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Carla Bertelli – 5° Período Síndrome de Cushing e Addison 1 – Revisar a Morfofisiologia da Glândula Adrenal 2 – Compreender a epidemiologia, etiologia, fisiopatologia, diagnóstico e enfatizar as Manifestações Clinicas da Síndrome de Cushing e da Síndrome de Addison Glândula Suprarrenal Localizam-se no retroperitôneo, sobre a face medial dos polos superiores dos rins. A suprarrenal direita tem formato triangular e se encontra mais próximo à VCI. A suprarrenal esquerda é maior, localizando-se entre o rim esquerdo e a aorta. É altamente vascularizada.. Cada glândula possui uma cápsula e duas camadas: Córtex Periférico e a Medula Central O Córtex da Glândula Suprarrenal produz hormônios esteroides essenciais à vida. A perda total dos hormônios adrenocorticais leva à morte por desidratação e desequilíbrios eletrolíticos em poucos dias se não tratado. A medula da suprarrenal produz 3 hormônios Catecolaminas: Norepinefrina, Epinefrina e pequena quantidade de Dopamina. Córtex Subdividido em 3 zonas, cada uma dela secreta hormônios diferentes • – Distribuídas em grupos esféricos e colunas arqueadas. Secretam os mineralcorticoides, pois afetam a homeostasia mineral • (meio) – É a mais larga, células distribuídas em colunas longas e retas. Secretam glicocorticoides, em especial cortisol (chamados assim por afetar a homeostasia da glicose) • (interna) – Distribuída em cordões ramificados. Sintetiza pequena quantidade de androgênios fracos, que são hormônios esteroides que exercem efeitos masculinizantes Mineralcorticoides – A aldosterona é o principal, regula a homeostasia dos íons Sódio e Potássio, e ajuda a regular a PA e o volume sanguíneo. Também promove a excreção de H+ na urina – essa remoção de ácidos evita a acidose (pH <7,35) A via Renina-Angiotensina-Aldosterona controla a secreção da aldosterona Glicocorticoides – Regulam o metabolismo e a resistência ao estresse: Cortisol (+ abundante), Corticosterona e Cortisona. Os efeitos que eles exercem são: • çã í (principalmente fibra muscular): Aumenta a liberação de aminoácidos na corrente sanguínea, que podem ser usados para síntese de novas proteínas ou produção de ATP Síndrome de Cushing e Addison Carla Bertelli – 5° Período • çã : Estimulados pelos glicocorticoides, os hepatócitos convertem determinados aminoácidos ou ácido lático em glicose – gliconeogênese • ó Degradação de triglicerídeos e liberação de ácidos graxos • ê Glicocorticoides tentam resistir ao estresse. A glicose extra fornecida pelos hepatócitos oferece aos tecidos uma pronta fonte de ATP para combater inúmeros estresses, inclusive exercício, jejum, medo, temperaturas extremas, altitudes elevadas, sangramento, infecção, cirurgia, traumatismo e doença. Uma vez que tornam os vasos sanguíneos mais sensíveis a outros hormônios que causam vasoconstrição, os glicocorticoides elevam a pressão sanguínea. Esse efeito é vantajoso nos casos de perda significativa de sangue, que faz com que a pressão arterial caia. • ó Glicocorticoides inibem a participação de leucócitos nas respostas inflamatórias. Porém, atrasam o reparo tecidual, retardando a cicatrização. Embora em doses elevadas possam ocasionar transtornos mentais graves, os glicocorticoides são muito úteis no tratamento de condições inflamatórias crônicas como artrite reumatoide. • ã Doses elevadas de glicocorticoides deprimem as respostas imunes. Por esse motivo, os glicocorticoides são prescritos para receptores de órgãos transplantados com objetivo de retardar a rejeição tecidual promovida pelo sistema imune. Regulação por feedback negativo da secreção de glicocorticoide: Níveis elevados de CRH e níveis baixos de glicocorticoides promovem a liberação de ACTH, que estimula a secreção de glicocorticoides pelo córtex da glândula suprarrenal. Níveis sanguíneos