que este estudo/encontro se faz 
ajoelhado, pois vamos nos encontrar com o mistério de Deus que 
se dignou fazer-se um de nós, um conosco, a fim de participarmos 
também de seu mistério divino.
Quanto mais se estuda, lê-se ou se escreve cristologia mais 
se sente que se deve rezar, o u melhor, silenciar diante deste misté-
rio tão divino e tão humano. É importante perceber que a cristolo-
11
Claretiano - Centro Universitário
© Caderno de Referência de Conteúdo
gia se faz com estudo e oração. Quem se adentrar em Cristologia 
precisa estudá-la muito. Mas sem rezar, sem contemplar o Senhor 
Jesus Cristo, não será possível aprendê-la.
Alguém já teria se perguntado se é possível estudar cristolo-
gia sem a fé? – decididamente não. Sem fé, alguém até pode estu-
dar, pesquisar muita coisa sobre Jesus, até fazer grandes estudos 
científicos sobre ele. Porém, não faria cristologia. Ela é, é necessá-
rio reafirmar, feita desde a fé, com o coração e com a razão. 
Então, sugiro no início de seu curso, ao ler e estudar Cristolo-
gia você diga rezando, muitas vezes a si mesmo: estou estudando 
sobre aquele que é nosso Deus e nosso irmão. É ele meu senhor e 
salvador.
No caso, como você é cristão, então já sabe empírica e/ou 
aleatoriamente muitas coisas sobre Jesus Cristo. Talvez até já te-
nha feito algum outro curso sobre a questão. Mas, vamos fazer 
aqui um caminho para aprofundar e sistematizar conceitos que 
dão as razões de nossa fé em Cristo Jesus.
Antigamente, a cristologia era uma ciência que tratava prati-
camente de dogmatização sobre Cristo. A preocupação era com-
provar que ele era verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Aí surgia 
uma série de interrogações, cujas respostas iam sendo formula-
das - desde a razão - para compreender quem era Jesus. Estas dis-
cussões se tornariam válidas à medida que ficasse claro ser ele o 
salvador da humanidade toda. Este estudo, que caracterizou por 
muito tempo a cristologia (praticamente do século 3º à primeira 
metade do século 20), não perdeu seu valor. Porém, houve uma 
nova interpretação neste estudo.
Desse modo, ao menos no universo católico, a cristologia é 
divida didaticamente em três grandes temas: 
• cristologia bíblica;
• cristologia histórico-dogmática;
• cristologia sistemática. 
© Cristologia12
Comentemos, introdutoriamente, um pouco mais sobre 
cada uma delas. 
Cristologia bíblica
Se você perguntar às pessoas mais velhas se elas, quando 
crianças, liam a bíblia, a resposta imediatamente será mais ou me-
nos assim: "Não. Não só não líamos como era proibido lê-la". Qua-
se assim procedia também a cristologia: não se utilizava da bíblia.
As coisas mudaram. Hoje sem a bíblia não se pode fazer cris-
tologia. Afinal, ondeencontrar Jesus se não a partir dela? Fora dela 
não se encontra Jesus Cristo. Aliás, não é só questão de encontrá-
-lo. É preciso compreendê-lo também.
 A própria bíblia é critério para este estudo. É por isso que 
dizemos: a bíblia é normativa para a cristologia. Inclusive é só nela 
que encontramos as mais antigas referências sobre Jesus Cristo. 
Todas as outras referências antigas quase nada acrescentam de 
modo objetivo. Os tão falados evangelhos apócrifos foram escri-
tos, no mínimo, 150 anos depois da morte dele. 
Mais ainda: os textos bíblicos sobre Jesus não são reportagem 
nem narrativas históricas ou fatos jornalísticos como se pensa hoje.
A cristologia bíblica é uma interpretação pela ótica dos evan-
gelistas inspirados por Deus, de quem foi Jesus. Esta ótica é feita 
à luz pascal. Quer dizer, os textos interpretam Jesus a partir da 
ressurreição. Isto cria um sentido diferente: aquele Jesus da Gali-
leia, da Palestina, é redescoberto pelos próprios seguidores que o 
conheceram de uma forma nova. Agora, iluminados pela ressurrei-
ção, o percebem num outro sentido, inclusive, muito mais profun-
do... Desse modo, textos dos evangelhos são escritos de fé.
No entanto, é preciso observar: temos quatro evangelhos. 
Cada um deles apresenta Jesus de uma forma – o que não significa 
negar a outra. Além disso, encontramos também a cristologia pau-
lina. Portanto, a Bíblia sagrada não oferece uma, mas cinco cristo-
logias ao menos. 
13
Claretiano - Centro Universitário
© Caderno de Referência de Conteúdo
 A fé da Igreja compreende a inesgotabilidade de quem seja 
Jesus Cristo. Desse modo, nenhum escrito neo-testamentário se 
basta por si só. Antes cada um enriquece o outro e todos juntos é 
que mostram maximamente – apesar de não dizerem tudo – quem 
é aquele em que acreditamos.
Dizemos que a Bíblia é normativa em suas cinco interpreta-
ções conjuntas. Ora, a riqueza plural de interpretações também 
cria para todos os intérpretes posteriores várias possibilidades de 
enfoque. São Marcos enfatizou o Filho de Deus; São Mateus apro-
fundou o messianismo de Jesus; São Lucas ressaltou a misericórdia 
de Deus em Jesus; São João faz predominar a divindade no homem 
Jesus; São Paulo acentuou o sacrifício do crucificado ressuscitado.
As cinco cristologias bíblicas têm em comum a perspectiva 
da ressurreição para abordar o sentido da vida daquele judeu nas-
cido seis ou sete anos antes da era cristã e que foi crucificado pelo 
ano trinta da nossa era. 
Ele passou pelo mundo fazendo o bem. Curou a muitos. 
Reintegrou excluídos. Abriu espaço para mulheres e crianças. Mul-
tiplicou pão. Fez muitos milagres. Anunciou o Reino de Deus para 
todos. Foi crucificado e morto pelos romanos, instigados pelo Si-
nédrio judeu. Depois foi ressuscitado e glorificado pelo Pai.
Jesus – do NT – é compreendido, após a páscoa, como o 
messias prometido e esperado desde o AT. Por causa das circuns-
tâncias concretas e históricas, Jesus não se enquadrou no modelo 
sócio-político do messias esperado. Isto contribuiu para sua con-
denação. 
Da mesma forma, os judeus de então tinham certas expecta-
tivas salvíficas, mas elas não foram satisfeitas por Jesus. A salvação 
que ele trouxe de Deus tinha critérios mais profundos que ques-
tões econômicas e políticas.
 Como estamos vendo nestas questões de messianismo e 
expectativas salvíficas, Jesus também deve ser explicado a partir 
© Cristologia14
do AT. Isto quer dizer: para compreender Jesus Cristo é preciso re-
ler o AT numa ótica cristológica. 
Assim, nossa primeira unidade "Fundamentos bíblicos da 
cristologia" será dividida em duas partes: a primeira "O AT como 
base e fonte da cristologia e da sotereologia néo-testamentária" e 
a segunda: "Jesus de Nazaré, sua atuação e sua história". 
 Na primeira parte, procuraremos entender, a partir do AT, 
as experiências de salvação do povo hebreu, a questão da aliança 
e das expectativas messiânicas. Além disso, é interessante perce-
ber na "Sabedoria" vétero-testamentária uma indicação cristológi-
ca muito importante: a sabedoria de Deus é o Verbo, que se encar-
nou entre nós.
 Na segunda parte da cristologia do NT, iremos estudar so-
bre este homem extraordinário chamado Jesus. Enfocaremos sua 
vida. Nela iremos nos deter na orientação de sua vida, de seu agir, 
de sua pregação e modo de ser. Destacaremos a relação dele com 
os marginalizados, com as mulheres e com os diferentes grupos de 
influência de seu tempo.
 Depois, estudaremos o destino humano de Jesus, ressal-
tando sua morte e ressurreição. 
Para concluir, vamos aprofundar a resposta do NT acerca de 
Jesus. A mesma pergunta que Jesus fizera aos seus: "quem dizem 
os homens que eu sou?" se estende pela história toda e continua a 
ser feita. É preciso respondê-la. E o NT é sempre uma norma segu-
ra, apesar de não ser uma resposta unívoca. É por isto que se per-
cebe duas grandes orientações no NT: uma chamada "cristologia 
da exaltação e da eleição" (que alguns chamam de "cristologia de 
baixo") e "cristologia da pré-existência e da encarnação" (outros 
a chamam de "cristologia do alto"). A partir destas perspectivas, 
temos uma chave para compreender como padres, bispos, cate-
quistas, teólogos e familiares falam sobre Jesus.
15
Claretiano - Centro Universitário
© Caderno de Referência de Conteúdo
A cristologia histórico-dogmática
A segunda unidade de nosso estudo volta-se para o desen-
volvimento do dogma, ou seja: de como a Igreja foi compreenden-
do quem era Jesus por meio de uma nova linguagem (a filosófica, 
de corte helênico) – centrada, sobretudo, entre os séculos 4º e 7º. 
São os chamados "séculos de ouro da cristologia".
O que aconteceu? O cristianismo foi saindo de suas raízes 
e limites judaicos. Os cristãos foram se espalhando pelo Império 
Romano e encontravam outras culturas, especialmente a cultura 
helênica, dos filósofos gregos. 
Começaram a adaptar a mensagem evangélica a estes povos 
e culturas. Na linguagem de hoje se diria: começaram a inculturar 
o evangelho. 
Como há muito tempo não existia mais quem tivesse co-
nhecido Jesus, começaram a multiplicar perguntas: ele é verda-
deiramente Deus? – É, então, um homem verdadeiro como nós? 
– Como poderia ser Deus e homem ao mesmo tempo? – Seria uma 
pessoa em duas? – Ele sabia as coisas porque era Deus? – Enfim, 
como explicar quem era aquele Jesus a quem todos amavam?
As perguntas multiplicavam-se. As discussões tornavam-se 
acaloradas. Chegava-se a discutir nos botequins, nas esquinas e 
praças. Todo mundo ia tomando partido. Pior ainda. Como esta-
vam se misturando interesses políticos e econômicos aos religio-
sos. O próprio imperador romano interferia constantemente não 
só para apaziguar os exaltados, como também para acirrar ânimos. 
Aí muita gente foi presa. Outros, torturados. Houve perseguição e 
até assassinatos. Por causa das cristologias, bispos, teólogos, po-
líticos e o povo começaram a criar inúmeras polêmicas. Uns expli-
cavam de um jeito. Outros não aceitavam o jeito e propunham ex-
plicações diferentes. Um era de um partido; outro, doutro. Houve 
até muita vontade de acertar. E isto era o que a Igreja, por meio 
de sua gente, definia. Foram uns 400 anos de lutas teológicas até 
a Igreja definir os mais importantes dogmas – não só - mas, sobre-
tudo - cristológicos.
© Cristologia16
 Esta unidade – que será apresentada de forma sintética em 
nosso curso – destacará uma série de concílios ecumênicos (os 7 
grandes concílios ecumênicos), com muitos nomes e muitas ideias. 
Aí se estabeleceram uma série de termos técnicos – de ordem filo-
sófica - para definir Jesus Cristo verdadeiro Deus e verdadeiro ho-
mem, ao mesmo tempo, como uma única pessoa, mas portadora 
de duas vontades e duas reações, por causa de sua divindade e de 
sua humanidade – que devem ser integrais, totais, a fim de que se 
reconheça nela o verdadeiro mediador entre Deus e os homens e 
nosso salvador.
 Lembro ao estudante que a cristologia antiga considerou 
esta parte como "a cristologia",como se ela fosse a cristologia em 
sua totalidade. Hoje nós a estudamos como parte integrativa da fé, 
mesmo que muito importante na cristologia. 
 Se a Bíblia é normativa, a dogmática é integrativa. Ela deve 
ser conhecida e compreendida para não serem repetidas inverda-
des e/ou exageros na fé.
A cristologia sistemática
A terceira unidade será chamada "Cristologia sistemática". Ela 
quer ser uma retomada da reflexão bíblica e histórico-dogmática, 
com linguagem atual, como resposta às nossas atuais questões de 
fé.
Vamos sub-dividí-las em quatro temas. "As cristologias atu-
ais", "O homem Jesus", "Seu destino (morte e ressurreição)" e, por 
fim, "O papel e o lugar de Cristo no plano de Deus". 
Será uma reflexão teológica, em que vamos procurar fazer 
leituras globais sobre Jesus Cristo. No tema "As cristologias atu-
ais", a partir do esquema "cristologia de baixo" e "cristologia de 
cima", vamos procurar compreender esta atual e tão rica forma 
de fazer cristologia. Inclusive, vamos perceber a validade atual das 
chamadas "cristologias contextuais ou de contexto", como por 
exemplo: a cristologia negra ou africana, a cristologia feminista, a 
17
Claretiano - Centro Universitário
© Caderno de Referência de Conteúdo
cristologia indígena, a cristologia da libertação e a atual cristologia 
europeia – de cunho mais dogmatizado. 
Todas estas cristologias são respostas circunstanciadas, que 
as pessoas e as comunidades precisam. Elas são sempre respostas 
parciais – não universalizadoras, como se pretendeu no passado. 
Mas, sua validade se confirma a partir da normatividade e diversi-
dade do próprio NT, que respondia aos anseios de fé daqueles que 
queriam seguir Jesus. 
No tema "O homem Jesus", procuraremos entender a origi-
nalidade dele e como ele mesmo se compreendeu diante de Deus. 
Convém ter claro que ele existiu entre nós, por nós. Mas, ao mes-
mo tempo, deve-se compreendê-lo como homem por Deus e por 
nós, simultaneamente. Assim, ele não é só um deus e nem só um 
personagem humano que viveu só para Deus ou só para a história 
humana.
O "destino de Jesus" será o terceiro tema da unidade. 
Explicações antigas sobre a morte de Jesus necessitam de 
novos horizontes. As respostas clássicas parecem insuficientes, 
mesmo mantendo a validade. Então se começa a entender a ne-
cessidade de novas e convincentes respostas. Aí surgem as teolo-
gias da solidariedade e da representação. Encontramos a resposta 
do amor total de Jesus que se entrega por nós, até o extremo da 
cruz. Nunca um homem amou tanto assim a seus irmãos e a Deus.
Como ressuscitado, Jesus revela Deus e o próprio ser huma-
no. A recuperação do valor da ressurreição, na cristologia, abriu 
novas perspectivas de fé para clarear quem somos, qual o nosso 
futuro, como o ressuscitado garante a nossa ressurreição futura. 
Enfim, a ressurreição de Jesus – como diz S. Paulo – é o mistério 
central de nossa fé. Sem ela, tudo quanto cremos seria em vão.
O quarto tema abordará "O lugar e o papel de Cristo no plano 
de Deus". Nossa fé ensina que o filho de Maria, filho da humanida-
de, foi unido de tal modo com o Filho eterno de Deus – o que sempre 
© Cristologia18
existiu. Ele tornou-se, desde seu nascimento humano, a imagem 
visível de Deus invisível. E nele, nós reconhecemos nosso Salvador. 
Se pela cruz ele nos redime de nossos pecados, pela ressurreição 
sabemos que ele agora vive e, ao mesmo tempo, nos vivifica, nos dá 
vida nova e plena, pelo seu Espírito. Por isto é nosso salvador. .
Deveremos aprofundar aqui a questão da "Teologia da salvação" 
oportunizada por Cristo. Pela cruz ele salva os pecadores. Mas, sua 
obra salvífica é bem maior que isto. Nossa salvação, por meio dele, 
consiste na realização plena e total do ser humano e de qualquer 
ser humano. Nossa humanização completa consistirá em poder 
ver e viver em Deus. Isto pertence ao serviço de salvação que o 
Filho eterno de Deus, nosso irmão, faz por nós.
 Eis aí, prezado estudante, a caminhada que faremos: uma 
cristologia que passa pela bíblia, vai à história do dogma e conclui 
com uma reflexão sistematizada sobre Jesus Cristo.
S. João evangelista conta que, em certa ocasião, André, ir-
mão de Simão Pedro, perguntou a Jesus: "Mestre, onde moras?". E 
Jesus respondeu: "Vinde ver". André foi, passou à tarde com Jesus 
e nunca mais o abandonou. 
Gostaria que seu estudo de cristologia tivesse como inquie-
tação e resposta esta atitude do apóstolo André: que você en-
contre Jesus, e permaneça com ele, como discípulo e missionário 
evangelizador.
Bons estudos! 
E que Jesus, o Senhor, esteja presente neles enquanto você 
estuda. 
Glossário de Conceitos 
O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rá-
pida e precisa das definições conceituais, possibilitando-lhe um 
bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de 
conhecimento dos temas tratados em Cristologia. Veja, a seguir, a 
definição dos principais conceitos: 
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© Caderno de Referência de Conteúdo
1) Adocianismo: doutrina do 2º século que afirmava ter 
Jesus sido adotado por Deus (Pai) como Filho especial, 
dadas suas qualidades morais. O principal autor desta 
teoria foi Paulo de Samósata.
2) Amartiocentrismo: teoria teológica que compreende 
toda a relidade da salvação a partir do pecado. Jesus é 
nosso salvador por causa do pecado. Sua encarnação se 
deve a este fato.
3) Antropomorfismo: forma de compreender Deus como 
homem ou atribuir a Deus sentimentos (ira, ódio, rancor, 
alegria etc.) ou imagens humanizadas de Deus (boca, 
olhos, dedos etc.).
4) Antropos: o ser humano considerado em sua realidade 
completa. Para indicar o homem, no sentido masculino, 
usa-se a expressão "andros", como o equivalente femini-
no "gineos"- daí: ginecologia. É importante a expressão 
"antropos" porque, na história da cristologia, alguns qui-
seram afirmar que Jesus era apenas um "corpo" (sarx) 
emprestado para Deus e não um verdadeiro "antropos".
5) Apocalíptico: gênero literário muito usual no judaísmo 
pré e pós-cristão, por meio de parábolas, visões e nú-
meros simbólicos, cuja característica consiste em "reve-
lações" sobre o fim dos tempos e os sinais que o prece-
dem.
6) Apócrifos: são textos de antiga tradição que se preten-
diam ser revelados, mas foram excluídos do cânon bíblico.
7) Apolinarismo: doutrina, cujo principal defensor foi o 
bispo Apolinário de Laodiceia (séc. 4º), que negava a 
existência de uma alma humana em Jesus. Jesus seria 
portador apenas de uma alma divina. Em consequência, 
Jesus não seria verdadeiramente humano.
8) Arianismo: doutrina do século 4º, cujo principal defensor, 
ARIO, defendia que o Verbo fora criado por Deus e era 
inferior a ele, mesmo sendo superior a toda criatura, pois 
fora gerado antes da criação do mundo. O arianismo foi 
condenado como heresia no Concílio de Niceia, em 325.
9) Calcedonia (Concílio): convocado pelo imperador Mar-
ciano, em 451, condenou a heresia de Eutiques afirman-
© Cristologia20
do que Jesus Cristo, o Verbo Encarnado, é uma pessoa 
(divina) em duas naturezas (humana e divina) unidas 
sem se confundir ou mudar, sem se separar nem se divi-
dir. O Verbo Encarnado é ao mesmo tempo um e o mes-
mo homem e Deus Jesus Cristo.
10) Carisma: na linguagem do NT, designa o dom gratuito e 
irrevogável concedido pelo Espírito Santo a uma pessoa 
em vista do bem da comunidade.
11) Concílio: assembleia dos bispos seja regional ou univer-
sal. Nos tempos antigos podia ser convocado pelo im-
perador; hoje este poder pertence ao papa. Um concílio 
ecumênico, convocado e presidido pelo papa, é a mais 
alta autoridade da Igreja Católica e pode decidir impor-
tantes realidades da fé, da moral e da vida da Igreja.
12) Consubstancial: termo não bíblico, proveniente da filo-
sofia, adotado no Concílio de Niceia (325) para designar 
a perfeita unidade e a perfeita identidade entre Deus Pai 
e Filho. Ambos têm a mesma natureza e a mesma subs-
tância. Mais tarde tambémse atribui o conceito ao Espí-
rito Santo. Assim o Pai, o Filho e o Espírito Santo têm a 
mesma natureza e a igual substância. Também se utiliza 
a expressão grega "homoousios" ou "homousios", algo 
bem diferente de "homoiousios" (ver à frente).
13) Cristo: expressão grega latinizada que significa "ungido" 
equivale à expressão hebraica "messias" (mashiaj). Ex-
pressa a realização das expectativas messiânicas em Je-
sus, dada nela a plenitude do Espírito Santo.
14) Cristocentrismo: gira em torno de Jesus Cristo como 
centro da teologia e da fé. 
A revelação de Deus se faz pelo Cristo Jesus para a nossa 
salvação. Nem por isto pode-se ignorar o significado da 
Trindade Santa, em que Cristo é a segunda Pessoa Divina 
e que se fez um de nós.
15) Cristomonismo: compreensão equivocada do lugar de 
Jesus Cristo na fé, como se ele fosse o centro único do 
próprio cristianismo, ignorando o lugar da Santíssima 
Trindade.
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16) Cristologia: doutrina teológica que estuda a pessoa, a 
mensagem e a obra de Jesus Cristo. Sua razão de ser está 
em compreender Jesus e sua obra como Aquele Um da 
Trindade que se encarnou e se fez humano como nós, 
para a nossa salvação. Cristológico: referente a Cristo.
17) Cristo da Fé: teoria histórico-religiosa que se contrapõe 
ao Jesus histórico, na tentativa de diferenciar os atos e 
fatos pertinentes ao mesmo Jesus, homem e Deus, inse-
paravelmente. Tal teoria, no fundo, chega quase, senão 
totalmente, à realidade histórica de Jesus de Nazaré.
18) Cristologia do alto ou do descenso: é a cristologia que 
tem como ponto de partida de sua reflexão a preexistên-
cia do Verbo que existe junto do Pai desde toda a eter-
nidade e daí parte para encarnar-se na história. A cristo-
logia de Baixo ou da Ascensão, ao contrário da anterior, 
afirma a realidade de Jesus a partir da sua encarnação 
histórica. São dois pontos de partidas que não podem se 
excluir mutuamente. Ambas devem, ao final, conseguir 
o mesmo resultado. A questão está em partir analitica-
mente da humanidade ou da divindade de Jesus Cristo.
19) Docetismo: teoria teológica primitiva, rejeitada pela 
Igreja, que negava a real encarnação de Cristo, atribuin-
do a ele apenas uma aparência humana – para não "con-
taminar" sua realidade divina.
20) Dogma: verdade de um aspecto da fé, definido pela au-
toridade da Igreja como revelado por Deus. O dogma é 
uma afirmação definitiva sobre uma verdade da fé, que 
não se pode mudar. Isto não quer dizer que o dogma 
seja algo que não possa ser expresso em novas lingua-
gens que visem expressar exatamente o que a Igreja 
quer ensinar. É muito comum confundir "dogma" com 
"dogmatismo"; este último consiste numa atitude de 
fechamento, de conservadorismo, que em geral não ex-
pressa a própria atitude de fé.
21) Emanuel: expressão atribuída a Jesus para significar 
"Deus conosco". É, antes, uma expressão antigo-testa-
mentária usada pelos profetas para designar a futura 
presença de Deus entre os homens.
© Cristologia22
22) Éfeso: nesta cidade da antiga Ásia Menor (atual Turquia), 
no ano de 431, foi realizado o terceiro concílio ecumê-
nico, por causa das controvérsias de Nestório, que afir-
mava existirem em Cristo duas pessoas simultâneas. A 
primeira sendo Deus mesmo e a segunda “o filho de 
Maria”. Por isso ela não poderia ser chamada "mãe de 
Deus", mas apenas "mãe do homem Jesus, ou quando 
mundo "Mãe de Cristo". O Concílio de Éfeso, presidido 
por Cirilo, patriarca de Alexandria, condenou Nestório e 
declarou "Maria, mãe de Deus".
23) Economia da salvação ou divina, também plano de 
Deus: economia, do grego, administração da casa. Teo-
logicamente se refere à vontade salvífica de Deus, por 
meio da história, cuja culminância acontece pela encar-
nação do Verbo.
24) Escatologia: doutrina referente às questões últimas. 
Este tratado teológico estuda as questões referentes ao 
tempo da presença plena e definitiva de Deus na histó-
ria, cujo evento Jesus Cristo é a antecipação e a garantia 
antecipada do tempo da salvação definitiva em Deus.
25) Escola alexandrina e escola antioquena: duas grandes 
escolas teológico-catequéticas, surgidas no final do sé-
culo 2º que tiveram grande importância na interpretação 
da fé. A primeira tinha um acentuado caráter metafísico-
-filosófico na pregação da fé, com pressupostos platô-
nicos e orientação intelectual idealista, com método 
alegórico para a interpretação das Sagradas Escrituras. 
A outra (em oposição à Alexandrina) fazia uma interpre-
tação mais lógico-gramatical das Escrituras, ressaltando 
assim mais o dimensão histórico-terrena de Jesus.
26) Filho do Homem: expressão antigo-testamentária, para 
indicar uma figura celeste, que aos poucos foi assumin-
do um caráter de figura pessoal e ao mesmo tempo di-
vina. No NT, Jesus provavelmente a utilizou para indicar 
a si mesmo.
27) Gnosticismo ou Gnose: movimento religioso anterior ao 
cristianismo, com que rivalizou em algumas cidades, in-
clusive chegando a infiltrar-se em algumas comunidades 
cristãs. Afirma uma dualidade radical entre matéria e es-
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pírito, bem e mal; afirma também a salvação como um 
processo de libertação por meio do conhecimento e não 
pela encarnação e morte do Filho de Deus. 
28) Heresia: palavra grega que indica "escolha". É a escolha 
arbitrária de uma parte da verdade de fé, em detrimento 
do todo, inclusive negação de alguns aspectos da pró-
pria fé.
29) Hipostase: (termo grego) correspondente ao latino subs-
tância: é utilizado para indicar "o que está por detrás". 
No caso da cristologia, refere-se ao sujeito das opera-
ções, a pessoa.
30) Homoi-Ousios: termo cuja tradução indica semelhança. 
Para afirmação da unicidade de Deus (uma só pessoa), 
dizia-se que Jesus não seria igual (homousios), mas se-
melhante (homoi-ousios. Pela doutrina da "homoouo-
sia" (ou homousia") afirma-se que Jesus é igual ao Pai, 
em natureza ou substância.
31) Jesus: termo hebraico (Jeho-shuah), encontrado diver-
sas vezes no AT e significa “Aquele que salva”. Para dis-
tingui-lo dos outros, chama-se ao filho de Maria: Jesus 
de Nazaré.
32) Kerigma: (ou querigma): a expressão teológica designa o 
anúncio da Boa Nova do Evangelho, feito pelos apóstolos 
para anunciar aos crentes quem era Jesus e por que eles 
eram chamados à conversão e ao batismo. O kerigma 
indica o conteúdo primeiro da pregação de nossa fé, o 
anúncio do fato de nossa salvação, anunciado por Jesus.
33) Logos: “palavra” ou “verbo”, em grego. Aplicado a Jesus, 
indica o que pré-existia junto a Deus, encarnou-se no 
seio de Maria, está glorificado à direita do Pai e o Senhor 
e Salvador nosso.
34) Messias: (em hebraico), Cristo (em grego) foi o termo 
usado normalmente para indicar o "ungido" esperado 
escatologicamente como salvador. Depois foi atribuído 
a Jesus.
35) Monofisismo: doutrina do monge Eutiques que afirma-
va uma única natureza em Cristo. Tal doutrina foi conde-
nada no Concílio de Calcedonia.
© Cristologia24
36) Monotelismo: heresia condenada no III Concílio de 
Constantinopla (seculo 8º), que afirmava existir apenas 
uma vontade em Cristo, a divina, anulando assim a von-
tade humana de Jesus – o que caracterizaria uma falsa 
humanidade em Jesus.
37) Pessoa Divina: considera-se que a Trindade Santa é for-
mada pelas três pessoas divinas, Pai, Filho e Espírito San-
to. Cada uma dessas Pessoas Divinas está relacionada às 
outras duas, mas tem a mesma substância divina, mas 
mantém uma relação quer como Pai, quer como Filho 
etc. O conceito de pessoa divina tem analogia, mas não 
se identifica com o conceito de pessoa humana.
38) Preexistência: (de Jesus): referência que se faz à pessoa 
divina de Jesus, que existia desde toda a eternidade, jun-
to com o Pai e o Espírito Santo, e que se encarnou como 
humano no seio de Maria. A preexistência não significa 
nenhuma possibilidade de Jesus ter sido criado antes dealgo ou de alguém. Sua vida é eterna como a do Pai e do 
Espírito.
39) Redenção: (redentor) ação salvadora e libertadora atri-
buída a Jesus. Alguns autores enfatizam a "redenção" 
como a dimensão própria auferida pela morte de Jesus 
na cruz – o que enfatizaria o aspecto negativo da sal-
vação (salvação dos pecados). A salvação, em sua di-
mensão positiva, seria a conquista da vida eterna feliz 
em Deus, para o que Jesus é o "caminho, a verdade e a 
vida"). A contraposição desses dois conceitos, para mui-
tos, está em que a redenção é pertinente à questão dos 
pecados, enquanto a salvação se refere à plena realiza-
ção da pessoa.
40) Sinótico(s): referente aos evangelhos de Marcos, Ma-
teus e Lucas, que mantêm entre si uma visão capaz de 
criar uma visão de conjunto sobre Jesus, o mais aproxi-
mado possível da realidade por ele vivida.
41) Sotereologia: doutrina que enfatiza o papel salvífico de 
Jesus no Plano divino da criação. Jesus veio para nos con-
duzir à vida plena, ensinando-nos o caminho de Deus.
42) Substância (em grego "ousia"): aquilo que existe em si, 
o suporte para a existência pessoal e que não depende 
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de outra pessoa ou objeto. O que lhe é próprio e não 
acidental. É a essência do ser.
43) Subordinacionismo: teologia rejeitada pela Igreja, por 
afirmar a subordinação de natureza e não a igualdade 
entre o Filho e o Pai.
44) União Hispostática: conceito cristológico que afirma a 
plena e total unidade das naturezas divina e humana 
em Jesus – sem divisão e nem separação, sem mistura e 
nem confusão. Jesus, por causa da união hipostática, é 
um e o mesmo Deus e homem. É um conceito importan-
te porque privilegiar demais a dimensão divina sobre a 
humana, ou vice-versa, descaracteriza a pessoa de Jesus. 
O único sujeito, Jesus Cristo, tem em si e ao mesmo tem-
po as naturezas divina e humana.
45) Verbo: aplicado a Jesus, significa ser ele preexistente 
como a “Palavra do Pai”, o Logos.
Esquema dos Conceitos-chave 
Para que você tenha uma visão geral dos conceitos mais 
importantes deste estudo, apresentamos, a seguir (Figura 1), um 
Esquema dos Conceitos-chave. O mais aconselhável é que você 
mesmo faça o seu esquema de conceitos-chave ou até mesmo o 
seu mapa mental. Esse exercício é uma forma de você construir o 
seu conhecimento, ressignificando as informações a partir de suas 
próprias percepções. 
É importante ressaltar que o propósito desse Esquema dos 
Conceitos-chave é representar, de maneira gráfica, as relações entre 
os conceitos por meio de palavras-chave, partindo dos mais com-
plexos para os mais simples. Esse recurso pode auxiliar você na or-
denação e na sequenciação hierarquizada dos conteúdos de ensino. 
Com base na teoria de aprendizagem significativa, entende-
-se que, por meio da organização das ideias e dos princípios em es-
quemas e mapas mentais, o indivíduo pode construir o seu conhe-
cimento de maneira mais produtiva e obter, assim, ganhos peda-
gógicos significativos no seu processo de ensino e aprendizagem. 
© Cristologia26
Aplicado a diversas áreas do ensino e da aprendizagem es-
colar (tais como planejamentos de currículo, sistemas e pesquisas 
em Educação), o Esquema dos Conceitos-chave baseia-se, ainda, 
na ideia fundamental da Psicologia Cognitiva de Ausubel, que es-
tabelece que a aprendizagem ocorre pela assimilação de novos 
conceitos e de proposições na estrutura cognitiva do aluno. Assim, 
novas ideias e informações são aprendidas, uma vez que existem 
pontos de ancoragem. 
Tem-se de destacar que "aprendizagem" não significa, ape-
nas, realizar acréscimos na estrutura cognitiva do aluno; é preci-
so, sobretudo, estabelecer modificações para que ela se configure 
como uma aprendizagem significativa. Para isso, é importante con-
siderar as entradas de conhecimento e organizar bem os materiais 
de aprendizagem. Além disso, as novas ideias e os novos concei-
tos devem ser potencialmente significativos para o aluno, uma vez 
que, ao fixar esses conceitos nas suas já existentes estruturas cog-
nitivas, outros serão também relembrados. 
 Nessa perspectiva, partindo-se do pressuposto de que é 
você o principal agente da construção do próprio conhecimento, 
por meio de sua predisposição afetiva e de suas motivações in-
ternas e externas, o Esquema dos Conceitos-chave tem por ob-
jetivo tornar significativa a sua aprendizagem, transformando o 
seu conhecimento sistematizado em conteúdo curricular, ou seja, 
estabelecendo uma relação entre aquilo que você acabou de co-
nhecer com o que já fazia parte do seu conhecimento de mundo 
(adaptado do site disponível em: <http://penta2.ufrgs.br/eduto-
ols/mapasconceituais/utilizamapasconceituais.html>. Acesso em: 
11 mar. 2010). 
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© Caderno de Referência de Conteúdo
 
 
JESUS, VERBO 
ENCARNADO 
Preexistente 
Um da 
Trindade: 
O Verbo 
Eleito para 
ser o 
Salvador 
Humanidade: 
Criada para a 
Glória de Deus 
Históricas de: 
- aliança 
- Reino de Deus 
- messianismo 
Escatológicas de: 
- criação 
 - santificação 
- consumação 
Relações salvíficas 
Desde a origem 
à plenitude dos 
tempos (Maria) 
A história 
humana de Jesus 
“Pro Deo” 
“Pro Nobis” 
Obediente e fiel 
Orante 
Pelos outros 
Morte 
Ressurreição 
Jesus Exaltado à 
direita do Pai 
Verdadeiro Deus Verdadeiro Homem 
Um e o Mesmo 
Dois modos de agir Duas vontades 
LOGOS ANTROPOS 
(União hipostática) 
No plano de Deus 
Primogênito 
dentre os mortos 
Consumador da 
criação 
Modelo de “adão” 
(homem) perfeito 
Realizador das 
aspirações humanas 
EMANUEL 
Deus conosco e para nós 
Figura 1 Esquema dos Conceitos-chave do Caderno de Referência de Conteúdo Cristologia. 
Como você pode observar, esse Esquema dá a você, como 
dissemos anteriormente, uma visão geral dos conceitos mais im-
portantes deste estudo. Ao segui-lo, você poderá transitar entre 
© Cristologia28
um e outro conceito e descobrir o caminho para construir o seu 
processo de ensino-aprendizagem. Por exemplo, o conceito cen-
tral da cristologia é o próprio Jesus, Verbo encarnado donde pro-
cedem todos os demais conceitos, como a preexistência e a con-
sumação do ser humano e do cosmos, que passa pelos conceitos 
de homem perfeito e Deus perfeitos, que por sua vez se unem no 
conceito de união. 
O Esquema dos Conceitos-chave é mais um dos recursos de 
aprendizagem que vem se somar àqueles disponíveis no ambien-
te virtual, por meio de suas ferramentas interativas, bem como 
àqueles relacionados às atividades didático-pedagógicas realiza-
das presencialmente no polo. Lembre-se de que você, aluno EAD, 
deve valer-se da sua autonomia na construção de seu próprio co-
nhecimento. 
Questões Autoavaliativas
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões 
autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais podem ser 
de múltipla escolha, abertas objetivas ou abertas dissertativas. 
 Responder, discutir e comentar essas questões, bem como 
relacioná-las com a fé e a pastoral pode ser uma forma de você 
avaliar o seu conhecimento. Assim, mediante a resolução de ques-
tões pertinentes ao assunto tratado, você estará se preparando 
para a avaliação final, que será dissertativa. Além disso, essa é uma 
maneira privilegiada de você testar seus conhecimentos e adquirir 
uma formação sólida para a sua prática profissional. 
Você encontrará, ainda, no final de cada unidade, um gabari-
to, que lhe permitirá conferir as suas respostas sobre as questões 
autoavaliativas de múltipla escolha.
As questões de múltipla escolha são as que têm como respos-
ta apenas uma alternativa correta. Por sua vez, entendem-se por 
questões abertas objetivas as que se referem aos conteúdos 
matemáticos ou àqueles que exigem uma resposta determinada, 
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© Caderno de Referência de Conteúdo
inalterada. Já as questões abertas dissertativas obtêm por res-
posta uma interpretação pessoal sobreo tema tratado; por isso, 
normalmente, não há nada relacionado a elas no item Gabarito. 
Você pode comentar suas respostas com o seu tutor ou com seus 
colegas de turma.
Bibliografia Básica
É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus 
estudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as biblio-
grafias complementares.
Figuras (ilustrações, quadros...)
Neste material instrucional, as ilustrações fazem parte inte-
grante dos conteúdos, ou seja, elas não são meramente ilustra-
tivas, pois esquematizam e resumem conteúdos explicitados no 
texto. Não deixe de observar a relação dessas figuras com os con-
teúdos estudados, pois relacionar aquilo que está no campo visual 
com o conceitual faz parte de uma boa formação intelectual. 
Dicas (motivacionais)
Este estudo convida você a olhar, de forma mais apurada, 
a Educação como processo de emancipação do ser humano. É 
importante que você se atente às explicações teóricas, práticas e 
científicas que estão presentes nos meios de comunicação, bem 
como partilhe suas descobertas com seus colegas, pois, ao com-
partilhar com outras pessoas aquilo que você observa, permite-se 
descobrir algo que ainda não se conhece, aprendendo a ver e a 
notar o que não havia sido percebido antes. Observar é, portanto, 
uma capacidade que nos impele à maturidade. 
Você, como aluno dos Cursos de Graduação na modalidade 
EaD, necessita de uma formação conceitual sólida e consistente. 
Para isso, você contará com a ajuda do tutor a distância, do tutor 
presencial e, sobretudo, da interação com seus colegas. Sugeri-
© Cristologia30
mos, pois, que organize bem o seu tempo e realize as atividades 
nas datas estipuladas. 
É importante, ainda, que você anote as suas reflexões em 
seu caderno ou no Bloco de Anotações, pois, no futuro, elas pode-
rão ser utilizadas na elaboração de sua monografia ou de produ-
ções científicas.
Leia os livros da bibliografia indicada, para que você amplie 
seus horizontes teóricos. Coteje-os com o material didático, discuta 
a unidade com seus colegas e com o tutor e assista às videoaulas. 
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões 
autoavaliativas, que são importantes para a sua análise sobre os 
conteúdos desenvolvidos e para saber se estes foram significativos 
para sua formação. Indague, reflita, conteste e construa resenhas, 
pois esses procedimentos serão importantes para o seu amadure-
cimento intelectual.
Lembre-se de que o segredo do sucesso em um curso na 
modalidade a distância é participar, ou seja, interagir, procurando 
sempre cooperar e colaborar com seus colegas e tutores.
Caso precise de auxílio sobre algum assunto relacionado a 
este Caderno de Referência de Conteúdo, entre em contato com 
seu tutor. Ele estará pronto para ajudar você.
EA
D
Introdução à Cristologia 
1
1. OBJETIVOS
• Analisar o âmbito e o conceito de cristologia. 
• Identificar as grandes etapas do estudo cristológico.
• Caracterizar as dificuldades e oportunidades atuais da 
cristologia.
2. CONTEÚDOS 
• Ponto de partida e conceito de cristologia.
• Desenvolvimento histórico da cristologia. 
• Oportunidades e dificuldades em cristologia. 
3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE
Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que 
você leia as orientações a seguir:
© Cristologia32
1) Leia os livros da bibliografia indicada, para que você am-
plie e aprofunde seus horizontes teóricos. Esteja sempre 
com o material didático em mãos e discuta a unidade 
com seus colegas e com o tutor. 
2) Tenha sempre à mão o significado dos conceitos expli-
citados no Glossário e suas ligações pelo Esquema de 
Conceitos-chave para o estudo de todas as unidades 
deste CRC. Isso poderá facilitar sua aprendizagem e seu 
desempenho.
3) Para saber mais, leia os quatro discursos de Pedro nos 
Atos dos Apóstolos.
4) Revistas semanais como Veja, Superinteressante, Isto é, 
em geral trazem informações baseadas no "Jesus Semi-
nar" – cuja única preocupação é com o Jesus da história, 
não com o Cristo da fé nem mesmo com Jesus Cristo cri-
do pelas Igrejas. 
5) Entre os teólogos que afirmam a continuidade de Je-
sus no judaísmo encontram-se John D. Crossan e Marcos 
Borg. No grupo que privilegia a descontinuidade com a 
tradição judaica estão E. P. Sanders, Geza Vermes, John 
P. Méier.
6) Independentemente desta terceira fase (Thrid Quest 
sobre o Jesus histórico), na cristologia contemporânea 
surgem novos e fascinantes temas, como o Cristo Cósmi-
co e a cristologia pluralista. Veja sobre este assunto o in-
teressante número 326 – 2008/3 da CONCILIUM, Revista 
Internacional de Teologia, intitulado: Jesus como Cristo: 
o que está em jogo na cristologia?
7) Para aprofundar o estudo da história da cristologia, leia 
o verbete “história da cristologia” in: LACOSTE, Jean-
-Yves. Dicionário crítico de teologia. São Paulo: Paulinas 
- Loyola, 2004, p. 480-491.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Nesta unidade, você terá a oportunidade de conhecer a 
história da cristologia, seu ponto de partida e seu conceito, bem 
como as dificuldades e oportunidades que ela propõe. 
33
Claretiano - Centro Universitário
© U1 - Introdução à Cristologia
Vale ressaltar que a cristologia, como todas as outras discipli-
nas teológicas, pressupõe e exige a fé. Estudar Jesus Cristo, aqui, 
não quer dizer encontrá-lo como um líder (político ou religioso), 
fundador de religião ou personalidade mais conhecida do mundo. 
Tão pouco, vamos encontrá-lo a partir da piedade devocional. Ele 
é o Messias, Filho de Deus vivo que viveu na Palestina, passou fa-
zendo o bem e hoje continua sendo irmão e Senhor de todos os 
homens e mulheres. 
Bom estudo! 
5. PONTO DE PARTIDA E CONCEITO DE CRISTOLOGIA
A cristologia é o tema central da teologia. A comunidade e 
a fé cristã não se constituem por meio de uma religião ou de uma 
moral, nem mesmo de um conjunto de doutrinas. O centro do cris-
tianismo e, por consequência, da cristologia, está na pessoa de Je-
sus Cristo. Uma pessoa viva, que é o revelador definitivo de Deus e 
do ser humano. Ele é o fundamento e o conteúdo da fé, a origem 
e o sentido da existência humana. É o Filho do Altíssimo que assu-
miu, em si, a carne humana, vivendo como um de nós. 
Desse modo, toda a teologia, a fé e a comunidade eclesial são 
determinadas pela compreensão de "quem é Ele, para Deus e para 
nós". Não há nenhum outro fundamento (cf. 1Cor 3,11; Mc 12,10ss) 
e orientação de fé, senão Ele. Assim, para compreender Deus, o ser 
humano, o mundo, a igreja, a revelação, a fé, a graça, a salvação, a 
eternidade etc., Ele é o "caminho", o mediador radical, mesmo que 
não seja a meta final (que é o Reino de Deus ou Deus mesmo).
Para tanto, salientamos que a cristologia é o centro da teolo-
gia. É ela o ponto de partida, sem ser a totalidade da teologia. Ela 
é como o centro donde partem os raios de uma roda de bicicleta.
A palavra “cristologia” foi usada pela primeira vez, em 1624, como 
título do livro de B. Messneir, Christologiae sacrae disputationes. 
© Cristologia34
A história pessoal de Jesus Cristo é a referência permanente 
e o ponto de partida da cristologia. Ela abrange a vida, a mensa-
gem, as ações e o destino (morte e ressurreição) de Jesus, conta-
dos à luz da páscoa. Não é a pura biografia de Jesus que dá origem 
à cristologia, mas, a sua vida à luz da ressurreição – aliás, é como 
fazem os evangelhos. Dessa forma, ela passa da história dos fa-
tos para captar a consciência e o significado destes na totalidade 
de quem é Jesus, aquele que nasceu de Maria, mas veio de Deus, 
como nosso salvador. 
6. DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA CRISTOLOGIA 
Como reflexão a respeito de Jesus Cristo, a cristologia tem 
início no Novo Testamento. Implicitamente, pode-se dizer que o 
próprio Jesus Cristo seria seu iniciador. Mas, as questões sobre Ele 
começaram a surgir logo após sua ressurreição, quando os discípu-
los precisaram compreender e explicar que o crucificado não era 
um fracassado, mas Deus o havia ressuscitado. 
Quantomais se propagou a vida, a mensagem e o destino 
de Jesus, mais os cristãos foram chamados a "dar as razões de sua 
fé". Assim, logo no início surgiu uma reflexão entre os judeus con-
vertidos e outra reflexão entre os cristãos de origem grega. Ambas 
queriam saber quem era Jesus, diante do crescente contato com 
o mundo greco-romano, a fim de continuarem crendo nele como 
Deus encarnado.
A expansão de Igreja levou-a a um terceiro período, que tam-
bém é conhecido como o "período de ouro da cristologia" (século 
3º ao século 7º), com os grandes Concílios de Niceia (325), Cons-
tantinopla I (381), Éfeso (431), Calcedônia (451), Constantinopla II 
(553) e III (681). Neste período se discutiriam questões de trans-
cendental importância, num período de inculturação da fé, saída 
do mundo semita para o helenismo: Jesus é verdadeiro Deus? É 
verdadeiro homem? É, ao mesmo tempo, verdadeiro Deus e ver-
dadeiro homem? Como? 
35
Claretiano - Centro Universitário
© U1 - Introdução à Cristologia
O período posterior é o da cristologia medieval. Entre os te-
mas, destacam-se: o significado (o porquê) da encarnação e a ciên-
cia (conhecimento, vontade e consciência) de Jesus. 
Informação Complementar –––––––––––––––––––––––––––––
A história da cristologia medieval é bem mais desenvolvida, nesta unidade, como 
informação. E não será retomado o tema noutras unidades deste Caderno de 
Referência de Conteúdo, ao contrário dos outros. De modo geral, ela está muito 
presente no atual cotidiano das igrejas cristãs.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O período subsequente é o da cristologia escolática, em que 
se destacam duas grandes figuras: santo Anselmo (+ 1109) e santo 
Tomás de Aquino (+ 1274). 
A importância cristológica de Anselmo está em sua obra Por 
que Deus se fez homem? (Cur Deus homo?). Este livro foi traduzido 
para o português pela editora evangélica Novo Século, em 2003. 
Nesta obra e em alguns outros discursos, Anselmo faz a mais 
influente leitura ocidental da cristologia sotereológica. Esta cris-
tologia marcou todo o segundo milênio e permanece muito forte 
ainda hoje.
Anselmo propusera-se a dialogar com os judeus e muçulma-
nos sobre quem era Jesus por meio de uma lógica racional e socio-
lógica, sem apelar às Escrituras Sagradas (NT). Judeus e mulçuma-
nos não acreditam nelas.
O autor parte do contexto sociocultural de seus pretensos 
interlocutores. Vejamos: 
Assim como é, não só indigno, mas é injusto, um senhor feu-
dal perdoar a um servo que o tenha ofendido gravemente, também 
não só é injusto é indigno da parte de Deus, perdoar ao homem 
pecador. Pois, se o senhor feudal o perdoa, se tornará injusto para 
com os outros servos, além de abrir possibilidade para que eles o 
ofendam também. Por outra razão, como e com que "moral" um 
ofensor se dignará aproximar-se de seu senhor para suplicar-lhe 
o perdão? Somente um terceiro, que possa fazer a intermediação 
© Cristologia36
e ao mesmo tempo esteja comprometido com os dois lados, sem 
dever a nenhum, teria a possibilidade deste gesto de sacrifício e 
compaixão. 
Contudo, segundo Anselmo, é deste modo que Jesus se en-
carnou para poder, morrendo na cruz, restituir a honra ofendida 
de Deus e obter o perdão de Deus ao pecador.
Se desde Tertuliano (+ depois de 220) vinha se afirmando 
a dimensão sotereológica (de salvação) pela cruz, agora Anselmo 
elabora critérios teológicos suficientes para justificar a encarnação 
de Jesus.
Note-se que desde a bíblia e da patrística, há várias interpre-
tações possíveis sobre o significado "encarnatório". O predomínio 
do significado de "morte na cruz pelos pecados" avultou-se no se-
gundo milênio, o que oportunizou a artistas, dramaturgos, poe-
tas e "místicos" medievais desenvolverem tanto a espiritualidade 
quanto a devoção e a literatura centradas na cruz.
Santo Tomás de Aquino aceitou a "teoria da satisfação" de 
Anselmo, mas, propôs-se a corrigi-la num ponto fundamental. Não 
era o direito do ofendido (Deus) que se deveria levar em conta. O 
importante era a bondade de Deus, que nos amou tanto a ponto 
de nos dar seu Filho único. Deus poderia nos perdoar de diversos 
modos, mas escolheu este. A teoria de santo Tomás, mesmo acei-
ta, nem sempre foi mais utilizada que a "dramática" de Anselmo. 
É bem verdade, que antes de Tomás de Aquino, Pedro Abe-
lardo (+ 1142) já havia proposto o amor de Deus como critério da 
encarnação. Como, porém, Abelardo se fundamentou nas ideias 
de santo Irineu e a igreja no ocidente, que estava tão imbuída do 
helenismo, teve dificuldades de recepção. Tomás capitalizou a ex-
plicação mantendo a relação amor-cruz-morte.
A teoria da satisfação (anselmiana) foi a que os reformado-
res encontraram e que se tornou fundamento, não só na cristolo-
gia, mas em toda a teologia decorrente da Reforma e, até os dias 
atuais, esta teoria é muito frequente.
