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PSICOLOGIA E POLÍTICAS PÚBLICAS: DESAFIOS PARA SUPERAÇÃO DE PRÁTICAS NORMATIVAS TRAJETÓRIAS DA PSICOLOGIA NAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE REFORMA SANITÁRIA – SUS ● O movimento prevê a garantia constitucional do direito universal à saúde, o reconhecimento dos determinantes históricos e sociais no processo saúde- doença, a constituição de um campo de saber interdisciplinar que respeite a pluralidade da existência humana e a efetivação dos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS) que implica na ampliação e acesso universal dos usuários à rede de saúde, além da criação de dispositivos para uma gestão democrática e de participação social. REFORMA PSIQUIÁTRICA ● Processo social complexo de desmonte da estrutura de aprisionamento manicomial que marcou durante mais de um século o atendimento aos problemas relacionados à Saúde Mental. ● Em meio às denúncias de violência e maus tratos cometidos aos asilados em manicômios, aquele movimento reformista de luta contra o paradigma psiquiátrico hospitalocêntrico medicalizador. ● Apresenta o modo de Atenção Psicossocial como perspectiva interdisciplinar de cuidado e atenção personalizada disponível em dispositivos da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) que se mostram como alternativos às determinações de internações psiquiátricas propugnadas pelos posicionamentos manicomialistas daquela psiquiatria biologista tradicional. INSERÇÃO DO PSICÓLOGO ● A implantação de dispositivos de saúde centrados em propostas interdisciplinares e psicossociais têm contribuído para a inserção do profissional de psicologia no SUS. ● A entrada da psicologia no âmbito das Políticas Públicas, especialmente nas unidades de atenção primária à saúde e nos serviços de saúde mental, tem aproximado o profissional psi a uma realidade ainda distante daquela que comumente conhecemos em nossa formação ainda pautada no modelo clínico clássico, privatista e de atendimento psicoterápico individualista (Dimenstein & Macedo, 2012). AS ORIGENS DOS SABERES DISCIPLINARES E O NASCIMENTO DA PSICOLOGIA ● A psicologia desde seu nascimento esteve marcada por práticas normativas de ajustamento de comportamentos, gestos e atitudes consideradas como inadequadas e inconvenientes para o convívio e adaptação de alguns indivíduos em uma sociedade pautada por normas e padrões (Foucault, 1982). ● Características de um processo de normalização e ajustamento que influenciaram pesquisas e estudos do campo psi e que podem se apresentar com novas roupagens em discursos e práticas de muitos profissionais ainda na atualidade. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PSICOLOGIA ● Primeiro - histórico do nascimento dos saberes psicológicos, constituídos desde suas origens por práticas normativas e higienistas, no âmbito das instituições de encarceramento e disciplinamento de corpos; ● Segundo - a constituição da psicologia brasileira e suas relações com o movimento higienista até a descrição da regulamentação e do exercício da profissão no trágico período da ditadura militar no país; ● Terceiro - a trajetória da elaboração das políticas públicas de saúde com enfoque na consolidação do SUS e na implementação das propostas da Atenção Psicossocial no âmbito dos serviços de Saúde Mental, com especial atenção a inserção da psicologia nesses novos espaços que irão se constituir após a década de 80; ● Quarto - os desafios para a superação de práticas psi normativas e disciplinadoras, com destaque para as discussões sobre as perspectivas para o fortalecimento da psicologia nas Políticas Públicas de Saúde. ● Foucault mostra que o nascimento das práticas psicológicas não está relacionado “aos assépticos laboratórios de Wundt e James”, mas surgiria nas “concretas relações de poder que têm lugar nos manicômios e prisões, organizações