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APRESENTAÇÃO Quando eu aceito a língua de outra pessoa, eu aceito a pessoa. Quando eu rejeito a língua, eu rejeitei a pessoa porque a língua é parte de nós mesmos. Quando eu aceito a língua de sinais, eu aceito o surdo, e é importante ter sempre em mente que o surdo tem o direito de ser surdo. Nós não devemos mudá-los, devemos ensiná-los, ajudá-los, mas temos que permitir-lhes ser surdo. (Terje Basilier) Pensar na surdez requer penetrar no mundo do surdo, um mundo do qual fazem parte muitas famílias, escolas, enfim, pessoas que de certas formas convivem com os surdos. Os surdos como cidadãos possuem deveres e direitos que precisam ser respeitados, direitos esses para os que possuem audição são normais ou tão básicos que passam despercebidos. São os direitos de poder expressar seus sentimentos; de explicar a dor que está sentindo e ser atendido; direito de receber informação; direito a concorrer em concursos públicos, direito a vagas no mercado de trabalho, ou mais simples ainda: o direito de assistir um telejornal ou uma peça teatral e compreender dentro de sua própria língua (Libras), sem dúvida não é fácil ser estrangeiro, principalmente dentro de sua própria família, escola, cidade, sociedade e país. No entanto, esta situação pode modificar a medida que as pessoas de diversos segmentos sociais se dispuserem a conhecer a Língua Brasileira de Sinais. Propusemos compartilhar de forma pedagógica e sistematizada, um pouco do mundo dos surdos, sua língua, cultura, identidade, e a estrutura da Libras, salientando que a Libras não é o português com sinais. Certamente, sua participação proporcionará para a expansão desta fantástica língua, com absoluto respeito as minorias e suas diferenças linguística e cultural, contribuindo com a inclusão familiar, social, e educacional do sujeito surdo. É esta a nossa meta. 1- INTRODUÇÃO Os surdos podem comunicar-se mais facilmente e com maior precisão pela Língua de Sinais, porque o cérebro deles se adapta para esse meio e, se forçados a falar, nunca conseguirão uma linguagem eficiente e serão duplamente deficientes. (Oliver Sacks) Os surdos não devem ser considerados portadores de deficiência física, e sim formadores de uma comunidade linguística minoritária. Assim como qualquer outro grupo pequeno com relação a população geral, eles têm identidade, cultura e uma língua própria. O que os diferencia das demais pessoas, e das outras minorias, é que ser Surdo não significa ter nascido em algum lugar determinado ou integrar uma família especifica com as mesmas características. O surdo é possuidor de uma língua com modalidade viso-espacial, cuja expressão e recepção se diferencia das demais línguas, ou seja, línguas de modalidade oral-auditiva. As línguas de sinais, são línguas naturais das comunidades surdas no mundo, no Brasil temos a Língua Brasileira de Sinais (Libras) pertencente a comunidade surda brasileira. Também possuem regras gramaticais próprias e possibilitam o desenvolvimento cognitivo da pessoa surda, favorecendo o acesso deste aos conceitos e conhecimento existentes na sociedade em que vive. No Brasil existem duas línguas de sinais: a LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) e a LSKB (Língua de Sinais Kaapor) da tribo indígena Urubus-Kaapor que vivem na floresta amazônica no estado do Maranhão. Não existe uma língua de sinais universal, cada país tem a sua própria língua de sinais, dentro destas há dialetos que as tornam diferentes umas das outras, inclusive no Brasil a Libras, sofre variações linguísticas devido o regionalismo, da mesma forma que ocorre na língua português. 2- IMPLICAÇÕES POLÍTICAS, CULTURAIS E LINGÜÍSTICAS NA EDUCAÇÃO DE SURDOS. Situar as implicações relacionadas a política educacional, é preciso buscar no movimento de integração/inclusão e na política de educação especial, diretrizes que contemplam a educação de surdos no atual contexto neoliberal, e as limitações dessas diretrizes no cotidiano escolar, enfocando as concepções de surdez e de surdo na abordagem de educação que atendam as especificidades do estudante surdo. 3- EDUCAÇÃO ESPECIAL No século XIX, a Educação Especial sustentava o paradigma de que as formações de algumas pessoas com alguma “enfermidade” deveriam ser orientadas no sentido de prepará-las para a sociedade, exigindo um ensino que os adaptasse aos padrões sociais já estabelecidos pelos grupos majoritários, tendo como base a concepção que estava na visão medicalizada do fazer pedagógica que as instituições desenvolviam com uso de práticas terapêuticas no processo de ensino aprendizagem. Ainda hoje, a Educação Especial desempenha esse modelo, ou seja, o modelo médico da deficiência para tentar melhorar as pessoas com deficiência adequando-as aos padrões da sociedade. 1960, é considerado o ápice da Educação Especial, onde centros, escolas, oficinas tinham suas atividades relacionadas mais a caridades, a beneficência a medicalização, cuja função tem sido mais normalizadora, retendo a pessoa com deficiência por mais tempo, e ao mesmo tempo ensinando menos. Ao substituindo seu trabalho pedagógico pela terapêutica de reabilitação, abdica de sua função de Escola, e reforça seu caráter ideológico pois mesmo frequentando uma Escola seu aluno continua tendo pouca oportunidade de acesso ao conhecimento. Tal fato tem justificado baixa expectativa pedagógica nas Escolas Especiais. A educação das crianças especiais é um problema educativo como é também o da educação de classes populares, a educação rural, a das crianças de rua, a dos presos, dos indígenas, dos analfabetos e etc.. É certo que os grupos mencionados têm uma especificidade que os diferencia, mas também há um fator que os a semelha: são grupos classificados como minorias, sofrendo exclusão parecidas nos processos educativos. 