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IEFP - ISG Análise Financeira e Gestão Orçamental Guia do Formando Ficha Técnica Colecção MANUAIS PARA APOIO À FORMAÇÃO EM CIÊNCIAS EMPRESARIAIS Título Análise Financeira e Gestão Orçamental Suporte Didáctico Guia do Formando Coordenação e Revisão Pedagógica IEFP – Instituto do Emprego e Formação Profissional - Departamento de Formação Profissional Coordenação e Revisão Técnica ISG – Instituto Superior de Gestão Autor Carlos Saraiva Alves/ISG Capa IEFP Maquetagem ISG Montagem ISG Impressão e Acabamento JERAMA – Artes Gráficas, Lda. Propriedade Instituto do Emprego e Formação Profissional, Av. José Malhoa, 11 1099-018 Lisboa Edição Portugal, Lisboa, Dezembro de 2004 Tiragem 1000 exemplares Depósito Legal 218235/04 ISBN 972-732-911-X Copyright, 2004 Todos os direitos reservados ao IEFP Nenhuma parte deste título pode ser reproduzido ou transmitido, por qualquer forma ou processo sem o conhecimento prévio, por escrito, do IEFP ÍNDICE GERAL IEFP Análise Financeira e Gestão Orçamental Guia do Formando Indice Geral I. A ANÁLISE FINANCEIRA................................................................................................ 1 1. Conteúdo......................................................................................................................... 4 2. Objectivos ....................................................................................................................... 5 • Resumo....................................................................................................................... 9 • Questões e Exercícios .............................................................................................. 10 • Resoluções ............................................................................................................... 11 II. OS MÉTODOS................................................................................................................ 15 1. Fluxos Económicos da Empresa................................................................................... 18 2. Bases Metodológicas .................................................................................................... 20 3. Métodos ........................................................................................................................ 22 • Resumo..................................................................................................................... 26 • Questões e Exercícios .............................................................................................. 27 • Resoluções ............................................................................................................... 28 III. PREPARAÇÃO DOS ELEMENTOS PARA ANÁLISE ................................................... 33 1. Preparação das contas ................................................................................................. 36 2. Balanço e Demonstração de Resultados ...................................................................... 40 3. Origens e aplicações de fundos .................................................................................... 50 • Resumo..................................................................................................................... 53 • Questões e exercícios............................................................................................... 55 • Resoluções ............................................................................................................... 56 IV. OS RÁCIOS ................................................................................................................... 61 1. Indicadores e Rácios..................................................................................................... 64 2. Utilidade e limitações dos Rácios.................................................................................. 65 • Resumo..................................................................................................................... 82 • Questões e exercícios............................................................................................... 85 • Resoluções ............................................................................................................... 88 IEFP Índice Geral Guia do Formando Análise Financeira e Gestão Orçamental V. O EQUILÍBRIO FINANCEIRO.........................................................................................93 1. Bases do equilíbrio financeiro........................................................................................96 2. Fundo de maneio líquido .............................................................................................102 • Resumo ...................................................................................................................110 • Questões e exercícios .............................................................................................112 • Resoluções..............................................................................................................114 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA .......................................................................................121 GLOSSÁRIO......................................................................................................................123 ANÁLISE FINANCEIRA E GESTÃO ORÇAMENTAL I. A ANÁLISE FINANCEIRA I. A ANÁLISE FINANCEIRA IEFP Análise Financeira e Gestão Orçamental Guia do Formando I 3 Objectivos No final desta unidade temática, o formando deverá estar apto a: • Definir a análise financeira e o seu campo de aplicação. • Identificar os objectivos a atingir com a análise. Temas: 1. Conteúdo – definição e aplicação; 2. Objectivos – gestão das disponibilidades, rendibilidade e equilíbrio, estruturação financeira, processo estratégico, controlo económico-financeiro; • Resumo; • Questões e exercícios; • Resoluções. IEFP I. A Análise Financeira Guia do Formando Análise Financeira e Gestão Orçamental I 4 1. CONTEÚDO ‘A teoria financeira consiste num conjunto de conceitos e de modelos de análise quantitativa – os conceitos ajudam a organizar o pensamento sobre a melhor forma de utilizar recursos disponíveis ao longo do tempo, e os modelos ajudam a avaliar alternativas, a tomar decisões e a pô-las em prática.’ Zvi Bodie & Robert C. Merton ‘Finance’, Prentice Hall, New Jersey, 1998 Definição Análise financeira é a actividade que prepara e dá suporte à gestão financeira da empresa. Consiste na aplicação de metodologias para interpretar, caracterizar e dominar acontecimentos e previsões relativos aos meios financeiros à disposição da empresa para o desenvolvimento das suas actividades e às utilizações que destes são feitas. Trata-se, em suma, de extrair informações e elaborar conclusões de natureza económico-financeira e fundamentais para a gestão, a partir de dados relativos às contas de uma organização, criteriosamente seleccionados e especificamente preparados para o efeito. Os ‘meios financeiros à disposição’ designam-se genericamente por origens de fundos ou financiamento e, usando a nomenclatura do POC, compreendem os ‘capitais próprios’ e o ‘passivo’ (que agrupa as diversas naturezas de capitais alheios). As ‘utilizações’ são genericamente designadas por aplicações de fundos ou investimento e, segundo o POC, compreendem todas as rubricas do ‘activo’ (por grandes grupos de naturezas: imobilizado, existências, crédito concedido a terceiros edisponibilidades). Por ‘conclusões de natureza económico-financeira’, entende-se: relato sobre os efeitos registados num património, por actividades desenvolvidas com base neste e tendo em conta o factor tempo. Aplicação A análise financeira aplica-se aos acontecimentos com relevância no plano económico (ou da criação de excedentes) e no plano financeiro (ou respeitantes ao efeito do tempo sobre o valor patrimonial). Quer já tenham sido verificados (como sejam, resultados obtidos em negócios, contas de exercícios terminados, comportamentos de custos ou dos proveitos num dado período, formação de stocks, crédito concedido a terceiros e outros), quer a estudos e previsões de acontecimentos a verificar hipoteticamente no futuro (como sejam, desenvolvimento de actividades, abertura de mercados, financiamentos, aplicações de capital, admissão de novos sócios, aumentos de capital, concessão de crédito a clientes, oportunidades de novos negócios e outros). Para fazer a análise financeira é necessário dispor (e, por vezes, observar em detalhe) de correcta informação contabilística, pelo que se torna necessário que esta actividade esteja devidamente organizada e com os seus arquivos e registos absolutamente em dia. I. A ANÁLISE FINANCEIRA IEFP Análise Financeira e Gestão Orçamental Guia do Formando I 5 2. OBJECTIVOS A análise financeira tem como principal objectivo a gestão financeira da empresa. Os métodos e tarefas que no seu âmbito se desenvolvem, integram-se no ciclo da gestão da empresa (isto é, planear, organizar e controlar) e estão, portanto, fundamentalmente orientados para a pesquisa da criação de valor. O carácter geralmente interveniente da função financeira – presente em todas as decisões da empresa – realiza-se, no fundamental, através da análise, na qual se apoia o exercício interactivo de um conjunto de funções complexas, essenciais à estrutura