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O CONTEXTO INTERNACIONAL NA ÉPOCA DE RIO BRANCO TEXTO SEMINÁRIO – RIO BRANCO E A POLITICA INTERNACIONAL DE SUA ÉPOCA (PÁG. 253-290) O contexto internacional no período em que o Barão do Rio Branco esteve à frente da chancelaria brasileira era agressivo, caracterizado por disputas interimperialistas que geraram incidentes diplomáticos, provas de força e corrida armamentista A disputa interimperialista Entre o fim do século XIX e nas primeiras décadas do XX, se obervou o enfraquecimento do predomínio mundial da hegemonia britânica e ao simultâneo surgimento, em outras áreas do planeta, de novos polos de poder: Estados Unidos, Japão e Rússia. A globalização da economia, que foi ressaltada no período, e a formação dos novos centros de poder resultaram na mundialização das relações internacionais. O sistema internacional, que tinha como foco a Europa, se coverteu em um sistema planetário. As partilhas territoriais e o estabelecimento de zonas de influência, que faziam parte da política do equilíbrio, nessa fase, já não concluíam nos limites do Velho Mundo A política mundial que a Rio Branco tinha que analisar era a de atrito entre as potências imperialistas, que desenrolavam-se das suas próprias contradições, que levariam a uma grande crise, vista como própria do capitalismo. Essas potências criaram sistemas de poder que, pelas suas características internas, geravam atritos. A rivalidade entre tais sistemas levou a crises em série, que desencadearam o primeiro conflito bélico de âmbito mundial. Diante disso, necessitamos compreender os contornos gerais desses sistemas de poder e sua repercussão na América Latina pois isso movimentou a diplomacia brasileira da Primeira República e influenciou as politicas do Rio Branco Após as Independências, a diplomacia britânica esforçou-se para ampliar suas influência e ascendência econômica sobre eles( AL) procurando dificultar à presença norte-americana que se tornava cada vez mais evidente Após a Independência→ Após a Independência do Brasil (1822), a diplomacia britânica trabalhou no sentido de não perder os privilégios conseguidos dos Bragança pelos tratados de 1810 Com toda a vinculação, a Grã-Bretanha foi o polo de atração da política externa brasileira durante todo o período imperial. Apesar da projeção dos Estados Unidos sobre a América Latina, a Grã-Bretanha, mesmo com forte presença no comércio e com investimentos nessa área, gerou atrito com o novo centro de poder que surgira do outro lado do Atlântico. CONTEXTO DO SISTEMA INTERNACIONAL É importante citar o contexto do sistema internacional da época, ou seja a conjuntura do inicio do século XX No centro do continente europeu, a Alemanha estava ascendendo tanto econômica quanto militarmente, e ameaçava romper o equilíbrio de forças observado até então. A produção metalúrgica alemã superou a inglesa no fim do século XIX. Além disso, a Alemanha aumentava sua esquadra e se apresentava como séria concorrente da Grã-Bretanha na comercialização de produtos manufaturados. A partir de 1898, os alemães estavam no determinados a ascender como grande potência naval, inclusive em razão da necessidade da expansão comercial, pois o crescimento da produção encaminhava para a busca de matérias-primas e de novos mercados. Fatores econômicos, geopolíticos e o sentimento nacional, moldaram a agressiva política externa alemã Ciente das suas força e potencialidades, a Alemanha passou a exigir um lugar na partilha do mundo, um espaçoque parte de sua opinião entendia como justo e de direito O comércio com os países novos era visto como necessário à indústria, levando a uma postura inflexível na competição colonial, necessitando por conta disso o aumento das Marinhas Mercante e de Guerra Somente as razões econômicas não explicam o impulso imperialista da época. No caso da Alemanha, tinha a questão do prestígio nacional e a crença na superioridade da raça. Nos Estados Unidos, acreditava-se na superioridade das instituições democráticas e na noção de responsabilidade internacional resultante da nova posição do país na distribuição do poder mundial. A rivalidade entre as duas novas potências foi visível na imprensa: a da Alemanha tentava alerta os países latino-americanos, o para o perigo de um protetorado norte-americano. DO outro lado a imprensa dos Estados Unidos, levantava o fantasma do “perigo alemão”. Esse debate teve eco no Brasil, onde as opiniões se dividiram, As relações Brasil-Alemanha chegaram perto do ponto de ruptura. A POSTURA DO RIO BRANCO EM RELAÇÃO À ISSO Diante do