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© U1 - Introdução à Cristologia
Note que, na Igreja Católica, a teoria anselmiana é muito frequen-
te. Contudo, não há uma interpretação unívoca. 
Merece atenção, aqui, a cristologia da Reforma com dois 
grandes teólogos:
Lutero (+ 1504), influenciado por questões pessoais e pelo 
pessimismo agostiniano, afirmava que a ira de Deus só poderia ser 
satisfeita ou Deus só deixaria de punir, mediante o sacrifício de 
seu Filho morrendo em nosso lugar. Jesus carregou nosso pecado, 
sofreu as consequências, satisfez a Deus e obteve para nós a justi-
ficação. É assim o nosso salvador, porque é o único que pode nos 
justificar.
Calvino (+ 1504), inclusive por sua formação jurídica, enten-
deu que Cristo, oferecendo-se em sacrifício ao Pai em nosso lugar, 
como substituto nosso, obtém do Pai o perdão, pois nós nascemos 
maus e depravados. Nós nascemos da carne e por isso somos car-
ne (cf. Jo 3,6). Esta corrupção é irregenerável, mas Deus, pelos mé-
ritos de Cristo, pode salvar aqueles a que predestinou esta graça. 
Nem todos serão salvos, apenas os que Deus escolhe ou predes-
tina. Calvino também insistiu na ideia de tríplice função de Cristo: 
sacerdote, profeta e rei. 
O Concílio de Trento (1545 – 1563) não elaborou uma cris-
tologia própria. Aceitou diversas correntes da época, mas afirmou 
certas verdades de fé: a universalidade do pecado de Adão, a ne-
cessidade do batismo para a salvação, o enfraquecimento da von-
tade por causa do pecado e, sobretudo, a necessidade de Cristo 
para a salvação. 
Informação Complementar –––––––––––––––––––––––––––––
Por causa da cultura amartiocêntrica, nos tempos do Concílio de Trento, parece 
que a salvação era apenas questão de salvar dos pecados. 
–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 
© Cristologia38
A partir do século 19, novas questões contextuais e univer-
sais oportunizaram e continuam oportunizando criativas reflexões 
teológicas sobre o significado de Jesus para todos os homens e/ou 
desde as culturas. 
Uma nova e radical questão cristológica surgiu nesse período 
e é conhecida como a questão do “Cristo da fé e o Jesus histórico”. 
A grande influência do "período de ouro da cristologia" (séculos 4º e 
8º) fazia parecer que tudo estava resolvido partindo da ontologiza-
ção de Cristo. Mas, a re-descoberta do Novo Testamento, de modo 
crescente, obrigou uma volta ao Jesus da história. Não que se en-
tendessem duas realidades distintas. Mas, a do Cristo da fé era, de 
tal modo, hegemônica que o Jesus da história "quase" desaparecia. 
A questão surgiu com o pesquisador alemão Hermann Sa-
muel Reimarus, com seu livro, não traduzido, Sobre a intenção de 
Jesus e seus discípulos e se estende até hoje. Inúmeros historiado-
res dividem três períodos desta pesquisa: 
1) Na primeira fase (de 1779 a 1913), pesquisas históricas 
começam a descobrir a história de Jesus. Descobre-se 
um Jesus "liberal", pois querem se afastar de toda "ide-
ologia" e "mistificações", seja dos textos do NT, seja do 
ensino da Igreja. Albert Schweitzer, em 1913, fez uma 
grande síntese deste período e qualificou osestudos 
como "filhos culturais" daqueles tempos em que emer-
gia uma figura que satisfizesse mais os ideais moralizan-
tes ou moralistas da humanidade.
2) A segunda fase (1913...) atém-se, até hoje, ao chama-
do método histórico-crítico. Martin Kähler cunhou as 
expressões "Cristo da fé" e "Jesus histórico", num livro 
seu de 1896, em que afirmava a necessidade de não 
separar o chamado Jesus histórico do autêntico Cristo 
bíblico. Outros autores como Rudolf Bultmann, Paul Tilli-
ch, Günther Bornkamm, Ernest Fuchs, Gerhard Ebeling e 
Joachim Jeremias também aprofundaram a questão do 
Cristo da fé e do Jesus histórico. Eles, mesmo fazendo 
suas distinções, afirmavam a necessidade de manter a 
unidade para compreender Aquele que é apresentado 
pela nossa fé.
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Claretiano - Centro Universitário
© U1 - Introdução à Cristologia
3) Já na terceira fase, desde 1954, continua-se a pesquisa 
histórica e procura-se desenvolver a compreensão de 
Jesus Cristo, a partir de elementos culturais paralelos 
como a influência dos documentos de Qumran, a desco-
berta de evangelhos apócrifos, o contexto sociocultural, 
político e religoso dos tempos de Jesus. Um grupo de 
estudiosos do "Jesus Seminar" (Califórnia EUA) tende a 
privilegiar, no tempo de Jesus, a descontinuidade dele 
em relação ao seu tempo. O outro grupo prefere vê-lo 
inserido em seu contexto hebraico. 
7. OPORTUNIDADE E DIFICULDADES EM CRISTOLOGIA
As históricas e grandes questões cristológicas podem ser re-
sumidas em três: a humanidade de Jesus, sua divindade e a si-
multaneidade divina e humana. No entanto, há outra questão im-
portante: o lugar da compreensão de Jesus. Neste sentido, fala-se 
muito, hoje, de Jesus histórico e do Cristo da fé, da cristologia de 
cima ou de baixo, da cristologia cósmica e da exaltação. 
Esta discussão surge partindo ora da dimensão divina que 
pré-existe e se encarna na terra, ora da história de Jesus nascido 
de Maria, na Galileia. Uma faz o caminho inverso da outra. Seus 
autores constroem inúmeros argumentos para demonstrar a cer-
teza de seu ponto de vista. A verdade cristológica exige que as 
duas se completem. Uma não é completa sem a outra. 
A grande tensão na cristologia e na fé cristã em geral é con-
ciliar a humanidade e a divindade de Jesus. Por causa do ponto 
de partida, há excessos e/ou insuficiências que levam a considerar 
demais a humanidade, esquecendo a divindade ou vice-versa. Esta 
dificuldade – natural, por sinal – só é real porque estudar, conhe-
cer, amar e seguir Jesus têm muitas faces. 
Jesus Cristo não é uma pessoa linear, de um esquema só. Sua 
riqueza sempre ultrapassa um ponto de vista. Não é em vão que 
no NT aparecem vários modelos de análise cristológica. Nenhum 
© Cristologia40
deles é completo sem os outros. Esta sabedoria bíblica com frequ-
ência é esquecida ou desvalorizada entre os teólogos.
Outra dificuldade foi a grande ontologização de Jesus. Quer 
dizer, os "séculos de ouro" produziram uma riquíssima e feliz re-
flexão sobre o "ser de Jesus em si". Ao procurar compreender 
"quem é Jesus", responderam muito mais "o que é Jesus". Então, 
por meio de uma linguagem altamente sofisticada, muitas vezes 
só compreendida por especialistas, estabeleceram diversas expli-
cações, donde se originaram os dogmas cristológicos.
A modificação do modo de viver, sobretudo a partir da re-
volução industrial, do avanço da tecnologia e das ciências, atingiu 
o modo medieval de compreender quem é Jesus. Novas culturas, 
que não só as europeias, também pedem novos estudos, exigem 
novas apresentações eclesiais e teológicas sobre Jesus. 
Mas, sobretudo, com a descristianização dos povos e a perda 
da hegemonia dos cristãos, tem sido mais difícil "dar as razões da 
fé" em Jesus Cristo. 
Os tempos atuais urgem novas maneiras de seguir a Jesus 
e relacionar-se com Ele. A experiência pessoal, grupal e da comu-
nidade de fé procura nova abertura para o mistério de Deus, do 
mundo, dos seres humanos etc. Esta renovação passa pela com-
preensão de quem é Jesus. Ele é o caminho. A cristologia tradi-
cional, mesmo sem perder seu valor, vai dando à luz cristologias 
plurais, capazes de sustentar a fé dos crentes nas novas situações 
humanas e culturais. 
É importante perceber que Jesus Cristo é o mesmo sempre. Mu-
dam-se os tempos, as culturas e os modos de compreendê-lo.
A reflexão teológica sobre Jesus tem, então, a tarefa de co-
municar, de modo construtivo, o significado da história e da pessoa 
de Jesus, sem nunca perder de vista as cristologias neotestamen-
tárias. Todavia, deve-ser ter presente, também, a longa história da 
dogmatização como fonte e certeza da verdade da fé.
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© U1 - Introdução à Cristologia
Na história dos dogmas encontra-se uma adequada escola 
para evitar concepções erradas sobre o Filho de Deus, que se fez 
nosso irmão para nossa salvação. Ele, o Senhor dos vivos e dos 
mortos, é, contudo, uma pessoa viva e histórica e só Nele está a 
nossa salvação. Por isso, a cristologia, que tem como normativo o 
NT e é guarda do patrimônio da tradição e do dogma, atualiza-se, 
ao mesmo tempo, como ciência (conhecimento) e como vivência 
(experiência) da fé. 
A tarefa e as novas possibilidades da cristologia permane-
cem, ao clarificar, hoje: 
a) o significado da história do crucificado/ressuscitado;
b) a relação singular de Jesus com Deus, como seu Pai;
c) a unidade com o Pai e o Espírito Santo;
d) a relação de Cristo com todos os homens;
e) o sentido da história e do mal;
f) a salvação para todos os seres humanos, conforme o 
plano de Deus. 
8. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Sugerimos, neste tópico, que você procure responder às 
questões a seguir, que tratam da temática desenvolvida nesta uni-
dade, bem como que as discuta e as comente.
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para 
testar seu desempenho. Se encontrar dificuldades em responder 
a essas questões, procure revisar os conteúdos estudados para 
sanar suas dúvidas. Este é o momento ideal para você fazer uma 
revisão do estudo desta unidade. Lembre-se de que, na Educação 
a Distância, a construção do conhecimento ocorre de forma coo-
perativa e colaborativa. Portanto, compartilhe com seus colegas 
de curso suas descobertas.
Confira, na sequência, as questões propostas para verificar 
seu desempenho no estudo desta unidade:
© Cristologia42
1) Por que entender que Jesus Cristo é o ponto de partida de toda a teologia 
cristã, particularmente da cristologia? 
2) Quais são os grandes períodos da história da cristologia?
3) Qual a ideia básica de Santo Anselmo para compreender quem é Jesus Cris-
to?
4) Por que a cristologia continua apresentando novas ideias teológicas sobre 
quem é Jesus Cristo?
5) Cite alguns novos temas da cristologia.
6) A partir do que você estudou, como conceitua “cristologia”?
Elabore suas respostas em seu caderno para verificar sua com-
preensão, e depois confira com o texto.
9. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, você se deparou com a problemática não de 
Jesus, mas da cristologia. Entre as questões, surgiu a diversidade 
de cristologias, já no NT, as tensões entre as teorias sobre Deus 
e o homem, o lugar da cristologia, bem como o papel do dogma 
cristológico, suas dificuldades e possibilidades atuais. 
A grande transformação da(s) cristologia(s) atual(ais) é o seu 
reencontro com a soteriologia, a qual é o estudo da ação e signifi-
cado salvíficos de Cristo para nós. Verbo de Deus que se fez huma-
no, entre nós e conosco, é enviado do Pai para nos mostrar quem 
somos (você deve recordar, aqui, seus estudos de Antropologia 
Teológica) e nos levar à salvação, à realização plena. Para anun-
ciar isso, Jesus falou da Boa Nova do Reino de Deus, “passou pelo 
mundo fazendo o bem” (At 10,38), mas foi morto na cruz. O Pai o 
ressuscitou e o constituiu Senhor nosso, colocando-o à sua direita. 
Contudo, a cristologia re-descobre a soteriologia e faz o dis-
curso sobre Aquele nosso irmão que foi constituído como nosso 
salvador.43
Claretiano - Centro Universitário
© U1 - Introdução à Cristologia
Já na próxima unidade, iremos aprender sobre o AT como 
base e fundamento da cristologia neotestamentária, as experiên-
cias salvíficas, Jesus de Nazaré, sua história e sua atuação, e, tam-
bém, o homem Jesus e a atuação de Jesus diante dos outros.
Até lá! 
10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
KESSLER, H. Cristologia. In: SCHNEIDER, T. (Org.). Manual de dogmática. Petrópolis: 
Vozes, 2002, v. I.
MARTIN, R. Jesus, relato histórico de Deus. Cristologia para viver e rezar. São Paulo: 
Paulinas, 1997. 
RAUSCH, T. Quem é Jesus? São Paulo: Santuário, 2006.
SERENTHA, M. Jesus Cristo, ontem, hoje e sempre. Ensaio de cristologia. São Paulo: 
Salesiana, 1986.
LACOSTE, J.Y. Cristo/cristologia. In: Dicionário crítico de Teologia. São Paulo: Paulinas - 
Loyola, 2004. 
Claretiano - Centro Universitário
EA
D
Jesus, desde a História 
Bíblica da Salvação
2
1. OBJETIVOS 
• Identificar ideias, fatos e pessoas como fundamento e ori-
gem no Antigo Testamento, para a cristologia e a sotereo-
logia neotestamentária.
• Situar e compreender Jesus, filho de Maria e de Deus, a 
partir da Bíblia.
• Analisar a atuação de Jesus no contexto histórico, para 
melhor identificá-lo.
2. CONTEÚDOS
• O Antigo Testamento como base e fundamento da cristo-
logia neotestamentária. 
• As experiências salvíficas, no Antigo Testamento.
• Jesus de Nazaré: sua história e sua atuação. 
• O homem Jesus. 
• A atuação de Jesus diante dos outros.
© Cristologia46
3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE
Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que 
você leia as orientações a seguir:
1) Para você saber mais sobre o que estamos estudando 
nesta unidade, leia: Is 42,1-9; 49,1-6; 50, 4-9; 52,13; 
53,12. 
2) Entre os inúmeros autores atuais que descrevem o Jesus 
histórico, você pode consultar mais diretamente: MAG-
NANI, G. Jesus construtor e mestre: novas perspectivas 
sobre seu ambiente de vida. Aparecida: Santuário, 1998, 
p. 180-185
3) Para se aprofundar mais, leia a concepção de Reino de 
Deus, em MOLTMANN, Jürgen. Quem é Jesus para nós 
Hoje? Petrópolis: Vozes, 1997. 
4) Você pode aprofundar o tema dos milagres de Jesus em 
diversas obras de teologia e/ou de bíblia neotestamen-
tária. Recomendamos, porém, um texto bem interessan-
te: RAUSCH, Thomas. Quem é Jesus? Uma introdução à 
cristologia. Aparecida: Santuário, 2006, p. 151-154.
5) Sugerimos que você leia o capítulo “Uma história de li-
berdade”, em FORTE, Bruno. Jesus de Nazaré, a história 
de Deus, o Deus da história. São Paulo: Paulinas, 1985, 
p. 242-274. 
6) Para saber mais sobre os fariseus, leia: As sete espécies 
de fariseus, em SAUNIER, Christiane; ROLLAND, Bernard. 
Palestina no tempo de Jesus. São Paulo: Paulinas, 1983, 
p. 80. 
7) Veja as inúmeras informações sobre o "sinédrio", no 
Índice de nomes, assuntos e obras fundamentais, em 
THEISEN, Gerd; MERZ, Annette. O Jesus histórico: um 
manual. São Paulo: Loyola, 2002, p. 650.
8) O tema da família de Jesus, em interessante abordagem, 
você encontra em MAGNANI, Giovanni. Jesus, constru-
tor e mestre: novas perspectivas sobre seu ambiente de 
vida. Aparecida: Santuário, 1998, p. 241-257.
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Claretiano - Centro Universitário
© U2 - Jesus, desde a História Bíblica da Salvação
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Esta unidade quer aproximar você, criticamente, dos textos 
bíblicos para perceber os profundos significados cristológicos sub-
jacentes. Jesus de Nazaré é um ser humano, datado e localizado 
no povo e na tradição judaicos e, fora disto, não pode ser com-
preendido. Imagine se Ele tivesse nascido na Espanha, durante a 
inquisição. 
O AT, além do próprio significado histórico-salvífico em si, 
prepara a vinda de Jesus e vai confirmá-la. Aliás, o próprio Jesus 
fez isto para que os discípulos de Emaús o reconhecessem (cf. Lc 
24,36ss).
Mesmo não sendo os evangelhos uma história de Jesus, é 
possível, hoje, identificá-la a partir daqueles textos e reconstruir 
sua vida, paixão e morte. Ao mesmo tempo, pode-se descobrir 
como Jesus situou-se diante de Deus, da sociedade e da religião 
judaica.
É, porém, só à luz da ressurreição que se pode identificar 
o significado de Jesus diante de Deus e da humanidade, como 
"Aquele maldito que foi aceito e glorificado por Deus". É a ressur-
reição que dá o sentido da fé cristã e lança luzes para a compreen-
são de quem foi e é Jesus. 
Os sinóticos apresentam uma cristologia desde a história de 
Jesus, o homem que foi exaltado por Deus. João e Paulo acentuam 
a origem cósmica de Jesus (mesmo não esquecendo sua história 
terrena). Estes cinco textos elaboram cristologias fundadas no es-
pírito pascal, mas com características tão peculiares que as tornam 
distintas umas das outras. 
Neste momento é importante que você reflita sobre se o que você 
sabe em relação a Jesus está realmente fundamentado na Bíblia 
ou a Igreja descobriu “a posteriori”:
a) Alguns escritores dizem que a Igreja transformou o Jesus his-
tórico em Deus. Outros afirmam que o judeu Jesus foi romani-
zado e/ou ocidentalizado. Isto tem algum fundamento?
© Cristologia48
b) Você consegue descobrir, nos evangelhos, diferentes identida-
des de Jesus?
c) Com os evangelhos, pode-se escrever uma biografia de Jesus?
Temos certeza de que conhecer Jesus, a partir da Bíblia, é 
uma aventura apaixonante e inesgotável e que, após o estudo des-
ta unidade, você será mais apaixonado por Ele e sua fé vai apare-
cer mais fundamentada. 
Bom estudo! Aproveite e aprofunde seus conhecimentos.
5. ANTIGO TESTAMENTO COMO BASE E FUNDAMEN
TO DA CRISTOLOGIA NEOTESTAMENTÁRIA
Para compreender Jesus, você deve introduzir-se na pers-
pectiva vivida pelos hebreus do Antigo Testamento. É necessário 
entender valores existenciais por eles vividos, que pertencem aos 
mistérios de Deus e do ser humano, mas vão se tornar mais claro 
à medida que entendemos quem é Jesus. Uma leitura temática 
do Antigo Testamento, mesmo sem ser exaustiva, abrirá caminhos 
para a percepção do contexto espiritual em que Jesus nasceu, vi-
veu, morreu e ressuscitou. 
Jesus creu em Deus como um judeu, não como um grego ou 
brasileiro. É desde a longa tradição de seu povo onde nasceu, que 
Ele viveu, creu e morreu. O momento histórico de sua vida não era 
o melhor da história do Povo Eleito. Todavia, este tempo estava 
"carregado" pela longa tradição de bênçãos divinas: alianças e li-
bertações, de pecados humanos e de expectativas messiânicas. No 
Novo Testamento chamou a tal tempo de “plenitude dos tempos” 
(cf. Gal 4,4).
O judaísmo bíblico sempre interpretou os fatos presentes à 
luz do passado. Por isto foi capaz de aliar-se com Deus, corrigir-
-se de seus erros e ter só em Deus sua confiança. Neste contexto, 
nasceu e viveu Jesus. É preciso buscar algumas características da 
história judaica para compreendê-lo mais corretamente. 
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Claretiano - Centro Universitário
© U2 - Jesus, desde a História Bíblica da Salvação
O judeu Jesus de Nazaré foi alguém profundamente imbuído 
de religiosidade de seu povo. Sua história está moldada por cos-
tumes, leis, profecias, orações e tradições em que até o nome de 
Deus se evitava pronunciar, por reverência. Jesus respeitou a Torá, 
não veio para modificá-la (cf. Mt 5,17). O que não significa que 
não tenha tido uma postura crítica diante das leis e costumes de 
seus contemporâneos. Afinal, grande parte deles criou tradições e 
costumes, a Halaká que atentava contra o espírito das Escrituras. 
Halaká: Em hebreu, “caminhos, proceder, norma”. Entre os judeus, 
a interpretação da escritura, particularmente da Lei, com múltiplas 
e detalhadas normas de proceder. Estavam afixadas na Halaká. 
Na Torá, encontrava-se a própria Palavra de Deus. 
Foi Jesus mesmo quem indicou o método de interpretar 
sua história "segundo as Escrituras" (cf. Mc 14,49; Lc 24,44; 1Cor 
15,3ss), quer dizer: na tradição da fé e da esperança de Israel. In-
terpretar Jesus "segundo as Escrituras" não significa encontrar tex-
tos óbvios e cronologicamentecrescentes, simbólicos ou alegóri-
cos do que vai acontecer. Antes, na "atormentada" relação entre 
Israel e Deus, é que se encontra a chave de leitura mais adequada 
como pano de fundo na qual Jesus se situa e, ao mesmo tempo, 
subverte-a reinterpretando-a
Assim, as categorias e esperança do AT são o horizonte para 
compreender Jesus. Contudo, são também a ocasião de compre-
ender o inaudito e indedutível “fato Jesus”, para transcender a 
própria história de Israel, o que estudaremos adiante.
6. EXPERIÊNCIAS SALVÍFICAS NO ANTIGO TESTAMENTO
Você encontrará, sintetizadas, três experiências de salvação 
do povo judeu do Antigo Testamento, que evidenciam a necessi-
dade de compreender Jesus no contexto das tradições e expecta-
tivas de seu povo. Você pode aprofundar outras experiências além 
© Cristologia50
das indicadas, como a apocalíptica judaica, o comportamento dos 
patriarcas, sacerdotes e mediadores que prefiguram o papel de 
Cristo. 
A experiência da aliança
A história vetero-testamentária de Israel é feita no diálogo 
entre Deus e seu povo. Deus fala, julga, promete, consola e, so-
bretudo, renova alianças. Ele é o Deus da aliança, o que defende 
e salva seu povo, quase sempre infiel. É o Deus fiel à sua Palavra 
salvífica, sem se deixar prender pelos conceitos, mas sempre se 
re-cria ao se manifestar e agir. 
O nome de Deus é clássico: "Eu sou aquele que sou para vós" 
(cf. Ex 3,14). Ele será o Deus da bênção e da promessa. Ele é o 
Deus que olha e salva no presente, mas tem olhos para o futuro 
definitivo. Ele é o que cumpre sua promessa. Isto se manifesta, 
sobretudo:
• na experiência da aliança; 
• na expectativa messiânica; 
• na reflexão sapiencial.
Deus é aliado do ser humano, do seu povo. Quer assegurar 
sua liberdade e sua salvação. Israel deve ser um povo livre. Por 
isso, Deus será sempre fiel à sua aliança, mesmo que o homem 
não o seja. 
Com a libertação do Egito, inicia-se nova eleição divina do 
povo, cujo pacto se firmou no Sinai. Antes houvera a aliança com 
Abraão e as simbólicas com Adão e Noé. Nenhuma aliança, contu-
do, era um pacto entre iguais. Deus sempre tomava a iniciativa. Ele 
não usava sua onipotência para esmagar o ser humano, usava-a 
sempre para salvá-lo. Esta é uma aliança assimétrica entre Deus, o 
Onipotente, e seu povo, limitado e pecador.
A fidelidade de Deus exprimia-se, antes de tudo, por asse-
gurar a posse da terra a seu povo. Um povo escravo não é dono 
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nem de si nem do fruto de seu trabalho. A posse da terra é sempre 
símbolo de liberdade e de vida feliz. Isso se concretiza na gera-
ção de muitos filhos e no aumento de propriedade, de rebanhos e 
de gado. Mas, a qualidade de vida efetiva-se na comunhão entre 
Deus e seu povo "Vós sereis minha propriedade particular entre 
todos os povos" (Ex 18,5ss). Desta comunhão derivam todas as ou-
tras bênçãos. A "memória" das intervenções de Deus é percebida 
sempre como ações salvíficas em favor do seu povo. 
O "Deus vivo" (1Sam 17,26-36; Sl 42,3) é experimentado 
como "fonte de vida" (Sl 36,10), como o Deus dos pais que está 
sempre presente para abençoar, e salvar. "Aquele que sou para 
vós" é o Deus libertador em sentido real, corporal, social e econô-
mico. "Lembra-te que foste escravo no Egito e que Javé, teu Deus, 
te libertou lá." (Dt 24,17s; 15,12-15). Javé digna-se até habitar no 
Templo de Sião (1Rs 8,12; Is 8,18; Sl 9,12) e lá acolhe e abençoa 
sempre, os que o buscam. Os salmos e cânticos de Sião expressam 
esta confiança e louvam o lugar em que ele habita. 
Porém, quando a fonte de perturbação é interna, no cora-
ção, Javé aceita os cultos de expiação e redenção para o perdão 
dos pecados. O sangue do animal sacrificado na morte vicária pe-
los pecados deve ser substituído pela exigência de Deus: "quero 
o amor e não sacrifícios" (cf. Am 5,21-25; Mq 6,6-8). E o próprio 
Deus dá o exemplo: ele quer salvar, por isso perdoa (cf. Is 55,6ss; 
Ez 33,10-20). 
Mesmo que Deus sempre se disponha a renovar a aliança, 
conceder o perdão, abençoar com terra, gado e filhos, quer aben-
çoar também os peregrinos de Sião. Parece que a salvação defi-
nitiva vai mais além, inclusive, da morte. A espera da salvação/
redenção universal vai se delineando como algo messiânico-esca-
tológico. Isto vai ser um presente sem pressupostos e/ou exigên-
cias. Porque Javé é bom, a terra dará colheitas abundantes. Ele vai 
"criar um novo céu e uma nova terra" (Is 65,17; 66,22), onde não 
mais haverá lamento e dor (Is 65,19s). 
© Cristologia52
Enquanto isso, mediadores humanos de salvação surgem em 
Israel, como reis, profetas, sacerdotes, que denunciam a violên-
cia, o pecado e a idolatria e mostram caminhos de renovação para 
Deus. São servos de Deus em favor da salvação exílica e pós-exílica. 
Contudo, a grande promessa de salvação acontecerá por 
meio de um Messias davídico ou Filho do Homem, como figura 
escatológica-individual. 
Expectativas messiânicas
Só Moisés viu a Deus, com quem falou "face a face" (Dt 5,4). 
Só a ele foi confiado o nome de Deus (cf. Ex 3,14). O povo não o 
viu, apenas o ouvia. Por isso, este é o povo da Palavra. Deus diz a 
Moisés: "Javé teu Deus suscitará um profeta como eu no meio de 
ti, dentre teus irmãos, e vós o ouvireis (...). Vou suscitar para eles 
um profeta como tu no meio de seus irmãos. Colocarei as minhas 
palavras na sua boca e ele lhes comunicará tudo o que eu lhes or-
denar." (Dt 18,15-18). Javé Deus promete sua presença por meio 
de um novo profeta, cujo protótipo é Moisés. Mas, esta espera 
também antevê um novo êxodo e uma nova aliança. A força da 
promessa dita pelo profeta estará na Palavra viva, eficaz, que pro-
duz o que significa, julga, abate e torna a erguer (cf. Is 55,10-11; Jr 
1,10). 
Nos Cânticos do Servo de Javé, em termos claramente pro-
fético–mosaico – aparece, pela primeira vez, a expectativa messi-
ânica. Ele será enviado em favor de todas as nações, proclamará a 
justiça e guiará o povo num novo êxodo. Nele se estabelecerá uma 
nova aliança entre Deus e seu povo. Seu sofrimento será causa de 
salvação. 
Esta esperança da promessa profético-messiânica vai se 
atualizando sempre. Espera-se um Elias redivivo, que "prepare o 
grande e terrível dia do Senhor" (Ml 3,25) ou um novo Moisés tão 
redentor como o primeiro (cf. Os 9,1). Espera-se que a Palavra de 
Javé rompa os céus e desça (cf. Is 63,1a). 
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É impressionante o oráculo de Isaias que expressa a inaudita ex-
pectativa sobre o papel do seu servo (Is 61,1-3). (Leia este texto, 
compare-o com Lc 4,18-20 e veja o resultado). 
O povo da Palavra tem no Profeta aquele que é capaz de ler 
de modo lúcido e profundo a ação de Deus na história, o significa-
do dos acontecimentos. E até intuir suas decorrências futuras, não 
é esquecido o oráculo: "Eis que virão dias..." (cf. Jr 31,31ss). Deus é 
quem refaz as alianças, mas quer vir morar entre seus filhos, a fim 
de que todos o conheçam dos menores aos maiores (cf. Jer 31,36). 
O Messias será a sua mais amorosa manifestação. Ao mesmo tem-
po, é Ele quem levará Israel à sua verdadeira realização.
A experiência de fé de Israel mantém-se e cresce assinalada, 
mais que pelos bens presentes, pela expectativa dos prometidos 
bens futuros. A partir do oráculo de Natan (2Sm 7,14; Sl 89,20-
28; 1Cro 7,4-14), o messianismo tem forte conotação davídica: o 
Messias será um filho de Davi. Ele será aquele "Filho de Deus" por 
quem Javé vai restaurar escatologicamente a nova ordem de justi-
ça, paz e integridade. (cf. Is 11,1-9).
A história de Israel foi feita de esperanças e decepções fre-
quentes pela sua não correspondência e pela infidelidade dos reis 
e profetas. O pecado e a idolatria enfraquecem a expectativa mes-
siânica. Mas, mesmo nas contradições, Deus suscita chamas de es-
perança. À época da restauração pós-exílica e dos acontecimentos 
decorrentes, nos períodosmais recentes, surgiu um messianismo 
Apocalíptico que apontou ao advento de um cataclisma cósmico. 
Seria o fim deste mundo cósmico. Com isso, a literatura Apocalíp-
tica estende-se de 200 a.C. até 100 d.C. A primeira grande obra é a 
de Daniel (168-164 a.C.), além de 1 e 2 Henoc, 4 Esdras e 2 Baruc.
Frente à trágica perseguição dos selêucidas helênico-sírios 
(a partir de 220 a.C. aproximadamente), à apostasia maciça de fé 
judaica, à profanação do Templo e à abolição da Torá, surgia a can-
dente questão: "até quando...?".
© Cristologia54
 Só Deus podia salvar, só Ele que sempre salvara. É então que 
a profecia de Daniel 7,1-14 ganha força.
A figura de semelhante a um Filho do Homem, pairando no 
céu em meio às bestas de pavorosa aparência indica o Messias 
escolhido, Filho de Deus, protagonista e vencedor escatológico: o 
restaurador definitivo do Reino de Deus.
Deste Messias escatológico, apesar da ambiguidade (era 
uma figura coletiva simbólica ou individual pessoal?), espera-se a 
libertação dos povos estrangeiros, impuros pecadores e opresso-
res. Ele trará a vitória, os dominará e congregará um Israel santi-
ficado e puro. Seu governo será sábio, justo e abençoado (cf. Sl 
17,23-51; 18,7; 17-50; Br 29,3). Não basta mais a intervenção de 
um messias-rei terreno. Só de Deus é que pode vir aquele que fará 
o julgamento e trará a salvação. E só este messias escatológico fará 
um novo início de tudo (cf. Dn 2,34s; 3,33; 4,31; 8,55).
No último século antes de Cristo, estas expectativas torna-
ram-se muito fortes, mesmo em se pensando na profecia de Natã 
(2Sm 7,1-16) sobre o oráculo do Emanuel, aliado à palavra de 
Isaias (7,14).
A Sabedoria de Deus como antecipação do Verbo Encarnado
A grande tradição de Israel é a sua histórica relação com 
Javé. Ambas estão fixadas nos cinco livros do Pentateuco, que ca-
racterizam as vicissitudes do povo e a ação salvífica de Deus. 
Numa faixa semita que vai da Mesopotâmia ao Egito, há 
uma cultura com conotação religiosa cósmica. No centro da re-
flexão está a existência: se nasce, cresce, desenvolve e morre. É a 
questão do sentido da vida pessoal: como realizar-se plenamente? 
Como ser feliz? São questões antropológicas que afetam universal-
mente qualquer ser humano, em qualquer tempo, debaixo do céu. 
Na Palavra e na Sabedoria de Deus estão manifestos o senti-
do, a esperança e a salvação de toda a história. O israelita se deixa 
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guiar por elas, que ao lado do “anjo de Javé" e do Espírito, exercem 
funções distintas, mas inseparáveis e ao mesmo tempo, se condi-
cionam mutuamente.
Vale salientar que, em nosso estudo, enfatizaremos apenas a re-
flexão sobre a Sabedoria. Os outros temas (Palavra e “anjo de 
Javé”) serão estudados, sobretudo, nas Disciplinas Bíblicas e na 
Pneumatologia. 
É necessário caracterizar logo que Sabedoria, para o semita, 
não equivale à concepção grega (Sofia). Também não é especula-
ção filosófica. A sabedoria humana pertence ao campo prático e 
moral da vida, relacionada a toda e qualquer realidade humana 
e terrestre. "O princípio da sabedoria é o temor de Javé" (Pr 1,7; 
9,10; Sl 111,10; Sir (Eclo) 1,14). Ela é uma virtude, fundada em 
Deus, desenvolvida tanto do âmbito doméstico e tribal, quanto da 
corte real de Jerusalém. Mas, a sabedoria é, na realidade, um atri-
buto de Deus. Ela provém da boca de Deus (Eclo 24,3). Foi gerada 
por Deus antes da criação do mundo (Pr 8,22-31). Reflete a glória 
de Deus. É imagem de sua bondade (Sb 7,25-26). Tem uma mis-
são no mundo (Sb 6,12-16; 9,10-18), especialmente junto a Israel, 
onde fez sua morada (Eclo 24,8). 
Na literatura sapiencial mais recente, ela é personificada e 
adquire maior relevo (Pr 14,1). A Sabedoria é uma bem amada, 
uma hospedeira que convida para seu festim (Pr 9,1-6). Saída da 
boca do Altíssimo (Si 21,3) é uma efusão da glória do Onipotente, 
sua imagem e vive da intimidade de Deus (cf. Sb 7,25ss; 8,3). Está 
associada a tudo o que Deus fez no mundo. Ela se divertia brin-
cando na criação (Pr 8,27ss; 3,19ss; Sir (Eclo) 24,5). Ela continua 
a reger o universo (Sb 8,1). É ela quem garante a salvação (Sab 
9,18). É a distribuidora de todos os dons de Deus (Pr 8,21; Sb 7,11): 
vida e felicidade (Pr 3,13-19; 8,32-36), todas as virtudes (Sl 8,7s). É 
ela quem faz os amigos de Deus (Sb 7,27s). Participar dela é viver 
introduzido na vida de Deus, pois é o prêmio dos que buscam a 
verdadeira felicidade (Pr 1,20-33; Sb 17,21-8,1).
© Cristologia56
O Antigo Testamento expressa constantemente a tensão en-
tre o Deus da Aliança e a história de Israel, quase sempre quebrada 
e fracassada. Deus intervém como Senhor da história fazendo no-
vas alianças e promessas. A promessa mais radical é a do envio de 
um messias, mensageiro de paz e justiça, para todos os povos. O 
desejo messiânico se torna sempre mais forte especialmente nas 
crises de Israel, que tem a certeza: "nosso auxílio vem do Senhor” 
(cf. 115,9). Sempre se renova a esperança, suscitada pela promes-
sa. Um dia, o fracasso será superado para sempre. Por outro lado, 
a reflexão dos sábios no cotidiano da vida e da morte se nutre da 
sabedoria, criada antes da criação e que fez morada entre os ho-
mens. Possuí-la é viver na espera de Deus. 
Afirmamos, anteriormente, que para compreender Jesus era 
necessário compreender a história e, também, a espiritualidade 
de seu povo. O povo hebreu se sentiu um povo escolhido por Deus 
em sucessivas alianças. Deus o protegeria dando-lhe muitos filhos, 
terras e gado. Sem a bênção de Deus, eles perdiam tudo. Isto fica-
va claro nos períodos de escravidão e cativeiro. 
Inúmeras vezes, Deus se serviu de mediadores para confir-
mar seu amor pelo povo. Por fim, Deus suscita nele uma grande 
esperança por um Messias escatológico. O povo escolhido, apesar 
de seus inúmeros pecados, vive na confiança em Deus. A literatura 
sapiencial, além de sua sabedoria experiencial, também acredita 
existir no próprio Deus a Sabedoria, como aquela que articula a 
relação de Deus com os homens.
Todas estas questões estavam muito presentes nos últimos 
tempos antes do nascimento de Jesus. Havia grandes tensões e 
expectativas messiânicas. Para entender Jesus, é preciso ter pre-
sente ao menos estas ideias. 
Você deverá ter percebido nesta reflexão a afirmação insis-
tente de que Deus dirige a história. Ele preparou seu povo para o 
envio do seu Filho, na plenitude dos tempos (cf. Gl 4,4; Ef 1,10). 
Certamente, você terá ouvido falar dum "pequeno resto" que per-
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manece fiel a Javé. Do povo de Israel sobraram uns poucos. Assim, 
para compreender Jesus Cristo é necessário compreender o seu 
contexto imediato. 
7. JESUS DE NAZARÉ, SUA HISTÓRIA E SUA ATUAÇÃO
É importante deixar claro, aqui, alguns pressupostos, antes 
de continuar seu estudo.
No caso concreto, você é uma pessoa de fé, um cristão. Não 
é um ateu. Ao mesmo tempo, você quer aprofundar, a nível teoló-
gico, o conhecimento sobre Jesus Cristo, proclamado e crido pela 
Igreja para amá-lo e testemunhá-lo. Portanto, é necessário racio-
nalizar a fé, explicá-la, adequá-la a novas situações e transformá-la 
em fermento de sua vida pessoal e da sociedade.
Seu estudo não será feito a puro nível histórico, como se ele 
fosse apenas um personagem da história. É pressuposto dado que 
no homem histórico e real, Jesus de Nazaré, encontramos Deus 
encarnado. Deus se fez homem neste Jesus que viveu na Palestina. 
Isto é uma situação única e inaudita.
Tem-se tentado descobrir o Jesus histórico em estado puro, 
independentemente da fé proclamada à luz da ressurreição. Este é 
um estudo cientificamente importante que envolve, no presente, 
estudiosos altamente gabaritados. Não é, porém, deste Jesus que 
o teólogo se aproxima, mesmo ao levar em conta os resultados 
destas pesquisas. Na verdade, é impossível reconstituir a história 
de Jesus. Querpor falta de documentos, quer pelo significado his-
tórico das interpretações sobre ele. O que os historiadores fazem 
é tentar reconstruir, com muitos documentos, o tempo e o espaço 
que Jesus viveu. 
Contudo, queremos, aqui, deixar de lado a pura fé, que não 
pensa na história concreta de Jesus, como se ele não tivesse vivido 
e mergulhado num tempo histórico em meio a um povo histórico. 
Ele era e é Deus, mas sem deixar de ser homem concreto, datado 
© Cristologia58
e verdadeiro. Ele não é a soma de homem e Deus, nem um Deus 
em aparência humana.
O estudo da cristologia também não pode estar fundado 
numa fé ou religiosidade popular e nem no pietismo. Certas tra-
dições que se vivem não têm outro fundamento senão a piedade 
e/ou projeção de desejos pessoais e/ou grupais. Jesus Cristo, de 
quem vamos nos aproximar agora, é aquele que o Novo Testamen-
to e, sobretudo, os Evangelhos nos apresentam.
8. A HISTÓRIA DO HOMEM JESUS
Não se tem de Jesus Cristo um conhecimento direto. Ele 
pertence à história, mas nós só o conhecemos pela experiência e 
testemunho dos apóstolos relatados pelos evangelistas, que modi-
ficaram sua compreensão sobre Ele à luz da ressurreição. 
Assim, conhecer Jesus é buscá-lo em sua história global (nas-
cimento, vida, palavras e ações, morte e ressurreição), à luz da fé 
pascal. 
Ele na verdade é o misterioso filho da humanidade por meio 
de Maria, que viveu no início da era cristã na Palestina. Trabalhou 
com suas próprias mãos. Pregou a boa notícia do Reino de Deus. 
Foi escandalosamente crucificado e morto. Deus o ressuscitou, 
constituindo Senhor à sua direita. Deus devolveu-lhe toda a glória 
que tinha, desde toda a eternidade, mas que fora esvaziada quan-
do Ele se fez homem como nós. Todavia, o significado de Jesus está 
em ter sido humano, sem deixar de ser Deus, e é nosso salvador.
Há, em geral, duas formas de se aproximar de Jesus Cristo: 
1) Uma longa tradição da Igreja, após ter discutido e sinte-
tizado em fórmulas dogmáticas a verdade sobre Jesus 
Cristo, priorizou sua divindade (mesmo confessando sua 
humanidade). Historicamente, predominou o Cristo da 
fé; 
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2) Nos últimos tempos, a pesquisa histórica tem ajudado 
a Igreja a redescobrir a humanidade de Jesus da histó-
ria, que na verdade está mais próximo dos evangelhos 
(sinóticos), sem deixar à margem as contribuições dog-
máticas. 
Nossa opção aqui é partir da realidade de Jesus histórico, 
para, depois, estudar as grandes conquistas histórico-dogmáticas 
e, por fim, sistematizar, teologicamente, o significado de Jesus 
para nós.
Não é possível elaborar uma biografia científica exaustiva so-
bre Jesus, uma vez que as fontes documentais são insuficientes. 
Informação ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Na Unidade 5, você poderá aprofundar-se numa discussão atual sobre o Jesus 
da história, que muitos pesquisadores se propõem. Essa discussão tem um valor 
científi co, porém não cristológico.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Os evangelhos apresentam Jesus não para fazer história, 
como se entende hoje. Fora do mundo cristão não há informações 
confiáveis e suficientes. Os evangelhos, contando a história da vida 
de Jesus, querem, na verdade, dar os fundamentos da fé à luz da 
ressurreição e é por isto que se pode fazer cristologia, mas não 
história. 
Assim, começar a conhecer Jesus desde os evangelhos e des-
cobrir neles sua história é o caminho não só mais adequado, hoje. 
É também caminho necessário, porque a Bíblia é normativa para 
os cristãos. É dela que dependem os dogmas. Eles se tornaram 
integrativos da fé. É assim que se deve aproximar de Jesus, para 
compreender a nossa salvação.
O homem chamado Jesus
Jesus, cujo nome quer dizer: ‘Javé Salva’, é de Nazaré, da ‘Ga-
liléia dos gentios’, região norte da Palestina, onde predominavam 
atividades pesqueiras, agrícolas e pecuárias (gado de pequeno por-
© Cristologia60
te). Região marginalizada pelo centro do poder político e religioso 
da Judeia (Jerusalém). É a pátria de Jesus, que ao seu tempo teria 
uns 200 vilarejos. Cada um deles teria entre 50 e 2.000 habitantes. 
A tradição de indicar Belém como lugar de seu nascimento 
parece hoje ser bem mais um acerto de Mateus e Lucas, ao inter-
pretarem algumas profecias, como a descendência de Davi (cf. Lc 
2,4 e a promessa de Mq 5,1). São desconhecidos a data e o ano de 
seu nascimento.
A Galileia era, ao tempo de Jesus, uma região perpassada 
por tensões estruturais, entre judeus e gentios, camponeses e ci-
tadinos, pobres e ricos, governantes e governados. A Galileia era 
uma região influenciada culturalmente pelo helenismo e outras 
mentalidades. Era mais aberta ao "humano e ao social", e de uma 
religiosidade judaica não tão ortodoxa. Dela dizia um rabino da-
queles tempos: "Galiléia, Galiléia, tu odeias a Torá". Era um "povo 
maldito" que não sabia nada da Lei e tinha uma moral “fraca”, se-
gundo os da Judeia. 
Jesus, filho de Maria, esposa de José, da descendência de 
Davi, nasceu um pouco antes do fim do governo de Herodes I (37-4 
a.C.). Pelos anos 30 (d.C.), procurou o batismo de João Batista, que 
prometia a salvação do iminente juízo de Deus, sob a condição de 
expiação dos pecados. 
Distanciando-se de João, Jesus andou pela Palestina, pregan-
do o Reino de Deus como Boa Notícia, sobretudo para os pobres, 
simples, pescadores e camponeses. Para ele, Deus era Pai (Abbá = 
papaizinho) e Senhor (rei). Por sua bondade, o Pai se imporia até 
sem prévias condições rituais. Mais que isso: Ele tem a certeza de 
que Deus havia começado, por Ele, Jesus, a exercer seu domínio 
(senhorio). 
Assim, seus ensinamentos, em geral parábolas, impressiona-
vam a todos. Como carismático, curou a muitos. Por sua doutrina, 
chamou a atenção e provocou oposição de muitos. Considerado 
como rabi, profeta e messias, colocou-se inteiramente a serviço 
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do Senhorio de Deus e das pessoas. Por sua crítica, sobretudo ao 
Templo e ao sábado, foi preso, julgado, condenado e crucificado, 
provavelmente no dia 14 do mês Nisan, no ano 30, quando teria 
uns trinta e quatro e meio ou trinta e cinco e meio anos. 
Jesus teria sido um tekton (construtor). Ao que tudo indica, 
seria solteiro; isto está implícito nos evangelhos, mas não é com-
provado. Praticou o judaísmo (galileu). Frequentou sinagoga e o 
templo de Jerusalém. Desde que tornou pública sua vida, chamou 
homens para serem seus discípulos. Algumas mulheres que o se-
guiam sustentavam financeiramente suas atividades. Nos primei-
ros tempos, sua atividade se desenvolveu, sobretudo, entre popu-
lares. Fez muitas curas e milagres. 
Tekton: artesão carpinteiro ou mestre de obras. 
Após a chamada (para uns) "confissão de Pedro" ou (para 
outros) "crise da Cesárea” (cf. Mc 8,27-30 e par.), deu nova orien-
tação a suas atividades. E, então, passou a diminuir os encontros 
com as multidões e também os milagres. Empenhou-se na doutri-
nação dos discípulos. Nos últimos tempos de sua vida, evitou au-
toridades e, decididamente, encaminhou-se para Jerusalém, onde 
foi morto. 
Tais atividades se desenrolaram, incertamente, entre meio 
ano e três anos. Marcados pela sua crucifixão, os apóstolos inicial-
mente sentiram fracassadas suas propostas. No então, afirmando-
-se que “ele havia aparecido vivo entre eles", retomaram sua pro-
posta. E os sucessores dos sucessores continuam afirmando, até 
hoje, a proposta de Jesus.
A grande orientação da vida de Jesus
Desde a compreensão de "Deus como Pai amoroso” e “do 
significado do Senhorio de Deus que está chegando", Jesus come-
ça sua atividade. É interpretado como rabi ‘mestre’, como profeta 
© Cristologia62
e até como Messias, títulos que ele mesmo não atribuiu a si. Não é 
possível enquadrar Jesus em algum grupo pré-determinado. Todas 
as tentativas de classificá-lo dentro dos modelos de seutempo são 
inúteis. Ele não é um sacerdote judeu, não é um saduceu, nem 
um fariseu. Não é Ele um zelota nem um asceta de Qumram. Não 
é um rabino nem um profeta. Ele não é uma autoridade político-
-religiosa nem um marginalizado social. 
Dois grandes temas envolvem e resumem a vida de Jesus: 
sua relação com Deus e a pregação sobre o Senhorio ou Reinado 
de Deus (Malkut Yaweh). Só a partir daí é que se pode compreen-
der todo o significado de sua vida. 
Deus foi a sua fonte de atuação e pretensão missionária. Em 
outra linguagem, viveu para Deus e por nós. Já o AT concebia Deus 
como Pai Abba, por quinze vezes. Jesus dirigia-se ao Deus não só 
na liturgia (hebraica), com a fórmula aramaica ‘Abba’. Esta era a 
fórmula carinhosa, singela, direta e familiar e aparece cento e se-
tenta e quatro vezes nos evangelhos. (cf. Mc 14,36; Mt 11,25s; Lc 
12,2; 23,24-46; Jo 11,41; 12,27s; 17,15.11.21.24 etc.).
Esta invocação, ‘Abba’, indica um modo de ser de Jesus e de 
relacionar-se com Deus. O amor paterno-maternal inaudito de 
Deus manifesta-se num amor afetivo, numa solicitude amorosa, 
numa misericordiosa ajuda e confiante fidelidade, que fez Jesus se 
mover numa esfera de intimidade com Deus. Tal imediatez e fami-
liaridade deixaram, na comunidade cristã primitiva, uma novidade 
muito significativa para continuar concebendo Deus. Jesus fez des-
ta relação algo muito peculiar que não só provocou a ira de seus 
adversários; mas, sobretudo, incluiu extensivamente nesta relação 
todas as pessoas, especialmente os excluídos e mal-amados. 
Entretanto, mesmo que Ele tenha feito uma distinção entre 
"meu" e "vosso Pai" (cf. Mt 11,27; Lc 22,29 e outros), não implica 
exclusão: o amor de Deus, que é Pai, é para todos. Fazer a vontade 
do Pai, ao extremo, inclusive dar a vida por Ele, foi o programa 
prototípico de Jesus, que se esvaziou de si para revelar o Pai. É 
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nesta relação fontal que Jesus encontra razões para ser revelador 
do Pai aos seus. Também desta relação fontal surge sua boa nova: 
"o senhorio de Deus está entre vós" (Mt 3,2).
O Senhorio de Deus é a grande e radical pregação de Jesus. 
Neste tema se concentram sua vida e sua morte. Jesus assume 
esta dimensão progressivamente. Ao final de sua vida, tem a cer-
teza de que a implantação definitiva do reinado/senhorio passa 
por sua pessoa. Não em vão, decidiu-se partir para Jerusalém. Lá 
estava a grande oposição ao Pai. Se necessário fosse, daria, como 
deu, sua vida por ele e pelos seus. 
Diferente de João Batista, a vinda do Reino não é uma ques-
tão apocalíptico-escatológica. É, sim, a restauração e a consuma-
ção da criação, como espaço do governo solícito e da proximidade 
de Deus (cf. Mt 6,25-34 e par.). Sem deixar de ser escatológico, o 
Senhorio já está chegando. Está bem próximo (cf. Mc 1,15; Lc 10,9; 
Mt 10,7s), mesmo que se deva suplicar sua vinda: "venha a nós o 
vosso reino" (Mt 6,10; Lc 11,2).