orgânica da empresa. Passamos a referir essas funções de forma sintética, organizando-as em cinco grupos: 1.Gestão das disponibilidades; 2. Rendibilidade e equilíbrio; 3. Estruturação financeira; 4. Processo estratégico; 5. Controlo económico-financeiro. Gestão das disponibilidades Gerir as disponibilidades é garantir os meios monetários necessários à exploração, ao menor custo e sem aumentar o endividamento perante terceiros. A análise financeira entra na gestão financeira de curto prazo, através da elaboração dos orçamentos (mensais, trimestrais, anuais) de tesouraria, que se destinam a prever excessos ou insuficiências de meios monetários e a encontrar, com antecedência, as soluções mais adequadas – quer pelo recurso a fontes de financiamento, quer pelo reajustamento de políticas da empresa, se necessário. O financiamento da tesouraria faz-se, em geral, pela negociação com clientes e fornecedores, para antecipar prazos de recebimento ou dilatar prazos de pagamento (em geral mediante bonificação financeira). Quando necessário e possível, recorre-se ao desconto de valores em carteira (letras ou facturas). É próprio da análise financeira o cálculo dos ‘custos efectivos’ de financiamento da tesouraria e a comparação das diferentes oportunidades. A gestão das disponibilidades influencia e é influenciada pelas políticas de crédito concedido a clientes e outros, de compras e de existências, as quais estão, por sua vez, interligadas com diversas áreas de responsabilidade da empresa (como sejam, comercial, produção, aprovisionamentos, logística). IEFP I. A Análise Financeira Guia do Formando Análise Financeira e Gestão Orçamental I 6 É necessário estabelecer regras acerca de prazos de pagamento das compras, prazos de recebimento das vendas, volume de stocks, despesas de funcionamento, publicidade, etc. Quando se alteram políticas, a principal preocupação consiste em assegurar que a empresa não seja ultrapassada, face à concorrência. Em análise financeira faz-se também, por norma, a comparação sectorial de indicadores (prazos de recebimento e pagamento, margens e outros) para que a gestão da empresa tenha percepção da sua influência relativa nos mercados e possa posicionar-se correctamente em matéria de competitividade. Rendibilidade e equilíbrio Rendibilidade é a capacidade de gerar lucros com o desenvolvimento da actividade da empresa. Os lucros formam-se quando, feitas as contas com regularidade (mensal, trimestral, anual) se verifica que os proveitos (a facturação aos clientes) é superior aos custos suportados (matérias- primas e subsidiárias, salários com todos os encargos, bens e serviços que foi necessário adquirir, juros bancários, impostos e outros). Equilíbrio é a aptidão para fazer corresponder permanentemente os meios monetários disponíveis à satisfação dos compromissos de pagamento assumidos com terceiros. A empresa que, no desenvolvimento dos seus negócios, obtém taxas de rendibilidade idênticas às do seu sector de actividade e que, ao mesmo tempo, assegura o correcto cumprimento dos compromissos financeiros e o equilíbrio normal da tesouraria, reúne condições positivas para se posicionar com vantagem nos mercados – pelos seguintes motivos: 1 Porque dá aos seus clientes uma indicação de continuidade e crescimento que é favorável à qualidade, à redução dos custos e dos preços e ao aperfeiçoamento das relações de mercado; 2 Porque dá aos seus fornecedores a segurança de colocação de produtos e serviços, com pagamento nas condições contratadas, dá aos bancos sinais de boa gestão, de potencial alargamento dos negócios e de viabilidade; 3 Porque dá aos seus empregados segurança e motivação para trabalharem com qualidade e de forma produtiva; 4 Porque dá à região em que está localizada sinais de empregabilidade e contributo social; 5 Porque garante ao estado o cumprimento correcto e atempado das suas obrigações sociais e contributivas de modo geral. A gestão financeira (apoiada na análise) orienta, portanto, num quadro multivariado, a utilização dos fluxos provenientes das actividades (facturação, essencialmente) segundo pressupostos de equilíbrio e de obtenção de rendibilidade. I. A ANÁLISE FINANCEIRA IEFP Análise Financeira e Gestão Orçamental Guia do Formando I 7 Estruturação financeira A estrutura financeira da empresa encontra-se expressa nos dois ramos do balanço. Desdobra-se em: ‘estrutura de investimento’ (também designada por ‘aplicações’ ou ‘activos’) e ‘estrutura de financiamento’ (que se designa também por ‘origens’ ou ‘capitais’). A estrutura de investimento agrupa as aplicações financeiras - o conjunto de bens e direitos que a empresa utiliza no desenvolvimento da sua actividade (equipamentos, stocks, crédito a clientes, dinheiro). A estrutura de capitais consiste nas origens financeiras –os capitais dos sócios e os que são provenientes do crédito concedido por outros (bancos, fornecedores, estado). À estrutura de investimento está associada a característica de liquidez – capacidade de, num certo espaço de tempo, cada um dos seus componentes se transformar em meios monetários. A liquidez é traduzida em dias (por exemplo, o recebimento far-se-á a x dias, a rotação dos stocks de matérias-primas é de y dias). Há excepções a isto, que devemos apontar. Assim, o imobilizado (os bens de equipamento e outros) não tem directamente associada a condição de liquidez, porque não se destina a ser vendido, mas sim utilizado para produzir. Os meios monetários em caixa e bancos, já constituem liquidez por si mesmos. À estrutura de financiamento está associada a característica de exigibilidade – capacidade de, num certo espaço de tempo, cada um dos seus componentes ser devolvido às entidades que os emprestaram. A exigibilidade é traduzida em dias (por exemplo, o pagamento será exigível ax dias). Também aqui há excepções a assinalar - os capitais colocados pelos sócios na empresa não se destinam a ser devolvidos, como se de empréstimos se tratasse. Ficam na empresa para apoiar a sua actividade e são até reforçados, com lucros não distribuídos. Estes, são considerados como capitais sem exigibilidade. A definição e verificação das proporções adequadas dos capitais, das formas correctas da sua utilização, do cálculo das remunerações (dividendos e juros) que lhes serão devidas e a optimização destes fluxos, constituem o objecto da análise no que respeita à estruturação financeira – uma questão que tem ligações profundas com a estratégia da empresa. Processo estratégico A função financeira integra-se na estratégia global da empresa, participando na elaboração do diagnóstico, na formulação estratégica, na definição das opções a considerar, na implementação dos planos e no seu controlo. A análise financeira é essencial ao processo estratégico, desde o diagnóstico – definição dos pontos fortes e fracos e das ameaças e oportunidades de que dispõe em mercado, para a IEFP I. A Análise Financeira Guia do Formando Análise Financeira e Gestão Orçamental I 8 formulação da estratégia – às fases seguintes do processo (consideração das opções e implementação estratégica) e às revisões necessárias. Compete ao gestor financeiro fazer a tradução dos planos estratégicos em documentos financeiros provisionais (balanços, demonstrações de resultados e de tesouraria) por forma a que as decisões e os objectivos estratégicos sejam assumidos pelos quadros e por toda a organização, com domínio adequado dos respectivos efeitos – em termos económicos, financeiros e monetários. Controlo Económico-Financeiro Controlar a gestão significa dominar a informação económico-financeira relevante e intervir, com a necessária antecipação, para que os objectivos sejam alcançados. A informação económica é a que incide sobre o desempenho operacional das diversas funções da empresa e permite avaliar da sua eficiência na utilização dos recursos e da respectiva contribuição para a formação dos resultados. A informação financeira é a que se reporta ao controlo e utilização eficiente dos fluxos de capitais (créditos obtidos, cobranças, fundos próprios, etc.) que apoiam as actividades da empresa. O controlo exerce-se do topo à base e os meios que mobiliza (humanos, técnicos, informáticos e outros) devem estar de acordo com as necessidades relativas da gestão e a importância das actividades controladas. O controlo foca, fundamentalmente, o processo de criação de valor da empresa. A este nível, a análise financeira presta contributo importante para a motivação e desenvolvimento das estruturas, proporcionando um melhor conhecimento dos negócios e da gestão, através do sistema de informação e do controlo estratégico e orçamental. I. A ANÁLISE FINANCEIRA IEFP Análise Financeira e Gestão Orçamental Guia do Formando I 9 Resumo 1. Análise financeira é a aplicação de metodologias para dominar, interpretar e caracterizar acontecimentos e previsões relativos ao conjunto dos financiamentos (próprios e alheios) à disposição da empresa e aos investimentos (utilizações expressas em activos) que destes são feitas 2. A análise financeira aplica-se aos acontecimentos com relevância económica (relativos à formação de excedentes, margens e resultados) e financeira (respeitantes ao efeito do tempo sobre o valor do património), quer tenham sido verificados no passado, quer respeitem a estudos e previsões a verificar hipoteticamente no futuro. 