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RESUMO-ESTUDOS SURDOS

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ESTUDOS SURDOS
	AULA 1
Definição dos estudos surdos.
Subárea de conhecimento cientifico referente:
- Aos sujeitos surdos como sujeitos coletivos.
- À Libras como veículo sociocultural para a construção e manutenção dos entrelaçamentos de elementos das relações sociais dos sujeitos surdos.
Essas abordagens são estudar a rede, o emaranhado de atributos sócios culturais que os constituem como gruo linguístico-cultural.
Olhar a educação de surdos, as políticas linguísticas, não como mero apreciador. É refletir nosso papel como educadores ou futuros educadores.
Se pensarmos nos surdos como comunidade que possui atividades, práticas, trocas, intervenções e, por assim dizer, cultura, vemos que não se trata apenas de uma aglutinação de pessoas surdas, mas um espaço que se sedimenta no tempo com artefatos, mente fatos e socio fatos culturais, permitindo trocas e relações entre os pares sociais e políticos.
- Reconhece o sujeito surdo como alguém diferente, com identidade e cultura próprias distintas.
 
Plano Teórico – Estudos culturais são análises, pensamentos, observações sem garantias, e que sua especificidade e densidade se articulam com as práticas, as ideias, as representações, as relações, da vida social e socialmente construídas.
Plano metodológico – Nas pesquisas são usadas para interpretações e explicações das relações entre a cultura, a história e a sociedade.
Plano político – Contextualizar, situar e marcar as culturas que emergem de classes populares.
Características políticas: 
1- Lutas políticas por direitos comuns a todos: a configuração e a compreensão da noção de poder.
2- Democratização e a ascensão social das culturas
3- Movimentos sociais de resistências dos grupos sociais.
4- Legitimidade das culturas anteriormente desconsideradas como tais.
5- Mediação na educação com proposições de caráter linguístico, cultural, identitário para a promoção dos sujeitos pertences a uma dada comunidade de minorias.
6- Ações nas construções de políticas sociais, sobretudo, políticas linguísticas,
7- As questões e estruturas das identidades sociais e culturais.
1) O Ser Surdo e as identidades surdas. Eles são ocupados somente por sujeitos surdos, que estão nas intersubjetividades da relação surdo x surdo, não podendo ser assumidas pelos ouvintes, por mais próximos que sejam da comunidade surda.
2) Os movimentos surdos. Eles são fortalecidos pela união de diversas pessoas na busca dos mesmos objetivos em prol da comunidade, como, por exemplo, a lei e o decreto de Libras.
AULA 2
É importante destacar que reconhecer a existência de uma língua de sinais não significa o reconhecimento da surdez como marca identitária. Para entendermos um pouco mais sobre essa perspectiva de se pensar “Ser Surdo”, deslocando-se do viés clínico, isto é, deixando de pensar na surdez como um dado médico, é importante fazer uma contraposição com os estudos feitos pelas Ciências Sociais.
Algumas das propostas educacionais a que os sujeitos surdos foram submetidos ao longo da história:
Oralismo: O oralismo se tratava de uma filosofia de ensino que focava o ensino da fala. Desconsiderava-se a língua de sinais, acreditando-se que a única possibilidade de integração e desenvolvimento da pessoa surda seria por meio do aprendizado da fala. Essa filosofia perdurou como a principal proposta de educação de surdos por bastante tempo.
Comunicação total: A comunicação total, por sua vez, era entendida como uma proposta híbrida, visto que se valia de diversos recursos aliados ao uso da fala, incluindo sinais, nos processos comunicativos ou de ensino e aprendizagem. Os sinais, quando utilizados nas metodologias baseadas na comunicação total, submetiam-se à estrutura da língua oral. Ou seja, era feita uma sinalização da língua oral e não o uso da língua de sinais. As línguas de sinais eram vistas como meios para se aprender as línguas orais.
As duas filosofias citadas como exemplos dessas propostas de normatização provocaram muitas dificuldades no percurso educacional das pessoas surdas. Muitos surdos ficaram excluídos dos processos educacionais, quer por ficarem fora da escola quer por fracassarem diante dos métodos impostos.
A escola, por anos, reproduziu a rejeição linguística que os surdos sofrem em casa e na vida social. A ausência de professores que dominassem, minimamente, a língua de sinais, de profissionais que compreendessem a surdez como uma diferença linguística e não como uma deficiência trouxe muitos prejuízos ao desenvolvimento de muitos estudantes surdos.
Diferente da concepção médico-patológica que concebe os surdos como deficientes (ou ouvintes com defeito), no campo dos Estudos Culturais, os surdos são reconhecidos como comunidade linguística minoritária.
A Pedagogia Surda é um campo de aplicação onde podemos encontrar produções teórico-metodológicas relacionadas à educação de surdos, tendo como um de seus princípios o professor surdo como modelo e identificador da constituição do Ser Surdo, diferenciando do paradigma do bilinguismo, em que importa o domínio eficaz e fluido dos dois idiomas oficiais no Brasil (português e LIBRAS).”
A presença do professor surdo, além de permitir contato com um modelo linguístico adequado, permite que as crianças surdas construam suas identidades a partir da aproximação com os conhecimentos surdos. 
Diferença linguística: promovendo um ambiente linguístico confortável e adequado aos estudantes surdos;
Diferença cultural: permitindo que os estudantes surdos tenham acesso aos bens e conhecimentos produzidos nas comunidades surdas, bem como percebam os modos de “Ser Surdo” no contato com surdos adultos;
Construção da identidade: possibilitando que estudantes surdos se reconheçam como parte de um grupo, com língua e cultura próprias.