Informação Complementar –––––––––––––––––––––––––––––
É importante observar que o senhorio é de Deus. Dele é também a iniciativa. 
Dele depende sua vinda. E Ele quer que se estabeleça entre todos, para que o 
mal seja banido. Que a criação seja sanada na cura dos doentes, na restituição 
da saúde, na libertação dos prisioneiros e, sobretudo, na proclamação do “ano 
da graça” (cf.Lc 4,18-20). Pelo dedo de Deus, os demônios serão expulsos. Os 
cegos haverão de ver e os coxos poderão andar. Esta libertação faz parte da 
chegada do Reino (cf. Lc 11,20; Mt 12,28; 11,5; Mc 3,27).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O senhorio de Deus, diz Jesus e isto põe em sua prática, deve 
ser buscado em primeiro lugar (Lc 12,31; Mt 6,33). Javé, que é "um 
Deus do perdão" (Ne 9,17), não quer a morte do pecador, por isso 
faz chover sobre bons e maus, acolhe justos e pecadores, sem vin-
ganças. A conversão para o Reino não é uma condição prévia. O 
bom Deus dá, como sinal de seu reinado/senhorio, o perdão que 
leva à conversão; por pura graça: "se vós, que sois maus sabeis 
dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais o Pai dos céus" (Lc 
11,13).
© Cristologia64
Mais ainda, se o Senhorio de Deus vai se aproximando, e aí 
Jesus ensina com gestos e parábolas, então os pecadores notórios 
(para escândalo dos "piedosos") vão assentar-se à mesa da festa 
dos casamentos, vão ter pão com fartura, não serão mais como 
"ovelhas sem pastor". A solicitude de Deus é para com Jesus, sim; 
mas, também, para com todos (cf. Lc 6,20ss; Mt 11,5; 25,31-45). 
Se o senhorio de Deus está chegando, os medos e as culpas devem 
ser superados. Os outros, até os inimigos serão tratados como se 
trata a si mesmo. Quando o Senhor do Reino chegar, os pobres 
deverão ter suprido a fome, o frio, a sede etc. 
Enfim, o pregador radical do Senhorio de Deus, quer im-
plantar as novas relações sociais, como Deus pensou ao início da 
criação. Quer o respeito pelos pequenos e pelas mulheres, pelos 
marginalizados. Numa palavra, Jesus anuncia o Reino, que é vida e 
vida em plenitude (cf. Jo 10,10).
Não é em vão que Jesus se toma de autoridade como intér-
prete do Pai ao assegurar a chegada do Reino. Seus gestos, pala-
vras e ensinamentos o levam, mesmo dentro de contradições e 
oposições humanas, a ser admirado como "quem fala com auto-
ridade" (Mt 7,29; Mc 1, 22), como quem pode dizer: "Ouviste o 
que foi dito pelos antigos, porém eu vos digo." (cf. Mt 5, 38), por 
exemplo, como quem "é o Messias, filho de Deus vivo" (Mt 16, 16), 
ou, ainda, como aquele que pode curar e até ressuscitar mortos 
(Lc 12, 17ss; 8,40ss; 7, 11ss). Ele pode perdoar pecados (Lc 5,20) e 
até expulsar demônios (Mc 1,23ss; Lc 11,14-23). 
O senhorio de Deus é, para Jesus, uma realidade que vem 
chegando da parte do Pai mesmo, que, às vezes, de forma "peque-
na como um grão de mostarda", ou como o fermento. Ele, porque 
é dom de Deus, tem significado salvífico dentro da história e tam-
bém fora dela. É terreno e celeste. Ele passa concretamente pela 
cultura, pela política, pela economia, pela religião. Ele está acima 
e antes de tudo. Por isto deverá ser buscado em primeiro lugar 
(cf. Mt 6,33). Os pobres em espírito, os famintos, os desejosos de 
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justiça, os misericordiosos, os puros de coração, os perseguidos 
e todos os outros bem-aventurados (cf. Mt 5,1-12) no futuro re-
ceberão com certeza este Reino. Mas isto, porém, não é só uma 
questão de futuro. Jesus já o está antecipando escatologicamente. 
Jesus histórico sabe disso, por isso faz curas e milagres; os ensina e 
toma atitudes peculiares, radicalmente, até dar sua vida.
J. Moltmann (1997) propõe uma atualização da compreen-
são bíblica sobre o Reino, chamando a atenção para alguns escla-
recimentos teológicos, em forma de questões: 
a) O reino de Deus é presente ou futuro? 
b) O reino de Deus acontece no aquém, como reino terres-
tre ou é um reino dos céus, no além? 
c) O reino de Deus é uma causa somente de Deus ou tam-
bém dos seres humanos? 
d) Não podemos "fazer nada", ou também podemos reali-
zar as obras messiânicas? 
e) O reino de Deus é outro mundo ou significa que esse 
mundo se transformará em outro? 
f) O reino de Deus é a teocracia ou a união com o Deus 
vivo? 
Depois Moltamann insiste no caráter dinâmico e atual do 
reino, com incidência prática na vida. Pois, trata-se:
a) da humanização do comportamento das relações huma-
nas;
b) da democratização da política;
c) da socialização da economia;
d) da naturalização da cultura;
e) da orientação da Igreja para o reino de Deus. 
Os atos de poder e sinais (milagres)
Ninguém nega que Jesus fez milagres. Os sinóticos, na rea-
lidade, falam de "dynameis" (atos de poder), enquanto João fala 
de "semeia" (sinais). Os milagres de Jesus não são uma violação à 
natureza, mesmo em sua corrupção (cegueira, lepra, endemonia-
© Cristologia66
mento etc.). É isto, sim, uma confirmação da contínuacriação e do 
aperfeiçoamento crescente da criação para indicar a ação de Deus. 
Eles não podem ser lidos por uma ótica pré-científica ou científica, 
mas como ações de Deus que permite ao "miraculado" e aos con-
temporâneos reconhecer a intervenção de Deus. Eles são vistos 
desde a fé como expressão e presença amorosa de Deus. Eles são 
a realidade antecipada do senhorio de Deus que liberta de forças 
maléficas, das escravidões pessoais e socioeconômicas a que os 
doentes estão submetidos. (Lc 13,16). As 35 curas de enfermida-
des, os três exorcismos, as três ressurreições dos mortos e as 19 
superações dos elementos ou milagres da natureza decorrem da 
capacidade curativa de Jesus e da potencial capacidade receptiva 
do agraciado. 
As ações curativas de Jesus são sinais para os homens de que 
o senhorio de Deus já está entre eles, pois antecipam o destino 
escatológico da humanidade. Convém observar que estes milagres 
são sempre ações em favor dos marginalizados e excluídos. Jesus 
quer incluí-los no Reino. Assim, intervém com curas e milagres 
pessoais, sem os grandes milagres comunitários de Deus no Anti-
go Testamento, indicando exatamente o início pequeno e discreto, 
significativo e salvífico do senhorio de Deus.
A pregação de Jesus
Jesus pretendeu ser o revelador definitivo de Deus e de seu 
Senhorio. Nisto está sua missão. Pôs-se a serviço do Pai com sua 
Palavra. Absorveu-se nesta missão. Ensinou com autoridade, vin-
da/buscada em Deus, não como os fariseus. E o povo se admirava 
e se escandalizava com seus ensinamentos. E se perguntavam don-
de vinha tal sabedoria. 
Assim, se o centro da mensagem de Jesus era o Pai e seu Se-
nhorio adveniente, é importante então ressaltar que ele não pre-
gava uma teoria. Antes, era uma boa nova (evangelho) para o ser 
humano. A pregação de Jesus tinha o intuito revelatório salvífico. 
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Era para a salvação humana. Realizava em si o que pregava. Fazia 
acontecer o Reino do Pai e pregava as coisas do Reino. Não foi um 
rabi profissional, era livre. 
A originalidade de sua mensagem o levava bem além de um 
repetidor de Halaka, e até mesmo da Torá. Era capaz de tirar o sen-
tido original de uma perícope ou ensino, que as tradições haviam 
sepultado, pois era capaz de ler com maior profundidade os si-
nais dos tempos e clamar pela justiça de Deus, mais do que faziam 
os profetas. É alguém de bom senso que expressa sua mensagem 
sem as diatribes dos fariseus. 
Jesus usa uma linguagem capaz de fazer ouvintes e adversá-
rios entenderem o que diz. Usa abundantemente a linguagem das 
parábolas para expressar as verdades de Deus (que não são teo-
rias). Por meio de sua experiência comparou o Senhorio de Deus 
com a semente, com o grão de mostarda, com um tesouro escon-
dido, uma rede jogada ao mar, com um rei que prepara a festa de 
casamento do filho, ou com as virgens prudentes e loucas. 
Mais que mestre e profeta, por palavras e obras (At 10,38), 
foi capaz de fazer seus ouvintes compreenderem o significado de 
suas ações e palavras em linguagem escatológica, como ações sal-
víficas de Deus já presentes e que atingirão sua realização plena no 
Reino definitivo, ou seja, em Deus mesmo.
Se a dimensão escatológica sinaliza traços proféticos em Je-
sus, a ética re-proposta por Jesus indica seu ensino frente ao Rei-
nado de Deus. Ele não ignorou a Lei e os profetas. Antes, foi livre 
diante da Torá e da Halaka, apesar de ter afirmado que não veio 
abolir a Lei e os profetas, mas dar-lhes pleno cumprimento. Seu 
ensino aqui pode ser resumido no mandamento do amor. Para Je-
sus, é preciso voltar a priorizar o amor em meio à multiplicidade 
de mandamentos e regras dos judeus. A ética de Jesus resume-se 
em "amar a Deus de todo coração, de toda alma, com todas as 
forças e ao próximo como a si mesmo" (cf. Mt 22,34-40; Mc 12,28-
34; Lc 10,25-28). Este ensino já pertence, na verdade, ao AT. Talvez 
© Cristologia68
a inovação que Jesus traz aqui é a precedência (primeiro lugar) 
sobre todos os outros. Este amor dele inclui até amor aos inimigos 
(cf. Mt 5,38-48; Lc 27-36). 
Jesus: seu modo de ser e de agir 
Uma leitura atenta dos Evangelhos nos permite perceber 
atitudes fundamentais de Jesus e de como ele foi compreendido 
pelos primeiros discípulos, os primeiros cristãos.
Jesus, um homem livre, obediente e fiel
Este primeiro dado causa admiração, estupor e contestação: 
aos olhos de Jesus tudo está subordinado à implantação do Senho-
rio de Deus e à imagem que ele tem de Deus/Pai. Esta é sua causa 
e o fundamento de sua atuação. Assim, Ele se torna livre diante de 
seus familiares (cf. Mc 3,21-33), diante dos especialistas da Lei, os 
Escribas (cf. Mt 14,83-60), diante das tradições, ritos, prescrições 
e culto, que devem estar a serviço do ser humano (cf. Mc 3,1-6; 
2,23-28; 7,1-12; Mt 12,1-8; 19,1-8).
Esta liberdade radical desperta esperanças no povo, cujo re-
sultado imediato é descobrir um novo sentido de viver e fazer-se 
discípulo de Jesus. Ela também é causa de irritação diante dos de-
fensores do "status quo". 
Jesus não foi apenas um homem livre. Foi (e sua causa per-
manece) um libertador. Por isso, cura, salva, perdoa, orienta e cria 
caminhos de justiça e fraternidade. Liberta das doenças e precon-
ceitos, do legalismo e subserviências, dos fardos psicológicos e 
moralistas, da prepotência humana (social, política, econômica ou 
religiosa) em vista da fraternidade comum. 
O que alimenta sua vida é fazer a vontade de Deus, seu Pai 
(cf. Jo 4,34). Deus não é um alguém vingativo ou caprichoso, que 
busca interesses próprios. Deus está voltado e totalmente dedi-
cado para com os seus. Por isto procura o homem perdido (cf. Lc 
15,4-7), preocupa-se com os últimos (Mt 20,1-16). É Pai acolhedor, 
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que sabe perdoar (cf. Lc 15,11-32), chama a todos para a festa (Mt 
22,1-14). É a este Deus que Jesus obedece. Anunciar esta mensa-
gem é a causa dele. Mesmo quando Jesus é atingido pessoalmen-
te, como no Monte das Oliveiras, está ali para fazer "não a minha, 
mas a tua vontade" (cf. Lc 22,42).
Porque é obediente sabe que veio para servir, não para ser 
servido (cf. Mt 10,45; Lc 10,29-37). Não se preocupa consigo (cf. 
Mt 9,10-13; 11,19; Lc 16,13); nem com o poder (cf. Jo 6,15). É um 
homem para os outros. Sua preocupação é não só com o neces-
sitado, seu irmão (cf. Lc 10,29-37; 22,27), mas também com seus 
adversários (cf. Lc 23,34; Mt 25,44). 
Sua fidelidade ao Pai (e à sua causa) é tão radical a ponto de 
ele entregar sua própria vida (cf. Mc 15,34; Lc 22,34; 23,46). Con-
tra toda infidelidade (desobediência) "de Adão", ele faz a vontade 
de Deus, acima de todos os interesses próprios e/ou dos grupos 
que o cercavam. Não em vão, morreu pregado na cruz, crendo em 
Deus até o último momento, quando diz: "Pai, em tuas mãos en-
trego meu espírito" (Lc 24,46).
9. A ATUAÇÃO DE JESUS DIANTE DOS OUTROS
Jesus solícito nas relações com as pessoas
No dia a dia das pessoas, Jesus foi uma presença significati-
va. Visitou-as frequentemente, indo ao encontro de suas dores e 
sofrimentos, inclusive comparecendo até em funerais. Teve apre-
ço pelos amigos, visitava com frequência a casa de Lázaro e suas 
irmãs. Ficava à disposição das pessoas e do povo em geral, até a 
exaustão, mesmo dispensando mais cedo os apóstolos já cansados 
da jornada. Deu-se tempo para perder tempo com as crianças e 
necessitados. Para acolher pessoas, superou preconceitos e discri-
minações.
Foi capaz de perceber, com profundidade, a raiz do mal que 
assolava a comunidade judaica. Captou significados mais profun-
© Cristologia70
dos das influências sócio-polítco-econômicas e, sobretudo, religio-
sas. Não podemos esquecer sua atitude frente a estas questões, 
dado que foi um crítico sagaz de seu tempo e circunstâncias. Man-
teve clara a opção pelos pobres e pelo senhorio de Deus, preferin-
doações (políticas) não violentas. 
Mahatama Gandhi, o fundador da Índia atual, inspirou-se nos 
evangelhos, particularmente nas “bem-aventuranças”, para des-
cobrir o método da não violência ativa.
Com isso, assegurou a liberdade, a igualdade e a fraternida-
de não só políticas, mas, sobretudo, diante de Deus. Por isso, enfa-
tizava que a Lei, as tradições, o "jogo econômico", o poder político 
e religioso não só não podem se bastar a si mesmos, mas devem 
estar a serviço das pessoas e das comunidades. 
Além da dimensão crítica frente aos usos e costumes do tem-
po, Jesus reconheceu e conviveu com homens e mulheres normais 
e sadios, com quem se compraziam em convivialidades. Encontrou 
homens e mulheres de boa vontade, capazes de atos generosos 
e os prestigiou. Até mesmo com os ricos e opressores manteve 
diálogo (às vezes ásperos), em que a centralidade de Deus e do ser 
humano deviam estar acima de tudo (até do sábado). 
Como não recordar, aqui, casos como o de Levi (o cobrador 
de impostos), de Zaqueu, do centurião romano, de Herodes e de 
Pilatos? Nestas questões, ele se situava no horizonte escatológico 
e não apenas sociológico, mesmo que religioso.
Jesus e as mulheres
Uma particular atenção se deve dar a algo inovativo, no con-
texto judeu, da parte de Jesus: a questão do gênero. É sabida a 
posição machista judaica, até mesmo diante de Deus. O homem 
rezava, entre outras coisas: "Dou-te graças, Senhor, por não ter 
nascido mulher". 
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Não é necessário recordar todo o contexto das opressões ju-
daicas, tão pouco o da mulher. Jesus tem uma posição ímpar dian-
te delas. Recordaremos, agora, algumas situações:
• Ele revela uma solicitude particular com as mulheres en-
volvidas com doenças pessoais ou familiares. É atencioso 
para com elas. Não só com a sogra de Pedro, com a viúva 
de Naim, com Marta (as irmãs do falecido Lázaro), com a 
mulher que tinha uma doença já há dezoito anos. E aten-
cioso, apesar de irônico, com a estrangeira sírio-fenícia, 
que lhe suplica a cura da filha possessa. (cf. Mc 7, 224-30; 
Mt 15,21’-28)
• Com as pecadoras, Jesus revela uma sensibilidade im-
pressionante. No caso da samaritana, o fato deve ter tido 
uma repercussão enorme a ponto de o evangelista João 
dedicar ao encontro dois terços de um capítulo. Nota-se 
que o seu evangelho tem apenas vinte e um capítulos (cf. 
4,1-42). "Do mesmo modo Jesus se dirige à mulher que 
se atiram a sua frente: - "Mulher, ninguém te condenou? 
Nem eu! Vai em paz. E não torne a pecar" (cf. Jo 8, 1-11). 
Ao deixar lavar os pés, sabia bem o que era ela. Contudo, 
era necessário libertar aquela mulher dos machismos to-
dos e inclusive libertar a eles mesmos. (cf. Mt 21,31ss). 
Na questão do divórcio, sobretudo diante do direito do 
homem, Jesus advoga o igual direito à mulher.
• Em relação às mulheres que o acompanhavam, inclusive 
sua mãe, ele as considerava discípulas e servidoras. Sua 
palavra para com elas era, sobretudo, um estímulo a se 
tornarem mais do Senhor, a "fazer a vontade do Senhor", 
a "chorar não sobre ele, mas sobre elas mesmas e seus 
filhos".
Ele teve, por elas, grande apreço. Isto está simbolizado na 
constante presença delas em suas atividades. Era algo inovador 
para aqueles tempos, a ponto de Mateus, o judeu que escreve para 
os judeus, ser o evangelista que mais fatos narra sobre mulheres. 
© Cristologia72
E o ensino de Jesus deve ter sido tão marcante que o ortodoxo 
São Paulo chega a afirmar que depois de Jesus, diante de Deus, 
não pode haver mais discriminações até mesmo entre homem e 
mulher, pois todos são iguais. 
Jesus diante dos marginalizados e excluídos
A coerência de Jesus entre a centralidade de sua vida (o Pai 
e Senhorio de Deus) e suas palavras e ações evidencia-se, por si 
só, especialmente diante dos marginalizados e marginais. Se Deus 
é Pai amoroso e compreensivo, se ele se sente seu Filho e revela-
dor, então Jesus só pode manifestar isto elegendo, como elegeu, 
pobres e marginais para manifestar a tradição dos profetas, da Lei 
sobre os preferidos de Deus. Ou seja: onde começa a justiça de 
Deus. Javé é o protetor dos pobres, oprimidos. É o defensor dos 
fracos, estrangeiros, viúvas e órfãos. É misericordioso para com os 
pecadores. E esta foi a opção histórica e preferencial de Jesus, in-
discutivelmente – apesar de todas as reduções posteriores. 
A atitude de Jesus é justificada teologicamente pela consci-
ência que ele tem do Pai e de seu senhorio. Deus elegeu como fi-
lhos todos os homens e mulheres sem distinção. Se entre os seres 
humanos há exclusões e preferências, Jesus advoga a igualdade 
fundamental de todos diante de Deus. Por isso, exige uma mudan-
ça de conduta. Ele próprio viera para as ovelhas perdidas de Israel 
(cf. Mt 10,2). Viera buscar o pecador ao invés do falso justo (cf. Mt 
9,13). Tal pressuposto leva Jesus às multidões abandonadas como 
ovelhas sem pastor (cf. Mt 9,36), aos doentes, aos pobres, às pros-
titutas, aos pecadores, aos publicanos e aos cobradores de impos-
tos. Torna-se defensor das crianças e das mulheres. Elege, em suas 
parábolas, samaritanos e outros marginalizados como exemplos 
de dignidade e capazes de dignificação. Proíbe a extorsão econô-
mica, a violência física, a usura contra os pobres, a fraude na re-
muneração dos trabalhadores, a venalidade na administração da 
justiça etc. 
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© U2 - Jesus, desde a História Bíblica da Salvação
A mais significativa atitude de Jesus é a da mesa partilhada 
inclusive com os pobres, o que lhe valeu até acusação das autori-
dades (cf. Mt 9,10; 11,19). "Estar à mesa" indica fortes laços en-
tre os comensais; expressa consanguinidade ou grande amizade. 
Quem parte junto o pão é o companheiro. 
"Estar à mesa" com os pobres é um gesto profético escatoló-
gico de Jesus, que indica a chegada do Reino para eles. No banque-
te messiânico escatológico de Deus participam os excluídos até en-
tão: doentes, pobres, estrangeiros, pecadores, impuros. Deus quer 
salvá-los todos, levando-os à sua mesa. 
A compaixão de Jesus pelos marginalizados é constante e seu 
fundamento é o Senhorio de Deus. A centralidade está em Deus, 
que quer a dignidade de todos e por isso eles são os primeiros no 
Reino (cf. Mt 5, 1-8; 25, 37ss). Isso não é uma questão socioeco-
nômica. É, antes, teológica, pertinente ao Senhorio de Deus, mas 
indispensável aos crentes, conforme Jesus lhes indica (cf. Lc 14,12; 
18,5; Mt 9,48; 25,31ss).
A atuação de Jesus diante dos grupos influentes de seu tempo
Para compreender melhor a atuação de Jesus, ao seu tempo 
e extensivamente a todos os tempos, convém estudar sua relação 
com os diversos grupos. Exemplificamos alguns:
João Batista
O primeiro contato público de Jesus é com o Batista e seu 
grupo. Ali procurou o batismo. Mas, em seguida, distanciou-se 
deles. As concepções sobre Deus e sua vinda são completamente 
diferentes. Diferente também é o modo de viver e atuar. 
Jesus o respeita, inclusive declarando João "o maior den-
tre os nascidos de mulher” (Mt 11,11), mas nem por isso filiou-se 
ao movimento do "batizador". Jesus não foi asceta, será tratado 
como glutão (Lc 7,33s). Se João anunciava, de modo Apocalíptico, 
a vinda de Deus, Jesus a realiza pelos exorcismos, curas, perdões. 
© Cristologia74
Se João indicava a iminente vinda da vingança de Deus, Jesus res-
saltava a bondade divina. Sua pregação era sobre a graça divina, 
que rompe a relação pecado-castigo.
Fariseus 
Os sete grupos de fariseus cumpriam rigorosamente a Lei. 
Respeitavam as tradições, observavam o sábado, os ritos purifica-
tórios, as orações, esmolas e dízimo. Estudavam a Torá. Esperavam 
um Messias libertador de Israel e a ressurreição final. Desejavam a 
libertação da Palestina. Mesmo convivendo com os romanos, não 
eram amigos deles. Este grupo, na maioria, leigos apesar de alguns 
“sacerdotes”, sente-se separado das outras pessoas, pois as consi-
deravamignorantes da Lei e impuros na observância dos manda-
mentos. Davam à Halahá valor igual à Torá.
 Jesus não escondeu sua simpatia por eles. Recriminou, po-
rém, dois subgrupos deles ("os de costas largas" e “os vagarosos”), 
também reprovado pela população em geral. A salvação, segundo 
os fariseus, viria da "estrita" observância da Lei. 
Não era este o caminho de Jesus, que propõe a dinâmica da 
salvação no apreço a Deus, que já vem chegando, e aos irmãos, 
sobretudo, aos pobres; não à absolutização da Lei, mas à mudança 
de coração. 
Saduceus 
De famílias sacerdotais, os saduceus pertenciam também 
às elites econômicas. Recusavam as tradições orais judaicas. Não 
criam na ressurreição, apoiando-se na ideia de uma retribuição 
imediata e material (isto, hoje, corresponderia à chamada "teo-
logia da prosperidade"). A prova disso estava na riqueza e poder 
que detinham. Isto, para eles, eram bênção e a aprovação de Deus. 
Sentiam-se por isto fiéis a Deus, que lhes era fiel. Detinham eles o 
poder sobre o Templo, consequentemente sobre o culto, esmolas, 
dízimos e taxas. Exploravam o povo, inclusive obrigando-o a traba-
lhos pesados e outras humilhações. Coniventes com os romanos, 
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eles faziam, também, interesseiras alianças com os piores inimigos 
de sua fé. Dominavam o Sinédrio. Pelo culto formal, apenas “espe-
ravam”, para um dia..., a vinda do Messias de Deus.
Jesus, com suas críticas desautorizando a suposta "autori-
dade religiosa" que julgam deter, concordava com eles contra a 
"tradição dos pais", conservada pelos fariseus. Ao mesmo tempo, 
porém, percebia a maldade dos saduceus e a exploração a que 
submetiam o povo para se manterem no poder. Eles foram os res-
ponsáveis pela morte de Jesus, mesmo que um deles (José de Ari-
matéia) não tenha consentido com isto (cf. Lc 23,51). Para eles, o 
programa de vida de Jesus baseado na misericórdia e justiça, na 
fraternidade e na igualdade, não só seria inviável, como também 
prejudicial aos seus interesses. 
Herodianos 
Ao tempo de Jesus, os herodianos reinavam no país, em 
nome dos romanos. Eles legitimavam o poder mantendo a ordem 
política e a paz nas regiões judaicas, sem deixarem de ser uma 
realeza vassala. Estavam muito atentos a qualquer pretensão mes-
siânica, que contestasse seu poder. Recolhiam forçados impostos 
e, inclusive, quiseram um pronunciamento claro de Jesus (para, 
na verdade, incriminá-lo até sobre o assunto) (cf. Mc 12,13-17). 
Também pressionaram Jesus sobre o significado do sábado, dia do 
sagrado (cf. Mc 3,1-56). Foram eles mal amados pelo povo, sobre-
tudo, por causa da corrupção. 
Enquanto para eles o Reino estava na consagração do pró-
prio sistema político, Jesus lhes propõe a provisoriedade e a am-
biguidade de todo e qualquer sistema político-econômico. Contra 
eles, que adoravam o imperador como divino, Jesus propõe Deus 
como único Senhor, no céu e na terra.
Essênios 
Foram os essênios homens e mulheres que se refugiaram no 
deserto, em especial em Qumram, onde estabeleceram leis rígi-
© Cristologia76
das, sobre a pureza e seus ritos. Recusavam o templo, manchado 
pela idolatria, na opinião deles. Preferiam substituir os holocaus-
tos pela ascética santidade de vida. Assim, estariam apressando a 
vinda do Reino e do Messias libertador. Consideravam-se os mili-
tantes de Deus, para combater os inimigos e demônios. Por meio 
de ritos, preparavam-se para as “guerras santas”, totalmente dedi-
cadas a Deus, vivendo a pobreza, a castidade e a obediência. 
Contra a posição deles (uma fuga espiritualista e ascética da 
realidade), Jesus propõe o amor a Deus, o serviço ao próximo e a 
simplicidade de vida até no julgamento do semelhante. 
Zelotas
O apressamento do Reino só se podia dar pela violência, 
como preferiam os zelotas (antes conhecidos como "salteadores" 
ou "bandidos"). Este movimento extremista, adepto da violência, 
queria restaurar em Israel a teocracia. Para tanto, invocava con-
dições de vida extremamente ligadas à santidade do Templo e ao 
cumprimento da Lei. Eram rigorosamente ortodoxos e integristas 
e detinham uma confiança absoluta em Deus e em suas institui-
ções. Exterminar os ímpios pela revolução armada era o meio de 
apressar o Reino. 
Jesus indica a estes fundamentalistas a autonomia do tem-
poral, o universalismo e a mansidão. A salvação de Deus é maior 
que o Templo e os governos, mas concorda e se posiciona, como 
eles, contra todas as explorações sociais. 
Samaritanos
Apegados aos cinco livros do Pentateuco, os samaritanos são 
homens da Lei. Com rigor, seguem as prescrições da circuncisão, 
do sábado, das festas etc. Seu monte santo, porém, era Guarizin e 
não Jerusalém (Sion). Esperam um Messias: Taheb, que não é um 
descendente de Davi, mas um novo Moisés (cf. Dt 18,15). O Mes-
sias virá restabelecer toda a ordem no final dos tempos. A salvação 
e o Messias não podem passar por Jerusalém, nem pelo Templo de 
Salomão. ‘Ali tudo está corrompido’. 
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Jesus lhes indica: nem em Jerusalém nem em Guarazin está 
o Reino de Deus (cf. Jo 4, 21). Ele está no coração, em espírito e 
verdade. Apesar de sua religiosidade, Jesus indica novas e mais 
profundas relações com Deus. Não é possível se manter na super-
ficialidade, nem no rigorismo, como já acenara a outros grupos.
Todos os grupos tinham uma expectativa escatológica pecu-
liar. Jesus não se enquadra em nenhuma delas, apesar de ter com 
todas elas algum elemento em comum. Na verdade, ele não é clas-
sificável em nenhum grupo ou movimento. Teve e manteve uma 
peculiaridade própria, que lhe causou aplausos e condenações. 
Sua palavra clara era interpretada conforme o interesse. E isto o 
levou à morte. E morte de cruz. 
10. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira, na sequência, as questões propostas para verificar 
seu desempenho no estudo desta unidade: 
1) Para fazer cristologia hoje, é importante:
a) Levar em conta que a cristologia nunca teve presente as expectativas 
vétero-testamentárias.
b) Ter presente que Jesus pertenceu ao um povo localizado e da cultura 
deste povo absorveu sua religiosidade.
c) Perceber que Jesus indicou, para sua identificação, as próprias Escrituras 
judaícas.
d) Perceber que a proposta de Jesus é algo tão original a ponto de o AT em 
nada contar para a cristologia contemporânea.
e) Compreender Jesus dentro da fé do povo judeu e ao mesmo tempo ul-
trapassá-lo.
2) Leia as questões seguintes e assinale a única verdadeira:
a) Para o AT, o messianismo é mais importante que as experiências de 
Aliança.
b) A fidelidade do povo escolhido foi tão constante que o próprio Deus to-
mou a iniciativa de renová-la frequentemente.
c) Segundo o AT, foram mediadores da Aliança os profetas e sacerdotes, 
mas não os reis.
d) A esperança profético-messianica foi sendo sempre atualizada no AT até 
a chegada de Jesus.
e) Apesar de o Messias escatológico vir do céu, ele nada tinha a ver com a 
descendência davídica.
f) Já no AT a Sabedoria era identificada com o Espírito Santo a ser dado por Jesus.
© Cristologia78
3) Assinale a única verdadeira. Para compreender a cristologia:
a) Deve-se descobrir Jesus em estado puro (Jesus histórico), o que não de-
pende da fé.
b) É necessário ter em conta a religiosidade popular, a espiritualidade e o 
evangelho.
c) Priorizar o Jesus histórico e real, eliminando o Cristo da fé.
d) É importante elaborar uma biografia exaustiva de Jesus, o que só pode 
ser feito a partir dos evangelhos canônicos.
e) Deve-se ter sempre em conta que os evangelhos canônicos foram elabo-
rados à luz da páscoa.
4) Assinale a única correta. Para Jesus há duas questões básicas em sua prega-
ção e modo de agir:
a) A pregação e os milagres.
b) O Pai e seu Senhorio (Reino).
c) Os pecadores e sua salvação.
d) A revelação de Deus e o modo como as pessoas o entendem.
e) A comparação entre o Reino de Deuse os reinos deste mundo.
5) Assinale a única alternativa correta. Jesus pelo seu agir e modo de ser:
a) Foi livre porque foi fiel e obediente a Deus.
b) Não pecou, porque era Deus (Deus não pode pecar).
c) Fez milagres para provar sua divindade.
d) Discriminou alguns, mas acolheu a todos de modo igual.
e) Pôs no centro de sua pregação o ser humano, filho de Deus.
6) Assinalar a alternativa verdadeira. Afirma-se, teologicamente, que Jesus foi 
um ser humano original porque:
a) Em tudo foi igual a nós.
b) Era diferente (superior) ao ser humano.
c) Restitui a vista aos cegos e curou paralíticos.
d) Colocou-se totalmente a serviço de Deus e dos homens.
e) Nasceu da virgem Maria.
7) Assinale a única verdadeira. Jesus comprova que o Senhorio (Reino) de Deus 
é salvífico porque:
a) Os doentes são curados e os cegos recuperam a vista.
b) Os pecadores são perdoados e os poderes demoníacos são expulsos.
c) A dignidade humana é recuperada e os discriminados, reabilitados.
d) Todos os homens e mulheres podem participar dele.
e) Todas as alternativas são verdadeiras.
8) Assinale a única alternativa falsa:
a) Frente aos outros, Jesus foi sincero e serviçal.
b) Da relação com Deus, brotou em Jesus um sentimento empenhativo pe-
los outros.
c) Jesus oportunizou vínculos de solidariedade.
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Claretiano - Centro Universitário
© U2 - Jesus, desde a História Bíblica da Salvação
d) Jesus serviu-se, em proveito próprio, dos mandamentos fundamentais 
do amor a Deus e ao próximo.
e) Suplicou a Deus o perdão por aqueles que o crucificavam.
Gabarito
Depois de responder às questões autoavaliativas, é impor-
tante que você confira o seu desempenho, a fim de que saiba se é 
preciso retomar o estudo desta unidade. Assim, confira, a seguir, 
as respostas corretas para as questões autoavaliativas propostas 
anteriormente: 
1) d
2) d
3) e
4) b
5) a
6) d
7) e 
8) d
11. CONSIDERAÇÕES 
Você sistematizou seus conhecimentos sobre Jesus de Naza-
ré, sua história, sua atuação e seu contexto. É um tema fascinante 
na cristologia porque faz perceber a universalidade e a atualidade 
do agir de Jesus, mesmo que tenha sido limitada em campo judeu.
Os cristãos continuam agindo no lugar Dele e você tem esta 
missão também. Por isso, relacione o estudo com suas atividades 
e com sua vida. Aja de tal modo que Ele pudesse se identificar no 
seu agir e continue estudando. 
A próxima unidade é importante. Em certo sentido, é conti-
nuação desta. Mas, por ter sido a morte e a ressurreição de Jesus 
postas num grande destaque na tradição e na espiritualidade, pre-
ferimos abordá-las numa unidade própria.
© Cristologia80
12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARIAS, J. Jesus, esse grande desconhecido. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
DUQUOC, C. Cristologia. Ensaio dogmático II. O messias. São Paulo: Loyola, 1980.
FABRY, H; SCHOLTISSEK, K. O messias. São Paulo: Loyola, 2008.
FREYNE, S. Jesus, um judeu da Galiléia: nova leitura da história de Jesus. São Paulo: Pau-
lus, 2008.
FORTE, B. Jesus de Nazaré, a história de Deus, o Deus da história. São Paulo: Paulinas, 
1985.
GNILKA, J. Jesus de Nazaré: mensagem e história. Petrópolis: Vozes, 2000.
KESSLER, H. Cristologia. In: SCHNEIDER, T. (Org.). Manual de dogmática. Petrópolis: Vo-
zes, s/d.
LAURENTIN, R. A vida autêntica de Jesus Cristo. São Paulo: Paulinas: 2001. v. 1 e 2. 
LEON-DUFOUR, X. Aliança, messias, profeta e sabedoria. In: Vocabulário de teologia bí-
blica. Petrópolis: Vozes, 1972. 
MAGNANI, G. Jesus, construtor e mestre: novas perspectivas sobre seu ambiente de vida. 
Aparecida: Santuário, 1998.
MOLTMANN, J. Quem é Jesus Cristo para nós hoje? Petrópolis: Vozes, 1997. 
MORIN, E. Jesus e as estruturas de seu tempo. Petrópolis: Vozes, 2003.
NOLAN, A. Jesus antes do cristianismo. São Paulo: Paulinas, 2008.
PUIG, A. Jesus: uma biografia. Lisboa: Paulus, 2008.
RAUSCH, T. Quem é Jesus? Uma introdução à cristologia. Aparecida: Santuário, 2006.
SAULNIER, C; ROLLAND, B. A Palestina no tempo de Jesus. São Paulo: Paulinas, 1983.
SERENTHA, M. Jesus Cristo, ontem, hoje. Ensaio de cristologia. São Paulo: Salesiana, 1986.
THEISEN, G. O movimento de Jesus: história social de uma revolução de valores. São 
Paulo: Loyola, 2008.
______; MERZ, A. O Jesus histórico: um manual. São Paulo: Loyola, 2002.
THOMAS. R. Quem é Jesus? Uma introdução à cristologia. Aparecida: Santuário, 2006.
VERMES, G. Natividade. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2007.
______. As várias faces de Jesus. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2006.
EA
D
O destino de Jesus: morte 
e ressureição
3
1. OBJETIVOS 
• Identificar as causas e razões da morte de Jesus na cruz.
• Validar a posição de Jesus diante da perspectiva da pró-
pria morte.
• Analisar o significado histórico-pascal da ressurreição.
• Descrever as fontes bíblicas da fé na ressurreição.
• Justificar a fé dos discípulos no Senhor ressuscitado.
• Distinguir a cristologia da exaltação e da eleição do Cristo, 
da cristologia da pré-existência e da encarnação.
2. CONTEÚDOS
• A morte de Jesus.
• A ressurreição de Jesus: o testemunho neotestamentário.
• Quem é Jesus? A resposta cristológica do NT. 
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3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE
Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que 
você leia as orientações a seguir:
1) Entre outros interessantes e atualizados estudos con-
temporâneos sobre a morte de Jesus, você pode apro-
fundar a questão lendo: SLOYAN, Gerard. Por que Jesus 
morreu na cruz? São Paulo: Paulinas, 2006, p. 19-72.
2) Você pode aprofundar ainda mais a temática relativa 
à morte de Jesus lendo: BERGER, Klaus. Para que Jesus 
morreu na cruz? São Paulo: Loyola, 2005.
3) Você pode completar seu estudo, com a leitura das me-
ditações de MARTINI, Carlo Maria. Os relatos da paixão 
de Cristo. Lisboa: São Paulo, 1994.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na Unidade 2, você pôde compreender o Antigo Testamen-
to como base e fundamento da cristologia neotestamentária, bem 
como as experiências salvíficas, Jesus de Nazaré, sua história e sua 
atuação, além de estudar o homem Jesus e sua atuação diante dos 
outros.
Nesta Unidade 3, você deverá aprofundar as questões liga-
das à morte e à ressurreição de Jesus, bem como as cristologias do 
Novo Testamento. É importante ter presente que é a ressurreição 
que dá sentido à morte de Jesus. 
Se você fizer uma rápida pesquisa entre as pessoas que o ro-
deiam, certamente perceberá uma supervalorização da morte de 
Jesus na cruz, por causa de nossos pecados. Esta teologia estauro-
lógica foi muito importante na espiritualidade do segundo milênio, 
sobretudo na Idade Média. E ainda perdura. Mas, você deve convir 
com São Paulo: se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa fé. 
83
Claretiano - Centro Universitário
© U3 - O destino de Jesus: morte e ressureição
 
A palavra “estaurológica” deriva da palavra grega staurós, que sig-
nifica cruz e o complemento “lógica” indica a ciência, o conheci-
mento. Aqui, no caso, quer dizer: a compreensão, o conhecimento 
ou a interpretação da fé, a partir da cruz de Jesus. 
Os evangelhos e a Igreja não concebem o fim histórico de 
Jesus, sem considerar, além da morte, o outro elemento constitu-
tivo: sua ressurreição. Liturgicamente, a Igreja celebra sempre o 
chamado "tríduo pascal". A espiritualidade move-se pela graça do 
ressuscitado.
A teologia atual tem preferido fazer a sua reflexão levando 
mais em conta o significado da morte e ressurreição como verso e 
reverso da mesma moeda, que na verdade só se explica no contex-
to da vida encarnada de Jesus com sentido para o cristão de hoje. 
Você vai estudar separadamente os dois temas, para poder explo-
rar mais e melhor seus significados. Depois disso, deverá aprofun-
dar a percepção do Novo Testamento em compreender Jesus. Elas 
são sintetizadas em duas grandes linhas: a da cristologia da eleva-
ção e eleição e a cristologia da pré-existência e encarnação.
Reveja seus conceitos sobre esses temas e justifique sua po-
sição, sabendo que o significado de Jesus é ainda maior, pois Ele, 
conforme o Novo Testamento,não é o apenas nascido da Virgem 
Maria. Ele é Deus que pré-existe, desde toda a eternidade. Para 
afirmar esta verdade bíblica da fé, os teólogos e exegetas costu-
mam, hoje, falar da cristologia da exaltação e eleição do homem 
Jesus e da cristologia da pré-existência e encarnação de Deus. Na 
verdade, não há uma tensão entre as duas. Elas compõem um mo-
vimento circular que vem do céu à terra e da terra sobe ao céu. O 
Cristo é o mesmo homem de Nazaré. É assim que o Novo Testa-
mento nos apresenta Jesus. Estes são princípios que devem guiar 
sua fé.
Continue avante e bom estudo!
© Cristologia84
5. A MORTE DE JESUS 
Agora, programe-se em questão de horário, material com-
plementar de estudos. E prepare-se para adentrar num dos mo-
mentos mais significativos da vida de Jesus.
A morte de Jesus marcou demasiadamente os cristãos, so-
bretudo durante o segundo milênio. Tanto a teologia (cristologia) 
quanto a liturgia, a piedade popular e as artes em geral, centram 
sua ação na morte de cruz (estaurologia). A interpretação da mor-
te de Cristo estava ligada à questão do pecado. A partir daí, vive-
-se certo "dolorismo", que encheu nossas igrejas com cruzes, vias-
-sacras, crucificados, pietàs etc. 
Realmente não se pode compreender Jesus sem sua morte 
e morte na cruz. Ela, porém, não é o centro nem o sentido de sua 
encarnação. Todavia, é o motivo pelo qual os cristãos se reconci-
liam "oficialmente" com Deus.
Jesus diante de sua morte (perspectiva objetiva)
Sabia Jesus que iria ser morto e pregado na cruz? A respos-
ta que pareceria óbvia, na verdade não é tanto assim. Três vezes 
Jesus profetizará a morte do "Filho do Homem" (Mc 8,31; 9,31; 
10,33). Todavia, a morte na cruz não era algo em seu horizonte, 
pois na Torá se ensinava: "maldito é o que é pendurado na cruz" 
(cf. Dt 21,23). As questões que atingiam e ameaçam Jesus se da-
vam dentro do povo judeu. Todavia, Ele foi preso, condenado e 
pregado na cruz pelo poder romano, mas com a colaboração das 
autoridades judaicas. 
A morte de Jesus é consequência de sua mensagem sobre Deus 
e da pretensão de sua autoridade.
Ela estava implícita nos objetivos e meios de seu compor-
tamento inconformista, o que provocava a ira das autoridades ju-
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Claretiano - Centro Universitário
© U3 - O destino de Jesus: morte e ressureição
dias. A condenação como sedicioso e blasfemo o golpeou com um 
fracasso radical de seu projeto. Sua opção pelos pobres e margina-
lizados, suas transgressões rituais, seus ataques ao sábado e aos ri-
tos de purificação/impureza, somados, sobretudo à sua pretensão 
de agir e lutar em nome de Deus foram os motivos históricos que 
o levaram ao trágico fim de sua vida. 
A partir da confissão de Cesárea (cf. Mc 8, 27ss; Lc 9,18-21; 
Mt 16,13-20), Jesus decidiu terminantemente ir para Jerusalém. 
O confronto com os saduceus e sacerdotes se acirrou como peri-
go para a ordem cúltico-pública, mantida à mão de ferro. A moti-
vação (religiosa) política da expulsão dos vendedores no templo 
(Mc 11,15-18) e da palavra sobre a destruição do templo (Mc 13,2; 
14,56-61) foram o estopim para a prisão, condenação e morte. 
 O processo judicial começou por causa das chamadas blas-
fêmias de Jesus (Mt 26,65; Mc 14,64) e de seu "desacato ao Siné-
drio" (cf. Mt 17,12; Jo 18,21-23; Mc 14,60ss; 15,4s). Havia, tam-
bém, antecedentes em sua pretensão de colocar-se na esfera do 
divino, de sua consciência como enviado de Deus, chamado a ins-
taurar o Reino de Deus na terra. 
A desproporção era tamanha: frente às instituições oficiais e 
às autoridades representativas, à expectativa messiânica em curso 
e o respaldo do poder, Jesus apresentava-se sem a Lei, sem o Tem-
plo, sem dinheiro e sem poder vingativo. O resultado só seria este: 
ser preso para ser condenado e morto.
O Sinédrio, neste tempo, não tinha poder para executar uma 
sentença capital. Além do que, no processo de Jesus, parece não 
ter havido unanimidade entre seus membros. Então, transferiu a 
causa para o âmbito civil: entregou Jesus a Pilatos, ao poder roma-
no, a quem tanto se odiava. 
A causa religiosa-política foi transformada em delito políti-
co: insurreição e questionamentos sobre o fisco (Lc 23,2.5). Pilatos 
interroga-o sobre isto e o condena. Antes, porém, enviou-o a He-
rodes, que apenas constatou sua inocência (Lc 23,15), sem nada 
© Cristologia86
fazer. Os três fatos: crucifixão, inscrição sobre a cruz e condenação 
de Pilatos, indicam de modo inquestionável a condenação roma-
na, por manobra judaica. 
Diante dos poderes estatuídos, a morte de Jesus aparece 
para todos como fracasso de sua pretensão e como abandono de 
Deus que depois se revela no grito da cruz: “Meu Deus, meu Deus, 
por que me abandonaste?” (Mc 15,34).
Jesus diante de sua morte (perspectiva subjetiva)
Jesus não buscou a morte. Antes, buscou a Deus e ao seu 
Senhorio. Porém, contou com ela e foi integrando-a em sua vida 
como consequência de sua pretensão (a causa de Deus). Também 
deu a ela, já durante sua vida terrena, um sentido peculiar: por 
Deus e por nós (pró-existência total). Assumida a missão de envia-
do ao Pai, assume a morte que se avizinha como entrega pela cau-
sa. Ele não a buscou (cf. Jo 18,22ss; 19,11; 11,53s) e, nos últimos 
tempos, já quase não aparecia mais em público (cf. Jo 11,53ss).
Jesus foi suficientemente realista para se dar conta do perigo 
que o espreitava. Os conflitos se avolumavam e as hostilidades se 
radicalizavam. O complô era visível (Mt 22,15; Lc 11,54; Jo 11,45-
54). As ameaças contra sua vida deviam vir do Sinédrio, com sua 
faculdade de mandar a apedrejar (cf. Lc 4,29; 13,34; Jo 8,59; 11,8), 
de Herodes, o que mandara recentemente degolar a João Batista 
(Mc 6,26) e, mais tarde, Tiago o irmão do Senhor (At 12,2) ou, fi-
nalmente, de Pilatos, o que podia e, de fato o fez, crucificar.
Os exegetas, hoje, afirmam que suas predições ou vaticínios 
sobre a morte do “Filho do Homem” (Mc 8,31; 9,31; 10,33) são va-
ticínios ex eventu; isto é, parecem ter caráter pós-pascal. A indicar 
isto, está a expressão "Filho do Homem" que não parece ter sido 
usada pelo próprio Jesus, mas pela comunidade primitiva. Jesus, 
ao utilizá-la, o faz sempre num contexto Apocalíptico: "o Filho do 
homem virá julgar no fim dos tempos". Ligá-la aos padecimentos é 
uma associação da comunidade cristã primitiva. 
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Claretiano - Centro Universitário
© U3 - O destino de Jesus: morte e ressureição
Algumas frases de Jesus, tomadas em conjunto, parecem in-
dicar a progressiva tomada de consciência de sua morte violenta. 
Observe-se que muitos exegetas fazem sérias restrições quando as 
tomam isoladamente.
Sobre isto, leia em sua bíblia: Mc 2,19ss; Lc 13,31-33; Mc 10,46ss. 
É claro, a comunidade de fé indica ainda outras afirmações que 
associam ao serviço paciente do Filho do Homem, aplicando-as a 
Jesus. Veja, por exemplo: Mc 10,38; 12,1-12; 14,2-7; 14,3-9; 15,35 
e seus paralelos, especialmente em Mateus.
Jesus aceitou sua morte violenta? Na verdade, Ele não se 
opôs a ela e nem fugiu dela. Ele a assumiu como desfecho da im-
plantação do Reino de Deus. Por isso, submeteu-se a ela como von-
tade de Deus, como sempre fora sua opção de vida (cf. Mc 3,35; 
Mt 21,28-31; Jó 4,34; 6,38-40). Quando tomou a decisão radical de 
ir-se para Jerusalém pareceu entender que seu destino definitivo 
lá está (cf. Jo 11,8; 55,57). Jerusalém, Jesus o sabia do Antigo Tes-
tamento, é o lugar teológico onde se desenrolariam os principais 
acontecimentos salvíficos, acontecidos na morte dos profetas. A 
única ida àquela cidade, conforme os sinóticos, atesta esta pers-
pectiva por parte Dele. 
Na oração do Monte das Oliveiras, Ele resume sua posição 
(Mc 14,32-42): vence sua última tentação (guardar sua vida para 
si) e resolve entregar sua vida nas mãos dos pecadores que o ma-
tariam; ao mesmo tempo, Ele a entrega a Deus como prova de sua 
radical adesão à vontade divina.
Segundo a perspectiva joanina, por ter estado em Jerusalém di-
versas vezes, Jesus teria maior consciência do perigoque o es-
preitava.
Jesus interpretou sua morte, já durante a vida, como doa-
ção/entrega. Ele fez de sua vida um serviço ininterrupto para Deus 
e, por isso, aos homens. Mesmo na morte, sua esperança em Deus 
(cf. Mc 15,34 citando Sl 34,6) é radical: viver por Deus e para Deus. 
© Cristologia88
A interpretação que Jesus, durante a Última Ceia, dera à sua 
morte era uma verdadeira afirmação de que Ele estava à disposi-
ção do Pai. Sua morte não seria um obstáculo para a implantação 
do Senhorio (Reinado) de Deus. 