3. INTEGRAÇÃO Deu-se o início no final de 1960, esse movimento atribuiu as pessoas com deficiência o direito as pessoas com deficiência o direito à vivencia de padrões comuns à cultura dos grupos majoritários, procurando os inserir na educação, trabalho, família, lazer. Entre 1970 e 1980, os ideais de inserção no modelo social persistiam, tal modelo resultou na integração visando atingir a questão da escolarização das pessoas com deficiência. Porém, os alunos com necessidades especiais teriam que se adaptar para serem inseridos na escola regular. No entanto, as escolas regulares devem expandir a oportunidade de aprendizagem a todos os indivíduos, favorecendo a integração, implementando novos programas e currículos, investindo na formação de professores e novos suportes se fortalecendo como instituição de ensino. A integração educacional da a todos o direito à educação em ambientes menos restritos, porém, a divergência assenta-se na eficácia do desenvolvimento dos alunos considerados deficientes o que parece convergir com a realidade apresentada. Tal movimento solidificou-se em 1980, e não atendeu aos reais direitos das pessoas com deficiência não questionando na sociedade que se manteve sem mudanças, continuando assim a exigir a adaptação dos deficientes à ordem social. 4. INCLUSÃO O movimento de inclusão tem a pretensão de uma nova sociedade propondo mudanças na consciência e na estruturação social, uma sociedade que caibam realmente todas as pessoas, com novos princípios como: celebração das diferenças, direito de pertencer, valorização da diversidade humana, igual importância das minorias, cidadania com qualidade de vida. Até época anterior mantinha-se o modelo de adaptar o indivíduo à sociedade, contudo o movimento inclusivo inverte essa proposição definindo que a sociedade também se adapte aos sujeitos. Sassaki (1997, p.42) diz que a inclusão é um processo de construção através de transformações pequenas e grandes,em ambientes físicos e na mentalidade das pessoas e do próprio portador de necessidades especiais. Percebe-se que tal processo não inclui o sujeito surdo com suas diferenças esta que se encontra no campo linguístico e não físico. (J.A.Monteiro). A prática da inclusão se baseia em princípios diferentes, na aceitação das diferenças individuais, valorização de cada pessoa. Estudo tem demonstrado que a política de inclusão surgiu ante o movimento integracionista e a partir da Declaração de Salamanca (1994), que recomenda a adoção do princípio de educação inclusiva, mais em forma de política do que de lei, matriculando todas as crianças em escolas regulares, independentemente de suas condições físicas, sociais, emocionais, intelectuais, linguísticas e entre outras. De acordo com Werneck (1997, p. 16) aconteceram no Brasil diversos eventos de inclusão, onde se discutiram na verdade a integração confundindo-a com a inclusão. Não basta inserir um aluno que apresente peculiaridade em relação aos demais na sala de aula, ignorando suas necessidades; neste caso a escola precisa ser questionada, a produção de saberes, as organizações pedagógicas para todos e não somente para aqueles que provem da educação especial que também será revisada e não eliminada. Na sociedade inclusiva, a escola se conscientiza de que ela só é escola quando for capaz de ter todos dentro dela, no entanto, é quase impossível que a escola dê conta de todo e qualquer tipo de aluno. Refletindo sobre os movimentos acima cabe perguntar: A escola se sente capaz de lidar com as diferenças? Como a educação regular tem produzido suas práticas educativas em relação às diferenças linguísticas, políticas e culturais? 5- LINGUA BRASILEIRA DE SINAIS – LIBRAS (CONCEITOS, HISTÓRIA, CULTURA, IDENTIDADE E POLÍTICA) 5.1 Conceito Mesmo quando estiveram banidas da educação dos surdos, as Línguas de Sinais despertavam o interesse dos educadores. Como surgiram? Quando? Porque não existe uma língua de sinais única para todos os surdos do mundo? Essas são as mesmas perguntas que fazemos com relação a própria existência da linguagem humana. Talvez o acontecimento da Torre de Babel possa servi como símbolo dessa busca de respostas. A Libras (Língua Brasileira de Sinais) é a língua natural usada pela maioria dos Surdos do Brasil, como toda Língua de Sinais, é uma língua de modalidade gestualvisual por utilizar, como canal ou meio de comunicação movimentos gestuais e expressões faciais percebidos pela visão; portanto, diferencia-se da Língua Portuguesa que é uma língua de modalidade oral-auditiva por utilizar o canal de comunicação, sons articulados percebidos pela audição. Porém, as diferenças não se encontram somente na utilização de canais diferentes, a maior diferença está na estrutura gramatical entre as duas línguas. É Universal? Há várias línguas de sinais no mundo, a mais comum é a Língua de Sinais Americana. Cada país tem a sua própria língua gestual. Por exemplo: Brasil - Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) Portugal - Língua Gestual Portuguesa (LGP) Angola - Língua Angolana de Sinais (LAS) Moçambique - Língua Moçambicana de Sinais (LMS) É comum pressupor que as línguas de sinais sejam versões sinalizadas das línguas orais; por exemplo: LIBRAS é a versão sinalizada do português; A S L é a versão sinalizada do inglês; L J S é a versão sinalizada do japonês. Embora haja semelhanças ou aspectos comuns devido a um certo contágio linguístico, as línguas de sinais são autônomas, não derivando das orais e possuem peculiaridades que as distinguem umas das outras e das línguas orais. Muitos pensam que a Língua de Sinais, é igual em todo o mundo, esse pensamento baseia-se em alguns conceitos como: Comunicação por gestos é intuitiva e uma vez que não exige aprendizagem, deveria ser a mesma para todos os surdos; A comunidade surda, ao redor do mundo, é uma minoria, certamente utiliza um único tipo de comunicação; É uma comunicação icônica (uma representação da realidade, por ícones), a sua representação deverá ser a mesma em todo o mundo. A língua de sinais é uma língua natural, com léxico e gramática próprios. Cada comunidade de surdos desenvolveu a sua língua de sinais, ao longo dos tempos, assim como cada comunidade de ouvintes desenvolveu a sua língua oral. É possível encontrar países com mais de uma língua de sinais. Exemplo Brasil LIBRAS ou LBS KLS - língua de sinais que é utilizada pelos índios Urubus-Kaapor na Floresta Amazônica no Estado do Maranhão. As línguas de sinais são criações espontâneas do ser humano e se aprimoram exatamente da mesma forma que as línguas orais. Nenhuma língua é superior ou inferior a outra, cada língua se desenvolve e expande na medida da necessidade de seus usuários. A língua de sinais é tão natural e tão complexa quanto as línguas orais, dispondo de recursos expressivos suficientes para permitir aos seus usuários expressar-se sobre qualquer assunto, em qualquer situação, domínio do conhecimento e esfera de atividade. Mais importante, ainda: é uma língua adaptada à capacidade de expressão dos surdos. Por outro lado, a Língua de Sinais, embora seja a língua natural dos surdos, não é a língua materna de qualquer surdo. 