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DOCÊNCIA EM SAÚDE TURISMO E MEIO AMBIENTE 1 Copyright © Portal Educação 2012 – Portal Educação Todos os direitos reservados R: Sete de setembro, 1686 – Centro – CEP: 79002-130 Telematrículas e Teleatendimento: 0800 707 4520 Internacional: +55 (67) 3303-4520 atendimento@portaleducacao.com.br – Campo Grande-MS Endereço Internet: http://www.portaleducacao.com.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - Brasil Triagem Organização LTDA ME Bibliotecário responsável: Rodrigo Pereira CRB 1/2167 Portal Educação P842t Turismo e meio ambiente / Portal Educação. - Campo Grande: Portal Educação, 2012. 160p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-8241-334-0 1. Turismo. 2. Meio ambiente. I. Portal Educação. II. Título. CDD 338.4791 2 SUMÁRIO 1 HISTÓRICO DA ATIVIDADE TURÍSTICA ....................................................................................... 5 2 CONCEITOS DE TURISMO ........................................................................................................... 12 2.1 O TURISTA ............................................................................................................................... 15 2.2 DEMANDA TURÍSTICA ............................................................................................................ 19 2.3 OFERTA ................................................................................................................................... 21 3 PRODUTO TURÍSTICO ................................................................................................................... 23 3.1 SERVIÇOS TURÍSTICOS ......................................................................................................... 29 3.1.1 Hotelaria ................................................................................................................................... 29 3.1.2 Alimentos e Bebidas ................................................................................................................. 37 3.1.3 Transporte ................................................................................................................................ 41 3.1.4 Agência de Viagens .................................................................................................................. 48 4 VOCABULÁRIO TURÍSTICO ......................................................................................................... 54 5 SEGMENTAÇÃO DE MERCADO ................................................................................................... 56 6 TIPOS DE TURISMO ...................................................................................................................... 62 6.1 TURISMO DE NEGÓCIOS ....................................................................................................... 62 6.2 TURISMO DE EVENTOS ......................................................................................................... 64 6.3 TURISMO RELIGIOSO ............................................................................................................ 69 6.4 TURISMO RURAL .................................................................................................................... 71 6.5 TURISMO SINGLE ................................................................................................................... 72 6.6 ECOTURISMO ......................................................................................................................... 74 6.7 TURISMO CULTURAL ............................................................................................................. 78 3 6.8 TURISMO PARA TERCEIRA IDADE ........................................................................................ 81 6.9 TURISMO DE COMPRAS ........................................................................................................ 85 7 PRINCIPAIS ÓRGÃOS BRASILEIROS DE TURISMO .................................................................. 88 7.1 MINISTÉRIO DO TURISMO ..................................................................................................... 88 7.2 EMBRATUR ............................................................................................................................. 90 8 TURISMO E ECONOMIA ................................................................................................................ 92 9 PLANEJAMENTO TURÍSTICO ...................................................................................................... 95 9.1 COCEITOS BÁSICOS DO PLANEJAMENTO ......................................................................... 95 9.2 PROCESSOS DO PLANEJAMENTO ...................................................................................... 96 10 MEIO AMBIENTE ..................................................................................................................... 100 10.1 ECOLOGIA ............................................................................................................................. 103 10.2 BIOMAS ................................................................................................................................... 105 10.3 BIOMAS BRASILEIROS ......................................................................................................... 107 10.3.1 Floresta Amazônica ............................................................................................................... 108 10.3.2 Caatinga ................................................................................................................................. 108 10.3.3 Cerrado ................................................................................................................................... 110 10.3.4 Mata Atlântica ........................................................................................................................ 111 10.3.5 Pantanal .................................................................................................................................. 112 10.3.6 Zona dos Cocais .................................................................................................................... 112 10.3.7 Pampas .................................................................................................................................... 113 10.3.8 Mangues ................................................................................................................................. 114 10.3.9 Mata das Araucárias .............................................................................................................. 115 11 TURISMO E MEIO AMBIENTE ............................................................................................... 116 12 EDUCAÇÃO AMBIENTAL ...................................................................................................... 119 4 12.1 TIPOS DE EDUCAÇÃO .......................................................................................................... 123 13 A SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA ...................................................................................... 127 13.1 RELAÇÃO ENTRE TURISMO E SOCIEDADE ....................................................................... 127 13.2 IMPACTOS SOCIAIS, CULTURAIS E AMBIENTAIS .............................................................. 129 14 UNIDADES DE CONSERVAÇÃO........................................................................................... 133 14.1 PRÁTICAS DE TURISMO EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO .......................................... 141 15 DIREITO AMBIENTAL ............................................................................................................. 143 16 BASES TEÓRICAS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL .......................................... 147 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................... 