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1 Laís Flauzino | FISIOPATOLOGIA | 6°P MEDICINA 4M1 – FISIOPATOLOGIA DO CHOQUE SÉPTICO DEFINIÇÃO: • Fluxo sanguíneo insuficiente para suprir as demandas metabólicas teciduais. • Desproporção entre oferta e demanda de nutrientes e oxigênio • Presença de disfunção orgânica ameaçadora à vida secundária à resposta desregulada do organismo à infecção CLASSIFICAÇÃO DO CHOQUE: Todos os mecanismos do choque acabam culminando em um denominador comum: a demanda supera a oferta. Dessa forma, o choque é rotineiramente classificado em: • Choque hipovolêmico • Choque cardiogênico • Choque distributivo – a distribuição não está adequada, tem uma irregularidade vascular, não se consegue mobilizar os nutrientes para a área de maior agrave metabólica. o Séptico o Neurogênico o Anafilático • Choque obstrutivo O choque séptico entra na classificação geral do choque, mas além de ser um choque distributivo, é um choque com alta taxa de mortalidade. Se tem uma agressão infecciosa, essa agressão vai naturalmente aumentar muito a demanda orgânica e tecidual local. O choque séptico é causado por agressão de um microorganismo. É necessário combate-lo para poupar os tecidos e para melhorar a perfusão tecidual daquele local. Quadro de choque hipovolêmico, mas que serve para estratificar a gravidade do paciente. Se chega um paciente com febre, desconforto respiratório, ausculta alterada, tosse produtiva, dessaturando, taquipneico, cansado. A FC ainda não está acima de 100, não tem repercussões hemodinâmicas, a PA está estável/normotenso, a FR não disparou, não tem estiramento intercostal e musculatura acessória. Você consegue perceber que ele está em situação de gravidade clínica, mas não é gravíssimo. Agora se chega um pct extremamente cansado, disforese (não consegue conversar), FR acima de 35, está hiperventilando, dispneico, francamente com desconforto respiratório. Além disso, está hipotenso, claramente é um paciente mais grave. CAUSAS FISIOLÓGICAS DO CHOQUE: Choque com manutenção do débito cardíaco ou elevação do débito O choque tem hipotensão e instabilidade hemodinâmica, mas em um contexto mais prolongado. Um paciente com pé diabético por exemplo, ele está tendo uma injuria as vezes já associada com infecção local, então além de ter isquemia, dano tecidual e lesão vascular, vai ter também um provável foco infeccioso pq se não consegue chega circulação, não consegue chegar tratamento (antibiótico não penetra bem, sistema imune não consegue alcançar o local). Mas é natural que o organismo tente melhorar o débito para mandar o máximo de sangue que ele conseguir para aquele local. • Demanda metabólica muito elevada (infecções, inflamações, febre maligna) Um paciente séptico teve uma infecção aguda, mas uma infecção crônica pode agudizar. Se tem uma infecção crônica quer dizer que o sistema imune está compensando, as vezes pode ter um déficit calórico/disfagia e se diminuir o aporte nutricional, não tem energia para o sistema imune trabalhar e a infecção crônica controlada agudiza e tem exacerbação do processo infeccioso. • Padrão de perfusão tecidual anormal, com desvio da circulação alvo. Se tenho um processo no pé, preciso tentar mobilizar a circulação para lá – vai ter aqueles sinais de inflamação (hiperemia, calor, rubor, edema), só que os outros locais podem ficar um pouco deficitários do ponto de vista de circulação – nosso sangue é finito e o corpo trabalha gerenciando a microcirculação para dar conta da demanda – sacrifica algum órgão ou periferia para conseguir melhorar a irrigação no local de injúria. Exposição a um patógeno ou à sua toxina → Resposta imunológica e inflamatória → Ativação de neutrófilos + monócitos + plaquetas + estimulação da coagulação e redução da fibrinólise (aumento do estado pró-trombótico). Lesões endoteliais e microvasculares geradas por todo esse processo pioram o desfecho do choque gerando choque rapidamente progressivo até culminar no choque irreversível. Além de ter que lidar com a própria injúria da inflamação, pois onde teve inflamação teve dano 2 Laís Flauzino | FISIOPATOLOGIA | 6°P MEDICINA tecidual e precisa ter reparo, pode ser que tenha alguma toxina bacteriana. Estado pré-trombótico: quando tem lesão no endotélio, naturalmente tem maior coagulação no local para recuperar o endotélio. Se tem lesão