5.2 Histórico No período de 1500 a 1855, já existiam muitos surdos no Brasil, nessa época a educação era precária. Em 1855 Eduardo Huet professor surdo francês, chega ao Brasil sob beneplácito do imperador D.Pedro II, com a intenção de abrir uma escola para surdos. Em 1857 foi fundada a primeira escola para surdos no Rio de Janeiro – Brasil, o “Imperial Instituto dos Surdos-Mudos”, hoje, “Instituto Nacional de Educação de Surdos”– INES, no dia 26 de setembro. Em 1911, um decreto muda as condições do ensino no INES, o método oral puro é adotado. Mesmo assim os Surdos continuaram usando os sinais fora da sala de aula. Em 1929, no dia 15 de abril, foi fundado os Instituto Santa Terezinha em Campinas/Sp. Mudou para São Paulo em 1933. Só atendia meninas surdas ate 1970. Em 1952, I Núcleo Educacional para Crianças Surdas, hoje, EMEE – Heler Keller, em São Paulo. Em 1954, em 18 de outubro foi criado o IESP, hoje conhecido como DERDIC. Em 1958, teve início o atendimento a crianças Surdas nas Secretarias Estaduais de Ensinos. O estado de São Paulo foi o primeiro a implantar o atendimento chamado de Classes Especiais. Em 1970, o Oralismo predomina na educação de Surdos. Causando prejuízo na Cultura Surda e o empobrecimento da Língua de Sinais, e a falta de acesso às informações sociais. No ano de 1986 chega ao Brasil a Comunicação Total. Em 1994, passa-se a utilizar a abreviação LIBRAS, criada pela própria comunidade surda do Brasil Em 24 de Abril de 2002, há dez anos, nosso país dava um importante passo. Era reconhecida a Língua Brasileira de Sinais pela Lei 10.436. LIBRAS é o resultado da mistura da língua de sinais francesa com a Língua de Sinais brasileira antiga, já usada pelos surdos das várias regiões do Brasil. Em 24 de Abril de 2002, a lei nº 10. 436 reconhece a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) como meio legal de comunicação e expressão. Em 22 de Dezembro de 2005, o Decreto nº 5.626, regulamentando a Lei nº 10. 436. A Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos – FENEIS, define a Língua Brasileira de Sinais – Libras, como a língua materna dos surdos brasileiros e, como tal, poderá ser aprendida por qualquer pessoa interessada pela comunicação com esta comunidade. Como língua, está composta de todos os componentes pertinentes às línguas orais, como gramática, semântica, pragmática, sintaxe e outros elementos preenchendo, assim, os requisitos científicos para ser considerado instrumento linguístico de poder e força. Possui todos elementos classificatórios identificáveis numa língua e demandaprática para seu aprendizado, como qualquer outra língua. É uma língua viva e autônoma, reconhecida pela linguística. Segundo Sánchez (1990, p.17) a comunicação humana “é essencialmente diferente e superior a toda outra forma de comunicação conhecida. Todos os seres humanos nascem com os mecanismos da linguagem específicos da espécie, e todos desenvolvem normalmente, independentes de qualquer fator racial, social ou cultural”. Uma demonstração desta afirmação se evidencia nas línguas oral-auditiva (usadas pelos ouvintes) e nas línguas viso-espacial (usadas pelos surdos). Os estudos linguísticos e neurológicos são irrefutáveis e contundentes no sentido de provar que a organização cerebral da linguagem, quer oral, quer gestual, é exatamente a mesma. As evidências são de tal ordem que só um preconceito insano justifica a insistência na oralização de crianças surdas. Se a língua de sinais é organizada no cérebro da mesma forma que a língua oral, então, do ponto de vista biológico, a língua de sinais é uma língua natural, o seu aprendizado tem um período crítico, que corresponde ao período entre 2 e 3 anos de idade. E, se tem um período crítico, então as crianças surdas estão iniciando muito tarde o seu aprendizado. Na maioria dos casos não há uma comunicação satisfatória entre o surdo e a família ouvinte, iniciando-se aí, o processo de exclusão. A voz dos surdos são as mãos e os corpos que pensam, sonham e expressam. As línguas de sinais envolvem movimentos que podem parecer sem sentido para muitos, mas que significam a possibilidade de organizar as ideias, estruturar pensamentos e manifestar o significado da vida dos surdos. Pensar sobre a surdez requer penetrar no mundo dos surdos e ouvir as mãos que com alguns movimentos nos dizem o que fazer para tornar possível o contato entre os mundos envolvidos. Permita-se ouvir estas mãos. Somente assim será possível mostrar aos surdos como eles podem ouvir o silencio da palavra. (Ronice Muller de Quadros) 5.3 Cultura Quando falamos sobre cultura muitas coisas podem vir a nossa mente, há diferentes culturas e diferentes modos de conceituar cultura, depende do espaço onde ela é discutida. Aqui, neste espaço usaremos o termo cultura para expressar “jeitos de ser e estar no mundo”, e ressaltaremos os jeitos de ser e estar no mundo do povo surdo, ou seja, a Cultura Surda. Podemos dizer com as palavras de Sá ((p.01, 2006) que “Cultura”, é definida como um campo de forças subjetivas que dá sentido (s) ao grupo). O embate acontece exatamente porque existe a Cultura Surda e é a Língua de Sinais a marca subjetiva que dá sentido (s) a esta cultura. Dessa maneira, os elementos mais importantes da cultura podem ser destacados com as habilidades dos sujeitos para construir sua identidade em usar a linguagem. O essencial é entender que a cultura surda é como algo que penetra