problema diplomático, Rio Branco atiçou o espírito da Doutrina Monroe ao procurar jogar a imprensa americana contra a potência alemã Havia um receio de que as potências da Europa aplicassem na América Latina os mesmos critérios de partilha usados contra as nações africanas. No entanto, também era entendido pelos políticos brasileiros que a denúncia do “perigo alemão” vinha dos norte-americanos, dispostos a atrair ainda mais o Brasil para sua esfera de influência O EUA usavam, na sua política para o hemisfério, a→ Após a Independência Alemanha como um “espantalho”. Rio Branco não se impressionava com a linguagem dos que denunciavam o perigo alemão, ele não atribuía muito valor ao que classificou de intrigas originadas na Inglaterra e nos Estados Unidos Houve na segunda metade do seculo XIX e o começo do século XX a arrancada do imperialismo norte-americano Assim o EUA se lança como potência imperial, voltando-se para o Oriente e para a América Latina, considerada como área natural para sua expansão A formação dos grandes monopólios empresariais, na última década do século XIX (envolvendo empresas industriais, financeiras e de transporte), contribuiu para provocar transformações tais que alteraram a correlação interna de forças, no sentido de que a nação norte-americana adotou uma nova postura internacional. Nos Estados Unidos foi despertado → Após a Independência o temor de que as nações mais fracas da América Latina fossem o alvo posterior da luta interimperialista europeia e de que os interesses norte-americanos estivessem ameaçados A política exterior norte-americana, até então em relativa calmaria e isolamento, se remodelou e entrou em uma fase em parte definida pela disputa com as grandes potências. O comércio e a grande finança passaram a informar, basicamente, a política exterior norte-americana. É necessário pontuar que a presença norte-americana nas áreas em que pretendeu marcar sua influência não adquiriu a feição clássica do imperialismo, embora fosse igual na essência. Os norte-americanos se mostravam, quase sempre, como defensores da paz, da verdadeira liberdade e dos princípios democráticos. Raramente a expansão dos Estados Unidos assumiu a forma típica do colonialismo da época Mesmo assim, para eles próprios, estariam desenvolvendo uma missão civilizadora sobre os demais povos. Se no final do século XIX a Grã-Bretanha ainda controlava, efetivamente, um quarto do planeta ou um terço, no sentido econômico e cultural, , o mesmo já não acontecia em 1914, quando outras potências a desafiaram, sobretudo na América Latina. Esta área, após ligeira disputa entre Alemanha e Estados Unidos, transitou, ainda que de forma não homogênea e com velocidades distintas da hegemonia britânica para a hegemonia estadunidense A Primeira Guerra foi um marco decisivo, porque ajudou a expandir ainda mais a economia dos Estados Unidos, que conquistaram novos mercados na América Latina e na Ásia, se beneficiando da retração europeia. Os Estados Unidos se transformaram em uma nação credora, especialmente por causa dos empréstimos feitos aos Aliados O novo Pan-Americanismo Nesse contexto, o governo dos Estados Unidos tomou a iniciativa de convidar todas as nações do hemisfério para a I Conferência Internacional Americana, que teve lugar em Washington, de 1889 a 1890. O governo anfitrião invocou o dormente ideal pan-americano, que, assim, foi instrumentalizado afavor dos comerciantes e financistas do seu país A agenda do encontro servia à intenção norte-americana de ampliar o intercâmbio comercial com a América Latina, das quais as medidas tendiam a promover (a) a prosperidade dos diversos Estados americanos, (b) a união pan-americana de comércio, (c) a comunicação dos portos, (d) a união aduaneira, (e) os pesos e medidas, (f) os direitos de invenção, (g) a moeda comum e (h) o arbitramento A delegação do Império do Brasil partiu para o evento com instruções expressas→ Após a Independência para rejeitar qualquer proposta de união aduaneira A republica foi proclamada enquanto ainda ocorria a conferência, a representação brasileira foi autorizada a dar nova interpretação às instruções recebidas, indo de encontro a elas. Na nova orientação, vale registrar a aproximação da delegação brasileira das dos Estados Unidos e da Argentina. O Brasil, que sempre foi “o diferente” da América, A única monarquia reorientava sua política externa a conferência criou uma associação permanente das Repúblicas do continente, denominada de União Internacional das Repúblicas Americanas. A III Conferência Internacional Americana que ocorreu em 