endotelial, preciso garantir que vai haver primeiro a migração de plaquetas, agregação plaquetária e ativação de plaquetas para que tenha a transformação em uma rede de fibrina que consiga conter e fazer papel hemostático. Estando dessa forma diante de um trombo. E um trombo pode gerar mais trombo podendo levar a uma trombose exacerbada A CIVD (coagulação intravascular disseminada) em um contexto de sepse é muito comum pois você está em um estado pré-trombotico – você espera que sua coagulação esteja exacerbada. É mais fácil gerar trombos nesse contexto. Pensando na lesão endotelial e nas lesões microvasculares, esse desfecho do choque pode gerar um choque cada vez pior no sentido que, está combatendo uma infecção, essa infecção está mobilizando recurso, o organismo precisa de energia e não está otimizado, tem que combater toxina bacteriana, tem que combater a profileraçao bacteriana, tem que gerar translocação de linfócitos para área de injúria e ainda está em estado pró- trombótico que vai gerar mais isquemia. Esse tipo de choque consegue progredir rapidamente. Tem potencial para piora clínica exacerbada. DIAGNÓSTICO NA PRÁTICA CLÍNICA: Baseado em três variáveis: • Presença de hipotensão e taquicardia • Hiperlactemia (sofrimento tecidual) • Hipoperfusão periférica – extremidades frias, cianose, oligúria (< 0.5 ml/kg/h), baixo débito no SNC (sonolência, torpor, confusão mental). Preciso ter um bom índice de suspeição e a presença dessas 3 variáveis. A hipotensão e taquicardia estão presentes em uma sepse mais avançada. Hiperlactatemia – o lactato traduz respiração anaeróbica. Uma situação de hipoxia persistente, não consigo fazer com que o oxigênio seja o foco da respiração celular. Se não tenho oxigênio para fazer a respiração, as vezes tenho a glicose, só que não tem oxigênio e ai preciso de vias alternativas para obtenção de ATP/energia celular. As células recorrem à fermentação lática que tem como saldo o ácido láctico que vai ser convertido em lactato. Então quer dizer que se tenho uma hiperlactatemia, quer dizer que tenho certa hipóxia, dano e sofrimento tecidual. Hipopefusão periférica – extremidades frias (vasoconstrição periférica intensa, sistema adrenérgico no talo para recrutar da circulação periférica para a circulação central); cianose (a perfusão não está correta); oligúria (pct com suspeita de choque, febre e costuma sondar o pct pois precisa quantificar o débito e calcular diurese – se o rim ta funcionando, o restante também está funcionando, a pressão media de perfusão renal é 65, a pressão do coração é abaixo disso, o cérebro também. Ou seja, se garanto que o rim tá perfundido, os outros órgãos nobres também estão). Choque séptico: Divergências entre as novas diretrizes para tratamento e manejo do choque séptico → Sepse-3 e Sepse-4 (2017) Tem diferença em falar que o pct está séptico e está em choque séptico. Um choque séptico é o último grau de gravidade dentro da sepse. Um paciente séptico pode estar relativamente estável, agora um paciente em choque séptico, que já foi submetido à terapia e está necessitando de drogas vasoativas para conseguir manter uma perfusão adequada. Nova definição de choque séptico • Sepse (infecção documentada) • Uso de vasopressores (noradrenalina/vasopressina) para manter a pressão arterial média (PAM) ≥ 65 mmHg e lactato > 2 nmol/L (18 mg/dL) • Ainda que tenham ocorrido ressuscitação volêmica Ou seja, já tentou melhorar o débito cardíaco compensando com volume extra, mas esse volumefoi perdido porque esse choque é distributivo – independente da quantidade de volume, vai chegar um ponto que não vai responder pois o líquido não para no leito vascular (para o liquido ficar dentro do vaso é necessário equilíbrio de pressões, pressão hidrostática, pressão oncótica, pressões do interstício, para garantir que o líquido fique lá dentro. Se o vaso está muito dilatado, quer dizer que está muito fenestrado, e que está perdendo líquido para o interstício 3° espaço). Isso é um problema, faz 7L de soro e o pct está com PA 12x8 – você consegue estabilizar a pressão, mas o pct vai morrer pq essa pressão não é verdadeira, pois o sangue está extremamente diluído, então você não consegue garantir que essa pressão vai oxigenar bem os tecidos e ainda, depois de um tempo, todo esse líquido pode extravasar. Se extravasar para o interstício periférico, tudo bem, o pct vai ficar anasarcado. Mas se for para o pulmão, você piora a sepse e a perfusão – manda água para o alvéolo, piorando a troca gasosa. Há limite para ressuscitação volêmica – uns pacientes respondem bem à volume e outros não. Mortalidade média é de 41,2% a 43,3% Escore de quick SOFA → 2 dos 3 critérios seguintes o FR ≥ 22 irpm o PA sistólica ≤ 100 mmHg o Escala de Glasgow < 15 pontos Não é um escore para fechar diagnóstico e sim para melhorar o índice de suspeição – fala se o pct pode estar séptico. 