151 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 154 5 1 HISTÓRICO DA ATIVIDADE TURÍSTICA Apesar de somente agora o turismo estar sendo reconhecido como atividade profissional, os aspectos que o caracterizam têm ocorrência há anos atrás. Desde os primórdios da civilização o homem já se deslocava por diversas partes, o que pode ser observado pelo costume dos deslocamentos e necessidade de hospedagens, devido às viagens por causa das guerras, às peregrinações, aos estudantes de classes favorecidas que viam nas viagens oportunidades de crescimento pessoal e melhor formação profissional. Ainda que estas ocorrências não tenham sido com intenção de lazer, e fossem feitas apenas por uma parcela mínima da sociedade, encontram-se aí ações que caracterizam ou que dão origem ao turismo – o deslocamento, o transporte, a hospedagem. O desenvolvimento do turismo deu-se por vários fatores, sendo os principais a transformação da sociedade e o desenvolvimento do capitalismo. Com o passar do tempo a sociedade adquiriu novos conhecimentos, expectativas e necessidades, e com o desenvolvimento do capitalismo foi possível o alcance de uma renda que até então circulava nas mãos de poucos. Para Gonçalves e Campos (1998, p.11) “o turismo como hoje conhecemos, relacionado a viagens realizadas para fins de lazer, ou seja, de utilização do tempo livre que dispomos, depois de atendidas as necessidades da vida e as obrigações de trabalho, é um fenômeno relativamente recente. Historicamente, sua organização e seu desenvolvimento estão ligados a importantes fenômenos sócio culturais, decorrentes da própria evolução do capitalismo moderno.” O capitalismo foi originado pela discordância de Lutero, um católico que não concordava com as atitudes da Igreja, a qual pregava que o homem deveria obter apenas o suficiente para o seu sustento diário, abstendo-se de trabalhar demasiadamente, acumular quantias e, principalmente de gastar com qualquer tipo de luxo. Sua revolta e desligamento da igreja deu origem ao Protestantismo, religião que buscava o encontro com Deus por meio do trabalho, acreditando ser a profissão um dom dado por ele. Assim, os adeptos do protestantismo dedicavam-se cada vez mais ao trabalho, pois viam em sua realização a vontade suprema do Senhor. A questão é que com esta atitude, iam crescendo em números, os negócios abertos por comerciantes, por empresários, as aberturas de fábricas e empresas, dando origem a vagas de trabalho a transações comerciais, originando o capitalismo moderno que conhecemos hoje. 6 A Revolução Industrial é um exemplo deste capitalismo, e uma das mais recentes lembranças de transformação social. Ocorrida durante o século XVIII, deu início ao desenvolvimento de tecnologias, transportes, e com o aumento da industrialização veio o aumento absoluto do número de oferta de empregos, profissionais liberais e comerciantes. Isso ocasionou a migração de muitos camponeses para a cidade, transformando cada vez mais rápido o cenário urbano. Este fato transformou a sociedade não somente quanto às condições econômicas, políticas e tecnológicas, mas principalmente as questões culturais a partir de novos elementos que foram introduzidos na sociedade. Por exemplo, a forma de se vestir, as ambições materiais e até mesmo maior valorização da viagem como lazer e saúde. Durante a Revolução Industrial muito se valorizou o trabalho. Nesta época surgiu a oportunidade de emprego para muitos que antes não a possuíam, o que contribuiu para que a maior parte da sociedade ganhasse dinheiro e melhorasse sua qualidade de vida. No entanto trabalhava-se em média 15 horas por dia, 7 dias por semana, entre adultos e crianças. Na maioria das vezes o tempo livre que o indivíduo possuía era insuficiente até mesmo para a recuperação física. Figura 1: Ilustração do processo de trabalho durante a Revolução Industrial1 No filme clássico “Tempos Modernos”, Charles Chaplin faz uma crítica à época das indústrias onde o homem estava condicionado ao trabalho diário mecânico, como mostra a figura 2, sátira demonstrando que o indivíduo era engolido pelas máquinas. 1 Fonte: <http://www.miriamsalles.info/cndvirtual2004/revindus/>. 7 Figura 2: Chaplin no filme “Tempos Modernos”2 A partir de 1919, aparece, em alguns países, principalmente nos mais desenvolvidos, o trabalho diário de 8 horas por 5 dias durante a semana. Na terceira década deste mesmo século, inicia-se uma outra transformação: as férias pagas com uma disponibilidade de tempo ainda desconhecida para muitos milhões de trabalhadores3. Apesar do ócio4 ser repudiado e visto como algo negativo, pois representa uma sociedade que não produz, nesta época muitos já haviam se beneficiado economicamente e vivia-se um momento em que a necessidade de descanso tomava grandes proporções sociais. Trabalhar significava um desejo unânime na sociedade e estava totalmente ligado à aquisição de bens materiais e valores ligados aos mesmos, tanto que os jovens cresciam com esta mesma concepção colocada por seus pais. Porém, uma vez este desejo atingido, os olhares voltam-se para outro lado. Atualmente, por exemplo, a maioria das pessoas já possui satisfação material o que faz com que as necessidades psicológicas adquiram seu lugar de destaque na mente do indivíduo. As pessoas passaram a perceber que o acúmulo de dinheiro não traz o aumento de bem estar e que não adianta se ter dinheiro se não sobra tempo para a família, amigos, dentre outras atividades de livre escolha. 2 Fonte: <http://www.webcine.com.br/filmessc/modernti.htm>. 3 Waichman (1997, p.34) 4 Tempo livre 8 De acordo com a psicologia moderna, o trabalho atualmente possui grande espaço na nossa vida social, pois além de assegurar qualidade de vida material, engloba também a auto- estima, a sensação de utilidade, a confiança pessoal e satisfação. No entanto, sabe-se que somente o trabalho não tem a capacidade de proporcionar todos esses fatores ao ser humano. Para Krippendorf (2001, p.106) apesar dos progressos advindos com o trabalho na era da indústria não se pode ignorar as inconveniências da industrialização, as quais, são citadas a seguir: Muitos são aqueles que se sentem cada vez menos ligados ao trabalho, uma vez que este não explora os recursos do indivíduo e sim das máquinas; Percebeu-se que embora com a redução do tempo de trabalho e aumento de tempo livre e até mesmo salarial, nem por isso a sociedade parece estar melhor; A rigidez dos horários de entrada e saída é de certa forma um fator condicionante do indivíduo, deixando-o livre de escolhas; Neste mundo de trabalho tecnicista e especializado, é comum a manifestação de sentimentos de estresse cada vez mais crescentes em razão da sobrecarga; Durante o tempo livre também encontram-se problemas, principalmente ligados ao tédio, e desde já percebe-se um aumento no consumo de remédios por motivos de alto estresse; Apesar de muitos terem melhorado de vida, continua a existênciade muitos desempregados sem direitos reconhecidos. O fato é que a redução do tempo de jornada obrigatório aos poucos deixava espaço para uma nova vida após o trabalho, algo que até então não existia para esta sociedade. No entanto ressalta-se que o tempo que sobra após o trabalho tecnicamente não corresponde ao tempo livre. Ou seja, neste resíduo de tempo o indivíduo tem outras obrigações que se dividem entre os deveres familiares, religiosos, escolares, e demais trâmites sociais, e isso na concepção de muitos autores seria o que se denomina de “tempo semi-livre”. Já o lazer propriamente dito, abrange todas as ocupações às quais o indivíduo pode se dedicar, após se desobrigar das suas tarefas familiares, profissionais e sociais. A condição de liberdade de optar pelo que fazer seria inerente ao lazer5. 5 Dumazedier citado por Paiva (1995, p.35) 9 Assim entende-se que o real tempo livre é aquele em que o cidadão está livre de qualquer tipo de obrigação, podendo utilizá-lo como bem entender e da forma que melhor lhe convier. Para Dumazedier6, considerado o pai da sociologia empírica do lazer, o lazer deu origem a um movimento social que começa a sacudir e modificar não apenas as estruturas da sociedade, mas, de modo mais radical ainda, as orientações da própria vida do indivíduo. Pode-se dizer então que daí surge o que chamamos hoje de demanda turística, ou seja, pessoas dispostas a pagar por lazer em seu tempo livre. É durante as férias, feriados prolongados e até mesmo finais de semana que muitos aproveitam para se recuperar do cansaço, seja físico ou mental, ocasionado pelas obrigações e, passam a ver as viagens como recompensa por toda uma história de trabalho. De acordo com Krippendorf (2001, p.119): “As pessoas gastam cada vez mais dinheiro no lazer, cujo orçamento cresce numa velocidade superior a de todas as outras despesas de consumo. As viagens e as férias chegam a ocupar o primeiro lugar no hit-parade das despesas. (...). As tentações são grandes. A indústria do lazer produz bens de consumo em abundância, todos muito sedutores.” Desta forma surge em expansão a atividade turística, caracterizando todos os desejos que a sociedade busca realizar em seu tempo livre. O turismo cresceu de forma muito rápida e obteve a contribuição de muitos acontecimentos histórico-sociais para o seu desenvolvimento e sua estabilização na sociedade moderna. Alguns autores preferem dividir a atividade turística em estágios, como é o caso de Jenkins e Lickorish (2000). Para estes, os quatro estágios do turismo são o período pré-histórico; transporte; período entre guerras e a decolagem do turismo, estágios estes que serão, de acordo com a idéia dos respectivos autores, explicados a seguir: 1°) Período pré-histórico neste período ressaltam a época da era medieval e o início do século XVII, quando os primeiros sinais do crescimento industrial começaram a afetar o modo de vida estabelecido durante os séculos. O aumento gradual da riqueza, a extensão das classes de comerciantes e profissionais, os efeitos da Reforma e a secularização da educação, estimularam o interesse por outros países e a aceitação da viagem em si como um elemento educacional. 6 Dumazedier em sua obra Sociologia empírica do lazer, 1999. 10 Percebe-se que nesta época o turismo ainda não tinha a conotação que possui atualmente, mas que como já mencionado, as ações decorrentes contribuíram para fomentar a atividade que hoje representa. 2°) Transporte este estágio compreende a época em que os trens e navios a vapor transformaram as oportunidades de viagens. O rápido crescimento da população e o aumento da riqueza criaram um novo e enorme mercado em um curto período. Inventou-se a viagem em massa e, com ela a introdução da Indústria de Viagens constituintes de hotéis, agências e operadoras, pacotes turísticos e inibidas atuações de marketing. Os autores acrescentam que nesse estágio, embora o transporte fosse um fator importante no crescimento, havia outros elementos essenciais. É visível o aparecimento de equipamentos e serviços que caracterizam o turismo, e já denota a importância que a sociedade passava a dar para tal atividade. 