baixos de glicocorticoides estimulam células neurossecretoras no hipotálamo a secretar o Hormônio Liberador de Corticotrofina (CRH). CRH promove liberação de ACTH pela adeno-hipófise – ACTH flui no sangue para o córtex da glândula suprarrenal – estimula a secreção de glicocorticoide Androgênios – Principal: Desidroepiandrosterona (DHEA). No sexo masculino, a quantidade de androgênio secretado é baixa e com efeitos insignificantes. Porém, nas mulheres, apresenta função importante: promovem a libido e são convertidos em estrogênios (esteroides sexuais feminilizantes) por outros tecidos corporais. Após a menopausa, quando a secreção ovariana de estrogênios cessa, todos os estrogênios femininos são provenientes da conversão dos androgênios suprarrenais. Os androgênios suprarrenais também estimulam o crescimento de pelos axilares e púbicos nos meninos e nas meninas e contribuem para o estirão de crescimento pré-puberal. Medula Consiste em um gânglio simpático da divisão autônoma do Sistema Nervoso Modificado. São compostos por células que não possuem axônios e formam grupos em torno dos vasos sanguíneos. Em vez de liberar um neurotransmissor, as células da medula da glândula suprarrenal secretam hormônios. As células produtoras de hormônio, chamadas de é são inervadas por neurônios pré-ganglionares simpáticos do SNA. Uma vez que o SNA exerce controle direto sobre as células cromafins, a liberação de hormônio pode ocorrer com muita rapidez. Os dois principais hormônios sintetizados pela medula suprarrenal são a epinefrina e a norepinefrina, também chamadas de adrenalina e noradrenalina – Intensificam respostas simpáticas que ocorrem em outras partes do corpo. Em situações de estresse e durante a prática de exercícios, impulsos provenientes do hipotálamo acionam os neurônios pré-ganglionares simpáticos que, por sua vez, estimulam as células cromafins a secretarem Carla Bertelli – 5° Período epinefrina e norepinefrina. Esses dois hormônios intensificam a resposta de luta ou fuga. Ao aumentar a frequência e a força de contração cardíacas, a epinefrina e a norepinefrina elevam o débito cardíaco e a pressão arterial. Além disso, aumentam o fluxo de sangue para o coração, o fígado, os músculos esqueléticos e o tecido adiposo; dilatam as vias respiratórias para os pulmões e elevam os níveis sanguíneos de glicose e ácidos graxos. Síndrome de Cushing É uma condição resultante da exposição prolongada a quantidades excessivas de glicocorticoides. Pode resultar da administração prolongada de doses supra fisiológicas de GC (SG exógena ou iatrogênica) ou por hiperprodução crônica de cortisol (SC endógena) Epidemiologia – É uma doença rara, com incidência estimada de 0,7 a 2,4 casos novos por 1 milhão de habitantes por ano. A SC endógena pode ocorrer em qualquer idade, mas é mais comum em adultos em idade média de 41,4 anos e de predomínio feminino. É mais prevalente em indivíduos com DM2, HAS, indicentalomas adrenais, osteoporose. Etiologia – Há duas possibilidades: (a) síndrome ACTH- dependente, quando há aumento de ACTH circulante. Quando esse aumento deve-se a doença hipofisária, fala- se em doença de Cushing, que é mais comum em mulheres na terceira e quarta décadas de vida; (b) síndrome ACTH-independente, por síntese aumentada de glicocorticoides por lesões das suprarrenais í Quando o hipercortisolismo surge da secreção excessiva de ACTH. Cerda de 80 a 90% dos pacientes, o fator etiológico é um adenoma hipofisário secretor de ACTH (geralmente um MICROADENOMA). Os casos restantes decorrem da secreção ectópica de ACTH, ou mais raramente, do hormônio liberador de corticotrofina. A Doença de Cushing resulta, na maioria dos casos,de um microadenoma (diâmetro < 10 mm) hipofisário secretor de ACTH. Tem predomínio no sexo feminino (M:H = 8:1), início, em geral, entre 20 e 40 anos de idade e