Tanto Jesus quanto as primeiras comunidades cristãs inter-
pretaram esta morte, à luz do AT, fazendo referência às imagens 
do "sangue da Aliança (cf At 9,14-28) ou do “Cordeiro pascal” (cf. 
Jo 1,29; Ap 5,6-12. Mas sobretudo as palavras de Jesus, pronuncia-
das, quer sobre o cálice, quer sobre o pão ou sobre os dois (pão e 
vinho, segundo as diferentes narrativas dos evangelhos), indicam a 
disposição de Jesus de dar a vida "por muitos" (ou por nós ou pela 
vida do mundo) (cf. Mc.14, 24; Mt. 20, 28; 1Cor 11,24; Jo 6,51). 
Com toda certeza se pode afirmar que Jesus "aceitou sua 
morte na cruz" como um ato expiatório e salvífico, em favor dos 
outros. Seu desejo de fazer a vontade de Deus e de viver em prol 
dos outros confirma a interpretação de sua morte como um servi-
ço de salvação. 
Temos observado neste estudo, bem como na de Antropolo-
gia Teológica, que se a morte de Jesus tem um caráter redentor, é 
preciso estar consciente de que tal gesto de extrema doação não 
é razão última da encarnação do Verbo. A morte deve ser compre-
endida no conjunto de sua vida. Não vale apenas este momento, 
como se o "restante" de sua vida não tivesse significado. Além do 
que, se Jesus é realmente redentor de todo pecado humano, é so-
bretudo o revelador e o caminho de nossa realização plena em 
Deus, na força do Espírito Santo.
A disposição final
A crucifixão e morte de Jesus são o fim de sua pretensão. 
Objetivamente, seus discípulos não teriam mais razões para conti-
nuarem reunidos. Suas esperanças se frustraram. A morte de Jesus 
indicaria a rejeição Dele até mesmo diante de Deus. Só restava vol-
tar. Aquele que ligara o anúncio da chegada de Deus à sua pessoa, 
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Claretiano - Centro Universitário
© U3 - O destino de Jesus: morte e ressureição
agora, estava morto. A causa estava destruída. Tudo deveria ser 
sepultado. Fora legalmente crucificado; eliminado com sua pre-
tensão. Para os judeus, “era maldito todo aquele que fosse pen-
durado na cruz”. 
6. A RESSURREIÇÃO DE JESUS O TESTEMUNHO NE
OTESTAMENTÁRIO
Com certeza, ao aprofundar o tema da morte de Jesus, você 
deve ter começado a perceber a importância que a ressurreição 
adquire. Se tudo tivesse acabado na morte de Jesus, nada teria sig-
nificado. A morte Dele adquire valor por causa de sua ressurreição. 
Aliás, a ressurreição de Jesus é o ponto fundamental de nossa fé. 
São Paulo chega a afirmar que sem a ressurreição nossa fé se torna 
vã, vazia de sentido.
Este é o tema que você vai começar aprofundar. Ele é o mais 
importante em nossa fé. Aproveite-o ao máximo. Mas, não esque-
ça: cristologia não é só uma questão de razão científica, como já 
dissemos anteriormente. É uma questão de fé, que se faz orando. 
Informação Complementar –––––––––––––––––––––––––––––
A convicção de que Deus ressuscitou verdadeiramente Jesus dos mortos, para 
a nossa salvação é o conteúdo e o pressuposto de todo o Novo Testamento. O 
Novo Testamento sustenta unanimente esta verdade que é a base radical de to-
dos os relatos históricos, de todas as confi ssões de fé, de todo o anúncio cristão, 
de todas as discussões com os judeus, da releitura cristã do Antigo Testamento, 
da existência e missão da Igreja.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
As fontes da fé e do testemunho pascal
Não existem, nem no NT ou nos Evangelhos, relatos do mo-
mento da ressurreição. Tudo quanto se conta ou narra sobre o 
tema é consequência do fato. As aparições, as confissões de fé, os 
hinos, as pregações e os resultados de vidas mudadas, convertidas, 
são consequências. E a síntese é esta: "Ele está vivo". Isso é algo 
insólito e inesperado. É algo tão inovador que não se encontram 
© Cristologia90
paralelos ou referências anteriores e/ou posteriores em nenhuma 
religião. Nem os discípulos, nem as mulheres que o acompanha-
vam esperam alguma coisa assim. 
Tudo recomeça com a "boa nova" dos Anjos às mulheres 
que vão cuidar do embalsamamento do corpo do morto (o que 
não pudera ser feito por causa do sábado – que começava ao pôr-
-do-sol de sexta-feira). É o anjo, diante do sepulcro aberto, quem 
lhes anuncia: “por que procuram entre os mortos, aquele que está 
vivo?” (Lc 24,5). A partir daí se desencadeará um processo novo e 
inovador. Tão novo que é vivido aos sobressaltos de quem não é 
capaz de identificar a realidade nova: "é um jardineiro!", "um pe-
regrino!", "um fantasma!". "Alguém que entra mesmo sem abrir 
portas!" Ele se faz ver. Aparece. 
Apóstolos e discípulos vão percebendo, aos sobressaltos: o 
que fora crucificado agora está vivo e se apresenta em nova reali-
dade. É o crucificado, mas ressuscitado. Deus o ressuscitou. Quer 
dizer: Deus não abandonou. Antes o confirmou, ressuscitando-
-o. Deus não estava revivificando um cadáver (como Jesus fizera 
com Lázaro, com o filho único da viúva de Naim, ou com a filha 
do oficial romano). Ele fazia nova a vida de seu Filho, que acabava 
de ressuscitar. "Isto é muito bom", repetiria o Criador. Então Deus 
descansou. Era o oitavo e definitivo dia (cf. Gen 1,31).
As fontes desta notícia enquadram-se em quatro categorias:
1) as confissões de fé; 
2) o kerigma; 
3) os textos narrativos posteriores; 
4) os hinos.
Confissões de fé
Confissões simples (Fl 2,11; Rm 10,9-11); confissões am-
pliadas (1Ts 1,9-10; Rm 1,1-4); e confissões de fé completas (1Cor 
15,1-11).
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Claretiano - Centro Universitário
© U3 - O destino de Jesus: morte e ressureição
Provavelmente de três a seis anos após a morte de Cristo, 
Paulo recolheu a mais antiga confissão de fé pascal (na comuni-
dade de Damasco ou de Jerusalém?): 1Cor 15,38-11. Isso não é 
“invenção” paulina, pois se estava tão próximo ainda dos fatos que 
se alguém a inventasse seria logo desmentido. A confissão de fé 
se tornou normativa para a Igreja (cf. 1Cor 15,1) e contêm os três 
elementos que a fundam: Cristo morreu, ressuscitou e apareceu. E 
acrescentam-se, respectivamente, as interpretações de então: por 
nossos pecados, segundo as escrituras, ao terceiro dia. Vejamos o 
quadro a seguir:
Morte Ressureição
O fato morreu foi ressuscitado
Inciso por nossos pecados ao terceiro dia
Plano de Deus segundo as Escrituras segundo as Escrituras
Prova foi sepultado apareceu a...
O “terceiro dia” (cf. 1Cor 15,4) era uma expressão usual no 
tempo de Jesus para designar um fato muito importante. E foi usa-
da não para afirmar um fato histórico, mas um acontecimento de 
plenitude escatológica. 
Note-se que Jesus, conforme o plano de Deus, morreu para 
ressuscitar, para vencer a morte e, de modo novo, permanecer com 
os seus. Porque ele morreu, foi sepultado. Porque ele ressuscitou, 
apareceu a Pedro, aos doze e mais de 500 irmãos, muitos dos quais 
ainda estavam vivos ao tempo do apóstolo Paulo (cf. 1Cor 15,6). 
Sua morte por nossos pecados e sua ressurreição para nos 
levar à plenitude são questões cristológicas de valor soteriológi-
co. "Deus o ressuscitou" é a afirmação para descrever a ação de 
Deus. Quer dizer: o início da criação de Deus (cf. Gn 1,1-2.4b), o iní-
cio, desde agora, atinge sua culminância na ressurreição de Jesus. 
Deus faz viver de modo novo (nova criação) quem fora submetido 
à morte, para vencê-la desde dentro. Deus colocou-se ao lado de 
Jesus, julgando o julgamento humano. 
© Cristologia92
A expressão Maranatha (1Cor 16,22; Ap 22,20) é o grito 
aramaico-protocristão que, exaltando Jesus, o Senhor, suplica seu 
retorno para trazer a salvação. Ela contém provavelmente a mais 
antiga afirmação cristológicaexplícita. 
O Kerigma 
(At 2,14-36; 3,12-26; 4,8-12; 5,29-32; 10,34-43; 13,16-41)
O Kerigma de Pedro e Paulo, nos Atos dos Apóstolos, é o pri-
meiro sim pascal apresentado aos judeus. Contém já uma leitura 
cristológica do homem Jesus, a quem eles haviam matado e Deus 
o ressuscitara. 
Os textos dos Atos dos Apóstolos que caracterizam o Kerig-
ma Pascal mantêm um elemento vinculante da fé desde o início. 
Aquele que foi crucificado, pelos homens, porque ele viera para 
os seus e não fora recebido por eles, desde o início, pois "preferi-
ram as trevas à luz", (cf. Jo 1,11), Deus o ressucitara constituindo 
Senhor à sua direita. Ainda mais: ele nos fora dado para a nossa 
salvação.
Os textos de narrativas pascais posteriores 
 Narrativa de cristofanias pessoais (aparições) (Mt 28,9-10; 
Lc 24,13-55; Jo 20,11-18.24-29) e apostólicas (Mt 28,16-20; Lc 
24,36-53; Jo 20,19-25):
À medida que a experiência, o testemunho e a pregação pas-
cais se desenvolvem, também as narrações vão adquirindo maior 
profundidade e sentido. 
Convém acentuar, porém: as aparições são sempre iniciati-
vas do ressuscitado, que às vezes aparece de forma incógnita (mo-
tivo de reconhecimento) e elas implicam sempre uma missão (mo-
tivo de incumbência). Reconhece-se e se identifica o ressuscitado 
e Dele se recebe uma missão. 
As aparições não só confirmam a ressurreição, mas afirmam 
como Deus agiu com o crucificado: o fez encontrar-se com seus 
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© U3 - O destino de Jesus: morte e ressureição
discípulos, prometeu sua nova presença entre eles para sempre e 
lhes atribuiu a tarefa de testemunhar o ressuscitado, continuando 
a missão de Jesus, até os confins da terra (Mt 28,19-20).
Narrativa do túmulo aberto (Mc 16,1-8; Lc 24,1-11; Jo 20,1-11): 
O cristianismo afirma que o túmulo estava vazio porque Je-
sus ressuscitara. Foram as autoridades judaicas e soldados roma-
nos que tramaram afirmar que o corpo não estava mais lá, por ter 
sido roubado (cf. Mt 28,12-15). 
Informação Complementar –––––––––––––––––––––––––––––
A pedra tinha sido removida pelo anjo, (cf. Mt 28,2), não porque Jesus ressusci-
tara, mas para mostrar às mulheres que elas deviam procurar quem estava vivo 
e não morto. Por estar vazio o túmulo, não signifi ca que Jesus tivesse ressusci-
tado. Antes, por estar vivo é que ele não estava ali. Por outro lado, o crucifi cado 
que ali estivera, agora, está vivo. Ele é o mesmo.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O crucificado/ressuscitado, porém, assumiu uma nova e glo-
riosa condição espiritual: o crucificado ressuscitou, por isso não 
está ali entre mortos. Ele "despertado do sono da morte" pelo Pai, 
agora está ressuscitado. Ele é a criatura (re)nova(da), completa, 
definitiva; enfim, o novo homem em sua plenitude. Deus com-
pletou Nele a obra da criação. Nele, antecipadamente, já se sabe 
quem nós seremos. Agora, Ele é um corpo espiritualizado, pneu-
matificado (mas concreto, real). (cf. 1Cor 15,35-58).
Os hinos
(Fl 2,6-11; Cl 1,15-20; 1Tm 3,16; 1Pd 3,18-22; Heb 1,3-4).
Estes hinos foram usados, sobretudo, nos encontros litúrgi-
cos desde as primeiras comunidades. Sem dúvida a ressurreição 
de Jesus era um fato novo, inaudito e definitivo. 
Para o Antigo Testamento, morrer é desaparecer. Não é dei-
xar de viver, mas é ir para o sheol, onde viveria o silêncio entedian-
te (Sl 31/30,18; 87,4-13). Ali, dorme-se o sono da morte. 
© Cristologia94
As aparições de Jesus, todavia, confirmam uma presença es-
catológica nova para os discípulos. “Ele está vivo" entre os seus. 
Vivo da maneira concreta e real: Ele é o crucificado que estivera 
com eles. O que não significa que esteja do mesmo modo, com o 
mesmo corpo biológico. O que era biológico agora está pneuma-
tificado.
Sem dúvida, a ressurreição não é um fato acessível à investi-
gação histórico-científica. Só se pode constatar objetivamente que 
aqueles homens e mulheres creram no ressuscitado, que estavam 
certos de que Ele lhes apareceu e que o túmulo estava aberto e 
vazio. 
A fé na ressurreição tem a ver com a relação entre o homem 
e Deus. É uma situação antropológico-teológica:
Mais antiga que todas as narrativas pascais é a convicção cristã pri-
mitiva unânime de que Jesus crucificado foi ressuscitado e exalta-
do, encontrou-se com seus discípulos, os chamou a serem testemu-
nhas e lhes prometeu sua presença permanente. Já a comunidade 
primitiva foi fundada com base nesta convicção (KESSLER, 2000, p. 
362).
O testemunho pascal dos discípulos (e o nosso)
O verdadeiro objeto da fé pascal
Quando confessamos que Deus ressuscitou Jesus dentre os 
mortos, ao terceiro dia, para a nossa salvação, na verdade profes-
samos nossa fé no ensino dos apóstolos. Eles contaram terem visto 
e tocado o crucificado-ressuscitado. Fizeram, inclusive, refeições 
com Ele. Eles reconheceram como ressuscitado aquele Jesus “que 
passara entre eles fazendo o bem” (At 10,38), curando a muitos e 
que os chefes dos judeus o crucificaram. 
Cremos hoje no testemunho dos apóstolos que nos transmi-
tiram suas experiências com o ressuscitado. Porém, nossa fé hoje, 
também está baseada em nossa experiência mística. Ela está fun-
dada: 
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© U3 - O destino de Jesus: morte e ressureição
• na mesma experiência que eles tiveram, por causa da prá-
tica dos ensinamentos de Jesus que eles transmitiram; 
• por partilhar sua Palavra e a Eucaristia do Senhor como 
eles fizeram e fazer a mesma experiência pascal que eles 
nos transmitiram e como eles nos transmitiram. 
O fundamento da fé é o Jesus crucificado-ressuscitado que 
experimentamos no testemunho das testemunhas que convive-
ram com Ele. 
Significado da fé pascal
Para o próprio Jesus: 
a) é reabilitada sua causa e sua pretensão;
b) é a desautorização do fracasso imposto que o levou à 
morte;
c) é a confirmação de que o Pai estava com Ele;
d) que Ele é revelador definitivo do Pai e agente único do 
Senhorio de Deus;
e) Deus constitui Senhor a Ele, o portador definitivo da sal-
vação;
f) Nele não só é antecipada toda a escatológica criação de 
Deus, mas também levada à sua consumação;
g) Ele está glorificado à direita do Pai, constituído juiz e há 
de julgar vivos e mortos. 
Para Deus:
a) é confirmado seu contínuo poder criador, ao ressuscitar 
Jesus (Pela re-novação da criação, chama o crucificado a 
uma nova vida e completa a própria criação);
b) o homem Jesus, seu Filho muito amado, lhe foi fiel até 
o fim;
c) que é possível crer no ser humano e manter com ele a 
aliança pascal;
d) a ressurreição esclarece porque a criação do ser humano 
era algo muito bom "(cf. Gn 1,31);
e) Deus recebe o ressuscitado como culminância da consu-
mação escatológica.
© Cristologia96
Para nós:
a) Jesus é a primícia da ressurreição. Nós o seguiremos (Cl 
1,18; 1Cor 15,20);
b) Ele nos liberta do pecado, da morte e da Lei;
c) a fé no ressuscitado é a mais radical saída para todas as 
pretensões humanas;
d) é a garantia de nosso futuro;
e) Ele é a dimensão à plenitude definitiva;
f) Jesus nos revela definitivamente quem somos e para 
onde vamos;
g) é o doador do Espírito ressuscitado à Igreja e a cada um 
de nós.
7. QUEM É JESUS? A REFLEXÃO TEOLÓGICA NEO
TESTAMENTÁRIA 
Neste último tema da unidade, você terá a oportunidade 
de fazer uma síntese de teologia bíblica sobre Jesus Cristo. Agora, 
você encontrará duas chaves cristológicas de leitura, que poderão 
ser critérios permanentes para entender todas as questões perti-
nentes às cristologias antigas e contemporâneas. Inclusive, você 
pode usá-las com critério de reflexão e análise do que se diz nesta 
matéria ao seu redor. 
Que havia acontecido com o homem Jesus, que andara com 
os apóstolos? Eles viram Jesus pregado na cruz: era o fracasso de 
sua pretensão e de sua missão. E eles desanimaram. De repente, 
sem nenhuma expectativa, surge o grito: “Ele está vivo e apareceu". 
Brota o medo, a apreensão, a certeza. Mas, afinal, quem é Jesus? 
Era certo: Deus havia agidoe ressuscitara Jesus. Os apósto-
los e discípulos vão experimentar e reconhecer que está vivo aque-
le que fora crucificado. 
As inquietações dos apóstolos frente ao crucificado e o im-
pacto pela experiência pascal deram origem às perguntas que são 
a origem e o desenvolvimento da cristologia. 
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© U3 - O destino de Jesus: morte e ressureição
As respostas avolumaram-se em títulos dados a Jesus, em 
leituras fundadas e interpretadas no Antigo Testamento e na busca 
do significado de sua pessoa. 
Da cristologia nascente, após a páscoa, até a de hoje, a tarefa 
é responder "quem é Jesus para nós (hoje)?" Que fez? Que disse? 
Que consciência Ele tinha de si? Sabia que era Deus? É daí que 
surge a cristologia. E poder-se-ia procurar suas raízes na própria 
autocompreensão de Jesus. Como se compreendeu a si mesmo e 
sua missão? 
Todo o significado das respostas, porém, está em que Ele é 
o nosso Senhor e Salvador. Tudo aconteceu para a nossa salvação.
Ele não fez uma análise de si mesmo, mas viveu entregue a 
Deus em favor dos outros. Foi fiel a Deus e aos homens. Aqui pre-
gou, fez amizades, cuidou do próximo, especialmente dos doentes 
e excluídos. Nisto, foi descobrindo sua missão. Assumiu a morte 
como um serviço. O Ressuscitado mostrou-se como obra do Pai. 
Enfim, não encontramos Nele uma autoexplicação senão implícita. 
Esta primeira cristologia foi feita por Ele próprio. O modo de 
manifestar sua pretensão e sua autoridade, sua liberdade e atua-
ção desde dentro do judaísmo, sua proposta sobre o Reino e o cha-
mado a assumi-lo, sua relação com Deus e os homens etc.; tudo 
isso aponta a uma chamada cristológica implícita. E ela pode ser 
sistematizada pelo modo como Ele foi chamado (títulos), ou como 
Ele os usou.
Depois vai surgir uma cristologia explícita por obra dos após-
tolos e da primeira comunidade cristã, dando origem à cristologia, 
que é a resposta permanente e atualizada sobre "quem é Ele para 
nós?”
Informação Complementar –––––––––––––––––––––––––––––
A cristologia nasce, por meio das experiências pascais, nas perguntas sobre 
quem Ele era, é e sempre será (cf. Heb 13,8). A primeira resposta, encontrada 
Nele mesmo, é uma cristologia implícita. Porém, as criativas e diversifi cadas res-
postas foram, desde a páscoa, criando uma percepção muito rica, polifacetada. 
© Cristologia98
Elas, porém, mantiveram uma unidade fundamental. Tudo convergia para aquela 
experiência pascal vivida sobre o Cristo glorifi cado, que era o mesmo com quem 
eles tinham vivido até a crucifi xão.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Logo, nas primeiras décadas após a ressurreição, impõem-se 
duas grandes perspectivas explícitas. Uma cristologia do homem 
Jesus exaltado e eleito por Deus (o homem que vivera na Palestina, 
entre os anos oito e seis a.C. e 30 d.C.) e outra, a do Verbo pré-
-existente que se encarna. Uma cristologia desde a história e uma 
cristologia cósmica da encarnação. 
É bom lembrar que, desde o início, há uma variação muito 
grande de cristologias nascentes. Aqui se enfatiza mais numa for-
ma de síntese este procedimento. 
Cristologia da exaltação e da eleição
Jesus evitou identificar-se como Cristo (Messias), por causa 
de conotações político-nacionais. A primeira comunidade de seus 
seguidores em Jerusalém, no entanto, usou deste designativo ‘Cris-
to’ para identificar Jesus. Se Jesus a evitou, autoridades judaicas, 
no entanto, coagiram as romanas a condená-lo também por isto. 
Todavia, a protocomunidade de Jerusalém deu-lhe um novo signi-
ficado. Deus ressuscitava Jesus, fazendo-o “Kyrios (Senhor) e Cris-
to" (cf. At 2,36; 5,31). Também afirmava que Ele fora estabelecido 
como “Filho de Deus” (cf. Rm 1,3ss; 1Ts 1,9ss; At 13,30ss). Faz-se 
uma re-significação da concepção vétero-testamentária de Mes-
sias e de uma eventual perspectiva política nacionalista. 
Por um lado se expressa a inserção de Jesus, no contexto da pro-
messa vetero-testamentário e judaico (o Filho de Deus é o Messias 
de Israel). Mas, por outro lado se sublinha que Israel não pode es-
perar mais um portador de salvação diferente de Jesus crucificado 
e exaltado junto de Deus (que as Sagradas Escrituras de Israel não 
podem referir-se a um Messias diferente de Jesus, que é o Messias 
da humanidade inteira) (KESSLER, 2000, p. 208). 
A protocomunidade, também, assume a expressão marana-
tha (vem, Senhor - cf. 1Cor 16,22; Ap 22,20). Com base no Sl 110,1, 
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© U3 - O destino de Jesus: morte e ressureição
eles professam a exaltação de Jesus à direita do Pai, com poder 
messiânico e representação terrena de Deus (como eram os reis 
no AT cf. Is 9,6). Reconhecer Jesus como "Senhor" (para além do 
tratamento de cortesia cf. Mc 1,22.27; Lc 18,41), depois da páscoa 
para as comunidades palestinas, é compreendê-lo como aquela fi-
gura escatológica que traz a salvação (cf. Jd 14-15) e , ao mesmo 
tempo, subordinar-se a este Senhor, e a nenhum outro, sua exis-
tência. Por isto se reconhece: "Jesus é o Senhor" e só Ele salva (Rm 
10,9-10; 1Cor 12,3). 
A expressão cristológica palestinense (o Senhor - Kyrios), logo 
foi interpretada pela comunidade cristã judeu-helênica, e que, tam-
bém, transfere funções de Deus ao crucificado-ressuscitado, Ele é 
o Kyrios (cf. Heb 1,10; At 2,36). É o Senhor, inclusive, do tempo. Por 
Ele tudo existe (1Cor 8,5-6). No Apocalipse, enfatiza-se este título 
a Cristo: Ele é o Senhor dos senhores, e não o é o imperador como 
pretendiam os romanos (cf. Ap 17,14; 19,16). Entre os gentios, pare-
ce já haver não apenas identificação funcional. Há uma identidade 
ontológica de Jesus com Deus para além do que afirma 1Cor 8,6: um 
só Deus e um só Senhor; Jesus Cristo. 
Atribuir o título do Senhor ao crucificado, agora exaltado, 
significou reconhecê-lo como único salvador escatológico, deten-
tor de todo poder. Se a morte de Jesus o levara ao fracasso, Deus o 
exaltou, colocando-o como Senhor de tudo.
Filho de Deus 
Esta expressão do Antigo Testamento, Jesus atribuiu a si só 
de modo indireto. Foi muito usada pelos primeiros cristãos (cf. At 
13,32-41). Jesus é superior até mesmo aos anjos (cf. Mc 13,32). 
Assumiu plenamente o desígnio de Deus dando-nos a vida (cf. Rm 
5,10; 8,32). Por Ele fomos reconciliados com o Pai e por Ele nos 
tornamos filhos (cf. Rm 8,14-15; Gl 4,4-7; Jo 10,30.38).
É muito frequente este título no evangelho de João (3,25; 
6,19ss; 6,40; 8,36; 1Jo 2,23). Ele expressa, sobretudo, sua total 
© Cristologia100
submissão ao Pai enquanto sua condição humana; mas também 
por sua elevação junto ao Pai. A confissão de fé que brota deste 
título aparece inúmeras vezes (cf. Mt 16,16; Mc 15,39).
Jesus foi reconhecido como Filho de Deus, por sua ressurreição. 
Ainda no Novo Testamento, pode-se perceber, na cristologia 
da exaltação e da eleição, outros títulos dados a Jesus que têm 
sua importância. Por exemplo: “servo de Javé" (de Deus) ou "servo 
sofredor", "novo Adão", "Filho do Homem" etc.
Deve-se observar que todos os títulos cristológicos dados a 
Jesus não são suficientes para interpretar, em plenitude, quem Ele 
foi e como foi compreendido pelos primeiros cristãos, ainda apos-
tólicos. 
São Paulo procurou fazer uma síntese identificando "o cru-
cificado" com "o ressuscitado": para indicar que aquele homem, 
que fora eleito, aceito e glorificado por Deus, era (é) o singular 
Messias salvador dado por Deus, nascido de mulher, na plenitude 
do tempo. 
Cristologia da pré-existência e da encarnação
A compreensão neotestamentária entendeu aquele Jesus 
não apenas como eleito e exaltado por Deus. Há uma cristologia 
que afirma ser Ele alguém que pré-existia, inclusive à própria cria-
ção. O pré-existente foi enviado em nossa carne: "Deus enviou seu 
Filho ao mundo” (cf. Gl 4,4; Lc 9,48: Jo 20,21). Ele não se apegou à 
sua condição divina, mas fez homem na carne de Maria (cf. Fl 2,6). 
De que forma Ele existia antes? 
Se hoje sabemos que Ele é a segunda Pessoa daTrindade, 
que Ele é eterno (existe desde sempre, desde antes da criação de 
tudo), que Ele é Deus com o Pai e o Espírito Santo etc. isto não era 
assim para o povo neotestamentário. E é exatamente isto que eles 
descobriram, mas com outra linguagem. 
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© U3 - O destino de Jesus: morte e ressureição
Vale salientar que os ensinamentos (tão claros) da Igreja foram 
conquistas posteriores. Neste tempo (os primeiros) ainda não se 
explicava (nem interessava) esta questão.
Foi no homem Jesus que eles descobriram a sua pré-existência. 
Questão difícil para eles por saberem da origem terrena, da história 
de vida e da cotidianeidade de Jesus de Nazaré.
 Por causa das questões decorrentes da páscoa, exigiram-se 
novas e mais profundas respostas. Relendo as Escrituras, os primei-
ros cristãos (judeus, helênicos e gentios) vão descobrir categorias 
novas capazes para interpretar Jesus, como portador escatológico 
da salvação e consumador da história. Impunha-se uma questão de 
soteriologia. Aquele que é o messias-escatológico só pode vir de 
Deus, só pode ser dado por Deus, por isto Ele será o salvador. 
E é no Antigo Testamento que eles começam a encontrar res-
postas: a ânsia messiânica também remete para a Sabedoria, pré-
-existente e que está junto de Deus. Ela é solicitada a Deus. Que 
Ele a envie, pois ela é mestre, guia, conhecimento, vida e salvação 
(cf. Pr 3,17; 8,12-32; 1,32; 2,5-10; 3,2-16; Sb 9,10-17).
Para os judeus-helenistas, a Sabedoria era:
Uma figura cósmica do pensamento para fins soteriológicos. Ela 
serve para pensar em conjunto a universalidade da atuação e da 
revelação de Deus em toda a criação (participação dos povos na 
Sabedoria divina) e o significado especial de sua atuação particular 
na história de Israel (posição incomparável à da Torá) e assim, ao 
mesmo tempo, destacar a validade universal da Torá (como planta 
secreta da construção do mundo e caminho abrangente da salva-
ção) (KESSLER, 2000, p. 281).
A compreensão da Sabedoria e sua atuação serviriam para 
identificá-la com Jesus. Jesus ou seria um justo ou filho da Sabe-
doria pré-existente ou alguém que ocupou o lugar dela; “apos-
sando-se de Jesus, Nele se tornava o caminho certo para Deus e 
salvação" (KESSLER, 2000, p. 282), ou como a Sabedoria, que era 
identificado com a Torá, agora se personificava em Jesus. O certo é 
© Cristologia102
que os primeiros cristãos precisaram pensar em linguagem meta-
fórica e aí identificar o homem Jesus já ressuscitado como "algo", 
"alguém" previamente existente para a salvação. Ele então era de 
Deus (pré-existia); depois se manifestou "na carne", enviado por 
Deus e que retornaria a Deus. 
Ele era do mundo de Deus e foi enviado ao mundo dos ho-
mens para, a fim de salvar, remir (cf. Gl 4,52; Jo 3,16ss; Rm 8,31; 
1Jo 4,9). Aqui entra a fórmula teológica do envio. 
Alguns discutem se o "enviado", segundo a concepção do 
tempo bíblico pós-pascal, deveria ou poderia ser pré-existente 
desde toda a eternidade ou passaria a existir, antes da criação, por 
causa do envio. Não abordaremos esta questão. Pressupomos a 
pré-existência eterna do enviado sem mais.
Com isso, Deus envia seu Filho, pré-existente (Sabedoria), na 
plenitude dos tempos, a fim de que, por Ele, todos tenham vida 
em plenitude (cf. Jo 10,10). Ele será o salvador de todas as limita-
ções e desgraças humanas. Vem de Deus, para libertar o ser hu-
mano. Vem para desenvolver todas as potencialidades do homem 
(criado) até sua plenitude em Deus. Mas, fez-se necessário que o 
pré-existente e enviado assuma a natureza humana para salvar o 
ser humano desde dentro de sua realidade. Só assim será o salva-
dor e mediador entre Deus e os homens, porque é um verdadeiro 
homem e Deus verdadeiro entre nós.
8. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira, na sequência, as questões propostas para verificar 
seu desempenho no estudo desta unidade:
1) Assinale a alternativa conforme: V (Verdadeiro) ou F (Falso): 
( ) A Igreja e o Evangelho concebem o fim da história de Jesus sem consi-
derar, além de sua morte, um outro elemento constitutivo de sua vida: 
a ressurreição.
( ) O liturgicamente chamado “Tríduo Pascal” leva em conta a ressurreição 
de Jesus , sem considerar sua morte.
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Claretiano - Centro Universitário
© U3 - O destino de Jesus: morte e ressureição
( ) A morte de Jesus marcou, teologicamente, o ocidente cristão, especial-
mente o segundo milênio.
( ) Jesus, desde o início de sua vida apostólica, sabia que seria morto e pre-
gado na cruz.
( ) Pode-se afirmar que a morte de Jesus era desejada por Deus Pai, para o 
perdão dos pecados.
( ) A condenação de Jesus por Pilatos, a crucifixão e a inscrição na cruz (INRI) 
indicam que, historicamente, a morte de Jesus é uma sentença romana, 
por manobra das autoridades judaicas.
( ) Jesus, conscientemente, buscou por suas atitudes, a morte, a Deus e ao 
seu Reino (senhorio).
( ) Ao aceitar sua morte na cruz, Jesus sabia que estava superando a antiga 
afirmação bíblica de que “maldito era todo aquele que fosse suspenso 
na cruz”.
( ) Os apóstolos, diante da crucifixão de Jesus, sentiram-se frustrados, sem 
razão para continuarem a missão de Jesus, compreendendo-o como um 
rejeitado pelo próprio Deus.
( ) A “teoria do mérito” sobre a morte de Jesus é uma afirmação de que, por 
ela, Jesus conquistou o perdão de nossos pecados junto a Deus.
( ) A “teoria da satistação” quer afirmar que, por sua morte, Jesus reparou 
as ofensas humanas junto a Deus irado por nossos pecados.
( ) São bíblicas as seguintes teorias sobre a morte de Jesus: “teoria do res-
gate”, “teoria do sacrifício” e “teoria da satisfação”.
( ) A “teoria do sacrifício”, referente à morte de Jesus na cruz, contém a 
ideia de que a vitimização poderia ser uma aliança de holocausto e de 
expiação pelos pecados, pois por meio dela se pode entrar em comu-
nhão com Deus.
( ) A “teoria da solidariedade” indica o amor de Jesus por Deus, seu Pai. 
Nela Jesus se solidariza com Deus contra o pecado.
( ) A “teoria da representação” afirma que Jesus não só morreu por nós, 
mas também em nosso lugar – mesmo que isso não elimine a responsa-
bilidade pessoal de cada um, pois ela enfatiza que, doravante, qualquer 
ser humano poderá vencer as escravidões do pecado, do mal e da morte. 
Assim, a morte de Jesus tornou-se a possibilidade da vida nova em Deus.
2) Assinale a única alternativa correta: 
Os textos bíblicos, referentes à ressurreição de Jesus, pertencem a quatro ca-
tegorias:
a) Confissões de fé, kerigma, sepulcro vazio e missão de Jesus.
b) Kerigma, hinos cristológicos, textos narrativos posteriores e confissões 
de fé.
c) Sepultamento, aparições, kerigma e aparição à Maria Madalena.
d) Todas são verdadeiras.
e) Nenhuma é verdadeira.
© Cristologia104
3) A expressão “Jesus ressucitou ao terceiro dia” refere-se:
a) A um fato histórico.
b) A um fato escatológico.
c) Ao novo plano de Deus.
d) A um fato messiânico.
e) Todas as afirmações são verdadeiras.
4) A narrativa do túmulo vazio ou aberto:
a) É uma prova secundária da ressurreição.
b) É um testemunho da ressurreição.
c) Indica que ele está vazio porque Jesus está vivo.
d) Indica que está assim porque foi a informação dada pelo anjo.
e) Todas as afirmações estão corretas.
5) Assinale a única resposta correta: O verdadeiro objeto da fé pascal está em 
que:
a) Os apóstolos viram e cearam com o ressuscitado.
b) Nós hoje fazemos a mesma experiência de fé que os apóstolos nos trans-
mitiram ao dizerem que viram e viveram com o ressuscitado.
c) Deus se dispôs a ressuscitar seu Filho único para nossa salvação.
d) Os apóstolos encontraram o ressuscitado e compreenderam a própria fé.
e) Todas são verdadeiras.
Gabarito
Depois de responder às questões autoavaliativas, é impor-
tante que você confira o seu desempenho, a fim de que saiba se é 
preciso retomar o estudo desta unidade. Assim, confira, a seguir, 
as respostas corretas para as questões autoavaliativas propostas 
anteriormente:1) F, F, V, F, F, V, F, F, V,V, V, F, V, V. 
2) b
3) b
4) e
5) b
9. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, tivemos a oportunidade de estudar a morte 
de Jesus, sua ressurreição e o testemunho neotestamentário, além 
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Claretiano - Centro Universitário
© U3 - O destino de Jesus: morte e ressureição
de reconhecermos quem é Jesus e a resposta cristológica do Novo 
Testamento. 
Os temas estudados, nesta unidade, levaram você a fazer 
uma síntese da cristologia bíblica, em que pudesse transparecer 
dois "rostos" de Jesus, de acordo com a perspectiva que se toma. 
Este reflexão global é importante, sobretudo, porque você não 
pode estabelecer uma suposta e completa verdade cristológica só 
a partir de um evangelho. Se cada evangelista dá uma direção à 
sua reflexão, isso não quer dizer que seu texto contenha a verdade 
toda da fé cristã, pois um se complementa nos outros.
Esperamos que no decurso deste tema você tenha tido, tam-
bém, a vontade de (re)-ler os próprios evangelhos, por dois mo-
tivos. Primeiro, porque é ali que você encontra a cristologia fun-
damentada na Palavra de Deus. E segundo, porque a cristologia 
(enquanto estudo das razões da fé) é complementada pela mística. 
Quer dizer, aprende-se para viver e louvar a Deus, no caso a Cristo 
Jesus e quem lê os evangelhos, deve lê-los com o espírito de ora-
ção, por se tratar da Palavra de Deus.
Continue lendo outros comentários de cristologia neotesta-
mentária, pois eles enriquecerão sua compreensão sobre Jesus, o 
Cristo.
Na Unidade 4, vamos compreender o Novo Testamento como 
normativo para a cristologia, a evolução dogmática nos grandes 
concílios cristológicos, as três grandes respostas e as conclusões 
dos concílios. 
Até a próxima!
10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BEAUDE, P. De acordo com as escrituras. São Paulo: Edições Paulinas, 1982.
BERGER, K. Para que Jesus morreu na cruz? São Paulo: Loyola, 2005.
BOFF, L. Paixão de Cristo, paixão do mundo: os fatos, as interpretações e o significado 
ontem e hoje. Petrópolis: Vozes, s/d.
© Cristologia106
BONY, P. A ressurreição de Jesus. São Paulo: Loyola, 2002.
BORG, M; CROSSAN, J. A última semana: um relato detalhado dos dias finais de Jesus. Rio 
de Janeiro: Nova Fronteira, 2007.
BROWN, R. Um Cristo ressuscitado na páscoa. São Paulo: Ave-Maria, 1996. 
DUNN, J. D. G. A teologia do apóstolo Paulo. São Paulo: Paulus, 2003.
DURRWELL, F. Cristo nossa páscoa. Aparecida: Santuário, 2006. 
FEINER, J.; LOEHRER, M. (Orgs.). Mysterium salutis: compêndio de dogmática histórico-
-salvífica. Vol. III/2: o evento Cristo. cristologia do Novo Testamento. Petrópolis: Vozes, 
1973.
 ______. Vol. III/6: o evento Cristo. 6. mysterium paschale. Petrópolis: Vozes, 1974.
GOURGUES, M. Jesus diante de sua paixão e morte. São Paulo: Edições Paulinas, 1985.
KESSLER, H. Cristologia. In: SCHNEIDER, T. (Org.). Manual de dogmática I. Petrópolis: Vo-
zes, 2000, p. 362.
MARTIN RODRIGUEZ, F. Jesus, relato histórico de Deus: cristologia para viver e rezar. São 
Paulo: Paulinas, 1999. 
MARTINI, C. Os relatos da paixão de Cristo. Lisboa: São Paulo, 1994.
RATZINGER, J. B. XVI. Jesus de Nazaré. São Paulo: Planeta do Brasil, 2007.
SCHILLEBEECKX, E. Jesus, a história de um vivente. São Paulo: Paulus, 2008. 
SLOYAN, G. Por que Jesus morreu? São Paulo: Paulinas, 2006.
______. Por que Jesus morreu na cruz? São Paulo: Paulinas, 2006, p. 19-72.
TAVARES, S. (Org.). A cruz de Jesus e o sofrimento do mundo. Petrópolis: Vozes, 2002.
THIESEN, G.; MERZ, A. O Jesus histórico: um manual. São Paulo: Loyola, 2002.
TORRES QUEIRUGA, A. Repensar a ressurreição: a diferença cristã na continuidade das 
religiões e da cultura. São Paulo: Paulinas, 2004.
EA
D
Reflexão histórico- 
-dogmática: a cristologia 
dos dogmas
4
1. OBJETIVOS
• Identificar o processo teológico da compreensão de Jesus 
Cristo como verdadeiro homem e, ao mesmo tempo, ver-
dadeiro Deus.
• Caracterizar a busca do verdadeiro sentido de Jesus du-
rante o período que antecede o Concílio de Niceia.
• Demonstrar a conquista teológico-dogmática estabele-
cida no Concílio de Niceia, e de que Jesus é verdadeiro 
Deus, e no 1º Concílio de Constantinopla, de que é verda-
deiro homem.
• Evidenciar como Jesus Cristo é, ao mesmo tempo, ver-
dadeiro Deus e verdadeiro Homem sem afirmar que são 
dois ao mesmo tempo, segundo os ensinos dos Concílios 
de Éfeso e Calcedônia.
© Cristologia108
2. CONTEÚDOS
• Novo Testamento como normativo para a cristologia.
• Evolução dogmática nos grandes concílios cristológicos. 
• Três grandes respostas e as conclusões dos concílios.
3. ORIENTAÇÃO PARA O ESTUDO DA UNIDADE
Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que 
você leia as orientações a seguir:
1) Vale salientar que nosso texto tem um caráter mais de 
história das ideias dogmático-cristológicas. Assim, reco-
mendamos que, em paralelo ao seu estudo, você leia, 
também, BOFF, L. Jesus Cristo libertador. Petrópolis: Vo-
zes, 1972, p. 194-222, especificamente o capítulo intitu-
lado: "Humano assim só podia ser Deus". O autor segue 
outro (válido e oportuno) esquema em que descreve, 
por um lado, a interpretação da humanidade de Jesus 
e, por outro, sua divindade. É bem interessante. Confira! 
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na Unidade 3, estudamos a morte de Jesus, sua ressurreição 
e o testemunho neotestamentário. Reconhecemos também quem 
é Jesus e a resposta cristológica do Novo Testamento.
 Após isso, vamos iniciar uma nova etapa do nosso curso, 
na qual, pressupondo o Novo Testamento como normativo para a 
cristologia, deveremos aprofundar a evolução dogmática nos gran-
des concílios cristológicos, as três grandes respostas conciliares e 
suas conclusões. 
Os temas que iremos abordar aqui têm uma natural dificul-
dade. A razão está na passagem da linguagem bíblica para a filosó-
fica. Muitos conceitos são realmente difíceis, mas não impossíveis 
de sua compreensão. 
Portanto, não desanime e bom estudo! 
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© U4 - Refl exão histórico-dogmática: a cristologia dos dogmas
5. NOVO TESTAMENTO COMO NORMATIVO PARA A 
CRISTOLOGIA 
Nós professamos a fé de que Jesus, o crucificado/ressusci-
tado, é verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, ao mesmo tempo. 
Porém, esta é uma afirmação de fé; resultado de um longo proces-
so de compreensão. 
Hoje quando lemos o Novo Testamento, encontramos várias 
expressões, cujo sentido, à época, era diferente do que pensamos. 
Ou dito de outro modo, convém lembrar: 
a) os evangelhos e outros textos do Novo Testamento são 
livros de fé, escritos após a ressurreição de Jesus; 
b) ninguém, durante a vida histórica de Jesus, jamais pen-
sou que Ele fosse Deus; 
c) o Antigo Testamento sempre ensinara que Deus é um só. 
O próprio Deus dizia: "Não tereis outros deuses, além de 
mim... Eu sou o único Deus." A isto se chama monoteís-
mo rígido; 
d) os primeiros cristãos (período do Novo Testamento), 
após a ressurreição, descobriram que aquele homem 
que tinha vivido com eles, que fora exaltado à direita de 
Deus, sim, era Deus mesmo feito homem entre eles. 
Informação Complementar –––––––––––––––––––––––––––––
À luz da ressurreição, passaram a compreender o signifi cado daquele Homem 
“especial”, de sua missão e de sua pregação, como uma efetiva presença de 
Deus entre eles. Ele era Deus mesmo.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Após a ressurreição, começaram a entender, de acordo com 
as Escrituras, que Jesus não era só um profeta, um messias, o Filho 
de Deus etc., que lhes anunciava o Reino de Deus e a promessa de 
salvação. Tornava-se claro: Deus se fizera humano entre eles. E à 
luz desta nova compreensão, deixavam de ser judeus para com-
preender certas afirmações de Jesus como fios de uma grande re-
velação: 
© Cristologia110
Jesus era o salvador enviado por Deus e, por isso, Ele próprio 
era Deus. Assim, foi possível se reunirem de modo novo, à luz de 
Deus.
Quando no Novo Testamento se fala de Deus, entende-se 
sempre Deus Pai. Só mais tarde se ousa aplicar a Jesus (uns poucos 
textos:Jo 20,28; Rm 9,5; Jo 5,20). Porém, todas as expressões ali 
encontradas deixam entender que realmente Jesus é o Senhor", 
Ele é Deus mesmo. “De modo idêntico, o Espírito Santo jamais foi 
chamado de Deus, no NT”. (RAHNER, 1965, p. 568).
Como você já sabe, o significado de Jesus Cristo, para nós, 
não é apenas o de alguém do passado (museificado). É antes a 
expressão viva e permanente de nossa salvação. Quer dizer: em 
todos os tempos, as pessoas devem compreendê-lo como Ele é 
(Homem-Deus). Então, torna-se importante compreendê-lo na 
linguagem do tempo e da cultura contemporânea. E isto desde o 
começo do cristianismo tenta-se fazer, não sem inúmeras dificul-
dades. 
É preciso continuar crendo no mesmo Jesus, mas conforme 
a mentalidade dos cristãos de hoje. Isto é problemático porque 
não se pode inventar um Homem-Deus, chamado Jesus para cada 
tempo. "Ele é o mesmo ontem, hoje e sempre" (cf. Heb 13,8). O 
que muda é a forma de compreensão. Porém, a própria forma de 
compreensão (teologia) tem suas "regras". Assim, o NT é normati-
vo, como já vimos. Na história, porém, desenvolveram-se grandes 
discussões e estudos, conhecidos, sobretudo, como "período de 
ouro da cristologia", entre os séculos 4º e 8º. 
6. EVOLUÇÃO DOGMÁTICA NOS CONCÍLIOS CRISTO
LÓGICOS 
Como os cristãos foram saindo de Jerusalém e da Palestina indo 
evangelizar e residir nos universos das culturas grego-latinas, foi ne-
cessário, cada vez mais, adaptar o "kerigma da fé" às novas realidades.
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© U4 - Refl exão histórico-dogmática: a cristologia dos dogmas
Nos primeiros séculos
Mas como compreenderam Jesus os dos segundo e terceiro 
séculos? Surgiram inúmeras respostas. 
Informação Complementar –––––––––––––––––––––––––––––
Na continuidade deste tema, você vai encontrar muitos termos que formam a 
base da cristologia dogmática. Eles, em geral, têm uma origem etimológica gre-
ga. Devem ser bem compreendidos. Procuramos, numa linguagem bem sim-
plifi cada, dar o respectivo signifi cado. Porém, indicamos também o Glossário 
cristológico in Garcia de Alba (1998) e Forte (1985). Você pode recorrer ainda a 
outros dicionários já indicados neste texto.
–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 
Num primeiro período (após os escritos do Novo Testamento 
até o chamado período niceno), surgiram "grandes correntes". Na 
primeira delas se discute e se contesta a divindade de Jesus. Um 
grupo (os judeus cristãos) enfatiza Jesus como um homem eleito 
(escolhido) e exaltado (glorificado) por Deus; o outro grupo (ado-
cionistas) apega-se à ideia de que Deus adotou Jesus como seu 
Filho. 
Uma segunda corrente discute e contesta a humanidade de 
Jesus, para afirmar sua divindade. Para estes docetas, o éon celes-
tial Cristo teria se "apossado" de Jesus de Nazaré, desde o batismo 
até a ascensão, após a páscoa. Tinha a aparência de homem, mas 
era divino; porém, preso num corpo humano. 
A terceira corrente se pôs entre estes dois extremos e afir-
mava que, em Jesus, o ser divino e humano estavam ligados numa 
unidade paradoxal. Esta corrente era constituída, no oriente grego, 
pelos Padres Apostólicos e pelos antignósticos (Inácio de Antio-
quia, Irineu), que afirmava esta unidade, pois só assim Jesus seria 
o mediador entre Deus e os homens, para a nossa salvação. 
No ocidente latino, um grupo de orientação jurídico-moral 
(que dará início à cristologia latino-ocidental) reconhece em Jesus 
o divino e o humano por causa da necessidade de remissão de 
nossos pecados. Sim, Jesus é Deus porque só Deus pode nos redi-
mir, mas é humano porque só assim sabe do que nos redimir. 
© Cristologia112
Na quarta corrente, que introduz na igreja a influência do 
platonismo médio, um subgrupo dá ênfase na compreensão de Je-
sus como Logos (Palavra) do Pai. O Pai "pronuncia", para a nossa 
salvação, a sua Palavra (Logos). O Logos está subordinado ao Pai 
(subordinacionismo). Outro subgrupo afirma que: 
• Cristo é Deus. Deus torna-se Cristo. 
• Cristo é Deus, por isso é também Pai. Foi Ele, o Pai, quem 
apareceu na terra, sofreu, foi crucificado e se autorres-
suscitou (patripassionismo). 
Todas essas questões criaram um estado de espírito tão agi-
tado que o povo, além dos bispos e teólogos, não só discutiu o as-
sunto em locais públicos, mas também começou a tomar partido, 
à medida que elas se agudizam. 
Várias questões surgidas poderiam ser aceitas na Igreja, des-
de que entendidos de modo histórico-salvífico. Mas, na realidade, 
as interpretações estavam sendo, crescentemente, feitas em pers-
pectiva metafísico-essencial. 
As questões agravaram-se mais, quando Ario (256 - 336), 
em atrito com seu bispo, Alexandre, de Alexandria, afirmou que o 
Logos-Cristo não pode ser da mesma substância do Pai (que como 
Deus é um só). Cristo pertence, como criatura, à ordem cósmica (e 
não divina), portanto. Deus não pode se transformar, diz Ario, e, 
por isso, Cristo só pode ser extradivino (Ele se encarna, sofre mo-
dificações. Não pode ser eterno, pois). E no caso (intracósmico) é 
criatura, mesmo que seja a "primeira", antes da criação. 
Se assim é, deve-se perceber que Jesus Cristo, homem de 
elevada estatura moral, agraciado como Filho adotado, não é igual 
a Deus; mas, depende Dele (aqui aparece um subordinacionismo 
exagerado e um adocionismo moral). A posição de Ario leva a uma 
consequência: Jesus não pode revelar o Pai (porque não O conhe-
ce totalmente) e menos ainda pode salvar-nos (por não pertencer 
ao mundo de Deus). Sua função é somente cosmológica.