1906 no Rio Deixou clara a visão de Rio Branco( chanceler brasileiro) em relação à politica norte americana na América Latina Rio Branco abriu os trabalhos com uma fala curta e incisiva, na qual pôs limite à amizade votada pelo Brasil aos Estados Unidos Esclareceu que não era animado por qualquer sentimento antieuropeu e que não desejava se afastar do Velho Mundo, Rio Branco não poderia ter sido mais explícito do que foi para marcar independência e não alinhamento. Rio Branco não era ingênuo quanto à natureza do→ Após a Independência Pan-Americanismo dos Estados Unidos Agora a respeito O Corolário Roosevelt e a Doutrina Monroe que foi transformada em justificativa para revalidar intervenções em países latino-americanos abrangidos pela ampliação da área de segurança norte-americana , bem como para impedir que governos ou corporações estrangeiras adquirissem portos ou outros lugares que pudessem ameaçar as comunicações ou a segurança. Ao afirmar o afastamento da ingerência europeia no hemisfério e ao invocar a doutrina, o presidente Theodore Roosevelt considerou, unilateralmente, a América Latina como parte do sistema internacional de poder norte-americano. Aos Estados Unidos caberia zelar pela ordem e pela paz no continente por meio de uma ação de polícia internacional o cerne da doutrina, foi, dessa forma, reconfigurada para justificar a política de coerção contra Estados latino-americano A obra da Doutrina de Monroe desenvolve-se com a ação combinada das duas partes: a nação mais fraca, que precisa ser protegida contra a agressão estrangeira, e a nação poderosa, que estende sobre ela seu braço protetor. Os EUA através dessa politica da doutrina Monroe assumiam um papel de responsáveis pela segurança do território dando À Europa a garantia de que as nações latinas da América, sob a supervisão norte-americana, preservariam a ordem pública e manteriam seus compromissos em dia De acordo com a nova versão da Doutrina Monroe, aos→ Após a Independência norte-americanos estava reservada a tarefa de dirigir os povos menos competentes. Sobre a percepção e postura do Rio Branco em relação as politicas do Roosevelt o redirecionamento da política externa brasileira para a potência hegemônica do hemisfério foi consolidado por Rio Branco, a fim de torná-lo um dos pilares da sua política externa. A aproximação tinha fundamento de natureza não só comercial mas também política (ligado aos objetivos regionais) sem falar no fato de que as concepções do chanceler não se conflitavam com a nova interpretação da Doutrina Monroe, se zanguem as principais nações da América com a linguagem do presidente Roosevelt”, pois não se incluíam entre as “nações desgovernadas ou turbulentas que não sabem fazer ‘bom uso da sua independênci A posição de Rio Branco não foi singular na América Latina, pois esta, de modo geral acolheu o Roosevelt com moderação. Pode-se afirmar que a tranquilidade com que o chanceler via o intervencionismo norte-americano se dava em parte ao fato de o Brasil já ter também praticado intervenções, Além disso, preocupava-o a explosãode movimentos revolucionários em Repúblicas em seus limites , pois poderiam tanto provocar desordens em trechos da fronteira quanto quebrar a paz na área. EXEMPLO DA POSTURA BARÃO DO RIO BRANCO E A POLITICA EXTERNA BRASILEIRA - A atitude brasileira em face do bloqueio naval imposto por Grã-Bretanha, Alemanha e Itália à Venezuela é ilustrativa é um otimo exemplo da postura externa adotada pelo Brasil A posição de Rio Branco foi de alinhamento à dos Estados Unidos, pois entendia que a Doutrina Monroe não estava em questão, uma vez que o bloqueio não implicava conquista de território, conforme reiterado . O secretário de Estado Hay opinava que o Brasil não deveria se envolver na questão da Venezuela, com o que concordou o governo brasileiro, até porque se queria preservar as boas relações com os governos que pressionavam o país sul-americano O chanceler brasileiro recusou a sugestão do ministro argentino Drago para formar uma liga de países sul-americanos contra demonstrações de força de países europeus e negou-se a engrossar o protesto contra a cobrança coercitiva de dívidas Rio Branco acreditava na possibilidade de as nações mais fortes desempenharem ação benéfica em favor da paz entre as nações mais fracas. Um EXEMPLO disso foi a declaração feira em entrevista concedida ao jornal argentino La Nación onde dizia Os países que não sabem se governar, que não têm elementos suficientes para evitar as contínuas revoluções e guerras civis, que sucedem sem interrupção, não têm razão de existir e