Ouvintismo: Pode-se entender o ouvintismo tomando como base conceitual o que disse Skliar (2010, p. 15) “um conjunto de representações dos ouvintes, a partir do qual o surdo está obrigado a olhar-se e a narrar-se como se fosse ouvinte. Além disso, é nesse olhar-se, e nesse narrar-se que acontecem as percepções do ser deficiente, do não ser ouvinte”.
AULA 3
Identidade, língua e cultura.
A princípio, precisamos entender que a ideia de língua não é única. Existem diferentes concepções sobre o que é língua ou representa para os indivíduos. Pode-se dizer que a língua, como proposto pela visão estruturalista, é um conjunto de regras a ser aprendido. Ela pode ser pensada também como ferramenta de comunicação, meio pelo qual as sociedades transmitem seus saberes acumulados. Pode ser vista também como processo cognitivo, uma aprendizagem complexa que permite outras aprendizagens além da organização do pensamento. Talvez a ideia mais importante que se tem sobre a língua é a de que ela é um fenômeno social.
Assim como as concepções de língua são distintas, as concepções de cultura também podem variar. Para o senso comum, por exemplo, pode significar os conhecimentos científicos escolares acumulados. Já nas ciências sociais, destacam-se duas concepções básicas de cultura:
A primeira concepção de cultura remete a todos os aspectos de uma realidade social;
A segunda refere-se mais especificamente ao conhecimento, às ideias e crenças de um povo".
Então, se língua e cultura são expressões culturais, podemos supor que estão relacionadas de alguma forma
Podemos apresentar a ideia de identidade como marcas características de um indivíduo, o que o tornam único e particular. Se pensarmos no que isso significa, veremos que, mesmo sendo algo individual, não é um fenômeno que ocorre no vazio. Ou seja, quando me identifico como brasileiro, além de apresentar uma característica minha, digo, de certa forma, que pertenço a um grupo.
Uma língua é um conjunto de representações simbólicas do mundo físico e do mundo mental que:
1-É compartilhado pelos membros de uma dada comunidade humana como recurso comunicativo;
2- Serve para interação e integração sociocultural dos membros dessa comunidade;
3- Se organiza fonomorfossintaticamente (sons+palavras+frases) segundo convenções firmadas ao longo dahistória dessa comunidade;
4- Coevolui com os desenvolvimentos cognitivos e os desenvolvimentos culturais dessa comunidade, sendo então sempre variável e mutante, um processo nunca acabado;”
A representação, compreendida como um processo cultural, estabelece identidades individuais e coletivas e os sistemas simbólicos nos quais ela se baseia fornecem possíveis respostas às questões: Quem sou eu? O que eu poderia ser? Quem eu quero ser?" Isso quer dizer que, ao fazer representações sobre si mesmo, o indivíduo se identifica como parte de um grupo, de uma cultura. Sendo a língua um bem cultural socialmente compartilhado, também está intimamente ligada às questões identitárias.
Línguas de sinais, cultura e identidades surdas
Por muito tempo, as comunidades surdas lutam pelo reconhecimento de suas línguas. Aqui no Brasil, sabemos que a Língua Brasileira de Sinais foi reconhecida no ano de 2002, pela Lei nº 10.436. Essa lei permitiu a criação e a promoção de diversas políticas públicas voltadas para o uso e a difusão da língua. Já sabemos que as línguas não surgem ou são utilizadas no vazio, sendo assim as discussões sobre língua de sinais têm de vir acompanhadas de discussões sobre cultura e identidade surda.
No caso das identidades surdas, precisamos pensar que muitos surdos nascem e crescem em contato próximo com a comunidade ouvinte. Muitas vezes, apenas na fase adulta, os sujeitos surdos passam a interagir com essa comunidade. Ainda assim, não partilham das identidades ouvintes.
É papel do professor pensar em propostas que permitam que os mais diversos grupos participem dos processos educacionais, efetivando aprendizagens e tendo acesso aos conhecimentos construídos e transmitidos nos espaços educativos.
No caso da educação de surdos, precisamos discutir que os projetos educacionais precisam avançar para além do uso da língua de sinais no processo de ensino.
Para Skliar (2010), educação de surdos precisa contemplar as potencialidades dessa comunidade e isso envolve o reconhecimento cultural.
Para que efetivem um trabalho adequado, é importante que os profissionais intérpretes tenham conhecimento tanto das línguas envolvidas no processo quanto da cultura das comunidades em que irá atuar.
Não se pode dissociar língua de identidade, pois ela faz com que tenhamos uma grande referência ao estarmos no mundo. A língua é símbolo de pertencimento, por exemplo, quando uma criança adquire uma língua, ela é parte daquela comunidade linguística. Isso acontece também com as crianças surdas.
O espaço familiar e o escolar, diferentemente dos demais espaços transitórios, são aqueles que a criança passará muito tempo nos primeiros anos de sua vida, por isso é essencial que sejam um ambiente de conforto linguístico e de comunicação.
AULA 4
Apresentação
Nesta aula, discorreremos sobre a língua, o discurso e o sujeito surdo. Para isso, vamos definir língua e discurso de acordo com estudiosos da área, para então compreender a relação de poder existente no discurso. Na fala, a língua é usada de acordo com os interesses de quem profere a mensagem, com o intuito de convencer os que recebem. O discurso deve estar alinhado ao poder e os que se contrapõem a ele são censurados.
A Libras reformulou o discurso sobre a comunidade surda, possibilitou um novo olhar e a conquista de novos espaços na sociedade. Com a reinvenção do discurso, os surdos se tornaram protagonistas de sua própria história, participando ativamente das discussões de assuntos inerentes a eles.