totais, de visibilidade e vigilância totais sobre as condutas dos sujeitos ali confinados, excluídos da sociabilidade normal” ● Caráter disciplinar. PRIMEIRO LABORATÓRIO DE PSICOLOGIA DO MUNDO ● Wilhelm Wundt, um médico e psicólogo alemão, foi responsável pela criação do primeiro laboratório de psicologia experimental do mundo. Este laboratório foi criado em 1879 na Universidade de Leipzig, na Alemanha. Com a criação de um laboratório acadêmico dedicado ao estudo da psicologia experimental, Wundt oficialmente deslocou a psicologia a partir de uma sub-disciplina da filosofia e biologia para uma disciplina científica única. ● Para definir saúde e doença, normalidade e patologia, foram estabelecidos, então, valores padrões de funções consideradas normais. ● Qualquer desvio dos valores padrões eliciaria a necessidade de investigar a situação considerada de risco e poderia representar a definição de um estado patológico, processo considerado como fundamental para o exercício e intervenção da psicologia. A CONSTITUIÇÃO DOS SABERES PSICOLÓGICOS NO BRASIL E SUAS RELAÇÕES COM AS CONCEPÇÕES HIGIENISTAS E NORMATIVAS ● O Brasil era pensado pelas suas ausências e o homem brasileiro como atrasado, indolente, doente e resistente aos projetos de mudança em fins do sec. XIX. ● Para o pensamento social hegemônico na época, fortemente influenciado pelo movimento higienista europeu e preocupado com a solução de problemas relacionados, também, aos fenômenos psicológicos, não tínhamos conhecido o desenvolvimento econômico e social de outras nações porque fatores como o clima e a “mistura” com raças inferiores haviam gerado uma população preguiçosa, indisciplinada e pouco inteligente. A CONSTITUIÇÃO DOS SABERES PSICOLÓGICOS NO BRASIL E SUAS RELAÇÕES COM AS CONCEPÇÕES HIGIENISTAS E NORMATIVAS ● Esta inferioridade seria a causa da inadaptabilidade do brasileiro à sociedade moderna e industrial. ● Em seu desenvolvimento a Psicologia se introduzira nos ambientes educacionais e escolares e propagaria preceitos higiênicos, preventivistas de defesa social contra as patologias, a pobreza e o vício. ● Influenciada pelas concepções higienistas que estabelecia padrões de normalidade, a psicologia era instada a avaliar condições mentais por meio de testes psicológicos e observações clínicas, com objetivos de se desenvolver técnicas de mensuração e verificação da capacidade mental para criar tecnologias de regulação e normalização de comportamentos. ● O processo de industrialização abertura de novos campos de trabalho para a psicologia no Brasil, novas demandas surgiram para o profissional da década de 40 que, incumbido da realização de processos de seleção, avaliação de desempenho de trabalhadores e orientação profissional nas indústrias. tentava corrigir os considerados como desviantes por meio de estratégias e intervenções “curativas” com o intuito de recuperação de uma suposta normalidade. ● Período de ampliação da atuação profissional na área clínica, tanto no sentido de profissionais atenderem a demanda das classes médias e altas que se fortaleciam com o processo de industrialização quanto para darem conta das supostas preocupações com o tratamento do fracasso escolar por meio da aplicação de testes psicológicos e psicométricos (Antunes, 2012). PSICOLOGIA E POLÍTICAS PÚBLICAS: DESAFIOS PARA SUPERAÇÃO DE PRÁTICAS NORMATIVAS ● Projeto aprovado no dia 27 de agosto de 1962 (Lei n° 4.119) previa a instituição da profissão e estabelecia um currículo mínimo para sua formação. ● A profissão se estabelecia centrada na prática clínica marcada por psicoterapias individuais e no modelo do profissional liberal que teria como principal espaço para o desenvolvimento de seus atendimentos o consultório particular destinado, principalmente, aqueles que poderiam pagar. ● Profissional psi atuava em espaços destinados a “elite” Psicologia se estabelecia muito distante