3°) Período entre guerras os respectivos autores definem este estágio como um intervalo, que é representado pelo período entre 1918 (fim da Primeira Guerra) e 1939 (início da Segunda Guerra). A era próspera das ferrovias e do vapor foi interrompida abruptamente pela 1 ª Guerra Mundial em 1914. Apesar disso existe um fator favorável neste tempo, e foi o impulso que a guerra deu a algumas formas de desenvolvimento técnico, como por exemplo, a expansão das rodovias (favorecendo a comercialização dos automóveis) um considerável investimento no setor da aviação. Nesta época, com o aumento das férias pagas, desenvolveu-se o turismo social, foram valorizadas as atividades de lazer e recreação, houve grande difusão de albergues, fretamentos de ônibus para atividades de lazer e viagens ao exterior. Percebe-se que este crescimento, apesar de ainda tímido, era cada vez maior, porém esta expansão foi retardada pela Depressão de 1930 e mais uma vez interrompida pela 2ª Grande Guerra, de 1939 a 1945. 40) A decolagem do turismo a decolagem do turismo representa o quarto estágio que vem desde 1945 até o período em que vivemos atualmente. A partir desse momento pode- se perceber o seu desenvolvimento em rápida escala. O resultado do desenvolvimento tecnológico, a acumulação e a disposição de riquezas devido ao trabalho, férias, ocasionaram a valorização e a adesão das viagens como forma de lazer. Nesta época ocorreram também melhorias nas rodovias, na alfabetização, aumento das viagens nos países industrializados, a superação da indústria e do comércio sobre a agricultura, no sentido de força econômica, 11 desenvolvimento das ferrovias e principalmente a mudança no estilo de vida social. Tudo isso deu origem às viagens em massa e a partir de então o turismo reinicia sua evolução, porém sem interrupções. É importante colocar que a viagem organizada teve como responsável principal Thomas Cook, que deu início a sua participação na época do desenvolvimento das ferrovias. O primeiro objetivo das ferrovias era oferecer carregamento de cargas e posteriormente servia como transporte para os viajantes de mala postal. Com o seu desenvolvimento as ferrovias passaram a transportar passageiros e foi então que em 1841 Thomas Cook lançou o primeiro pacote de turismo. A contribuição excepcional de Cook foi a organização da viagem completa (transporte, acomodação, satisfação no destino). Isso é o que caracteriza atualmente o pacote de viagens, o verdadeiro produto do turismo. Thomas e sua empresa expandiram de maneira rápida e com essa atitude transformaram o sentido das viagens, dando a elas maior conforto, segurança e principalmente conotação de algo prazeroso. Desta forma, acredita-se que mais que qualquer outro empresário, Thomas Cook contribuiu para transformar a imagem das viagens de turismo. A partir de então, foram surgindo cada vez mais os resorts, estabelecimentos hoteleiros próximos às estações onde desciam os passageiros, restaurantes e demais serviços relacionados. Ressalta-se que neste momento os estabelecimentos começaram a buscar cada vez mais clientela para o aumento de seus lucros e com isso deu-se início as práticas de marketing, um fator essencial que compõe a divulgação do turismo moderno no mercado consumidor. Desde esta época a expansão da atividade tornou-se cada vez mais próspera; com o aumento da oferta de serviços relacionados ao turismo e com as novas necessidades da sociedade juntamente com o desenvolvimento tecnológico, o turismo ganhou espaço em todasas áreas sociais e econômicas, estabelecendo-se como uma das maiores atividades do mundo. 12 2 CONCEITOS DE TURISMO Ainda existem grandes dificuldades por parte dos estudiosos quanto a se encontrar um consenso na definição do turismo. Isso se deve ao seu recente desenvolvimento e dificuldades de estipulação dos limites abrangentes de sua área. Na verdade este é um dos grandes fatores que dificultam seu conceito, pois a atividade turística não consiste em uma área específica, mas abarca demais setores sociais: meio ambiente, economia, sociologia, etc. É considerado uma atividade multifacetada e devido a isso ainda se estuda uma forma correta de definição abrangente, que possa transmitir a real noção do significado de Turismo. Embora ainda não se tenha uma definição clara, muitos autores apresentam alguns conceitos, quanto a sua acepção e origem, os quais serão expostos a seguir: Para Pires (2001, p.5) a origem do turismo é “fruto de grandes transformações sócio- econômicas, tecnológicas e culturais que se iniciaram no final do século XVIII. A revolução nos transportes, a complexidade social em todas as suas variáveis, ocorrida com o fortalecimento das cidades e o prestígio da economia urbana em expansão além da relativa paz, fizeram a base do turismo moderno”. Burkart e Medlik (citado por Pires, 2001, p.5) chegam a reconhecer que “os veículos, para muitos passageiros, são umas das formas que diferem, estruturalmente, o mundo moderno dos tempos antigos, pois não havia a idéia de extensão, nem volume, nas viagens pré-evolução industrial”. Igualmente muitos estudiosos entendem o desenvolvimento dos transportes como um importante marco no início do desenvolvimento do turismo, uma vez que a ausência de transportes impediria o fluxo de deslocamento que caracteriza o turismo atual. Sempre que se pensa em turismo associa-se tal termo às viagens propriamente ditas, ao deslocamento de pessoas de um determinado núcleo emissivo para um núcleo receptivo, e apesar de a viagem representar concretamente o turismo, este, é muito mais do que isso. O turismo atinge diversos setores da sociedade; necessita diretamente de planejadores, operadores de turismo, rede de hospedagem e alimentação, atrativos, o próprio transporte e profissionais capazes de tornar a viagem do turista mais tranqüila e segura. Atinge também, mesmo que indiretamente, os produtores da matéria prima que são transformadas em alimentos para o turista em bares e restaurantes, em equipamentos turísticos, utensílios e souvenirs. Percebe-se então que a cadeia produtiva gerada pelo turismo é muito extensa, alcançando 13 desde o produtor rural (responsável pela produção da alimentação consumida pela sociedade e logicamente pelo turista em estabelecimentos de alimentação) até o grande empresário do setor. Da mesma forma, nem toda a viagem possui um caráter turístico, pois existem parâmetros estabelecidos para que seja considerado que determinado indivíduo esteja fazendo turismo. A atividade turística tal qual conhecemos hoje é totalmente recente, sendo que o primeiro curso de turismo no Brasil iniciou-se em por volta de 1970. Com isso as pesquisas, a formação profissional, a regulamentação da profissão e até mesmo o entendimento da sociedade sobre esta área, ainda acontece de forma lenta e gradativa, apesar de já se perceberem grandes vitórias no seu campo de atuação. Tudo isso contribui para que se encontre em muitas obras literárias diferentes pontos de divergência, principalmente quanto à definição de turismo. Embora ocorram tais divergências, ressalta-se que as idéias possuem sentido semelhante. Outro fator que pode ocasionar tais diferenças é quanto a cada dia se descobrir um novo aspecto ligado ao turismo. Por exemplo, no início da atividade as definições mais comuns eram que o turismo significava uma atividade que compreendia o deslocamento de pessoas de um local para o outro. Posteriormente a atividade passou a ser considerada como fator econômico, uma vez que sua geração de renda é bastante considerável e acrescentou-se essa peculiaridade em muitas definições relacionadas aos próprios turistas. Mais tarde percebeu-se que o turismo abarca também o meio ambiente natural, a cultura, a sociedade como um todo, e isso possibilitou a percepção de sua complexidade e seriedade, pois se verificou também a ocorrência de impactos e a necessidade de um planejamento sustentável. Então, até o momento em que o turismo se estabeleça de forma mais sólida e que seja possível a visualização do espaço que realmente lhe pertence, será comum encontrar modificações quanto aos seus conceitos, como ocorre a seguir: Gonçalves e Campos (1998, p.10) definem turismo como uma atividade que envolve o deslocamento temporário de pessoas para outra região, país ou continente, visando à satisfação de necessidades, outras que não o exercício de uma função remunerada. Já para Eldin Abdelwahab7 a atividade turística é a “soma de operações de natureza econômica que estão diretamente relacionadas com a entrada, permanência e deslocamento de estrangeiros para dentro e fora de um país, cidade ou região”. Para Jenkins e Lickorish (2000, p.49) “o turismo é um movimento de pessoas e não uma simples indústria”. 7 Citado por Gonçalves e Campos (1998) em obra intitulada Introdução ao Turismo e Hotelaria. 