na pele do povo surdo, que participa das comunidades surdas, compartilha algo em comum, suas normas, valores e comportamentos. Dessa forma a cultura não vem pronta porque ela sempre se modifica e atualiza, mostrando claramente que ela não surge com o homem sozinho e sim das produções coletivas que decorrem do desenvolvimento cultural experimentado por suas gerações passadas. No século XXI, mais do que nunca, tem-se dado extremo valor à estética do corpo e da linguagem, mesmo que ocultamente tem-se mantido o paradigma da alta e da baixa cultura. O discurso que ecoa é que: surdas são pessoas que ouvem com ouvidos defeituosos, se pudéssemos concertar os ouvidos eles estariam ouvindo. Neste sentido também se pode dizer que os negros são pessoas brancas que possuem pele escura, se pudessem concertar a pele eles seriam brancos. Ou, as mulheres são homens com genitálias erradas e por aí vai. É como se o surdo precisasse entrar na linha da normalização para serem iguais a maioria (falar, ver, ouvir e andar) para fazer parte de uma cultura dita padrão e serem considerados incluídos na sociedade. A cultura surda é também híbrida e mestiça, pois não se encontra isolada no mundo, está sempre em contato direto com outras culturas e evolui da mesma forma que o pensamento humano. Há narrativas normalizantes que põem os surdos como pessoas subculturas, no entanto, a contradição acontece nas narrativas surdas, elas revelam que pessoas surdas não vivem de adaptação ou reabilitação, vivem em evolução, criam meios de ser e de estar no mundo, como qualquer ser humano faz. Possuem a necessidade de estar em permanente contato com outros surdos, não porque os ouvintes não os compreendem, mas pela força da identificação cultural, pela força da subjetividade que os atrai como um imã da mesma forma que acontece com outros grupos sociais. Como a cultura surda é transmitida? Devido à proibição de compartilhar uma língua cultural do povo surdo em resultado emitido pelo Congresso Internacional de Educadores de Surdos, ocorrido em Milão na Itália, no ano de 1880, o uso de língua de sinais foi definitivamente banido, e foi imposta a metodologia oralista nas escolas de surdos. Como as crianças surdas não podiam participar das atividades na comunidade surda, sendo o espaço inicialmente compartilhado era os dormitórios das instituições e asilos, onde as famílias dos sujeitos surdos os deixavam em regime de internato, até que estivessem aptos para retornar ao convívio familiar, o que só acontecia invariavelmente na idade adulta. Muitas vezes o processo de transmissão cultural de surdos, só ocorre na vida de muitos somente na idade adulta, a maioria dos surdos é famílias ouvinte, às vezes nem frequentam as escolas de surdos por imposição da família, ficando sem contato por muito tempo com a comunidade surda. O que gera falha no desenvolvimento psicosocial e cognitivo por falta de contato com seus pares. A cultura surda exprime valores, que muitas vezes se originaram e foram transmitidas pelos sujeitos surdos de geração passada, por seus líderes bem-sucedidos através das associações de surdos. Embora o termo cultura surda seja usados frequentemente, isso não significa que todas as pessoas surdas do mundo compartilham a mesma cultura. Para compreender por que existe uma cultura surda é fundamental entrar em contato com esta cultura deixando de lado préconceitos que se costuma fazer antes uma língua viso-espacial. 5.4 Identidade Identidade: É o conjunto de caracteres próprios e exclusivos com os quais se podem diferenciar pessoas. Algumas definições Para a Sociologia: Identidade é o compartilhar de várias ideias e ideais de um determinado grupo. Para Antropologia: Identidade consiste na soma nunca concluída de um aglomerado de signos, referências e influências que definem o entendimento relacional de determinada entidade percebida pela diferença. Como a medicina identifica o surdo? Classificação das Perdas Auditivas A) De 25 a 40 Decibéis – Surdez Leve B) De 41 a 55 Decibéis - Surdez Moderada C) De 56 a 70 Decibéis - Surdez Acentuada D) De 71 a 90 Decibéis - Surdez Severa E) De Acima de 91 Decibéis - Surdez Profunda F) Anacusia . O modelo clinico terapêutico procura ver a surdez como uma patologia que, se não tratada, ocasionará outras deficiências ou incapacidades, investem em recursos técnicos, em aparelhos sonoros para que o aprendizado da fala se torne vital a vida humana, perpetuando assim a tradicional forma do Oralismo, cujo discurso propõe a superação da surdez e a aceitação social do surdo por meio da oralização, banindo, portanto, a língua de sinais dos modelos educacionais. Neste conceito, o surdo é visto como um deficiente, um ser incapaz, cujo temo expresso é: "deficiente auditivo". Como o surdo se identifica? Ser surdo é uma questão de vida. Não se trata de uma deficiência, mas de uma experiência visual. Desta experiência visualsurge a cultura representada pela Língua de Sinais, pelo modo diferente de ser, de se expressar, de conhecer o mundo, de entrar nas artes, no conhecimento cientifico e acadêmico. (Gladis Perlin, 2000, p.218) Trata-se de uma identidade fortemente marcada pela política surda. São mais presentes em surdos que pertencem à comunidade surda e apresentam características culturais como: Experiência visual que determina formas de comportamento, cultura, língua. Carregam consigo a Língua de Sinais: Eles têm um costume bastante presente que os diferencia dos ouvintes e que caracteriza a diferença surda: a captação da mensagem é visual e não auditiva o envio de mensagens não usa o aparelho fonador, usa as mãos. Aceitam-se como surdos, sabem que são surdos e assumem um comportamento de pessoas surdas. Entram facilmente na política com identidade surda, onde impera a diferença: necessidade de intérpretes, de educação diferenciada, de Língua de Sinais. Passa aos outros surdos sua cultura, sua forma de ser diferente; Tem suas comunidades, associações, e/ou órgãos representativos e compartilham entre si suas dificuldades, aspirações, utopias. Tem preferência em se relacionar com seus semelhantes fortalecendo sua identidade. É no contato