3. Para fazer a análise financeira é necessário dispor da informação contabilística devidamente organizada e com arquivos e registos em dia. 4. carácter geralmente interveniente da função financeira – presente em todas as decisões da empresa – realiza-se, no fundamental, através da análise, na qual se apoia o exercício interactivo de um conjunto de funções complexas, essenciais à estrutura. 5. A análise financeira é essencial para assegurar a gestão das disponibilidades, isto é, garantir que a empresa disponha dos meios monetários necessários à sua exploração, ao menor custo e sem aumentar o endividamento perante terceiros. 6. A análise financeira utiliza-se para a análise e controlo da rendibilidade e do equilíbrio, condições fundamentais de credibilidade, aceitação e integração da empresa no meio em que exerce actividade. 7. A optimização dos fluxos de capitais e dos efeitos (de remuneração e outros) que lhes são associados, no sentido da maximização do valor da empresa, constituem o objecto da análise para a estruturação financeira – uma questão com profundas conexões com o processo estratégico. 8. A função financeira integra-se na estratégia global da empresa, participando na elaboração do diagnóstico, na formulação estratégica, na definição das opções, na implementação dos planos e no seu controlo. 9. A informação económica de controlo é a que incide sobre o desempenho operacional das diversas funções da empresa e permite avaliar da sua eficiência na utilização dos recursos e da respectiva contribuição para a formação dos resultados. 10. A informação financeira de controlo é a que se reporta à utilização eficiente dos fluxos de capitais (créditos obtidos, cobranças, fundos próprios, etc.) que apoiam as actividades da empresa. 11. controlo exerce-se na empresa do topo à base e os meios que mobiliza devem estar de acordo com as necessidades e a importância estratégica e operacional das actividades. 12. A análise financeira presta igualmente contributo importante na motivação e desenvolvimento das estruturas, proporcionando aos quadros da empresa um melhor conhecimento dos negócios e da gestão operacional, através da informação e do controlo orçamental. IEFP I. A Análise Financeira Guia do Formando Análise Financeira e Gestão Orçamental I 10 Questões e Exercícios 1. O que é a análise financeira? 2. Como se designam os meios financeiros à disposição da empresa? 3. Que agregados de contas do POC formam as origens de fundos? 4. Que grupos de contas do POC respeitam às aplicações de fundos? 5. O que é a estrutura financeira e como se organiza? 6. O que é a estrutura de capitais e quais as suas principais rubricas? 7. O que é a estrutura de investimento e que agregados de contas a constituem? 8. A que tipo de acontecimentos se aplica a análise financeira? 9. De que elementos é necessário dispor para efectuar a análise financeira da empresa? 10. Qual é o objectivo principal da análise financeira? 11. Quais as funções próprias da área financeira, que se apoiam na análise? 12. O que é a gestão das disponibilidades? 13. O que se entende por rendibilidade? 14. O que se entende por equilíbrio financeiro? 15. Porque é que a rendibilidade e o equilíbrio financeiro são importantes? 16. O que é a estruturação financeira e que relação tem com a análise? 17. Qual a intervenção da análise financeira no processo estratégico? 18. O que significa controlo económico e financeiro? 19. A que nível da empresa se faz o controlo de gestão? 20. Porque é que a análise pode contribuir para motivar e desenvolver? I. A ANÁLISE FINANCEIRA IEFP Análise Financeira e Gestão Orçamental Guia do Formando I 11 Resoluções 1. Análise financeira é a actividade que prepara e dá suporte à gestão financeira da empresa. Consiste na aplicação de metodologias para interpretar, caracterizar e dominar acontecimentos e previsões relativos aos meios financeiros à disposição da empresa para o desenvolvimento das suas actividades e às utilizações que destes são feitas. Trata-se, em suma, de extrair informações e elaborar conclusões de naturezaeconómico- financeira e fundamentais para a gestão, a partir de dados relativos às contas de uma organização, criteriosamente seleccionados e especificamente preparados para o efeito. 2. Os “meios financeiros à disposição” designam-se genericamente por origens de fundos ou financiamento. 3. Compreendem os ‘capitais próprios’ e o ‘passivo’ (que agrupa as diversas naturezas de capitais alheios). 4. Compreendem todas as rubricas do ‘activo’ (por grandes grupos de naturezas: imobilizado, existências, crédito concedido a terceiros e disponibilidades). 5. A estruturação financeira representa o ajustamento sistemático e permanente dos fluxos de liquidez e exigibilidade. A estrutura financeira da empresa encontra-se expressa nos dois ramos do balanço. Desdobra-se em: ‘estrutura de investimento’ (também designada por ‘aplicações’ ou ‘activos’) e ‘estrutura de financiamento’ (que se designa também por ‘origens’ ou ‘capitais’). 6. À estrutura de financiamento está associada a característica de exigibilidade – capacidade de, num certo espaço de tempo, cada um dos seus componentes ser devolvido às entidades que os emprestaram. A exigibilidade é traduzida em dias (por exemplo, o pagamento será exigível a x dias). Também aqui há excepções a assinalar - os capitais colocados pelos sócios na empresa não se destinam a ser devolvidos, como se de empréstimos se tratasse. Ficam na empresa para apoiar a sua actividade e são até reforçados, com lucros não distribuídos. Estes, são considerados como capitais sem exigibilidade. 7. A estrutura de investimento agrupa as aplicações financeiras - o conjunto de bens e direitos que a empresa utiliza no desenvolvimento da sua actividade (equipamentos, stocks, crédito a clientes, dinheiro). A estrutura de capitais consiste nas origens financeiras –os capitais dos sócios e os que são provenientes do crédito concedido por outros (bancos, fornecedores, estado). À estrutura de investimento está associada a característica de liquidez – capacidade de, num certo espaço de tempo, cada um dos seus componentes se transformar em meios monetários. A liquidez é traduzida em dias (por exemplo, o recebimento far-se-á a x dias, a rotação dos stocks de matérias-primas é de y dias). Há excepções a isto, que devemos apontar. Assim, o imobilizado (os bens de equipamento e outros) não tem directamente associada a condição de liquidez, porque não se destina a ser vendido, mas sim utilizado para produzir. Os meios monetários em caixa e bancos, já constituem liquidez por si mesmos. IEFP I. A Análise Financeira Guia do Formando Análise Financeira e Gestão Orçamental I 12 8. A análise financeira aplica-se aos acontecimentos com relevância no plano económico (ou da criação de excedentes) e no plano financeiro (ou respeitantes ao efeito do tempo sobre o valor patrimonial). Quer já tenham sido verificados (como sejam, resultados obtidos em negócios, contas de exercícios terminados, comportamentos de custos ou dos proveitos num dado período, formação de stocks, crédito concedido a terceiros e outros), quer a estudos e previsões de acontecimentos a verificar hipoteticamente no futuro (como sejam, desenvolvimento de actividades, abertura de mercados, financiamentos, aplicações de capital, admissão de novos sócios, aumentos de capital, concessão de crédito a clientes, oportunidades de novos negócios e outros). 9. Para fazer a análise financeira é necessário dispor (e, por vezes, observar em detalhe) de correcta informação contabilística, pelo que se torna necessário que esta actividade esteja devidamente organizada e com os seus arquivos e registos absolutamente em dia. 10. A análise financeira tem como principal objectivo a gestão financeira da empresa. 11. • Gestão das disponibilidades; • Rendibilidade e equilíbrio; • Estruturação financeira; • Processo estratégico; • Controlo económico-financeiro. 12. Gerir as disponibilidades é garantir os meios monetários necessários à exploração, ao menor custo e sem aumentar o endividamento perante terceiros. 13. É a capacidade de gerar lucros com o desenvolvimento da actividade da empresa. 14. É a aptidão para fazer corresponder permanentemente os meios monetários disponíveis à satisfação dos compromissos de pagamento assumidos com terceiros. 15. 1. Porque dá aos seus clientes uma indicação de continuidade e crescimento que é favorável à qualidade, à redução dos custos e dos preços e ao aperfeiçoamento das relações de mercado; 2. Porque dá aos seus fornecedores a segurança de colocação de produtos e serviços, com pagamento nas condições contratadas, dá aos bancos sinais de boa gestão, de potencial alargamento dos negócios e de viabilidade; 3. Porque dá aos seus empregados segurança e motivação para trabalharem com qualidade e de forma produtiva; 4. Porque dá à região em que está localizada sinais de empregabilidade e contributo social; 5. Porque garante ao estado o cumprimento correcto e atempado das suas obrigações sociais e contributivas de modo geral. I. A ANÁLISE FINANCEIRA IEFP Análise Financeira e Gestão Orçamental Guia do Formando I 13 16. A estruturação financeira representa o ajustamento sistemático e permanente dos fluxos de liquidez e exigibilidade. A definição e verificação das proporções adequadas dos capitais, das formas correctas da sua utilização, do cálculo das remunerações (dividendos e juros) que lhes serão devidas e a optimização destes fluxos, constituem o objecto da análise no que respeita à estruturação financeira – uma questão que tem ligações profundas com a estratégia da empresa. 