Discurso/ Definições apresentadas de acordo com alguns estudiosos:
DUCROT
1: A sequência de enunciados ligados entre si.
2: Encadeamento argumentativo, constituído por dois segmentos relacionados por um conector.
BAKHTIN
Língua em sua integridade concreta e viva.
GREIMAS
Processo semiótico realizado que se processa sob a forma de texto. (FLORES et al, 2009, p. 83-84)
BENVENISTE
Atualização da língua cada vez que alguém assume o lugar do eu.
A Libras reinventa o discurso sobre a comunidade surda
O reconhecimento da língua de sinais fortalece a comunidade surda e suas reivindicações. A língua de sinais empodera os sujeitos surdos, emergindo um novo discurso sobre esse povo.
O discurso é alterado e a surdez é vista como diferença. A língua de sinais ocupa seu espaço no desenvolvimento do sujeito surdo em todas as esferas, linguística, cognitiva e social. Eis a importância da língua no discurso e na visão que se tem de um povo. afirmam que a língua de sinais anula a deficiência linguística, consequência da surdez, e permite que os surdos se constituam membros de uma comunidade linguística minoritária diferente, e não como um desvio da moralidade.
-
A língua de sinais define a identidade surda e nas trocas com seus pares há interação, compreensão, diálogo e aprendizagem, o que não seria possível por meio da língua oral. Os surdos fazem movimentos para garantir sua língua e seus direitos de acessibilidade, relacionam a língua com poder e conhecimento. As pessoas surdas tornam-se atuantes no cenário linguístico, com o intuito de se aprofundar nos estudos da língua de sinais e entender suas origens. Relacionam a língua com poder e conhecimento, daí a necessidade de debruçar-se sobre ela.
CONCEPCÃO CLÍNICO-PATOLÓGICA
Os surdos são vistos como deficientes que precisam de reabilitação. É necessário corrigir a falha da audição e estimular a fala oral.
CONCEPÇÃO SOCIOANTROPOLÓGICA
O discurso é alterado e a surdez é vista como diferença. O acesso ao mundo acontece pela visão, de forma diferente dos ouvintes. A língua de sinais ocupa seu espaço no desenvolvimento do sujeito surdo em todas as esferas, linguística, cognitiva e social.
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Dar visibilidade é dar significado a tudo que a língua de sinais representa e que não é bem aceito por muitos ouvintes em termos de poder, discurso e ideologia. , quando se analisa o sujeito cultural surdo, é preciso discutir a importância da língua como marcador de uma cultura. As crianças surdas precisam ter contato com surdos adultos para adquirir a língua e construir a identidade cultural surda. Infelizmente, a maioria das crianças têm contato tardio com a língua de sinais.
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Daí a importância de professores surdos para ensiná-las em sua língua natural e para serem modelos linguísticos e culturais.
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Os sujeitos surdos como profissionais da educação e o lugar da docência
Têm crescido cada vez mais o número de surdos mestres e doutores, pesquisadores de sua própria língua. Para entender como se constitui a língua de sinais, muitos surdos desenvolveram e desenvolvem pesquisas voltadas para a linguística da Libras. Tem sido muito gratificante ver a ascensão da comunidade surda, ocupando espaços de discussão sobre a língua e a educação de surdos. Cursos de pós-graduação surgiram nessa área e muitos também são professores, estão imbuídos de formar os profissionais que vão atuar na educação para que estes conheçam as especificidades surdas e sua língua.
Profissionais surdos e ouvintes, fluentes em Libras, têm contribuído para a formação de pessoas ouvintes, rompendo tabus e mitos, oferecendo a oportunidade de conviver e conhecer a língua e cultura surda. Já é um avanço, mas a comunidade surda almeja ainda que sua língua seja inserida na grade curricular. O acontecimento de todas as crianças aprendendo Libras na escola possibilitará o rompimento dos mitos em relação aos surdos e à língua de sinais e contribuirá com a formação de uma sociedade mais inclusiva. Contribua para dirimir as dúvidas em relação aos surdos, mostre para a sociedade o novo discurso da surdez que se contrapõe à visão de deficiência.
Conclusão
Discutimos sobre língua e discurso, enfatizando o poder do discurso e seu uso em favor de quem domina. A língua é essencial ao ser humano. A língua pode construir e destruir, depende do seu uso, do discurso usado e da intenção do mesmo. Vimos também que quem domina, impõe sua língua e cultura, ameaçando as minorias e, muitas vezes, extinguindo línguas minoritárias.
Viveram a tentativa de extermínio da língua de sinais, desconsiderando-apor completo e proibindo, inclusive, seu uso. Resistiram e lutaram para preservar sua língua e cultura. Com o reconhecimento da Libras, o discurso sobre a surdez ganha nova direção, mas a batalha ainda não foi vencida, a luta continua. A cada avanço da comunidade surda, surgem ameaças, pois a classe majoritária tenta repetir o discurso do passado.
Com a Libras em uso na sociedade de um modo geral, as concepções errôneas em relação aos surdos e à língua de sinais vão sendo dirimidas. Nós somos os protagonistas da história e devemos deixar a nossa contribuição no que tange à língua, ao discurso e aos sujeitos surdos. Vamos usar nossas línguas, L1 e L2, Português e Libras, para disseminar o discurso surdo, para desconstruir os tabus sociais e promover uma educação inclusiva e bilíngue.