14 Esses autores colocam que turismo tornou-se o termo universal que descreve o movimento de deslocamento humano para uma estada temporária em outro local, diferente de sua residência habitual. Lage e Milone (2000) expressam muito bem quando explanam que o turismo, no passado, era representado por muitos especialistas como viagens de mais de 50 milhas dos locais de residência além de exigir a permanência dos turistas por um período mínimo de 24 horas na localidade visitada. Juntamente com isso era extremamente importante que os turistas não viessem a exercer qualquer ocupação remunerada. De acordo com Andrade citado por Ignarra (2001, p.13) “Turismo é o conjunto de serviços que tem por objetivo o planejamento, a promoção e a execução de viagens, e os serviços de recepção, hospedagem e atendimento aos indivíduos e aos grupos, fora de suas residências habituais”. Atualmente estes conceitos são considerados por muitos estudiosos totalmente ultrapassados e torna-se difícil limitar a definição desta atividade, como já mencionado anteriormente. No entanto, a concepção dos fatores que envolvem o turismo, a sua expansão e relação com as modificações históricas e sociais envolvendo a cultura, meio ambiente e economia, podem significar um passo para a compreensão da complexidade desta atividade, da sua real importância e significância no cenário social. O turismo é uma atividade econômica, pois gera produção de bens e serviços; é uma atividade social, pois interfere consideravelmente nos hábitos e costumes do indivíduo, seja direta ou indiretamente; é uma atividade de lazer, já que foi por este aspecto que o turismo se desenvolveu; etc. Percebe-se então como se torna difícil definir e delimitar a atividade turística. É certo colocar que o turismo engloba vários fatores sem os quais poderia não ser satisfatório para a demanda existente. Aspectos como o sistema de comunicação, valores culturais e hábitos emergentes, surgimento de novos serviços e produtos, avanço tecnológico, a disponibilidade financeira de grande parte de indivíduos, disponibilidade de tempo, facilidade de deslocamento geográfico, tornam o turismo atual uma grande atividade em todos os aspectos que atinge, com estimativa de um crescimento ainda maior. Apesar da divergência entre várias definições, uma que está bem próxima da ocorrência do turismo atual é a definição de Torre8, que coloca que: “o turismo é um fenômenosocial que consiste no deslocamento voluntário e temporário de indivíduos ou grupos de pessoas 8 Citado por Ignarra em Fundamentos do Turismo (2001, p.13). 15 que, fundamentalmente por motivos de recreação, descanso, cultura ou saúde, saem de seu local de residência habitual para outro, no qual não exercem nenhuma atividade lucrativa nem remunerada, gerando múltiplas inter-relações de importância social, econômica e cultural.” Lage e Milone em sua excepcional obra denominada “Turismo: teoria e prática”, expõem brilhantemente que o turismo moderno não precisa ter um conceito absoluto, mas importa no conhecimento do mecanismo dinâmico que integra. Essa colocação nos permite a sincera reflexão de que mais do que estar presos a convencionais definições, o importante é a compreensão da atividade em si, observando suas diretrizes, necessidades, e buscando sempre a resolução para as possíveis ocorrências negativas. É importante salientar que o turismo não ocorreria se não tivesse a participação do turista, indivíduo responsável por todos os fenômenos ocorridos na atividade. Estas e demais considerações sobre a importância dos turistas serão abordadas a seguir. 2.1 O TURISTA Etimologicamente a palavra tour deriva do latim tornare e do grego tornos, significando uma volta ou círculo, ou seja, um movimento ao redor de um ponto central. Esse significado mudou no inglês moderno, passando a indicar o movimento em círculo de uma pessoa. O sufixo ismo é definido como ação ou processo, comportamento ou qualidade típicos; e o sufixo ista denota aquele que realiza determinada ação. A combinação da palavra tour e dos sufixos ismo e ista sugerem a ação de um movimento em círculo. Pode-se também argumentar que um círculo representa uma linha que partindo de um ponto retorna ao ponto inicial. Portanto, assim como um círculo, um tour representa uma viagem circular, ou seja, o ato de partir para posteriormente voltar ao ponto inicial, e quem empreende essa jornada poderia ser definido como turista, e assim o é9. O turista é o principal responsável pelo acontecimento da atividade turística, pois é dele que partem as ações que resultam no turismo. Ao certo não se sabe quando foi a primeira 9 Theobald (2001, p.31) 16 vez que o termo turista apareceu em um texto impresso. Smith indica que Samuel Pegge registrou o emprego de turista como uma nova palavra significando viajante, isso por volta de 1800; a “Sportin Magazine” da Inglaterra introduziu a palavra turismo em 1911; já Tufer afirma que o termo turista foi cunhado por Standhal no início do século XIX; Miczkowiski diz que a primeira definição de turistas aparece no “Dictionaire Universel du XIX siècle”, em 1976, definindo turistas como as pessoas que viajam por curiosidade e ócio; Kaul argumenta que, muito embora a palavra turista seja de origem comparativamente recente, os invasores eram comumente denominados turistas na esperança de que, algum dia, partissem10. Muitas vezes percebemos o conceito de turista e visitante sendo usado como sinônimo, no entanto, ambos têm definições diferentes. A origem desses conceitos inicia-se com a definição de viajante, pois como nos explica Jenkins e Lickorish (2000), o conceito de viajante se refere a qualquer pessoa que esteja viajando entre duas ou mais localidades diferentes, seja a nível nacional ou internacional, independente do motivo da viajem ou do meio de transporte utilizado, mesmo que esteja viajando a pé. Esses autores explicam que é feita uma distinção entre dois tipos de viajantes: visitantes e outros viajantes. Todos os tipos de viajantes ligados ao turismo são descritos como visitantes. Assim, o termo “visitante” representa o conceito básico de todo o sistema de estatísticas do turismo. Desta forma este termo será posteriormente dividido em duas categorias, sendo os turistas (visitantes que pernoitam no local visitado) e os visitantes de um dia ou excursionista (aqueles que permanecem menos de 24 horas no local visitado e que possuem as mesmas finalidades do turista). Sabe-se que o turismo constitui o deslocamento de pessoas de seu local de residência, motivados por qualquer razão, desde que não seja em busca de exercício profissional. Assim uma pessoa que reside em determinada cidade e visita outra freqüentemente por motivo de trabalho ou estudos não pode ser considerada um turista. No entanto um profissional que viaja esporadicamente para determinado local por motivos profissionais como reuniões, congressos, encontros de negócios, e usufrui todos os serviços turísticos como hospedagem, alimentação, transporte dentre outros, estará da mesma forma, apesar de sua motivação ser profissional, fazendo turismo. É interessante mencionar que em 1954 a Organização das Nações Unidas (ONU)11 adotou o conceito de turista como: “toda pessoa sem distinção de raça, sexo, língua e religião, que ingresse no território de uma localidade diversa daquela em que tem residência habitual e 10 Theobald (2001, p.31) 11 Citado por Ignarra (2001, p.25) 17 nele permaneça pelo prazo mínimo de 24 horas e máximo de 6 meses, no transcorrer de um período de 12 meses, com finalidade de turismo, recreio, esporte, saúde, motivos familiares, estudos peregrinações religiosas ou negócios, mas sem propósito de migração.” No entanto, nem sempre é preciso recorrer totalmente às definições técnicas de turista para identificá-lo. Sabendo-se apenas que o indivíduo é de outra localidade, está ali sem intenção de fixar residência ou emprego, utiliza e consome os serviços turísticos, está claramente mostrado que se trata de um turista. Para se deslocar e gastar suas economias o turista precisa estar motivado por algo, caso contrário tal fenômeno de deslocamento não ocorrerá. Um dos seus principais motivos é a busca pelo bem estar social, uma vez que procura satisfação no local visitado, sentimento que deve se mostrar diferente do que apresenta sua vida cotidiana, e embora este seja um objetivo comum aos turistas, cada um possui fator motivador particular, o qual variará de acordo com seu perfil, aspectos estes que determinarão os segmentos turísticos, que será explicado no módulo seguinte. Em geral seu perfil é de alguém que busca por momentos de descanso e prazer, pessoa ativa e bem disposta, possui certa curiosidade para com o local de destino, disponibilidade de tempo e de recursos financeiros (independente do custo da viagem). É importante colocar que o turista é o principal responsável pelos impactos que ocorrem na atividade turística, sejam eles quais forem. Devido a isso é importante que as pessoas sejam conscientes durante as viagens, tendo bom senso e respeito com os autóctones e com o lugar visitado, procurando estar atentos aos costumes com finalidade de não infringi-los e principalmente não depredar os monumentos e áreas naturais. São diversas as expectativas dos autóctones para com os turistas. Muitos deles os vêem como celebridades importantes, uma vez que sua economia depende do gasto empreendido pelos mesmos; fazem de tudo para agradá-los e não medem esforços para que permaneçam no local o maior tempo possível. Por outro lado, existem aquelas localidades que já sofreram demais com o desenvolvimento do turismo não organizado e por isso culpam os turistas pelos danos presentes. Algo que confirma isso é uma citação de Krippendorf (2001, p.67), sobre um texto grego relativo ao turismo em Creta. De acordo com o mencionado “os turistas são os inimigos mais perigosos que existem, porque eles nos são indispensáveis. Por diversas razões não podemos reserva-lhes a mesma sorte dos inimigos de antigamente, que simplesmentematávamos, mas podemos ficar mudos”. 