das necessidades mais amplas, mais relevantes da sociedade brasileira. PSICOLOGIA - CAMPO CIENTÍFICO - MARCO IMPORTANTE ● Nova ordem - explicações e manejos - problemas da vida cotidiana ● Tristezas, dificuldades de aprendizagem, desordens na fala - explicados ● Mudança paradigmática ● Processo de consolidação - passar dos laboratórios experimentais● Sé XX - Problemas aplicados na vida cotidiana - público em geral ● Contemporaneidade – saúde pública ● Crises – se organiza e se re-organiza CRISE EPISTEMOLÓGICA DA PSICOLOGIA ● Espírito da modernidade - tímidas tentativas científicas de superação ● Modelo menos linear - teoria crítica, dialética ou ecossistêmica ● Psicologia - campo da prestação de serviços ● Demanda prática - conhecimentos PLANO DE TRABALHO DO PSICÓLOGO ● Funcionalismo americano - influências econômicas diretas no plano de trabalho do psicólogo ● Escola de Chicago - “psicologia aplicada” - testes de QI - avaliações de desempenho motor e oral ● Funcionalismo europeu - “escola de Genebra” - processo de construção das estruturas psicológicas - interação sujeito e ambiente ● Colocar ao lado - explicações inatistas dos biologicistas - explicações ambientalistas do associacionistas ● Vigotski - materialismo-histórico dialético - crise epistemológica ● “(...) esse problema continua tendo um caráter especial e muito profundo: o de mostrar que é possível a psicologia como ciência materialista e que esse fato não faz parte do problema do significado da crise como um todo.” (Vigotski, 2004: p. 340) DA CRISE DISCIPLINAR ÀS PRÁTICAS PSICOLÓGICAS: QUEM NOS PAGA? ● Idéia - “intervenção” psicológica - consolidou fortemente na população ● Psicologia - repertório - intervir na vida cotidiana das pessoas ● Processo de prestação de serviços - modelo de consultas - surgimento de vagas de emprego ● Idéia básica do funcionalismo - “o único conhecimento válido é aquele que pode ser aplicado” ● Prestação de serviço – Psicologia - produto de mercado, e não de política pública ● Psicologia – entra – prestação de serviço – mercado liberal e não pelo Estado ● Afeta - técnica e o manejo - acompanhamentos psicológicos “quem nos paga”, determina - a longo prazo - que tipo de atividade profissional pode ou não ser oferecida no mercado de prestação de serviço BRASIL - POLÍTICAS DE ESTADO EM SAÚDE MENTAL ● – não financiaram - práticas psicológicas - mais de seis décadas do século XX ● Hoje engatinham - contratação de psicólogos ● Muita dificuldade sobreviveram - técnicas psicológicas – não foram financiadas - iniciativa privada ● Universidades - desenvolver ciência psicológica - “sobrevivência” - importantes estratégias de intervenção ● Intervenções em grupos - formatos de psicoterapia - trabalhos em co-terapia ● Background de conhecimentos - formar psicólogos aptos ao trabalho no SUS e às novas políticas de saúde mental brasileira ● Psicologia - longo período - aplicações e perguntas de pesquisas oriundas do pensamento liberal ● Não – questionavam sobre o sistema e modelos de vida capitalistas ● Questionavam - sanidade do sujeito - não se adequasse ao sistema ● Papel - conceito de “normalidade” ou “sanidade mental” ● Impossível pensar - saúde coletiva sem levar em consideração o jogo político e econômico ● Entrada da Psicologia – SUS - reforma psiquiátrica ● Movimentos sociais - protagonismo do movimento anti-manicomial - anos 90 A PSICOLOGIA ESTÁ NO SUS? ● Psicologia - políticas públicas de saúde - processo lento ● Pressuposto epistemológico – origem da psicologia - pensamento liberal ● Noção de individualismo ● Psicologia aplicada - modelo de consultório ● Spink (2003) - final da década de 80 ● Psicologia - “técnica de disciplinarização” ● Constituição de 1988 – SUS - após a promulgação do ECA ● Psicólogo brasileiro - práticas psicológicas - implementação de políticas públicas de saúde e de desenvolvimento social ● Antes - inserções