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Julia Paris Malaco – UCT22 SP3 – tutoria Anatomia e fisiologia das suprarrenais As duas glândulas suprarrenais, cada uma localizada em cima de cada rim no espaço retroperitoneal, apresentam formato de pirâmide achatada. As glândulas suprarrenais, são altamente vascularizadas. Uma cápsula de tecido conjuntivo reveste a glândula. Durante o desenvolvimento embrionário, as glândulas suprarrenais se diferenciam em duas regiões distintas de ponto de vista estrutural e funcional: Córtex da glândula suprarrenal - perifericamente localizado, que compreende 80 a 90% da glândula o O córtex da glândula suprarrenal produz hormônios esteroides essenciais à vida. A perda total dos hormônios adrenocorticais leva à morte por desidratação e desequilíbrios eletrolíticos. Medula da glândula suprarrenal - localizada centralmente. o A medula da glândula suprarrenal produz três hormônios catecolaminas – norepinefrina, epinefrina e uma pequena quantidade de dopamina. Córtex O córtex da glândula suprarrenal é subdividido em três zonas: Zona glomerulosa: A zona mais externa, secretam hormônios chamados de mineralocorticoides – aldosterona. Zona fasciculada: é a mais larga das três zonas e secretam principalmente glicocorticoides, em especial cortisol, assim chamados por afetarem a homeostasia da glicose. Zona reticular: zona mais interna, sintetizam pequenas quantidades de androgênios fracos, que são hormônios esteroides que exercem efeitos masculinizantes. Mineralocorticoides Aldosterona: A aldosterona é o principal mineralocorticoide regula a homeostasia de dois íons minerais – íons sódio (Na+) e potássio (K+) – ajudando a ajustar a pressão arterial e o volume de sangue. promove a excreção de H+ na urina. Controle da secreção de aldosterona A via renina-angiotensina-aldosterona (RAA) controla a secreção de aldosterona Desidratação, deficiência de Na+ e hemorragia são estímulos que iniciam a via da renina-angiotensina-aldosterona. Essas condições promovem a diminuição do volume sanguíneo O volume sanguíneo reduzido promove a queda da pressão arterial A pressão arterial mais baixa estimula certas células renais, chamadas de células justaglomerulares, a secretar a enzima renina O nível de renina no sangue sobe A renina converte a angiotensina, uma proteína plasmática produzida pelo fígado, em angiotensina I Sangue contendo níveis mais Julia Paris Malaco – UCT22 altos de angiotensina I circula pelo corpo Conforme o sangue flui pelos capilares, sobretudo dos pulmões, a enzima conversora de angiotensina (ECA) converte angiotensina I no hormônio angiotensina II O nível sanguíneo de angiotensina II sobe A angiotensina II estimula o córtex da glândula suprarrenal a secretar aldosterona Sangue contendo níveis mais elevados de aldosterona circula para os rins Nos rins, a aldosterona aumenta a reabsorção de Na+, que, por sua vez, promove a reabsorção de água por osmose. Em consequência disso, perde-se menos água na urina. A aldosterona também estimula os rins a intensificarem a secreção de K+ e H+ na urina Com a reabsorção mais intensa de água pelos rins, o volume de sangue aumenta Na medida em que o volume de sangue aumenta, a pressão arterial se eleva ao normal A angiotensina II também estimula a contração da musculatura lisa das paredes das arteríolas. A constrição resultante das arteríolas aumenta a pressão sanguínea e, desse modo, ajuda a elevar a pressão de volta ao normal Além da angiotensina II, um segundo fator que estimula a secreção de aldosterona é uma concentração maior de K+ no sangue (ou líquido intersticial). A diminuição no nível sanguíneo de K+ produz o efeito oposto. Glicocorticoides Os glicocorticoides são o cortisol, a corticosterona e a cortisona. São secretados pela zona fasciculada Cortisol é o mais abundante, responsável por cerca de 95% da atividade glicocorticoide. Os glicocorticoides exercem os seguintes efeitos: Degradação de proteína: Os glicocorticoides intensificam a taxa de degradação de proteína, principalmente nas fibras musculares e, dessa forma, aumentam a liberação de aminoácidos na corrente sanguínea. Os aminoácidos podem ser usados pelas células corporais na síntese de novas proteínas ou na produção de ATP. Formação de glicose: Ao serem estimulados pelos glicocorticoides, os hepatócitos convertem determinados aminoácidos ou ácido láctico em glicose, que será usada por neurônios e outras células para produzir ATP. Tal conversão, de uma substância que não seja o glicogênio ou outro monossacarídio em glicose, é chamada de gliconeogênese. Lipólise: Os glicocorticoides estimulam a lipólise, degradação dos triglicerídios e liberação de ácidos graxos do tecido adiposo para o sangue. Resistência ao estresse: Os glicocorticoides trabalham de muitas maneiras para promover a resistência ao estresse. A glicose extra fornecida pelos hepatócitos oferece aos tecidos uma pronta fonte de ATP para combater inúmeros estresses, inclusive exercício, jejum, medo, temperaturas extremas, altitudes elevadas, sangramento, infecção, cirurgia, traumatismo e doença. Uma vez que tornam os vasos sanguíneos mais sensíveis a outros hormônios que causam vasoconstrição, os glicocorticoides elevam a pressão sanguínea. Esse efeito é vantajoso nos casos de perda significativa de sangue, que faz com que a pressão arterial caia. Efeitos anti-inflamatórios: Os glicocorticoides inibem a participação dos leucócitos nas respostas inflamatórias. Infelizmente, os glicocorticoides também atrasam o reparo tecidual; em consequência disso, retardam a cicatrização de feridas. Embora em doses elevadas possam ocasionar transtornos mentais graves, os glicocorticoides são muito úteis no tratamento de condições inflamatórias crônicas como artrite reumatoide. Depressão das respostas imunes: Doses elevadas de glicocorticoides deprimem as respostas imunes. Por esse motivo, os glicocorticoides são prescritos para receptores de órgãos transplantados com objetivo de retardar a rejeição tecidual promovida pelo sistema imune. Controle da secreção de glicocorticoide: O controle da secreção de glicocorticoide ocorre por meio de um sistema de feedback negativo típico. Níveis sanguíneos baixos de glicocorticoides, principalmente cortisol estimulam as células neurossecretoras no hipotálamo a secretarem hormônio liberador da corticotrofina (CRH) O CRH (junto com a baixa concentração de cortisol) promove a liberação de ACTH da adeno-hipófise Julia Paris Malaco – UCT22 O ACTH flui no sangue para o córtex da glândula suprarrenal onde estimula a secreção de glicocorticoide (em grau muito menor, o ACTH também estimula a secreção de aldosterona). Níveis elevados de CRH e níveis baixos de glicocorticoides promovem a liberação de ACTH, que estimula a secreção de glicocorticoides pelo córtex da glândula suprarrenal. Androgênios Tanto em homens quanto em mulheres, o córtex da glândula suprarrenal secreta pequenas quantidades de androgênios fracos. O principal androgênio secretado pela glândula suprarrenal é a desidroepiandrosterona (DHEA). Nos homens, depois da puberdade, o androgênio testosterona também é liberado, e em quantidade muito maior, pelos testículos. Dessa forma, a quantidade de androgênios secretada pela glândula suprarrenal masculina é normalmente tão baixa que seus efeitos são insignificantes.Nas mulheres, no entanto, os androgênios suprarrenais desempenham funções importantes. Eles promovem a libido (desejo sexual) e são convertidos em estrogênios (esteroides sexuais feminilizantes) por outros tecidos corporais. Após a menopausa, quando a secreção ovariana de estrogênios cessa, todos os estrogênios femininos são provenientes da conversão dos androgênios suprarrenais. Os androgênios suprarrenais também estimulam o crescimento de pelos axilares e púbicos nos meninos e nas meninas e contribuem para o estirão de crescimento pré-puberal. O controle da secreção suprarrenal de androgênio é feito principalmente pelo ACTH. Medula da glândula suprarrenal A região interna da glândula suprarrenal, a medula da glândula suprarrenal, consiste em um gânglio simpático da divisão autônoma do sistema nervoso (SNA) modificado. Os dois principais hormônios sintetizados pela medula suprarrenal são a epinefrina e a norepinefrina, também chamadas de adrenalina e noradrenalina, respectivamente. As células cromafins da medula da glândula suprarrenal secretam quantidades desiguais desses hormônios – cerca de 80% de epinefrina e 20% de norepinefrina. Controle da secreção de epinefrina e norepinefrina: situações de estresse e durante a prática de exercícios, impulsos provenientes do hipotálamo acionam os neurônios pré- ganglionares simpáticos que estimulam as células cromafins a secretarem epinefrina e norepinefrina Esses dois hormônios intensificam a resposta de luta ou fuga. Ao aumentar a frequência e a força de contração cardíacas, a epinefrina e a norepinefrina elevam o débito cardíaco e a pressão arterial. Além disso, aumentam o fluxo de sangue para o coração, o Julia Paris Malaco – UCT22 fígado, os músculos esqueléticos e o tecido adiposo; dilatam as vias respiratórias para os pulmões e elevam os níveis sanguíneos de glicose e ácidos graxos. Biossíntese