17. A função financeira integra-se na estratégia global da empresa, participando na elaboração do diagnóstico, na formulação estratégica, na definição das opções a considerar, na implementação dos planos e no seu controlo. A análise financeira é essencial ao processo estratégico, desde o diagnóstico – definição dos pontos fortes e fracos e das ameaças e oportunidades de que dispõe em mercado, para a formulação da estratégia – às fases seguintes do processo (consideração das opções e implementação estratégica) e às revisões necessárias. Compete ao gestor financeiro fazer a tradução dos planos estratégicos em documentos financeiros provisionais (balanços, demonstrações de resultados e de tesouraria) por forma a que as decisões e os objectivos estratégicos sejam assumidos pelos quadros e por toda a organização, com domínio adequado dos respectivos efeitos – em termos económicos, financeiros e monetários. 18. Controlar a gestão significa dominar a informação económico-financeira relevante e intervir, com a necessária antecipação, para que os objectivos sejam alcançados. A informação económica é a que incide sobre o desempenho operacional das diversas funções da empresa e permite avaliar da sua eficiência na utilização dos recursos e da respectiva contribuição para a formação dos resultados. A informação financeira é a que se reporta ao controlo e utilização eficiente dos fluxos de capitais (créditos obtidos, cobranças, fundos próprios, etc.) que apoiam as actividades da empresa. 19. O controlo exerce-se do topo à base e os meios que mobiliza (humanos, técnicos, informáticos e outros) devem estar de acordo com as necessidades relativas da gestão e a importância das actividades controladas. O controlo foca, fundamentalmente, o processo de criação de valor da empresa. 20. Proporciona um melhor conhecimento dos negócios e da gestão, através do sistema de informação e do controlo estratégico e orçamental. II. OS MÉTODOS ANÁLISE FINANCEIRA E GESTÃO ORÇAMENTAL II. OS MÉTODOS IEFP Análise Financeira e Gestão Orçamental Guia do Formando II 17 Objectivos No final desta unidade temática, o formando deveráestar apto a: • Enunciar os métodos da análise financeira. • Caracterizar o método da análise estática. • Caracterizar o método da análise dinâmica. Temas: 1 Fluxos económicos da empresa – reais e monetários: despesas e receitas, pagamentos e recebimentos, custos e proveitos; 2 Bases metodológicas – recolha da informação, análise e tratamento da informação, formulação de hipóteses, validação das hipóteses, conclusões e recomendações; 3 Métodos – análise estática e análise dinâmica; • Resumo; • Questões e exercícios; • Resoluções. IEFP II. OS MÉTODOS S Guia do Formador Análise Financeira e Gestão Orçamental II 18 1. FLUXOS ECONÓMICOS DA EMPRESA A diferenciação das condições de desenvolvimento económico, tecnológico, financeiro e social de sectores e empresas numa economia, bem como as finalidades distintas a atingir pelos analistas financeiros, explicam, no essencial, as diferenças de métodos (o modo como o trabalho se faz) de caso para caso. Os métodos da análise financeira aplicam-se ao estudo dos fluxos económicos da empresa e à sua intervenção no processo de criação de valor. Fluxos económicos - Reais e Monetários Chamam-se fluxos económicos os movimentos de bens, serviços e meios monetários, da empresa para o exterior e vice-versa. Quando esses fluxos são constituídos por ‘bens e serviços’, são ‘fluxos reais’ e ocasionam ‘despesa’ (se a empresa os adquire) ou ‘receita’ (se a empresa os vende). Quando esses fluxos são constituídos por ‘meios monetários’ (dinheiro, cheques ou meios equivalentes) são designados por ‘fluxos monetários’ e geram ‘pagamentos’ (ou desembolsos) ou ‘recebimentos’ (embolsos). FLUXOS ECONÓMICOS REAIS (Bens e Serviços) MONETÁRIOS FORNECEDORES COMPRAS FORNECEDORES Pagamentos Despesas Custos STOCKS mp/pi PRODUÇÃO Receitas Proveitos STOCKS pa CLIENTES VENDAS Recebimentos CLIENTES INVESTIMENTO CAIXA & Dep.Ord. Fig. II.1 - Fluxos económicos da empresa II. OS MÉTODOS IEFP Análise Financeira e Gestão Orçamental Guia do Formando II 19 Despesas e receitas As ‘despesas’ das empresas são compromissos, em geral assumidos para com fornecedores e destinam-se a: 1 Adquirir equipamentos (imobilizado); 2 Adquirir bens para aprovisionar (existências); 3 Pagar serviços; 4 Adquirir bens para consumo (imediato ou quase imediato). As despesas das empresas são facturadas pelos fornecedores/credores. As ‘receitas’ das empresas são direitos, em geral constituídos perante clientes e provém de: (i) facturação de bens ou serviços prestados; (ii) alienação de património. As receitas das empresas dão lugar à emissão de facturas, a enviar aos seus clientes/devedores. Pagamentos e Recebimentos Os ‘pagamentos’ representam a regularização monetária (no imediato ou no futuro) das despesas efectuadas. São saídas em dinheiro ou por cheques emitidos. Os ‘recebimentos’ representam a regularização monetária (no imediato ou no futuro) das receitas geradas. São entradas em dinheiro ou por cheques recebidos. Custos e Proveitos Os ‘custos’ são gerados pela utilização e consumo (dos bens ou dos serviços) numa actividade produtiva. Os valores que se registam como ‘custos’, ou são de bens e serviços directamente adquiridos para a produção, ou (no caso das matérias-primas e dos bens intermédios) respeitam a saídas de ‘stocks’ anteriormente aprovisionados, para uma finalidade específica (fabricar um produto, reparar um equipamento, realizar uma tarefa administrativa, etc.). A distribuição analítica dos ‘custos’ pelas actividades em que são incorporados é uma ‘imputação ou distribuição de custos’ (uma forma de débito interno). Os “proveitos” são gerados pela entrega de bens ou pela prestação de serviços a terceiros (aqueles com quem temos transacções). Os valores que se registam como ‘proveitos’ têm associada a emissão de uma factura (ou documento equivalente, como é o caso da nota de débito para certos casos especiais). A distribuição analítica dos ‘proveitos’ pelas actividades geradoras, chama-se ‘imputação ou distribuição de proveitos’ (uma forma de crédito interno). IEFP II. OS MÉTODOS S Guia do Formador Análise Financeira e Gestão Orçamental II 20 2. BASES METODOLÓGICAS As bases metodológicas da análise financeira assentam nos princípios gerais do método científico, desenvolvendo-se em cinco fases: 1. Recolha da informação; 2. Análise e tratamento da informação; 3. Formulação de hipóteses; 4. Validação das hipóteses; 5. Conclusões e recomendações. Por razões de objectividade, rigor e economia, os métodos (isto é, o modo como se faz a análise) são objecto de compatibilização e síntese, tendo em conta o ambiente económico e as finalidades da análise. A banca tem grande influência normativa, através dos processos de concessão de crédito e no que se reporta ao conteúdo e aos modelos de análise das empresas. Outras instituições com influência neste campo, são o IAPMEI (Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e ao Investimento) e o ICEP (Instituto do Comércio Externo Português) pela sua intervenção na aprovação dos projectos com apoio estatal. Recolha da Informação A informação base da análise é proveniente da contabilidade: balanços, demonstrações de resultados e outra informação relevante (como sejam, os balancetes, os contratos de financiamento, relatórios e anexos às contas). Em geral recolhe-se informação de dois ou três períodos (anos, trimestres, semestres) anteriores, dependendo do período a abranger e do trabalho final a apresentar. Existe outra informação (não contabilística) também importante, como os orçamentos e planos, os organigramas, o quadro de pessoal, o absentismo, os volumes de produção e consumos associados (matérias-primas, embalagem, etc.), os produtos e serviços da empresa, as quotas de mercado, o controlo de qualidade e outras. Finalmente, obtém-se informação sectorial (que a empresa, de um modo geral, tem, ou que se pode obter através das associações do sector ou das centrais de balanços dos grandes bancos), ou seja, dados sobre a concorrência, estatística actualizada, estrutura de custos e proveitos do sector, níveis de investimento e crédito. Análise e Tratamento da Informação A informação recolhida é ordenada, classificada e seleccionada, de forma criteriosa e para servir, de modo expedito e eficiente, as finalidades do trabalho que se deseja executar. As demonstrações financeiras obtidas da contabilidade são verificadas, para garantir que têm correspondência com movimentos reais efectivamente feitos. Em seguida, procede-se à introdução II. OS MÉTODOS IEFP Análise Financeira e Gestão Orçamental Guia do Formando II 21 de correcções (por processos extra-contabilísticos) a fim de dar relevo a determinados aspectos considerados importantes na óptica da análise a efectuar (ver: 2.3. Métodos). A partir das demonstrações (de períodos sucessivos) rectificadas e dos mapas demonstrativos auxiliares que sobre as mesmas se preparam, trabalha-se um conjunto de indicadores, para o estudo da situação económica e financeira. Formulação de Hipóteses Formulam-se hipóteses por dois processos: • Recorrendo a comparações com o passado; • Criando cenários para o futuro, para servirem igualmente de elementos comparativos. O passado da empresa (e do sector) está geralmente publicado (contas, anexos e relatórios de gestão). O futuro, está nos planos a médio ou longo