18 Assim nem sempre a relação do turista com o autóctone é amigável, e isto certamente interfere na qualidade do turismo, não financeiramente em si, mas na qualidade da interação social, troca de experiências e convivência mútua; estas deveriam ser as expectativas de ambos os lados, porém, diversos fatores podem influenciar para que isto não se torne realidade. Um deles é o próprio sistema capitalista que se baseia apenas no consumo, assim os turistas estão ali para consumir e se divertir de acordo com o que podem pagar, deixando a sociedade local excluída das relações sociais de interação, “participando” somente no que diz respeito às questões econômicas. Disso tudo resulta o que Urry em sua obra intitulada “O olhar do turista” chama de bolha, colocando que tais pessoas se isolam da comunidade local, com pouco contato, buscando apenas usufruir os serviços e nada mais. É fato que muito pouco se sabe sobre o real interesse das populações de localidades turísticas; tem-se uma idéia geral e algumas pesquisas direcionadas, no entanto ainda escassas, para que se tenha a noção suficiente de como estas comunidades pensam sobre tal atividade e sobre as transformações que ocorreram em seus locais de habitação e em suas vidas, ao longo do desenvolvimento do turismo. Krippendorf (2001) coloca isso muito bem quando diz que a reflexão nos estudos turísticos está quase sempre centrada no turista ou no interesse da indústria que vive das viagens. Os estudos psicológicos e sociais estão quase sempre voltados para o turista, tendo seu comportamento e impressões analisados, pois estes representam o mercado. As enquetes chamadas de estudo de mercado são encomendadas e financiadas pela indústria do turismo e todas chegam sempre à mesma conclusão: a grande maioria dos turistas não escolhe o lugar de suas férias em função dos autóctones, mas em função do país. A paisagem e o clima agradáveis são critérios essenciais. Que haja seres humanos vivendo em tais locais é questão que se reveste de menor importância. Então por que se preocupar? De acordo com a reflexão de Krippendorf existe pouca preocupação com a população nativa, o que é um grande erro, pois ao contrário do que parece, o turismo só acontece com sucesso quando esta está de acordo e torna-se participativa, caso contrário, mesmo que não imediatamente, os problemas poderão tornar-se muito sérios e até mesmo irreversíveis do ponto de vista ambiental, econômico e cultural. Um fator agravante para este aspecto é o aumento do número de turistas, o qual tende a crescer consideravelmente nos próximos anos. A ocorrência dessa busca pelos serviços turísticos é o que chamamos de demanda turística. 19 2.2 DEMANDA TURÍSTICA Demanda, também apresentada como procura, significa a quantidade de bens e serviços que determinados consumidores desejam adquirir por um certo período de tempo. A quantidade demandada pelos consumidores irá depender de uma série de variáveis que irão influenciar na decisão final pela compra do produto. Assim a demanda turística é a procura por produtos e serviços que caracterizam a própria atividade turística. Para Lage e Milone (2000, p.26) a demanda se expressa em várias formas; como por exemplo, “pelo número de turistas que chegam a uma região, pelo número de bens e serviços que consomem, pelo número de pernoites em hotéis que utilizam, pelo número de passageiros aéreos que são transportados”. Em outras palavras significa a quantidade de vezes que tais produtos são procurados, ou seja, a demanda pelos mesmos. O motivo da crescente procura pelos produtos turísticos, dentre os mais considerados, além do visível aumento da renda em países desenvolvidos, é a facilidade ofertada pelos meios de comunicação, pois possibilitam sistemas de informação turística que operacionalizam de forma rápida a comercialização destes produtos12. Outros fatores que também interferem nesta procura são as facilidades tecnológicas, pois se tornou mais fácil ter acesso a informações e consultas por meio de Internet, como também a aquisição de reservas, a compras de produtos, a pacotes de viagem, etc, instigando o consumidor a buscar cada vez mais por tais produtos e serviços. Obviamente estes consumidores possuem restrições financeiras como também diversidade nos gostos pessoais, por isso mostram-se cautelosos na hora de empregar seus recursos. Por estes motivos tais consumidores ao priorizarem seus desejos de consumação, levam em conta uma série de alternativas, as quais são extremamente importantes na demanda turística: Preço – o consumidor sempre busca consumir o melhor pelo menor preço (quando possível). Este fator influencia diretamente a quantidade demandada, 12 Ignarra (2001) 20 pois quanto maior o valor de um produto ou serviço a demanda tende a diminuir, e quanto menor o valor de um produto ou serviço, logicamente a procura pelo mesmo tenderá a ser mais alta; Renda dos consumidores – este aspecto é bastante considerável na demanda, uma vez que um indivíduo com renda disponível poderá tornar seu desejo de consumo real; Propaganda – muitos dizem que “propaganda é a alma do negócio”; porque ela tem o poder de influenciar grande quantidade de consumidores em favor de um produto ou serviço. Muito mais do que isso, pode-se acrescentar que a propaganda estimula e muda comportamentos e hábitos de grupos sociais; Valor de outros bens substitutos – os bens substitutos interferem da seguinte forma: se um turista busca por viagem em um determinado destino com valor XY e se depara com a possibilidade de outro destino com atrativos e serviços semelhantes e preço inferior, este ficará tentado em optar pelo segundo. Ainda que não exatamente igual, a partir do momento em que o segundo destino satisfaça da mesma forma o consumidor, este, por sua vez fará a troca motivado por um preço mais barato; Valor dos bens complementares – os bens complementares também influenciam a decisão da clientela, pois por complementarem um ao outro, fica inviável a sua consumação separadamente. Um exemplo disso é uma viagem, onde a hospedagem tem um preço acessível, mas o transporte possui valor elevado. O segundo (transporte) neste caso pode ser considerado um bem complementar do primeiro (hospedagem) e seu alto preço influir na aquisição do primeiro bem. É importante lembrar que a demanda sempre influencia a oferta, determinando quantos bens e serviços uma empresa terá que disponibilizar no mercado. Por este motivo, uma empresa hoje procura além de identificar as necessidades e os desejos dos possíveis clientes, buscar informações relativas à quantidade da demanda pelo bem a ser oferecido. Ou seja, busca informações sobre a quantidade de clientes que tem o potencial de comprar tal bem. 21 2.3 OFERTA A oferta pode ser definida como a quantidade de bens e serviços que as empresas desejam vender por um dado preço em um dado período de tempo e dentro de determinadas condições mercadológicas. No turismo, a oferta se ressalta como todos os bens que podem ser colocados à disposição do mercado turístico. Neste mercado, os assentos de um avião, as unidades habitacionais de um hotel assim como seus leitos, os assentos nos restaurantes, pacotes turísticos, números de carros para aluguel, cabines de navios e de trem, dentre outros, são alguns exemplos de bens e serviços produzidos neste setor pelos ofertantes. Como a demanda, a oferta turística é dependente de uma gama de fatores, sendo os principais13: Preço – quanto maior puder ser o preço da venda de um bem ou serviço, mais interesses terão as empresas em sua produção, aumentando a quantidade de oferta; Preço dos fatores de produção – obviamente a oferta dependedos custos de fatores de produção. Se o preço de um desses fatores aumentar, o mesmo ocorrerá com os valores finais dos produtos ou serviços turísticos; Tecnologia – o avanço tecnológico poderá alterar a lucratividade do empreendimento, uma vez que pode tornar a produção mais atrativa por preços cada vez menores; Governo – aqui o setor público tem uma considerável importância na oferta de um produto, pois a partir do momento em que promove subsídios ou reduz impostos, propicia um estímulo para os produtores. Ignarra (2001, p. 47) leva o seu pensamento um pouco além nesta definição de oferta turística e apresenta a seguinte argumentação: “a oferta é constituída por um conjunto de elementos que conformam o produto turístico. São elementos que isoladamente possuem pouco valor turístico (ou nenhum) ou que possuem utilidade para outras atividades que não o turismo. 13 Lage e Milone (2000, p.27) 22 No entanto, agrupados compõem o Produto Turístico”. Para este mesmo autor “o turista tem por objetivo conhecer um atrativo, mas para que isso se torne viável ele possui a necessidade de consumir um outro conjunto de componentes”, que segundo ele são transportes, hospedagens, alimentação, informações turísticas, serviços públicos, dentre outros. Assim, de acordo com seu pensamento, a oferta turística é composta por um conjunto de elementos que pode ser dividido em alguns grupos, sendo eles os atrativos, os serviços públicos, a infra-estrutura básica, e com base em outros autores acrescentam-se também os serviços turísticos. Estes grupos e demais variáveis compõem o que chamamos de Produto Turístico. 