3 Laís Flauzino | FISIOPATOLOGIA | 6°P MEDICINA Qualquer microrganismo pode causar sepse: • Bactérias • Micobactérias • Espiroquetas • Fungos • Vírus • Protozoários Desequilíbrio no fluxo sanguíneo microvascular na sepse: • Áreas de vasodilatação • Áreas de vasoconstrição Detecção precoce de pacientes em sepse + tratamento rápido e correto – redução significativa de mortalidade. “Hora de ouro” Bastões – configura desvio a esquerda. Sepse grave – todos os critérios indicam que está havendo uma pior perfusão, está tendo uma queda no grau de oxigenação tecidual, a demanda metabólica está sendo alta e não consigo compensar. A hipotensão na sepse grave tem que se responsiva à reposição de cristaloides pois se ela não responder, já está em choque séptico. Se é um paciente que está com disfunção respiratória, peço uma gasometria – dá lactato, hemoglobina, eletrólitos, distúrbios acidose metabólica respiratória etc. Relação P/F – pressão parcial de O2 dividida pela fração inspirada de O2 – indica o quão bem o pulmão está ventilando. A pressão parcial de um gás indica o quanto de pressão esse gás exerce em determinado volume. Quanto maior a pressão parcial, maior o volume que ele ocupa. O ar que respiramos tem uma porcentagem de O2 que é 21%. Então em torno de 21% é a fração inspirada de O2. Quer dizer que posso aumentar essa fração – circuito verde de oxigênio consegue elevar até 100%. Como saber quantos litros de O2 o pct precisa? A resposta ideal seria de acordo com a titulação da gasometria. Mas não pede gaso para todo pct. Usa gaso quando o pct não responde a ventilação inicial ou quando suspeita que o distúrbio ventilatório está muito grave. Se é um pct que está com oxigenação periférica de 85 e cateter 4L, passar para 5 ou 6 o pct não tolera, fica desconfortável – ai você vai para estratégias que aumentem essa FiO2 (máscara com ou sem reservatório) Precisa de exames laboratoriais, mas não pode ser usado para protelar o tratamento. Inicia o tratamento empírico, reposição volêmica antibiótico para ganhar tempo. Se o foco é pulmonar ou cardiovascular investigo isso. Pode pedir raio x etc. pode solicitar exames complementares. A instituição da antibioticoterapia precoce em menos de 1 hora no pct séptico é essencial – para cada hora que eu retardo, há aumento de 4% na mortalidade. Tto – antibiótico e vasoativa. Lesão endotelial: 4 Laís Flauzino | FISIOPATOLOGIA | 6°P MEDICINA Nora – quer melhorar a perfusão tecidual, ela estimula os receptores cardíacos a ter frequência maior, potência de contração melhor e melhorar o débito cardíaco. Se a nora não melhorar, é necessário diminuir a resposta inflamatória por isso introduz um glicocorticoide de ação rápida – hidrocortisona. Pct institucionalizada que se tiver contexto infeccioso tem que pensar em contexto infeccioso hospitalar. Calafrio é problema, tosse produtiva também. Piorou nas ultimas 24 h – é agudo. Indica infecção aguda. PAM dá 61,4 por ai, tá abaixo de 65 – tá muito hipotensa. FR está muito alta. Febre e leucocitose no idoso não são comuns. Foco de infecção pulmonar provavelmente. Diagnóstico: sepse – tem critério infeccioso (SIRS). Choque séptico é só se não responde a expansão volêmica e tem necessidade de droga vasoativa. 5 Laís Flauzino | FISIOPATOLOGIA | 6°P MEDICINA Referências Martins, Herlon, S. et al. Medicina de emergências : abordagem prática. Disponível em: Minha Biblioteca, (12th edição). Editora Manole, 2017. - capítulo 09 e capítulo 10 Bruce M. Koeppen. Berne e Levy - Fisiologia. Disponível em: Minha Biblioteca, (7th edição). Grupo GEN, 2018. J ohn E. Hall. Guyton & Hall Tratado de Fisiologia Médica. Disponível em: Minha Biblioteca, (13th edição). Grupo GEN, 2017 - capítulo 24 Toy, Eugene C. Casos Clínicos em Medicina de Emergência. Disponível em: Minha Biblioteca, (3rd edição). Grupo A, 2014