progressão lenta (vários anos de sintomas). A í ó é mais prevalente no sexo masculino, entre 40 e 60 anos. Pode se originar de diversos tumores, mas normalmente está associado ao carcinoma pulmonar de células pequenas. A í ó é rara e de difícil diagnóstico. A maioria dos casos é secundária a carcinoides brônquicos e carcinoma prostático. A secreção combinada de ACTH e CRH é muito mais comum do que a secreção isolada de CRH. í ú – Os distúrbios adrenais primários representam até 30% dos casos. Em geral são causados por um adenoma ou por um carcinoma produtor de cortisol. Normalmente os adenomas são menores de 3cm, unilaterais e facilmente visualizados na RC ou RM. Causas muito raras de SC de origem adrenal são a hiperplasia nodular pigmentada primária bilateral, o complexo de Carney, a hiperplasia adrenal macronodular bilateral e a síndrome de McCune-Albright Carla Bertelli – 5° Período – Representam 20% dos casos de ACTH- independentes. Geralmente são grandes >6cm. Devem ser sempre suspeitados, quando o tumor adrenal for > 6 cm e/ou cursar com hipercortisolismo associado a marcante hiperandrogenismo – Em geral, são lesões pequenas (a maioria é < 3 cm) e unilaterais, com características de benignidade. Diferentemente dos CAC, tendem a cursar com hipercortisolismo de início mais gradual e menor intensidade, bem como produção excessiva de apenas uma classe de esteroides. Mutações ou a ativação das vias de sinalização dependentes de monofosfato de adenosina cíclico (cAMP) ou da β-catenina foram relatadas em adenomas – O principal representante desta categoria é a doença adrenal nodular pigmentada primária (PPNAD), a qual pode ocorrer isoladamente ou, em mais de 90% dos casos, associada ao complexo de Carney. A produção de cortisol pode ser variável, sendo frequentemente cíclica ou periódica. á – É uma causa rara de hipercortisolismo, de fisiopatologia heterogênea, habitualmente insidiosa, que pode apresentar-se de forma uni ou bilateral, caracteristicamente com macronódulos adrenais í ó ê O uso crônico de GC representa a causa mais comum de SC, devendo ser descartado em qualquer paciente com manifestações cushingoides. Estas últimas costumam surgir com doses diárias excedendo 7,5 mg de prednisona, 0,75 mg de DMS ou 30 mg de hidrocortisona. O quadro pode ser desencadeado pelo uso prolongado de preparações nasais de GC, cremes e colírios também. O emprego concomitante de substâncias que inibam a metabolização hepática dos GC pelo citocromo P450 (p. ex., itraconazol, inibidores de proteases, fluoxetina, sertralina etc.) aumenta o risco de SCE durante o uso de GC pelas vias oral ou inalatória. Manifestações Clínicas Ganho de peso, letargia, fraqueza, irregularidades menstruais, perda de libido, hirsutismo, acne, estrias cutâneas purpúricas, miopatia proximal, disfunção erétil e transtornos psiquiátricos. Sua maior ou menor frequência dependerá da duração e da intensidade do hipercortisolismo Problemas associados, como hipertensão e diabetes melito (DM), são comuns e podem ser o motivo que leva os pacientes a procurar assistência médica. Os quadros podem ser variados e diferir de sua gravidade, porém muitas vezes os sinais são inespecíficos como ‘’giba de búfalo’’ (aumento da gordura retrocervical), pletora facial, obesidade e hirsutismo são pouco úteis na distinção entre SC e os estados de pseudo-Cushing. . Entretanto, equimoses surgidas espontaneamente ou aos mínimos traumatis-mos (consequentes ao adelgaçamento da pele e ao aumento da fragilidade capilar), miopatia proximal (afetando, sobretudo, os membros inferiores) ou estrias violáceas ou purpúricas. Osteopenia e osteoporose, especialmente na ausência de outra causa predisponente, podem fornecer uma evidência adicional de hipercortisolismo Algumas características, tais como aumento na pressão intraocular, catarata, hipertensão