prazo, nas análises das associações sectoriais, na própria visão dos gestores sobre a empresa. Os problemas financeiros que possam ser encontrados, em geral não existem de ‘per si’. Decorrem de dificuldades na área comercial, problemas dedomínio tecnológico, questões entre pessoas, formulação estratégica inadequada, posicionamento desajustado face à concorrência e outros. Para dar conteúdo analítico-financeiro às hipóteses, deve-se trabalhar por tentativas e com grande cuidado, para que não sejam emitidas opiniões destituídas de sentido e afastadas da realidade. Validação das Hipóteses Validar é verificar compatibilidades e testar afirmações. Se necessário, devem ser revistos aspectos parcelares. Os pontos de vista do analista devem ser submetidos à apreciação da gestão da empresa analisada, para conhecer outras opiniões e confrontar a aderência das teses avançadas. Conclusões e Recomendações A apresentação das conclusões é o topo do trabalho. Sem conclusões, não se pode dizer que está feita a análise financeira. As conclusões apresentam-se por escrito e a sua validação deve ser feita, com os responsáveis da empresa que foi objecto do trabalho, por forma a que exista o mais amplo esclarecimento entre as partes (gestão da empresa e analista) acerca do trabalho efectuado. É normal que o relatório de Conclusões contenha igualmente um conjunto de Recomendações, em geral respeitantes à rectificação de procedimentos ou à introdução de medidas de controlo. IEFP II. OS MÉTODOS S Guia do Formador Análise Financeira e Gestão Orçamental II 22 3. MÉTODOS Os métodos da análise financeira destinam-se a assegurar a máxima compreensão por parte de não-especialistas (como são, afinal, a maioria dos gestores de empresa) no que se refere aos procedimentos, recomendações e conclusões da análise. A par do rigor e credibilidade técnica (no plano nacional e internacional) que deve assegurar, a análisefinanceira deve também proporcionar apoio para as decisões empresariais na vertente económico-financeira, considerando condições concretas de complexidade de estruturas e de negócios, de desenvolvimento dos mercados e de globalização das economias. Os elementos-base da análise são, como se sabe, as contas preparadas na óptica fiscal. O analista tem, portanto, que saber compatibilizar e validar tais dados (cuja natureza é estática) por forma a obter indicadores adequados às condições (essencialmente dinâmicas) da gestão. Entretanto, por razões de simplificação, assume-se que existem dois métodos, sendo um designado por ‘estático’ (ou clássico) e o outro por ‘dinâmico’ (ou de mudança), com características distintas (na forma e no conteúdo) conforme abaixo se explica. O trabalho do analista não consiste, no entanto, na opção por um dos métodos, consoante o objecto e as finalidades da análise, para em seguida desenvolver uma formulação determinada e escrever as conclusões. A análisefinanceira moderna é exigente e complexa. Remete para a síntese dos métodos, com percepção ampla da empresa e do seu meio envolvente, compatibilização de processos e observação rigorosa de procedimentos (onde necessário). A análisefinanceira deve proporcionar total aderência de conclusões e recomendações ao ambiente económico e empresarial a que se aplica. Método de Análise Estática A análisefinanceira estática (ou clássica) é orientada para a visão da ‘empresa estável’, que assegura sem grandes alterações a sua continuidade. Parte das demonstrações contabilísticas fundamentais (balançoe demonstração de resultados) corrigidas (ver: 3. Preparação das contas para análise) para evidenciar ‘reservas ocultas (activos subavaliados e custos sobreavaliados)’ e ‘prudência fiscal’ (nível das provisõese amortizações), na óptica da análise bancária para concessão de crédito. Os indicadores são em geral rácios simples (ver: 4. Rácios) referentes a períodos longos (anuais ou semestrais) com validação quantitativa (comparação numérica). A análise estática é bastante utilizada em relatórios de contas das grandes empresas participadas pelo estado. II. OS MÉTODOS IEFP Análise Financeira e Gestão Orçamental Guia do Formando II 23 A comparação sectorial dos indicadores (da estrutura financeira, da rendibilidadee do equilíbrioassume importância primordial nas conclusões. Método de Análise Dinâmica A análise financeira dinâmica (ou de mudança) é orientada para a gestão estratégica (a visão criativa do futuro) e para o planeamento a curto prazo – e, portanto, para a visão da empresa como um sistema com características próprias e movimentos próprios, diferenciados, de que a componente financeira é parte integrante. As contas para análise são relativas a períodos curtos (trimestre ou mês) e é dada bastante atenção à análise das variações dos fluxos económico- financeiros em períodos consecutivos. A rectificação dos balanços (ver: 3. Preparação dos elementos para análise) tem como objectivo evidenciar ‘o valor da empresa’ que se exprime, aliás, na dinâmica das origens e aplicações de fundos. A comparação sectorial (baseada nos indicadores clássicos) assume, neste contexto, relativo interesse. Preferência por informação estatística (interna e externa), análises dos mercados e do ambiente concorrencial. Síntese dos Métodos A análise financeira moderna acompanha o desenvolvimento e a evolução da economia. Portanto, os analistas aplicam-se criativamente na síntese dos métodos (estático e dinâmico) para garantir que, em matéria de procedimentos, recomendações e conclusões, existe perfeita correspondência com a complexidade das decisões necessárias à gestão. A orientação da análise financeira para a síntese e compatibilização dos métodos acima descritos, significa o reconhecimento do seguinte: • A análisefinanceira clássica ocupa um espaço próprio, aplicável à generalidade das empresas com contas organizadas e orienta-se, nos conteúdos, conclusões e recomendações, pela óptica da concessão de crédito bancário. É essencialmente compreensível por não-especialistas. • A passagem à análise financeira dinâmica surge como um imperativo necessário para corresponder ao desenvolvimento sectorial das actividades, à expansão dos negócios e à globalização das economias. Implica estruturas bastante organizadas, amplo domínio das actividades e negócios e gestão empresarial avançada. A síntese dos métodos torna igualmente necessário que, como tarefa preparatória da análisese estude o sector, se percebam os canais de negócio e o ambiente concorrencial, se faça uma avaliação rápida da estrutura e dos sistemas de funcionamento, se percebam as estratégias e as orientações da organização (ou seja, as suas políticas) para gerar resultados. IEFP II. OS MÉTODOS S Guia do Formador Análise Financeira e Gestão Orçamental II 24 Na perspectiva em que actualmente se desenvolvem as actividades empresariais, a apreensão correcta e integral dos acontecimentos é um processo de envolvimento pessoal continuado. Este mesmo conceito é bastante apropriado para definir a actividade do analista financeiro, quer na síntese metodológica, quer na aprendizagem dos seus resultados. O domínio global da analyse é um saber que nunca se pode assumir como adquirido na sua totalidade, que evolui ao ritmo normal da mudança dos sistemas de informação. Orientação da Análise De posse das contas (encerradas) do período a analisar, o analista precisa de definir previamente as questões importantes a atender e o modo como vai realizar a análise A orientação da análise (pontos a privilegiar, questões especiais, natureza e fiabilidade dos elementos disponíveis, etc.) é definida após a elaboração de um ‘diagnóstico rápido’ da empresa, abrangendo: Identificação: 1. Produtos/serviços (ramo de actividade). 2. Mercados (distribuição em %): Interno Comunidade Europeia (euro) Comunidade Europeia (outros) Estados Unidos Outros (quais?) Recursos (de gestão, técnicos e humanos):3. Gestão (exercício efectivo): Sócios/accionistas Gestores não sócios Familiar Outra (qual/como?) 4. Factores-chave/questões especiais a considerar. 5. Periodicidade das contas: Mensal Trimestral Semestral Anual II. OS MÉTODOS IEFP Análise Financeira e Gestão Orçamental Guia do Formando II 25 Pontos a Focar: 1. Finalidades da análise 2. Destinatários da análise Este diagnóstico permite organizar a súmula de ORIENTAÇÃO da ANÁLISE, nos seguintes pontos: 1. Âmbito da rectificação (com referência ao Balanço). 2. Indicadores e mapas auxiliares. 3. Questões especiais a considerar. Este documento de trabalho é arquivado, para consulta frequente, tendo nomeadamente em vista a elaboração do relatório. IEFP II. OS MÉTODOS S Guia do Formador Análise Financeira e Gestão Orçamental II 26 Resumo 1. Os métodos da análise financeira aplicam-se ao estudo dos fluxos económicos da empresa e à sua intervenção no processo de criação de valor . 2. Chamam-se fluxos económicos os movimentos de bens, serviços e meios monetários, da empresa para o exterior e vice-versa. 3. Fluxos reais, são os fluxos económicos de bens e serviços e fluxos monetários são os fluxos económicos de dinheiro, cheques ou meios equivalentes. 4. Despesas são compromissos assumidos com fornecedores e outros credores, para adquirir equipamentos, bens para aprovisionar, bens para consumir e obter serviços, incluindo os financeiros. Dão lugar a facturação (ou movimento equivalente) por parte de terceiros. 5. Receitas são direitos constituídos perante clientes e outros devedores, provenientes de: bens vendidos, serviços prestados, aplicações financeiras ou património alienado. Geram proveitos de diversa natureza. 