Síndrome de cushing A síndrome de Cushing reflete uma série de manifestações clínicas, as quais resultam da exposição crônica a um excesso de glicocorticoides de qualquer etiologia. A SC endógena pode ocorrer em qualquer faixa etária, mas é mais comum em adultos, com idade mediana de 41 anos ao diagnóstico, e predomínio no sexo feminino Etiologia As causas da SC dividem-se em duas categorias, de acordo com os níveis circulantes de ACTH, (também chamado corticotrofina): ACTH-dependentes (principal) ACTH-independentes Síndrome de Cushing ACTH-dependente: A SC ACTH-dependente ocorre quando o hipercortisolismo se origina da secreção excessiva de ACTH. Fator etiológico mais comum desse caso é um adenoma hipofisário secretor de ACTH (também denominado corticotropinoma ou adenoma corticotrófico), caracterizando a DC Doença de Cushing (mais comum) o Resulta, na maioria dos casos, de um microadenoma hipofisário secretor de ACTH. o Predomínio no sexo feminino, entre 20 e 40 anos de idade o Progressão lenta Síndrome do ACTH ectópico o Provavelmente, a causa mais comum é o carcinoma pulmonar de células pequenas. o Mais prevalente no sexo masculino, com maior incidência entre 40 e 60 anos de idade Síndrome do CRH ectópico (raro) Síndrome do ACTH/CRH ectópico Carcinoma corticotrófico (raro) Síndrome de Cushing ACTH-independente: Adenoma adrenal Carcinoma adrenal Hiperplasia adrenal macronodular primária Doença adrenocortical nodular pigmentar primária Classificação Hipercortisolismo primário: disfunção na própria adrenal/suprarrenal. Causas: Um tumor suprarrenal que secreta cortisol de modo autônomo pela própria glândula, sem precisar do eixo. o Cortisol alto (secretado apenas pelo tumor) o CRH baixo (não tem estimulo no hipotálamo, não libera) o ACTH baixo (não tem estimulo na adenohipofise, não libera) Hipercortisolismo secundário: disfunção na adenohipofise – prejudica o eixo Um tumor na hipófise que secreta ACTH de modo autônomo. O excesso de ACTH leva à supersecreção de cortisol pela glândula suprarrenal (hipercortisolismo secundário). o Cortisol alto (estimulado pelo ACTH) o CRH baixo (não tem estimulo no hipotálamo para liberar, o estimulo começa direto na adenohipofise) o ACTH alto (tumor secreta ACTH, que consequentemente aumenta cortisol Síndromes paraneoplasicas: tumores exógenos (sem relação com o eixo) secretores de ACTH - produção autônoma Carcinomas de pulmão (principal), neoplasias intratorácicas Simula um “secundário” Julia Paris Malaco – UCT22 o ACTH alto o Cortisol alto o CRH baixo Secreção ectópica – não responde a retroalimentação (não pode ser controlado por feedback negativo) Síndrome de Cushing exógena ou iatrogênica – também chamada de síndrome causada pelo médico: Secundária a tratamentos com administração crônica de glicocorticoides para alguma outra doença. Administração exógena de glicocorticoides aumento de cortisol É um aumento exógeno do cortisol, por conta do medicamento – como a medicação não interfere no exame laboratorial, o cortisol fica normal ou baixo Clinica Sinais e sintomas: Obesidade central ou ganho de peso Face arredondada (face de lua cheia) Braços mais finos Fraqueza Aumento da gordura supraclavicular/retrocervical (giba de búfalo) Adelgaçamento da pele Pletora facial Hirsutismo/alopecia Calvície feminina Estrias violáceas ou purpúricas Acne Equimoses aos mínimos traumatismos ou espontâneas Cicatrização diminuída das feridas Irregularidade menstrual Diminuição da libido (homens/mulheres) Disfunção erétil Depressão, ansiedade ou instabilidade emocional Cefaleia Psicose/mania Fraqueza/atrofia muscular Osteopenia ou fraturas Diminuição do crescimento linear em crianças Hipertensão Intolerância à glicose Dislipidemia Esteatose hepática Nefrolitíase Alcalose hipocalêmica Infecções fungicas A proteólise do colágeno pode levar à fragilidade da pele, lesões com facilidade e estrias. A “face de lua cheia” com bochechas vermelhas e ́ típica dessa condição. A ação catabolica do cortisol faz proteólise muscular (quebra dos músculos) principalmente dos braços e pernas, deixando-os mais finos. O excesso de cortisol leva a lipólise (quebra de gordura), que ocorre em todo o tecido, e ao longo do tempo mobiliza lipídeos e redireciona os depósitos dessa gordura em alguns pontos principais, como na barriga, face e corcunda. Redistribuição da gordura: Os adipócitos abdominais sofrem hiperplasia. Maior atividade da LPL (a lipase que faz com que os lipídeos sejam captados pelo tecido adiposo) A hiperplasia das suprarrenais, com estímulo da síntese de cortisol, também pode causar o aumento da síntese outros hormônios – já que o cortisol tem o poder de amplificar a ação de outros hormônios - como androgênios, causando hirsutismo (na mulher) Algumas outras alterações incluem: Pressão arterial alta: aumenta aldosterona aumenta sodio e agua aumenta PA Aumento de sodio e deficiência de potássio Hiperglicemia que pode evoluir para diabetes, Menstruação irregular osteoporose (devido ao aumento da tendência a fraturas) Aumento do consumo alimentar: Julia Paris Malaco – UCT22 Catabolismo excessivo corpo acha que precisa de alimento hipotálamo aumenta liberação de peptídeos (NPY) - controla centros importantes de fome e saciedade – aumenta a fome e diminui a saciedade aumenta secreção de grelina pelo estômago grelina aumenta o apetite aumento de ingestão dealimentos armazenamento de gordura (tendência a procurar alimentos hipercalóricos). Diagnostico Diante da suspeita clínica de SC, deve-se, de início, descartar o uso de glicocorticoides (por qualquer via de administração). Exame de urina 24hrs (cortisol livre) Sangue (cortisol total – ligado a proteína) Saliva (cortisol livre) A investigação da SC endógena inclui duas etapas: confirmação do hipercortisolismo e definição de sua etiologia. Confirmação do hipercortisolismo: Testes de primeira linha: teste de supressão noturna com 1 mg de DMS (1 mg-DST) dosagem do cortisol salivar ao final da noite medida do cortisol livre urinário (em amostra de 24 h) – 3 coletas separadas Recomenda-se a utilização de pelo menos dois desses testes positivos para confirmação. Testes de segunda linha (complementares – caso os anteriores forem inconclusivos): teste de supressão com 2 mg de dexametasona durante 48 h dosagem do cortisol sérico no final da noite. Exames para determinação da causa do hipercortisolismo: Dosagem do ACTH basal Teste de estímulo com o CRH Teste de estímulo com a desmopressina Teste de supressão com altas doses de dexametasona Cateterismo bilateral do seio petroso inferior Exames de imagem Teste da supressão noturna com 1 mg de dexametasona: Visa demonstrar a perda da inibição por retroalimentação (feedback) negativa do cortisol normal no eixo HHA, tipicamente observada na SC. Administra-se 1 mg de DMS às 23 h por via oral (VO), com dosagem do CS na manhã seguinte às 8 h. Em crianças, a dose é de 10 μg/kg de peso. Valor de referência: Menor que 1,8 ug/dL. Teste de supressão com 2 mg de dexametasona: Administra-se 0,5 mg de DMS a cada 6 horas (às 9h, 15h, 21h e 3h) durante 48 horas. O sangue é coletado para dosagem do CS antes e depois de 24 e 48 horas (6 horas após a última tomada de DMS). Em crianças, a dose é de 20 μg/kg/dia. Em indivíduos saudáveis, o valor do CS deve se reduzir para menos de 1,8 μg/dℓ (50 nmol/ℓ) após 24 e/ou 48 horas. Valores > 1,8 μg/dℓ são indicativos de hipercortisolismo. Armadilhas na interpretação dos testes de supressão noturna com doses baixas de dexametasona (DMS): Resultados falso-positivos (falta de supressão) o Hipercortisolemia não resultante da síndrome de Cushing o Obesidade* o Estresse o Etilismo o Doenças psiquiátricas (anorexia nervosa, depressão, mania) o Níveis elevados da CBG (estrógenos, gravidez, tamoxifeno, mitotano, hipertireoidismo) o Resistência aos glicocorticoides o Problemas relacionados com o teste o Insuficiente liberação de DMS na circulação o Diminuição da depuração renal do cortisol o Insuficiência renal crônica Resultados falso-negativos o Fármacos que alteram o metabolismo da DMS, por inibição do CYP3A4 (amiodarona, aprepitanto/fosaprepitanto, itraconazol/fluconazol, ritonavir/indinavir/nelfinavir, fluoxetina, diltiazem, cimetidina, ciprofloxacino/norfloxacino etc.) o Hepatopatias crônicas o Hipercortisolismo cíclico Dosagem do cortisol livre urinário 24hrs Obtém-se a dosagem do cortisol livre urinário (UFC) analisando-se uma amostra urinária de 24 h, em que é incluída a segunda micção do Julia Paris Malaco – UCT22 dia em que a coleta é iniciada até a primeira do dia seguinte. Padrão ouro de investigação Valor de referência: 9,5 a 136,2 mcg/24hrs Na investigação de hipercortisolismo: sugere- se realizar ao menos 3 amostras (coletar urina 24hrs 3 dias) Pacientes com síndrome de Cushing podem apresentar 25% dos exames normais Situações que podem modificar os níveis do cortisol livre urinário: Níveis elevados o Síndrome de Cushing o Depressão o Síndrome dos ovários policísticos (principal diagnostico diferencial) o Etilismo o Obesidade o Indivíduos cronicamente doentes Níveis falsamente elevados o Terapia com carbamazepina, digoxina ou fenofibrato* o Reação cruzada com glicocorticoides exógenos** o Fármacos que inibem