AULA 5
Libras e a comunidade surda
Usamos tanto a língua quanto a linguagem para a comunicação e expressão. Uma pessoa sem língua não consegue expor seus pensamentos, surgindo a ideia de incapacidade. Por ser a língua essencial para o ser humano, conclui-se que a Libras é fundamental na constituição do sujeito surdo. Quando nos referimos a um grupo linguístico, precisamos considerar e valorizar a língua usada por esse grupo.
Mesmo sabendo que há surdos oralizados, que não usam a língua de sinais, há uma relação direta entre a Libras e as pessoas surdas. Os surdos que desprezam a língua de sinais seguem a linha oralista e não veem a Libras como língua de fato. Mas, o nosso foco nessa disciplina é a língua, a cultura e a identidade surda, por isso, o nosso estudo envolve os Surdos que utilizam a Libras em sua comunicação, participam da cultura e têm uma identidade surda. Mesmo não habitando o mesmo espaço geográfico, estão vinculados pela língua e, por meio dela, identificam-se e organizam-se para fortalecerem suas reivindicações.
Comunidade linguística ou de fala
Comunidade linguística representa o conjunto de pessoas que falam a mesma língua, mesmo estando em territórios diferentes. A comunidade surda é representada pelos falantes da língua de sinais que estão espalhados pelo mundo e são participantes da mesma cultura. Logo, a comunidade surda fala a língua de sinais que no Brasil recebe a nomenclatura de Libras. Como as definições apontaram, comunidade pode ser um grupo de pessoas que vivem em uma determinada região, falam a mesma língua e partilham da mesma cultura, mas também pode ser o conjunto de pessoas que moram em lugares diferentes, mas têm em comum a história e cultura.
Na comunidade, os falantes da língua partilham as normas e regras linguísticas e a língua pode ser materna ou não. Vanin traz algumas concepções sobre a comunidade de fala, partindo de uma definição simples, como um grupo de pessoas que interagem por meio da fala, de acordo com Bloomfield , em seguida traz o conceito de Gumperz , que restringe a comunidade de fala a um grupo que compartilha normas e regras para uso da língua e apresenta a explicação de Labov . A comunidade de fala não é definida por nenhum acordo marcado quanto ao uso dos elementos da língua, mas, sobretudo, pela participação em um conjunto de normas compartilhadas. Enquanto Labov considera a comunidade de fala homogênea, outros linguistas a veem como heterogênea, pois as relações sociais devem ser consideradas e não apenas a língua.
Há uma relação entre indivíduo, língua e sociedade. Parte da ideia de comunidade de fala, que envolveria os usuários de uma mesma língua de uma maneira geral até chegar a um conjunto de indivíduos que partilham de comportamentos linguísticos originados a partir de práticas em comum. Há a ideia maior de que a comunidade de fala é formada por pessoas que usam a mesma língua, como dissemos anteriormente, representando uma comunidade linguística. Mas, como a fala é a ação do indivíduo na sociedade ao usar a língua, surgem as variações de acordo com o grupo social a que pertence.
A faculdade cognitiva da espécie humana que permite a cada indivíduo representar/expressar simbolicamente sua experiência de vida, assim como adquirir, processar, produzir e transmitir conhecimento. Comunidade pode ser um grupo de pessoas que vivem em uma determinada região, falam a mesma língua e partilham da mesma cultura, mas também pode ser o conjunto de pessoas que moram em lugares diferentes, mas têm em comum a história e cultura.
Linguagem: Sistema organizado através do qual é possível se comunicar por meio de sons, gestos, signos convencionais. Sistema de símbolos que permite a representação de uma informação. Código: Linguagem do teatro. Capacidade natural da espécie humana para se comunicar por uma língua.
Língua: Conjunto de elementos que constituem a linguagem falada ou escrita peculiar a uma coletividade. Idioma: A língua portuguesa. Sistema de vocabulário e sintaxe usado em determinada época, por certos escritores, em uma ou outra profissão etc. Linguagem: A língua do século XVI.
Mesmo havendo diferenças entre os dois conceitos, eles estão interligados. A língua faz parte da linguagem e ambas são usadas pelo ser humano. O bebê ao nascer já começa a se expressar por meio do choro, balbucio, usando a linguagem corporal, os gestos etc. Ao crescer, associamos a língua à linguagem para nossa comunicação e expressão.
Em relação à linguagem, Bagno (2014) salienta que há diversas definições e apresenta dois conceitos:
01-É a faculdade cognitiva da espécie humana que permite a cada indivíduo representar/expressar simbolicamente sua experiência de vida, assim como adquirir, processar, produzir e transmitir conhecimento.
02-Todo e qualquer sistema de signos empregados pelos seres humanos na produção de sentido, isto é, para expressar sua faculdade de representação da experiência/conhecimento.
Conclusão
Os surdos representam uma comunidade linguística e falam uma língua visual. O respeito a essa língua configura-se no respeito ao povo surdo. Com a língua de sinais isso não aconteceu, ela sobreviveu aos tempos sombrios e ressurgiu com mais vigor. Usamos a língua e a linguagem para nos comunicar.
Sem língua não há organização do pensamento. Todo ser humano é dotado de capacidade de linguagem e é capaz de adquirir a língua naturalmente. Os surdos não adquirem de forma espontânea a língua oral, pois sua aquisição é por meio da audição. Quando estes são privados da língua de sinais, seu desenvolvimento fica prejudicado.
LINHA DO TEMPO DA TRAJETÓRIA DA LIBRAS
1960: O linguista americano Stokoe, finalmente comprovou que a língua de sinais era uma língua de fato, enfraquecendo ainda mais o movimento oralista que a coibia e a considerava prejudicial. Com o avanço das pesquisas em línguas de sinais, os surdos ganharam força para reivindicar seus direitos linguísticos e aos poucos começaram a romper as barreiras.