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Concílio de Niceia (325 d. C.) e as consequências
A situação teológica, e inclusive política, complicou-se. En-
tão, o imperador Constantino convocou um concílio, do qual par-
ticiparam trezentos e quarenta e oito pessoas, representantes de 
três partidos (teológico e/ou políticos). 
As decisões de Niceia (credo niceno) afirmaram a divindade 
de Jesus e sua igualdade com o Pai, contra as ideias de Ario.
A grande intenção do Concílio foi reafirmar a fé na redenção, 
portanto a ênfase na questão sotereólogica, como o Novo Testa-
mento ensinara. Assim, o Concílio não quis entrar em discussões 
metafísico-helênicas, mas manter a dimensão bíblica em sentido 
histórico-salvífico. Contudo, não pode evitar usar alguns termos 
filosóficos não bíblicos; sobretudo, consubstancial (ser da mesma 
substância). Ligou a encarnação à salvação. Vinculou Jesus ao Pai, 
na mesma igualdade, ambos eternos. "Ele o (Deus-Logos) se fez 
homem para que fôssemos divinizados”, como tinha ensinado San-
to Atanásio. 
Eis o ensino do concílio: 
Creio em um único Deus, o Pai todo-poderoso, criador de todas as 
coisas visíveis e invisíveis. Creio num único Senhor, Jesus Cristo, o 
Filho de Deus, o único Filho, gerado do Pai, isto é, da substância do 
Pai; Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro do Deus verdadeiro, 
gerado, não criado, consubstancial ao Pai, por meio de quem to-
das as coisas vieram a existir, tanto as celestiais quanto as terrenas. 
Por nós, homens, e por nossa salvação, Ele desceu, encarnou-se, 
tornou-se humano, padeceu e ressuscitou ao terceiro dia, subiu 
aos céus, e virá para julgar os vivos e os mortos. E creio no Espírito 
Santo (...). 
Após o concílio, que afirmou a igualdade entre Jesus Cristo e 
o Pai, porque os dois têm a mesma substância ‘homoousios’, sur-
giram novas discussões. Alguns conceitos não estavam tão claros 
como se pensava, sobretudo, a palavra homoousios, que poderia 
ser entendida por uns como “igual” e por outros, como “seme-
lhante”. Se, pois, o Filho fosse da mesma e igual natureza, como 
podia ser diferente do Pai? Então um grupo propôs uma nova in-
© Cristologia114
terpretação, acrescentando a letra "i" homoiousios, que é: seme-
lhante. O Pai e o Filho teriam uma substância semelhante.
A discórdia pública aumentou. O bispo Atanásio (296 - 373), 
a duras penas, consegue uma solução correta:
Deus temuma só homoousia (substância), mas três hypostases (pe-
culiaridades). O Pai e o Filho têm a mesma e única natureza; mas 
o Pai não é o Filho e vice-versa, porque cada um tem uma peculia-
ridade. (Aqui começam a aparecer elementos da discussão futura 
sobre o Espírito Santo e a Trindade).
Concílio de Constantinopla (381 d.C.) e as discussões posteriores
Ao final do Concílio de Constantinopla I, estabeleceu-se o 
acordo: a substância, ousia, de Deus é uma só, que se realiza em 
três expressões, hypostases. Desse modo se poderia compreender 
definitivamente a divindade de Cristo junto a Deus Pai. 
O Concílio de Constantinopla tem importância porque foi 
dado o esclarecimento conclusivo de Niceia, que afirmara a divin-
dade de Cristo.
Apenas resolvida a questão da divindade (uma ousia e três 
hypostasis), surge agora outra questão: 
Este Jesus, que é Deus verdadeiro, ainda pode ser compre-
endido como verdadeiro Homem? Em que sentido, de que modo o 
Filho de Deus se fez homem em Jesus Cristo? Ou como Jesus ainda 
pode ser humano? 
Afirma-se assim também a divindade do Espírito, do mesmo 
modo como em Niceia se afirmara a divindade do Filho. (A ques-
tão da divindade do Espírito Santo foi também muito discutida. 
Todavia, nós não a estudaremos aqui, pois não é tema cristológico 
como tal. Este assunto certamente você o estudará ao abordar a 
questão da Trindade.) 
O Concílio de Constantinopla afirmara, ainda, resolutamente 
que, além da perfeita divindade, em Cristo, há uma hipóstase que 
inclui a perfeita divindade e a perfeita humanidade. Quer dizer: 
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© U4 - Refl exão histórico-dogmática: a cristologia dos dogmas
nela há duas naturezas (por motivo sotereológico). O concílio defi-
niu esta verdade (dogma) sobre Cristo Homem e Deus, mas deixou 
muitas questões abertas.
Para responder a isto, novas discussões surgem. As propos-
tas podem ser sintetizadas em dois esquemas:
• Logos-sarx. (Verbo e corpo humano).
• Logos-antropos. (Verbo e ser humano).
Informação ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Aqui, você deve recordar em Antropologia Teológica a compreensão grega do 
ser humano constituído de pneuma e sarx (espírito e corpo), diferente da concep-
ção semita do ser humano, antropos, como totalidade manifesta enquanto basar, 
nephes e ruah (Unidade 3). Lembre que a palavra sarx indica o corpo, a carne, 
a exterioridade do ser humano, enquanto antropos indica a pessoa humana, o 
ser humano.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O esquema Logos-sarx
Muitos teólogos vinham afirmando que o Logos (Filho 
de Deus/Deus mesmo) havia assumido o corpo (sarx) sem alma 
(pneuma) de Jesus. Apolinário de Laodiceia (310 - 390) sintetizou 
e levou ao extremo esta teologia do Logos-sarx. Ele afirmava que: 
o Filho de Deus substituiu a alma lógica ou racional (espiritual) do 
ser humano para poder se encarnar. Ou seja, Deus e a sarx (carne) 
produziram uma síntese: Cristo. 
O modelo negava assim a verdadeira natureza humana (cor-
po e alma humanos), para dar lugar ao Logos no corpo humano. 
Desse modo, Cristo não poderia pecar por não ter o princípio vital 
humano; mas, por outro lado, como era humano (tinha corpo hu-
mano), poderia ser nosso salvador, enquanto Homem, porque era 
Deus também. 
Tal esquema foi rejeitado. Sem a alma humana, o Cristo não 
é perfeito Homem, dirão os teólogos do grupo Logos-antropos. E 
se não é humano, então, não nos salvará. Gregório de Nazianzo 
(330 - 390) vai afirmar: "O que não foi assumido (pelo Logos na 
© Cristologia116
encarnação), também não é redimido; o que, porém, é unido a 
Deus também é salvo". Quer dizer que, se no Logos-sarx, o homem 
perdeu o que lhe é próprio (alma racional), então não era verda-
deiro homem. O Concílio de Constantinopla I havia afirmado que o 
Logos eterno, o Filho de Deus, tinha assumido também o homem 
completo (corpo e alma). E só assim que era o verdadeiro redentor. 
Vale salientar que aqui está valendo o conceito de homem com-
posto das duas unidades; mas Apolinário dizia que o Logos só po-
dia se encarnar num corpo sem alma humana, para se transformar 
em Cristo, o salvador.
 
O esquema Logos-antropos
O novo esquema "oficial" da Igreja levantava novas pergun-
tas e respostas. Há dois grupos muito influentes, cujas respostas 
são válidas: os da escola de Alexandria e os da escola de Antioquia. 
Grandes perguntas –––––––––––––––––––––––––––––––––––
As grandes perguntas são: 
Como afi rmar que Cristo é perfeito Deus e perfeito Homem sem afi rmar que são 
dois? (Escola antioquena: cristologia da distinção) ou como afi rmar que Jesus é 
“um e o mesmo’ sem afi rmar que sua unidade é plena e independente antes da 
união, porém depois é absorvida pela divindade? (Escola Alexandrina: cristologia 
da dualidade).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A Escola antioquena (cristologia da distinção)
A escola Anteioquena não fazia especulação metafísica, mas 
procurava compreender as Escrituras. Por isto entendeu a divinda-
de e a humanidade do Verbo encarnado como duas realidades dis-
tintas (mas não separadas). Dá-se uma unidade moral entre elas. 
Há uma cooperação entre duas naturezas, que parte da verdadeira 
experiência de Jesus de Nazaré e liga-se ao Logos-Filho divino. Por 
causa do alto grau de santidade de sua profunda humanidade, de 
sua constante procura em fazer a vontade de Deus e de sua máxi-
ma dedicação aos outros, há, no Homem Jesus, uma radical com-
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posição com o Logos divino, que realiza a obra salvifica sem ser 
prejudicado pelo lado humano. 
A união entre as duas realidades cria uma singular e nova re-
alidade de um Jesus Cristo, verdadeiro homem e verdadeiro Deus.
Na prática, esta tese poderia criar algumas dificuldades 
quando exagerada. Foi o que aconteceu com Nestório (380 - 451), 
que insistia na questão de dois sujeitos distintos, moralmente uni-
dos; porém não se pode atribuir à divindade os atos e paixões pró-
prios do humano. 
Em consequência disso, Maria só poderia ser mãe do Ho-
mem Jesus (antropothokos), ou no máximo "mãe de Cristo" (Chris-
tothokos), nunca "mãe de Deus" (Theotokós). Tal posição e suas 
consequências levam à tese da distinção a uma verdadeira separa-
ção (dois Filhos: o de Deus e o de Maria). E consequentemente o 
ser humano não poderia ser salvo. 
A escola Alexandrina (cristologia da unidade)
A figura de maior destaque desta Escola é Cirilo de Alexan-
dria (370 - 444), que, contrariando a cristologia da distinção, pro-
punha a da unidade: depois da união não se pode mais dividir na-
tureza em Cristo. 
Se antes da encarnação do Logos era possível haver uma na-
tureza divina que se vai unir à humana, depois não se separam 
mais as naturezas. Portanto, o que nasceu do Pai e o que nasceu 
de Maria é um e o mesmo.
O Concílio de Éfeso (431) e as reações
Querendo continuar a interpretação autêntica de Niceia, o 
Concílio de Éfeso foi realizado em meio a muitas tensões e diver-
gências (teológicas, políticas e sociais). Mas, afirmou claramente:
 
© Cristologia118
Informação Complementar –––––––––––––––––––––––––––––
Quando se afi rma - e somente quando se afi rma - que no Verbo encarnado existe 
uma unidade entre a natureza humana e divina, então o sujeito último é o próprio 
Deus-Verbo, porque foi Ele quem veio na carne e nasceu de Maria (consequen-
temente ela é mãe de Deus). Assim, de modo misterioso, a divindade e a huma-
nidade completam o Senhor único Jesus Cristo e Filho, desde o seio de Maria.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A decisão do Concílio não foi bem aceita, sobretudo, pelos 
orientais: o imperador Teodósio, intervindo, quase obrigou uma 
conciliação, sem resultados. 
Contudo, não estavam erradas as conclusões se os da escola 
antioquena não obrigassem aos alexandrinos, e vice-versa, a acei-
tarem seus conceitos. Após muita discussão, aparece o consensono chamado "Decreto de União” (433): 
O Senhor Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus (...) gerado pelo Pai 
antes de todos os séculos (...) nascido de Maria virgem, segundo a 
humanidade por nós e para na nossa salvação (...) consubstancial 
ao Pai (...) é um só Cristo, um só Filho.
Na fórmula, faz-se primeiramente a distinção (dos antioque-
nos), mas depois afirma a "união sem confusão" (dos alexandri-
nos).
A interpretação de um teólogo, Eutíques (monge de Cons-
tantinopla), levantou novos desafios e confusões graves, inclusive 
por questões terminológicas, de palavras. E novo Concílio é convo-
cado, para o qual o papa do ocidente, Leão Magno, enviou impor-
tante carta, conhecida como Tomus Leonis. 
Assim, tal documento, usando uma linguagem "dialética”, 
constrói em paralelos antitéticos tanto as propriedades divinas 
quanto humanas. Para sublinhar, no final, ser "o mesmo sujeito" 
de uma e outra substância. A união em uma só pessoa não faz de-
saparecer as características de cada natureza. Mas esta importante 
contribuição ainda não foi suficiente. Outro concílio é convocado. 
O Concílio de Calcedônia (451)
As dificuldades particulares eram inúmeras. Também as 
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questões terminológicas. Para conciliar as questões, produziu-se 
uma fórmula de consenso. Após uma introdução explicativa, vem 
a definição de Calcedônia que pode ser dividida em duas partes 
(uma mais descritiva e a outra mais elaborada e mais técnica):
Um e o mesmo sujeito principal de todas as afirmações (di-
vino e humano), de modo inconfuso e imutável, mas também in-
diviso e inseparável.
A seguir, veremos o texto do Credo de Calcedonia. Para po-
der comparar o seu significado, procure num Manual de cristolo-
gia. Dê preferência a um texto em que os dois conceitos aparecem 
lado a lado:
“Seguindo, pois, aos santos Padres,
todos nós ensinamos unanimemente que se deve confessar um só e mesmo
Filho
nosso Senhor
Jesus Cristo
Mesmo
perfeito quanto à divindade e perfeito quanto à humanidade
verdadeiramente Deus e o mesmo
verdadeiramente humano 
de alma racional e corpo
consubstancial ao Pai
a divindade
e o mesmo
consubstancial nós segundo 
segundo a humanidade, 
“em tudo semelhante a nós, 
exceto o pecado”; 
nos últimos dias, porém,
antes dos séculos nascido
do Pai
o mesmo
(nascido) da Virgem Maria, 
a que deu à luz Deus 
segundo a humanidade por 
nós e para nossa salvação;
© Cristologia120
um só e mesmo
Cristo
Filho
Senhor
Unigênito
conhecido
em duas naturezas
inconfusas/imutáveis indivisas/inseparáveis
a dis nção das naturezas de modo algum é anulada pela união,
mas a propriedade de cada natureza é conservada,
concorrendo para formar um só prósopon e uma só hipóstase;
não cindindo ou dividindo em duas pessoas (prósopa), mas
um só e mesmo 
Filho unigênito
 Deus-Logos 
Senhor
 Jesus Cristo;
________________________________________________________
como outrora os profetas a seu respeito 
e ele próprio, Jesus Cristo, nos ensinaram 
e o símbolo dos Padres nos transmi u”.
O grande resultado de Calcedônia, sem fazer ontologização, 
sustenta a unidade da pessoa de Jesus Cristo, na permanente dis-
tinção: homem e Deus. Porém, o Concílio não discutiu a questão 
de como e onde se realizaria a união entre as duas naturezas. E isto 
será motivo de novas discussões teológicas, que serão em parte 
resolvidas pelo II Concílio de Constantinopla. 
II Concílio de Constantinopla (553)
Leôncio de Jerusalém foi quem mais conseguiu harmonizar 
as novas dificuldades de interpretação de Calcedônia, afirmando 
que, na união inconfusa e imutável do Logos, não foi Deus quem 
mudou. O próprio Deus (Logos), por meio da encarnação, integra 
(ou compõe) em si o novo humano. A unidade (união hipostática) 
acontece pelo fato de que o Logos recebe (complementa-se com) 
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o humano, para formar a pessoa especial e peculiar do Logos en-
carnado. É por isto que se pode afirmar "nosso Senhor Jesus Cristo 
crucificado na carne é um da Trindade". 
A natureza humana de Jesus Cristo não tem uma existência 
própria, pois subsiste na hipóstase do Logos. Isto não anula ou 
nega a perfeita humanidade dos homens porque em Jesus ela se 
amplia em perfeição do divino. Ou como diz Walter Kasper: 
a doutrina da subsistência da humanidade de Cristo não expressa 
nenhuma carência, mas ao contrário, a máxima perfeição da huma-
nidade de Jesus. A máxima união possível com Deus não amputa 
nem reduz o ser do homem, mas, antes o leva à verdadeira e plena 
realização." (KASPER, 1996, p. 235).
Como acabamos de ver, nada falta à humanidade de Jesus 
Cristo ao unir-se à realidade de Deus (Logos). A natureza humana 
de Jesus abre-se à divindade para a concretização desta realidade 
misteriosa e excepcional do caso Jesus.
III Concílio de Constantinopla (680/1)
A partir da conclusão de Constantinopla II, aparece outra 
questão: mas, em Jesus, haveria uma única atuação (agir – ener-
geia) e uma única vontade (telós), se há duas naturezas? 
As teorias do monoenergismo (um só agir) e monotelismo 
(uma só vontade) foram condenadas pela Igreja. E no Concílio de 
Constantinopla III, a Igreja definiu que são duas as faculdades físi-
cas do agir e da vontade de Jesus. Cada uma segundo a sua natu-
reza (divina e humana). 
Porém, o agir e o querer concretos na pessoa de Jesus não 
entram em conflito porque Ele sempre quis e fez a vontade de 
Deus. O agir e o querer de Jesus orientam-se pela vontade divina 
e em plena concordância com Deus. A santidade humana de Deus 
o leva a agir e querer livremente, desde sua humanidade, se só 
pode realizar-se (e de fato se realiza) em Deus (cf. Jo 6,38). Jesus, 
ao obedecer ao Pai (Deus), não nega a sua humanidade. Pelo con-
trário. Quanto mais livre humanamente, mais divino Ele é.
© Cristologia122
A encarnação do Logos é a condição da possibilidade do mo-
vimento antropológico, no qual o homem se relaciona com Deus e 
se diviniza. Ou seja, atinge sua plena realização. No Verbo encarna-
do, isto atinge a plenitude à qual fomos chamados.
No início desta unidade, você leu que iria fazer uma estudo 
sobre o desenvolvimento histórico das ideias dogmáticas da cris-
tologia. Para aprofundar a questão, foi sugerido que você também 
lesse o texto de Leonardo Boff. 
A seguir, apresentamos uma síntese do texto indicado para 
que você faça uma revisão de seu estudo. Lembre-se de que o 
oportuno texto do autor, usando outro método, visa caracterizar 
“um Deus humano” e “um homem divino”, sem se ater ao proces-
so histórico da dogmatização.
Vejamos a seguir algumas ideias do capítulo proposto por 
Boff: Humano assim só pode ser Deus mesmo (1972, p. 194 -222):
a) Duas grandes respostas: “Deus se fez homem para que 
o homem se fizesse Deus” (escola Alexandrina) e “Um 
homem, todo inteiro, foi assumido pelo Verbo eterno” 
(escola antioquena).
b) O Concílio de Calcedônia (451) estabeleceu uma fórmula 
(quase definitiva) para todas as questões, reconciliando 
as duas escolas: da dualidade (Deus e homem) e da uni-
dade (uma só pessoa), sem separação, sem divisão, sem 
confusão (sincretização), nem mudança.
c) "Jesus é o homem que é Deus e o Deus que é homem".
d) Jesus é o homem que se voltou totalmente para Deus e 
para os outros. Entendeu-se com o ‘ser para os outros’ e 
‘a partir dos outros’. Esvaziou-se para ser Deus na totali-
dade e para ser homem na totalidade.
e) “Quanto mais o homem se relaciona e sai de si, mais 
cresce em si mesmo e se torna homem (...). Quanto mais 
Jesus estava em Deus, mais Deus estava Nele. Quanto 
mais o Homem Jesus estava em Deus, mais se divinizava. 
Quanto mais Deus estava em Jesus, mais se humaniza-
va.”
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f) Em Jesus, Deus infinito se torna humano e, portanto, li-
mitado emnossa condição de um ser humano concreto. 
Pela ressurreição, porém, surge a plenitude máxima do 
homem: assim, agora, é Jesus. 
Vale lembrar que não sintetizamos aqui o tópico seis de BOFF, 
porque não vem ao caso imediato de nossa discussão. Contudo, 
sugerimos sua leitura até o final do capítulo indicado.
Assim, Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, 
Um e o mesmo, ao mesmo tempo, é o nosso salvador, desde a 
vida de Deus e desde a nossa vida. Era Deus, com o Pai e o Espírito 
Santo e se fez um de nós, igual a nós em tudo. Ele, pois, é o nosso 
Irmão maior, Senhor e Salvador. É por Ele e só por Ele que atingire-
mos ao Pai: Ele é o caminho, o revelador e que nos leva à plenitude 
salvífica em Deus.
7. TRÊS GRANDES RESPOSTAS E AS CONCLUSÕES 
DOS CONCÍLIOS
Após a ressurreição de Jesus, começam a surgir muitas per-
guntas sobre quem é Ele. São Paulo recorda sempre que o cru-
cificado é o ressuscitado. Nos evangelhos surgem respostas: é o 
Senhor, o Messias, o Filho de Deus, o Filho do Homem etc.
Depois do primeiro século, quando já não havia mais quem 
tivesse conhecido pessoalmente Jesus, e, sobretudo, no meio he-
lenístico, apenas se ouvia seu ensino, muitos começaram a propor 
uma nova e grande questão: 
• Quem é Ele realmente?
• Há três grandes linhas de respostas, até se chegar à dog-
mática cristológica. Se o Novo Testamento é normativo 
para a fé, os dogmas cristológicos são integrativos da fé. 
Todavia, a pesquisa cristológica deve, naturalmente, con-
tinuar por, ao menos, duas razões: 
© Cristologia124
• Jesus Cristo é o salvador de todos os povos e em todos os 
tempos; por isto deve ser anunciado (e explicado) sem-
pre. 
• A cristologia é a ciência que, levando em conta a normati-
vidade neotestamentária e a constitutividade dogmática 
da fé, busca explicar aos contemporâneos quem é Jesus.
A questão do divino e do humano e a união das duas sempre 
foram tensões na Igreja, pelas dificuldades de equilíbrio. Ora se 
pende mais para uma, ora para a outra.
Linha teológica
À medida que se foi distanciando no tempo, foi-se compre-
endendo que Jesus era o salvador definitivo de Deus. Por isto o 
Concílio de Niceia afirmou: ‘Ele é verdadeiro Deus, da mesma na-
tureza do Pai’.
O Concílio de Constantinopla I ensina ainda: sendo Deus um 
só, se nos apresenta em três expressões hipóstases. Uma delas é o 
Verbo que vai se encarnar. Por isto Jesus é Deus verdadeiro.
Linha Antropológica
Em reação à insistência sobre a divindade de Jesus, foi ne-
cessário recuperar a sua humanidade. Por isto o Concílio de Cons-
tantinopla I também afirmou ser Ele verdadeiro Homem (unidade 
de corpo e alma, em conceitos gregos). 
Linha de Síntese
As duas afirmações eram corretas. Ter-se-ia, porém, que fa-
lar sempre da mesma pessoa. Se era verdadeiro Deus e verdadeiro 
Homem, como poderia ser uma só pessoa?
O Concílio de Niceia ensinou:
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a) O Filho do Altíssimo (pré-existente) começou a ser hu-
mano desde o seio de Maria (mistério da encarnação do 
Verbo). Desde então, as duas naturezas (divina e huma-
na) se completam dando origem a Jesus, sem criar uma 
terceira realidade.
b) Se Jesus Cristo é homem verdadeiro e Deus verdadeiro, 
como se dá a união entre ambos? O Concílio de Calce-
dônia não só afirma a união hipostática (das duas natu-
rezas), mas afirma que elas, estando unidas, são incon-
fusas, imutáveis, inseparáveis e indivisas, na mesma e 
única pessoa de Jesus Cristo.
c) Diante de novas perguntas, no Concílio de Constantino-
pla II, assume-se esta afirmação como verdadeira: 
“Um da Trindade é quem sofreu na carne”. Os sofrimen-
tos e a morte humanos são sofrimentos e morte de Deus 
(Logos); a glória e a santidade de Deus (Logos) perten-
cem também ao humano, porque as duas naturezas es-
tão unidas e não podem se separar.
d) Uma nova questão surge: “sendo duas as naturezas, 
seriam também duas as vontades, duas as atuações?”. 
Sim, será a resposta. 
Vejamos, agora, o ensino de Constantinopla III: 
No Verbo encarnado há uma vontade humana e uma von-
tade divina, um querer humano e um querer divino. Eles se con-
jugam e não se contradizem porque Jesus humano (que em tudo 
foi igual a nós) sempre agiu em nome do Pai e procurou a vontade 
divina.
Todas as grandes e significativas questões cristológicas surgi-
ram porque foi necessário compreender o mistério de Jesus dentro 
do quadro da ontologia cristológica, sempre movido pela questão 
teológica, com preocupação sotereológica: Ele é verdadeiro Deus 
e verdadeiro homem, para a nossa salvação.
© Cristologia126
8. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira, na sequência, as questões propostas para verificar 
seu desempenho no estudo desta unidade:
Leia as palavras a seguir e relacione-as com as respectivas 
afirmações:
1. Sotereologia 11. Um e o mesmo,
2. Concílio de Constan nopla 12. Nestorianos
3. Esquema “Logos-sarx” 13. Concílio de Niceia
4. Ário 14. O dogma de fé
5. Nestório, 15. União hipostá ca
6. Homousios 16. Monotelismo
7. Doce smo 17. Homoiusios
8. Monoenergismo 18. A divindade de Jesus
9. Concílio de Calcedonia 19. A relação de Jesus conosco
10. Adocianismo 20. Grupo de orientação jurídico-moral
1) (____________) Afirma que Jesus, homem moralmente íntegro, não sendo 
Deus, foi “eleito” adotado por Deus.
2) (____________) Deus é um só, uma monada, e Jesus é sua primeira criatu-
ra, por isso não é Deus.
3) (____________) Tratado teológico que afirma o papel salvífico de Jesus por 
ser simultaneamente Deus e Homem.
4) (____________) Era problema teológico da Igreja que envolveu as discus-
sões que culminaram no Concílio de Constantinopla I (381).
5) (____________) Estabeleceu que em Deus há três hipóstases e uma subs-
tância.
6) (____________) Foi rejeitado pela Igreja porque pressupunha que Jesus não 
tivesse uma alma humana.
7) (____________) Afirmou a unidade das naturezas (divina e humana) de Je-
sus após a encarnação, sem confusão, sem mudança, mas também sem di-
visão nem separação. 
8) (____________) Foi quem, no ocidente latino dos primeiros séculos do cris-
tianismo (dando início à cristologia latino-ocidental), reconheceu em Jesus 
o divino e o humano por causa da necessidade de remissão de nossos pe-
cados.
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9) (____________) Recusava o título de “mãe de Deus” à Maria, porque o divi-
no não pode ter mãe.
10) (____________) É a fórmula de composição e síntese encontrada pelo Con-
cílio de Calcedonia, para ter presente as diversas cristologias ortodoxas pelo 
ano 451.
11) (____________) É a doutrina recusada pela Igreja, que afirma ter Jesus uma 
única atuação (agir).
12) (____________) Afirmava que Jesus teve uma aparência humana para po-
der ser Deus entre nós.
13) (____________) É um princípio teológico falso que caracteriza ter Jesus 
uma vontade apenas, que é ao mesmo tempo divina e humana.
14) (____________) Quer dizer que Jesus é semelhante ao Pai.
15) (____________) Afirmavam que Maria é “Mãe de Cristo” e/ou “Mãe do ho-
mem Jesus”.
16) (____________) É uma afirmação que enfatiza a união das duas naturezas 
de Jesus.
17) (____________) Significa que Jesus é igual ao Pai, em natureza.
18) (____________) Estabeleceu que se deve crer que Jesus de Nazaré é verda-
deiro Deus, em igual natureza com o Pai (consubstancial).
19) (____________) Que o Filho do Altíssimo (pré-existente) começou a ser hu-
mano desde o seio de Maria (mistério da encarnação do Verbo).
20) (____________) Foi a primeira e grande preocupação cristológica resolvida 
pelo Concílio de Niceia.
Gabarito
Depois de responder às questões autoavaliativas, é impor-
tante que você confira o seu desempenho, a fim de que saiba se é 
preciso retomar o estudo desta unidade. Assim, confira, a seguir, 
as respostas corretas para as questões autoavaliativas propostas:
1) 10
2) 4
3) 1
4) 19
© Cristologia128
5)2
6) 3
7) 9
8) 20
9) 5
10) 11
11) 8
12) 7
13) 16
14) 17
15) 12
16) 15
17) 6
18) 13
19) 14
20) 18
9. CONSIDERAÇÕES
Se você achou teórica demais esta unidade, conclui algo cer-
to; muitos também pensam assim hoje. Contudo, este tema no 
passado foi tão popular que chegou a ser discutido até nos bote-
quins de esquina e causou muita briga. Em determinada época e 
até recentemente (do século 4º até o 20), foi considerado o único 
tema da cristologia. Esta cristologia dogmática é importante não 
só para evitar concepções e práticas pastorais erradas, mas para 
compreender melhor, desde a razão, quem é o Senhor Jesus, Deus 
e Homem verdadeiro.
Assim, conhecendo o processo cristológico, cujo desenvolvi-
mento foi brilhante nos séculos de ouro da cristologia (século 4º 
ao 8º), você também está mais instrumentalizado para compreen-
der quão distantes da fé estão certas afirmações e atitudes pasto-
rais, incluindo situações da religiosidade popular, diante de Jesus 
Cristo, discernido pela fé cristã.
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A seguir, você terá a oportunidade de sistematizar estes dois 
conhecimentos: bíblico e dogmático, numa grande síntese cristo-
lógico-sistemática. 
Até a próxima!
10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOFF, L. Jesus Cristo libertador. Petrópolis: Vozes, 1972. 
FORTE, B. Jesus de Nazaré: história de Deus, Deus da história. São Paulo: Paulinas, 1985.
FEINER, J.; LOEHRER, M. (Orgs.). Mysterium Salutis. Compêndio de dogmática histórico-
salvífica III/3. O Evento Cristo. 3. A cristologia na história dos dogmas. Petrópolis: Vozes, 
1973.
GARCIA DE ALBA, J. Cristo Jesus: conhecê-lo, amá-lo e segui-lo. São Paulo: EDUSC, 1998, 
p. 199-211.
HAIGHT, R. Jesus, símbolo de Deus. São Paulo: Paulinas, 2003.
KASPER, W. Dio e chiesa. Brescia: Queriniana, 1996.
MEUNIER, B. O nascimento dos dogmas cristãos. São Paulo: Loyola, 2005.
RAHNER, K. Theos nel Nuovo Testamento. In: Id. Saggi Teologia. Roma: Paoline 1965, p. 
568.
RAUSCH, T. Quem é Jesus? Uma introdução à cristologia. Aparecida: Santuário, 2006.
RUBENSTEIN, R. E. Quando Jesus se tornou deus: a luta épica sobre a divindade de Cristo 
nos últimos dias de Roma. Rio de Janeiro: Fisus Ltda, 2001. 
SERENTHÁ, M. Jesus Cristo, ontem, hoje e sempre. Ensaio de cristologia. São Paulo: 
Salesiana, 1986.
Claretiano - Centro Universitário
EA
D
Cristologia sistemática
5
1. OBJETIVOS
• Sistematizar um discurso exaustivo sobre Jesus Cristo.
• Argumentar sobre a originalidade de Jesus, justificando 
sua posição cristológica.
• Aprofundar criticamente o significado teológico da morte 
de Jesus.
• Caracterizar a ressurreição como autorrevelação de Deus 
e consumação da criação. 
• Diferenciar os aspectos teológicos, cristológicos e antro-
pológicos da ressurreição.
• Justificar a criação como nova criação.
• Caracterizar a ressurreição como "consumação escatoló-
gica".
© Cristologia132
2. CONTEÚDOS
• A cristologia hoje.
• O homem Jesus.
• O destino de Jesus: morte.
• O ressuscitado: autorrevelação de Deus e do homem.
3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE
Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que 
você leia as orientações a seguir:
1) É necessário que você aprofunde alguns conceitos de 
cristologia a fim de facilitar a compreensão de quem é 
Jesus, o Cristo. Ao refletir sobre Ele, você deve saber 
onde está você mesmo e de onde está partindo. Assim, 
poderá fazer um discurso, uma reflexão coerente. É im-
portante conhecer a experiência teórica que outros já 
fizeram. Deste modo, conseguirá perceber melhor a sua 
posição, bem como a dos outros.
2) Para aprofundar seus conhecimentos, confira os concí-
lios.
3) Para você se aprofundar mais sobre o significado da 
virgindade de Maria e o nascimento de Jesus, leia RAT-
ZINGER, Joseph. Introdução ao cristianismo. São Paulo: 
Loyola, 2005, p. 201ss, especialmente 204. Há também 
muitos textos, facilmente, encontrados sobre os evange-
lhos da infância.
4) Para você conhecer o significado tradicional da Igreja Ca-
tólica, outras igrejas e exegeses atuais sobre o assunto, 
leia THEISSEN, Gerd; MERZ, Annette. O Jesus histórico: 
um manual, p. 218 ss. PUIG, Armand. Jesus: uma biogra-
fia, p. 170-184.
5) Você sabia que Buda ‘Sidartha Gautama’ ensinou, após 
sua iluminação, durante 45 anos. Maomé ‘Mouhamed’ 
pregou durante 20 anos, e Moisés dirigiu o povo por 40 
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© U5 - Cristologia sistemática
anos, enquanto Jesus viveu seu ministério entre um ano 
e meio a três apenas?
6) Para aprofundar mais seu conhecimento, sugerimos que 
leia os estudos de VERMES, entre eles. Natividade. Rio 
de Janeiro/São Paulo: Record, 2007; As várias faces de 
Jesus. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2006.
7) Você deve retomar o significado bíblico de primogenitu-
ra. Complemente o sentido consultando dicionários ou 
vocabulários bíblicos ou então reveja seus estudos bíbli-
cos do Antigo Testamento. Os primogênitos tinham, des-
de a legislação mosaica, direito a duas partes na heran-
ça. Ao primogênito era assegurado o respeito de todos 
os outros irmãos; dele também era a responsabilidade, 
especialmente, quando um dos irmãos necessitava de 
um socorro especial. Aprofunde o estudo deste tema, 
para compreender o lugar de Jesus como primogênito 
entre nós e para nós.
8) Você pode aprofundar, ainda, os estudos sobre a pieda-
de de Jesus, bem como sobre a oração do Senhor em: 
SOBRINO, Jon. Jesus, o libertador, p. 207-211, além de 
vários outros autores.
9) Reveja o conceito de “novo adão” nos cadernos de An-
tropologia Teológica, nas Unidades 3 e 5, e Introdução 
Geral à Bíblia e História de Israel. Deus antevia em Cristo 
Jesus o ser humano perfeito, por antonomásia. Assim, 
volte ao seu caderno de Antropologia Teológica e releia, 
na Unidade 3, sobretudo, os Tópicos 2, 3, 4 e 5.
10) Para você se aprofundar no assunto, confira o conceito 
de Schürmann, que já é clássico em cristologia, no res-
pectivo verbete "pró-existência” do Dicionário Crítico de 
Teologia, p. 1452, p. 363-364. 
11) Vale salientar que, neste estudo, se deve ter presente 
não apenas a história dos dogmas cristológicos, mas 
também deve-se estar aberto para compreender o signi-
ficado da Trindade Una ou da Unidade Trina, que alguns 
dizem: ‘Tri-unidade’. Este tema será desenvolvido em 
outro caderno no decorrer do seu curso. 
© Cristologia134
12) Você poderá aprofundar as teorias desta unidade, len-
do, entre outros textos, BOFF, L. Paixão de cristo, paixão 
do mundo. Petrópolis: Vozes, 1977, p. 108-126 e SEREN-
THÀ, M. Jesus Cristo, ontem, hoje e sempre: ensaio de 
cristologia. São Paulo: Salesiana, 1986, p. 425-444.
13) Para aprofundar seus estudos, leia os textos: Mc 9,31; 
10,33-34; 14,41; 15 Mt 20,28; Lc 22,27; Jo 10,17. Pesqui-
se, também, em outros textos neotestamentários como: 
Gl 1,4; 2,20; Ef 5,2-25; Tt 2,14; 1Tm 2,6.
14) Para completar seus estudos sobre a ressurreição, leia 
todo o capítulo 15 de 1Cor, começando pelos versículos 
35-58 e leia depois 1-34.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Esta unidade propõe levar você a um grande processo de sín-
tese e sistematização do que foi estudado até aqui.
Assim, aqui você se encontrará com Jesus Cristo, um ser hu-
mano original, não só por ser divino e humano ao mesmo tempo. 
Você se lembra do conceito de "união hipostática"? 
Com tais conhecimentos (bíblico e histórico-dogmático, que 
são normativos e integrativos da fé), vamos encontrar com Jesus, 
Aquele que se compreendeu a partir de Deus; que foi solidário co-
nosco, a ponto de dar sua vida por nós. Tal amor solidário e repre-
sentativo fez que o Pai o ressuscitasse e deixasse claro que o havia 
constituído nosso salvador, como Ele era desde o início da criação.
Tenho a certeza de que esta unidade é empolgante. E conhe-
cendo melhor Jesus Cristo, você será capaz de se humanizar mais, 
vivenciando-o para amá-lo e servi-lo mais profundamente. 
Nesse sentido, você estudará as cristologias atuais,o Ho-
mem Jesus e seu destino, morte e o ressuscitado, bem como au-
torrevelação de Deus e do homem. 
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A princípio, retornaremos ao tema da cristologia como tal, 
para que você perceba melhor não só o caminho que faremos, 
mas também tenha critérios teológicos para perceber as cristolo-
gias existentes ao seu redor e as polêmicas (frequentes) que se 
levantam em torno deste tema.
Propomos uma leitura global e englobante da encarnação. 
Você deve compreender e fundamentar Jesus como uma grande 
unidade.
Assim, iremos aprofundar teologicamente os significados salví-
ficos da morte e ressurreição de Cristo, como resposta de fé para hoje.
Você encontra a seguir um mapa conceitual da unidade se-
guinte, o qual se configura não apenas como uma síntese dos prin-
cipais conceitos aqui tratados, mas, sobretudo, como um roteiro 
de estudo.
 
 
 
CRISTOLOGIA 
SISTEMÁTICA 
A originalidade 
de Jesus 
O destino: a 
morte de 
Jesus e suas 
A ressurreição de 
Jesus : a 
autorrevelação de 
Deus 
Cristo no 
Plano Salvífico 
de Deus 
O lugar do 
Salvador 
Autocompreensão 
Pro-existencia 
estaurologia 
encarnação 
Teorias sobre a 
Morte de Jesus 
Fontes 
Testemunho 
Autorrevelação
Significado 
Valor salvífico 
O papel do 
Salvador 
Questões teóricas da 
cristologia hoje 
Perspectivas 
cristológicas 
Cristologia 
do alto 
Cristologia 
de baixo 
Valor 
salvífico 
´ ^
Bom estudo!
© Cristologia136
5. AS CRISTOLOGIAS HOJE
A cristologia é feita no plural. Na verdade não existe a cris-
tologia, mas as cristologias. E por que é assim?
 Nenhum estudo, por mais completo que seja, abarca toda 
a pessoa de Jesus, homem e Deus, entre nós e nosso senhor sal-
vador. 
O próprio Novo Testamento apresenta ao menos cinco mo-
delos diversos. Este fato indica não só a necessária intercomple-
mentariedade (nenhum se basta por si só). Aponta a possibilida-
de de muitos enfoques. Quer dizer, podem ser diversos os pontos 
de partida, pois eles devem estar adequados aos ouvintes/leito-
res que creeem. 
A cristologia é para a compreensão dos que creem, no tem-
po e circunstância que eles vivem. O mesmo Jesus é apresenta-
do conforme a capacidade e exigência dos "crentes" desde que 
tal cristologia tenha sempre presente como norma o Novo Tes-
tamento e o dogma, como integrativo. Isto não quer dizer que 
ambos sejam uma “camisa de força”; mas uma orientação que 
não se pode ignorar. 
Numa grande síntese, pode-se dizer que a cristologia tem 
tido dois grandes modos de proceder (métodos): "a partir de bai-
xo” ou “a partir de cima”. 
A cristologia a partir de baixo começa enfocando a história 
humana de Jesus para depois compreendê-lo também em sua 
divindade. A ênfase está em Jesus histórico, tendo como base os 
evangelhos sinóticos. E a cristologia a partir de cima, mesmo que 
tenha predominado na história, parte do Filho eterno de Deus e 
utiliza uma linguagem, predominantemente, ontológica (helenis-
ta, ocidental). 
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© U5 - Cristologia sistemática
O ponto de partida da cristologia
Cristologia a partir de baixo 
A cristologia “a partir de baixo” é que vai predominando hoje 
como critério para aproximar-se de Jesus. Por quê? 
Não só por causa das mudanças socioculturais do mundo, 
mas também pela crescente "des-europeização" da Igreja. Não só 
porque a segunda usa uma "gramática" que leva (quase heretica-
mente) a perceber Jesus em si, ontológico, como alguém (quase) 
estranho aos seres humanos reais, mas também pela compreen-
são da mudança do papel da Igreja, como “serva” e “instrumento 
de salvação" (cf. LG e GS). Porque ainda: para responder "quem é 
Jesus Cristo, para nós hoje?", é necessário não apenas uma nova 
linguagem, mas uma linguagem que leve também em conta as 
perspectivas antropológicas da cultura contemporânea. E aí, inclu-
sive, a recuperação de uma cristologia sotereológica. 
Desde o século 12, houve uma crescente separação entre cris-
tologia e sotereologia. Se antes, no período de ouro da cristologia 
(do século 3º ao 8º), havia uma preocupação em se afirmar sempre 
quem era Jesus Cristo para a nossa salvação, progressivamente foi-
-se construindo uma cristologia sobre o ser de Jesus Cristo, desliga-
do de seu papel de salvador de todos. A questão salvífica voltou a 
integrar a reflexão atual especialmente na cristologia de baixo. 
De forma muito simplista se poderia dizer que a cristologia 
a partir de baixo é encontrada nas cristologias da libertação, fe-
minista, contextual (asiática), negra (africana e norte-americana). 
No passado, ela existiu por meio das correntes de pensamento da 
chamada Escola Antioquena, do pensamento franciscano, na espi-
ritualidade e artes medievais etc.
A cristologia a partir de cima
A cristologia a partir de cima, com fundamento joanino e 
paulino, predominou entre o clero e intelectuais, sobretudo da 
© Cristologia138
cultura branca “masculina” e europeia. Parte-se da ideia de que 
Jesus é o Verbo pré-existente (desde toda a eternidade) e, um dia, 
se fez humano no seio de Maria. É usada predominantemente pe-
los que trazem uma tradição doutrinária helenista-ocidental (com 
corte mais europeu e eclesiocentrico). A grande preocupação é 
ressaltar a kenose de Deus, que, ao se humilhar, não se sentiu in-
digno de assumir a natureza humana, a fim de elevá-la até Deus 
(cf. Fil. 2, 6ss). Tal cristologia identifica nos evangelhos, inclusive 
nos sinóticos, a presença de Deus no homem Jesus. 
Alguns afirmam que sua forte presença, em contraposição às 
cristologias a partir de baixo, se deve ao fato de que ela é a prefe-
rida pelos bispos e papas. 
Assim, o que dizer sobre estas duas cristologias hoje? 
Tanto quanto são normativos os evangelhos, que, em ter-
mos de cristologia, nos levam a conceber Jesus Cristo como Deus 
Eterno, exigem concebê-lo também em sua história humana. E a 
recíproca é verdadeira: conceber a humanidade Dele exige reco-
nhecê-lo como "Emanuel" (Deus conosco). Uma sem a outra nos 
levará não só a evitar as discussões já superadas pelos tempos dos 
concílios cristológicos (e que seria perda de tempo), mas a evitar 
também os erros (heresias) passados, cuja solução integra a fé 
cristológica. Note-se que cultura pós-moderna (inclusive católica) 
é centralizada no ser humano, não mais nas forças cósmicas (dis-
curso diferente do das questões ecológica e cósmica contemporâ-
neas) nem teocêntricas.
Perspectivas cristológicas
Como é impossível escrever uma "síntese cristológica defini-
tiva", então se percebe que todas e quaisquer cristologias sofrem 
a influência da cultura e das relações existenciais de seus teólogos. 
As cristologias atuais têm sido feitas mais apropriadamente 
"a partir de baixo". Esta posição, inclusive, supera a discussão re-
cente sobre a perspectiva cristológica, ora centrada na morte (e 
ressurreição), ora na encarnação ou na história. 
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© U5 - Cristologia sistemática
A primeira (que predominou no segundo milênio, especial-
mente depois de Santo Anselmo) enfatizou o papel sotereológico 
da morte de Cristo. Chegou-se na radicalização de alguns afirma-
rem que a razão da existência de Jesus era para morrer na cruz, a 
fim de nos salvar de nossos pecados. 
A segunda perspectiva, com enfoque encarnatório, em resu-
mo afirmou que a razão do Filho Eterno se fazer homem (encarna-
ção) era para revelar quem é Deus, quem somos nós e como Deus 
nos comunica sua vida divina. É a perspectiva joanina. 
A terceira corrente (a partir dos sinóticos) percebe, à luz da 
páscoa, a vida, a atuação e o destino de Jesus como proximidade 
de Deus entre nós para a nossa salvação.
As três perspectivas, somente são legítimas se forem inter-
complementares e não autoexcludentes. Por julgar que o enfoque 
histórico, hoje, torna mais acessível, para nós, o encontro com Je-
sus Cristo, é que fazemos esta opção metodológica. A reflexão so-
bre a plenitude de Cristo(e isto é cristologia) nos levará, desde a 
história do homem de Nazaré, à luz da páscoa ao encontro do pro-
jeto de salvação de Deus, realizado Nele, seu Filho e nosso Irmão.
6. O HOMEM JESUS
Jesus, um homem original
Mesmo quando localizado no contexto da Galileia do 1º sé-
culo d. C., Jesus viveu a religiosidade de seu povo que era portador 
de uma grande tradição vinda de Abraão, passando por Moisés, 
pelos patriarcas, profetas, reis e sacerdotes de seu povo. Era uma 
religiosidade que ocupava o centro da vida do povo, mesmo nos 
períodos de escravidão (vivida muitas vezes como sentido de pe-
cado da idolatria). Exatamente nestes períodos, acentuavam-se a 
preocupação com as promessas salvíficas, feitas nas antigas alian-
ças, e com as expectativas messiânicas. Jesus é um homem judeu, 
plenamente inserido na cultura de seu povo. 
© Cristologia140
Viveu Jesus ao tempo dos imperadores romanos Otavio 
Augusto (27 a.C. a 14 d.C.) e Tibério (4-37 d. C.); do governo de 
Herodes o Grande (até o ano 36 d.C.), o perfeito romano, que ad-
ministrou Judeia romana e detinha o poder de nomear o sumo 
sacerdote e controlar o sinédrio no governo de Jerusalém (entre 4 
e 41 d.C.). José Caifás, influenciado pelo seu sogro Anás, foi sumo 
sacerdote por dezessete anos. 
Sem influir muito, Roma contentou-se, em geral, em domi-
nar a região, apenas mantendo a paz (romana) entre seus subor-
dinados e cobrando os impostos por meio de funcionários locais, 
que incluíam nesta cobrança seus salários (motivo de constantes 
descontentamentos populares). 
Contudo, ao tempo de Jesus, a presença romana e a con-
vivência do Sinédrio e dos saduceus, sobretudo, eram motivo de 
tensão política (invasão estrangeira), econômica (exacerbação de 
impostos) e religiosa (o imperador Cesar era um deus, "o divino"). 
Após a destruição do templo, pelos romanos, só sobraram os fari-
seus e os primeiros cristãos - ainda uma espécie de seita, dentro 
do judaísmo: os do caminho (cf. At 9,25). 
Pouco se pode dizer da infância de Jesus (abreviação de 
Yeshua), que significa "Deus salva" ou "salvação de Deus". Sobre 
fatos e histórias de seu nascimento, deve-se fazer uma distinção 
entre verdade histórica e significado salvífico, como os evangelhos 
da infância pretendem transmitir. Maior atenção ainda se deve dar 
à idoneidade dos fatos descritos nos evangelhos apócrifos, surgi-
dos a partir do final do século 2º. A intenção dos evangelhos da 
infância (Mt e Lc 1 e 2) é teológica, e em geral sem repercussão no 
restante dos evangelhos – salvo o princípio teológico de evidenciar 
que ele provém de Deus e é filho da humanidade. 
Teria Jesus nascido provavelmente em Nazaré, e não em Be-
lém, no ano 7 ou 6 a.C., algum tempo antes da morte de Herodes, 
o Grande (4 a.C.), vivendo com seus pais, o “justo” José e Maria e 
seus "irmãos", em Nazaré, por isso era chamado “nazareno”. 
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Atraído pelo movimento de João Batista, Jesus tornou-se 
independente e pelo ano 27/28 começou seu ministério público, 
com aproximadamente trinta e três anos de idade. Foi crucificado 
em 14 de nizan (7 de abril) do ano 30. Tinha trinta e seis anos, mais 
ou menos. Este período de vida pública (27/28 – 30) caracterizou 
não só a vida, mas também, de modo surpreendente, marcou a 
história da humanidade. 
São as pregações, as atitudes e o destino de Jesus, duran-
te estes dois ou três anos, que constituem a centralidade (não o 
fundamento) da cristologia. Não é por acaso que a parte mais con-
sistente dos evangelhos seja dedicada ao seu ministério público, 
sobretudo à pregação sobre o Reino de Deus. São poucos os capí-
tulos dedicados ao seu nascimento e morte; bem menos à ressur-
reição (GAMBERINI, 2007, p. 52).
Vejamos a seguir o quadro que divide a vida de Jesus narrada 
pelos quatro evangelhos:
Mt Mc Lc Jo
Infância 1- 2 0 1-2 -
Ministério Público 3-25 1-13 3-21 1,19-17
Paixão e Morte 26-27 14-15 22-23 18-19
Ressurreição 28 16 24 20-21
Fonte: Acervo pessoal.
Jesus foi conhecido como pessoa normal, mesmo que com 
um algo a mais, que o tornava diferente. Entre os seus contem-
porâneos, conheciam-se seu pai, sua mãe e seus irmãos. Sabia-se 
de sua profissão. Os evangelistas o mostram como quem viveu as 
realidades humanas, como todos os outros homens e mulheres. 
Dizem eles: foi em tudo semelhante a um de nós. Alegrou-se em 
festa de casamento. Frequentou a casa de conhecidos (a de Lázaro, 
Maria e Marta, a da sogra de Pedro) e de desconhecidos (fariseus, 
cobradores de impostos ‘Mateus’, Nicodemos). Participava das li-
turgias nas sinagogas e no templo, acatava a Lei e as tradições, a 
modo de dar-lhes pleno cumprimento mesmo que as “desobede-
cesse” circunstancialmente. 