a HSD2 (carbenoxolona etc.) o Estrogênio, uso de anticoncepcional (aumenta cortisol) o Ingestão excessiva de líquidos (≥ 5 ℓ/dia) Níveis falsamente normais ou reduzidos o Erros de coleta o Insuficiência renal crônica (TFG < 60 mℓ/min) Cortisol no sangue Valores de referência: Manhã: entre 7 as 9hrs – de 5,3 a 22,5 mcg/dL Tarde: entre 15 as 17hrs – de 3,4 a 16,8 mcg/dL Determinação às 23 horas: avaliar o excesso de cortisol (hipercortisolemia), avaliar a perda de ritmo circadiano ocasionada por uma lesão (adenoma) funcionante Interferentes: gravidez, anticoncepcional Cortisol salivar: Interferentes (cortisol salivar): Ritmo circadiano Tabagismo (24h sem fumar) Carbamazenpina Fenofibrato Lesões de cavidade oral Evitar realizar o exame se estiver com processos inflamatórios infecciosos em cavidade oral Evitar escovação vigorosa dos dentes cerca de 30 minutos antes do exame sob o risco de contaminação da saliva com sangue Valores de referência: Manha: 6 as 10hrs – inferior a 0,78 mcg/dL Tarde: 16 as 20hrs – inferior a 0,24 mcg/dL Noite: 23:30 as 00:30 – inferior a 0,20 mcg/dL ACTH Diagnóstico diferencial do excesso de cortisol ACTH alto: síndrome de cushing dependente de ACTH (2º adenoma hipofisário ou tumores extra- hipofisários produtores de ACTH) ACTH baixo/normal: síndrome de cushing independente de ACTH (1º - tumores adrenais produtores de cortisol) Valor de referência: Menor que 46 pg/mL Comentários: Limite inferior de detecção do método: 5,0 pg/mL Julia Paris Malaco – UCT22 Exames de imagem Hipófise: A RM da sela túrcica deve ser realizada em todo paciente com SC ACTH-dependente. A TC tem menor sensibilidade. Adrenal: A TC permanece como a modalidade de imagem que tem maior resolução espacial para a anatomia adrenal, possibilitando a visualização de quase 100% dos tumores produtores de cortisol. Secreção ectópica de ACTH: devem ser realizadas TC e/ou RM de pescoço, tórax e abdome. Os tumores carcinoides brônquicos (TCB) e o câncer de pulmão de células pequenas (CPCP) são as fontes mais comuns de secreção ectópica de ACTH. Tratamento Primeira escolha de tratamento é cirúrgica, caso não seja possível fazer o tratamento farmacológico. Os agentes orais de eficácia estabelecida na síndrome de Cushing são a metirapona e o cetoconazol. Inibidores da esteroidogênese adrenal: São fármacos que têm a capacidade de reduzir a produção de esteroides adrenais por meio da inibição de uma ou várias enzimas da esteroidogênese adrenal. Os principais representantes desse grupo são cetoconazol (o mais usado em todo o mundo), metirapona, etomidato e mitotano. Cetoconazol: inibe as etapas iniciais da esteroidogênese. o Dose de 200 mg 3 vezes/dia para o cetoconazol (dose máxima de 1.200 mg). o Efeitos colaterais do cetoconazol: elevação de transaminases, ginecomastia, distúrbios gastrintestinais, edema, erupção cutânea, insuficiência adrenal, hepatite Metirapona: inibe a síntese de cortisol em nível da 11β-hidroxilase o As doses iniciais são de 500 mg 3 vezes/dia para a metirapona (dose máxima de 6 g) o Efeitos colaterais da metirapona: distúrbios menstruais, acne e hirsutismo, hipertensão, hipocalemia e edema. Mitotano: agente adrenolítico que também é efetivo para reduzir o cortisol. Etomidato: usado em casos mais graves, bloqueia poderosamente a 11β-hidroxilase e a aldosterona-sintase, para reduzir o cortisol. o É administrado por infusão IV contínua em baixas doses não anestésicas.Bloqueadores do receptor de glicocorticoide: Mifepristona: bloqueia diretamente o receptor de glicocorticoides, com afinidade 10 vezes maior que o cortisol, e o receptor de progesterona o Efeitos colaterais: aumentos da pressão arterial ou hipocalemia, sangramento vaginal. O medicamento interrompe a gravidez e é contraindicado em mulheres durante a gestação. Fadiga, cefaleia, náuseas e elevações reversíveis em tireotrofina sérica e lipídios. Na doença independente de ACTH, o tratamento consiste na remoção cirúrgica do tumor suprarrenal. Após a remoção bem-sucedida de um tumor produtor de ACTH ou de cortisol, o eixo HHSR permanece suprimido. Por conseguinte, a reposição com hidrocortisona precisa ser iniciada no momento da cirurgia e reduzida lenta e gradualmente após a recuperação a fim de permitir uma adaptação fisiológica aos níveis normais de cortisol. A cirurgia pode causar diabetes insipidus porque pode lesar a produção de ADH Julia Paris Malaco – UCT22 Hiperaldosteronismo primário (síndrome de conn) Caracteriza-se pela secreção autônoma de aldosterona (independente da angiotensina e dos níveis de potássio) e não supressível por sobrecarga de sódio. O excesso de aldosterona promove retenção renal de sódio e água, expansão do volume do líquido extracelular com supressão da atividade plasmática de renina (APR) e hipocalemia com alcalose metabólica. O hiperaldosteronismo primário (HAP) é a principal causa de hipertensão arterial sistêmica (HAS) secundária. As duas principais etiologias do HAP são o adenoma produtor de aldosterona (APA) e a hiperplasia adrenal bilateral (HAB), classicamente chamada de hiperaldosteronismo idiopático (HAI). Etiologia A causa mais comum de excesso de mineralocorticoide é o hiperaldosteronismo primário, refletindo a produção excessiva de aldosterona pela zona glomerulosa da suprarrenal. Adenoma suprarrenal (de Conn): O excesso autonômico de aldosterona pode ser causado por mutações somáticas (intratumorais) no canal de potássio identificado como causa de doença em 40% dos adenomas produtores de aldosterona. Mutações germinativas raras podem causar hiperplasia suprarrenal macronodular bilateral). Hiperplasia suprarrenal bilateral (micronodular): Excesso autonômico de aldosterona, principalmente micronodular e raramente macronodular. Hiperaldosteronismo remediável por glicocorticoides (hiperaldosteronismo supressível pela dexametasona): produção de aldosterona estimulada pelo ACTH Outras causas (raras): Síndrome de excesso aparente de mineralocorticoides (SEAM) Síndrome de cushing Resistência a glicocorticoides Carcinoma adrenocortical Hiperplasia suprarrenal congênita Hipertensão induzida por progesterona Síndrome de liddle Aldosterona A aldosterona é um hormônio esteroide, sintetizado na zona glomerulosa do córtex adrenal. Ela age no receptor mineralocorticoide (RMC). Além disso, o RMC é expresso em miócitos cardíacos, células endoteliais, músculo liso vascular, macrófagos, células do tecido adiposo marrom e neurônios de várias regiões cerebrais, incluindo hipocampo, hipotálamo e tronco cerebral. A ação principal da aldosterona é promover em tecidos epiteliais a reabsorção de sódio e a secreção de potássio e hidrogênio. A aldosterona também exerce ações não genômicas (não mediadas pelo RMC). A aldosterona age no tônus vascular e na função endotelial mediante a redução da recaptação de catecolaminas, diminuição da resposta vasodilatadora da acetilcolina e sensibilização dos receptores beta-adrenérgicos e de angiotensina II. Além disso, ela aumenta a produção local de vasoconstritores, como prostaciclina e endotelina, e reduz a biodisponibilidade do óxido nítrico. No metabolismo ósseo, a aldosterona aumenta a excreção renal e fecal de cálcio e magnésio de maneira precoce e sustentada, iniciando na fase pré-clínica do hiperaldosteronismo, com aumento na secreção de paratormônio (PTH). Além do efeito calciúrico, a aldosterona aumenta os níveis de PTH por sua ação no estresse oxidativo, elevando interleucina-6 que estimula a atividade do ligante do receptor ativador do fator nuclear kappa B (RANKL), resultando em osteoclastogênese e ativação do osteoclasto. Além dos hormônios mineralocorticoides clássicos, aldosterona e deoxicorticosterona (DOC), o cortisol também pode se ligar com alta afinidade ao RMC, caracterizando a falta de seletividade deste receptor. Rastreamento de hiperaldosteronismo primário HAP é encontrado em 5 a 13% dos casos de HAS e sua pesquisa é mandatória em hipertensos com hipocalemia. Quanto mais grave a HAS, maior o risco. Julia Paris Malaco – UCT22 Indicações para o rastreamento de hiperaldosteronismo primário (HAP) de acordo com a diretriz da Endocrine Society (2016): Pacientes com HAS mantida > 150/100 mmHg em três ocasiões diferentes Pacientes com HAS resistente (PA > 140/90), a despeito do uso de três anti-hipertensivos convencionais (incluindo um diurético) Pacientes com HAS controlada (PA < 140/90) com quatro ou mais anti-hipertensivos Pacientes com HAS associada a hipocalemia espontânea ou induzida por diurético Pacientes com HAS e história familiar de HAS ou AVC em idade < 40 anos Pacientes com HAS e apneia obstrutiva do sono Pacientes com HAS com parentes de 1o grau com HAP Pacientes com incidentaloma adrenal associado a HAS e/ou hipocalemia Pacientes com hipertensão que tem fibrilação atrial Clinica A característica clínica essencial do excesso de mineralocorticoides é a hipertensão hipopotassêmica; O paciente típico com HAP apresenta: Hipertensão (regra – precisa ter) Hipocalemia: o pode estar associada a menifestaçoes inespecíficas: fadiga, indisposição, cãibras, fraqueza muscular e parestesias. o Com a progressão da doença tem-se: polidipsia, poliúria, nictúria (por diabetes insípido nefrogênico, e