6. Pagamentos são regularizações monetárias de despesas efectuadas. Recebimentos são regularizações monetárias de receitas geradas. 7. Custos são utilizações e consumos de bens e serviços numa actividade produtiva. Proveitos são entregas de bens ou prestações de serviços a terceiros, com emissão de factura ou documento equivalente, sobre terceiros. 8. A metodologia da análise baseia-se no método científico e desenvolve-se em cinco fases: Recolha da informação; análise e tratamento; formulação de hipóteses; validação; conclusões. 9. A diferenciação existente entre os sectores e unidades empresariais, as diferentes condições de desenvolvimento económico, tecnológico, financeiro e social, bem como as finalidades distintas dos trabalhos a efectuar, são factores explicativos da utilização de métodos diferenciados para a análise. 10. Razões de simplificação teórica, permitem afirmar que existem dois métodos, sendo um deles designado por ‘estático (ou clássico) e o outro por ‘dinâmico’ (ou de mudança), com características distintas (na forma e no conteúdo). 11. Por razões de objectividade, rigor e economia, os métodos compatibilizam-se e ajustam-se às finalidades do trabalho, por forma a proporcionar a máxima aderência, relativamente ao ambiente a que se aplica a análise 12. Na analyse estática (clássica): contas de períodos longos (anuais ou semestrais). Balanços corrigidos para evidenciar reservas ocultas e introduzir prudência (provisões, amortizações Indicadores simples (estrutura, rendibilidade, equilíbrio). Óptica bancária. Comparação sectorial de indicadores. 13. Na análise dinâmica (de mudança): contas de períodos curtos (trimestrais ou mensais) para análise das variações dos fluxos. Balanços corrigidos para evidenciar o valor da empresa. Indicadores compostos (articulação complexa de rácios). Análise marginal. Óptica da gestão estratégica (visão criativa do futuro). 14. A análise financeira moderna remete para a síntese dos métodos, com percepção ampla da empresa e do seu meio envolvente, compatibilização inteligente de processos e observação rigorosa de procedimentos (onde necessário). II. OS MÉTODOS IEFP Análise Financeira e Gestão Orçamental Guia do Formando II 27 Questões e Exercícios 1. O que são fluxos económicos da empresa? 2. Que tipos de fluxos económicos distingue? 3. Explique a diferença entre despesa, receita, pagamento e recebimento. 4. O que são custos e proveitos? 5. Enuncie as cinco fases de desenvolvimento do método da análise financeira. 6. Qual a aplicação dos métodos de análise financeira? 7. Porque é que os métodos de análise devem ajustar-se às finalidades? 8. Em que consiste a recolha da informação para análise? 9. Como se procede na fase da análise e tratamento da informação? 10. Como e porque é que se formulam hipóteses sobre as contas em análise? 11. O que é a validação das hipóteses formuladas? 12. O que são as conclusões e recomendações da análise? 13. Como devem apresentar-se as conclusões e recomendações? 14. O que são métodos de análise financeira? 15. O que significa corrigir o balanço das ‘reservas ocultas’? 16. Qual é a orientação dominante do método clássico? 17. O que é que caracteriza o método de análise dinâmica ? 18. Porque é que se corrigem as contas ? 19. Que factores tornam recomendável a síntese dos métodos de análise? 20. Porque razão se afirma que a análise financeira está ligada à economia? 21. O que entende por ‘análise da concorrência’? Exercício Prático Preparar um ‘diagnóstico rápido’ aplicável à empresa ‘PNTB,sa’, cujas contas, dos anos (n-2), (n-1) e (n), vão ser analisadas (vide pontos 3.5., 4.5. e 5.4. designados como 'Avaliação – Exercício Prático') IEFP II. OS MÉTODOS S Guia do Formador Análise Financeira e Gestão Orçamental II 28 Resoluções 1. Chamam-se fluxos económicos os movimentos de bens, serviços e meios monetários, da empresa para o exterior e vice-versa. 2. Quando esses fluxos são constituídos por ‘bens e serviços’, são ‘fluxos reais’ e ocasionam ‘despesa’ (se a empresa os adquire) ou ‘receita’ (se a empresa os vende). Quando esses fluxos são constituídos por ‘meios monetários’ (dinheiro, cheques ou meios equivalentes) são designados por ‘fluxos monetários’ e geram ‘pagamentos’ (ou desembolsos) ou ‘recebimentos’ (embolsos). 3. Despesas e receitas As ‘despesas’ das empresas são compromissos, em geral assumidos para com fornecedores e destinam-se a: Adquirir equipamentos (imobilizado); Adquirir bens para aprovisionar (existências); Pagar serviços; Adquirir bens para consumo (imediato ou quase imediato). As despesas das empresas são facturadas pelos fornecedores/credores. As ‘receitas’ das empresas são direitos, em geral constituídos perante clientes e provém de: (i) facturação de bens ou serviços prestados; (ii) alienação de património. As receitas das empresas dão lugar à emissão de facturas, a enviar aos seus clientes/devedores. Pagamentos e recebimentos Os ‘pagamentos’ representam a regularização monetária (no imediato ou no futuro) das despesas efectuadas. São saídas em dinheiro, por cheques emitidos ou transferências bancárias. Os ‘recebimentos’ representam a regularização monetária (no imediato ou no futuro) das receitas geradas. São entradas em dinheiro ou por cheques recebidos. 4. Custos e proveitos Os ‘custos’ são gerados pela utilização e consumo (dos bens ou dos serviços) numa actividade produtiva. Os valores que se registam como ‘custos’, ou são de bens e serviços directamente adquiridos para a produção, ou (no caso das matérias-primas e dos bens intermédios) respeitam a saídas de ‘stocks’ anteriormente aprovisionados, para uma finalidade específica (fabricar um produto, reparar um equipamento, realizar uma tarefa administrativa, etc.). A distribuição analítica dos ‘custos’ pelas actividades em que são incorporados é uma ‘imputação ou distribuição de custos’(uma forma de débito interno). Os “proveitos” são gerados pela entrega de bens ou pela prestação de serviços a terceiros (aqueles com quem temos transacções). Os valores que se registam como ‘proveitos’ têm associada a II. OS MÉTODOS IEFP Análise Financeira e Gestão Orçamental Guia do Formando II 29 emissão de uma factura (ou documento equivalente, como é o caso da nota de débito para certos casos especiais). A distribuição analítica dos ‘proveitos’ pelas actividades geradoras, chama-se ‘imputação ou distribuição de proveitos’ (uma forma de crédito interno). 5. As bases metodológicas da análise financeira assentam nos princípios gerais do método científico, desenvolvendo-se em cinco fases: 1 Recolha da informação. 2 Análise e tratamento da informação. 3 Formulação de hipóteses. 4 Validação das hipóteses. 5 Conclusões e recomendações. 6. Os métodos da análise financeira destinam-se a assegurar a máxima compreensão por parte de não-especialistas (como são, afinal, a maioria dos gestores de empresa) no que se refere aos procedimentos, recomendações e conclusões da análise. 7. A par do rigor e credibilidade técnica (no plano nacional e internacional) que deve assegurar, a análise financeira deve também proporcionar apoio para as decisões empresariais na vertente económico-financeira, considerando condições concretas de complexidade de estruturas e de negócios, de desenvolvimento dos mercados e de globalização das economias. 8. A informação base da análise é proveniente da contabilidade: balanços, demonstrações de resultados e outra informação relevante (como sejam, os balancetes, os contratos de financiamento, relatórios e anexos às contas). 9. Em geral recolhe-se informação de dois ou três períodos (anos, trimestres, semestres) anteriores, dependendo do período a abranger e do trabalho final a apresentar. Existe outra informação (não contabilística) também importante, como os orçamentos e planos, os organigramas, o quadro de pessoal, o absentismo, os volumes de produção e consumos associados (matérias-primas, embalagem, etc.), os produtos e serviços da empresa, as quotas de mercado, o controlo de qualidade e outras. Finalmente, obtém-se informação sectorial (que a empresa, de um modo geral, tem, ou que se pode obter através das associações do sector ou das centrais de balanços dos grandes bancos), ou seja, dados sobre a concorrência, estatística actualizada, estrutura de custos e proveitos do sector, níveis de investimento e crédito. A informação recolhida é ordenada, classificada e seleccionada, de forma criteriosa e para servir, de modo expedito e eficiente, as finalidades do trabalho que se deseja executar. As demonstrações financeiras obtidas da contabilidade são verificadas, para garantir que têm correspondência com movimentos reais efectivamente feitos. Em seguida, procede-se à introdução de correcções (por processos extra-contabilísticos) a fim de dar relêvo a determinados aspectos considerados importantes na óptica da anállise a efectuar (ver: 2.3. Métodos). IEFP II. OS MÉTODOS S Guia do Formador Análise Financeira e Gestão Orçamental II 30 A partir das demonstrações (de períodos sucessivos) rectificadas e dos mapas demonstrativos auxiliares que sobre as mesmas se preparam, trabalha-se um conjunto de indicadores, para o estudo da situação económica e financeira. 