com seus pares que se identificam com outros surdos e encontram relatos de problemas e histórias semelhantes às suas: uma dificuldade em casa, na escola, normalmente atrelada à problemática da comunicação. Identidade surda, é estar no mundo visual e desenvolver sua experiência na Língua de Sinais. Os surdos que assumem a identidade surda são representados por discursos que os veem capazes como sujeitos culturais, uma formação de identidade que só ocorre entre os espaços culturais surdos. As Identidades Surdas em Questão o que vai determinar a identidade surda é sempre a experiência visual. Neste em vista desta característica distinguimos a identidade ouvinte da identidade surda. Identidades Surdas Híbridas: surdos que nasceram ouvintes e com o tempo alguma doença, acidente, os deixaram surdos. Dependendo da idade em que a surdez chegou, conhecem a estrutura do português falado. Usam língua oral ou língua de sinais para captar a mensagem. Esta identidade também é bastante diferenciada, alguns deixam de usar a língua oral e usam somente a Língua de Sinais. Identidades Surdas Flutuantes: Os surdos que não tem contato com a comunidade surda. Para Karol Paden são outra categoria de surdos, visto não contarem com os benefícios da cultura surda. Não participam da comunidade surda, associações e lutas políticas. Identidades Surdas Embaçadas: É outro tipo que podemos encontrar diante da representação estereotipada da surdez ou desconhecimento da surdez como questão cultural. Identidades surdas de transição: Estão presentes na situação dos surdos que devido a sua condição social viveram em ambientes sem contato ou se afastam da identidade surda. Vive no momento de transito entre uma identidade a outra. Se a aquisição da cultura surda não se dá na infância, normalmente a maioria dos surdos precisa passar por este momento de transição, visto que grande parte deles são filhos de pais ouvintes. Identidades Surdas de Diáspora: Divergem das identidades de transição. Estão presentes entre os surdos que passam de um país a outro, ou, de um Estado brasileiro a outro, ou ainda de um grupo surdo a outro. Ela pode ser identificada como o surdo carioca, o surdo brasileiro, o surdo norte americano. É uma identidade muito presente e marcada. Identidades intermediárias: Geralmente identificada como sendo surda. Essas pessoas têm outra identidade, pois tem uma característica diferente, sua captação de mensagens não é totalmente na experiência visual que determina a identidade surda. Identidade inconformada: É a qual o surdo não consegue captar a representação da identidade ouvinte, hegemônica, e se sente numa identidade subalterna. As identidades surdas são multifacetadas, fragmentadas, em constante mudança; jamais se encontra uma identidade mestra, um foco. Os surdos passam a serem surdos através da experiência visual, de adquirir certo jeito de ser surdo, não podem ser um grupo de identidade homogênea. Sua identidade se constitui no interior da cultura surda. Está em situação de dependência, de necessidade do outro surdo (PERLIN, 1998, p. 53). Há que se respeitar as diferentes identidades. 5.5 Política Os surdos são organizados social e politicamente, possuem um estilo de viver que é próprio de quem usa a visão como meio principal de obter conhecimento. Tem suas comunidades, associações, ou órgãos representativos e compartilham entre si suas dificuldades, aspirações, utopias. Política Linguística A política linguística é o reconhecimento da representação da Língua de Sinais na vida do sujeito surdo. Os surdos brasileiros resistiram à tirania do poder que tentou silenciar as mãos dos surdos, mas que, felizmente fracassou. As associações dos surdos, sempre mantiveram intercambio por meio de redes possibilitando contato entre os surdos do país inteiro. As festas, os jogos, os campeonatos, as sedes organizadas, são formas de interação social e linguística que não aparecem nas escolas de surdos (muito menos nas escolas regulares), este fato simboliza movimento de resistência a um sistema que poda, que determina, que lesa a formação da comunidade surda brasileira. A política linguística ainda acredita no caráter instrumental da Língua Brasileira de Sinais na educação de surdos. Dessa forma, instauram-se as negociações, um campo que vai além, abrindo espaço, lugares e objetivos híbridos. Os surdos não precisam negar a língua portuguesa, assim como os ouvintes não precisam negar a língua de sinais. Não significa que a educação de surdos terá as duas línguas, mas que as duas línguas estarão em espaços de negociação. Comunidade Surda Convém ressaltar que as comunidades de surdos não são consideradas apenas espaços de lazer, entretenimento, práticas de esportes. A comunidade surda é, sobretudo, um espaço de articulação política na busca pelo reconhecimento da surdez como diferença. Partindo desse pressuposto, Skliar (1999, p.23) declara que: "a surdez não é uma questão de audiologia senão de epistemologia”. É nesse sentido que a surdez, os surdos, podem ser vistos como criando uma diferença política. Segundo Oliver Sack, a surdez em si não é o infortúnio; o infortúnio sobrevém com o colapso da comunicação e da linguagem (“Vendo Vozes”, p 130). Nos casos mais extremos, um surdo não estimulado pode se tornar igual a um deficiente mental. Não basta ser surdo para fazer parte da comunidade e cultura de surdos. A maioria dos surdos por ser filhos de pais ouvintes, muitos deles não sabem a LIBRAS e não tem contato com as associações e com os surdos, podendo se tornar o que os surdos definem como DA. Os surdos que estão engajados na causa política da comunidade surda, costumam fazer distinção entre surdos e DA. O termo deficiente estigmatiza a pessoa pois a mostra pelo que ela não tem em relação às outras pessoas ditas normais. Por este motivo o termo SURDO é o mais aceito por sua comunidade. 