mesmo diabetes melito), paralisia periódica hipocalêmica, sinais de Chvostek e/ou Trousseau positivos e arritmias cardíacas graves, quadriparesia e rabdomiólise. alcalose metabólica: o causa redução do cálcio ionizado, o que justifica a eventual presença dos sinais de Chvostek e Trousseau. supressão de renina sem edema periférico. o Expansão do volume do líquido extracelular e hipervolemia ocorrem pela reabsorção contínua de sódio e água pelos túbulos renais. Entretanto, após atingir determinado nível de retenção, ocorre um “escape” da ação reabsortiva de sódio pela aldosterona, em parte secundário à liberação do peptídeo atrial natriurético. Por isso, edema periférico é incomum no HAP, a não ser na vigência de alterações das funções renal e/ou cardíaca, ou na presença eventual de hipoalbuminemia. É interessante assinalar que pacientes com aldosteronismo primário apresentam taxas aumentadas de osteoporose, diabetes tipo 2 e disfunção cognitiva. Uma proporção significativa de pacientes exibe excesso de cortisol autonômico leve concomitante, designado como síndrome de Connshing. Diagnostico Rastreamento: O rastreamento deve ser realizado em todos os pacientes considerados de risco para HAP (mencionados anteriormente). Avaliação da relação aldosterona/renina [RAR] - androsterona plasmática sobre a atividade plasmática de renina [APR]. Os valores de corte relatados para a RAR são variáveis. RAR de 27 em presença de níveis de aldosterona ≥ 12 ng/dℓ indica provável HAP e a diferencia de hipertensão essencial com renina baixa (HERB) Se a RAR for > 30 e a aldosterona ≥ 15, a sensibilidade e a especificidade chegam a 90e 91%, respectivamente. Assim, uma RAR ≥ 50 é patognomônica de HAP e, quanto maior, mais elevada é a probabilidade de se tratar de um adenoma. A RAR é influenciada por algumas condições e medicamentos: Pacientes idosos, de raça negra e/ou com algum grau de comprometimento da função renal, e aqueles em uso de bloqueadores beta-adrenérgicos e anti-inflamatórios não esteroides, inclusive inibidores da ciclo- oxigenase (promovem retenção salina), podem apresentar APR mais baixa em Julia Paris Malaco – UCT22 presença de níveis normais de aldosterona, resultando em RAR falsamente elevada. hipertensos usando diuréticos e/ou inibidores da enzima de conversão ou antagonistas do receptor de angiotensina podem apresentar valores falsamente baixos da RAR. Antidepressivos (sertralina e escitalopram) e contraceptivos orais também têm sido associados a valores falseados. As medicações que menos interferem na avaliação do SRAA são os antagonistas dos canais de cálcio não di-hidropiridínicos (verapamil), vasodilatadores diretos (hidralazina) e os bloqueadores alfa-adrenérgicos (prazosina e doxazosina). Devem, portanto, ser utilizadas preferencialmente durante o período de investigação, tanto isoladamente como combinadas. Antagonistas do RMC (espironolactona e eplerenona) devem obrigatoriamente ser suspensos por 4 a 6 semanas antes do rastreamento. Testes confirmatórios: Pelas diretrizes atuais da Endocrine Society: pacientes com hipocalemia espontânea, APR indetectável e aldosterona > 20 ng/dℓ, não necessitam de testes adicionais. E pacientes com RAR elevada, APR suprimida e aldosterona > 30 ng/dℓ, independentemente dos níveis de potássio, podem ser dispensados de testes confirmatórios. Sobrecarga oral de sódio: Adicionar NaCl (6 g/dia) às refeições, por 3 dias No último dia, coletar urina de 24 h para dosar CAP, Na+ e K+ CAU < 10 μg/24 h → HAP improvável CAP > 12 a 14 μg/24 h na presença de Na+ urinário > 250 mEq → provável HAP Infusão salina: Infundir 2 ℓ de SF 0,9% IV em 4 h Coletar: CAP, APR, cortisol e K+ nos tempos 0 e após 4 h CAP < 5 ng/dl → HAP improvável CAP > 10 ng/dℓ → HAP provável CAP de 5 a 10 ng/dℓ → indeterminado Supressão com fludrocortisona: Fludrocortisona 0,1 mg VO de 6/6 h + KCl de liberação lenta (Slow K®) de 6/6 h para manter os níveis de K+ perto de 4 mEqℓ Suplementar NaCl para manter a excreção urinária de Na+ ≥ 3 mmol/kg por 4 dias No 4o dia, dosar CAP e APR às 10 h e cortisol às 7 h e 10 h CAP > 6 ng/dℓ às 10 h → confirma HAP, desde que APR < 1 ng/mℓ/h (suprimida) e o nível do cortisol às 10h deve ser menor que o das 7 h Considerado o teste mais sensível para confirmar HAP Administração de captopril: Captopril 25 a 50 mg VO após o paciente estar em pé ou sentado por 1 h Coletar: APR, CAP e cortisol nos tempos 0, 1 e 2 h Permanecer sentado até o fim do teste HE: queda > 30% na CAP HAP: CAP permanecerá elevada com APR baixa Definição etiológica A síndrome do HAP engloba vários subtipos dentro de dois grupos principais: Tumores: adenoma produtor de aldosterona (APA) o Os APA são tumores benignos pequenos, raramente ultrapassando 3 cm de diâmetro. Raros em crianças, são relativamente mais comuns em mulheres jovens. Hiperplasias: hiperplasia adrenal bilateral (HAB), também chamada hiperaldosteronismo idiopático (HAI). Em geral, baseada em dados clínicos e bioquímicos preliminares, a suspeita diagnóstica de um APA é reforçada quando se trata de uma mulher jovem (< 40 anos de idade), com hipocalemia presente, concentração de aldosterona plasmática (CAP) > 25 ng/dℓ e RAR > 40. Contudo, vários procedimentos podem ser necessários para a distinção etiológica, visto que o tratamento é diferente. Exames de imagem Tomografia: A TC de corte fino da região suprarrenal constitui o método de escolha, visto que proporciona uma excelente visualização da morfologia das suprarrenais. A TC irá prontamente identificar os tumores mais volumosos com suspeita de malignidade, porém poderá omitir lesões com menos de 5 mm. Cateterismo seletivo da veia suprarrenal (CVSR): só deve ser realizado nos candidatos à cirurgia, sem lesão óbvia na TC ou evidência de lesão unilateral em pacientes com mais de 40 anos de idade, já que esse último grupo tem Julia Paris Malaco – UCT22 maior risco de abrigar um adenoma suprarrenal não funcionante coincidente. O CVSR é usado para comparar os níveis de aldosterona na veia cava inferior e entre as veias suprarrenais direita e esquerda. o requer a medição concomitante do cortisol para documentar a colocação correta do cateter nas veias suprarrenais e deve demonstrar um gradiente de cortisol > 3 entre a veia cava e cada veia suprarrenal. o A lateralização é confirmada por uma razão aldosterona/cortisol pelo menos duas vezes maior em um dos lados do que no outro. o A identificação e a lateralização de um adenoma unilateral isolado, em paciente jovem (idade < 40 anos), com HAP clássico (hipocalemia e CAP > 30 ng/dℓ), pela diretriz atual da Endocrine Society, encerram a investigação e permitem a abordagem cirúrgica sem necessidade de cateterismo de veias adrenais (CVA). Da mesma maneira, ausência de imagem tumoral no paciente suspeito de HAB também fecha a avaliação e indica tratamento clínico. Tratamento Os pacientes com menos de 40 anos de idade com excesso de mineralocorticoides confirmado e lesão unilateral podem ser tratados diretamente com cirurgia, que também está indicada para pacientes com lateralização confirmada, documentada por um procedimento de CVSR válido. A suprarrenalectomia laparoscópica constitui a abordagem preferida. O tratamento clínico, consiste principalmente no antagonista de mineralocorticoides: Espironolactona: A espironolactona pode ser iniciada em uma dose de 12,5 a 50 mg 2 vezes/dia e titulada até um máximo de 400 mg/dia para controlar a pressão arterial e normalizar o potássio. Os efeitos colaterais consistem em irregularidade menstrual, diminuição da libido e ginecomastia. Eplerenona: antagonista mais seletivo do MR. As doses iniciais são de 25 mg, 2 vezes/dia e podem ser tituladas até 200 mg/dia Bloqueador do canal de sódio amilorida: (5-10 mg 2 vezes/dia). Aldosteronismo remediável por glicocorticoides (ARG): pacientes com morfologia normal das suprarrenais e história familiar de hipertensão grave de início precoce. O tratamento consiste na administração de dexametasona, utilizando a menor dose possível para controlar a pressão arterial. Alguns pacientes também necessitam de tratamento adicional com antagonista do MR. Insuficiência adrenal (doença de addison) A insuficiência adrenal ou adrenocortical (IA) é definida como a incapacidade do córtex adrenal em produzir quantidades suficientes de glicocorticoides e/ou mineralocorticoides, hormônios cruciais para a homeostase energética e hidreletrolítica. A IA pode ser causada por Insuficiência adrenal primaria ou doença de addison (também chamada de adrenalite autoimune) - distúrbio intrínseco adrenocortical o A DA predomina no sexo feminino, sendo habitualmente diagnosticada entre a 3a e a 5a década de vida. Insuficiência adrenal secundaria: doença hipofisária – hipotalâmica Julia Paris Malaco – UCT22 o É a mais frequente A insuficiência suprarrenal que se origina da supressão do eixo HHSR em consequência do tratamento com glicocorticoides exógenos é muito mais comum. A síntese da aldosterona na zona glomerulosa, principal mineralocorticoide,é primariamente regulada pelo sistema renina-angiotensina- aldosterona e pelos níveis séricos de potássio (K+), com efeito mínimo do ACTH. Por isso, na deficiência de ACTH (IA secundária), a