sócio-comunitárias - atividades voluntárias isoladas ou a projetos universitários ● Processo - reforma psiquiátrica - concepção - olhar processual de um profissional de saúde mental ● Psicólogo - capaz - coordenar grupos, apoiar redes sociais ou intervir em psicoterapia ● Outro marco - psicólogo - contexto hospitalar – consolidação - equipes de saúde ● Contexto institucional - rompe - paciente - propriedade do psicólogo ● Papel - co-responsabilidade – equipes interdisciplinares ● Debate interno disciplinar - consistente ao final dos anos 80 - caráter contundente ao longo dos anos 90 ● Leis regulamentadoras - cargos de psicólogos – diferentes contextos ● Aprimoramentos na implantação do SUS e das políticas de saúde mental QUESTÕES ● Onde ficava o papel simbólico da remuneração na clínica? ● O psicólogo, enquanto clínico, poderia ser um assalariado contratado pelo Estado para atender em políticas públicas? ● Então, afinal, de que “Psicologia” estamos falando? ● Ora, se não estávamos mais propondo modelos pautados pelo mercado regulador, mas pelo Estado regulador, que novas possibilidades de práticas poderiam se abrir? O NOVO MERCADO REGULADOR DAS PRÁTICAS PSICOLÓGICAS ● Práticas psicológicas contemporâneas - fazer psicológico nas políticas públicas ● Deslocamento de eixo disciplinar ● Demandas capitalistas - inversão lógica importante - profissionais contratados em cargos públicos ● Postos de saúde e CAPS ● Demandas - novos atores - enfermo sem família, de baixo poder aquisitivo ● Problemas relacionais - déficits cognitivos severos, entre outros ● Ainda hoje – não temos - “unidade” epistemológica na Psicologia ● Inserção - políticas de saúde - convívio com a idéia de “integração” epistemológica - diferentes saberes psicológicos ● Interlocução - fenômeno relevante na formação epistemológica ● Teorias – não são universais - contribuições complementares ● Compreensão - realidades complexas ● População - maior acesso à atenção integral em saúde mental e cuidados psicológicos Psicólogo “generalista” ● Por um lado - políticas públicas - resultados significativos - integração epistemológica ● Por outro lado - não têm valorizado - diferentes especificidades de atuação - psicólogo social, clínico, educacional ● Levantamento de dados - não identificaram – nenhum concurso público no Brasil ● Edital para psicólogo em hospitais - pré-requisito de especialidade em psicologia clínica ou hospitalar ● Gravidade - profissional selecionado – inapto no processo de atendimento a pacientes ● Momento histórico muito peculiar - momento de transição - necessidade constante - interlocução interna e interdisciplinar ● Quebra paradigmática ● Quebra - ponto de partida: toda atenção psicológica em saúde depende de um olhar sociológico sobre a constituição de sujeito e produção de sintomas, o que tem nos levado a superação de modelos lineares e pretensamente universais na explicação dos fenômenos psicológicos ● Entrada disciplinar - saúde coletiva ● Construída - narrativas - conjunto de fatos - não lineares ● Assumir significados - a posteriori ● História – processo que se transforma em narrativa ● Processo histórico – dinâmico e coerente ● Incontáveis - oportunidades e desfechos - inexorável liberdade do homem em produzir-se a si mesmo ● “História” - espaço de subjetivação - suscita determinantes em nossos mundos e escolhas ● Processo histórico - identificar – possibilidades e limitações - influenciaram modelos de produção de conhecimento ● História - práticas psicológicas - inúmeros determinantes suscitaram modelos ● Quais modelos de Psicologia podemos realizar no Brasil de hoje? ● Remeter - processo histórico que nos constituiu ● História - “latinoamericanisse”, nossa marginalidade global, nossa reforma psiquiátrica inconclusa, nossa criatividade cultural ● Psicologia é prioritária - SUS
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