© Cristologia142
Manteve um grupo de seguidores (discípulos), constituído 
de homens e mulheres. Ao que tudo indica, foi célibe, num con-
texto ambíguo que prezava a constituição da família e, ao mesmo 
tempo, aceitava figuras religiosas ascéticas (João Batista, os celiba-
tários de Qumran). Sentiu fome, sede, cansaço. Comoveu-se pelos 
amigos. Solidarizou-se com marginalizado (doentes, prostitutas, 
crianças e outros excluídos). Condoeu-se pelo povo desorientado. 
Exerceu medicina curativa. Aceitou em seu grupo pessoas de pro-
cedência bem diversificada, como Judas e João, Mateus e Tiago. 
Curou cegos, aleijados, endemoniados etc.
Ensinou com autoridade. Gerou admiração e perseguição; 
foi amado e odiado. Por causa de suas ideias, foi duro, exigente, 
com sua família; rigoroso com seus adversários e benquisto entre 
os pobres. Valorizou coisas belas. Apreciou a natureza e o a sim-
plicidade. Foi didático em seus ensinamentos; e foi chamado de 
"mestre" rabi. Por muitos, inclusive adversários, foi compreendido 
como profeta. Gostava de refeições com amigos. Chegou a ser cha-
mado de "glutão". Foi severo com os que exploravam a religião em 
proveito próprio. 
Jesus encarou, com destemor, a morte. Sentiu seu peso e 
suas dores. Crucificado, morreu abandonado por seus amigos.
Viveu o "sucesso" das multidões. Sofreu a perseguição, o 
julgamento e a morte do poder político-religioso. Sobretudo, em 
sua vida pública, foi pregador itinerante. Como nós, também cres-
ceu em idade. Alfabetizou-se e leu as Escrituras – o que era raro 
em seu tempo. Sofreu as tentações, especificamente em relação 
à fama, às riquezas e ao poder. Viveu angústias psíquico-mortais. 
Seu saber, profundo na Tora, mas limitado como o saber de qual-
quer pessoa, inclusive passível de erro. Era determinado em sua 
vontade e atento às necessidades da pessoa. 
Jesus foi uma pessoa humana em tudo igual a nós. Todavia, 
também foi diferente de nós. E não o foi, apenas porque não pecou 
(como se costuma acrescentar), mas por seu modo de ser diante 
de Deus e dos outros. 
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A radical diferença de Jesus e nós é uma questão de fundo 
e fundamento religioso (aqui não se fala ainda do ser divino de 
Jesus). Não é ainda uma questão teológica. Ou, se quiser, é uma 
questão radical de antropologia.
Por que é diferente de nós, o próprio Jesus nosso irmão? 
Ele o é, pelo fato de ter assumido a plenitude do homem, em sua 
originalidade. Ele é o ser humano original, radical, projetado por 
Deus desde o início, desde antes da criação (histórica) do ser hu-
mano. No dizer de São Paulo e dos Santos Padres: Ele, "o segundo 
Adão", vindo do céu (cf. 1Cor 15,45-47; Rm 5,12-21), é o primogê-
nito dentre os irmãos (cf. 1Cor 15,48; Rm 8,29). 
 Jesus é diferente porque sendo um dos nossos, como nós, 
é Aquele que vem como “homem novo” (original no pensamento 
de Deus). Quando Ele centraliza sua vontade, seu querer, de modo 
absoluto em Deus, é Ele capaz de fazer sempre a vontade de Deus. 
Ele é diferente, por ter-se colocado todo a serviço de Deus e dos ir-
mãos. Sua solidariedade, tão extrema, revela profundamente, que 
Naquele homem encontramos Deus mesmo. 
Jesus, o homem que se compreendeua partir de Deus
O próprio Jesus (ressuscitado) ao conversar, pelo caminho, 
com os discípulos de Emaús ensina o método de interpretá-lo à luz 
das Escrituras (cf. Lc 24,13-35; Mc 16, 12-13). É obvio que se Jesus 
procede assim, Ele afirma desde a antropologia bíblica que, como 
todo ser humano, Ele é criatura, imagem e semelhança de Deus. 
Todos (e tudo) procedem de Deus na criação. O centro do ser hu-
mano é Deus. Deus é quem dá sentido à humanidade de todo e 
qualquer ser humano, seja na origem e no desenvolvimento seja 
no fim (parusia). 
O tema da parusia ‘ será estudado em Escatologia.
© Cristologia144
Jesus compreende esta realidade de si mesmo. E se autoin-
terpreta por meio de Deus e por nós. Pôs sua vida a serviço de 
Deus e da humanidade (no gesto imediato, aos seus contemporâ-
neos, especialmente aos excluídos).
Aqui é importante perceber, numa leitura teológica sobre a 
vida de Jesus, ao menos cinco situações: 
1) a relação pessoal com o Pai (sua fiel confiança); 
2) um homem orante; 
3) o testemunho dado por Ele sobre o Pai; 
4) o redimensionamento da imagem de Deus; 
5) o valor salvífico do Reinado de Deus. 
Jesus centrou sua vida no Pai. Só se pode compreender Jesus 
a partir de sua relação com o Abbá. Sem dúvida, sem deixar de 
notar que da parte de Deus houve sempre uma atenção particular 
sobre o Homem Jesus (anunciação, batismo, morte e ressurreição 
etc.); por outro lado, é fundamental ressaltar que Jesus elegeu a 
Deus como fonte e razão de sua vida. Ele viveu para Deus, o Deus 
de Israel, seu Pai. 
Vale salientar que Jesus, porque creu em Deus, foi um ho-
mem místico. 
Não confunda ser místico com uma pessoa que só vive em ora-
ção, “fora do mundo”. Místico é o que mantém profunda ligação 
com Deus e age em favor dos filhos de Deus. Quer dizer: oração 
e ação.
Assim, como “a boca fala do que o coração está cheio" (cf.Lc 
6,45), isto se evidencia. Jesus pôs em Deus as razões e fundamen-
tos do seu agir, do seu falar e de sua oração. Sua vida foi alimenta-
da na fé e na confiança em Deus, até o extremo na morte da cruz. 
Os evangelhos insistem que Ele constantemente se retira-
va para rezar. E fazia isto, sobretudo, à noite. O piedoso judeu foi 
um homem orante (cf. Mt 15,36; 26,26; Lc 4,16). Os sinóticos não 
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deixam de ressaltar isto. Lucas, por exemplo, insinua esta vida de 
oração, ao relatar a vida pública de Jesus (cf. Lc 3, 21; 23-46). Em 
momentos de decisão ou ocasiões importantes, os sinóticos evi-
denciam o Jesus orante. Isto é ainda mais claro no evangelho de 
João.
Jon Sobrino (entre outros) acentua não só esta piedade de 
Jesus, como comenta a profundidade da oração do Senhor, supe-
rando ingenuidades, mecanizações, hipocrisias, opressões, narci-
sismos. Acentua positivamente a oração de Jesus como um com-
promisso situado, concreto e amoroso e sempre com sentido de 
totalidade. E resume dizendo: 
O fato mesmo de Jesus orar mostra que existe para Ele um pólo 
referencial último de sentido pessoal, ante o qual se põe para rece-
bê-lo e expressá-lo. Esta oração é algo distinto de sua prática e de 
sua possível reflexão analítica sobre como construir o reino; é uma 
realidade na qual expressa diante de Deus o sentido de sua própria 
vida em relação à construção do reino, sentido afirmado e questio-
nado pela história real. Por isso, a oração de Jesus aparece como 
busca da vontade de Deus, como alegria de que seu reino chega, 
como aceitação de seu destino; em síntese, aparece como confian-
ça em Deus bom, que é o Pai e como disponibilidade diante de um 
Pai que continua sendo Deus, mistério (SOBRINO, 1994, p. 211).
A vida de oração de Jesus revela não somente sua fé em 
Deus. Contudo, torna-se clara a própria confiança em Deus. Uma 
confiança cotidiana que se manifestava não só ao invocar a Deus; 
mas, sobretudo, atribuindo a Deus seus milagres, a origem e signi-
ficado de sua vida. A confiança absoluta e radical evidencia-se no 
modo como Ele assume a própria morte pela causa de Deus. 
A relação de Jesus com o Pai ultrapassa seu comportamento 
pessoal e transparece no modo como Ele fala, invoca e dá testemu-
nho de Deus. Nas situações graves, pressionado pelos opositores, 
Ele indica Deus como seu testemunha-defensor, expulsa demônios 
por Deus (cf. Lc 10,17; Mt 12,28), prolonga as ações do Pai nas suas 
ações (Jo 14,10), porta-se como filho e atribui ao Pai o perdão, a 
misericórdia, a bondade. Defende o Pai diante dos exploradores e 
opressores. 
© Cristologia146
Enfim, Jesus entende que suas ações e reações, ensinos e 
obras (milagres), tudo deve testemunhar sua relação com o Pai. 
Ele acolhe os pecadores, levando-os à libertação de si mes-
mos e da marginalização que os envolvia (cf. Mc 2,10ss; Lc 7,28ss.) 
como sinal do Reino do Pai chegando. Porque o Pai acolhe a estes 
pequenos, Jesus, que dá testemunho do Pai, os acolhe também. 
Ele se aproxima dos pecadores. Nele, é Deus quem está se aproxi-
mando, porque o Pai acolhe bons e maus, faz chover sobre justos e 
injustos, sem com isto ser o juiz da pessoa humana, apesar de não 
acolher nem o pecado e nem a injustiça. 
O testemunho que Jesus dá do Pai o leva a reprovar até 
mesmo a oração dos que querem ser justos sem o ser, sobretudo 
por desprezarem os outros, os pobres (cf. Lc 18,9-14). Do mesmo 
modo, dá testemunho de Deus ao expulsar demônios, símbolos do 
poder do mal e da destruição (cf. Mc 3,21ss; Jo 10,20ss). Hospeda-
-se na casa de pecadores (Zaqueu, por exemplo), porque a salva-
ção de Deus deve chegar também a eles (cf. Mc 2,15-17). 
Jesus, o testemunho de Deus, acolhe as crianças, as mulheres, 
os pecadores, “as mulheres públicas”, os doentes, enfim os despre-
zados. Ele sabe que está trazendo a cura, a boa nova, aos que pre-
cisam de Deus e se veem cerceados, porque os chamados “justos” 
os impedem (Lc 7,36-50; Jo 4,7-42; Mt 18,12-14; Lc 15,4-10). Sabe e 
afirma em alto e bom som que, na casa do Pai, prostitutas e pecado-
res precederam aos “piedosos do templo (cf. Mt 21,31). 
Com sua morte, dá um radical testemunho de que Ele é en-
viado do Pai e que mesmo no "abandono do Pai" (Mc 15,34), Ele 
confia até o extremo. Não em vão, todo o testemunho que Jesus 
dá do Pai se manifesta na ação do Pai, que o ressuscita (cf. At 2,24).
Jesus redimensionou a imagem de Deus. A compreensão 
Dele sobre Deus é impressionante. Não só os contemporâneos de 
Jesus, mas também os judeus antigos atribuíram a Deus a quali-
dade de "pai". Jesus, porém, tratou a Deus com "seu Pai" e agiu 
como seu filho. 
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Mesmo que tenha diferenciado, e com razão, o modo de 
Deus ser pai Dele e nosso, criou uma aproximação singular de Deus 
para com todos os seres humanos. Deus não é alguém distante e 
nem um julgador implacável. Ele não é nem um vingativo e nem 
um indiferente para com seus filhos. É um Deus amoroso, sempre 
atento pelo bem de seus filhos.
Jesus faz compreender que Deus se aproxima de todos, es-
pecialmente dos pobres. Ele vem a ser um Deus próximo, que ama 
e perdoa, que sabe de nossas necessidades e é misericordioso 
para com todos os que o procuram. Jesus faz saber que Deus, o 
Pai, o enviou a nós como expressão de seu amor providente. E em 
nome do Pai, Jesus cura, perdoa, encontra "os perdidos", reconci-
lia os inimigos de Deus e dos homens. 
A nova imagem de Deus, mostrada por Jesus, não é irêni-
ca nem ingênua. Deus não se deixa convencer pela hipocrisia do 
orante (Lc 18, 9-14). Nem se deixa manipular pelos “poderosos de 
seu tempo” que julgam “determinar” em seu nome a Lei e o ensi-
no dos profetas (cf. Mc 3,4; Lc 14,2s; Mt 12,11; Lc 6,24). 
Jesus o apresenta como Senhor que não se convence com 
mecanismos idolátricos da religião, particularmente da religião 
opressora (cf. Mc 7,1-23; Mt 15,1-20; Lc 11,38; 7,14; 13,10s). Deus, 
porque é justo, reprova a religião que oprime e discrimina, inclusi-
ve a que lesa o direito do próximo(cf. Mt 7,13; Mc 7,14-23; 12,40; 
Lc 11,42. 46. 52).
É preciso lembrar que, para Jesus, Deus não é uma questão 
de discussão e de teorias, é sim preciso fazer a sua vontade na 
prática (cf. Mt 7,21).
As parábolas de Jesus sobre o Reino (e em especial a do 
"bom samaritano", do "juízo final") e as declarações sobre as bem-
-aventuranças são indicativos claros de quem é Deus e o que Ele 
pode. Para tanto, a expressão de Jon Sobrinho aqui pode ser apre-
sentada como uma síntese: 
© Cristologia148
Jesus não tem muito a dizer hoje sobre a questão de Deus se esta é 
vista puramente a partir do ateísmo, da existência ou da não exis-
tência de Deus. Mas, tem muito a dizer, até o dia de hoje, se per-
guntamos quem é o Deus e o que fazer de Deus. Jesus não ilustra 
o fato que Deus exista, mas ilustra qual Deus exista (SOBRINHO, 
1994, 284). 
Jesus deu um valor salvífico ao Reino. Ele creu no Senhorio 
(Reino, Reinado) de Deus que se aproximava. Creu que o reinado 
de Deus passava pela sua pessoa. Anunciá-lo, por palavras, obras 
e até pela própria vida, foi sua missão. O que fez e disse foi em 
função deste Senhorio. 
É importante perceber que Jesus anunciou que este Senho-
rio de Deus é salvífico. E no exercício de sua missão, Jesus o com-
provaria ao curar doentes de toda espécie, ao perdoar pecadores, 
ao reconstituir a dignidade dos excluídos e discriminados, ao ex-
pulsar os males e seus poderes diabólicos.
Por causa do Reinado de Deus que chegava, Jesus "restitui 
a vista aos cegos, anuncia a libertação dos prisioneiros e o ano 
da graça do Senhor (cf. Lc 4,18ss). Porque é salvador o Senhorio 
anunciado aos pobres multiplica-se e se reparte o pão. As "ovelhas 
perdidas" devem ser encontradas. Os pecadores precisam ser re-
dimidos. As crianças e mulheres passam a ser consideradas como 
iguais. Homens e mulheres são companheiros. 
O valor salvífico do Senhorio de Deus, segundo Jesus, cria 
a oportunidade para todos poderem participar, como convidados 
do grande banquete do Rei, e, um dia, morar nas muitas casas pre-
paradas na casa do Pai. No Senhorio de Deus, que Jesus anuncia 
por palavras e obras, não mais haverá tristeza, luto ou dor. Porque 
o Senhorio de Deus é verdadeiramente salvador, Jesus não teme 
entregar sua vida "por todos", inclusive desejando ardentemente 
fazer a ceia de despedida com os seus amigos, porque Ele só tor-
nará a beber com eles o fruto da videira quando o Reino (salvífico) 
estiver implantado definitivamente (cf. Lc 22,14ss e par.). 
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Jesus, o homem por nós
Pouco sabemos de toda da vida de Jesus; pouco de sua infân-
cia e praticamente nada de sua adolescência, juventude e de sua 
vida adulta. Conhecemos, pelos Evangelhos, sua vida pública, de 
uns dois ou três anos. Ela é expressivamente significativa e dela se 
deve dizer: "Ele viveu fazendo o bem" (cf. At 10,38). Ele viveu para 
servir (Mc 10,45). Esvaziou-se de si mesmo, de seus interesses e 
egoísmos para pôr-se a serviço dos outros. Não lhe importaram a 
fama (cf. Mt 9,10-13), o dinheiro, a segurança pessoal (cf. Mt 8,20; 
Lc 16,13). Não buscou para si o poder. Abriu mão da segurança de 
uma residência, do autossustento, do conforto e até da própria 
família. Inclusive da constituição de uma família própria. Fez de si 
um Homem livre para amar. Para pôr-se à disposição dos outros. 
Fez sua vida em prol dos outros. Porque havia centrado sua vida 
em Deus, viveu para os outros. 
É do seu ensino que decorre a afirmação de 1Jo 4,20: “Quem 
diz que ama Deus, mas esquece o irmão é mentiroso". Jesus radi-
calizou seu amor por Deus e pelos outros. Sua preocupação mais 
radical ainda foi o ser humano necessitado. Fez do seu, um amor 
amplo que se tornou universal: amou a todos, a exemplo de seu e 
nosso Pai. 
Frente aos outros, foi sincero e serviçal (Lc 22,27). Aproxi-
mou-se desinteressadamente dos pobres, dos excluídos, dos do-
entes, dos perdidos. Buscou os pecadores, os desolados. Acolheu 
os fracos e os impuros (cf. Mc 1,23-38; 40-45; 5,25-34). Defendeu o 
povo humilde e explorado (Mc 6,34; Mt 9,36) e até oprimido pela 
religião (Mt 23,4). 
Da sua relação com Deus, brotou um empenhativo amor pe-
los outros. Fatigou-se para atender a todos. Foi solicito para com 
os que o procuravam. Procurou quem não podia procurá-lo (por 
causa das discriminações legais). Sofreu e chorou com os sofredo-
res. Animou as amizades. Devolveu a autoestima. Soube confiar 
até o extremo (mesmo da traição). Criou novas formas de convi-
© Cristologia150
vência. Descobriu princípios mais convincentes e profundos na Lei 
e nos Profetas, não veio para mudá-los, mas para aperfeiçoá-los 
(Mt 5,17). Oportunizou novos vínculos de solidariedade para com 
o próximo (que era gente real, não objeto de discurso). Lembrou 
os mandamentos fundamentais do amor a Deus e ao próximo. 
Como viveu para servir, deu o mandamento aos discípulos, que 
eles o imitassem no serviço (cf. Jo 13,15). 
Da sua relação com Deus, gerou forças libertadoras para os 
que o procuravam, inclusive para os ricos que o convidavam para 
seus jantares (esnobes): em suas casas também deveria entrar a 
salvação. Para isso, era preciso que eles nascessem de novo em 
espírito e verdade (Jo 3,3).
Valorizou-lhes a fé (como a do oficial romano, pai da me-
nina morta, Lc 7, 9-10); atendeu o jovem rico por quem depois 
se entristeceu (Mt 19,22; Mc 10,22). Desmascarou as armadilhas, 
para que as "ovelhas perdidas da casa de Israel" também tivessem 
oportunidade de retornarem ao bom caminho. Na aparente rejei-
ção à própria mãe e aos irmãos indicou o caminho mais nobre que 
"apenas" o de sangue e foi assim que sua mãe se tornou discípula 
Dele (cf. Mt 12,50). De modo igual, o texto sagrado fala de seu ir-
mão Tiago, que depois se tornou bispo de Jerusalém.
Como ensinara ao amor aos inimigos (cf. Mt 5,4ss), assim 
também viveu e suplicou o perdão do Pai por aqueles que o cruci-
ficavam (cf. Lc 23,34).
Jesus, o homem por Deus e por nós
Foi Jesus verdadeiramente um ser da raça humana, como 
nós e se autocompreendeu como humano a partir de Deus. Por 
isso exatamente viveu pela causa de Deus.
Ele existe por causa de Deus. Sua vida, por causa de Deus. 
Deus é seu centro. Então o querer, o pensar e o agir de Jesus são 
discernidos a partir de Deus: "Vim para fazer a tua vontade, o Pai" 
(cf. Jo 6,28); "não se faça a minha, mas a tua vontade" (Lc 22,42; 
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Mc 14,36). O simbolismo da eleição do Pai no batismo e na transfi-
guração, além de indicar o motivo da "eleição" divina, pode apon-
tar outro sentido:
Jesus foi eleito porque se deixou (parece ser uma questão passiva) 
eleger. Se assim é, é porque Ele se fez todo de Deus (questão ativa). 
Deus elege todo ser humano para ser seu filho (no Filho, inclusive 
desde antes da criação – cf. Ef 3,3ss). Jesus, o nascido de mulher (Gl 
4,4), Filho de Davi segundo a carne (Mt 9,27), compreende profun-
damente que a razão de seu ser era fazer a vontade de Deus. Só a 
partir de Deus é que Ele se autoconcebe. Deus é seu único Senhor. 
Fazer sua vontade é realizar-se de modo pleno como humano. 
Como São Paulo afirma, Jesus é o ser humano novo, o novo 
Adão (etiológico e/ou histórico). 
Na verdade, Nele nós encontramos não só o "ser humano 
novo", mas o iniciador da humanidade nova. Nele temos a origem 
e o destino final do ser humano pessoal e coletivo. Nisto, Jesus 
humano-divino é o modelo e o exemplo da filiação divina.
É por isso que o Vaticano II, na GS, 22, ensina que só Ele nos 
revela quem verdadeiramente somos. Por estar totalmente aberto 
a Deus, e isto faz a diferença entre nós, Ele pôde pôr-se a serviço 
dos homens e mulheres de seu tempo (Ele é de todos os tempos) 
(cf. Mc 10,45). 
Se o povo de então se sentia atraído por Ele, procurando até 
tocá-lo para ser curado, o ouvia por saber que Ele falava com auto-
ridade e reconhecia Nele alguém vindo de Deus. Porque percebia 
Nele alguémtão humano, se divisava, em sua pessoa, os traços 
divinos que Deus sonhou para todo ser humano. Primogênito den-
tre os irmãos revelava isto em sua vida toda dedicada a Deus, toda 
em favor dos irmãos. Enfim, era realmente humano, mas de um 
modo diferente. Diferente porque foi verdadeira e profundamente 
humano. 
Um teólogo alemão, H. Schürmann, caracterizando esta soli-
dariedade de Jesus pelos outros, cunhou o termo "pró-existência". 
Da vida totalmente voltada para o Pai, Jesus viveu o amor de Deus 
inesgotável para o ser humano. Ele fez-se livre para servir. 
© Cristologia152
Jesus não apenas testemunhou o tão grande amor de Deus 
por nós, mas deu o exemplo de viver por nós e para nós. Existiu 
para Deus e para nós. Mais que atos de benevolência e/ou bonda-
de, Ele viveu movido pela solidariedade radical, que não substitui 
o outro, nem o limita. Mas, viveu para promover, elevar e dignifi-
car o outro a ponto de dar a vida por nós e por Deus. 
Compreendendo-se como um ‘homem para os outros’ (pró-
-existente), Jesus adquiriu progressivamente maior consciência de 
sua missão e de seu papel de mensageiro do Senhorio de Deus. Foi 
descobrindo-se "Filho amado de Deus". Por isto "deu a vida em 
resgate de muitos" (cf. Mc 14,24; Mt 20,28). 
Informação Complementar –––––––––––––––––––––––––––––
Neste seu modo humano de viver, os primeiros cristãos da Palestina vão desco-
brir o inaudito em Jesus: este Jesus, escolhido por Deus, é nosso salvador. Por 
Ele atingiremos nossa realização humano-escatológica. 
Os cristãos da América Latina, na sequência dos tempos atuais, o descobriram 
como libertador dos oprimidos (e se vai descobrindo que Ele deve ser libertador 
também dos opressores de todos os tipos, inclusive religiosos e fundamentalis-
tas). 
Já na África negra, os cristãos o encontram como o “bem” e o grande “Ancestral”, 
que cuida da vida, saúde e felicidade da comunidade; como o “mestre da inicia-
ção” a ensinar e introduzir os “menores” (iniciantes no radical sentido da vida). 
Ainda os negros por toda parte o perceberam como o grande discriminado. 
Os cristãos provenientes do hinduísmo olham para este homem Jesus que olha 
para eles e o reconhecem como o grande líder espiritual (guru) ou um grande 
avatar, capaz de, como Deus universal, encarnar-se para eliminar os males do 
mundo e despertar a bondade por toda parte. 
Para os indianos, vindos de grandes e permanentes sofrimentos, Jesus é Aquele 
que é capaz de reconstituir a unidade do cosmo por causa de sua ressurreição e 
dar o sentido pleno do amor abnegado, mesmo de dentro do sofrimento. 
Para chineses, Jesus pode representar o amor dolorido de Deus, capaz de re-
conciliar e redimir, por uma vida de bondade que leva à sempre maior comunhão 
da humanidade inteira. 
As mulheres, especialmente na teologia feminina, querem ver ressaltar em Jesus 
a antropologia integrativa do masculino e do feminino de cada ser humano. 
Assim, outros homens e mulheres vão prolongando cristologicamente, pelos 
tempos a fora, o signifi cado que Jesus deu à sua vida: ‘vida pelos outros’.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
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© U5 - Cristologia sistemática
O que você acabou de estudar na Informação Complementar pode 
ser aprofundado com o auxilio de inúmeros livros e revistas. In-
dicamos alguns: KESSLER, Hans; BOURGEOIS, Henri. Libertar 
Jesus: cristologias atuais. São Paulo: Loyola, 1989. 
A tão inaudita dedicação de Jesus por nós o levou a se tornar 
homem sem pecado. Condiciona-se a si mesmo e a sua causa por 
Deus e pelos outros: não há espaço para idolatrias, interesses pró-
prios. Tudo Nele se torna de Deus e para Deus, por nós e para nós. 
Jesus é capaz de continuar um processo de autoesvaziamen-
to, sem se tornar alienado ou alienante. Ele é senhor de sua von-
tade, de seu querer, de seu agir, de seu saber (aprender) e de sua 
liberdade. De modo tão senhor de si, torna-se capaz de ser todo de 
Deus e viver inteiramente por nós. Ele mesmo traduz deste modo 
o quanto Deus é bom para com seus filhos e filhas, a ponto de se 
aproximar de todos para garantir a incondicional salvação. 
É por isto que se pode dizer: em tudo, Ele foi igual a nós, me-
nos no pecado. Como Deus não poderia pecar. Mas, como homem, 
sim. Não pecou porque viveu inteiramente para Deus e por nós. 
Todavia, foi tentado como nós o somos. Ninguém está isento da 
tentação. Mas, todo ser humano pode também, como Jesus, não 
pecar porque se é livre.
Iluminados pela ressurreição, os apóstolos descobriram que 
Naquele que "vós, homens de Israel, matastes, crucificando-o pe-
las mãos dos ímpios, Deus o ressuscitou. Ele era um homem pro-
vado por Deus diante de nós como milagres, prodígios e sinais" (cf. 
At 2,23). 
Neste homem, a Igreja descobriu não só o messias de Deus, 
mas Deus mesmo entre nós, o Emanuel. No homem Jesus, a Igreja 
descobriu Deus encarnado. 
O homem Jesus de Nazaré revelou em sua humanidade tal grande-
za e profundidade que os Apóstolos e os que o conheceram, no fi-
nal de um longo processo de decifração, só puderam dizer: humano 
assim como Jesus só pode ser Deus mesmo. E começaram então a 
chamá-lo de Deus (BOFF, 1997, p. 193). 
© Cristologia154
Não foram os apóstolos, nem a Igreja que divinizaram o ho-
mem Jesus. Não o fizeram um deus, como procediam os romanos, 
os gregos e outros mais. Ao contrário descobriram que no Homem 
Jesus, Deus se fizera um de nós, por nós e para nós. Foram os após-
tolos e a Igreja nascente que precisaram de novos critérios e con-
ceitos para compreender Jesus e o próprio Deus. 
7. O DESTINO DE JESUS: A MORTE
Para muitos cristãos, a morte de Jesus, na cruz, para nos sal-
var de nossos pecados é a razão última de Ele ter-se feito humano 
entre nós. Só pela cruz, Ele seria o nosso salvador. No entanto, esta 
reflexão (estaurologia), utilizada sobretudo no segundo milênio, e 
a piedade popular deram uma importância tal que parece isto ser 
a verdade plena e quase única. 
Inúmeros teólogos centralizaram todos os estudos cristológi-
cos nesta ótica. Evidentemente, a questão da morte de Jesus pas-
sou a ter novas interpretações. 
Hoje, um número significativo de cristólogos tem preferido 
fazer seus estudos centrados no significado global da vida de Je-
sus, desde seu nascimento até a ressurreição. Mas isto é questão 
para outro momento de nosso estudo. E agora importa ver este 
grande tema do destino de Jesus, detalhando as teologias de sua 
morte e ressurreição, que será analisado no próprio contexto do 
Verbo feito um de nós, para nossa salvação. O tema está localizado 
no todo da vida de Jesus. 
 
É importante que, neste momento, você retorne ao tema estudado 
nas unidades bíblica e dogmática sobre a morte de Jesus. Feito 
isto, retome o estudo, porém, com uma ótica mais abrangente, 
como resposta para o nosso tempo. 
No decorrer da história teológica, foram elaboradas diversas 
teorias sobre a morte de Jesus. Todas elas procuraram fundamen-
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tar a fé daqueles que o buscaram, nas circunstâncias de tempo e 
espaço em que viveram. 
A morte de Jesus, na grande tradição eclesial
Muitos cristãos creem que o Verbo eterno se fez humano 
para morrer na cruz, a fim de reparar a tão grande ofensa feita a 
Deus por nossos pecados. Só um ser perfeito (na verdade, o pró-
prio Filho de Deus) poderia satisfazer, por nós, a ira divina (teoria 
da satisfação, cujo autor mais importante é Santo Anselmo). 
Outros cristãos pensam que a morte de Jesus tornou-se um 
mérito nosso junto a Deus também para conquistar o preço do 
perdão (teoria do mérito). Fundamentados na Bíblia, outros pre-
ferem enfatizar a morte de Jesus como um sacrifício pelos nossos 
pecados. Um sacrifício que poderia selar a aliança nova e definitiva 
dos homens e Deus (a ênfase na eucaristia traz esta ideia muito 
viva). 
Contudo, o sacrifício de Cristo poderia ser entendido em vis-
ta da expiação de nossos pecados (ideia forte decorrenteda Epis-
tola aos Hebreus). Ainda poderia ser o sacrifício do Servo sofredor, 
que carrega os pecados do mundo e cujo sangue era derramado 
por muitos (teoria do sacrifício). Finalmente um quarto grupo de 
cristãos dá valor à ação de Deus, que por meio da morte de Jesus 
nos resgata, nos redime de nossos pecados (teoria do resgate).
As duas primeiras (teoria da satisfação e do mérito) são gran-
des explicações que alimentaram a fé dos cristãos a partir de inter-
pretações teológicas. As outras duas (da expiação e do sacrifício) 
também marcam a fé cristã e tem seu fundamento, especialmente 
na tradição bíblica. 
Estas teorias têm grande valor para interpretar a ação salví-
fica de Jesus. Elas podem ser estudadas em muitos textos e livros, 
como se indicará ao final desta unidade. É importante ressaltar: 
elas têm sua validade ainda hoje; porém, são encontrados muitos 
limites nelas – que não podem ser ignorados. 
© Cristologia156
Todas elas enfatizam a morte na cruz, por causa do pecado, 
o que não deixa de ter sua verdade. Elas, porém, têm o limite de 
perceber o significado de vida de Jesus, apenas em sua morte. Ele 
existiu por causa dos pecados a serem redimidos pela sua mor-
te. Hoje, também, continua-se percebendo a riqueza de cada uma 
delas. Nota-se, porém, que elas devem ser assumidas de modo 
conjunto e não isolado para manterem a validade global, mesmo 
que ainda limitadamente.
Elas foram importantes nos séculos passados e alimentaram 
a fé cristã. Hoje, influenciadas por novos estudos bíblicos (e até 
históricos), elas não têm todas as possibilidades interpretativas 
bíblicas e, sobretudo, não são tão convincentes para os tempos 
atuais. 
Tomadas isoladamente, estas teorias fazem aparecer, de 
modo indireto, Deus como alguém (um grande senhor feudal ofen-
dido) que exige a reparação das ofensas contra Ele. É necessário 
que alguém satisfaça tal exigência ou conquiste méritos diante 
Dele, movendo seu coração para o perdão. 
Vencendo a piedade popular medieval, que enfatizava o 
medo, o sofrimento e pecado, consegue-se, hoje, fazer uma leitura 
bíblica mais global. E desta leitura se compreende o significado da 
cruz como resposta de amor de Jesus e, mais amplamente, o sig-
nificado da cruz no contexto de toda a vida de Jesus para a nossa 
salvação. 
Aqui, de modo algum, se quer negar o valor salvífico da mor-
te de Jesus na cruz. Apenas está se chamando atenção crítica para 
a insuficiência das teorias históricas e/ou da não exclusividade das 
duas predominantes teorias bíblicas. 
Desde Tertuliano, em linha oposta a Irineu de Lion, começa 
gradativamente a passar para o centro da sotereologia a questão 
do pecado e do perdão. Daí se origina, somada à contribuição me-
dieval, o atual significado da centralidade na cruz (e a quase eli-
minação de outros significados soteriológicos). A cruz e o pecado 
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pareceram ser o sentido e a razão da encarnação. Todavia, a cris-
tologia atual, inclusive por influência do Vaticano II, tem reencon-
trado outros significados, que estavam latentes nos textos bíblicos, 
tanto para a encarnação quanto para a cruz. 
É fato que pela cruz se estabelece a redenção dos pecados 
(a salvação em sentido positivo vai mais além do que esta positiva 
realidade negativa). A cruz é sinal do amor e doação tanto de Jesus 
quanto da Trindade.
Mas era ela necessária? Santo Tomás já respondeu à ques-
tão: não se trata de uma possibilidade. Ela é o fato, a realidade. 
Poder-se-ia perguntar, então: ela foi querida por Deus e buscada 
por Jesus? E a resposta absoluta é: "não". 
A cruz é uma consequência de atos humanos, de modo ime-
diato dos chefes romanos, instigados pelos líderes judeus de en-
tão. A decisão da morte na cruz, sócio-politicamente, é consequ-
ência dos conflitos decorrentes da pregação de Jesus, da rejeição 
humana (de todos os tempos) à sua mensagem e da condenação 
política e religiosa. Desde a perspectiva judaica, podem-se inferir 
duas situações imediatas: a desautorização da pretensão de Jesus 
(“maldito todo aquele que pende na cruz”), e a eliminação de mais 
um profeta. 
Os textos neotestamentários apresentam diversas teologias 
da crucifixão e morte, como as citadas anteriormente. A tradição 
de produzir novas explicações, sem contrariar o texto bíblico, tem 
sido a rica experiência da Igreja, para responder, na fidelidade à fé, 
às questões humano-religiosas nos diversos tempos. É por isto que 
a cristologia se torna um conhecimento dinâmico. Ela atualiza a fé 
circunstanciada, mas sem nunca perder a referência normativa da 
Bíblia Sagrada.
Agora, vamos aprofundar as quatro teorias mais significati-
vas da tradição da Igreja sobre a morte de Jesus: 
© Cristologia158
a) teoria do sacrifício;
b) teoria da redenção e resgate;
c) teoria da satisfação;
d) teoria do mérito.
Teorias bíblicas
Teoria do sacrifício 
A ideia de sacrifício e da vitimização sacrificial estava presen-
te no povo hebreu, tanto do Antigo Testamento quanto do Novo 
Testamento. Ela expressa, sobretudo, a fé em Deus. Oferecia-se 
a Deus uma vítima para sacrifícios de aliança, de holocausto, de 
expiação pelos pecados ou de louvação.
O sacrifício, nas diversas representações, teve como inten-
ção a vontade de entrar ou de permanecer em comunhão com 
Deus, render-lhe graças, pedir perdão ou louvá-lo. O sacrifício era 
também celebrado como memória atualizante dos gestos passa-
dos. Ele assegurava a certeza da presença perene de Deus e de 
sua assistência divina junto ao povo. Também por meio do sangue 
da vítima se julgava aplacar (ainda que provisoriamente) a ira de 
Deus, ferido pela maldade humana. Inocente era a vítima a ser sa-
crificada pelo pecador, apesar de que Deus, por meio dos profetas, 
insistia na pureza de coração, na hombridade dos atos pessoais: 
corações puros! Os cânticos isaianos do Servo sofredor expressam 
bem o significado do sacrifício. Sua teologia se torna clara, sobre-
tudo, no texto de Is 53.
No caso da morte de Jesus, o sangue derramado "por nós 
homens e pela nossa salvação" como iniciativa de amor de Jesus 
em oferta ao Pai, tornou-se, em realidade, o dom supremo do Pai 
à humanidade (cf. Rm 3,24-26). Seu valor implica no oferecimento 
de nossas vidas, como sacrifício vivo, santo e aceito por Deus (Rm 
12,1), em favor dos irmãos.
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© U5 - Cristologia sistemática
A morte de Cristo é, ao mesmo tempo, sacrifício e expiação, 
pois o ser humano é incapaz de reparar, por si só, seu pecado. Não 
pode satisfazer a justiça divina ultrajada. Só Cristo pode fazer isto 
de modo pleno e eficaz. Ele substitui os homens. 
O mundo bíblico estava baseado na cultura de sacrifícios 
cruentos e expiatórios, e na cultura romana, com base às questões 
legais de justiça. A morte de Jesus recebe a interpretação teológica 
adequada da teoria do sacrifício.
 Mais profundamente, porém, no existir humano, o sacrifício 
evidencia a ideia de doação de si mesmo, a ponto de morrer doan-
do sua vida por nós.
A válida ideia de outrora evidencia hoje um limite no aspec-
to vindicativo e cruento, por não se coadunar com a bondade de 
Deus. O valor da ideia também contém um limite: seja por ignorar 
a misericórdia de Deus seja por não levar em conta a ressurreição 
de Jesus.
Teoria da redenção ou do resgate 
A teoria da redenção ou do resgate também é bíblica como 
a anterior. Estava ligada à ideia de escravatura e libertação. Para 
alforriar um escravo era preciso pagar seu preço. Seguindo a lei do 
Antigo Testamento, o parente mais próximo do "escravizado" tinha 
a obrigação de pagar seu resgate, redimindo-o.
Cristo é o parente mais próximo do ser humano, que está es-
cravizado pelo seu pecado. Só Cristo é livre, porque vem de Deus, e 
por isto pode pagar o preço devido. Aliás, o próprio Jesus se apre-
sentou como resgatador e libertador (cf. Mc 10,45; Mt 20,28). Isto 
também fica claro nos textos de 1Tm 2,5-6; Tt 2,14. 
Os textos de Gl 3,12;4,5; 1Cor 6,20; 7,22-23; Ap 5,9-10; 14,3-
4, falam de pagar o resgate a quem Deus deveria nosso preço (é 
daí que surge a "teoria do direito do demônio"). O resgate se es-
tabelece entre Deus e o demônio numa situação salvífica supra-
-histórica. A morte de Jesus seria o preço da reaquisição da liber-
© Cristologia160
dade humana. Todavia, na história, o homem permanece sempre 
em situação de risco e da perda da liberdade. Isto, hoje, dificulta a 
plena aceitação da teoria.
Teorias teológicas
Teoria da satisfação 
Este tema já foi comentado anteriormente ao se falar da cris-
tologia de São Anselmo. 
Volte e releia o texto na Unidade 1, item 2, para perceber melhor o 
sentido desta teoria. 
Se o homem ofendeu gravemente a Deus, é necessário que 
Deus se faça humano para poder reparar de modo infinito a ofensa 
feita. Cristo, em nosso lugar (daqui vai surgir a teoria da satisfação 
vicária), é o único capaz de satisfazer adequadamente Deus ofen-
dido. A pena do pecado é o sofrimento e a morte de Jesus na cruz. 
Deus castiga Jesus, que morre por nós – em vista do nosso pecado 
– e assim a justiça divina é recomposta. Fomos curados graças ao 
seu sacrifício e à sua morte na cruz.
Esta teoria, hoje, deixa de ter tanto valor, mesmo num orde-
namento jurídico, por enfatizar um mecanismo atroz de pagamen-
to do mal por outra situação maldosa. Isto não se harmoniza nem 
com a experiência humana de Jesus e nem com nossa experiência 
diante de Deus. Entretanto, a teoria mantém seu significado per-
manente à medida que se descobre a solidariedade de Cristo por 
nós, a ponto de dar sua vida em busca da mais completa fidelidade 
ao Pai.
Teoria do mérito 
A morte de Jesus obtém, alcança, para nós, não só o perdão 
dos nossos pecados, mas também restaura a ordem perturbada 
pelo mal. A morte cancela, destrói, a desordem do pecado e nos 
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© U5 - Cristologia sistemática
garante a renovação da ordem perdida, abrindo a possibilidade da 
ressurreição, da vida nova. Deus aceita, como radical adesão hu-
mana à sua vontade divina, a santidade de vida nossa vivida mes-
mo na dor e no extremo da morte de seu Filho, que nos "merece" 
assim a salvação. Se "adão" criara seu deus, seu ídolo, fazendo 
exatamente o contrário da vontade divina, agora, Cristo o recupe-
ra em amor tão grande, assumindo a morte na cruz, e “merece”, 
obtém o perdão dos pecados e a salvação para todos. 
Informação Complementar –––––––––––––––––––––––––––––
Estas quatro teorias, que predominaram e predominam na teologia e na vida 
da Igreja, nem sempre são “convincentes” na atualidade para muitos cristãos. 
Vários teólogos têm proposto novas interpretações.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Iremos enfatizar aqui apenas duas razões teológicas, a partir 
do pressuposto sotereológico da cruz e não toda a sotereologia da 
encarnação do Homem Deus. 
Teoria da entrega ou da solidariedade
A teologia da entrega, também compreendida como solida-
riedade, é uma das interpretações mais fortes na cristologia atual. 
Ela predomina em autores como: Karl Rahner, Christian Duquoc, 
Edward Schillebeeckx e Jon Sobrinho. 
A morte de Jesus só tem significado mediante sua relação 
com Deus e conosco. Nesta relação surge uma teologia da entrega 
ou da solidariedade (significado antropológico), que foi o modo de 
Jesus viver e entender sua morte: A “entrega Dele por Deus e por 
nos" é uma questão muito presente nos evangelhos. 
O próprio Jesus indica que o Filho do Homem vai ser entre-
gue às mãos do Sinédrio, dos pagãos. Ele será escarnecido, flagela-
do e morto (cf. Mc 14,41). Ele viveu a condenação e a morte como 
autoentrega a Deus e a todos os homens, como consequência de 
sua vida terrena (pró-existência). Jesus deixou-se levar de mão em 
mão: traído por Judas é entregue aos soldados, que o entregam 
aos sumos sacerdotes, que o entregam ao Sinédrio, que o entrega 
© Cristologia162
a Pilatos e Herodes, que o entregam aos soldados para o crucifi-
carem. 
Abandonado por todos (incluídos aqueles a quem dedicara 
sua vida), e em sua extrema solidão, Jesus entrega, num grito lan-
cinante, seu "ruah" ao Pai (cf., Lc 23,46; Jo 19,30). Paulo, interpre-
tando, para sua comunidade, sintetiza: "Minha vida presente na 
carne, eu a vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entre-
gou a si mesmo por mim” (Gl 2,20; cf. Ef 5,2.25; Tt 2,14). 
A entrega de Jesus, pelos sofredores e pecadores, na con-
denação e na cruz, é um adentrar-se na extrema miséria humana, 
com todas as consequências perversas e diabólicas. Jesus sofre e 
morre pelos homens e mulheres oprimidos e sofredores de todos 
os tempos. Sua entrega também nas mãos dos opressores e inimi-
gos (de Deus e dos irmãos) é também um gesto de solidariedade 
radical (Ele não apelou à violência) em favor daqueles que são ví-
timas de seus próprios pecados, para permitir-lhes que se afastem 
do mal que fazem e se reconciliem com Deus (cf. Mt 23,33). 
Na paixão e morte, o significado da pró-existência de Jesus 
se torna translúcido porque Ele entrega sua vida pelos que sofrem, 
pelos que são excluídos. Também a entrega, pelos opressores e 
injustiçadores. O paradoxo não é ambiguidade, mas um profundo 
ato salvífico, cujo significado não se dá nas estruturas humanas. Só 
um homem-Deus poderia agir assim.
Significado da entrega 
Nesta teologia da entrega ou da solidariedade descobre-se 
um segundo aspecto: o significado teológico. Deus mesmo entre-
gou seu Filho único. Deus o entregou ao mundo para salvar o mun-
do. Não poupou o próprio Filho, para evidenciar o quanto nos ama 
(cf. Rm 4,25; 8,22; Jo 3,16s; Rm 8,31s). No Filho, é Deus mesmo 
que se entrega aos pecadores e às vítimas do pecado. Deus se en-
trega no seu Filho não por uma prepotência divina sobre o Filho, 
mas enquanto este radicaliza, como seu, o querer do Pai. Nem sua 
vida, nem sua morte lhe pertencem; elas pertencem ao Pai. 
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Deus, ao mesmo tempo, se entrega pelo Filho às mãos dos 
pecadores, para que estes consumam sua obra perversa. Sem os 
pecadores perceberem é, desde dentro da morte e do pecado, que 
Deus vai lhes redimir. A fé cristã professa que um da Trindade mor-
reu na cruz. Jesus crucificado é a Segunda Pessoa da Trindade. Na 
morte do Verbo encarnado, Deus entra em contato com o sofri-
mento sem se deixar sucumbir por ela (Jesus é ressuscitado pelo 
Pai, que destrói a morte). Por esta entrega, Deus nos redime da 
nossa morte. 
Sofrendo a morte de Jesus, em si mesmo, Deus se põe em 
contato inseparável e inalienável com o mais perdido pecador para 
redimi-lo. Nesta radicalidade da morte, Deus se revela quem é: Ele 
é amor (1Jo 4,8). É aquele que ama o ser humano, numa entrega 
total para que ninguém se perca (cf. Jo 3,16). Deus é Jesus e Jesus 
é Deus. Nesta identificação profunda e absoluta, compreende-se a 
relação exclusiva entre Deus e o homem Jesus, como Aquele que 
viveu por nós e para nós. Esta entrega à morte para vencê-la por 
nós e para nós significa a autocomunicação de Deus para o "não 
Deus” (o ser humano) de modo a atingir a plenitude na ressurrei-
ção do Filho. 
Esta entrega resume o significado do ensino de Jesus, que, 
antes de ser uma questão ética, é teológica: "Quem quiser salvar 
a sua vida, vai perdê-la. E quem perder a sua vida, a salvará" (Jo 
12,25). 
Teoria da representação 
A teologia da entrega, também compreendida como solida-
riedade, constitui, ao lado da categoria representação, uma das 
interpretações mais fortes na cristologia atual. 
É importante ressaltar, no tocante à morte de Jesus, a ex-
pressão: "por nós”, “por muitos”, “por vós” (cf. Mc 14,14; Mt 26,28; 
1Cor 11,24; Lc 22,19; Jo 6,51). J. Jeremias afirma que tal conteúdo 
(pro, por) tem tanto o sentido de "em favor de", mas também "no 
lugar de" (representação vicária). 
© Cristologia164
Sua entrega à morte é um serviço da libertação nossa fren-
te a todos os tentáculos do pecado, das opressõese da morte. É 
também uma entrega no lugar dos pecadores, necessitados e até 
dos inimigos e opressores. Neste sentido, pode-se, antes de leitura 
ética, compreender o texto de Lc 6, 27,35, como teológico e aplicá-
-lo ao sentido da morte de Jesus. Sua morte manifesta, de modo 
radical, o seu amor pró-existentemente. 
Informação Complementar –––––––––––––––––––––––––––––
Jesus morre não apenas em favor de nós, mas também em nosso lugar. Esta 
teologia tradicional, que mantém uma proveniência jurídica, tem sido renovada 
em grandes teólogos atuais: Wolfgang Pannemberg, Walter Kasper, Urs Von Bal-
thazar, Joseph Ratzinger, entre outros.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A morte de Jesus, como representação de um por muitos, 
não livra nem substitui a morte dos outros e muito menos a res-
ponsabilidade pessoal de cada um. Ela significa: 
• a libertação fundamental que Jesus produz no sentido de 
abrir as possibilidades de, doravante, vencer as escravi-
dões humanas (o mal, o pecado e a morte); 
• criar a possibilidade de uma vida nova em Deus. 
Jesus é o iniciador e condutor de uma nova humanidade, 
como "primogênito dentre muitos irmãos e irmãs (cf. Rm 8,29). 
A nova e verdadeira humanidade (o novo Adão) é marcada com 
o sangue de Cristo e não mais com o sangue do "velho Adão". Se 
antes o homem "velho" olhou para si, agora o "homem novo" é 
capaz de se esquecer de si, para fazer sua a vontade do Pai, e dar a 
vida para salvar os que o Pai lhe dera, pois nenhum pode se perder 
(cf. Jo 6,37-39). Jesus assume a missão confiada pelo Pai, com a 
dedicação extrema até a morte. E esta fidelidade o faz apresentar-
-se diante do Pai em nome de todos. 
Se na teologia da entrega, há dois níveis ou signifi cados:
1) a entrega de Jesus Cristo por nós (significado antropo-
lógico);
2) a entrega de Deus em Jesus (significado teológico). 
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Aqui, na teologia da representação também, há planos ou 
significados. No plano, antropológico, que é o mais fundamental, 
Jesus pode apresentar-se diante do Pai como todo o amor humano 
possível, até a morte, pela causa de Deus. 
Um dentre nós amou tanto a Deus quanto os seus irmãos, 
que se tornou capaz de representar, em si mesmo, toda a possibili-
dade humana de amor a Deus sobre todas as coisas, com todo en-
tendimento, com todas as forças, de todo o coração (cf. Lc 10,27). 
Um dentre nós foi capaz de transcender-se a ponto de dar a vida 
para fazer a vontade de Deus (a de não perder de nenhum dos 
irmãos). 
Se “Ele se entregou por mim” como diz São Paulo (Gl 2,20), 
oferecido por Deus a nós, também o caminho inverso ocorre. Nas 
atitudes deste filho da humanidade, nascido de mulher sob a Lei 
(cf. Gl 4,4), foi feita, não a vontade de Adão (cf. Gn 3, 6; Lc 22,42), 
mas a do Pai (significado antropológico). 