secreção de aldosterona encontra-se normal. A secreção de aldosterona aumenta principalmente em resposta a quedas na pressão arterial e no volume sanguíneo (mediados pela angiotensina II) e pela hipercalemia. A aldosterona leva à retenção de Na+, aumento moderado da secreção de hidrogênio (H+) e aumento da excreção de K+. Também aumenta o número de moléculas de sódio (Na+)-K+-ATPase nas células-alvo. Etiologia Insuficiência adrenal primária Causas adquiridas: Atrofia adrenal “idiopática” - adrenalite autoimune (mais comum) Doença de addison de causa infecciosa - doenças granulomatosas: tuberculose (segunda causa mais comum), sarcoidose, hanseníase Micoses: paracoccidioidomicose, histoplasmose, criptococose, coccidioidomicose, blastomicose norte- americana etc. Doenças virais: AIDS, citomegalovirose Fármacos: cetoconazol, mitotano, etomidato, aminoglutetimida, trilostano, rifampicina, fenobarbital, suramina, ciproterona, corticoides. Doenças infiltrativo-neoplásicas: metástases (pulmão, mama, rim, melanoma), linfomas Doenças infiltrativo-metabólicas: hemocromatose, amiloidose Hemorragia adrenal: traumatismo, cirurgia, uso de anticoagulantes, síndrome antifosfolipídica primária, septicemia, metástases, trauma ao nascimento etc. Adrenalectomia bilateral Causas genéticas: Hiperplasia adrenal congênita Adrenoleucodistrofias Hipoplasia adrenal congênita Deficiência familiar de glicocorticoide Síndrome de Kearns-Sayre Síndrome de Smith-Lemli-Opitz e outras na síntese dos esteróis Em casos de adrenalite autoimune ou doenças infecciosas ou infiltrativas, a IA habitualmente apenas se manifesta após a destruição de 90% ou mais do córtex adrenal. Insuficiência adrenal secundaria Causas adquiridas: Iatrogênica: glicocorticoidoterapia crônica (causa mais comum) Neoplasias: adenomas hipofisários, metástases para hipófise ou hipotálamo, craniofaringioma, tumores do terceiro ventrículo etc. Traumatismo craniano Síndrome da sela vazia Vascular/isquêmica: trombose vascular, síndrome de Sheehan (necrose pós-parto), apoplexia hipofisária, anticoagulação Pós-cirúrgica: hipofisectomia, correção de aneurisma, lesão da haste hipofisária Radioterapia para tumores selares e parasselares Doenças infiltrativas: sarcoidose, hemocromatose, histiocitose X Doenças infecciosas: meningite, encefalite, tuberculose Doenças autoimunes: hipofisite linfocítica Deficiência isolada de ACTH Anorexia nervosa Porfiria intermitente aguda Idiopática Causas genéticas: Deficiência congênita isolada de ACTH (mutações no gene do TPIT) Pan-hipopituitarismo congênito (mutações nos fatores de transcrição RIEG, HESX1, LHX4, LHX3, PROP1 ou POU1F1/Pit-1) Associada à síndrome de Prader-Willi Clinica Deficiência de glicocorticoides: Fadiga, falta de energia Perda de peso, anorexia Mialgia, dor articular Febre Anemia normocrômica, linfocitose, eosinofilia Nível de TSH ligeiramente elevado (devido à perda de inibição da liberação de TSH por retroalimentação) Hipoglicemia (mais frequente em crianças) Pressão arterial baixa, hipotensão postural Julia Paris Malaco – UCT22 Hiponatremia (devido à perda de inibição da liberação de AVP por retroalimentação) Disturbios gastrointestinais: doença celíaca Causados por deficiência de mineralocorticoides (apenas insuficiência suprarrenal primária): Dor abdominal, náusea, vômitos Tontura, hipotensão postural Avidez por sal Pressão arterial baixa, hipotensão postural Aumento da creatinina sérica (devido à depleção de volume) Hiponatremia Hiperpotassemia Acidose metabólica leve Causados por deficiência de androgênios suprarrenais: Falta de energia Pele seca e pruriginosa (em mulheres) Perda da libido (em mulheres) Perda dos pelos axilares e púbicos (em mulheres) Outros sinais e sintomas: Hiperpigmentação (apenas insuficiência suprarrenal primária) o Hiperpigmentação, em consequência do conteúdo aumentado de melanina na pele, é o achado mais característico da DA, ocorrendo em 92 a 94% dos pacientes. o Causada pela estimulação excessiva dos melanócitos pelo ACTH: estímulo do receptor cutâneo de melanocortina (MC1R) pelos níveis elevados de ACTH e α- MSH (componentes da macromolécula POMC). o A hiperpigmentação tende a ser generalizada (Figura 38.6), porém é mais facilmente percebida em áreas expostas ao sol, como face, pescoço e dorso das mãos, bem como em locais mais propensos a traumatismo, fricção ou pressão leve e crônica (dedos dos pés, cotovelos, joelhos, cintura, ombros etc.). A pigmentação também é proeminente nas linhas ou dobras das palmas da mão (Figura 38.7), aréola e mamilo, axila, períneo e cicatriz umbilical. Pele pálida cor de alabastro (apenas insuficiência suprarrenal secundária) – devido a falta de secreção do ACTH Na IA secundária, habitualmente não há deficiência de mineralocorticoide, visto que o sistema renina-angiotensina está intacto e mantendo a secreção de aldosterona; contudo, pode haver hiponatremia por redução do clearance de água livre, devido ao hipocortisolismo Crise adrenal aguda: Sinais: Hipotensão e choque (> 90%) Desidratação Cianose ou palidez Febre (66%) Confusão mental, torpor Coma Sintomas: Dor abdominal, de flanco ou torácica (86%) Náuseas, vômitos, anorexia (47%) Dor abdominal, simulando abdome agudo (22%) Fraqueza Apatia Confusão e desorientação (42%) Alterações laboratoriais: Hiponatremia Hipercalemia Hipoglicemia (rara em adultos, comum em crianças) Uremia Linfocitose, eosinofilia Diferença da sepse: na crise adrenal tem hipercalemia, baixo de cortisol (na sepse tem aumento de cortisol porque ele ajuda no sistema autoimune). IA PRIMARIA (addison) IA SECUNDARIA Hiperpigmentaçao SIM NÃO Associaçao com outras doenças autoimunes SIM NÃO Cortisol BAIXO OU NORMAL BAIXO OU NORMAL ACTH ELEVADO BAIXO OU NORMAL BAIXO Aldosterona BAIXA NORMAL Aldosterona pós ACTH SEM ALTERAÇAO AUMENTO > 16 ng/dl Hipercalemia SIM NÃO Deficiência associada de gonadotrofinas, TSH e/ou GH NÃO SIM (quase sempre) Elevação de TSH e/ou prolactina SIM NÃO IA primaria: IA secundaria: Cortisol baixo Aldostrona baixa ACTH alto Cortisol baixo Aldosterona normal (não é secretada pelo eixo) ACTH baixo Julia Paris Malaco – UCT22 Diagnóstico Diagnóstico laboratorial da insuficiência adrenal: Dosagem de cortisol sérico basal Dosagem de ACTH plasmático basal Teste da estimulação rápida com ACTH (teste da Cortrosina®) Teste de tolerância à insulina (ITT) Teste de metirapona Teste de glucagon É importante ressaltar que os testes realizados para estabelecer o diagnóstico de insuficiência suprarrenal nunca devem retardar o tratamento. Por conseguinte, em um paciente com suspeita de crise suprarrenal, é razoável obter os níveis basais de cortisol, instituir uma terapia de reposição e adiar os testes de estímulo formais para uma data posterior. Dosagem do cortisol sérico basal: O cortisol sérico (CS), coletado entre 8 e 9 h, deve ser o primeiro exame a ser solicitado Seu valor normal é de 5 a 25 μg/dℓ. Nos indivíduos normais, geralmente situa-se entre 10 e 15 μg/dℓ Níveis < 5 μg/dℓ são indicativos de IA Valores ≥ 18 μg/dℓ virtualmente excluem esse diagnóstico. Da mesma maneira, em um paciente com manifestações sugestivasde IA, níveis de CS < 3 μg/dℓ praticamente confirmam o diagnóstico. Dosagem de ACTH plasmático Na presença de níveis reduzidos de CS (< 5 μg/dℓ), valor de ACTH plasmático acima de duas vezes o limite superior da normalidade é altamente indicativo de DA. Na DA, os níveis de ACTH plasmático quase sempre excedem 100 pg/mℓ (VN: < 46 pg/mℓ) e podem alcançar 4.000 pg/mℓ ou mais. Valores de ACTH superiores a 300 pg/mℓ representam um estímulo máximo para a secreção do cortisol. Concentração elevada de ACTH na presença de níveis normais de cortisol pode ser o primeiro sinal da fase precoce da IA primária. Na IA secundária, os valores de ACTH são baixos (geralmente < 10 pg/mℓ ou no limite inferior da normalidade [entre 10 e 20 pg/mℓ]). Teste de estimulação rápida com ACTH: O ponto de corte para insuficiência é habitualmente definido com níveis de cortisol de < 450 a 500 nmol/L (16-18 μg/dL), determinados em amostras obtidas 30 a 60 min após estimulação com ACTH; Uma resposta normal à Cortrosina® (pico de cortisol > 18 μg/dℓ)1 exclui IA primária e franca e IA secundária com atrofia adrenal. Não descarta, contudo, a possibilidade de uma deficiência leve ou recente (até 4 semanas) de ACTH. Um pico de cortisol < 18 μg/dℓ confirma o diagnóstico de IA, mas não discrimina se o problema é adrenal ou hipotalâmico- hipofisário, dilema este facilmente resolvido pela dosagem de ACTH plasmático. Para os casos de IA secundária leve ou recente, o melhor exame confirmatório é o teste da hipoglicemia induzida por insulina ou teste de tolerância à insulina (ITT). Teste de hipoglicemia induzida por insulina ou teste da tolerância à insulina: A resposta normal do CS é um pico > 18 μg/dℓ. Sua detecção descarta IA e baixa reserva hipofisária; contudo, é necessário que a glicemia caia para menos de 40 mg/dℓ para que o teste possa ser interpretado corretamente Teste do glucagon: Os critérios para a resposta do cortisol são os mesmos esperados com o ITT. Entretanto, trata- se de um estímulo menos potente e mais sujeito a produzir resultados equívocos. Dosagem de atividade plasmática