23 3 PRODUTO TURÍSTICO O produto turístico é aquele oferecido por profissionais que vivem do turismo e que são exclusivamente voltados para os interesses do turista. Nota-se, porém que muitos destes produtos não são utilizados em sua totalidade somente por turistas, como, por exemplo, um hotel que apesar de estar disponível para os mesmos, poderá também ter seus serviços utilizados pela população local, como o salão de eventos, o restaurante, e a própria hospedagem, mas devido ao seu número maior de clientes ser o público viajante, é caracterizado como um produto turístico. Da mesma forma existem produtos que não se relacionam com a atividade turística, mas em um determinado momento passam a compreendê-la, como segue o exemplo de Lage e Milone (2000, p. 26), em que “um refrigerante consumido em um avião por um passageiro em férias passa a ser um bem turístico, diferindo de seu consumo por qualquer pessoa em um restaurante da cidade. Neste último caso, é demanda econômica pelo refrigerante, mas não demanda turística”. Conforme estes autores fica claro que há uma infinidade de produtos turísticos que participam das relações desenvolvidas para este setor. O produto turístico em si, na verdade se traduz pela prestação de serviços, assim a sua principal característica é a intangibilidade. Ou seja, não tem como comprá-lo e levar para casa e havendo algum problema trocar, não tem como experimentar antes, não tem como apalpar, etc. O produto turístico é consumido na hora em que a experiência do turista acontece, a produção e consumo são simultâneos, e não tem como devolver se algo der errado, uma vez consumido não se pode voltar atrás, ao contrário do bem físico em que o cliente pode experimentar, tocar, vender ou devolver. A única coisa que se leva do bem produzido pelo turismo são as experiências adquiridas durante as viagens. Estes aspectos são melhores entendidos analisando a comparação existente entre os bens físicos e os serviços, conforme mostrado na tabela seguinte14: 14 Ikeda e Oliveira (2000, p.319), tabela de GRONROOS, Christian. Gerenciamento e serviços, a competição por serviços na hora da verdade. Rio de Janeiro: Campus, 1995, p.38. 24 Bens físicos Serviços 1. Tangível 1. Intangível 2. Homogêneo 2. Heterogêneo 3. Produção e distribuição separadas do consumo 3. Produção, distribuição e consumo são processados simultaneamente 4. Uma coisa 4. Uma atividade ou processo 5. Valor principal produzido em fábricas 5. Valor principal produzido nas interações entre comprador e vendedor 6. Pode ser mantido em estoque 6. Não pode ser mantido em estoque 7. Clientes normalmente não participam do processo de produção 7. Clientes participam da produção 8. Transferência de propriedade 8. Não transfere propriedade Tabela 1: Comparação entre bens físicos e serviços / Fonte: Ikeda e Oliveira (2000, p.319) O produto turístico é composto por um conjunto de elementos que pode ser dividido em alguns grupos conforme a seguinte explicação:15 1) Serviços públicos: Os serviços públicos são indispensáveis, pois são a base da tranqüilidade e conforto em qualquer cidade. De nada adianta a localidade focalizar nos serviços turísticos e atrativos se não coloca à disposição do turista serviços básicos como os constantes na Tabela 2: Serviços públicos Tipos Transporte Táxi, ônibus, metrô, teleférico, bonde, trem, transporte aquático, aeroporto, estação ferroviária, estação rodoviária, estação portuária Serviços bancários Agências bancárias, caixas eletrônicos, serviços de câmbio 15 Ignarra (2001) 25 Serviços de saúde Farmácia, pronto socorro, hospitais Serviços de segurança Polícia turística, serviço salva-vidas Serviço de informação Postos de informações turísticas, sinalização turística, mapas e guias turísticos locais Serviços de comunicação Posto telefônico, orelhões, rádio e tv, disponibilidade de fax e Internet Serviço de apoio a automobilistas Postos de abastecimento, oficinas mecânicas, borracheiros, lojas de auto-peças Comércio turístico Lojas de conveniência, lojas de artesanato, lojas de produtos típicos Tabela 2: Dispõe sobre os serviços públicos necessários aos turistas. Fonte: Ignarra (2001, p.57) 2) Infra-estrutura básica A infra-estrutura básica é de fundamental importância para a viabilização do turismo. É uma infra-estrutura necessária primeiramente para a comunidade, no entanto, a sua ausência torna inviável o desenvolvimento da atividade turística local. Assim a Infra-estrutura básica é uma pré-condição para o desenvolvimento do turismo e alguns exemplos são dispostos na Tabela 3: Infra-estrutura básica Tipos Acessos Rodovias, ferrovias, fluvionais, terminais de passageiros Saneamento Água, coleta de lixo, tratamento de esgoto Energia Produção e distribuição de energia Comunicações Telefone, celular, antenas de captação de rádio e tv, correios Vias urbanas de circulação Implantação, conservação e sinalização Abastecimento de gás Distribuição Controle de poluição Ar, água, som Captação de recursos humanos Formação e aperfeiçoamento de mão de obra Tabela 3: Dispõe sobre a infra-estrutura básica. Fonte: Ignarra (2001, p.59) 26 3) Serviços turísticos Os serviços turísticos nada mais são do que aqueles desenvolvidos para satisfazer as necessidades dos próprios turistas. Neste grupo encontra-se a maior diversidade de bens turísticos, sem os quais seria muito difícil e até mesmo impossível o deslocamento de tais indivíduos. Estes são divididos em tipos e subtipos. A seguir, na Tabela 4, alguns exemplos deste grupo: Tipos de Serviços turísticos Subtipos Meios de hospedagem Hotéis, motéis, flats, pousadas, pensões, lodges, hospedarias, albergues da juventude, campings, acantonamentos,colônia de férias, imóveis de aluguel Alimentação Restaurantes, lanchonetes, sorveterias, docerias e café Agenciamento Agência emissiva e Agência receptiva Transportes turísticos Transporte aéreo, rodoviário, ferroviário, e aquático Locação de veículos e equipamentos Carros, motos, bicicletas, embarcações e equipamentos esportivos Eventos Centro de convenções, buffets, centros de férias, áreas de exposições e de rodeios, área de eventos culturais Entretenimentos Bares, boates, danceterias, clubes, parques de diversões, parques aquáticos, parques temáticos, boliches, bilhares, campos de golfe Infra-estrutura turística Guias, mapas, postos de informação, jornais e revistas especializados Passeios Cavalo, helicóptero, barco Comércio turístico Souvenirs, artesanato, produtos típicos Tabela 4: Dispõe sobre os tipos de serviços turísticos. Fonte: Ignarra (2001, p.54) 4) Atrativos Atrativo é todo o lugar, objeto ou acontecimento de interesse turístico que motiva o 27 deslocamento de grupos humanos para conhecê-lo16. O atrativo turístico é a principal motivação que incentiva o deslocamento e sem ele não haveria interesse do turista em sair de sua casa. Os comentadores Burkart e Medlik17 citam duas motivações centrais de Gray (1970): Gosto pelo diferente: o desejo que o turista possui de trocar momentaneamente o conhecido pelo desconhecido, o familiar pelo não familiar, ter contato com pessoas, culturas diferentes, conhecimento por lugares famosos por suas associações e monumentos históricos, etc. Busca de excitação: neste caso o motivo se dá pela busca de um tipo de viagem que depende da existência de melhores condições para um determinado objetivo do que em casa, principalmente em relação a certas atividades como o esporte e a busca literal de sol e calor. Além destas, os autores Mayo e Jarvis citados por Ross (2001, p.34) mencionaram a obra de McIntosh (1977) a qual sugere que as motivações podem ser divididas em quatro categorias: motivações físicas (descanso, esporte, recreação), motivações culturais (música, arte, desejo de conhecer outros países, religião), motivações interpessoais (desejo de conhecer pessoas novas), motivação de status (desejo de reconhecimento, atenção, reputação social). Percebe-se que o que é atrativo e motivador para um turista pode não ser para outro, por isso existem os segmentos de mercado que dividem os turistas de acordo com características específicas. Para Ignarra (2001) os atrativos estão relacionados com as motivações de viagens dos turistas e a avaliação que os mesmos fazem desses elementos. É muito comum que elementos que compõem o cotidiano de determinada população não lhe chamem a atenção, enquanto que os mesmos podem apresentar a maior atração para visitantes. O atrativo possuirá maior valor quanto mais acentuado for por seu diferencial, ou seja, aquele atrativo que possuir características únicas terá maior chance de atrair a atenção do turista que sempre está em busca por aquilo que se difere em seu cotidiano. Coloca-se que esse valor é subjetivo, pois variará de acordo com o interesse do turista e de sua motivação em dado momento, fatores que tornarão determinado atrativo o alvo de seu deslocamento. Da mesma forma que os outros produtos turísticos, os atrativos também podem ser divididos, especialmente em naturais e culturais, conforme mostra a Tabela 5 e 6, segundo 16 Lage e Milone (2000, p.28) 17 Citados por Ross (2001, p.33) 28 hierarquização da Embratur18: Atrativos naturais Montanhas Picos, serras, montes, morros, colinas, outros Planaltos e planícies Chapadas/tabuleiros, patamares, pedras/tabulares, vales/rochedos Costa litoral Praias, restingas, mangues, baías/enseadas, sacos, cabos/pontas, falésias/barreiras, dunas, etc Terras insulares