10. Formulam-se hipóteses por dois processos: Recorrendo a comparações com o passado; Criando cenários para o futuro, para servirem igualmente de elementos comparativos. O passado da empresa (e do sector) está geralmente publicado (contas, anexos e relatórios de gestão). O futuro, está nos planos a médio ou longo prazo, nas análises das associações sectoriais, na própria visão dos gestores sobre a empresa. Os problemas financeiros que possam ser encontrados, em geral não existem de ‘per si’. Decorrem de dificuldades na área comercial, problemas de domínio tecnológico, questões entre pessoas, formulação estratégica inadequada, posicionamento desajustado face à concorrência e outros. Para dar conteúdo analítico-financeiro às hipóteses, deve-se trabalhar por tentativas e com grande cuidado, para que não sejam emitidas opiniões destituídas de sentido e afastadas da realidade. 11. Validar é verificar compatibilidades e testar afirmações. 12. A apresentação das conclusões é o topo do trabalho. Sem conclusões, não se pode dizer que está feita a análise financeira. 13. As conclusões apresentam-se por escrito e a sua validação deve ser feita, com os responsáveis da empresa que foi objecto do trabalho, por forma a que exista o mais amplo esclarecimento entre as partes (gestão da empresa e analista) acerca do trabalho efectuado. É normal que o relatório de Conclusões contenha igualmente um conjunto de Recomendações, em geral respeitantes à rectificação de procedimentos ou à introdução de medidas de controlo. 14. Os métodos da análise financeira destinam-se a assegurar a máxima compreensão por parte de não-especialistas (como são, afinal, a maioria dos gestores de empresa) no que se refere aos procedimentos, recomendações e conclusões da análise. 15. Parte das demonstrações contabilísticas fundamentais (balanço e demonstração de resultados) corrigidas para evidenciar ‘reservas ocultas (activos subavaliados e custos sobreavaliados). 16. A análise financeira estática (ou clássica) é orientada para a visão da ‘empresa estável’, que assegura sem grandes alterações a sua continuidade. 17. A análise financeira dinâmica (ou de mudança) é orientada para a gestão estratégica (a visão criativa do futuro) e para o planeamento a curto prazo – e, portanto, para a visão da empresa como um sistema com características próprias e movimentos próprios, diferenciados, de que a componente financeira é parte integrante. II. OS MÉTODOS IEFP Análise Financeira e Gestão Orçamental Guia do Formando II 31 18. 'A análise financeira é feita sobre documentos de natureza contabilística – o balanço e a demonstração de resultados líquidos. No entanto, estes documentos não respondem por inteiro às exigências da análise (...) Além disso, a concepção da normalização contabilística adere mais a princípios jurídico-patrimoniais do que a princípios financeiros, pelo que será conveniente que os analistas não se iludam com as aparências. Só um autêntico domínio da técnica contabilística, nos campos teórico e prático, permite ao analista financeiro ter uma consciência das dificuldades e implicações que os métodos contabilísticos podem ter sobre certas rubricas, alterando-lhes o sentido financeiro.' João Carvalho das Neves Análise Financeira – métodos e técnicas. Texto Editora, Lisboa, 1991. A preparação das contas para a análise, é um procedimento necessário, através do qual se faz a transformação das demonstrações contabilísticas em demonstrações financeiras, tendo em vista a obtenção do valor fiel e verdadeiro da empresa em análise. 19. Implica estruturas bastante organizadas, amplo domínio das actividades e negócios e gestão empresarial avançada. 20. A análise financeira moderna acompanha o desenvolvimento e a evolução da economia. Portanto, os analistas aplicam-se criativamente na síntese dos métodos (estático e dinâmico) para garantir que, em matéria de procedimentos, recomendações e conclusões, existe perfeita correspondência com a complexidade das decisões necessárias à gestão. A síntese dos métodos torna igualmente necessário que, como tarefa preparatória da análisese estude o sector, se percebam os canais de negócio e o ambiente concorrencial, se faça uma avaliação rápida da estrutura e dos sistemas de funcionamento, se percebam as estratégias e as orientações da organização (ou seja, as suas políticas) para gerarresultados. Na perspectiva em que actualmente se desenvolvem as actividades empresariais, a apreensão correcta e integral dos acontecimentos é um processo de envolvimento pessoal continuado. Este mesmo conceito é bastante apropriado para definir a actividade do analista financeiro, quer na síntese metodológica, quer na aprendizagem dos seus resultados. O domínio global da análise é um saber que nunca se pode assumir como adquirido na sua totalidade, que evolui ao ritmo normal da mudança dos sistemas de informação. Nota: Para um correcto posicionamento da empresa no mercado, esta deve acompanhar a evolução da economia, o que na vertente financeira se traduz, nomeadamente, no acompanhamento da evolução das taxas de juro, das cotações das acções, etc. 21. Dados sobre a concorrência, estatística actualizada, estrutura de custos e proveitos do sector, níveis de investimento e crédito Nota: Existe um particular interesse da função financeira na análise da concorrência, isto é, empresas que oferecem o mesmo produto, ao mesmo público-alvo e a preços semelhantes, para que possa haver comparação da sua ‘performance’ com os resultados do sector em que opera. Exercício Prático: Preparar um ‘diagnóstico rápido’ aplicável à empresa ‘PNTB, SA’, cujas contas vão ser adiante analisadas (vide 3.5., 4.5. e 5.4.). III. PREPARAÇÃO DOS ELEMENTOS PARA ANÁLISE ANÁLISE FINANCEIRA E GESTÃO ORÇAMENTAL III. PREPARAÇÃO DOS ELEMENTOS PARA ANÁLISE IEFP Análise Financeira e Gestão Orçamental Guia do Formando III 35 Objectivos: No final desta unidade temática, o formando deverá estar apto a: • Fundamentar a necessidade de preparação dos elementos para análise. • Explicar o modo de preparação e de apresentação das contas para análise. • Fazer a preparação das contas de balanço e de resultados. • Elaborar a demonstração das origens e aplicações de fundos. Temas: 1 Preparação das contas – rectificação do valor patrimonial e processo de simulação. 2 Contas de balanço e de resultados. 3 Origens e aplicações de fundos. • Resumo • Questões e exercícios • Resoluções IEFP III. PREPARAÇÃO DOS ELEMENTOS PARA ANÁLISE S Guia do Formador Análise Financeira e Gestão Orçamental III 36 1. PREPARAÇÃO DAS CONTAS 'A análise financeira é feita sobre documentos de natureza contabilística – o balanço e a demonstração de resultados líquidos. No entanto, estes documentos não respondem por inteiro às exigências da análise (...) Além disso, a concepção da normalização contabilística adere mais a princípios jurídico-patrimoniais do que a princípios financeiros, pelo que será conveniente que os analistas não se iludam com as aparências. Só um autêntico domínio da técnica contabilística, nos campos teórico e prático, permite ao analista financeiro ter uma consciência das dificuldades e implicações que os métodos contabilísticos podem ter sobre certas rubricas, alterando-lhes o sentido financeiro.' João Carvalho das Neves Análise Financeira – métodos e técnicas. Texto Editora, Lisboa, 1991. A preparação das contas para a análise, é um procedimento necessário, através do qual se faz a transformação das demonstrações contabilísticas em demonstrações financeiras, tendo em vista a obtenção do valor fiel e verdadeiro da empresa em análise. O processo decorre em duas fases: • Rectificação e verificação, para corrigir resultados, rever a valorização de activos e reforçar o efeito da prudência (amortizações e provisões). • Elaboração de demonstrações auxiliares, para a análise funcional do equilíbrio financeiro, da rendibilidade e do funcionamento. Rectificação do valor patrimonial A preparação das contas no processo de obtenção das demonstrações financeiras, representa uma opção pela avaliação do património por critérios efectivos ‘de mercado’. Desta forma, o balanço assume a configuração de uma estrutura de origens e aplicações de fundos, cuja dinâmica (das aplicações e das origens) acompanha os desempenhos da empresa nos mercados em que exerce actividade. A necessidade de ultrapassar os conceitos fiscais para efeitos de análise, resulta do facto destes traduzirem de forma insuficiente e por vezes distorcida, o valor patrimonial. De facto, a contabilidade POC não integra actualizações (por exemplo, do valor de terrenos e de trespasses), regista de forma condicionada as provisões e amortizações e não tem a possibilidade prática de registar o valor de intangíveis (como a quota de mercado, o posicionamento concorrencial, a experiência do pessoal, a fidelização dos clientes e dos fornecedores, etc.) que podem, todavia, marcar a diferença. III. PREPARAÇÃO DOS ELEMENTOS PARA ANÁLISE IEFP Análise Financeira e Gestão Orçamental Guia do Formando III 37 Nem todos estes problemas são resolvidos com a preparação das contas para a análise, uma vez que alguns destes processos podem atingir grande complexidade e gerar mesmo controvérsias difíceis de ultrapassar, mas podem ser facilmente corrigidos alguns dos mais notáveis. Processo de simulação O processo de rectificação de contas é extra-contabilístico (isto é, a contabilidade não intervém) e consiste na simulação de lançamentos (débitos/créditos) que adicionam ou subtraem valor às rubricas do Balanço sintético e da Demonstração de Resultados. As demonstrações levam o subtítulo de ‘rectificado para análise’. A seguir