1980: No Brasil, a linguista Lucinda Ferreira, na década de 1980, iniciou os estudos sobre a língua de sinais brasileira. A pesquisadora descobriu e pesquisou também a língua de sinais Urubu-Kaapor, de uma tribo indígena do sul do Maranhão, que tem o mesmo nome.
1987: Os surdos se organizavam cada vez mais para suas reivindicações e em 1987 criaram a Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos (FENEIS).
2002: A federação tem o intuito de garantir o atendimento aos surdos por meio da língua de sinais e fazer parte das discussões políticas sobre a educação dos surdos. Assim, a comunidade surda foi se fortalecendo cada vez mais e, finalmente, em 2002, com a Lei 10.436, a Libras foi reconhecida em nosso país.
2005: O reconhecimento da Libras foi um grande marco. Com o Decreto 5626/2005, os direitos linguísticos foram garantidos. Os surdos conseguiram o direito à educação bilíngue, contrapondo-se ao oralismo de outrora. A comunidade surda comemorou as conquistas, mas a luta continua.
2011: Fazer valer seus direitos é fundamental. Por meio de movimentos de resistência, os surdos impediram o fechamento do Instituto Nacional de Educação de Surdos— INES), em 2011, quando a Política de Educação Inclusiva, defendida pelo governo, fechou várias escolas de surdos no país.
2014:Durante a discussão do Plano Nacional de Educação, os surdos se fizeram presentes e conseguiram a inclusão no plano da Escola Bilíngue para Surdos, em 2014.
2017: E após anos de reivindicações, em 2017, o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) foi acessível em Libras e teve como tema da redação a Educação de Surdos. Foi algo festejado pela comunidade surda que, aos poucos, vai conquistando seus direitos linguísticos.
AULA 6
Libras e a formação de conceitos.
Para assimilar conceitos, é preciso que estes sejam apresentados de forma clara na língua natural de cada indivíduo. Quem fala o português aprende os conceitos nessa língua e quem fala Libras também. Imagine um falante do português, com pouco domínio em inglês, que precise compreender os conceitos na segunda língua. Essa situação é vivenciada pelos surdos. Muitos conceitos são apresentados apenas em português. O professor que compreende os conceitos não domina a Libras, o intérprete domina a Libras, mas não os conceitos e nem existem vocabulários específicos para orientar sua tradução.
A Libras, por ser uma língua visual, possui características em seu registro que diferem das línguas orais. Retratar o léxico de uma língua visual é algo peculiar, considerando que as mãos são os articuladores fônicos e a comunicação acontece por meio de um canal visual-espacial. Estes povos faziam listas bilíngues, traduzindo os termos de sua língua para outros idiomas, facilitando a expansão territorial e as atividades comerciais. De acordo com Souza, Bezerra e Pontes, com o desbravamento de territórios e o contato com outras culturas, houve a necessidade de aprender novos idiomas e o registro linguístico tem esse objetivo.
Partindo dos primeiros glossários até os dicionários que temos hoje, tanto impressos quanto virtuais, percebemos que o registro do léxico de uma língua é importante. Assim como as línguas orais possuem seu registro lexicográfico, as línguas de sinais também podem ter seu léxico organizado em dicionários. E o de Peterson Ensminger consistia em sinais ilustrados em linha preta com fundo branco, agrupado em categorias semânticas. Estes são alguns exemplos de organização lexicográfica da língua de sinais.
As pesquisas do linguista americano Stokoe, em 1960, foi um divisor para as línguas de sinais como já dito em vários momentos. As pesquisas de Stokoe resultaram na publicação do dicionário A Dictionary of American Sign Language on Linguistic Principles, que descreve a língua de sinais em termos linguísticos e trata de aspectos socioculturais da comunidade surda. Podemos notar, então, um grande avanço nos registros das línguas de sinais. O período em que a língua de sinais ainda não era considerada língua traz registros mais simples, mas de muita importância na tentativa de marcar e legitimar uma língua.
Elaborar um dicionário não é uma tarefa simples, por isso os estudiosos devem ter disciplina e seguir os padrões estabelecidos, assim como conhecer e pesquisar o léxico da língua.
Neologismo
-Popular: É criado pelos usuários de uma língua. Os falantes de uma língua criam palavras em suas conversas cotidianas, com uso de gírias, na internet etc.
-Cientifico ou técnico: É criado pela ciência com o intuito de nomear instrumentos que surgem e de introduzir novos termos. À medida que a ciência avança, faz-se necessário o uso de novos vocábulos.
-Literário: É criado pelos escritores, compositores e poetas.
-Estrangeirismo: Corresponde aos empréstimos linguísticos, ou seja, palavras de outros idiomas que são inseridas em nossa língua.
-
O neologismo pode ser
1- Sintático: A neologia sintática pode ser por derivação ou composição;
2- Fonológico: A fonológica cria uma unidade lexical para o significante;
3- Semântico: A semântica altera o significado sem mudar a palavra.
Assim como novas palavras são criadas na língua oral, novos sinais são estabelecidos na língua de sinais de acordo com os parâmetros e com a necessidade do sinal. O neologismo na Libras não pode ser descontextualizado, deve estar de acordo com o ambiente cultural. A Libras, por ser visual, produz sinais icônicos, ou seja, a imagem é associada ao objeto, mas esta não é a única forma de criação de um sinal, há também os sinais arbitrários, que não têm nenhuma relação com a imagem.
Os termos em uma língua não são criados aleatoriamente, é preciso que estejam vinculados aos aspectos linguísticos e culturais. Por isso, para criar sinais, é preciso tomar os devidos cuidados para que o conceito também seja repassado nessa elaboração.