de renina e aldosterona: A determinação da atividade plasmática da renina (APR) e da aldosterona está indicada para averiguar a presença de deficiência de mineralocorticoide, a qual, nas fases iniciais de IA primária, pode preceder a deficiência de glicocorticoide. Na IA secundária, o sistema renina- angiotensina-aldosterona está íntegro. Principais achados laboratoriais na doença de Addison: ACTH elevado Cortisol após Cortrosina® < 18 μg/dℓ Hiponatremia (por deficiência de aldosterona) Hipercalemia (por deficiência de aldosterona) Hipercalcemia Hipomagnesemia (raro) Uremia (secundária à depleção de volumétrica e à desidratação) Hipoglicemia Anemia (normocitica e normocromica) Eosinofilia Neutropenia e linfocitose Anticorpos anticórtex adrenal* Sulfato de DHEA baixo Julia Paris Malaco – UCT22 Elevação do TSH Hiperprolactinemia Elevação das transaminases Na IA secundária, não ocorre hipercalemia devido à manutenção da integridade do sistema renina-angiotensina-aldosterona, mas, como mencionado, pode haver hiponatremia. Achados radiológicos A TC e a ressonância magnética (RM) podem ser úteis no diagnóstico diferencial de IA primária. Biopsia adrenal guiada por TC pode ser realizada nos casos de adrenais aumentadas de volume, e a análise anatomopatológica do material obtido pode ser útil na identificação do agente etiológico de IA, predominantemente no caso de doenças granulomatosas (TB, PCM, histoplasmose e criptococose). Achados radiológicos na insuficiência adrenal: Doença de Addison: o Adrenais pequenas e atrofiadas, no caso de doença autoimune - adrenalite autoimune) o Aumento de volume das adrenais, nos outros casos - tuberculose, paracoccidioidomicose ou outras doenças granulomatosas; infiltração neoplásica ou hemorragia o Calcificações adrenais (tuberculose, outras doenças invasivas, hemorragia) o Diminuição da área cardíaca (microcardia) – achado comum no raio X o Aumento de volume da sela túrcica e da hipófise Insuficiência adrenal secundária o Lesões primárias ou metastáticas em hipófise, hipotálamo ou eminência média Tratamento Insuficiência suprarrenal aguda: Reidratação imediata, em geral com infusão de soro fisiológico em uma velocidade inicial de 1 L/hora, com monitoração cardíaca contínua o Para corrigir depleção de volume (com solução glicofisiológica), desidratação, distúrbios eletrolíticos e hipoglicemia Administrar hidrocortisona, 100 mg (50 mg/m2 para crianças) IV inicialmente, seguidos de 200 mg (50 a 100 mg/m2 para crianças) em infusão contínua IV ou 50 mg de 6/6 h IV durante 24 h. Se possível, reduzir a dose em 50% no segundo dia de tratamento Quando o paciente estiver tolerando alimentos VO, passar a administrar o glicocorticoide VO e, se necessário, adicionar fludrocortisona (0,1 mg VO) A reposição de mineralocorticoides pode ser iniciada após redução da dose diária de hidrocortisona para < 50 mg, visto que a hidrocortisona, em doses mais altas, fornece uma estimulação suficiente dos MRs. Insuficiência suprarrenal crônica: Prednisona ou prednisolona 3 a 5 mg/dia VO (dividida em 1 a 2 doses): 3/4 às 7h ou 8h e 1/4 às 14h; ou Hidrocortisona 10 a 20 mg às 7h ou 8h, 5 mg às 12h ou 13h, e 2,5 a 5 mg às 17h ou 18h VO, ou 5,5 mg/m2 de superfície corporal Julia Paris Malaco – UCT22 Fludrocortisona (mineralocorticoide) 0,05 a 0,2 mg às 8h VO Deidroepiandrosterona (DHEA) 25 a 50 mg/dia VO (apenas para mulheres) Seguimento clínico: manter o paciente assintomático, com peso, pressão arterial e eletrólitos normais Duplicação da dose do glicocorticoide durante períodos de estresse (p. ex., infecções virais ou bacterianas, cirurgias etc.) Resposta clínica – melhor parâmetro para avaliação da eficácia do tratamento O nível plasmático de ACTH, o cortisol livre na urina de 24 horas ou as curvas diárias do cortisol sérico refletem se a hidrocortisona foi ou não administrada, porém não fornecem informações confiáveis acerca da qualidade da reposição. Todos os pacientes com insuficiência suprarrenal precisam ser instruídos sobre a necessidade de ajustes nas doses de glicocorticoides relacionados ao estresse. Em geral, esses ajustes consistem em duplicar a dose oral de rotina de glicocorticoides em caso de doença intercorrente com febre e repouso no leito e necessidade de injeção IV de hidrocortisona, em uma dose diária de 100 mg, em casos de vômitos prolongados, cirurgia ou traumatismo. A reposição de mineralocorticoides na insuficiência suprarrenal primária deve ser iniciada em uma dose de 100 a 150 μg de fludrocortisona. A reposição de androgênios suprarrenais constitui uma opção em pacientes com falta de energia, apesar da reposição otimizada de glicocorticoides e mineralocorticoides. Pode estar também indicada para mulheres com manifestações de deficiência de androgênio, incluindo perda da libido. A reposição de androgênios suprarrenais pode ser efetuada pela administração de 25 a 50 mg de DHEA 1 vez/dia. Feocromocitoma Segundo a última classificação da Organização Mundial da Saúde (OMS), de 2017, paraganglioma (PGL) é um tumor neuroendócrino raro com origem no sistema nervoso autônomo simpático ou parassimpático. Feocromocitoma (FEO) é um subtipo de PGL simpático com origem nas células cromafins da medula adrenal, que corresponde a 80 a 85% dos casos. Os feocromocitomas e osparagangliomas são tumores do sistema nervoso simpático ou parassimpático que produzem catecolaminas. Os PGL/FEO podem surgir em qualquer faixa etária, embora a maior ocorrência seja entre 40 e 50 anos, com acometimento semelhante em ambos os sexos em adultos. Cerca de 10% dos casos ocorrem no grupo pediátrico (< 18 anos), no qual há predomínio do sexo masculino. Os PGL são considerados os tumores em que a predisposição familiar tem maior expressão. Os pequenos tumores intra-adrenais secretam predominantemente epinefrina (também denominada adrenalina), que provoca sintomas de hipermetabolismo e intolerância à glicose. Os tumores maiores, ao contrário, produzem mais norepinefrina (noradrenalina). Tumores produtores apenas de dopamina são muito raros e podem cursar com manifestações atípicas, como hipotensão, taquicardia e poliúria. Esporadicamente, tumores malignos podem secretar, de preferência, dopamina, devido a alterações na síntese de catecolaminas em células malignas do PGL/FEO. Além de catecolaminas, os FEO podem secretar uma grande variedade de peptídeos ativos, o que leva a manifestações atípicas, como síndrome de Cushing (por secreção de hormônio adrenocorticotrófico [ACTH] ou, mais raramente, hormônio liberador de corticotrofina [CRH]), diarreia aquosa, hipertermia, hipercalcemia, hipoglicemia etc. Clinica Entre as manifestações iniciais, os episódios de palpitações, cefaleia e sudorese profusa são típicos e constituem uma tríade clássica. A presença dos três sintomas em associação com hipertensão torna o feocromocitoma um possível diagnóstico. Todavia, um feocromocitoma pode permanecer assintomático durante vários anos A sintomatologia dos pacientes com PGL/FEO é muito variável: Hipertensão arterial (HA) a manifestação clínica mais frequente/dominante da doença, Julia Paris Malaco – UCT22 Os paroxismos (“crises” ou “ataques”) são o achado mais característico, consequente à liberação de catecolaminas pelo tumor e subsequente estimulação dos receptores adrenérgicos - Os paroxismos têm como tríade clássica cefaleia intensa, palpitações e sudorese, de aparecimento súbito FEO que produzem epinefrina tendem a causar manifestações adrenérgicas paroxísticas, particularmente ansiedade, tremor, diaforese, taquicardia, palpitações e hiperglicemia. A secreção predominante ou exclusiva de norepinefrina tende a causar hipertensão mantida, em vez de paroxística. Sinais e sintomas: Cefaleias Sudorese profusa Palpitações e taquicardia Hipertensão, sustentada ou paroxística Ansiedade e ataques de pânico Palidez Náuseas Dor abdominal Fraqueza Perda de peso Resposta paradoxal aos agentes anti- hipertensivos Poliúria e polidipsia Constipação Hipotensão ortostática Miocardiopatia dilatada Eritrocitose Elevação da glicemia Hipercalcemia Diagnostico Perante a suspeita clínica de PGL simpático ou FEO, é preciso demonstrar a hipersecreção de catecolaminas (epinefrina, norepinefrina, dopamina) ou dos seus metabólitos (metanefrina, normetanefrina, metoxitiramina) (Figura 36.3).24 Isso pode ser feito a partir da dosagem desses hormônios no plasma ou na urina. Como as catecolaminas são secretadas intermitentemente e os seus metabólitos (globalmente designados por metanefrinas) são produzidos continuamente e têm meia-vida maior, a dosagem das metanefrinas livres plasmáticas (MLP) e/ou das metanefrinas fracionadas urinárias (MFU) é considerada o teste de eleição para o rastreio, com sensibilidade > 96% As metanefrinas urinárias totais incluem a metanefrina e a normetanefrina, metabólitos, respectivamente, da epinefrina e da norepinefrina. Sua dosagem em amostra de urina de 24 horas representa um teste de rastreamento bastante confiável. Valores de metanefrinas totais > 1.300 μg/24 h são indicativos de FEO, e níveis > 1.800 μg/24 h são altamente sugestivos (valor de referência [VR]: 90 a 690 em homens e 95 a 475 em mulheres). Resultados falso-positivos (valores