intracraniana benigna, necrose asséptica da cabeça do fêmur, osteoporose e pancreatite, são mais comuns na SC iatrogênica do que na SC endógena. Em contraste e outras características, notadamente hipertensão, hirsutismo e oligomenorreia/amenorreia, são mais prevalentes na SC endógena Os pacientes com SC costumam apresentar hipercoagulabilidade e risco aumentado de complicações tromboembólicas. Diagnóstico Diante da suspeita clínica de SC, deve-se, de início, descartar o uso de glicocorticoides (por qualquer via de administração), frequentemente omitido pelos pacientes. A investigação da SC endógena inclui duas etapas: confirmação do hipercortisolismo e definição de sua etiologia.. No entanto, a maioria dos protocolos de investigação utiliza, no mínimo, dois testes funcionais que enfocam diferentes aspectos da fisiopatologia do eixo HHA Carla Bertelli – 5° Período A confirmação do estado de hipercortisolismo precisa ser estabelecida antes de qualquer tentativa de diagnóstico diferencial. Caso contrário, essa abordagem resultará em diagnóstico equivocado e tratamento inadequado. Os exames de imagem somente devem ser realizados após a adequada avaliação hormonal. Confirmação do Hipercortisolismo – Feito por 3 principais testes 1. Teste de Supressão Noturna com 1mg de DMS (dexametasona) Os testes de supressão com doses baixas de DMS (LDSST) visam demonstrar a perda da inibição por retroalimentação (feedback) do cortisol normal no eixo HHA, tipicamente observada na SC. ã Este teste, assim como o 2 mg-DST, visa demonstrar a perda da inibição por retroalimentação (feedback) negativa do cortisol normal no eixo HHA, tipicamente observada na SC. Administra-se 1 mg de DMS às 23 h por via oral (VO), com dosagem do CS na manhã seguinte às 8 h. Em crianças, a dose é de 10 μg/kg de peso. Interpretação. Classicamente, um valor do CS ≤ 1,8 μg/dℓ (50 nmol/ℓ) descarta o hipercortisolismo, enquanto um valor > 5 μg/dℓ (138 nmol/ℓ) é altamente sugestivo. ã Administra-se 0,5 mg de DMS a cada 6 horas (às 9h, 15h, 21h e 3h) durante 48 horas. O sangue é coletado para dosagem do CS antes e depois de 24 e 48 horas (6 horas após a última tomada de DMS). Em crianças, a dose é de 20 μg/kg/dia. Interpretação. Em indivíduos saudáveis, o valor do CS deve se reduzir para menos de 1,8 μg/dℓ (50 nmol/ℓ) após 24 e/ou 48 horas. Valores > 1,8 μg/dℓ são indicativos de hipercortisolismo. Na maioria dos pacientes com SC, os níveis do CS diminuem, mas mantêm-se > 5 μg/dℓ (140 nmol/ℓ). 2. Dosagem do cortisol salivar ao final da noite secreção do cortisol é caracterizada por uma ritmicidade circadiana. Em indivíduos saudáveis com estáveis ciclos sono–vigília convencionais, os níveis plasmáticos de ACTH começam a subir entre 3 e 4 h da manhã, alcançando pico entre 7 e 9 h, quando, a partir daí, caem ao longo do resto do dia. Os valores do CS e salivar espelham tal fato, sendo os níveis mais altos das 8 às 9 h da manhã, e seu nadir em torno da meia-noite, na ausência de estresse. Esse ritmo circadiano encontra-se alterado em pacientes com SC, e relatou-se que a elevação do cortisol ao final da noite é considerada o mais precoce e mais sensível marcador da enfermidade Essa diferença de comportamento dos níveis do cortisol forma a base para a medida do CS à meia-noite e do cortisol salivar (CSa) entre 23 h e meia-noite Uma análise crítica de vários estudos em que o CSa foi dosado por RIA entre 23 h e meia-noite indica que níveis confiáveis para estados de pseudo-Cushingda SC variaram de 130 a 415 ng/dℓ (média de 250 ± 104). Portanto, na presença de níveis de CSa no final da noite (LNSC) > 350 ng/dℓ (> 12,7 nmol/ℓ), o diagnóstico de SC parece ser bastante provável. 