Ilhas, arquipélagos, recifes/atóis Hidrografia Rios, lagos/lagoas, praias, fluviais/lacustres, quedas d’água Pântanos Fontes hidrominerais ou termais Parques e reservas de flora e fauna Grutas/cavernas/furnas Área de caça e pesca Tabela 5: Dispõe sobre os atrativos naturais. Fonte: Ignarra (2001, p.54) Atrativos culturais Monumentos Arquitetura civil, arquitetura religiosa/funerária, arquitetura industrial/religiosa, arquitetura militar, ruínas, esculturas, pinturas, outros legados Sítios Sítios históricos, sítios científicos Instituições e estabelecimentos de pesquisa e lazer Museus, bibliotecas, arquivos, institutos históricos e geográficos Manifestações, usos e Festas/comemorações, atividades religiosas, 18 Ignarra (2001, p47) 29 tradições festas/comemorações populares e folclóricas, festas/comemorações cívicas, gastronomia típica, feiras e mercado Realizações técnicas e científicas contemporâneas Exploração de minérios, exploração agrícola/pastoril, exploração industrial, assentamento urbano e paisagístico, usinas/barragens/eclusas, zoológicos/aquários/viveiros, jardins/botânicos/hortas, planetários, outros Acontecimentos programados Congressos e convenções, feiras e exposições, realizações desportivas, realizações artísticas/culturais, realizações sociais/assistenciais, realizações gastronômicas/de produtos, dentre outros Tabela 6: Dispõe sobre os atrativos culturais. Fonte: Ignarra (2001, p.54) É importante colocar que para se fazer a avaliação dos possíveis atrativos, uma série de fatores devem ser levados em consideração como a localização, o estado em que se encontram, o possível grau de interesse do turista, a viabilidade de visitação, etc. Ressalta-se que de nada adianta um atrativo se não existem serviços turísticos disponíveis, e devido a sua necessidade e importância o subcapítulo seguinte fará uma menção dos mais significativos para a atividade turística. 3.1 SERVIÇOS TURÍSTICOS 3.1.1 Hotelaria A hotelaria é um dos principais serviços turísticos existentes, e sua evolução se deu com grandes influências gregas e especialmente romanas. A Bretanha, por exemplo, durante muitos séculos dominada por Roma, incorporou a sua cultura a arte de hospedar, multiplicando pousadas ao longo de suas estradas. Essa mesma tendência era comum a quase todos os países europeus, igualmente influenciados pelos romanos19. Pode se considerar que a rede hoteleira começou a se fortalecer e a ganhar espaço no 19 Gonçalves e Campos (1998, p. 72) 30 mercado a partir do desenvolvimento da atividade turística, uma vez que é do turismo a origem da maior parte da demanda para os estabelecimentos de hospedagem. É interessante explicar que a palavra hospedagem vem do latim e, originalmente significa hospitalidade, dada ou recebida, e também aposento destinado a um hóspede. O termo hospitalidade também do latim, mantém até hoje o sentido original, que serve para designar o bom tratamento oferecido a alguém que se abrigue em nossas casas. A palavra hospital tem a mesma origem, significando o bom recebimento dos doentes para tratamento de cura (GONÇALVES & CAMPOS, 1998, P.72). A importância da hotelaria no turismo é indiscutível, já que sua falta pode afetar o desenvolvimento de determinado destino. É ela que propicia ao turista o amparo necessário para uma boa estada no núcleo receptor. Acredita-se que o surgimento da hotelaria teria se iniciado a partir da necessidade que os viajantes de outrora tinham de se abrigar e se alimentar durante suas viagens. A primeira notícia sobre a criação de um espaço destinado especificamente à hospedagem vem de alguns séculos antes da era Cristã, quando na Gréciaantiga, eram realizados os Jogos Olímpicos e para esses eventos foram construídos o estádio e o pódio. Mais tarde, acrescentaram-se os balneários de uma hospedaria objetivando abrigar os visitantes. Essa hospedaria teria sido o primeiro hotel de que se tem notícia20. Assim os meios de hospedagem têm sua origem nas hospedarias, cujos serviços quando comparados com os atuais não eram nem um pouco confortáveis. Tratavam-se de lugares desprovidos de infra-estrutura, de acomodações inadequadas e muitas vezes eram pouco higiênicos. Pires (2001) explica que tarefa difícil é saber, precisamente, o momento em que a estalagem e o hotel começaram a se distanciar um do outro. Mas acredita-se de acordo com o depoimento de Kidder, que o Rio de Janeiro teve precedência, pois por volta da década de 1830 já ocorriam a presença de alguns hotéis franceses e italianos distintos das hospedarias, apresentando inclusive alguns serviços diferenciados. Pires também esclarece em sua obra, que além do Rio de Janeiro ter apresentado precedência quanto à introdução de hotéis, estes estabelecimentos também se proliferaram em São Paulo, tirando da mentalidade do povo, em um curto período, a visão pejorativa que levavam, pelo menos quanto à prestação de alguns tipos de serviços bem específicos. Embora alguns defendam que o surgimento dos hotéis se deu 20 Gonçalves e Campos (1998, p.71) 31 à presença de fazendeiros de café na capital paulista, o fato é que dificilmente estes utilizavam tais serviços, pois tanto em São Paulo, quanto no Rio de Janeiro, eram raros os fazendeiros que não possuíam várias casas, não necessitando usufruir as referidas acomodações. Quem realmente utilizou os primeiros hotéis foram os viajantes. Aos poucos os hotéis foram ampliando seus serviços, alugando suas dependências para bailes e disponibilizando os serviços de restaurante para o público. Para aqueles com situações econômicas mais elevadas tornou-se comum a freqüências nestes estabelecimentos, e a partir da década de 1870 alguns hotéis já se diferenciavam consideravelmente das hospedarias. Para Gonçalves e Campos (1998) após a criação da Embratur21 várias instituições e empresários, com as possíveis obtenções de benefícios fiscais, viram-se tentados nos empreendimentos de novos projetos ligados ao setor hoteleiro. As atratividades das linhas de crédito e o financiamento dos bancos mediante os projetos analisados e aprovados pela Embratur, eram outras motivações. Essa foi a tão considerada época de ouro da hotelaria, e como exemplo dos resultados obtidos na época, temos até hoje a presença no mercado da Rede de Hotéis Othon, Luxor e A Horsa, as maiores redes hoteleiras do país. Esses autores esclarecem que os modelos de empreendimentos que se destinam à hospedagem variam muito, podendo ser divididos e classificados sob diversas formas22: Forma de registro: oficiais → registrados e regulados quanto as suas características e participação ativa no mercado, pela Embratur, que lhes atribui um número de estrelas (que varia de 1 a 5); e não oficiais → possuem peculiaridades em suas condições de hospedagem, que vão desde a condição de não regulamentação (tendo registro apenas na prefeitura), até a situação de estabelecimentos clandestinos, que não dispõem de nenhum registro oficial. Quanto à localização: urbanos (localizados em cidades / centros urbanos); hospedarias rurais (localizados na zona rural / campo). Quanto à categoria: Luxo Superior (5 estrelas); Luxo (4 estrelas); Standard superior (3 estrelas) Standard (2 estrelas); Simples (1 estrela). 21 Instituto Brasileiro de Turismo. 22 Gonçalves e Campos (1998, p. 85) 32 Quanto à distinção de serviços: a) Hotéis para executivos de negócios: geralmente localizados em centros urbanos, com instalações apropriadas para a continuidade do trabalho nas unidades habitacionais ou salões de reunião com microcomputadores e acesso à Internet, aparelhos de áudio e vídeo, área de eventos, etc. b) Hotéis de turismo e lazer: localizados em centros urbanos, área rural ou zonas de interesse turístico (praia, montanha), e destinados principalmente à recepção dos turistas em busca de descanso. Possuem área esportiva e social, apartamentos que comportam maior número de pessoas, restaurantes no estilo self-service. São exemplos destes os Resorts23, Hotéis fazenda, Hotéis ecológicos e os Hotéis hidrominerais. c) Hotéis-fazenda: estabelecimentos localizados em zona rural bem como possuidores das mesmas características. Deverão conter hortas, pomar, criação de gado, porco, ovelha, galinha, piscicultura, etc, além de oferecerem ao hóspede a oportunidade da observação e vivência do cotidiano no campo. De categoria semelhante ao Resort têm no setor de alimentos um atrativo. Nestes estabelecimentos a equitação e o passeio de charrete é o auge do lazer. d) Hotéis de estâncias hidrominerais: têm como fonte principal as piscinas de águas minerais, geralmente indicadas como medicinas coadjuvantes no tratamento de determinados problemas de saúde. e) Hotéis ecológicos: esses se caracterizam por terem um acesso mais difícil e sua clientela principal são grupos de estudiosos ou amadores da natureza. São hotéis voltados para a conservação ambiental. f) Hotéis mistos: não possuem destinação definida, recebem tanto turistas de negócios como turistas de lazer. São localizados tanto na zona urbana quanto rural, 23 A Embratur admite como Resort o hotel que esteja localizado em área de conservação e equilíbrio ambiental. Sua construção deve ter sido precedida por estudos de impacto ambiental e planejamento da ocupação do solo. Precisa dispor de infra-estrutura de entretenimento e lazer significativamente superior à dos empreendimentos similares, e deve classificar-se nas categorias Luxo ou Luxo superior. Gonçalves e Campos (1998, p.88). 