falsamente elevados) são pouco comuns, mas podem ser vistos em pacientes que fazem uso de clorpromazina, inibidores da monoamina oxidase (MAO), buspirona, simpaticomiméticos, antidepressivos tricíclicos, levodopa ou betabloqueadores. Se possível, esses fármacos devem ser descontinuados 7 dias antes da coleta do exame. Interrupção abrupta de substâncias como álcool, benzodiazepínicos e clonidina pode também resultar em aumento das metanefrinas. Exames de imagem: A tomografia computadorizada (TC) e a ressonância magnética (RM) apresentam sensibilidade semelhante e devem ser realizadas com contraste. A RM ponderada em T2 com contraste de gadolínio é ideal para a detecção de feocromocitomas e ligeiramente superior à TC para a obtenção de imagens de feocromocitomas extrassuprarrenais e paragangliomas. Tratamento A decisão cirúrgica deve ser ponderada considerando a velocidade de crescimento do tumor, a idade do doente, a condição médica, a localização do tumor e a morbidade associada ao tratamento. A remoção completa do tumor, que é a meta terapêutica final, pode ser obtida por meio de suprarrenalectomia parcial ou total. É importante preservar o córtex da suprarrenal normal, de modo a evitar a doença de Addison, particularmente em distúrbios hereditários em que há maior probabilidade de feocromocitomas bilaterais. É preciso considerar a preparação pré-operatória do paciente, e a pressão arterial deve estar consistentemente < 160/90 mmHg. Classicamente, a pressão arterial tem sido controlada com bloqueadores α-adrenérgicos (fenoxibenzamina oral, 0,5 a 4 mg/kg de peso corporal). Julia Paris Malaco – UCT22 Como esses pacientes apresentam depleção de volume, o aporte liberal de sal e a hidratação são necessários para evitar a hipotensão ortostática. A prazosina oral ou a fentolamina intravenosa podem ser usadas para o controle dos paroxismos, enquanto se aguarda um bloqueio alfa adequado. Em seguida, podem ser acrescentados betabloqueadores (p. ex., 10 mg de propranolol, três ou quatro vezes ao dia). Hiperplasia adrenal congênita A hiperplasia adrenal congênita (HAC) corresponde a um grupo de sete erros inatos do metabolismo, de padrão autossômico recessivo, decorrente de mutações em genes que codificam enzimas envolvidas na biossíntese do cortisol, levando a uma menor produção desse hormônio pelo córtex adrenal. A deficiente produção do cortisol propicia hipersecreção secundária de hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), com consequentes hiperplasia do córtex adrenal e hiperfunção das vias de síntese não comprometidas pela deficiência enzimática. As deficiências enzimáticas que envolvem a síntese do cortisol são as seguintes, por ordem de frequência: Deficiência de 21-hidroxilase (CYP21A2) o Forma clássica perdedora de sal o Forma clássica virilizante simples o Forma não clássica Deficiência de 17α-hidroxilase (CYP17A1) Deficiência de 11β-hidroxilase (CYP11B1) Deficiência de 3β-hidroxiesteroide desidrogenase tipo 2 (3β-HSD2) Deficiência de “StAR” (proteína de regulação aguda da esteroidogênese) Deficiência de oxidorredutase (POR) (não se trata de uma deficiência enzimática, mas de um cofator para várias enzimas) Deficiência de colesterol desmolase (CYP11A1). Deficiência de 21-hidroxilase A deficiência de 21-hidroxilase (CYP21A2) corresponde a 90 a 95% dos casos de HAC e predomina em caucasianos. A forma não clássica é bem mais comum que a clássica A fisiopatologia dessa doença caracteriza-se por uma sequência de eventos que se inicia com a presença de alterações no gene CYP21A2, o que leva aum defeito na 21-hidroxilação e, consequentemente, à conversão defeituosa de 17α-hidroxiprogesterona (17-OHP) em 11- deoxicortisol, gerando redução da síntese do cortisol. O hipocortisolismo determina a elevação do ACTH, com consequente hiperplasia adrenal bilateral, elevação dos precursores do cortisol (progesterona e 17-OHP progesterona) e posterior estímulo da via de produção dos androgênios (deidroepiandrosterona [DHEA], androstenediona e testosterona). Há dois fenótipos da forma clássica: Perdedora de sal: Virilizante simples: Os diferentes fenótipos estão relacionados ao percentual de atividade residual de CYP21A2, a qual se mostra ausente ou mínima (< 2%) na forma perdedora de sal, baixa (3 a 7%) na virilizante e 20 a 50% na forma não clássica (21 HAC-NC). A deficiência de CYP21A2 é a principal causa de genitália ambígua em RN do sexo feminino. Perdedora de sal A deficiência de aldosterona resulta de insuficiente conversão da progesterona em corticosterona. Representa a maioria e manifesta no recém- nascido (RN), como genitália ambígua no sexo feminino (hiperandrogenismo intrauterino), associada a sintomas de deficiência de aldosterona, os quais surgem nas duas primeiras semanas de vida (dificuldade para se alimentar, vômitos, desenvolvimento insuficiente, letargia, sintomas similares aos da sepse, desidratação e hipotensão, podendo evoluir para choque hipovolêmico). Com frequência, esses indivíduos encontram-se hipercalêmicos e acidóticos. Virilizante simples Na forma virilizante simples, não há manifestações de deficiência de aldosterona, cuja produção está normal ou apenas discretamente diminuída. A virilização progressiva leva a um quadro de pseudopuberdade precoce heterossexual, associado a avanço na idade óssea e crescimento linear acentuado. Hirsutismo, alterações menstruais e/ou infertilidade (por Julia Paris Malaco – UCT22 anovulação crônica) podem ocorrer mais tardiamente na paciente não tratada ou tratada de maneira inadequada. No sexo masculino (46,XY), a genitália é normal ao nascimento, e virilização precoce resulta em quadro de macrogenitossomia (nem sempre presente) com pseudopuberdade precoce isossexual. O hiperandrogenismo adrenal leva à supressão da secreção de gonadotrofinas, e, dessa forma, na idade adulta, o paciente pode evoluir com infertilidade, por diminuição da espermatogênese. Frequentemente, em ambos os sexos, a estatura final encontra-se comprometida, estando em média –2 desvios-padrão abaixo da população geral. Forma não clássica A 21 HAC-NC tem sido mais bem caracterizada no sexo feminino e costuma se manifestar por pubarca precoce e, a partir da adolescência, por hirsutismo, acne, irregularidade menstrual e infertilidade. Diagnostico de deficiência de 21-hidroxilase (CYP21A2): O diagnóstico bioquímico da deficiência de CYP21A2 fundamenta-se no encontro de níveis séricos elevados de 17-OHP (considerado o marcador bioquímico da doença), além de níveis elevados de androstenediona, testosterona e DHEA. Forma clássica: o Os níveis séricos basais de 17-OHP encontram-se muito elevados, por volta de 10.000 ng/dℓ (100 ng/mℓ). o Níveis elevados de androstenediona e testosterona (que muitas vezes chegam a alcançar a faixa de homens adultos saudáveis – 300 a 900 ng/dℓ) o Em geral esses dois parâmetros são patognomônicos da deficiência de CYP21A2. Forma perdedora de sal: o Os níveis de aldosterona encontram-se bastante reduzidos ou desproporcionais ao aumento da atividade plasmática de renina (APR), o que resulta tanto em perda de sal quanto em hipercalemia. Virilizante simples: o A APR também pode estar pouco elevada (forma compensada da perda de sal), o que serve de base para a reposição de mineralocorticoides. Forma não clássica (CYP21A2-NC): o Os valores basais de 17-OHP podem não ser suficientes para estabelecimento do diagnóstico. Em geral, situam-se entre 200 e 1.000 ng/dℓ (2 e 10 ng/mℓ), com eventual superposição aos níveis observados na síndrome dos ovários policísticos (SOP). Podem também, raramente, estar dentro da faixa normal (< 200 ng/dℓ). o Os valores basais da 17-OHP devem ser medidos pela manhã (entre 6 e 8 h) e, após a menarca, na fase folicular do ciclo menstrual (entre o terceiro e o quinto dias). Devido às limitações da 17-OHP basal, sua dosagem após estímulo com ACTH frequentemente se faz necessária. O procedimento consiste na administração intravenosa em bolus de 250 μg de ACTH sintético ou cosintropina, com coleta de sangue antes e 60 minutos depois da injeção, para dosagem de 17- OHP e cortisol. Em indivíduos saudáveis, a resposta ao estímulo geralmente não ultrapassa níveis de 300 ng/dℓ, ao passo que, na deficiência de CYP21A2-NC, alcança valores entre 1.000 e 10.000 ng/dℓ. A determinação do 21-deoxicortisol (um derivado 11β-hidroxi-lado da 17-OHP) pode também ser utilizada na identificação da deficiência de CYP21A2, visto que seus níveis encontram-se muito elevados e alcançam valores um pouco mais baixos que os da 17-OHP. Triagem neonatal: recomenda-se que a coleta de sangue para triagem para HAC-D21OH seja feita entre 48 e 72 horas após o nascimento e, no máximo, até o final da primeira semana de vida. Tratamento: Com base na fisiopatologia da doença, o tratamento de HAC por deficiência de CYP21A2 requer a reposição de glicocorticoides e a supressão da síntese de androgênio adrenal. Na infância, a hidrocortisona (HC) é opção de escolha, por ser o hormônio natural e causar menor interferência no crescimento linear. A dose recomendada para a reposição glicocorticoide deve equivaler à taxa de produção diária de cortisol (em torno de 10 mg/m2 de superfície corporal). Nos casos de