3. Medida de cortisol livre urinário (amostra de 24) Obtém-se a dosagem do cortisol livre urinário (UFC) analisando-se uma amostra urinária de 24 h, em que é incluída a segunda micção do dia em que a coleta é iniciada até a primeira do dia seguinte. O UFC de 24 horas fornece um índice integrado do cortisol livre (não ligado) que circulou no sangue durante esse período. Diante de resultados inconclusivos ou discordantes, pode- se lançar mão de testes complementares, como o teste de supressão com 2 mg de dexametasona durante 48 h e a dosagem do cortisol sérico no final da noite. Por fim, há os chamados testes de segunda linha, com maior utilidade na diferenciação entre a doença de Cushing e os estados de pseudo-Cushing Após confirmada a SC é necessário fazer a identificação da sua etiologia a partir de testes basais e dinâmicos, além dos exames de imagem Carla Bertelli – 5° Período Síndrome de Addison ou Insuficiência Adrenal A insuficiência adrenal ou adrenocortical (IA) é definida como a incapacidade do córtex adrenal em produzir quantidades suficientes de glicocorticoides ou glicocorticoides e mineralocorticoides, hormônios cruciais para a homeostase energética e hidreletrolítica. A IA pode ser causada por distúrbio intrínseco adrenocortical (IA primária), doença hipofisária (IA secundária) ou distúrbio hipotalâmico (IA terciária) a IA primária, frequentemente denominada doença de Addison (DA), é uma condição rara, com estimadas prevalência de 100 a 140 casos/milhão de habitantes e incidência de 4 novos casos/milhão/ano. A DA predomina no sexo feminino, na proporção de 2,6:1, sendo habitualmente diagnosticada entre a 3a e a 5a década de vida. A IA secundária é mais frequente, com estimada prevalência de 150 a 280 por milhão de habitantes. Apesar de a IA ser incomum, deve-se sempre estar atento ao seu diagnóstico, visto que se trata de uma condição potencialmente fatal, cujos sintomas são geralmente inespecíficos e frequentemente encontrados em outras condições comuns, como infecções virais, fadiga crônica e depressão. Primária – Condição clínica incomum, resultando da produção inadequada de cortisol pelas adrenais em condições basais ou de estresse. Também conhecida como doença de Addison, é causada por destruição de mais de 90% do córtex adrenal, cursando, portanto, com queda de glicocorticoides, mineralocorticoides e andrógenos adrenais. Pela falta do feedback destes hormônios com seus hormônios reguladores, ocorre consequente aumento do ACTH e da renina (na tentativa de estimular a produção adrenal de cortisol e aldosterona, respectivamente). Etiologias possíveis da insuficiência adrenal primária são: destruição autoimune da adrenal isolada ou associada à síndrome poliglandular autoimune (60% dos casos de doença de Addison); doenças infecciosas [tuberculose, vírus da imunodeficiência humana (HIV), fungos, citomegalovírus] com acometimento adrenal; neoplasias (linfoma, metástases); doenças infiltrativas (hemocromatose, sarcoidose, amiloidose); hemorragias (síndrome de anticorpo antifosfolipídio, anticoncepcional, trauma, síndrome de Waterhouse-Friderichsen – choque séptico por meningococcemia); fármacos (cetoconazol, mitotane, fluconazol); defeito da esteroidogênese adrenal (como ocorre na hiperplasia adrenal congênita); alterações no desenvolvimento da glândula adrenal; resistência ao ACTH; adrenalectomia bilateral; e adrenoleucodistrofia (ALD). Secundária – Causada por patologias do eixo hipotálamo-hipofisário que levem à redução na produção de ACTH e/ou de hormônio liberador de corticotrofina (CRH) ou, mais frequentemente, pelo uso crônico de glicocorticoides, levando à supressão do eixo HHA. O déficit crônico de ACTH gera atrofia das camadas fasciculada (produtora de cortisol) e reticulada (produtora de andrógenos), mas a camada glomerulosa (produtora de aldosterona), por estar sob o comando principal do sistema renina-angiotensina e não do ACTH, se mantém intacta. A atrofia da adrenal ocorre após 4 semanas da ausência de