33 são simples quanto às dependências de lazer e possuem modesta área de alimentos e bebidas. Em alguns casos oferecem somente serviços de lanche. Quanto à organização administrativa: a) Hotéis de residência: tipo de moradia acrescida de serviços hoteleiros (flats, apart hotéis); b) Hotéis time sharing: caracterizam-se pela partilha, entre os associados, do tempo de permanência anual em suas unidades; c) Hotéis especiais: destinados a pessoas ou grupos que possuem interesses ou características peculiares (Spas24, Hotéis para a terceira idade, Hotéis para a juventude, Hotéis históricos). Atualmente o mercado hoteleiro encontra-se muito competitivo e o maior diferencial além dos serviços é a qualidade no atendimento. Certamente o desenvolvimento tecnológico trouxe muitas inovações e facilidades, porém o elemento humano continua sendo a peça fundamental, pois é dele toda responsabilidade dos serviços. Os serviços oferecidos por um estabelecimento hoteleiro são muito complexos e diversificados embora façam parte de uma mesma área, e devido a isso, a obtenção de certas habilidades na execução é garantia quase que total de excelência na qualidade. Desta forma, faz-se necessário adequada formação profissional de todos os prestadores de serviços que englobam a indústria hoteleira. Para Castelli (2003) as qualidades básicas e essenciais do profissional da hotelaria são: espírito de serviço, espírito de equipe, qualificação pessoal, capacidade de reação. Para que se tenha uma noção básica dos departamentos da hotelaria, colocam-se abaixo, algumas informações e tarefas realizadas por aqueles setores operacionais considerados indispensáveis a qualquer estabelecimento hoteleiro25. Sistema de Reservas 24 SPA não éuma sigla, mas o nome de uma cidade Belga onde, há séculos, as casas de banhos para tratamento de saúde e emagrecimento são freqüentadas por milhões de pessoas. Gonçalves e Campos (1998, p.93) 25 As informações seguir foram extraídas de SEBRAE, 2003. 34 Muitas vezes o primeiro contato do hóspede com o hotel é por meio do sistema de reservas. Atualmente, com a evolução tecnológica, muitas reservas são feitas por meio de telefone, fax, Internet, ou pelo GDS (sistema de reservas, normalmente em conjunto com companhias aéreas). Os hotéis de grande e médio porte costumam ter um departamento específico para esta tarefa; em grandes redes de hotéis normalmente existe um departamento de reservas único para todas as unidades; em hotéis menores e pousadas, esta tarefa fica a cargo do próprio setor de recepção. Embora a reserva possa significar uma garantia, ainda assim podem ocorrer surpresas desagradáveis, tanto para o hóspede quanto para o hotel. Muitos hotéis trabalham com overbooking, pois já conhecem a freqüência com que acontecem os no-shows. Isto significa que o estabelecimento vende mais apartamentos do que possui, já prevendo que muitos dos hóspedes não aparecerão, assegurando desta forma, que não ficará com apartamentos ociosos. No entanto, caso compareçam todos os hóspedes, o hotel deve apresentar alternativas oferecendo transporte e hospedagem em outro estabelecimento de nível igual ou superior. Para o hotel o desagradável ocorre quando o número de entrada de hóspedes se dá muito inferior ao número de reservas feitas, e se ele não trabalhar com o overbooking, poderá ter prejuízos. Por isso muitos hotéis estabelecem prazo para a confirmação da reserva e costumam cobrar um adiantamento de 30% a 50% do valor total da hospedagem. Outro problema ocorrido na ocupação do hotel é quanto às saídas antecipadas, ou seja, se um hóspede reservou o apartamento por 7 dias e resolve sair no 5º, o hotel terá prejuízo de 2 dias. Dependendo do motivo da saída e da ocupação do hotel, este poderá cobrar no-show pelo período restante da reserva; poderá cobrar por todos os 7 dias e não apenas pelos 5. Recepção A recepção pode ser considerada o centro nervoso de um meio de hospedagem. Muitos profissionais a consideram o pára-raios, onde todas as energias são descarregadas. Esta constitui o cartão de visitas do hotel devendo permanecer em ambiente agradável e transparecer profissionalismo por parte dos funcionários, pois os hóspedes interagem com ela durante toda a estadia. Basicamente as tarefas da recepção são relacionadas ao: - Pré-registro: escolha do apartamento antes da chegada do hóspede conforme a especificação feita na reserva; 35 - Check-in: entrada do hóspede no hotel, onde além de seu registro deverão ser passadas para ele informações importantes; - Ficha de Registro: o preenchimento da ficha de registro, chamada de FNRH26 (ficha nacional de registro de hóspedes), oferecida pela Embratur em modelo padrão; - Livro de ocorrência (Log Book): livro onde é registrado toda e qualquer ocorrência durante a estada do hóspede (reclamações, pedidos etc); - Check-out: saída do hóspede do hotel, com fechamento da conta; - Lançamentos: nos hotéis em que pontos de venda como restaurante e bar não são computadorizados, os lançamentos de todos os consumos do cliente são computados pelo pessoal da recepção, geralmente no turno da noite; - Mensagens: para que se possa assegurar que os recados sejam entregues aos hóspedes os grandes hotéis costumam anotá-los em duas vias: uma fica no escaninho da recepção junto com a chave e outra é colocada por baixo da porta do apartamento; - Relatório de discrepância de status: este é o relatório emitido após a comparação da lista de situação dos apartamentos feito pela governança com a lista de apartamentos ocupados constantes na recepção. Este relatório mostra se existe diferença quanto ao número de pessoas registradas, ou de apartamentos que não passaram pelo check-in ou check-out. - Auditoria noturna: Em grandes hotéis, a conferência das contas dos clientes ao final do dia cabe a um departamento exclusivo, porém nos pequenos meios de hospedagem, esta tarefa fica sob responsabilidade do recepcionista noturno. Este emitirá um resumo de todos os valores lançados durante o dia, com saldo de todas as contas, para que o gerente saiba como foi o faturamento. Governança A governança é responsável pela manutenção do espaço físico do hotel e dos equipamentos utilizados pelo hóspede em sua estada (limpeza das dependências, lavanderia, 26 A Ficha Nacional de Registro de Hóspedes, são elementos indispensáveis para o controle estatístico do número de ocupação nos hotéis e para o fornecimento de maiores dados para pesquisas do setor. 36 jardinagem, decoração, etc). Nos meios de hospedagem menores este setor é composto apenas por camareiras, e nos hotéis de grande porte a chefe superior é a governanta. A governanta deverá orientar e avaliar os trabalhos de limpeza, de apresentação pessoal de seus funcionários, participar na escolha de novos materiais e equipamentos visando à eficiência e economia, admitir e demitir funcionários do setor, colaborar com demais setores, planejar e organizar setores do departamento. Muitos hotéis, devido a sua extensão, contam com uma supervisora que auxilia a governanta em suas atividades diárias, nos procedimentos de chefia e supervisão. A camareira é a responsável pelo trabalho operacional, devendo conservar a limpeza das unidades habitacionais, reposição de produtos do frigobar e rouparia. Deve fiscalizar e informar qualquer irregularidade ocorrida no apartamento, seja quanto à necessidade de conserto dos equipamentos e utensílios ou até mesmo quanto a atos suspeitos de hóspedes. A lavanderia também é uma dependência do setor de governança, mas em muitos estabelecimentos é terceirizada. Controles de estoques, pessoal e patrimônio Este tópico compreende o setor de administração, cuja tarefa é coordenar os demais setores do estabelecimento. Ficam sob responsabilidade deste setor o recrutamento e desligamento de pessoal, como também as atividades relacionadas ao almoxarifado. Manutenção Prevenir atualmente é um investimento necessário e vantajoso, garantindo dessa forma uma maior capacidade produtiva e longevidade dos equipamentos. Existem dois tipos de manutenção: Manutenção preventiva, que é aquela manutenção programada, realizada independente de qualquer avaria no equipamento. Com ela, evitam-se consertos que possam afetar a tranqüilidade dos hóspedes e reduzem-se os gastos, significando economia em longo prazo; e Manutenção corretiva, que é necessária sempre que haja uma avaria nas instalações ou equipamentos. Trata-se de reparos emergenciais solicitados pelos clientes ou departamentos. Alimentação 37 O setor de alimentação engloba grande quantidade de serviços em um estabelecimento hoteleiro e é composto por muitos funcionários de diversas especialidades, principalmente nos estabelecimentos maiores. Na área de turismo este segmento não se restringe a uma empresa hoteleira, pois está cada vez mais independente no mercado consumidor. Este tópico será tratado em subcapítulo à parte, possibilitando a disponibilidade de maiores detalhes. Além destes serviços básicos e necessários ao funcionamento do hotel, existem aqueles adicionais que propiciam luxo e conforto aos hóspedes. Podem ser considerados como tais, as grandes áreas de lazer e recreação como quadras esportivas, parques e salas de jogos, salas de ginástica, saunas, salões para comemorações, salas de convenções com equipamentos de última geração, etc. Estes serviços contribuem para a diferenciação de valores nas diárias, taxas de serviço, público a ser atingido e certamente
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