6. DIFERENÇA CULTURAL E LINGUISTICA Contrario ao modo como muitos definem a surdez (um impedimento auditivo), pessoas surdas definem-se em termos culturais e linguísticos. (Wrigley, 1996,p13). A população surda compartilha o fato de serem linguística e culturalmente diferentes da população ouvinte. As Línguas de Sinais existem de forma natural em comunidades linguística de pessoas surdas. UNESCO em 1984, declarou que: a Língua de Sinais, deve ser reconhecida como sistema linguístico legítimo e merecer o mesmo status com os outros sistemas linguísticos (Wrigley, 1996, p. 13). Quando os pais (ouvintes) recebem o diagnósticode surdez severa ou profunda de seu bebe, logo medos e frustações lhes vêm ao encontro, muitas das vezes as pessoas que passam essa informação são profissionais despreparados, os quais incita os pais a investirem em outro filho, como se o filho portador de surdez fosse um caso perdido, o que leva muitas pais a desistirem de seus filhos surdos. Neste caso, o profissional precisa saber trabalhar com a família, e não trabalhar a família. Do mesmo modo precisam trabalhar com o surdo e não trabalhar o surdo; um sujeito não se trabalha, mas compartilha, interage, neste caso busca-se a compreensão do sujeito na sua diferença cultural e identidade. No entanto ocorre o contrario em relação ao surdo, a partir da descoberta da surdez esse passa a ser visto como se seu corpo fosse apenas constituído pela ORELHA, levando a família e profissionais a buscarem a normalização dessa parte do corpo, a partir dai, o surdo é regredido a um pedaço do corpo, que passa a ser marcado e circunscrito na suposta normalidade, medido, mensurado e subordinado à logica do suposto corpo normal, consistindo em um tratamento de remissão de seu sintoma, esta concepção marca o destino da pessoa e seus familiares. A detecção precoce da surdez com encaminhamento da família para o esclarecimento quanto ao papel que a Língua de Sinais pode desempenhar na comunicação com seu filho surdo é um recurso acessível e fundamental, mas ainda não é reconhecido pelos órgãos responsáveis pela saúde publica. É indispensável que a criança surda e sua família possam desenvolver uma linguagem comum e fluente no tempo real, ou seja, na mesma idade cronológica em que faz a criança ouvinte. Uma família bem orientada e que tenha acesso a Língua de Sinais, junto com seu filho surdo, não vai necessitar de recursos extraordinários para dar-lhe uma boa educação. Muitas crianças surdas são encaminhadas a avaliações neurológicas, tais limitações geram marcas na construção da identidade e em sua qualidade de vida. Outros passam sua existência privados de uma comunicação plena e simbólica. Ao prosseguir com a meta da oralização , os primeiros anos fundamentais para aquisição de uma língua de forma natural, é negado ao surdo que precisa aprender o português em consultório fonoaudiólogo, um ambiente artificial, não se tornando falante da língua portuguesa e nem usuário da língua de sinais, ficando sua comunicação bastante restrita a uma simbologia privada. Conceito Antropológico Da Surdez - Reconhecendo a diferença Pensar em uma educação para surdos que considere suas características sociais, descartando a patologia e aproximação do surdo com o modelo ouvinte, é tarefa que ultimamente vem sendo realizada, porem ainda esta longe de ser consenso entre os envolvidos, pois a forma de pensar essa educação esta ligada a outras representações, como marcas, traços, significantes [...], alem disso a visão socioantropológica da surdez ainda esta em construção. Este conceito atribui a surdez uma noção diferente da proposta pela visão clinica. Dois aspectos contribuem para fortalecimento da perspectiva socioantropológica da surdez: a) existência de uma comunidade que se articula e se identifica pelo uso de uma língua própria – a Língua de Sinais – formando portanto uma comunidade lingüística. b) A confirmação de algumas características dos filhos surdos de pais surdos que os diferenciam dos surdos filhos de pais ouvintes, habilidade de aquisição de uma segunda língua e da escrita. A diferença apresentada sobre a surdez e o surdo não devem ser entendidas em oposição ao conceito de normalidade. A diferença é sempre diferença, não deixa de ser diferença, não representa um momento não desejado na vida da pessoa, pois sua construção é histórica, social e política. 6.1 Quem São Os Surdos? Um dia minha filha perguntou: Mãe como é ser Surdo? Confesso que ate aquele momento não havia pensado como era, como é, como seria ou como deveria ser um Surdo, a pergunta me virou de pernas para o ar. Não pude dar uma resposta exata naquele momento para não usar termos que posteriormente não tivesse valência quanto ao conceito sobre a pergunta realizada. A partir desse momento então, comecei a questionar-me e a pesquisar sobre o que era ser Surdo. (Monteiro. J.A) O que vem a ser Surdo? Ser surdo é uma questão de vida. Não se trata de uma deficiência, mas de uma experiência visual. Desta experiência surge a cultura visual representada pela Língua de Sinais, pelo modo diferente de ser, de se expressar, de conhecer o mundo, de entrar nas artes, no conhecimento cientifico e acadêmico. (Perlin, 2003ª,p.218). A maioria das pessoas surdas, no contato com outros surdos, desenvolve a Língua de Sinais. Porem, os quer viverem isolados ou em locais onde não exista uma comunidade surda, apenas se comunicam por gestos. Existem surdos que por imposição familiar ou opção pessoal preferem utilizar a língua oral (fala). No entanto, no decorrer do último século os surdos foram tratados como deficientes auditivos e, em decorrência, receberam atendimento clínico, visando torná-los o mais possível próximo dos ditos normais. Surgiu assim, no âmbito educacional e social, uma corrente muito disseminada – (a oralista), acreditava que a criança surda deveria centrar se na aprendizagem da linguagem oral. A utilização do sistema gestual (natural dos surdos) foi renegado por praticamente todos, que entendiam ser o mesmo um conjunto de gestos desordenados, limitados a expressões concretas e embotador da linguagem oral. O grande fracasso escolar e as dificuldades de integração dos surdos, além de novas pesquisas nas áreas de linguística, sociologia, educação etc. levaram, entretanto, muitos a repensar esta posição. Com a confirmação científica, feita em 1960, por Stokoe, linguista americano, de que a língua de sinais é uma língua com regras e gramática própria (BRITO, 1995; SACKS, 1980; et all), a língua de sinais passou a ter outro valor, significando, como as demais línguas, ela tem um período crítico de aquisição (de zero a três anos), para que neurolingüisticamente o cérebro possa desenvolver plenamente suas funções, e, após os 12 anos, as sequelas causadas pela falta de aquisição de uma língua são permanentes e irrecuperáveis (FERNANDES, 1996). 