devem ceder seu lugar à outra nação mais forte, melhor organizada, mais progressista, mais viril Agora cabe falar Sobre a Argentina e Cone Sul Com o Brasil, a Argentina tradicionalmente mantinha expressiva parceria comercial, figurando como um dos seus principais fornecedores de gêneros alimentícios,especialmente trigo em grão e farinha. As relações comerciais entre os dois países seguiam um fluxo praticamente sem variações com saldos amplamente favoráveis ao país do sul. Se pouca coisa mudava naquelas relações, o mesmo não ocorria nas de natureza política . Houve, durante a Primeira República, momentos de aguda rivalidade intervalados por aqueles de extrema cordialidade. No início da gestão Rio Branco, as relações do Brasil com a Argentina estavam em um bom momento. Tendo as as relações comArgentina em elevado nível de concórdia com o vizinho Para esse clima favorável contribuiu a presença de Manuel Gorostiaga o qual desenvolveu uma política de aproximação. Ao término de sua missão manifestou toda sua fé na união dos dois povos A rivalidade entre os dois países, todavia, permanecia latente. Aflorou e quando da discussão e da aprovação pelo Legislativo brasileiro do projeto de rearmamento naval Outro motivo que estreitou a rivalidade era a natureza das relações que os dois países mantinham com os demais da bacia do Prata sempre com uma preocupação da eventual aspiração de hegemonia do rival. A amizade que o Brasil deveria cultivar com todas as nações do continente, em especial com a Argentina e com o Chile, não excluía, na visão do chanceler, a necessidade de o país ter um mínimo de respaldo militar para, em uma eventualidade, sustentar suas posições. Estudioso da história diplomática e militar brasileira, Rio Branco tinha o equipamento das Forças Armadas, juntamente com a educação cívica e militar do povo, como necessários para a garantia da soberania e da paz nacionais O rearmamento recolocaria a Marinha na posição de preeminência na América do Sul que ocupara no Império As frequentes agressões das potências imperialistas contra nações asiáticas e africanas provocavam temor entre os brasileiros, que, por isso, sempre enfatizaramo caráter defensivo do rearmamento O espírito de rivalidade aumentouna Argentina O rearmamento argentino atendia a razões defensivas em face dos armamentos brasileiros, Enfim, o texto termina abordando acerca do O “Triângulo” ABC e a noção de influência compartilhada A aproximação entre maior país da América do Sul e a potência hegemônica do Novo Mundo provocava inquietação na América espanhola. O diário argentino La Nación registrou que na imprensa da Europa previa-se que a reorganização naval do Brasil e sua aproximação dos Estados Unidos dariam início a “uma diplomacia imperialista, uma hegemonia a ser partilhada entre o Brasil e a Norte América, prestando-se o primeiro a ser agente do segundo em suas ambições de domínio continental O silêncio oficial de Rio Branco em face do Corolário Roosevelt, a aceitação→ Após a Independência que o este tivera por boa parte da imprensa brasileira, entendeu-se a partir desses fatores que o Brasil iria assumir “a defesa da Doutrina Monroe na América do Sul a linha geral da política externa brasileira de Rio Branco em relação à área: a busca do “equilíbrio da América do Sul contra quaisquer sonhos imperialistas ou projetos de hegemonia” e visando o desejo de manter com a Argentina e com o Chile “uma política de cordial inteligência” o que Rio Branco pretendia era o exercício de uma influência compartilhada, assentada em uma concepção de oligarquia de nações. o chanceler formulou claramente seu pensamento a respeito e sugeriu a criação, pelos três principais países da América do Sul, de um instrumento legal que levasse a atitudes voltadas para a paz e a ordem na região. A aproximação das três maiores Repúblicas sul-americanas era aspiração de Rio Branco desde o início de sua gestão. No entanto O ABC, ao tempo de Rio Branco, não passou da fase preliminar de negociações. As discussões sobre o eventual Tratado do ABC normalmente apareciam no contexto do rearmamento naval, o que permite concluir que Rio Branco utilizava-se da projetada entente como argumento a mais para derrubar as objeções aos projetos brasileiros. Esse aspecto pratico não contradiz o entendimento de que o ABC embutia a ideia de um condomínio oligárquico de nações em benefício da paz na América do Sul, permitindo ver aí uma tentativa de reprodução da política de alianças existente na Eurásia, própria de um mundo multipolar.
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