estímulo trófico pelo ACTH. Observam-se baixos níveis de cortisol, de-hidroepiandrosterona (DHEA) e sulfato de DHEA (s-DHEA), com renina e aldosterona normais nos casos de insuficiência adrenal secundária. As etiologias possíveis da insuficiência adrenal secundária são: interrupção do uso de corticoides exógenos continuados por mais de 3 semanas (principal causa); tumores hipotálamo-hipofisários; radioterapia selar; trauma do sistema nervoso central (SNC); cirurgias do SNC; hipofisite; sarcoidose; histiocitose X; tuberculose hipofisária; linfoma hipofisário; metástases hipofisárias; síndrome de Sheehan; apoplexia hipofisária e deficiência isolada de ACTH (rara). Carla Bertelli – 5° Período Manifestações Clínicas A insuficiência adrenal se apresenta, na maioria dos casos, com quadro progressivo e insidioso de sinais e sintomas inespecíficos, que podem ser causados pela deficiência de glicocorticoides, mineralocorticoides ou andrógenos adrenais: Deficiência de Glicocorticoides – Causa astenia; mal-estar; anorexia; perda de peso; náuseas; vômitos; alterações do trato gastrintestinal, como diarreia ou constipação intestinal; dor abdominal; hipoglicemias (principalmente em crianças), mialgia; artralgia e sintomas psiquiátricos. Pode ocorrer hipotensão, porque os glicocorticoides têm importante papel na manutenção do tônus adrenérgico dos vasos sanguíneos, além de deslocarem líquidos do espaço extravascular para o intravascular. Se houver deficiência de glicocorticoide, o líquido extravasa para o interstício. A falta de cortisol pode cursar ainda com secreção inapropriada de hormônio antidiurético (ADH), causando hiponatremia dilucional e mascarando quadros de diabetes insípido. Por fim, a falta de glicocorticoides cursa com aumento de hormônio tireoestimulante (TSH), podendo simular um quadro de hipotireoidismo subclínico Deficiência de Mineralocorticoides – (presente apenas na insuficiência adrenal primária) manifesta-se com taquicardia postural (geralmente é o sinal mais precoce), hipotensão postural (segundo sinal mais precoce), hipotensão arterial basal, hipovolemia, avidez por sal. Estes sinais e sintomas não ocorrem na insuficiência adrenal secundária, uma vez que nesse tipo de insuficiência adrenal ocorre com o funcionamento normal do sistema renina-angiotensina-aldosterona, com preservação da camada glomerulosa e da produção de aldosterona pelas adrenais Deficiência de Andrógenos – Manifesta-se com queda de libido e redução da pilificação axilar e pubiana em mulheres. Não causa sintomas em homens, pois continua ocorrendo produção androgênica testicular, que nos homens exerce papel muito mais importante do que a produção androgênica adrenal. Na insuficiência adrenal primária, pode haver hiperpigmentação principalmente nas áreas expostas ao sol, dobras e áreas de trauma. Também pode ocorrer em mucosas (língua, gengiva, palato, boca) e genitália. A hiperpigmentação se dá por aumento da pró- opiomelanocortina (POMC), que, por sua vez, será clivada em algumas endorfinas endógenas, no hormônio corticotrófico (ACTH) e no MSH, sendo que este último hormônio atua no receptor MCR-1 da pele, estimulando os melanócitos. Na insuficiência adrenal secundária, como não há aumento da POMC, não há hiperpigmentação. Pacientes com insuficiênciaadrenal secundária por tumor ou massa hipofisária podem apresentar sintomas de deficiência de outros hormônios hipofisários, além de sintomas compressivos como cefaleia e déficit visual. Na adrenalite autoimune, sinais e sintomas de outras doenças autoimunes, como vitiligo, tireoidite de Hashimoto, doença celíaca e ooforite/hipogonadismo hipergonadotrófico, podem ser encontrados em alguns casos. Em situações de insuficiência adrenal aguda, ocorre hipotensão, choque refratário, desidratação, confusão mental, coma, fraqueza, apatia, náuseas, vômitos, anorexia, dor