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Com o surgimento do curso de Letras Libras vários sinais na área da linguística foram criados e propagados pelo país. Dessa forma, outras universidades criaram grupos de pesquisas com o intuito de criar sinais específicos em diversas áreas. Houve, então, uma expansão dos termos criados. Um fator que também contribuiu com essa propagação foram as tecnologias digitais. Algumas universidades criaram grupos de pesquisa com o intuito de criar bancos terminológicos em diferentes áreas. A falta de vocabulários em Libras dificulta a aquisição de conceitos científicos e a compreensão do conteúdo em sala de aula. Segundo Prometi, Costa e Tuxi (2015), o primeiro passo é identificar o público-alvo e em seguida delimitar a área pesquisada. Ao estabelecer a área, coletar dados, verificar se existem sinais já criados, observar se estes seguem os padrões linguísticos e se o sinal expressa o devido conceito. Ao observar alguns bancos de dados, podemos perceber a organização aleatória de sinais, ou seja, que não expressam o devido conceito.
Para criar novos sinais é necessário: 
a) Considerar as características culturais e visuais da língua.
b) Ter profissionais capacitados, linguistas surdos e ouvintes.
c) Validar o termo e ser aceito pela comunidade surda.
A criação de termos científicos e técnicos deve ser realizada por profissionais surdos e ouvintes, linguistas, levando em consideração as características culturais e visuais da Libras, assim como seus parâmetros. Os sinais precisam refletir o conceito e, para isso, devem ser validados e aceitos pela comunidade surda.
AULA 7
Cultura surda: Um espaço simbólico de identificação
Quando falamos em cultura surda, lembramos das lutas da comunidade surda no decorrer da história, a busca pelo reconhecimento linguístico e o direito de ser surdo. Sendo assim, a cultura surda torna-se um espaço de significação, de construção identitária. Mas, quando o surdo não participa da cultura surda, não constrói a identidade surda e reproduz o modelo da cultura majoritária, ou seja, da cultura ouvinte, seguindo as recomendações clínicas, não constrói uma identidade saudável e pode acreditar que a surdez é algo ruim, sentindo vergonha de ser surdo. Temos diferentes identidades surdas, algo que foi proposto por Perlin (1998), pois as experiências variam e os surdos constroem sua identidade de acordo com suas vivências.
Considerando a cultura surda como espaço de identificação, podemos ver nos estudos culturais surdos a valorização da cultura, da língua e da identidade surda. Dessa forma e com a ajuda das novas tecnologias, a cultura surda tem sido produzida, divulgada e reconhecida, principalmente pela comunidade surda.
Hall (2015) salienta que o sujeito pós-moderno é composto por várias identidades, diferente do sujeito do iluminismo que tinha uma concepção individualista. Já o sujeito sociológico tem a sua identidade formada por meio da interação social. O sujeito possui a sua essência, mas sua formação e transformação acontece por meio das relações pessoais e culturais. Daí a necessidade do outro para a formação do eu.
São rápidas e constantes as mudanças no mundo globalizado e isso acarreta inquietações, saber como manter as conquistas obtidas com muito esforço. A instantaneidade da sociedade contemporânea traz insegurança para os grupos que lutam por espaço e reconhecimento. Ao mesmo tempo que se celebra uma vitória, a mesma pode se esvair em instantes.
Conforme Hall e Bauman, a pós-modernidade apresenta outras realidades culturais e uma identidadeque se forma e transforma e nunca está concluída. A globalização tem seu impacto na identidade cultural, pois as sociedades atuais sofrem rápidas e constantes mudanças. O ser humano é o responsável em construir sua identidade sendo influenciado pelo meio e pelas relações. Diante da realidade pós-moderna, as pessoas se preocupam em firmar sua identidade, evitando que ela se perca.
O impacto global interfere na cultura e na formação da identidade como salientado anteriormente por Hall. Identidades nacionais estão sendo desintegradas enquanto as locais e minoritárias são reforçadas, surgindo também novas identidades híbridas. As identidades caracterizam uma pessoa, reafirmam um grupo, trazem a ideia de pertencimento, por isso a resistência contra a desfragmentação das identidades. Bauman fala sobre a ambiguidade da identidade, comparando-a com uma faca de dois gumes.
Diz, ainda, que se assemelha a um grito de guerra usado numa luta defensiva, o ameaçado, grupo menor e mais fraco, contra o ameaçador, grupo maior e com mais recursos. Trava-se uma batalha e é evidente que o grupo menor está em desvantagem e, muitas vezes, não consegue vencê-la. A inserção do sujeito em uma cultura contribui para que haja a construção de sua identidade. Às vezes, muitos surdos não participam da cultura surda e não constroem uma identidade surda saudável como salientado por Strobel.
Os surdos também nascem em meio à cultura de ouvintes. O seu primeiro espaço de interação, a família, nem sempre propicia um ambiente linguístico favorável, tendo em vista que a maioria nasce em lares de ouvintes. Então, como acontece o processo de construção cultural para os surdos? Os mitos existentes na sociedade e a concepção da surdez como deficiência não contribuem em nada para a inserção dos surdos em sua cultura. Para que as crianças surdas construam sua identidade, é preciso que tenham contato com surdos adultos, assim poderão se identificar, aprender a língua de sinais e construir sua identidade. 
Assim, podemos concluir que a cultura surda é um espaço simbólico de significação, de lutas e de construção de identidade. Valorizar a cultura surda significa aceitar o surdo do jeito que é, sem querer transformá-lo em um ouvinte. Compreender a cultura surda é um importante passo para reconhecer a surdez como diferença.