insuficiência de aldosterona com perda salina e hipovolemia, existe evidente risco de morte para os pacientes, sendo a reposição de mineralocorticoide, assim, obrigatória. Doses orais de 0,1 a 0,2 mg/dia de fludrocortisona são suficientes para promover conservação salina e normalizar os níveis elevados de potássio e da APR Crianças com deficiência de CYP21A2, mesmo quando adequadamente tratadas, Julia Paris Malaco – UCT22 podem vir a apresentar um quadro de puberdade precoce verdadeira, com elevação de LH e FSH e posterior estímulo gonadal, frequentemente superposto ao da pseudopuberdade precoce de origem adrenal.39 Nessa situação, impõe-se o uso de análogos do GnRH (triptorrelina, leuprolida) em doses adequadas para supressão do eixo hipotalâmico-hipofisário-gonadal. O bloqueio da produção do excesso de andrógenos associado ao bloqueio à ação androgênica pode ser considerado uma importante estratégia no seguimento das crianças portadoras de HAC de formas virilizantes. A flutamida, um bloqueador do receptor androgênico, já foi usada no tratamento HAC, em associação com doses baixas de HC (8 mg/m2/dia). Deficiência de 11β-hidroxilase A deficiência de CYP11B1 responde por até 7% de todos os casos de HAC. Essa condição resulta em mutações no gene CYP11B1, localizado no cromossomo 8q24.3, o que acarreta perda de atividade enzimática e bloqueio na conversão de 11-deoxicortisol em cortisol. A deficiência de CYP11B1, à semelhança do tipo virilizante simples da CYP21A2, compromete a síntese do cortisol; o excesso de ACTH resultante produz estímulo crônico da via de síntese androgênica, o que acarreta a produção excessiva de androstenediona, testosterona e DHEA. O quadro clínico da deficiência de CYP11B1 é caracterizado, portanto, por virilização da genitália externa nos pacientes de sexo genético feminino (46,XX) e pseudopuberdade precoce, aumento da velocidade de crescimento e avanço de idade óssea, em ambosos sexos, associado, na maioria dos casos, à hipertensão mineralocorticoide. Uma forma não clássica (deficiência parcial da enzima) tem sido descrita em crianças e mulheres adultas, com ausência de hipertensão arterial e quadro clínico similar ao da SOP. O diagnóstico de HAC por 11βOHD tardio deve ser suspeitado em crianças com hipertensão arterial, estatura alta e pseudopuberdade precoce. Os pacientes podem desenvolver TART desde a infância. Tratamento O tratamento de reposição de glicocorticoides em pacientes com tipos graves da deficiência (e que sejam incapazes de produzir aldosterona de modo adequado) faz reverter esse quadro hipertensivo em uma síndrome com excesso de sal. Em geral, os níveis pressóricos e de potássio plasmático normalizam-se logo após o início do tratamento glicocorticoide (é possível usar prednisolona ou HC), não sendo necessária terapia adicional com agentes hipotensores, diuréticos ou até mesmo suplementação dietética com potássio. Às vezes, quando os níveis pressóricos se mantêm elevados ou com difícil controle apenas com a reposição de glicocorticoide, recomenda-se o uso de bloqueadores do receptor mineralocorticoide, como a espironolactona ou a eplerenona (ambos em doses de 25 a 50 mg/dia VO). Outras vezes, há necessidade de terapia anti- hipertensiva adicional, em especial no paciente adulto e naquele com tratamento irregular. Nessa situação, opta-se pelo emprego de um antagonista do canal de cálcio ou de um bloqueador do receptor de angiotensina. MINTI A TC ainda é a modalidade preferida, embora RM, PET, PET-TC, US, cintigrafia, amostragem da veia adrenal e biopsia guiada por imagem sejam importantes. Massa adrenal incidental: Em pacientes sem doença maligna conhecida, a maioria dos pequenos nódulos adrenais (< 4 cm) representa um adenoma cortical adrenal benigno não hiperfuncionante. Menos de 3% das lesões são malignas. Em pacientes com tumor maligno conhecido, a incidência de metástases para a glândula adrenal sobe para 50%. Adenomas corticais adrenais: São as massas adrenais mais comuns encontradas em 4 a 6% da população, e a incidência aumenta com a idade. A maioria (94%) são massas não hiperfuncionais, que representam um achado verdadeiramente incidental. Aproximadamente 6% dos adenomas secretam excesso de hormônio e provocam manifestações clínicas ou subclínicas de uma das síndromes endócrinas adrenais. O funcionamento de um adenoma não pode ser determinado por Julia Paris Malaco – UCT22 seu aspecto nos exames de imagens, mas é avaliado clinicamente. Adenomas corticais acumulam colesterol, ácidos graxos e outras substâncias lipídicas, que servem como precursores de hormônios corticais. Um acúmulo de substâncias lipídicas em 70% dos adenomas é suficiente para que possam ser classificados por imagem como adenomas ricos em lipídios. Metástases adrenais: São extremamente comuns, encontradas em 27% dos pacientes com doença maligna em séries de necropsia. Os tumores primários mais comuns são os de pulmão, mama, melanoma, gastrintestinais, da tireoide e renais. Lesões pequenas (< 4 cm) tendem a ser homogêneas, bem definidas e difíceis de distinguir de adenomas não funcionais benignos. Para complicar a questão, mesmo em pacientes com tumor primário conhecido, até 50% das pequenas massas adrenais são adenomas benignos, e não metástases. Na TC e na RM, lesões maiores (>4cm) geralmente apresentam características de malignidade, incluindo densidade heterogênea, forma irregular, marginação irregular espessa, hemorragia interna ou necrose e invasão de estruturas adjacentes. Síndrome de Cushing: Recomenda-se a realização de RM da sela túrcica paracasos suspeitos de adenomas hipofisários. Em 10% dos casos, a fonte de ACTH é ectópica, geralmente a partir de neoplasias pulmonares. Síndrome de Conn: Decorrente de níveis elevados de aldosterona, causa hipertensão sistêmica em 1 a 2% dos casos. O diagnóstico clínico é feito por achados de hipopotassemia persistente, aumento dos níveis de aldosterona sorológico e na urina e diminuição da atividade da renina no plasma. Um adenoma adrenal cortical solitário, benigno, hiperfuncionante, é a causa de 80% dos casos, e hiperplasia adrenal causa os 20% restantes. Síndrome adrenogenital: Geralmente ocorre em recém-nascidos e lactentes com deficiência enzimática (11β ou 22-hidroxilase), que resulta em produção deficiente de cortisol e aldosterona e em excesso de precursores, especialmente androgênios. Essas crianças apresentam hiperplasia adrenal, geralmente bem demonstrada por US. Doença de Addison: As glândulas adrenais encolhem-se e podem não ser detectáveis por métodos de imagem. Outras causas envolvem a destruição das glândulas por tuberculose, histoplasmose, infarto, infecção fúngica disseminada, linfoma ou tumor metastático. A calcificação adrenal sugere tuberculose ou histoplasmose prévias. Observa-se aumento bilateral com infecção ativa. Linfoma e metástases substituem as glândulas por tumor. Feocromocitoma: O feocromocitoma é o tumor adrenal que mais comumente apresenta hemorragia espontânea. A TC é o método de imagem preferencial para a detecção do tumor, quando há manifestações clínicas. A maioria dos tumores tem mais que 2 cm de diâmetro. A apresentação dos tumores varia de puramente sólidos até os complexos e predominantemente císticos. Hiperplasia adrenal: É a causa de 70% dos casos de síndrome de Cushing e de 20% dos casos de síndrome de Conn. É importante diferenciar a hiperplasia adrenal do adenoma adrenal como causa de síndromes endócrinas. Quando a causa é hiperplasia, a síndrome geralmente é tratada clinicamente, enquanto a remoção cirúrgica de adenoma adrenal hiperfuncionante geralmente é curativa. Metade dos casos de glândulas bioquimicamente hiperplásicas apresenta anatomia normal em TC e RM. Julia Paris Malaco – UCT22 Cistos adrenais: São lesões raras que geralmente são assintomáticas e são descobertas incidentalmente. Cistos verdadeiros são revestidos por endotélio ou epitélio. Pseudocistos têm parede fibrosa, sem células de revestimento, e geralmente resultam de hemorragia ou infarto adrenal. A remoção cirúrgica deve ser considerada para cistos maiores que 6 cm, que têm paredes espessas ou componentes sólidos, mostram realce por contraste interno na TC ou na RM, são heterogêneos na RM, apresentam líquido ecogênico ou detritos internos em US ou produzem sintomas. Estas lesões podem ser cistos complicados por hemorragia ou podem ser tumores com degeneração cística, incluindo metástases e feocromocitoma. É difícil realizar biopsia percutânea da parede do cisto, e a aspiração percutânea de líquido pode não ser confiável para excluir malignidade. Carcinoma adrenal: Tumor raro, mas letal. A maioria é grande (> 6 cm) e invasiva na apresentação. Cerca de metade dos carcinomas é hiperfuncionante e causa síndromes endócrinas, mais comumente síndrome de Cushing e, raramente, síndrome de Conn, virilização ou feminilização. Na TC, o aspecto típico é uma grande massa (4 a 20 cm), com as áreas de necrose central e hemorragia, mostrando realce irregular. A calcificação é observada em 30% dos tumores. Metástases hepáticas e linfáticas são comuns. Podem ser evidentes trombos tumorais na veia renal ou na VCI. p
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