apresentam-se modelos dos mapas rectificativos dos balanços e demonstrações de resultados para análise. Balanço Saldos Rectificações Saldo Rectificado Dev. Cred. A Deb. A Cred. Dev. Cred. Verif . Aplicações Imobilizado & Outros Activos Fixos Imobilizado Corpóreo 0 Imobilizado Incorpóreo 0 Imobilizado Financeiro 0 Amortizações Imobilizado (-) 0 Provisão para investimentos financeiros(-) 0 Outro Activo Fixo 0 Total do Activo Fixo 0 0 0 0 0 Activo Circulante Existências 0 Provisão para Depreciação de existências(-) 0 Clientes 0 Provisão para Cobranças Duvidosas(-) 0 Outros Devedores 0 EOEP 0 Outros 0 Títulos negociáveis 0 Depósitos à ordem 0 Caixa 0 Total Activo Circulante 0 0 0 0 0 IEFP III. PREPARAÇÃO DOS ELEMENTOS PARA ANÁLISE S Guia do Formador Análise Financeira e Gestão Orçamental III 38 Acréscimos e Diferimentos Acréscimo de Proveitos 0 0 Custos Diferidos 0 0 Total dos Acréscimos & Diferimentos 0 0 0 0 0 Total de Aplicações 0 0 0 0 0 Origens Capital Próprio Capital Social e Reservas 0 Resultados Transitados 0 Resultados do Exercício 0 Total do Capital Próprio 0 0 0 0 0 Exigivel a Mlp Empréstimos Bancários 0 Outros passivos mlp 0 Provisão para ORE 0 Exigível Mlp 0 0 0 0 Exigivel Curto Prazo Empréstimos bancários 0 Outros financiamentos 0 Fornecedores 0 EOEP 0 Outros Credores 0 Outros passivos 0 Provisões para ORE 0 Exigível Cp 0 0 0 0 Acréscimos e Diferimentos Acréscimos de Custos 0 Proveitos Diferidos 0 Total dos Acréscimos & Diferimentos 0 0 0 0 Total de Capital Alheio 0 0 Total de Origens 0 0 0 0 0 Verif. 0 0 III. PREPARAÇÃO DOS ELEMENTOS PARA ANÁLISE IEFP Análise Financeira e Gestão Orçamental Guia do Formando III 39 Demonstração de Resultados Saldos Rectificações Saldo Rectificado Dev. Cred. A Deb. A Cred. Dev. Cred. Verif . Proveitos Vendas 0 Prestação de serviços 0 Outros proveitosOperacionais 0 Total Proveitos Operacionais 0 0 0 0 Custos CMVMC 0 FSE 0 Pessoal 0 Outros 0 Amortizações do exercício 0 Provisões do exercício 0 Total Custos Operacionais 0 0 0 0 0 Resultado Operacional 0 0 Proveitos financeiros(-) 0 Custos financeiros 0 Resultado corrente 0 0 Proveitos extraordinários 0 Custos extraordinários 0 Resultado antes de impostos 0 0 IRC 0 Resultado líquido 0 0 0 0 Rectificação do resultado 0 0 0 Verificação 0 0 0 Na correcção de contas verificam-se por vezes situações de lucro contabilístico em empresas financeiramente débeis e vice-versa. Existe, portanto, toda a vantagem para os gestores no acompanhamento do trabalho dos analistas, a fim de se sensibilizarem para os efeitos financeiros das decisões tomadas no desenvolvimento das actividades. O analista, por seu lado, tem nesta área tarefas bastante complexas, para cuja realização lhe é exigido o domínio seguro das técnicas de contabilidade, o conhecimento da empresa e o conhecimento adequado do sector e dos negócios, a fim de saber delimitar as questões sensíveis e definir as correcções a efectuar. IEFP III. PREPARAÇÃO DOS ELEMENTOS PARA ANÁLISE S Guia do Formador Análise Financeira e Gestão Orçamental III 40 2. BALANÇO E DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS No processo de preparação do balanço faz-se a revisão de todas as rubricas do Activo, do Passivo e dos Capitais Próprios e a inserção (não contabilística) de todas as rectificações que, de acordo com a visão do analista, possam contribuir para que as contas da empresa traduzam o seu valor financeiro, fiel e verdadeiro. A demonstração de resultados é afectada pelos movimentos correctivos do Balanço (como Amortizações e Provisões, por exemplo) bem como pelo que se refere especificamente aos Custos e Proveitos, aos Resultados Financeiros e Extraordinários e ao Imposto sobre os Resultados. Como consequência da rectificação do balanço e da demonstração de resultados, produzem-se também alterações nos fluxos das origens e aplicações de fundos (a explicar em III.3.) que poderão, em determinadas condições, afectar de forma significativa a estrutura financeira da empresa (ver: I.2.3). As rectificações inseridas no balanço e na demonstração de resultados são descritas em notas explicativas, sequencialmente numeradas, para figurarem como anexos às contas rectificadas. Passamos a referir os movimentos mais significativos em matéria de rectificação de contas, no percurso do balanço e da demonstração de resultados. Balanço – contas do activo • Imobilizado incorpóreo: Verificar os gastos com a constituição e instalação. Observar os gastos plurienais, para verificar se os valores contabilizados correspondem de facto a despesas amortizáveis, devido aos seus efeitos temporais prolongados (grandes manutenções, campanhas publicitárias, etc.) por forma a que a conta não esteja a ser utilizada para encobrir custos de funcionamento excessivos. • Imobilizado corpóreo: Testar se os movimentos de 'entrada-saída-abate' estão a ser contabilizados consistentemente e com regularidade, particularmente no que se refere aos equipamentos com maior expressão de valor bruto imobilizado. As reavaliações devem ser objecto de controlo, relativamente a activos obsoletos e fora de uso (equipamentos substituídos, microcomputadores e impressoras, veículos para sucata, etc.) que, em rigor, deveriam ser abatidos ao imobilizado e que são reavaliados. O valor adicionado é nulo. • Imobilizado financeiro Verificar se a carteira de títulos existente tem o seu valor devidamente actualizado (cotações da Bolsa), para criar a necessária Provisão ou considerar a valorização financeira adequada, conforme se justificar. III. PREPARAÇÃO DOS ELEMENTOS PARA ANÁLISE IEFP Análise Financeira e Gestão Orçamental Guia do Formando III 41 • Amortizações do imobilizado: As amortizações não originam desembolsos (são custos escriturais) e as rectificações neste âmbito dependem das políticas definidas, da incidência tecnológica das actividades e do grau de prudência a introduzir nas contas. Determinar a política da empresa neste âmbito e assegurar a sua introdução nas contas rectificadas. Questionar a política de amortizações se esta provocar afastamento significativo entre o valor líquido contabilístico do imobilizado e o valor actual dos mesmos bens (terrenos, edifícios e equipamentos) no mercado. Se houver condições, introduzir no balanço a valorização dos activos numa base técnica (de acordo com a evolução tecnológico e com as exigências do mercado); se tal não for possível, garantir a regularidade (mensal) e actualização dos lançamentos de amortização e a escrituração de alienações e abates. Os movimentos rectificativos das amortizações afectam por simulação, na parte correspondente ao exercício em curso, os custos com amortizações e, na parte respeitante a anos anteriores, os resultados extraordinários. • Existências: Ajuizar se a valorização dos stocks de matérias-primas e subsidiárias, de produtos acabados e de produtos em vias de fabrico, têm 'aderência' com os volumes de Compras efectuados e com os consumos que afectam a Demonstração de Resultados. Criar as provisões necessárias para cobrir 'quebras', 'monos' e 'invendáveis' (isto é, modificações quantitativas e perdas de valor de mercado) movimentando por simulação a conta de custos respectiva, que deverá afectar resultados. • Estado e outros entes públicos (IVA a receber e IRC, pagamentos): Situações a analisar com detalhe. No IVA podem existir erros nos procedimentos declarativos, que motivem os débitos por regularizar. No IRC devem verificar-se os pagamentos por conta (valores e fundamentação fiscal). Os saldos devedores de IVA podem obrigar à prestação de caução bancária para se obterem os pagamentos do Estado. Assim, deverá constituir-se. Provisão para Riscos e Encargos, para cobrir perdas financeira pela mobilização prolongada de fundos, movimentando por simulação a conta de custos respectiva, que deverá afectar resultados. • Clientes c/c: Verificar se há atrasos na emissão da facturação. Se houver, estimar esse 'atraso normal', calcular o seu valor médio e fazer a respectiva inserção nas contas dos Clientes, por contrapartida de Proveitos. Se existirem letras ou cheques pré-datados a titular os saldos de Clientes, estes devem ser escriturados em Clientes conta Títulos a Receber. IEFP III. PREPARAÇÃO DOS ELEMENTOS PARA ANÁLISE S Guia do Formador Análise Financeira e Gestão Orçamental III 42 Analisar a antiguidade (dias de atraso de regularização) dos saldos de clientes (balancetes de Clientes, por antiguidade de saldos) transferindo para a conta de Clientes de Cobrança Duvidosa os valores que se prevêem como tal. Calcular Provisões para Cobrança Duvidosa sobre os valores evidenciados pela análise da carteira, movimentando por simulação a conta de custos respectiva, que deverá afectar resultados. • Outros devedores: Estas contas respeitam a débitos a diversos (incluindo conta de funcionários por regularizar). Em princípio devem ser de regularização mensal. • Sócios ou accionistas: Os débitos nas contas dos sócios ou indicam abonos em conta corrente (adiantamentos para despesas por conta da empresa, a regularizar) ou lucros distribuídos em antecipação. A regularização dos abonos deve ser feita mensalmente. Os adiantamentos por conta de resultados deverão ser criteriosamente analisados face aos resultados que, após a rectificação financeira das contas, forem apurados. • Disponibilidades (caixa e bancos): Garantir que os valores contabilizados nas contas de Caixa são regularmente conferidos e,
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