6. 2 Nomenclaturas Deficiência Auditiva: Termo técnico usado na área da saúde e, algumas vezes, em textos legais. Refere-se a uma perda sensorial auditiva. Não designa o grupo cultural dos surdos. O que é a deficiência auditiva? É apenas uma perda sensorial, por isto as pessoas com problemas de audição têm potencialidade igual à de qualquer ouvinte. Comunicação com liberdade e segurança. Para os surdos a língua de sinais é fundamental, pois só através dela podem se comunicar. Surdo-Mudo: Provavelmente a mais antiga e incorreta denominação atribuída ao surdo, e infelizmente ainda utilizada em certas áreas e divulgada nos meios de comunicação, principalmente televisão, jornais e rádio. O fato de uma pessoa ser surda não significa que ela seja muda. A mudez é uma outra deficiência, totalmente desagregada da surdez. São minorias os surdos que também são mudos. Fato é a total possibilidade de um surdo falar, através de exercícios fonoaudiólogos, aos quais chamamos de surdos oralizados. Também é possível um surdo nunca ter falado, sem que seja mudo, mas apenas por falta de exercício. Por isso, o surdo só será também mudo se for constatada clinicamente deficiência na sua oralização, impedindo-o de emitir sons. Fora isto, é um erro chamá-los de surdo-mudo. Apague esta ideia! O que é o Surdo-Mudo? Erro social dado ao tato de que o surdo vive num ‘’silêncio” rotulado pela própria sociedade (por falta de conhecimento do real significado das duas palavras). Mudez: problema ligado à voz. Surdez: dificuldade parcial ou totalno que se refere à audição 6.3 Desmistificando Os Estereótipos Nem todos os surdos fazem leitura labial - Então paciência é fundamental Nem todos os surdos sabem Língua de Sinais - Por diferente motivos, alguns surdos não aprendem a língua de Sinais por não gostarem, ou a família nunca incentivou, muitos que moram no interior simplesmente não tem contato com outros surdos que saibam Libras... “Os surdos não são mudos” É comum ouvirmos de pessoas leigas a expressão “surdo-mudo”. Aqui há um equívoco que precisa ser esclarecido. O pensamento parece lógico: é de senso comum que aprendemos a falar ouvindo. Logo, se não ouvem, os surdos não aprendem a falar. Mas o termo “mudo” não surge necessariamente dessa relação. Mudo é aquele que não faz uso de seu aparelho fonador para a fala ou qualquer outra manifestação vocal. Pessoas ou crianças psicóticas, por exemplo, podem apresentar mudez como um sintoma de sua alteração psíquica. Há ainda aqueles que, por serem acometidos por câncer na laringe, fazem uma laringectomia (cirurgia para a retirada do órgão responsável pela produção sonora da fala), tornando-se temporariamente “mudos”, pois, ainda assim, podem reaprender a falar usando outras estratégias, como a voz esofágica (produzida pelo esôfago). Se não acometidas por alterações psíquicas e/ou orgânicas que interfiram em suas pregas vocais, pessoas surdas podem sim produzir sonorização vocal. Ainda que se comuniquem pela Língua de Sinais e não saibam falar, apresentam vocalizações ao sinalizar e usam a voz quando estão em perigo. Além disso, podem desenvolver a linguagem oral por meio de um processo terapêutico fonoaudiólogo. Vale a dica: A terminologia “mudo” relacionada aos surdos nasceu na antiguidade, quando se acreditava que uma pessoa só teria condição de humanidade se houvesse a fala. Foi preciso a comprovação científica de que o surdo possui uma laringe funcional para que acreditassem em seu potencial para falar e, ainda assim, a Língua de Sinais exerce, por aqueles surdos que não possuem a linguagem oral, a mesma função de linguagem que a fala, sendo forma legítima e natural de comunicação e expressão de pessoas surdas. Assim, retire do seu vocabulário a expressão “surdo-mudo” e passe a se referir às pessoas com perda de audição somente como surdos. Pensando no individuo surdo, acreditamos que seja importante para este como sujeito: crescer, desenvolver-se, amadurecer, construir e constitui-se inserido numa língua própria e natural. Ao permitir que a criança surda tenha a oportunidade de se desenvolver de forma análoga à das crianças ouvintes, estará respeitando sua língua, sua diferença. Uma criança que não escuta possui as mesmas condições de aprendizagem que uma criança ouvinte, porem o acesso a linguagem se dará por meio do canal visual. No entanto, para que o surdo possa desenvolver-se, não basta apenas permitir que use sua língua, é preciso promover integração e inclusão com sua cultura. 6.4 Existe “Uma” Diferença Surda? “Se a questão da identidade é fundamental para a compreensão da pessoa humana, no caso da pessoa surda a diferença - não escutar - não pode ser o único traço capaz de identificá--lá”. (Luís Behares, 2000) A surdez deve ser reconhecida como apenas mais um aspecto das infinitas possibilidades da diversidade humana, pois ser Surdo não é melhor ou pior do que ser ouvinte, é apenas diferente. “O Surdo tem o direito de viver assim e o mundo tem dever de aceitar sua diferença”. PIMENTA ( 2001, p.24) Seguindo esse raciocínio, considero também de igual importância a compreensão de LIBRAS pelos profissionais da educação que têm como tarefa a inclusão social dos surdos, na aquisição de uma educação plena com necessidades específicas sem serem privados de informações e atividades só por serem surdos 6.5 Mitos Ou Verdade? O primeiro e grande mito que é necessário desfazer é o fato de muitos acreditarem que a língua de sinais é universal, ou seja, igual no mundo inteiro. Ela não é, e se diferencia em cada país. Língua Francesa de Sinais (LSF Langue des Signes Française) etc. Cavalcanti (1999) comenta que existe um forte mito de monolinguismo no país, onde