Visto que em sua vida e sua morte, Jesus é o ser humano verdadei-
ro que corresponde inteiramente a Deus, sendo, portanto, em seu 
relacionamento com Deus e os outros, o protótipo do ser humano, 
como tal, Ele representa em si todos os demais seres humanos, não 
como eles sempre são, mas como ainda deverão tornar-se; afinal, 
todos deverão conformar-se à sua imagem, e deverão fazê-lo atra-
vés da comunhão com Ele “por meio Dele”, “em” e “com Cristo” 
(KESSLER, p. 380). 
A morte de Jesus é, então, a possibilidade de Deus crer real-
mente no homem e a possibilidade de o homem encontrar em Je-
sus, como diz Ratzinger, a "representação afiançadora", que afirma 
Jesus como garantia da possibilidade de o homem voltar a Deus, 
entregar-se a Ele e recompor a aliança agora tornada definitiva 
pelo sangue na cruz. A morte de Jesus vence o pecado e seus po-
deres escravizantes, inclusive o amedrontamento da ira de Deus, 
e por Ele possibilitar, não substituir a própria entrega de cada um 
a Deus. 
© Cristologia166
O sacrifício de Jesus "pelos pecados do mundo inteiro” (1Jo 
2,2) é a mais pura representação do amor humano a Deus. A ofe-
renda do corpo de Jesus Cristo, realizada “uma só vez por todas", 
na cruz (cf. Heb 10,5-10), não apenas nos santifica, mas também 
nos apresenta como hóstias vivas de suave odor ao Pai (cf. Ef 5,2). 
Amando-nos até o fim, dando a vida por nós, seus amigos, 
fazendo-se um conosco, Ele se torna nosso representante junto ao 
Pai. Pois é seu desejo que onde Ele estiver, nós estejamos com Ele. 
“Ele uniu a si, de certo modo, todo homem” (GS 22,2). Deu assim 
a todos a possibilidade de se associarem ao seu Mistério Pascal (cf. 
GS 22,5). Chama os seus a tomarem suas cruzes e O seguirem (cf. 
Mc 10,39), dando-lhes o exemplo para que sigam os seus passos 
(cf. 1Pe 2,21). 
No outro plano, encontra-se o significado teológico. Deus 
aceitou o sacrifício único de Jesus como prova do amor humano. 
Deus nos vê pelo seu Filho, que é o nosso irmão. E quem poderia 
melhor representar o ser humano diante de Deus, senão o Ho-
mem Jesus? 
A cruz de Jesus não é o significado da quantidade de dor, 
mas a expressão maior da dedicação humana a Deus. Nela, o ser 
humano não precisa mais oferecer a Deus cultos e sacrifícios, san-
gue de animais ou bodes. Na cruz, não é oferecido nada de tudo 
quanto pertence a Deus. Nela, só é oferecido o que é próprio do 
homem: sua liberdade. 
A cruz torna-se, pois, a radical e inaudita oferta de liberdade 
humana, em sua capacidade máxima de amar a Deus. Porque a 
oferta (entrega) de Jesus na cruz ao Pai é uma ação humana de 
amor, que resposta pode Deus lhe dar senão também em amor? 
Deus só pode mesmo recriar a humanidade e o cosmo, começan-
do tudo de novo, e ressuscitar seu Filho. E torná-lo primogênito 
dos mortos.
 Conforme o Novo Testamento, a cruz de Jesus é um movi-
mento primeiro de cima para baixo, como diz Ratzinger (cf. Intro-
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dução ao cristianismo, p. 209). É nela que o Pai reencontra o velho 
e o novo Adão e os chama de volta ao paraíso. Jesus sintetiza em si 
a realidade humana (fizera-se até pecado por nós (cf. 2Cor 5,21) e 
era o Filho amado do Pai (cf. Mt 3,17; Mc 9,7). Numa síntese feliz, 
H. Kessler afirma:
Justamente em sua morte Ele representa, por isto, os muitos e os 
faz, através do efeito "multiplicador" da graça (2Cor 4,15), partíci-
pes de sua própria justiça de Deus (5,21). Esse, um ser humano, re-
presenta o lugar de Deus junto a todos os seres humanos e o lugar 
destes junto a Deus; ao invés de nos substituir, Ele mantém esse 
lugar permanentemente aberto para nós e nos introduz em sua 
própria atitude interior. A representação de Jesus contém, assim, 
um movimento exclusivo (que cabe unicamente a Jesus) e um in-
clusivo (que inclui e convida os outros) (KESSLER, 2000, p. 380-381). 
Inúmeras outras ideias e teorias foram apresentadas, mes-
mo recentemente, sobre a morte de Jesus. 
Assim, resumidamente temos quatro planos: 
1) Histórico: 
• condenado politicamente, por desacato ao Estado 
Romano (subversão) e messianismo/pretensão de re-
aleza;
• religiosamente, por causa da questão do "sábado";
• e da pretensão de filiação divina.
2) Bíblico: 
• Morte como sacrifício, redenção (resgate);
• Figura do servo sofredor, profeta mártir escatológico.
3) Teológico: 
• Deus o fez pecado por causa de nós;
• Como satisfação a Deus;
• Como mérito por nós junto a Deus;
• Por solidariedade e representação.
4) Sotereológico: 
• para o perdão dos pecados (dimensão negativa);
• para nossa salvação (dimensão positiva).
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Há uma imensa gama de interpretações. Todas elas têm (ou 
tiveram) sua validade. Não há uma que seja suficientemente glo-
balizante. Sempre são pontos de vistas que podem partir de uni-
versos sócio-culturais, religiosos ou teológicos diversos. 
As explicações teológicas, como as outras, estão condicio-
nadas ao tempo e às culturas. Elas não podem ignorar as de di-
mensão bíblica (morte por nós, como sacrifício e como resgate). 
Impuseram-se historicamente duas grandes teses teológicas (sa-tisfação e mérito). Na atualidade, aparecem também dois enfo-
ques predominantes: o da entrega (ou da solidariedade) e o da 
representação.
Contudo, o grande significado da morte de Jesus só pode ser 
compreendido a partir da dimensão sotereológica. Mesmo que 
ela tenha sido compreendida, no passado, prioritariamente como 
salvação e/ou redenção dos pecados; hoje se tende a perceber o 
caráter redentor da morte pelos pecados. 
Há uma forte ênfase em compreender toda a vida encarnada 
de Jesus Cristo (não apenas sua morte), como ação sotereológica 
(salvífica). 
Particularmente, aqui, são postas duas questões sobre a 
morte: o aspecto redentor dos pecados da humanidade e a solida-
riedade representativa de Jesus (um amor pró-existente: por Deus 
e por nós, homens).
8. O RESSUSCITADO: AUTORREVELAÇÃO DE DEUS E 
DO HOMEM
No início do século 20, os manuais de cristologia mal ace-
navam à questão da ressurreição. O tema não merecia mais que 
umas linhas, em complementação à morte do Senhor. A ressurrei-
ção era tomada como um fato que dizia respeito praticamente só 
à pessoa de Jesus, sem nenhuma incidência para a humanidade 
toda.
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Desde a metade do século passado, a partir da obra do fran-
cês François Durwell, "A ressurreição de Jesus, mistério da salva-
ção" (1950), redescobriu-se a importância do tema para a fé. 
Você terá, agora, uma oportunidade de aprofundar a refle-
xão cristológica sobre a ressurreição de Jesus. Inicialmente, en-
contrará, no texto, algumas questões que ajudam a dirimir alguns 
pontos para assim facilitar o entendimento desta maravilha divina, 
que não apenas continua a obra da criação, mas a recria e a leva a 
sua plenitude. 
Lembre-se de que sem a ressurreição a nossa fé é vã, como 
já dizia São Paulo.
Diante do tema fundamental da cristologia, a ressurreição, 
devemos, logo no início, eliminar algumas dúvidas e o faremos de 
modo incisivo:
a) A Igreja crê que Deus ressuscitou o crucificado. E o fez: 
• para desautorizar a rejeição e a condenação infligida 
pelos homens; 
• para evidenciar que a plenitude da vida só se encon-
tra em Deus mesmo;
b) A ressurreição de Jesus é um acontecimento escatoló-
gico, com incidência histórica. Portanto, não pode ser 
comprovado cientificamente e não existe nenhum outro 
caso conhecido na história. A ressurreição de Jesus não 
é como a de Lázaro (este voltou a viver esta vida terrena 
e depois morreu novamente). 
Vale lembrar que, reencarnação, reanimação de cadáver ou “expe-
riência de morte” em nada tem a ver com a ressurreição. 
O Novo Testamento não responde como era o corpo do res-
suscitado. Limita-se a dizer que o ressuscitado era Aquele Jesus 
que convivera com eles. Ninguém viu o momento da ressurreição, 
mas todos os que viram o ressuscitado sabiam (não só criam) que 
Ele era Aquele que vivera com eles e morrera crucificado. 
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A ciência só pode constatar a reação dos apóstolos e suas 
consequências (por causa da ressurreição). Não é competência 
científica pesquisar a ressurreição. Ela é um fato escatológico, não 
verificável empiricamente.
Os textos bíblicos sobre a ressurreição e as aparições, escri-
tos em tempos diferentes, por evangelistas com objetivos diferen-
tes, nem sempre se manifestam de acordo nos detalhes. Isto não é 
sinal de contradição ou desautorização dos fatos, mas experiências 
tão inauditas e surpreendentes que nem sempre os detalhes são 
importantes, como por exemplo: número de aparições e a quem, 
terceiro dia, o túmulo vazio, peixe assado etc.
A realidade do ressuscitado é nova e inaudita. São Paulo 
escreve que o corpo biológico (animal) se transforma em corpo 
espiritual. Não é des-encarnação ou i-materialização, mas corpo 
possuído pelo Espírito de Deus (cf. 2Cor 3,17). Não é vida histórica 
(1Cor 15,45), mas é vida vivificada e vivificante. É vida não mais 
para si, mas vida aberta como comunhão com Deus, com os outros 
e com o cosmo (mundo). É vida espiritual.
Quando, se escreve nos evangelhos que Jesus “pegou (to-
mou)" o pão, e o "comeu", mostrou "as chagas", "atravessou" pa-
redes, "subiu" ao céu, "falou" etc. quer se afirmar a concretude 
da identidade do ressuscitado, levando em conta a experiência 
dos ouvintes do evangelho e sua capacidade de compreensão. Isto 
aparece principalmente nos textos de Lucas, que escreve para os 
gentios e judeus helenizados. Os relatos da ressurreição, com ên-
fase na questão corporal, pretendem, sobretudo, afirmar que o 
ressuscitado é o mesmo crucificado, em sua totalidade, superando 
a dicotomia grega de corpo e alma: quem ressuscitou foi o Nazare-
no em sua totalidade agora espiritual.
Se quando nasce de um ovo, um passarinho ou, de uma se-
mente, uma planta, quem fica valorizando a casca do ovo ou da 
semente? O que passa a ter importância é a nova vida. Assim, tam-
bém procede o Novo Testamento sem se ater ao como era o novo 
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corpo. Mas, e se encontrassem o corpo de Jesus, dois mil anos de-
pois? É preciso lembrar: nossa fé não se baseia num cadáver, num 
morto, mas na realidade escatológica aceita pela fé. 
Portanto, a aceitação da ressurreição é um ato de fé religiosa 
(não é comprovação nem pela ciência). Ela é uma realidade esca-
tológica. E isto é o fundamento da fé cristã e da cristologia.
A "ressurreição de Jesus" não é uma ideia absurda. Nela, e 
para além dela, os cristãos encontram a explicação, racional e razoá-
vel, para os profundos anseios humanos. Eles afirmam: o ser huma-
no existe a caminho da plenitude da vida humana, que só se realiza 
em Deus, ao poder vê-lo face a face, sem nunca mais morrer.
A ressurreição de Jesus tem a ver com o futuro, mas já é vivi-
do na fé, hoje. Por isto o modo de viver Dele é algo desconhecido 
para nós: sabemos, no entanto, que Ele mantém a integralidade de 
sujeito humano, vivendo junto de Deus e como Deus.
Jesus ‘crucificado ressuscitado’ é quem tomou a iniciativa de 
se fazer ver. Suas aparições não são manipulações ou visões. Elas 
não dependem do ser humano.
Foi fundamentados na ressurreição que os apóstolos atemo-
rizados diante do fracasso e escândalo da cruz compreenderam o 
sentido global da ação de Deus (a ressurreição de Jesus) e destemi-
damente reabilitaram a causa e a pretensão de Jesus. A comprova-
ção disto está na presença do cristianismo, com sua contribuição, 
até hoje, por toda a parte do planeta. 
Significado teológico da fé na ressurreição de Jesus 
Depois dessas questões preliminares, com caráter apologé-
tico, é preciso aprofundar o significado teológico da fé na ressur-
reição. É importante ressaltar, desde o início, que seu caráter é 
singular, único, inaudito e inusitado. Nenhuma outra religião apre-
senta esta ideia, ou melhor, este acontecimento real, de dimensão 
escatológica, porém. 
© Cristologia172
A fé pascal é uma atitude pessoal do cristão baseada em 
suas próprias experiências (como o foi a dos apóstolos), mas fun-
damentada na tradição cristã, cuja origem está no relato bíblico 
do encontro dos apóstolos com o ressuscitado. A fé pascal não é 
só um ato de crer no que os outros (especialmente os apóstolos) 
disseram. 
Cada crente refaz, em seu coração, a experiência imediata 
do encontro com o Ressuscitado. Crê Nele como seu Senhor que 
está vivo e exaltado pelo Pai e é seu único salvador. A fé, que leva 
à experiência pascal, inclui a experiência de salvação (que pressu-
põe a graça do perdão) e a experiência de eternidade. 
Ela inclui crer que, no ‘crucificado ressuscitado’, Deus salvou 
definitivamente o ser humano, particularmente Jesus. Ele é a an-
tecipação de nossa salvação. O Pai levou Jesus à consumação (cf. 
Heb 5,9), cuja sequência lógica e de conteúdo encontramos nos 
resumos dos discursos de Pedro (kerigma da fé, cf. At 2,22-36; Heb 
12-26; 4,9-12; 10,34-43), mas epístolas (Rm 8,34s; Ef 1,22-23; 1Pe 
3,18-22) e nos “Credos” da Igreja. 
A fé pascal crê neste Jesusque passou pelo mundo fazendo 
o bem (At 10,38), que Deus estava Nele e com Ele, reconciliando 
consigo o mundo (2Cor 5,18), que Nele Deus esteve (e está) conos-
co (Emanuel, Mt 1,23). Ela crê que Ele nos revelou o Pai (cf. Jo 1,18) 
e foi constituído para a nossa salvação. Crê-se que, por Ele, Deus 
reinicia a humanidade e o cosmo de modo definitivo e último para 
a plenificação. E se crê, finalmente, por sua ressurreição, Deus nos 
deu o Espírito Santificador, o que nos conduzirá à nossa plenitude 
humana: viver em Deus. 
A fé pascal, contudo, tem uma implicação radical, que, aliás, 
decorre das próprias aparições do ressuscitado. É frequente es-
quecer que todas as aparições estão vinculadas ao mandato mis-
sionário. 
À medida que cristologia e a sotereologia foram se distan-
ciando entre si, também ficava mais patente o esquecimento do 
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sentido das aparições do ressuscitado. Jesus não apareceu como 
que para dizer "ressuscitei", mas para apelar à continuidade de 
sua causa, que era (é) a causa do Pai: "ide e pregai o Evangelho. 
Ensinai e batizai, fazei discípulos" (cf. Mc 15,15s; Mt 28,19ss). 
A missão é continuar o processo de antecipação histórica do 
Senhorio salvífico de Deus, sobretudo pelo testemunho. É preciso 
refletir: a ressurreição, a nossa vida histórica, faz sentido no cum-
primento do mandato missionário, pois em Jesus Deus reconcilia o 
mundo (Mc 16,16-20). 
A intencionalidade missionária das aparições indica também 
a dimensão comunitária da ressurreição. Quem a recebe deve co-
municá-la aos outros, a fim de que se vá constituindo o povo de 
Deus (dos batizados), desde então até o fim dos tempos. 
Vale lembrar que o evento da ressurreição é distinto do das 
aparições. Enquanto as aparições têm um caráter histórico, a res-
surreição é um acontecimento escatológico. 
Se as primeiras são acessíveis só a testemunhas previamente 
escolhidas e não a todos (cf. At 10,40), e não são proporcionais 
a outros acontecimentos humanos, a ressurreição é um aconteci-
mento em Deus, cuja singularidade diz respeito ao futuro do ser 
humano (mesmo com as implicações atuais, sejam pessoais, sejam 
comunitárias).
“Sei que meu redentor vive" é um brado de fé pascal. 
Mas como encontrá-lo hoje? Ao responder esta questão, Le-
onardo Boff diz com propriedade, lembrando que "o cristianismo 
não vive de uma saudade, mas celebra uma esperança”. O autor 
enumera várias maneiras da presença do ressuscitado hoje: 
a) no Cristo cósmico pertinente à terra e ao próprio cosmo; 
b) no ser humano (o maior sacramento de Cristo); 
c) nos cristãos anônimos e latentes; 
d) nos cristãos explícitos e patentes; 
e) na Igreja (sacramento primordial da presença do Senhor). 
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É importante você ler agora, em BOFF, Leonardo. Jesus Liberta-
dor. Petrópolis: Vozes (várias edições), os capítulos: “Onde encon-
tramos o Cristo ressuscitado hoje?” e “Como vamos chamar Jesus 
Cristo hoje?” Lembre-se de que o contexto sociocultural do livro já 
não é mais o do tempo atual, mesmo nas reedições do autor. 
As aparições de Jesus (1Cor 15,5-8), sua ascensão, exaltação, 
entronização à direita do Pai ou recuperação da glória que detinha 
antes da encarnação (cf. Jo 17, 5; 1Tm 3,15) etc., são variações 
bíblicas que interpretam o mesmo fato básico da ressurreição, em 
ângulos diferentes de tempo e objetivos, que a própria liturgia tem 
sabido em explorá-los dentro do único mistério pascal. 
Como diz C. Duquoc: "Nas experiências da Páscoa se ligam 
assim visão, audição, êxtase. Páscoa, Ascensão e Pentecostes se 
juntam sob a força do Espírito”. (In: LACOSTE, 2004, p. 1533). 
Significado teológico da ressurreição
A ressurreição é fator determinante não só da fé. Ela o é 
também da cristologia. Só à luz da ressurreição é que se faz cristo-
logia, pois só ela revela a identidade de Jesus e seu papel salvador. 
"Se Cristo não ressuscitou, vã é a nossa pregação, vã é a vossa fé" 
e “ainda estais em vossos pecados, e os falecidos estão perdidos" 
(cf. 1Cor 15,14.17s).
Ressurreição, como ação de Deus: conteúdo teológico
Na ressurreição de Jesus, Deus se revela quem realmente Ele 
é: "amor". Amor que se comunica, sobretudo por meio de seu Fi-
lho, que é a situação pessoal, definitiva e eterna do encontro entre 
Deus e o homem. O Filho se torna a ocasião da revelação de Deus 
e da plenificação do ser humano. 
"Se a encarnação é um ato pelo qual o Senhor se faz servo, a 
ressurreição é o ato pelo qual o servo é constituído Senhor". (CAR-
DEDAL, 2001, p. 487)
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É por isto que se diz do Deus de Jesus: "Ele é senhor dos vivos 
e dos mortos" (Mc 12,27), "Deus para nós é um deus de salvação; 
só o senhor Deus pode libertar da morte" (Sl 68,21). Libertando da 
morte, Deus ressuscita, primeiramente, seu Filho e depois todos 
os outros (cf. 2Cor 1,9).
Como ação de Deus, a ressurreição completa, consuma, a 
obra criada. Em Jesus Deus supera a morte e faz o ser humano vi-
ver para sempre, irreversivelmente diante Dele. Jesus ressuscitado 
é constituído o pai desta nova humanidade, cuja plenitude é par-
ticipar da vida de Deus. Por outro lado, pela ressurreição de Jesus, 
Deus se aproxima da humanidade, recusa toda injustiça e rejeição, 
sobretudo quando feitas contra os crucificados da história; rejeita 
as forças do mal e garante a salvação do ser humano. Salvar é algo 
inerente a Deus. Por isso chama à vida não mais histórica, porque 
esta é limitada e contingente, localizada e finita; chama à vida im-
perecedora, que é vivificante, universalmente personalizante. Seu 
poder derrota a morte (todas as espécies de morte).
Na ressurreição de Jesus, o primeiro sinal que os discípulos 
compreendem é: Deus atuou Nele, ressuscitando-o (cf. os discur-
sos de Pedro nos Atos dos Apóstolos). Ao proceder assim, Deus 
culmina sua autorrevelação como Deus da vida e que se "intro-
mete" na vida humana a fim de que ela atinja sua plenitude. Ao 
ressuscitar o crucificado, restitui sua glória anterior colocando-o à 
sua direita. O prolongamento da ressurreição dos outros homens 
é a comprovação que nem a morte, nem o ser humano e nem a 
própria história tem a última palavra. 
O Deus vencedor da morte é o futuro do ser humano, pois 
Ele é fiel à sua palavra. Diante da ação do ressuscitamento de Je-
sus, todo homem e toda mulher podem crer que o mal, o pecado 
(injustiça, miséria, opressão) e a morte não têm consistência em si 
mesmos, apesar das aparências históricas. Esta ação de Deus reve-
la de modo definitivo que Ele é "Deus conosco" (Mt 1,23) e “estava 
no seu Cristo e reconciliou consigo o mundo (cf. 2Cor 5,18).
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A ressurreição, com revelação de Jesus: conteúdo cristológico 
Confirmadas por Deus, a pessoa, a vida e a obra de Jesus, 
Ele é revelado agora como o Adão definitivo, primogênito dentre 
os vivos e mortos, dentre todos os irmãos. Ele é o consumador da 
obra de Deus. Sua vida histórica terrena confirma também que Ele 
era Deus conosco (Emanuel). Adentrado na história, inclusive na 
realidade do sofrimento, do pecado e da opressão, Ele é o reden-
tor e salvador da humanidade. Sua vida, não só vivida a partir da 
vontade de Deus, mas de Deus encarnado, evidencia que a comu-
nhão vivida em favor de Deus e dos irmãos se torna indestrutível. 
Se a ressurreição revela que Jesus era Deus entre nós, ela 
revela também que Ele entra na glória do Pai, que como Filho já 
a possuía antes da criação do mundo (Jo 17,5). É daí que surge a 
validade da fórmula teológica tão frequente: “Ele ressuscitou” por 
sua própria força divina. 
O conteúdo cristológico da ressurreição mostra adequação 
dos títulos a Ele atribuídos: Messias, Senhor e Filho (cf. At 2,36; Rm 
1,4), porque a encarnação se consuma na ressurreição, por obra 
do Espírito. Quem Ele era realmente se evidencia na ressurreição. 
Por isso, toda a expectativa de Israel por meio da aliança e das ex-
pectativasmessiânicas, por meio dos patriarcas/profetas, na vida 
abençoada por Deus (terra, gado e filhos), libertações, históricas, 
tempo abençoado em Sião, perdão dos pecados e esperança da 
salvação definitiva e universal, vão se realizar no e pelo ressus-
citado. É Ele a síntese e fonte escatológica de todos os anseios e 
expectativas de Israel e de todos os homens e mulheres de todos 
os tempos. 
Reveja na Unidade 2, Jesus na História bíblica, o tema: O Antigo 
Testamento como base e fonte da cristologia neo-testamentária.
Jesus ressuscitado é a causa da salvação de todos os demais 
(cf. Heb 5,9), que arrasta atrás de si a imensa procissão humana (cf. 
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Heb 12,2). É o homem que veio de Deus, o último Adão convertido 
em espírito que faz viver (1Cor 15,44-49). É quem antecipa e con-
cretiza a esperança humana da ressurreição dos mortos (At 4,2), a 
realização humana. Ele consuma a fé e antecipa o final da história. 
Ele evidencia o sentido e a razão da criação, como processo orien-
tado para Deus. 
A criação e a história são contínuas e processuais. Mas, seu 
sentido e sua razão estão no fim. Este processo é garantido pelo 
homem-Deus ressuscitado que vive em Deus como Deus mesmo. 
Por isso, para os cristãos, surge a certeza (não a esperança) da fi-
delidade de Deus (Ele foi fiel para com seu Filho) e de Cristo (que 
foi fiel ao Pai e aos homens): nosso futuro absoluto é Deus. Ele não 
só vence todo pecado, mas consuma seu plano, traçado desde a 
origem do mundo: sermos santos e perfeitos por meio de seu Filho 
(cf. Ef 1,3ss).
A ressurreição como consumação humana: conteúdo antropológico 
Jesus ressuscitado carregou consigo as "chagas da crucifi-
xão”. Ele permanece hoje tão verdadeiramente Deus (dogma de 
Niceia), quanto verdadeiro homem (dogma de Constantinopla). 
É, ao mesmo tempo, um e o mesmo (dogma de Calcedônia). Sua 
identidade permanece a mesma. 
Há, porém, que se afirmar o fato de que:
Enquanto em Jesus histórico, a divindade se mantinha uma posição 
kenótica, agora na parusia lhe é restituída toda sua grandeza e gló-
ria. Constituído Senhor e Cristo, o ressuscitado é Deus, como Pai e 
com o Espírito. Deve-se, contudo, ressaltar que o ressuscitado con-
tinua sendo inseparável e indivisamente humano. A união surgida 
na encarnação do Verbo, no seio de Maria, permanece. 
A chamada união hipostática (as duas naturezas, divina e huma-
na, inconfusas, imutáveis, indivisas e inseparáveis, conforme o ensino 
de Calcedônia) permanece na realidade nova Daquele que "subiu ao 
céu e está à direita do Pai". O mistério de Deus se une à realidade do 
homem desde a encarnação, por isto Ele é verdadeiro Deus e verda-
deiro homem, na vida (história), e além da morte (ressurreição).
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Se a ressurreição revela que Aquele homem era Deus desde 
toda a eternidade, ela revela, por outro lado, que Naquele homem 
a humanidade se tornou inseparável de Deus também na eterni-
dade. Nele, permanecem as duas naturezas unidas junto a Deus, 
mas inconfusas, imutáveis, indivisas e inseparáveis, conforme o 
próprio ensino de Calcedônia. 
É evidente que a união acontecida no ‘Deus homem’ não se 
estende ao Pai e ao Espírito Santo. Deus é, em sua unidade, trino 
(três pessoas divinas). A segunda Pessoa da Trindade, o Filho, per-
manece unido em suas duas naturezas (humana e divina). 
Sem dúvida, a união não se desfaz (nunca mais), por isso a 
ressurreição atinge a realidade total de Jesus Cristo, Aquele que é 
um só e o mesmo, aquele que é o crucificado-ressuscitado. 
Ninguém pode afirmar que a morte e a ressurreição atingi-
ram apenas a natureza humana. Elas são realidades pertinentes ao 
mesmo e único Verbo encarnado. 
Na cruz morreu um da Trindade e, na ressurreição, ressurgiu 
o que morreu: um da Trindade. 
Agora, pode-se sintetizar assim: 
O ‘crucificado ressuscitado’ (unido hipostaticamente) 
saindo da história (pela morte) entra na eternidade 
e recupera toda a grandeza de Deus mantida kenoti-
camente, enquanto a natureza humana atingirá tam-
bém a sua plenitude. Mantêm-se a identidade das 
duas naturezas, mas doravante elas se manifestam em 
plenitude. A natureza divina do Verbo ressuscitado se 
apresenta com seu poder e glória. A natureza humana 
transforma o corpo corruptível (bazar) em corpo incor-
ruptível. 
São Paulo precisa:
Semeado corruptível, o corpo ressuscita incorruptível; semeado 
desprezível ressuscita reluzente de glória; semeado na fraqueza, 
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© U5 - Cristologia sistemática
ressuscita cheio de força; semeado corpo psíquico, ressuscita corpo 
espiritual. O que foi feito alma vivente [...] torna-se espírito que dá 
vida (cf. 1Cor 15,42b – 45). 
Na linguagem paulina, a ressurreição transforma o homem ter-
restre em celeste. A corruptibilidade será revestida de incorruptibili-
dade. O mortal será revestido de imortalidade (cf. 1Cor 15,50-53).
É preciso relembrar estes conceitos em Antropologia Teológica, na 
Unidade 3, Tópico 5. Antropologia do Antigo Testamento, p. 24ss. 
A ressurreição atinge, de modo diverso, as duas naturezas do 
mesmo e único ‘crucificado ressuscitado’, Verbo encarnado. 
A natureza divina retoma seu poder e resplandece em sua 
glória. A natureza humana se consuma em plenitude, revelando, 
primogeniamente, quem realmente é Aquele que fora criado cor-
ruptível (na carne, na história) como imagem de Deus e agora se 
assemelha a Deus incorruptivelmente. A ressurreição (de Jesus, e 
depois a de todos os outros) faz o ser humano manifestar-se em 
plenitude. 
Este é o mistério da vontade de Deus, o que quer que nin-
guém se perca, pois em Cristo quer salvar a todos. O homem res-
suscitado é a realização máxima e irreversível das aspirações hu-
manas mais profundas. Jesus, como primícias dos que morreram, 
atingiu esta plenitude. Isto o faz garantia da fidelidade da promes-
sa de Deus a todos os homens. 
Quando isto acontecer, então se verá que Deus tinha razão 
ao ver o homem criado como sua imagem e semelhança e excla-
mar que não apenas era “bom” com as outras criaturas, mas “mui-
to bom” (cf. Gn 1,31). E, então, seguirá o sétimo dia, o do "descan-
so" de Deus. E seguirá porque a criação estará consumada e Deus 
celebrará, com todas as suas criaturas, a festa que no céu nunca se 
acaba. O fim é a festa eterna de Deus, em que o homem continua-
rá sendo aquele que Deus tendo-o levado à perfeição, há de amar 
como sua criatura especial, por meio de seu Filho. 
© Cristologia180
Contudo, o caráter sotereológico tem sua revelação máxima 
na ressurreição de Jesus. Ela é o futuro do ser humano, em pro-
messa. Ao mesmo tempo, antecipado e garantido em Jesus Cristo. 
Vivemos nesta esperança cristã que é causa de profunda alegria, 
força de libertação, descrédito do mal (da injustiça e do pecado), 
compromisso com a vida e a libertação, pois o Senhor vive para 
sempre e nos chama a viver com Ele. 
9. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira, na sequência, as questões propostas para verificar 
seu desempenho no estudo desta unidade:
1) Assinale a única afirmação falsa: 
a) Nenhum estudo, por mais completo que seja, abarca toda a pessoa de 
Jesus, homem e Deus, entre nós e nosso senhor salvador. 
b) A cristologia é feita para a compreensão dos que creem, no tempo e cir-
cunstância que eles vivem e não como um estudo em si e para si mesmo.
c) A cristologia deve ter sempre presente o Novo Testamento como norma-
tivo e o dogma, como integrativo.
d) O Novo Testamento apresenta várias cristologias. A Igreja não reconhece 
que elas não se excluam, mas exigem a fidelidade a cada uma. 
e) Nem todas são verdadeiras.
2) Numa grande síntese, pode-se dizer que a cristologia tem tido dois grandes 
modos de proceder (métodos): “a partir de baixo” ou “a partir de cima”. 
Assinale a única afirmação correta: 
a) Na cristologia vai predominando hoje como critério para aproximar-se 
de Jesus “a partir de baixo”.
b) Desde o século 12 houve uma crescente separaçãoentre cristologia e 
sotereologia.
c) No período de ouro da cristologia (do século 3º ao 8º), havia uma preo-
cupação em se afirmar sempre quem era Jesus Cristo para a nossa sal-
vação.
d) Poder-se-ia dizer que a cristologia “a partir de baixo” é encontrada nas 
cristologias da libertação, feminista, contextual (asiática), negra (africana 
e norte-americana).
e) Todas são verdadeiras.
3) Assinale a única alternativa falsa: 
a) A cristologia “a partir de cima” tem fundamento nos textos joanino e 
paulino.
181
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© U5 - Cristologia sistemática
b) Predominou entre o clero e intelectuais, sobretudo da cultura branca 
“masculina” e europeia. 
c) A cristologia “a partir de cima” quase nunca parte da ideia que Jesus é o 
Verbo pré-existente (desde toda a eternidade). 
d) Ela é usada predominantemente pelos que trazem uma tradição dou-
trinária helenista-ocidental (com corte mais europeu e eclesiocêntrico).
e) Alguns afirmam que sua forte presença se deve ao fato de ela ser a pre-
ferida pelos bispos e papas. 
4) Assinale a única alternativa falsa:
a) As perspectivas mais importantes da cristologia estão centradas: na mor-
te de Jesus, em sua encarnação e na história.
b) O enfoque encarnatório, em resumo, afirma que a razão do Filho Eterno 
se fazer homem (encarnação) era para revelar quem é Deus, quem so-
mos nós e como Deus nos comunica sua vida divina.
c) Como é impossível escrever uma “síntese cristológica definitiva”, então 
se percebe que todas e quaisquer cristologias sofrem a influência da cul-
tura e das relações existenciais de seus teólogos.
d) Ao estudar a cristologia, enfoque histórico, hoje, torna mais acessível, 
para nós, o encontro com Jesus Cristo, por isso muitos teólogos fazem 
esta opção metodológica.
e) A cultura pós-moderna (inclusive católica) não assumiu a centralidade 
do ser humano; antes, enfatiza a reflexão cristológica que permanece 
centrada na questão estaurológica (da morte de Jesus na cruz).
5) Assinale a alternativa correta:
a) Jesus foi um homem só que se compreendeu a partir de Deus.
b) Não foi Jesus quem ensinou aos discípulos o método de interpretá-lo à 
luz das Escrituras.
c) Jesus é diferente porque, sem ser um dos nossos, é Aquele que vem de 
Deus como “homem novo”.
d) Jesus elegeu a Deus como fonte e razão de sua vida. Ele viveu para Deus 
de Israel, seu Pai.
e) Jon Sobrino deixa de acentuar a piedade de Jesus, como também a pro-
fundidade da oração dele, que supera ingenuidades, mecanizações, hi-
pocrisias, opressões, narcisismos. 
6) Assinale a única falsa:
a) A vida de oração de Jesus revela não somente sua fé em Deus. 
b) A relação de Jesus com o Pai não ultrapassava seu comportamento pes-
soal e, por isso, transparecia no modo como Ele falava, invocava e dava 
testemunho de Deus.
c) A vida de oração de Jesus torna clara a sua própria confiança em Deus.
d) Sua confiança em Deus o faz atribuir a Ele seus milagres, a sua origem e 
significado de sua vida. 
e) A confiança absoluta e radical se evidencia no modo como Ele assume a 
própria morte pela causa de Deus. 
© Cristologia182
Gabarito
Depois de responder às questões autoavaliativas, é impor-
tante que você confira o seu desempenho, a fim de que saiba se é 
preciso retomar o estudo desta unidade. Assim, confira, a seguir, 
as respostas corretas para as questões autoavaliativas propostas 
anteriormente:
1) e
2) e
3) c
4) e
5) d
6) b
10. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, nos dedicamos ao estudo do significado teo-
lógico sistemático de Jesus de Nazaré. Após a retomada conceitual 
de cristologia, procuramos entender como Jesus se autocompre-
endeu a partir de Deus e em favor de nós.
Certamente, ter-se-á entusiasmado mais por Ele. Realmen-
te, a centralidade Dele, na fé cristã, faz jus a quem Ele foi, é e con-
tinuará sendo sempre.
Também aprofundamos dois temas teológicos, na grande 
tradição do segundo milênio: a morte e ressurreição de Jesus, so-
bre o que o cristianismo produziu diversas interpretações. As teo-
rias da representação e da solidariedade ganham espaço nas com-
preensões contemporâneas, sem ignorar as anteriores.
Certamente estas ideias devem ter ficado bem claras para 
você. Caso contrário, é convidado a revê-las e/ou ampliar sua lei-
tura, até mesmo recorrendo a outras fontes indicadas.
Na próxima unidade, estudaremos o lugar do salvador no 
plano de Deus, teologia da salvação, cristo salvador atuando entre 
nós, além de compreendermos como seguir Jesus.
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11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BERGER, K. Para que Jesus morreu na cruz? São Paulo: Loyola, 2005.
BINGEMER, M. Jesus Cristo: servo de Deus e messias glorioso. São Paulo: Paulinas Valên-
cia (Espanha): Siquém, 2007.
BOFF, L. Paixão de Cristo, Paixão do mundo. Petrópolis: Vozes, 1977.
BONY, P. A ressurreição de Jesus. São Paulo: Loyola, 2008.
BOURGEOIS, H. Libertar Jesus. Cristologias atuais. São Paulo: Loyola, 1989. Concilium. 
Revista Internacional de Teologia 326 -2008/3. Petrópolis: Vozes. 
BROWN, R. E. Um Cristo ressuscitado na Páscoa. São Paulo: Ave-Maria, 1996.
CARDEDAL, G. Olegário Cristologia. Madrid: BAC, 2001.
DUNN, J. D. G. A teologia de Paulo. São Paulo: Paulus, 2003.
DUQUOC, C. Cristologia: o homem Jesus. São Paulo: Loyola, 1977.
DURWELL, F. Cristo nossa páscoa. Aparecida: Santuário, 2006.
FEINER, J.; LOEHERER, M. (Orgs.). Mysterium salutis. Compêndio de dogmática histórico-
-salvífica III/6. O Evento Cristo. 6. Mysterium paschale. Petrópolis: Vozes, 1974. 
GAMBERINI, P. Questo Gesù (At. 2,32). Bologna: EDB, 2007, p. 52.
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GOURGUES, M. Jesus diante de sua paixão e morte. São Paulo: Paulinas, 1985.
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KESSLER, H. Cristologia. In: SCHNEIDER, T. (Org.). Manual de dogmática. Petrópolis: Vo-
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MARTINI, C. Os relatos da paixão de Cristo. Lisboa: São Paulo, 1994. 
MOINGT, J. O homem que vinha de Deus. São Paulo: Paulus, 2008.
MOLTMANN, J. Quem é Jesus Cristo para nós hoje? Petrópolis: Vozes, 1997.
PUIG, A. Jesus, uma biografia. Apelação (Portugal): Paulus, 2006.
RATZINGER, J. Introdução ao cristianismo. São Paulo: Loyola, 2005.
RODRIGUEZ, F. Jesus. Relato histórico de Deus. Cristologia para viver e rezar. São Paulo: 
Paulinas, 1999.
SCHILLEBEECKX, E. Jesus: história de um vivente. São Paulo: Paulus, 2008.
SERENTHÀ, M. Jesus Cristo, ontem, hoje e sempre. Ensaio de cristologia. São Paulo: Sale-
siana, 1986, p. 425-444.
SLOYAN, G. Por que Jesus morreu? São Paulo: Paulinas, 2006.
© Cristologia184
SOBRINO, J. Jesus, o Libertador. Petrópolis: Vozes, 1994.
TAVARES, S. A cruz de Jesus e o sofrimento do mundo. Petrópolis: Vozes, 2002.
QUEIRUGA, A. T. Repensar a ressurreição: a diferença cristã na continuidade das religiões 
e da cultura. São Paulo: Paulinas, 2004.
VERMES, G. A paixão: a verdadeira história do acontecimento que mudou os rumos da 
humanidade. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2007.
______. Natividade. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2007.
EA
D
O lugar e o papel de Cristo 
no plano de Deus
6
1. OBJETIVOS
• Justificar a pré e a pós-existência de Jesus, bem como sua 
encarnação, como ação salvífica do Pai.
• Identificar o papel sotereológico de Cristo desde toda a 
eternidade.
• Analisar e discutir sobre o significado salvífico da encar-
nação (vida toda de Jesus).
• Distinguir a salvação em seus aspectos positivos e nega-
tivos.
• Analisar a necessidade do seguimento, como consequên-
cia de toda a cristologia.
2. CONTEÚDOS
• O lugar do salvador no plano de Deus.
• Teologia da salvação (sotereologia).
© Cristologia186
• Jesus, o Emanuel e salvador nosso.
• Seguir Jesus.
3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE
Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que 
você leia as orientações a seguir:
1) Leia os livros da bibliografia indicada, para quevocê am-
plie e aprofunde seus horizontes teóricos. Esteja sempre 
com o material didático em mãos e discuta a unidade 
com seus colegas e com o tutor. 
2) Tenha sempre à mão o significado dos conceitos expli-
citados no Glossário e suas ligações pelo Esquema de 
Conceitos-chave para o estudo de todas as unidades 
deste CRC. Isso poderá facilitar sua aprendizagem e seu 
desempenho.
3) O estudo de Santo Anselmo (Cur Deus homo?) merece 
ser lido não só pela sua plasticidade e lógica, mas para 
compreender todo o significado da salvação que predo-
minou no 2º milênio. Desse modo, consulte a obra: AN-
SELMO, Santo. Por que Deus se fez homem? São Paulo: 
Novo Século, 2003. Além disso, veja também as interes-
santes observações de Ratzinger na obra: RATZINGER, 
Joseph. Bento XVI. Introdução ao cristianismo. Preleções 
sobre o Símbolo Apostólico. Com um novo ensaio intro-
dutório. São Paulo: Loyola, 2005. p. 172–181. 
4) Você pode aprofundar seus conhecimentos lendo as se-
guintes obras: 
a) BOFF, Leonardo. Evangelho de Cristo cósmico: a bus-
ca na unidade do todo na criação e na religião. Rio 
de Janeiro/S. Paulo: Record, 2008.
b) DUQUOC, Christian. O único Cristo: a sinfonia adia-
da. São Paulo: Paulinas, 2008. 
c) DUPUIS, Jacques. Rumo a uma teologia do pluralis-
mo religioso. São Paulo: Paulinas, 1999. 
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© U6 - O lugar e o papel de Cristo no plano de Deus
d) MALDONÈ, Jean Michel. Cristo para o universo: Fé 
cristã e cosmologia moderna. São Paulo: Paulinas, 
2005. 
5) O evangelho é ou deveria ter uma força revolucionária, 
isto se os cristãos lhe dessem o crédito devido e total. 
Experimente escrever um texto próprio em que envol-
va o libertário contido simultaneamente nos seguintes 
textos: 
a) Mt 5,3-11 (as bem-aventuranças). 
b) Lc 1,46-55 (o magnificat de Maria). 
c) Mt 5,9-15 (o Pai nosso). 
d) Mt 25,31-47 (o juízo final). 
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Seus estudos vão se encaminhando para o grande significa-
do da revelação de Deus e do mistério de Jesus desde sua encarna-
ção (nascimento, vida, morte e ressurreição) até o presente, como 
nosso salvador. Agora, como que a concluir, você encontrará: 
• Aquele que sendo humano, como nós, na verdade, é Deus 
pré-existente desde toda a eternidade e veio, entre nós, 
para nós salvar. 
• Aquele que tendo vivido como um de nós, hoje continua 
vivo e vivificante, e por isso nos levará à salvação plena 
em Deus.
Seria bem pequena se sua missão fosse apenas nos salvar 
de nossos pecados. O significado de Jesus salvador é muito maior.
Esperamos que ao aprofundar o tema você possa (re) des-
cobrir a grandeza Daquele que, vivendo com o Pai e o Espírito, foi 
constituído iniciador e consumador de toda a obra criada. 
.
Informação Complementar –––––––––––––––––––––––––––––
Nós professamos a fé de que o Verbo eterno se fez um de nós. Encarnou-se, 
para a nossa salvação. 
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A teologia da salvação (sotereologia) não é algo tão sistematizado, sobretudo 
porque o que antes estava unido à cristologia, a partir do período medieval, foi 
separado e quase deixado de lado. Aprofundou-se “quem é Jesus”, mas deixou-
-se pelo suposto porque Deus se fez homem. Ou melhor, a grande contribuição 
de Santo Anselmo resumia todo o signifi cado de salvação como salvação dos 
pecados. Esta ideia perdurou durante todo o segundo milênio, sem maiores apro-
fundamentos. Só depois do Vaticano II, o tema tem sido retomado inclusive como 
integrante da cristologia.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
5. O LUGAR DO SALVADOR NO PLANO DE DEUS
Jesus Cristo, filho de Maria, é o Filho de Deus, consubstan-
cial ao Pai e consubstancial a nós. É distinto do Pai e do Espírito. 
É perfeito na plenitude humana. Mas, é distinto de nós que esta-
mos ainda a caminho. Ele sintetizou em si a possibilidade histórica 
máxima de dedicação a Deus e aos homens e às mulheres de toda 
a história. Como nosso irmão maior, é o iniciador e condutor da 
nova humanidade rumo à consumação da obra criada, a ser apre-
sentada como obra sua, no fim dos tempos, para glória de Deus 
e felicidade sem fim do ser humano. É Ele quem viveu entre nós. 
"Trabalhou com mãos humanas, pensou com inteligência humana, 
agiu com vontade humana, amou com coração humano. Nascido 
de Maria, tornou-se, verdadeiramente, um de nós, semelhante a 
nós em tudo" (Gs 22). 
Eterno com o Pai e o Espírito Santo, gerado antes de todo 
o tempo para ser o Adão perfeito na história (que incluiu sua en-
carnação, morte e ressurreição), sem deixar de ser Deus, é nosso 
salvador por ter recebido do Pai esta missão. Ele tem uma origina-
lidade tão própria, que mesmo sendo judeu do primeiro século da 
era cristã tornou-se um homem universal.
Jesus Cristo, em sua vida terrena, viveu a bondade, a miseri-
córdia e a solicitude para com todos, especialmente com os pobres 
e excluídos. Ele teve uma vida de tal modo pró-existente (pro Deo 
e pro nobis = para Deus e por nós), a ponto de esvaziar-se não só 
de sua divindade pré-existente desde toda a eternidade, mas tam-
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© U6 - O lugar e o papel de Cristo no plano de Deus
bém dar a sua vida em favor dos homens e mulheres, de quem se 
fez irmão. 
Ele, em tudo, fez a vontade de Deus, pois a colocou como 
centro e fonte de sua vida. Passou pela vida fazendo o bem. Foi 
tentado, como todos os outros seres humanos, mas não capitulou, 
nem mesmo diante da última tentação, livrar-se da morte. 
Este homem era Deus entre nós (Emanuel). Não fez, entre-
tanto, desta condição uma ocasião de privilégios. Esvaziou-se de 
si mesmo e foi reconhecido por alguns como apenas o filho de 
carpinteiro, cujos irmãos e irmãs viviam entre eles. Outros se es-
pantavam de seu ensino com autoridade, acorriam a Ele para que 
os curasse de suas doenças, males e outros poderes demoníacos. 
Anunciou que chegava o Senhorio de Deus e creu que isto aconte-
cia por meio de sua pessoa. Fez o bem e reintegrou os excluídos, 
perdoou os pecadores e consolou os aflitos. 
Tão humano foi que após a ressurreição começaram a reco-
nhecer Nele Deus entre nós (Emanuel). Na leitura retroativa de 
sua vida, obra e mensagem, descobriu-se Nele, também, o messias 
prometido, o salvador único. 
Ele exigiu silêncio sobre certos fatos de sua vida histórica, 
fatos estes que poderiam explicitar quem Ele era o conhecido se-
gredo messiânico (cf. Mc 3,13; 5,43; 8,30; Mt 8,4-9; 9,30; 12,16; 
17,9; Lc 5,15). No entanto, adversários, pagãos e, sobretudo, "de-
mônios", reconheceram-no como "Filho de Deus", Deus mesmo. 
Alguns momentos de sua vida, como a transfiguração, as declara-
ções do Pai sobre Ele como Filho eleito, o perdão dos pecados (que 
só Deus podia conceder), a entrega de si como pão partido e vinho 
derramado (última ceia) etc., poderiam evidenciar sua realidade 
divina, compreendida após a ressurreição. 
Todavia, esta kenose de Deus, que chegou a ponto de ser 
crucificado como herege e subversivo, revelou-o, na ressurreição, 
como o Deus que salva seu povo. O nome Jesus significa “Deus 
salva”. Ele realizou em si seu nome.
© Cristologia190
O vivente e o vivificar
Jesus continua vivo hoje não apenas na memória. Ele está 
presente no universo cósmico, quando dois ou três se reúnem em 
seu nome. Os pobres e excluídos, seus irmãos menores, atestam 
sua presença kenótica. Todavia, Ele é encontrado em todo bem, ou 
seja, na compaixão, na solidariedade de todos os homens e mulhe-
res do mundo que, mesmo sem o conhecerem, buscam a justiça 
e a paz. Ele é encontrado, de modo público, quando se defendem 
os direitos humanos, se cuida da saúde e da educação; quando 
se fortificam a liberdade, a igualdade e a fraternidade; quando se 
promove a justiça e a paz, sem violência. 
Hoje, Ele está vivo junto de Deus com os anjos e todos os 
irmãos que nos precederam na vida. Está vivo, também, com con-
tagiante poder de libertação, junto a todos os homens e mulheres 
de boa vontade, que o acolhem na fé explícita ou implícita. Eleestá 
vivo, entre nós, na Igreja e, em particular, na Eucaristia. 
Ele não só está vivo, como também vivifica homens e mulhe-
res por meio de seu Espírito, o que o torna contemporâneo nosso. 
O Espírito é seu defensor junto a nós, ao mesmo tempo que nos 
faz participar da sua condição filial. Milhares de cristãos, na força 
do Espírito, o seguem como o Caminho que leva à Verdade e à 
Vida. 
Este homem ungido pelo Espírito foi proclamado na Páscoa, 
Senhor e Cristo. Por isso, continua sendo o mesmo, ontem, hoje e 
sempre (Heb 13,8). Pré-existia como Deus e fez-se humana ima-
gem visível do Deus invisível (Cl 1,15). Nele tudo se sustenta e tudo 
se encaminha para Ele. 
A escandalosa divisão entre crentes e não crentes por ques-
tões filosóficas, econômicas, políticas e outras, não tem funda-
mento senão na própria situação humana. Os homens preferem, 
muitas vezes, seus ídolos e não buscam "o Caminho, a Verdade e 
a Vida" que Ele é. Outras vezes, as divisões ocorrem também por-
que seus seguidores não o seguem "em espírito e verdade"; defen-
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Claretiano - Centro Universitário
© U6 - O lugar e o papel de Cristo no plano de Deus
dem, antes, interesses próprios, manipulando-o a bel prazer, como 
outrora fizeram os chefes judeus que o condenaram à morte. 