Por que a cultura é considerada um espaço simbólico de identificação?
Quando o ser humano nasce, é inserido em uma cultura, cresce se identificando com os valores e crenças, interagindo por meio de uma língua em comum. Na interação com o outro, formamos a nossa identidade, reconhecendo-nos como participantes de um grupo, de uma comunidade.
AULA 8
Valorização das línguas no contato linguístico
Devido ao contato com a língua portuguesa, vários sinais são influenciados por esse idioma, como, por exemplo, os sinais soletrados e aqueles que iniciam com a mesma configuração de mão que representa a primeira letra da palavra em português. O alfabeto manual é a representação do alfabeto da língua portuguesa e sua função é a de empréstimo linguístico, como soletrar nomes próprios e introduzir palavras na Libras que não possuam sinal correspondente, contribuindo, assim, com a formação de novos sinais e a expansão lexical. 
Com o Decreto nº 5.626/2005, institui-se o ensino obrigatório de Libras nas universidades, nos cursos de Pedagogia, licenciaturas e Fonoaudiologia, porém um período curto de aulas só possibilita ao estudante ter noções da Libras e da realidade cultural dos surdos. A proporção de ensino não é a mesma para as duas línguas.
O ideal seria se a Libras fosse uma disciplina na escola, assim como o português. Os surdos a estudaria como L1, e os ouvintes, como L2. Nesse sentido, o português seria a L2 dos surdos e a L1 dos ouvintes. Acreditamos que assim todos teriam possibilidade de aprender as duas línguas e se tornar bilíngue de fato.
A pessoa pode adquirir duas línguas simultaneamente na infância e, posteriormente, preferir uma delas. Isso acontece principalmente com as minorias, porque a sociedade ao redor usa uma língua diferente da família. Os falantes de uma língua de herança, que são considerados bilíngues, apresentam diferentes níveis de desempenho linguístico.
A língua de maior prestígio social ocupa um lugar de destaque na sociedade e é amplamente usada. No Brasil, a língua oficial é o português, ocupando a centralidade nacional, mas não é a única. Tentou-se instituir o monolinguíssimo, mas é preciso levar em conta que o nosso país é plurilíngue e muitos idiomas são falados por minorias. Essa diversidade compõe a beleza da nação.
A hierarquia linguística promove desigualdade e interfere na formação do indivíduo bilíngue. Mesmo que a pessoa adquira as duas línguas simultaneamente, o contexto social intervém em seu desempenho linguístico:
Bilíngue balanceado: Fala-se com fluência as duas línguas. Há filhos ouvintes de pais surdos que dominam tanto a língua de sinais quanto a Língua Portuguesa, tornando-se até profissionais intérpretes. Geralmente cresce em meio à comunidade surda, recebendo os valores linguísticos e culturais, orgulhando-se de fazer parte do grupo.
Bilíngue desbalanceado: Uma língua se sobressai à outra. A criança ouvinte, filha de pais surdos, fica mais tempo exposta à língua oral, a língua de sinais se resume ao ambiente familiar. Muitas compreendem os pais, mas falam com eles em português e algumas têm dificuldade de conversar com os pais. Mesmo sendo a primeira a ser adquirida, língua de sinais se torna secundária, ficando em segundo plano.
AULA 9 
Conceitos de identidade social cultural e linguística.
"A construção de identidade vale-se da matéria-prima fornecida pela história, geografia, biologia, por instituições produtivas e reprodutivas, pela memória coletiva e por fantasias pessoais, pelos aparatos de poder e revelações de cunho religioso. Porém, todos esses materiais são processados pelos indivíduos, grupos sociais e sociedades, que reorganizam seu significado em função de tendências sociais e projetos culturais enraizados em sua estrutura social, bem como em sua visão de tempo/espaço.
Identidade legitimadora
É introduzida por instituições dominantes com o objetivo de ampliar sua dominação.
Identidade de resistência
É formada por pessoas estigmatizadas, a condição de desvalorização faz com que se estabeleçam barreiras de resistência e sobrevivência.
Identidade de projeto
Está relacionada à construção de uma nova identidade redefinindo a posição na sociedade. As identidades de resistência podem se transformar em projetos e, até mesmo, tornar-se dominantes, transformando-se em identidades legitimadoras.	
Esses sujeitos são os indivíduos que fazem história, os atores sociais que se empenham em um projeto de vida, tendo como base uma identidade oprimida que prima para a transformação social. As pessoas se unem, de acordo com sua identificação e com o objetivo de se libertar, de sair da condição desfavorável e tornar-se autores de sua história.
Identidade cultural
A cultura é discutida de acordo com as diferenças individuais, de grupos ou categorias. As identidades estão vinculadas ao fato de pertencer a uma cultura e estas podem ser étnicas, raciais, linguísticas, religiosas e nacionais. As culturas nacionais representam a nossa principal fonte cultural, nos identificamos como oriundos de uma nação e absorvemos os valores repassados nessa cultura. "As pessoas não são apenas cidadãos legais de uma nação; elas participam da ideia da nação tal como representada em sua cultura nacional" (HALL, 2015, p. 30).
A cultura nacional tenta unificar as pessoas impondo uma hegemonia cultural, mas a maioria das nações modernas são compostas por diferentes grupos. Com a colonização, tentou-se impor uma única cultura. É a relação de poder que a cultura representa, quem domina impõe sua cultura e língua ao grupo dominado.
O primeiro espaço de interação do ser humano é a família. É nesse ambiente que há o primeiro contato com a língua e a cultura. Grupos étnicos preservam sua língua no âmbito familiar, reforçandosua identidade linguística, com o intuito de sobreviver à supremacia social. A língua de herança se estabelece nas minorias, e o desejo de preservação faz com que os grupos se organizem com intuito de preservação cultural e linguística.