comunidades indígenas, imigrantes e até comunidades surdas estão sendo excluídas. A autora alerta que o país tem cerca de 203 línguas: 170 línguas indígenas, 30 línguas de imigrantes, 1 língua de sinais brasileira (Libras) e 1 língua de sinais Kaapor brasileira (LSKB) e, é claro, a língua portuguesa. Nota-se que o Brasil não é um país monolíngue, visto que estes povos existem e mantêm suas línguas vivas, uma pluralidade linguística e heterogeneidade cultural. Os índios Urubu-Kaapor utilizam a LSKB que não apresenta relação estrutural ou lexical com a LIBRAS, devido à inexistência de contato entre ambas. Quadros e Karnopp (2004, p 31-37) descrevem alguns mitos: A língua de sinais seria uma mistura de pantomima e gesticulação concreta, incapaz de expressar conceitos abstratos”. Isso é outro erro cometido pelas pessoas, elas pensam que os sinais são concretos, que são apenas gestos, mas os sinais são palavras na relação entre o significado arbitrário na relação entre o significado e o significante, de modo visual. Os sinais expressam sentimentos, emoções, inclusive ideias abstratas. “Haveria uma falha na organização gramatical da língua de sinais, sendo um pidgin2 sem estrutura própria, subordinado e inferior às línguas orais”. Isto não é verdade, pois a língua de sinais é uma língua de fato, e também independe de língua oral. As línguas de sinais são autônomas e apresentam o mesmo estatuto linguístico identificado nas línguas faladas, ou seja, dispõe dos mesmos níveis linguísticos de análise e é tão complexa quanto às línguas faladas. “As línguas de sinais derivariam da comunicação gestual espontânea dos ouvintes”. Está errado, as línguas de sinais são tão complexas quanto outras línguas orais, muitas vezes as pessoas acham que sabem a língua de sinais porque sinalizam alguns gestos e sinais. “As línguas de sinais, por serem organizadas espacialmente, estariam representadas no hemisfério direito do cérebro, uma vez que esse hemisfério é responsável pelo processamento de informação espacial, enquanto que o esquerdo, pela linguagem” (p.36). É possível perceber que há semelhança na representação da linguagem e na espacialização hemisférica entre pessoas surdas e ouvintes, pois o hemisfério esquerdo é o principal responsável pelas funções de linguagem de seres humanos, então os surdos têm sua língua de sinais própria que demonstra funções linguísticas assim como os ouvintes. Eles utilizam as funções viso-espaciais, que é de hemisfério direito, da mesma maneira que ouvintes visualizam. É possível perceber que estes mitos passaram muitos anos no pensamento das pessoas, e o que hoje se tem feito é provar que a língua de sinais é uma língua natural. 6.6 Definição dos Termos, Mímica, Gesto, Pantomima e Sinal. Mímica: arte de imitar, de exprimir o pensamento por meio de gestos; gesticulação que procura traduzir os pensamentos ou sentimentos. Gesto: movimento do corpo, especialmente da cabeça e dos braços, para exprimir ideias; sinal; mímica; movimentos da fisionomia, da cabeça e dos braços, com que o orador comenta ou dramatiza o discurso. Pantomima: É um teatro gestual que faz o menor uso possível de palavras e o maior uso de gestos. É a arte de narrar com o corpo. É uma modalidade cênica que se diferencia da expressão corporal e da dança, basicamente é a arte objetiva da mímica, é um excelente artifício para comediantes, cômicos, clowns, atores e bailarinos. Sinal: tudo o que faz lembrar ou representar uma coisa, um fato ou um fenômeno presente, passado ou futuro; demonstração exterior do que se pensa, do que se quer;aceno, gesto; traço ou conjunto de traços que têm um sentido convencional. Os sinais pertencem ao conjunto de unidades que formam unidades maiores, como frases, textos etc. 7. ASPECTOS LINGUÍSTICOS E GRAMATICAIS Língua: conjunto do vocabulário e de regras gramaticais, existente em toda língua no mundo. Por exemplo: inglês, português, LIBRAS. Linguagem: Capacidade que o homem e animais possuem para se comunicar, expressar seus pensamentos. Libras é uma língua - E não uma linguagem, percebam a diferença: O QUE É LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS? A LIBRAS é a língua da comunidade surda brasileira. Tem suas regras gramaticais próprias, possibilitando assim, o desenvolvimento linguístico da pessoa surda, favorecendo o seu acesso aos conhecimentos existentes na sociedade. Os sinais são formados a partir de parâmetros, como a combinação do movimento das mãos com um determinado formato num determinado lugar, podendo este lugar, ser uma parte do corpo ou um espaço em frente ao corpo. Os parâmetros da LIBRAS são: Configuração das mãos; Locação; Movimentos; Orientação das mãos; Expressão facial e/ou corporal. Nesta combinação se obtém o sinal. Portanto, produzir sinais é combinar esses parâmetros para a formação das frases e textos num determinado contexto. PRODUÇÃO, EXPRESSÃO E RECEPÇÃO LÍNGUA ORAL: (oral-auditiva) Principal característica: linearidade, ou seja, os ouvintes produzem os fonemas (oraliza) um de cada vez. Produção e Expressão: Aparelho fonador, voz Recepção: Audição LÍNGUA DE SINAIS: (motora-espaço-visual) Principal característica: simultaneidade, os parâmetros primários realizados ao mesmo tempo, com expressões faciais, por exemplo. Produção e Expressão: Mãos, Expressão facial Recepção: Olhos (visão) . REFERÊNCIAS CAPOVILLA, F. C. e RAFAEL, W.D. Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngue da Língua de Sinais Brasileiro, Vol. I e II: Sinais de A a Z. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2001. THOMA, A. da S. A invenção da surdez: cultura, alteridade, identidade e diferença no campo da educação. Santa Catarina: Edunisc, 2005. MACHADO, P.C. A política educacional de integração/inclusão: um olhar do egresso surdo. Santa Catarina:Editora da UFSC, 2008. STROBEL, K. As imagens do outro sobre a cultura surda. Santa Catarina: Editora da UFSC, 2008. QUADROS, R. De M. Língua de Sinais Brasileira: estudos linguísticos. Porto Alegre: ArtMed, 2004. STUMPF, M. R. Estudos Surdos III. Santa Catarina: Editora Arara Azul, 2008.
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