abdominal, distensão abdominal, hiponatremia, hiperpotassemia, hipoglicemia, uremia, linfocitose, eosinofilia, febre e hipercalcemia. A crise adrenal geralmente surge em pacientes com insuficiência Carla Bertelli – 5° Período adrenal crônica não diagnosticada que passaram por situações de estresse, como infecções, trauma ou cirurgia, em pacientes que já fazem tratamento para insuficiência adrenal, mas que não ajustaram a dose nessas situações de estresse, ou em casos de destruição abrupta das adrenais, como em hemorragias. Diagnóstico Dosagem basal de cortisol às 8 h. Deve ser o primeiro teste a ser solicitado em pacientes com suspeita de insuficiência adrenal. Cortisol ≤ 3 μg/dℓ confirma a insuficiência adrenal; cortisol ≥ 18 μg/dℓ exclui insuficiência adrenal; e cortisol entre 3 e 18 μg/dℓ é duvidoso, mas valores acima de 13 raramente acontecem em casos de insuficiência adrenal. Na dúvida, seguir para o teste confirmatório [teste da cortrosina ou teste de tolerância à insulina (ITT)]. ITT. É o teste padrão-ouro para o diagnóstico de insuficiência adrenal, mas apresenta os riscos da hipoglicemia grave e suas consequências (isquemia cardíaca, convulsões, coma). Por este motivo, é contraindicado em crianças com menos de 20 kg, em pacientes com mais de 65 anos, em pessoas com história de crises convulsivas ou de doença coronariana ou cerebrovascular. O teste é feito com dosagem de cortisol e glicemia nos tempos 0, 30, 45, 60, 90 e 120 min após a administração de 0,10 a 0,15 UI/kg de insulina regular, via intravenosa (IV), em bolus, sob supervisão médica contínua. O objetivo é avaliar o pico de cortisol quando glicemia < 40 mg/dℓ. Se altera na primária e na secundária Teste da cortrosina. É feito com coleta de cortisol nos tempos 0, 30 e 60 min após administração IV de cortrosina (ACTH sintético), em doses de 1 ou 250 μg. Não é necessário jejum. O racional para realização do teste da cortrosina no diagnóstico de insuficiência adrenal secundária é que, com a privação crônica de ACTH (de pelo menos 4 semanas), a glândula perde a capacidade de responder ao estímulo agudo com ele. O teste da cortrosina pode ser realizado com a dose de 1 μg de ACTH (dose mais fisiológica) ou com 250 μg (dose suprafisiológica, mas equivalente a 1 ampola da medicação – mais prático, mais reprodutível e mais realizado na prática clínica). Os resultados possíveis são: •Pico de cortisol < 18 μg/dℓ confirma insuficiência adrenal, sendo: oCortisol < 10 μg/dℓ: insuficiência adrenal completa oCortisol ≥ 10 μg/dℓ: insuficiência adrenal parcial. Em pacientes com insuficiência adrenal primária, o teste da cortrosina sempre estará alterado. Já nos pacientes com insuficiência adrenal secundária, o teste só se altera a partir de 4 semanas de doença, Além desses, podemos citar: • Dosagem de aldosterona e renina • Dosagem de s-DHEA • Anticorpos Antiadrenais • Ácidos graxos de cadeia longa • TC • RM REFERÊNCIAS Sales, Patrícia, et al. O Essencial em Endocrinologia . Disponível em: Minha Biblioteca, Grupo GEN, 2016. Vilar, Lúcio. Endocrinologia Clínica . Disponível em: Minha Biblioteca, (7ª edição). Grupo GEN, 2020. Pivonello R, De Martino MC, De Leo M, Simeoli C, Colao A. Cushing's disease: the burden of illness. Endocrine. 2017 Apr;56(1):10-18. doi: 10.1007/s12020-016-0984-8. Epub 2016 May 17. PMID: 27189147. Nicholas A. Tritos, Beverly M.K. Biller, Chapter 15 - Cushing's disease, Editor(s): Eric Fliers, Márta Korbonits, Johannes A. Romijn, Handbook of Clinical Neurology, Elsevier, Volume 124, 2014, Pages 221-234, ISSN 0072- 9752, ISBN 9780444596024, Pivonello R, De Martino MC, De Leo M, Simeoli C, Colao A. Cushing's disease: the burden of illness. Endocrine. 2017 Apr;56(1):10-18. doi: 10.1007/s12020-016-0984-8. Epub 2016 May 17. PMID: 27189147.
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