A Ele se busca de coração sincero na oração incessante, na 
leitura (e prática) de sua palavra e no empenho pelos pobres e 
deserdados da terra.
Pela vida de Jesus, Deus se aproxima sem condições prévias 
da humanidade. São João enfatiza: "foi Ele (Deus) quem nos amou 
primeiro" (Jo 3,16). "Ele nos deu seu filho único, para que todo 
aquele que Nele crer, seja salvo” (Jo 3, 17; 10,17; 1Jo 4,7). Jesus 
Cristo, nova relação de Deus conosco, tem também a dimensão 
de enfrentar o que há de mais negativo entre os seres humanos: a 
solidariedade no mal. 
Como pode o ser humano salvar-se, separado Dele, ignoran-
do o significado pleno de sua vida? Como pode o homem buscar a 
Deus e libertar-se dos males que o contagiam? Como reconhecer 
estes males e reconciliar-se com Deus? Ele é, pois, o caminho.
Aquele que comeu com pecadores e publicanos (cf. Mc 2,16; 
Lc 15,2), que conversou com pecadora pública (Jo 4,1-42), deixou 
lavar seus pés pela pecadora (Lc 7,36-50), que frequentou o “mau 
ambiente” dos marginalizados, dos cobradores de impostos, dos 
endemoniados e, por fim, foi trocado na morte pelo criminoso 
Barrabás e crucificado entre dois ladrões - é o Filho de Deus que 
viveu entre nó e se mantém atuante entre nós. Ele nos vivifica. 
6. TEOLOGIA DA SALVAÇÃO SOTEREOLOGIA
A estaurologia 
Alguns teólogos, mesmo sem discutirem o sentido de sal-
vação, produzem sua reflexão sotereológica centrada na cruz por 
causa do pecado. Para eles a salvação é estaurológica, quer dizer: 
é feita a partir da cruz. Esta é uma posição considerável, mas não 
única. 
© Cristologia192
A cruz não foi buscada por Jesus. Ela é expressão da rejeição 
Dele e do plano salvífico de Deus pelos seres humanos. Ela é fru-
to de pecado contra Deus, mesmo que Deus tenha tirado partido 
dela, convertendo-a em sinal de salvação, como compreenderam 
os primeiros cristãos que nos legaram este patrimônio verdadeiro 
e consistente. 
A teologia da cruz aponta a presença do pecado humano, 
que deve ser redimido e reconhece que Jesus verdadeiramente 
mergulhou no mundo abjeto dos homens, que não querem reco-
nhecer e aceitar Deus, sobretudo pelas suas atitudes. 
O pecado aqui se apresenta em dois níveis: 
1) Pecado direto contra Deus: por querer concorrer com 
Ele próprio. Pecador, neste sentido, é o ser humano 
que quer ser Deus, quando é simples homem. Pretende 
substituir-se a Deus sem poder sê-lo. Pecador é também 
o que faz das coisas, do poder, do prazer etc., o seu deus; 
e adora a criatura como se fosse o criador. 
2) Pecado contra os filhos de Deus: pecam contra Deus 
agindo contra seus filhos. A ação salvífica deve levar em 
conta, então, todos os opressores, dos mais diversos 
quilates. Desde os que humilham e ferem a dignidade 
dos filhos de Deus (lembrar de Caim) até aqueles que os 
oprimem, roubam, extorquem e prostituem os filhos de 
Deus. 
Tais pecados permanecem sendo atos crucificatórios, que 
exigem não apenas o perdão salvífico (Pai, perdoai-lhes. Não sa-
bem o que fazem cf. Lc 23,24); exigem, sobretudo, a conversão do 
coração dos opressores. 
Quer dizer: 
A cruz, pela morte de Jesus, se tornou salvadora também para os 
opressores e injustos à medida que lhes oportuniza a sincera "me-
tanoia” (conversão) e dócil aceitação do crucificado/ressuscitado 
para a mudança da vida. Nela, eles podem reconhecer todos os 
rostos dos crucificados e pervertidos. Eles podem reconhecer que 
nas cruzes de suas vítimas se encontra o verdadeiro Filho de Deus 
(cf. Mc 15,39).
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© U6 - O lugar e o papel de Cristo no plano de Deus
Esta perspectiva estaurológica, na verdade, reduz o significa-
do da encarnação ao pecado e a sua necessária redenção.
 Deus poderia salvar o pecador de outra maneira? 
Como São Tomás de Aquino já respondeu, isto não é questão 
de um condicional. O fato é que o pecado é redimido pela cruz 
como prova de tão grande amor de Jesus pelos pecadores e por 
Deus. Não deixa, porém, de ser um amor assimétrico.
Uma mentalidade amartiocêntrica criou a afirmação de que 
todos são pecadores. Todavia, esta perspectiva não é bíblica (in-
clusive para os judeus atuais). A bíblia está cheia de relatos de ho-
mens e mulheres bons, justos e santos.
 Aos pecadores, o salvador os justifica e redime. Aos que o 
seguem, Ele os acompanha e eleva. Homens e mulheres, em todos 
os tempos e lugares, não são necessariamente pecadores, mes-
mo que participem neste mundo de pecado, como Jesus, que, no 
mundo, se fez um conosco, ou como Maria, sua mãe, e tantos ou-
tros justos do Antigo Testamento e Novo Testamento. 
Convém recordar que se Jesus não pecou não foi porque era 
Deus. Não pecou porque nem Ele e nem qualquer outro homem é 
obrigado a pecar. 
Se assim não fosse, Jesus não seria igual a nós (e nós iguais 
a Ele). 
A graça realizadora (processo santificador)
A encarnação do Verbo não se esgota na necessidade da 
cruz como fonte de remissão dos pecados. Mesmo que ela seja 
salvífica/redentora, nossa fé nunca deixou de afirmar. O que, po-
rém, muitos parecem ignorar é o aspecto positivo e propositivo da 
salvação. 
Convém recordar que "Deus amou tanto o mundo que de 
seu filho unigênito para todo aquele que Nele crê seja salvo" (cf. 
© Cristologia194
Jo 3, 16; 16,27). Foi Deus quem tomou a iniciativa de nos amar. É 
exatamente por isso que fomos criados. A promessa do salvador 
é um desejo de Deus desde antes da criação. Portanto, antes de 
qualquer pecado. 
Reduzir a vinda de Jesus até nós ao fato do pecado não só 
apequena o próprio Deus, mas também agiganta de tal modo o ser 
humano que se torna capaz de condicionar Deus. 
Aqui valeria a pena aprofundar a questão de justificação não só 
pela fé e pelas obras, como é a discussão que vem desde a Re-
forma, mas o tema deve ser refletido com mais profundidade na 
Teologia da Graça. Vale, igualmente, reencontrar e consultar os 
discursos de Bento XVI em 20 e 27 de novembro de 2008 sobre 
este tema.
 Se Deus torna justos seus filhos o faz não porque eles são 
necessariamente injustos e pecadores (ideia muito desenvolvida 
na teologia medieval). Deus não os criou assim, os homens e as 
mulheres concretos, necessariamente, não são assim. Se assim 
fosse, ficaria desautorizado tanto o próprio Deus quanto o signi-
ficado da solidariedade e representação de Jesus Cristo no plano 
divino. Ao contrário, Deus ajuda, com sua graça, o crescimento 
constante de seus filhos e filhas, que vão se tornando sempre mais 
justos e santos até a perfeição de poderem viver com Ele. A salva-
ção tem fundamentalmente um aspecto positivo.
Jesus Cristo, o salvador querido por Deus
Mais que insistir no meio (redenção/salvação pela cruz ou 
realização/plenificação humana), nossa ênfaseagora está no autor 
da salvação: Jesus Cristo. 
Jesus é o nosso único salvador. E o é desde o início da cria-
ção. Fomos criados Nele, por Ele e para Ele, desde toda a eterni-
dade (cf. Ef 1,3s). E este é o plano de Deus: fomos criados por Ele, 
para sermos salvos por Ele. 
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© U6 - O lugar e o papel de Cristo no plano de Deus
Você pode retomar esta ideia na Unidade 3 de Antropologia Te-
ológica.
O Verbo salvador foi constituído salvador antes de existirem 
as criaturas que seriam salvas por Ele. Primeiro surgiu o salvador; 
depois surgiriam os que Ele haveria de salvar. Muito antes do peca-
do, estava já decidido por Deus o papel salvífico do Verbo eterno, 
considerando que só por meio Dele seríamos salvos. E esta é a 
razão primeira de sua encarnação. Sem dúvida, é o nosso salvador 
quem nos faz criaturas novas, realizadas na força do Espírito, para 
participação da vida da Trindade. 
Ao assumir nossa carne, nossa realidade humana, Jesus Cris-
to abre duas perspectivas: 
1) Vem santificar (além de sanar o pecado e suas consequ-
ências) toda a realidade cósmica, não apenas pela sua 
presença. Ele também se tornou matéria cósmica (car-
ne humana). A natureza cósmica e, particularmente, a 
humana, detinha, por vontade do Criador (como dizia 
Santo Irineu), a capacidade de conter o próprio Deus em 
forma humana. Aquele da Trindade que, saindo de si, 
desceu e se fez um dos nossos, na verdade, não precisa-
va assim proceder para nos salvar. Mas, o fez em gesto 
de amor, esvaziando-se a si mesmo para nos enriquecer 
(cf. Fl 2,8). 
2) Nesta primeira perspectiva, ao se tornar cósmico pela 
encarnação no seio de Maria, e, sobretudo, por sua res-
surreição, Cristo aperfeiçoa e completa toda a criação, 
dando-lhe de modo escatológico o acabamento (consu-
mação) final. Ele leva o ser humano e a natureza toda ao 
cumprimento do plano salvífico de Deus. 
Por outro lado, Jesus Cristo é o nosso Salvador porque leva 
o ser humano e toda a criação à sua plenitude, sendo o modelo 
exemplar e evidenciando toda a possibilidade da carne humana 
assemelhar-se a Deus. 
© Cristologia196
Nosso salvador torna-se, então, o iniciador da nova humani-
dade como homem perfeito e plenificado aos olhos do Pai o Cria-
dor. 
Ao constituir seu “corpo” do que tanto fala São Paulo eleva 
cada ser humano e todos à perfeição que a ressurreição lhe confe-
re (cf. Jo 12,32; Gl 3,28). 
Desse modo, ao se pensar em tantos homens e mulheres de 
seu tempo (Zacarias, Isabel, João Batista, Simeão, a profetisa Ana, 
José seu pai, aos quais a bíblia chama de justos, além dos apósto-
los, Marta, Maria, Lazaro, as mulheres que o serviam etc.), por que 
Jesus haveria de pensar neles como necessariamente pecadores?
 Ao pensar em tantos outros homens e mulheres que a Igreja 
apresenta como modelos de santidade, na esteira de Jesus, como 
não reconhecê-los em sua perfeição, plenificado no e pelo Salva-
dor? 
Fora do cristianismo houve e há, também, tantos homens e 
mulheres que se tornaram tão humanos (humanizados e humani-
zadores), que já na história Cristo morava neles, salvando-os, isto 
é, levando-lhes à humanização plena. Os Padres gregos diriam que 
pela ação do Espírito Santo também eles estavam sendo diviniza-
dos; os latinos diriam: deificados. 
Informação Complementar –––––––––––––––––––––––––––––
Nós preferimos dizer, em consonância com nosso tempo, à luz da fé: o salvador 
os estava salvando para que eles atingissem sua meta, ver a Deus, ou seja, se-
rem salvos pelo que os santifi ca e os tornavam plenamente humanos. 
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7. CRISTO SALVADOR ATUANDO ENTRE NÓS
A presença de Deus entre nós, por meio de um da Trindade 
feito um de nós, significa explicitamente o desejo de Deus em nos 
salvar. No Antigo Testamento, lembrando que isto já foi dito ante-
riormente, os grandes gestos salvíficos eram realizados em favor 
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© U6 - O lugar e o papel de Cristo no plano de Deus
do povo ou de tribos/nações. Com a presença do Verbo, relatado 
no Novo Testamento, a ação divina é personalizada nas curas, nos 
milagres, nos perdões, nas reintegrações de marginalizados, na 
dedicação concreta ao próximo e até ao inimigo. A (nova) mani-
festação de Deus individualiza e personaliza seus filhos. Deus não 
pode mais ser considerado uma força cósmica genérica. Agora, Ele 
é salvador por meio de cada pessoa que, por sua vez, pertence ao 
“corpo de seu Filho”. 
No decorrer do tempo, enfatizou-se (por demais) a salvação 
espiritualista no céu, após a morte. Isto em parte significou esva-
ziar o processo salvífico, desde o presente até o céu. Ao mesmo 
tempo, reduziu-se a salvação à questão dos pecados. 
Entrementes, é importante recordar que a salvação inclui 
a salvação também no presente. Isso significa que a encarnação 
de Jesus não é um processo que se completou historicamente na 
cruz. Ela é um processo, cujo início está "desde antes da criação" 
(cf. Ef 4,3-14), densificou-se durante a vida histórica do Verbo En-
carnado, mantém-se atuante e produzida pela ação do Espírito Vi-
vificador e só se completará na parusia. 
Vale lembrar que o presente histórico é o tempo do "hoje, 
pois, a salvação entra nesta casa". Assim, a salvação tem e mantém 
uma incidência histórica.
Para saber mais, leia Helcion Ribeiro. Por uma sotereologia com 
incidência histórica, Studium. Revista Teológica, Curitiba, ano 1, n. 
1, 2007 p. 69-104.
Se o Senhorio de Deus já está chegando, pela pessoa de Je-
sus Cristo, ele se prolonga por toda parte até os confins do mundo, 
não só porque é ordem/mandato missionário (cf. Mt 28,19-20), 
mas porque o próprio Filho e o Espírito Santo levam adiante este 
Senhorio salvador. 
© Cristologia198
A presença salvadora de Cristo, seja pela Igreja, pelas religi-
ões, seja por todos os que fazem o bem, vai se evidenciando:
a) na superação dos males (físicos, morais e espirituais); 
b) nas ações libertárias (em geral desconhecidas e/ou ig-
noradas); 
c) no desenvolvimento humano do tempo presente; 
d) na construção de uma sociedade participativa e justa 
para todos; 
e) na produção da paz; 
f) no amor ilimitado ao próximo. 
Desse modo, o processo salvífico do Emanuel continua, so-
bretudo, na ação dos cristãos que não apenas rezam o Pai nosso 
(venha o vosso reino, dá-nos o pão de cada dia, livrai-nos do mal). 
O Deus salvador está entre nós quando, em resumo, o evangelho 
é vivido intensamente. Isto é tornar atuante a ação salvadora de 
Deus, que é dom e missão pascal do Cristo ressuscitado. 
A totalidade do processo salvífico não se esgota no utópico 
aperfeiçoamento deste mundo. O "meu reino não é deste mundo", 
diz Jesus (cf. Jo 18,36), mas ultrapassa-o. A fé em Cristo nos faz crer 
que a realização última do ser humano (salvação: ver a Deus) está 
em Deus, como espaço que Ele mesmo preparou desde sempre (cf. 
Jo 14,23). Aí não haverá mais choro, nem lágrima (cf. Ap 1,4). Nossa 
salvação última será o resultado da ação de Cristo que nos apresen-
tará todos ao Pai, sem que nenhum dos que o Pai lhe dera tenha se 
perdido (cf. Jo 6,39). Então, será a festa eterna, o banquete de todos 
os convidados do Pai. Assim, a "u-topia" se transformará em “topia”, 
homens e mulheres, porque salvos por Cristo, encontrarão seguros 
o coração de Deus, morada definitiva e eterna. 
Informação Complementar –––––––––––––––––––––––––––––
Você certamente conhece a palavra “topografi a”, que signifi ca a ciência que es-
tuda os lugares. Topos, palavra grega que signifi ca “lugar”; u-topos, então vai 
signifi car “lugar nenhum”. Utopia também serve para designar uma vontade que 
não se realiza em lugar nenhum. A frase: “a ‘u-topía’ se transformará em ‘topia’” 
quer dizer: “o irrealizável tornar-se-á realizável”. 
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© U6 - O lugar e o papel de Cristo no plano de Deus
Cristo é o Caminho, para a Verdade e para a Vida(cf. Jo 14,6). 
Ele se faz o caminho, pois é Deus e verdadeiro homem. Tornou-se 
o mediador, por ser Deus entre nós (Emanuel) e por ser homem 
pleno diante de Deus. 
Nós professamos que não há outro salvador senão Jesus 
Cristo. Isto não implica dizer que Deus não se sirva de outras situa-
ções ou pessoas para continuar o processo salvífico. A singularida-
de salvífica de Jesus Cristo pertence ao centro do plano de Deus.
A presença de outras situações é identificada, como você es-
tudou na Unidade 1 deste curso, pelo próprio Deus: 
a) ao fazer alianças salvíficas em favor assimetricamente, 
de seu povo, dando-lhe gado-terra-filhos e proteção; 
b) ao produzir expectativas messiânicas para que oprimi-
dos e exilados possam voltar à liberdade – que só será 
radical por meio do messias definitivo; 
c) por meio de sacerdote, patriarcas, reis e, sobretudo, 
profetas, tiveram um papel de destaque, mesmo ao an-
tecipar o revelador definitivo; 
d) porque na Sabedoria divina foi reconhecido como dom 
salvador em prol dos que eram tementes a Deus. 
Mas, a presença salvífica de Deus nunca se limitou ao povo 
judeu. Deus é o Deus de todos. Se em Israel se concentrou, exem-
plarmente, a divina ação salvadora, não se pode esquecer de cen-
tenas de outras situações salvíficas do mesmo Deus, por meio até 
de sinais (até aparentemente) ambíguos. 
Como não reconhecer salvificamente o valor de outras religi-
ões, de outros sábios e profetas, do surgimento de valores crísticos 
("liberdade, igualdade e fraternidade", dignidade da mulher, direi-
tos humanos, superação do analfabetismo e de tantas doenças, 
democratização etc.).
Jesus, em sua encarnação, realizou gestos salvíficos ao 
reintegrar pessoas, ao anunciar o Senhorio de Deus chegando e 
ao reuni-las fraternalmente. Anunciou a libertação aos cativos e 
© Cristologia200
passou fazendo o bem, até a morte na cruz. Além disso, continua 
salvando por meio de tantos outros homens e mulheres, que se 
empenham no bem humano, por meio de ações positivas e cons-
trutivas da sociedade.
Porém, isto é tudo?! O inquieto coração humano se realiza-
ria com estas conquistas... e depois morreria acabando tudo?
Nós cristãos temos, na fé, a certeza de que a morte não põe 
fim à vida, mas a transforma. Assim, nossos olhos se erguem para 
Deus e encontramos Cristo, o Salvador. Ele é nossa esperança e 
nossa certeza. Ele revelou seu papel econômico-salvífico, desde 
sempre. Ele é, para nós, o primogênito dos vivos e dos mortos. 
É nosso exemplo e representante genuíno, pois sintetiza em si a 
história humana e cósmica que se apresenta já salva por Deus. Ao 
mesmo tempo, atrai a si todos os irmãos (cf. Jo 12,32), a fim de 
integrar o "corpo de Cristo", como dizia São Paulo. O Verbo, que 
se fez humano em Maria, mostrou-se singular no processo de sal-
vação que Deus quer (quis e há de querer) para todos os homens. 
8. JESUS, O EMANUEL E SALVADOR NOSSO 
Tanto para a fé quanto para a cristologia, Jesus Cristo perten-
ce a uma realidade complexa e misteriosa. Ele é muito mais que 
um fato, um evento ou uma figura histórica com um drama. Ele 
não é uma ideia nem primeiramente um fundador de religião. Não 
é um mito nem um programa moral ou de moralidade. Ele é antes 
de tudo uma pessoa (ao mesmo tempo humana e divina).
Como pessoa humana, é filho da humanidade, nascido de 
mulher (cf. Gal 4,4), nascido de Maria, a esposa de José, pelo ano 
7/6 antes da era cristã. Natural de Nazaré, viveu na Galileia. "Tra-
balhou com mãos humanas, pensou com a inteligência humana, 
agiu com a vontade humana, amou com o coração humano" (Gs 
22b). Pelos 30 anos procurou o batismo de João e, a partir daí, 
passou a anunciar o Senhorio (Reino) de Deus. Pregou o evangelho 
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Claretiano - Centro Universitário
© U6 - O lugar e o papel de Cristo no plano de Deus
revelando Deus por meio da palavra e de sinais, curou doentes, 
solidarizou-se com os excluídos e trabalhou pela inclusão social. 
Em resumo, “passou pela vida fazendo o bem” (cf. At 10,38). Viveu 
para Deus, de quem procurou descobrir e fazer sua vontade. Amou 
a Deus como nenhum outro homem amara antes. Morto na cruz 
foi ressuscitado pelo Pai – sinal de que seu aparente fracasso mes-
siânico tinha outro significado. 
 Assim, aquele que expulsara demônios, libertara dos ma-
les, acolhera os pecadores, aceitara as chamadas "pessoas de má 
vida" em sua companhia e até fazia refeições com elas, passara 
desde a ressurreição a ser visto numa complexa singularidade. O 
significado de suas ações e de suas palavras adquiria um sentido 
não só novo, mas muito mais profundo. Na leitura retrospectiva 
de sua vida, lida à luz da páscoa, descobriu-se nele alguém, real-
mente, enviado por Deus e em quem se realizavam as antigas pro-
fecias. Como ele próprio ensinara, sua vida devia ser lida à luz do 
passado, das Escrituras. Mas, ao mesmo tempo, ela devia ser uma 
leitura projetiva por causa dos fatos novos gerados pela própria 
ressurreição.
 Jesus, o filho da raça humana, fora tão singular que se des-
cobriu nele uma humanidade tão profunda que não era apenas 
humana. Ele era Deus mesmo, sem deixar de ser humano. Nele 
se descobriu uma vida tão humanamente intensa que revelava a 
"invisibilidade do Pai", em sua própria existência. E aí afloraram 
os profundos valores humanos daqueles que foram criados como 
imagens visíveis do próprio Deus invisível. Pelo lado negativo, 
compreendeu-se que "ele se fez pecados por nós" (cf. 2Cor 5,12), 
mas ele próprio não pecou (cf. Hebr 4,15). Pelo lado positivo, mais 
que os grandes valores da compaixão, misericórdia, solidariedade, 
perdão, amor, alegria de viver etc., ele apresentou e revelou Deus 
como Pai, Senhor de um projeto salvífico para todos. Ele próprio 
apresentou-se como o que veio como expressão do amor de Deus 
por todos, bons e maus, justos e pecadores (cf. Mt 5,45).
© Cristologia202
Nesse Jesus, seus amigos mais pessoais – sejam eles após-
tolos, discípulos e, ou mulheres que acompanhavam seu serviço 
ao Reino e à evangelização o reconheceram com Senhor, Messias, 
mais que profeta, Filho do Homem ou Filho de Deus mesmo. 
Depois, começou a ser reconhecido como Deus mesmo. 
Aquele homem não era um deus; Ele era Deus mesmo, em igual 
natureza com as duas outras Pessoas da Unitrindade.
A Igreja foi reconhecendo nele aquele um da Trindade que 
esteve conosco, viveu e morreu por nós. Contudo, "em tudo ele 
foi igual a nós" (cf. Hebr 4,15), ou seja, não foi um homem apa-
rente (docetismo) nem Deus que tomou o lugar da alma humana 
(Apolinarismo, do esquema Logos-Sarx), nem alguém que se pa-
recia com Deus (homoiousios). Ele que sem deixar de ser Deus, 
humilhou-se tomando carne humana (cf. Fil 2,6s) – uniu em si tão 
intimamente as naturezas humana e divina. Fez-se, por milagre di-
vino, um só e mesmo homem-Deus. Sem deixar de ser totalmente 
Deus, tornou-se, desde o seio de Maria, totalmente humano, tão 
unido que nada podia separá-lo nem dividi-lo, como também nada 
poderia fundir suas naturezas ou misturá-las. Assim, nós confessa-
mos hoje: ele, unido hipostaticamente, em suas naturezas divina 
e humana de modo inconfuso, inseparável, indiviso e imutável, é 
radicalmente humano como nós e divino como Deus.
A originalidade de Jesus, porém, não é fonte senão de um 
amor, serviço a Deus e à humanidade. Um serviço de amor a Deus 
porque ele (junto com o Espírito Santo) é uma das mãos criadoras 
do Pai em relação a tudo quanto existe. Por ele e nele foram cria-
das todas as coisas (cf. Col 1,16). E mais ainda: nele elas subsistem 
(cf. Col. 1,17). A criação, em seu longo processo de evolução, só 
acabará quando tudo estiver consumado para ser entregue ao Pai 
como obra de Jesus (cf. 1Cor 15,28s). Ela, a criação, não é um fato 
acabado, mas um processo contínuo, com tantos mistérios que – 
para alguns – parece estar abandonada ao caos sem nenhuma di-
retividade. Os cristãos, mesmo, não sabendo os "como", sabem 
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Claretiano - Centro Universitário
© U6 - O lugar e o papel de Cristono plano de Deus
que Jesus, o Cristo e Senhor do universo, dirige a criação e sua 
evolução, num processo rumo à plenitude radical: sua consuma-
ção em Deus - onde Deus estará em tudo (pan-en-teismo), sem 
que tudo se torne Deus (panteísmo).
A singularidade de Jesus em ser Cristo homem-Deus está 
relacionada ao fato de ele ser o ungido do Pai pelo Espírito. A 
promessa de Deus fundamentada no profeta Joel "naqueles dias 
derramarei o meu espírito" (Jl 3,2; cf. At 2,16ss), ou em Ezequiel 
"dar-vos-ei um novo coração, porei no vosso íntimo um espírito 
novo" (Ez 36,26), leva a comunidade de fé a crer que Jesus é o por-
tador do Espírito de Deus. E o é, desde sua concepção "O Espírito 
Santo virá sobre ti (Maria) [...] e o Santo que nascer será chamado 
Filho de Deus (Lc 1,35"), passando pelo batismo João viu o Espírito 
de Deus descendo sobre ele (Lc 3,16), manifesto em seu ministé-
rio evangelizador até ser entregue no alto da cruz (Hebr 9,14) e 
depois dado à Igreja (cf. At 2,4ss). Como diz Santo Irineu, o Espírito 
acostumou-se gradativamente a morar em Jesus, para depois pas-
sar definitivamente a in-habitar em nós. 
A singular consagração no Espírito fez de Jesus um ser único, 
a ponto de "não haver sob o céu nenhum outro nome dado aos 
homens pelo qual devemos ser salvos" (At 4,12; cf. 2,21). Em obe-
diência condicional, aquele que se humilhara para ser um de nós 
e um conosco (cf. Mt 1,23) é o Emanuel. (Deus-conosco). Citando 
Kierkegaard, Bruno Forte repete: 
Que um homem seja Deus, que diga ser Deus e se apresente 
como Deus, isto constitui o escândalo por excelência [...]. O 
que é infinitamente importante é o fato de que Deus viveu 
aqui na terra como um homem (FORTE, 1985, p. 309).
Tal ousadia de Deus, no seu Filho encarnado, só poderia ser 
obra criativa do Espírito que o assumira, consagrando-o e o acom-
panhando. Esta singularidade do Emanuel faz realçar em Jesus sua 
condição de iniciador da nova humanidade. Não em vão se diz 
dele: o primogênito da nova criação. Nele, o antigo "adão" (ser 
humano) encontra-se como "nova criatura", possuída pelo Ruah 
© Cristologia204
Santo. Jesus torna-se, por um lado, mais um dos milhões de ho-
mens e mulheres da terra. Por outro, nele Deus faz ver sua ima-
gem. E a imagem de Deus, visível no homem Jesus, o possuído 
pelo Espírito, o faz ser o primeiro de uma multidão "maior que as 
estrelas do céu, que não se podem contar" (cf. Gen 15,5 promessa 
a Abraão). Como o primeiro da nova criação, ele tem a respon-
sabilidade da primogenitura porque é um igual aos irmãos. Sua 
responsabilidade não é nem a da paternidade (ele não é Pai) nem 
a da filialidade (ele não é filho). Seu lugar, de direito, é a do pri-
mogenitura, pois, feito irmão, é aquele que se ocupa simultanea-
mente, com as tarefas de cuidado e redenção de todos. Para isto, 
o Espírito que assiste.
Para muitos cristãos e isto foi predominante no segundo mi-
lênio, Jesus se fez um de nós para nos salvar dos pecados, pela 
morte na cruz. Esta afirmação negativa da encarnação foi feita ini-
cialmente por Tertuliano (220) e se afirmou, sobretudo, no ociden-
te medievo. Todavia, ela não é tudo, pois como se vem afirmando 
inúmeras vezes nesta cristologia, o sentido da encarnação está no 
fim do plano de Deus e esse consiste em nossa participação na 
vida divina, em podermos ver a Deus (visão de Deus) face a face, o 
que só é possível, como diziam os Santos Padres, pela nossa divi-
nização. Nesse sentido, o Verbo se fez homem para que o homem 
se tornasse divino.
Quando se perde a perspectiva da consumação no desígnio 
salvífico, substituindo-a pela visão do pecado, anula-se o papel de 
Jesus não só como iniciador da nova humanidade quanto se per-
de a esperança de que ele possa levar a cabo a missão que o Pai 
lhe dera: ser o salvador de todos, sem que nenhum se perca (cf. 
Jo 17,12). É preciso lembrar: esta missão pertence ao Verbo desde 
antes da criação do mundo (cf. Ef 1,3ss).
A missão de recapitular tudo em Cristo é a ação própria do 
consumador desta missão. E nisso se encontram as razões da en-
carnação e não na eventualidade do pecado, o que demonstraria 
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Claretiano - Centro Universitário
© U6 - O lugar e o papel de Cristo no plano de Deus
força condicional do próprio pecado sobre a ação de Deus. Para 
encaminhar o mundo, o ser humano e toda a criação à visão de 
Deus e à simultânea redenção da natureza (cf. Rom 8,19ss), o Ver-
bo se fez um de nós. E como um de nós ele se tornou o Caminho 
que leva à Verdade e à Vida. Tal serviço ele tem a feito de modo 
a poder dizer: "vim, não para ser servido, mas para servir" (...) ou 
então "se o grão de trigo não morre, não produz fruto" (Jo 12,24) e 
ainda mais: "Pai, aqueles que me deste, quero que, onde eu estou, 
também eles estejam comigo, para que contemplem minha glória, 
que me deste, porque me amaste antes da criação do mundo" (Jo 
17,24).
Deus amou tanto o mundo que lhe deu seu Filho único (cf 
Jo 3,16). O Filho único amou ao extremo todos os seus irmãos, 
inclusive os que se fizeram (e se fazem) seus inimigos: "ninguém 
tem amor maior do que o que dá a vida pelos seus" (Jo 15,13). 
Para expressar esse amor, Schürmann cunhou a expressão "pró-
-existência". E ela passou a ser explicada como amor radical de 
Jesus por Deus ("pro Deo") e por nós ("pro nobis"). Acercando-se 
de todos, Jesus, o Verbo Encarnado, foi-se fazendo "próximo" de 
todos, acolheu doentes e aleijados, pobres e pecadores, mulhe-
res e crianças, marginalizados e homens e mulheres "de bem". Fez 
de si um lugar para os famintos, cansados e fatigados. Acolheu-os 
que sentiam pesado o fardo de vida. Promoveu a reconciliação. Em 
resumo, passou pela vida fazendo o bem. Por outro lado, serviu 
a Deus com sua vida, buscou sua vontade, mesmo quando não a 
compreendeu. Fez de Deus o centro de sua vida. Passava noites 
em oração. Amou-o a ponto de entregar por Ele e pelos seus ir-
mãos sua própria vida "Minha vida ninguém a tira, sou eu quem a 
dou livremente". Foi verdadeiramente homem exemplar. Foi nele 
que "Adão" encontrou-se consigo mesmo, pois viu nele um ho-
mem capaz de fazer sempre o bem e nunca se afastar de Deus. A 
exemplaridade do "novo adão" não é algo apenas histórico, pois 
a atitude do Verbo de humilhar-se, fazer-se um de nós e ir ao ex-
tremo de entregar-se na cruz pelos pecadores é um ato da divina 
© Cristologia206
caridade de Deus. A solidariedade aponta para a exemplaridade 
de Jesus como uma questão que vem dos inícios da criação e se 
completa no fim da história.
Ao afirmar-se que Jesus é modelo de vida e perfeição, de 
modo algum se deve empregar o conceito de perfeição da filosofia 
(grega especialmente, que subjaz no inconsciente ocidental e cris-
tão). Ele é "o novo adão", nascido filho da humanidade, que tam-
bém sofreu nossas dores e nossos limites. Foi um homem, situado 
no tempo e no espaço. Aprendeu a crescer em idade, sabedoria e 
graça, diante de Deus e dos homens (cf. Lc 2,52). Pelas limitações 
e sofrimentos, aprendeu a obedecer a Deus "e, levado à perfeição 
tornou-se para todos os que lhe obedecem princípio de salvação 
eterna, tendo recebido de Deus o título de sumo sacerdote, segun-
do a ordem de Melquisedec” (Hebr 5, 8.10).
A vida exemplar de Jesus não é apenas uma questão de ensi-
namento. Antes, é uma realidade de antecipação histórica e esca-
tológica de sua vontade – enquanto primogênito, consumador da 
criação, modelo de vida de busca da profunda realização humana. 
Há uma dimensão de pequenas e grandes, de cotidianas e univer-
sais causas em Jesus à medida que ele se torna – e é percebido – 
como resposta às grandes aspirações humanas, como supressão 
da fome, da miséria da doença, da morte e do fracasso.
Olhar para o projeto de Jesus é buscar a justiça, o perdão, a 
reconciliação, a fraternidade e a participação, que tornam a vida 
dignitosa. Jesus é fonte de uma realização humana ainda maior: 
a vida feliz, uma profunda aspiração humana, que ele a aponta 
como possível só em Deus. A esperança e desejomais radicais do 
coração humano por meio de Jesus realizam-se na promessa e na 
concretização do projeto de Deus: o ser humano a ser salvo por 
meio de Jesus. E esta salvação tem não só um nome, mas uma re-
alidade: viver diante de Deus face-a-face - não foi assim que Adão 
e Eva viveram no paraíso até buscar amores menores que os des-
viaram de Deus?
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As mais profundas aspirações humanas e seus desejos mais 
radicais são apresentados por Jesus ao Pai. Esse Jesus é aquele 
"que, nos dias de sua vida terrestre, apresentou pedidos, súplicas, 
com veemente clamor e lágrimas, àquele que o podia salvar da 
morte; e foi atendido por causa de sua submissão” (Hebr 5.7). Ele, 
que fora provado em tudo como nós, é o sumo sacerdote que se 
compadece de nós, diante do Pai (cf. Hebr 4, 15-5,2), a fim de que 
ninguém pareça, mas todos tenham a vida eterna (cf. Jo 5,24), ou 
seja, participem definitivamente da vida em Deus, quando estive-
rem "no novo céu e na nova terra" (cf. Ap. 21,1).
Pela solidariedade e serviço, pelas experiências de vida e 
ofertas sacerdotais, Jesus transcende todas as nossas realidades e 
as apresenta ao Pai. Do Pai ele trouxera não apenas a revelação de 
quem é Deus e qual seu plano, mas ainda mais: trouxe-nos amor 
salvífico de Deus. Desse modo, Jesus, o verdadeiro Emanuel (Deus 
conosco), tornou-se o grande mediador entre Deus e os homens, 
nessa aliança nova, definitiva. (cf. Hebr 9,15; 12,24) e mostra sua 
longanimidade, para exemplo dos que haveriam de crer nele e re-
ceber a vida eterna (cf. 1Tm 1,16).
A fé e a teologia (cristologia) não podem senão reconhecer 
que aquele Jesus, filho de Maria, humano como nós e filho eterno 
de Deus, não é senão uma mesma e única pessoa, para a glória de 
Deus e nossa salvação humana e escatológica. Nele encontramos 
um homem de extraordinária criatividade e um Deus amoroso, ca-
paz de ser "o Caminho, a Verdade e a Vida" (Jo 14,6), o primogêni-
to de toda a criação (cf. Rom 8,29, Col 1,18), o consumador da cria-
ção (cf. Hebr 9,26), novo adão (cf. 1Cor 15,45; também Ap 22,13) e 
realizador das mais profundas aspirações humanas que vão desde 
o nosso cotidiano até a definitividade de nossa vida. 
 
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9. SEGUIR JESUS
Nenhuma cristologia, hoje, pode negligenciar o apelo ao se-
guimento de Jesus. Da interrogação de André sobre onde mora Je-
sus decorreu a resposta: “vinde ver”. E ele foi e passou a tarde com 
Jesus. Daí em diante não o abandonou mais (cf. Jo 1,35-42). O con-
trário fez o jovem rico, que tinha muitos ídolos (cf. Lc 18,18-30). 
Conhecer Jesus só faz sentido se for para segui-lo. Conhe-
cê-lo não é primeiramente saber o que Ele foi nem aderir a uma 
doutrina, ou ser membro de uma igreja cristã, antes é ser capaz 
de reconhecer sua pessoa e, Nele, "estas coisas não reveladas aos 
sábios e aos entendidos, mas aos pequeninos" (Mt 11,25). 
Conhecer Jesus para segui-lo é aceitar concreta e existencial-
mente seu projeto de vida: ser criatura nova, filho(a) de Deus ou 
verdadeiramente humano, como Ele foi. Conhecê-lo para segui-lo 
implica em fazer-se membro efetivo da grande família de Deus, a 
nova comunidade onde valem as pessoas humanas à luz de Deus, 
como irmãos entre si. 
Conhecê-lo para segui-lo envolve fazer a vontade de Deus 
acima de tudo. Isso significa saber centrar em Deus seu querer e 
seu agir, esvaziando-se de si mesmo ou "perdendo sua vida", para 
ganhá-la enriquecida (cf. Mt 16,26). Desse modo, seguir Jesus é 
amar como Ele amou a Deus e ao próximo, sobretudo aos mais 
necessitados. Seguir Jesus é implantar o grande projeto de salva-
ção de Deus, ali no cotidiano de cada um, acolher o outro, porque 
todo o outro é imagem de Deus e irmão do próprio Jesus Cristo. 
É comprometer-se, localmente, na construção do Reino de Deus. 
Assim, estudar cristologia implica em amá-lo e segui-lo; es-
cutá-lo, a seus pés escolhendo a melhor parte (cf. Jo 10, 42) e an-
tecipando as bem-aventuranças já na terra. E como só Ele é o sal-
vador definitivo, deixar-se reconciliar com Ele, receber seus dons e 
reparti-los com os irmãos. Segui-lo é deixar-se cristificar para que 
o mundo seja cada vez melhor, até sua definitividade, quando Cris-
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to der por consumada sua obra, e apresentar tudo ao Pai (cf. 1Cor 
15), com o cuidado que não se perca nenhum dos que o Pai lhe 
entregou (Jo 6,39). É, por fim, acolher para amá-lo e segui-lo com 
o grito confiante: "Maranatha". Amém!
Veja a seguir dois excelentes textos que enriquecem seu 
aprofundamento teológico:
Jesus de Nazaré, o Crucificado ressuscitado, é o Filho de Deus em 
forma de um ser humano real e contingente: dentro da medida 
existencial de uma vida humana histórica, verdadeira e completa, 
Ele nos trouxe - por meio de sua pessoa, pregação e praxe de vida, 
e por sua morte - a viva mensagem do ilimitado dom de si mes-
mo, que Deus é em si mesmo e quer ser também para nós, seres 
humanos. A nossa história, e dentro dela o que aconteceu com 
Jesus, é fato contingente, não necessário. Todavia, Deus não seria 
Deus sem esse acontecer histórico. Por isso, esta história, a nossa 
(que não podia ter acontecido), é, todavia, o único caminho realista 
para falarmos alguma coisa com sentido sobre a essência de Deus. 
Pelo dom histórico de si mesmo, aceito pelo Pai, Jesus nos mostrou 
quem é Deus: um “Deus humanisssimus”. Como o homem Jesus 
pode ao mesmo tempo ser para nós a figura de uma “pessoa divi-
na”, o Filho, presente por imanência total, que transcende o nosso 
futuro, isso é para nós um mistério, a meu ver teoricamente inson-
dável, apesar de ter sido vivido por Jesus de Nazaré de uma forma 
para nós não contraditória e até cheia de sentido. Às vezes está 
mesmo na hora - e que hora santa! - de louvar e adorar em silêncio, 
e de nos lembrarmos criticamente da grande tradição da “teologia 
negativa”. Nós, afinal, depois de tudo o que sabemos sobre Ele, não 
sabemos quem Deus é (SCHILLEBEECKX, 2008, p. 674).
Quando, no movimento que vai do presente para Cristo, um ho-
mem supera a prova do escândalo e se decide a reconhecer no hu-
milde Nazareno o Salvador do mundo, centro e medida da história, 
os seus olhos se “abrem” (cf. Lc 24,31) e se tornam capazes de cap-
tar, mais profundamente do que é “visível”, a presença e a força do 
movimento inverso, que vem de Cristo e de sua história irrepetível 
para o nosso “hoje”, fazendo Dele um “hoje” de salvação na irrup-
ção do dom libertador de Deus. A confissão da singularidade de 
Jesus Cristo abre-se então à experiência atual, vivificante e alegre, 
da graça que Nele foi dada aos homens, e vive o encontro, trans-
formador e exigente, com Aquele cujo caminho seguimos. “Hoc est 
Christum cognoscere, beneficia eius cognoscere” (Melanchton). O 
verdadeiro conhecimento de Cristo é a experiência do bem que Ele 
é para nós, e dos frutos de vida plena que, Dele, glorificado pelo 
Pai, promanam para aqueles que o acolhem na audácia da fé. O 
reconhecimento da singularidade de Jesus traduz-se assim na ex-
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periência de sua contemporaneidade: Jesus, humilde e redentor, 
faz-se presente a nós, aqui e agora, em todo poder contagiante de 
seu caminho de libertação (FORTE, 1986, p. 326).
10. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira, na sequência, as questões propostas para verificar 
seu desempenho no estudo desta unidade:
1) Leia as afirmações a seguir, assinalando as verdadeiras com “V” e as falsas 
com “F”:
a) ( ) Jesus Cristo é o iniciador e condutor da nova humanidade rumo à 
consumação da obra criada, a qual será apresentada como obra sua, no 
fim dos tempos, para glória de Deus e felicidade sem fim do ser humano. 
b) ( ) Eterno com o Pai e o Espírito Santo, gerado antes de todo o tempo 
para ser o Adão perfeito na história (que incluiu sua encarnação, morte 
e ressurreição), ao deixar deser Deus, recebeu do Pai a missão de ser 
nosso salvador.
c) ( ) Esta afirmação pertence ao Concílio Vaticano II: “Trabalhou com mãos 
humanas, pensou com inteligência humana, agiu com vontade humana, 
amou com coração humano. Nascido de Maria, tornou-se, verdadeira-
mente, um de nós, semelhante a nós em tudo”.
d) ( ) Na leitura retroativa de sua vida, obra e mensagem, descobriu-se em 
Jesus o messias prometido e o salvador único.
e) ( ) Pela vida de Jesus, Deus se aproxima em condições prévias da huma-
nidade. São João enfatiza: “Ele (Deus) quem amou primeiro seu Filho” 
(Jo 3,16), por isto “ deu seu filho único, para que todo aquele que Nele 
crer, seja salvo”.
2) Assinale a única alternativa falsa: 
a) Para alguns teólogos, a salvação é estaurológica, quer dizer: é feita a par-
tir da cruz, por causa do pecado. 
b) O homem, que busca a Deus, pode por si só libertar-se dos males que o 
contagiam, reconhecer estes males e reconciliar-se com Deus.
c) A cruz é fruto de pecado contra Deus, mesmo que Deus tenha tirado 
partido dela, convertendo-a em sinal de salvação. 
d) Alguns teólogos, mesmo sem discutirem o sentido de salvação, produ-
zem sua reflexão sotereológica centrada na cruz. 
e) A cruz de Jesus tornou-se salvadora também para os opressores e injus-
tos à medida que lhes oportuniza a “metanoia” (conversão) e a aceitação 
do crucificado/ressuscitado para a mudança da vida.
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3) Assinale a resposta correta:
a) A perspectiva estaurológica não reduz o significado da encarnação ao 
pecado e a sua necessária redenção.
b) A mentalidade amartiocêntrica criou a afirmação de que nem todos são 
pecadores. Todavia, esta perspectiva é bíblica (inclusive para os judeus 
atuais).
c) Jesus não pecou porque era Deus. Não pecou porque nem Ele e nem 
qualquer outro homem é obrigado a pecar.
d) Conforme Ef. 1, 3 ss, a promessa do salvador é um desejo de Deus desde 
antes da criação. Portanto, antes de qualquer pecado, fomos criados por 
Ele, para sermos salvos por Ele.
e) Ao se tornar cósmico pela sua encarnação no seio de Ma-
ria, e, sobretudo, por sua ressurreição, Deus Pai aperfeiçoa e 
completa toda a criação, dando-lhe de modo escatológico o acaba-
mento (consumação) final.
4) Assinale a única alternativa errada:
a) Pela encarnação (que inclui vida e morte) e ressurreição, Jesus torna-se 
o iniciador da nova humanidade como homem perfeito e plenificado aos 
olhos do Pai, o Criador.
b) Fora do cristianismo há homens e mulheres que se tornaram tão huma-
nos (humanizados e humanizadores), que já na história Cristo morava 
neles, salvando-os, levando-lhes à consumação plena.
c) Nós professamos que não há outro salvador senão Jesus Cristo. Isto não 
implica dizer que Deus não se sirva de outras situações ou pessoas para 
continuar o processo salvífico.
d) A presença de Deus entre nós, por meio de um da Trindade feito um de 
nós, significa explicitamente o desejo de Deus em nos salvar.
e) Jesus, em sua encarnação, não realizou gestos salvíficos ao reintegrar 
pessoas, ao anunciar o Senhorio de Deus chegando e ao reuni-las frater-
nalmente.
5) Leia as afirmações a seguir, assinalando as verdadeiras com “V” e as falsas 
com “F”:
a) ( ) Nós cristãos temos, na fé, a certeza de que a morte não põe fim à 
vida, mas a transforma: nisto reconhecemos um gesto de salvação por 
meio de Cristo Jesus.
b) ( ) O Verbo, que se fez humano em Maria, mostrou-se singular no pro-
cesso de salvação que Deus quer (quis e há de querer) para todos os 
homens. 
c) ( ) A cristologia, hoje, pode negligenciar o apelo ao seguimento de Je-
sus. Conhecer Jesus só faz sentido se for para segui-lo. Conhecê-lo não 
é primeiramente saber o que Ele foi nem aderir a uma doutrina, ou ser 
membro de uma igreja cristã. Conhecer para segui-lo é aceitar concreta e 
existencialmente seu projeto de vida: ser criatura nova, filho (a) de Deus.
d) ( ) No AT, Sabedoria divina foi reconhecida como dom salvador em prol 
dos que eram tementes a Deus. 
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e) ( ) Na história de Israel, concentrou-se, exemplarmente, a divina ação 
salvadora; porém, há milhares de outras situações salvíficas do mesmo 
Deus, por meio até de sinais (até aparentemente) ambíguos, em outros 
povos.
Gabarito
Depois de responder às questões autoavaliativas, é impor-
tante que você confira o seu desempenho, a fim de que saiba se é 
preciso retomar o estudo desta unidade. Assim, confira, a seguir, 
as respostas corretas para as questões autoavaliativas propostas 
anteriormente:
1) e
2) b
3) d
4) e
5) b
11. CONSIDERAÇÕES
Nesta última parte da unidade, estudamos sobre o significa-
do salvador de Jesus Cristo, homem e Deus verdadeiro e, ao mes-
mo tempo, no plano de Deus.
Desse modo, no decorrer deste estudo, você deve ter perce-
bido o quanto é importante voltar a recuperar a tradição cristoló-
gica dos evangelhos e dos primeiros séculos do cristianismo, bem 
como a integração de cristologia e sotereologia.
12. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esperamos que você tenha ficado duplamente satisfeito, por 
ter se empenhado profundamente em seus estudos e por ter se 
encontrado, enquanto estudava, com Aquele que é nosso único 
salvador e se fez um de nós, por nós e conosco. Ele é o nosso Deus. 
Um dia haveremos de encontrá-lo e viver eternamente com Ele, 
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para a glória de Deus Pai. Você pode continuar aprofundando seus 
estudos, pois a firmeza neste caderno cria bases sólidas para toda 
a vida de fé, e não apenas durante este seu empenho na gradua-
ção de Teologia. Assim, procure constantemente ler os novos livros 
e estudos de cristologia, que forem surgindo.
13. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANSELMO, S. Por que Deus se fez homem? São Paulo: Novo Século, 2003.
DUPUIS, J. Rumo a uma teologia do pluralismo religioso. São Paulo: Paulinas, 1999. 
FEINER, J; LOEHRER, M. (Orgs.). Mysterium salutis: compêndio de dogmática histórico-
-salvífica. III/7. O evento Cristo. 7. A atuação salvífica de Deus em Cristo. Petrópolis: Vo-
zes, 1974. 
FORTE, B. Jesus de Nazaré: a história de Deus, Deus da história. Ensaio de uma cristologia 
como história. São Paulo:Paulinas, 1986.
GESCHÉ, A. A destinação. São Paulo: Paulinas, 2004.
LACOSTE, J. Y. (Org.). Dicionário crítico de teologia. São Paulo: Loyola-Paulinas, 2004.
PEDROSA, V. Mª. Salvação/salvador. In: Dicionário de Catequética. São Paulo: Paulus, 
2002. 
RATZINGER, J. B. XVI. Introdução ao cristianismo. Preleções sobre o Símbolo Apostólico. 
Com um novo ensaio introdutório. São Paulo: Loyola, 2005.
RIBEIRO, Helcion. Por uma sotereologia com incidência histórica. Studium Revista Teoló-
gica, Curitiba, ano 1, n. 1, p. 69-104, 2007.
SCHILLEBEECKX, Edward. Jesus: a história de um vivente. São Paulo: Paulus, 2008.
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