A identidade linguística é estabelecida na relação com o outro ao falar o mesmo idioma, tendo em vista que a língua não é uma ação individual e sim social. A língua é viva. Um exemplo disso são variações regionais e os sotaques dentro de uma mesma língua. Essa dinamicidade linguística demonstra a beleza nas interações. Valorizar uma região mais do que outra em seu modo de falar, é uma tentativa de hierarquização. Além das variações regionais, temos também outras línguas faladas em um mesmo país. A língua não é uma abstração, é uma realidade concreta, não é uma idealização, mas algo com significação para quem faz uso dela. Conceber uma única identidade linguística nacional é um ato de exclusão social, pois estabelece-se um padrão e os que fogem a ele são discriminados, rejeitados, considerados alguém sem cultura.
Não temos uma única cultura e apenas uma língua, mas, várias. Valorizar essa multiplicidade significa apreciar e respeitar a diversidade humana. Passamos a vida buscando a nossa identidade, procuramos nos identificar com grupos e desejamos pertencer a eles. Os surdos representam uma minoria linguística e cultural que sempre lutaram em defesa de sua diferença, mas ainda continuam na defensiva, com medo de perder o que foi conquistado com muita dificuldade na sociedade fluida. Por esse motivo, há uma intensificação de movimentos em prol da identidade surda. 
AULA 10
Como são formadas as identidades surdas?
As identidades são construídas socialmente. Os surdos estão inseridos em um contexto, e as relações estabelecidas formam a sua identidade. A percepção de si mesmo e das pessoas que o cercam é um fator importante no desenvolvimento identitário.
Os surdos têm diferentes origens. Há aqueles que nascem em famílias de surdos enquanto outros nascem em famílias de ouvintes. As crianças, cujos pais também são surdos, já nascem em um ambiente que favorece a sua formação identitária. Não há choque cultural, e a língua falada nessa família será a mesma, assim como as experiências visuais. As crianças surdas que nascem em famílias ouvintes não encontram no lar um ambiente linguístico favorável. Há um choque cultural e, na maioria das vezes, os pais não conhecem a cultura surda e seguem orientações estereotipadas da surdez. Por esse motivo, não levam seus filhos até a comunidade surda e buscam corrigir a deficiência do filho por meio da reabilitação. Muitas crianças crescem sem contato com a língua de sinais e sem desenvolver bem a oralidade, tendo dificuldade em se comunicar com a família e, principalmente, com a sociedade. Considerando essas questões, como os pais poderiam contribuir para o processo de formação de seus filhos?
Identidade surda: A partir da identidade Surda, também chamada de identidade política, as demais são definidas. É uma identidade fortemente marcada pela política, é constituída por Surdos que participam da comunidade e da cultura Surda. O termo Surdo (com s maiúsculo) é usado para designar esses Surdos que se veem como sujeitos ativos e a surdez é marcada pela diferença.
Identidades surdas híbridas: As identidades surdas híbridas são representadas por pessoas que nasceram ouvintes e, com o tempo, por motivos de doenças, acidentes etc., ficaram surdas. Dependendo da idade, podem usar a língua oral e a língua de sinais. Identificam-se e participam da comunidade surda.
Identidades surdas flutuantes: As identidades surdas flutuantes são constituídas por surdos que vivem a hegemonia dos ouvintes, ou seja, concebem a surdez com preconceito. Seguem os modelos ouvintes e não participam da comunidade surda. Rejeitam a língua de sinais e se comunicam por meio da oralização.
Identidades surdas embaraçadas: Nas identidades surdas embaraçadas, estão as pessoas surdas que são vistas como incapacitadas, numa representação estereotipada da surdez. Não fazem parte da identidade surda nem da identidade ouvinte, vivem isoladas e não conseguem se comunicar com nenhum dos dois grupos. É uma concepção de deficiência, de incapacidade, sem acesso a nenhuma língua.
Identidades surdas de transição: As identidades surdas de transição representam os surdos que transitam de uma identidade para outra. Nascem em famílias ouvintes e crescem nesse meio, sem contato com outros surdos. Quando se encontram com a comunidade surda, há uma identificação e fazem essa transição. Isso acontece com muitos surdos, tendo em vista que a maioria nasce em lares ouvintes.
Identidades surdas de diásporas: Identidades surdas de diáspora consistem na migração de uma comunidade surda para outra, ou de um estado para outro ou, até mesmo, para outro país. Representam a origem do surdo, por exemplo, surdo brasileiro, surdo paulista etc.
Identidades intermediárias: Identidades intermediárias são representadas por pessoas que têm perda auditiva, mas levam uma vida de ouvintes, não captam a mensagem pela experiência visual, por isso não representam uma identidade surda.
Quando os surdos são descritos como sujeitos visuais, o foco se dá em sua maneira de ser e perceber o mundo. Retira-se a centralidade do não ouvir para o ver, a visão compensa e substitui a audição.
A experiência visual surda dá origem a uma língua e uma cultura; sendo assim, "a surdez é inegavelmente uma experiência visual" (COELHO, 2011, p. 282).
A experiência visual dos surdos difere dos ouvintes, pois vivem em mundo sem som, percebendo tudo ao seu redor por meio do olhar. Os surdos não ignoram o som, sabem de sua existência, mas sua interação e organização cultural se dá por meio da visualidade que "contribui, de maneira fundamental, para a construção de sentidos e significados". (CAMPELLO, 2008, p. 205).

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