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AN02FREV001/REV 4.0 1 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE ALFABETIZAÇÃO Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 2 CURSO DE ALFABETIZAÇÃO MÓDULO I Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 3 SUMÁRIO MÓDULO I 1 INTRODUÇÃO 1.1 OBJETIVO GERAL DO CURSO 1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 1.3 COMO A CRIANÇA APRENDE (O QUE PENSAM OS PENSADORES) 1.4 DESENVOLVIMENTO LINGUÍSTICO – TEORIAS SOBRE FATORES AMBIENTAIS E BIOLÓGICOS 1.4.1 Etapas do Desenvolvimento Linguístico 1.5 O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO CONFORME PIAGET 1.5.1 2 a 7 anos de idade – Período Pré-operatório 1.5.2 O período de 7 a 12 anos - Operações Concretas 1.5.3 12 anos em diante – Período Operatório Formal 1.5.4 Atividades Propostas - Baseadas em Piaget 1.5.5 Conservações Físicas MÓDULO II 2 DECODIFICAÇÃO E CODIFICAÇÃO GRÁFICA – UMA DAS FACES DA ALFABETIZAÇÃO 2.1 ALFABETIZAÇÃO - A ANÁLISE COMO SUBSÍDIO 2.1.1 Material de Apoio para Construção das Atividades 2.1.2 Algumas Considerações a Respeito das Atividades Propostas 2.2 CONTRIBUIÇÕES DE PAULO FREIRE E EMÍLIA FERREIRO PARA A ALFABETIZAÇÃO 2.3 ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO ALFABÉTICO – EVOLUÇÃO DA ESCRITA 2.3.1 Os Distúrbios de Aprendizagem em Sala de Aula AN02FREV001/REV 4.0 4 MÓDULO III 3 PRÁTICA E AVALIAÇÃO EM SALA DE AULA - A ESCOLHA DOS INSTRUMENTOS, RECURSOS E CONTEÚDOS 3.1 DINÂMICA DO PLANEJAMENTO 3.2 OS PLANOS DE ATIVIDADES 3.3 CONSTRUÇÃO DO PLANO POLÍTICO PEDAGÓGICO 3.4 A TECNOLOGIA A FAVOR DA ALFABETIZAÇÃO 3.5 ACESSIBILIDADE DO SISTEMA OPERACIONAL LINUX 3.6 A IMPORTÂNCIA DA CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA NA ALFABETIZAÇÃO 3.7 ALGUNS EXEMPLOS DE ATIVIDADES DE CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA MÓDULO IV 4 A PERSPECTIVA INFANTIL EM FASE DE ALFABETIZAÇÃO – CONHECENDO SEU ALUNO 4.1 ENQUETE REALIZADA COM CRIANÇAS EM FASE DE ALFABETIZAÇÃO – UM INSTRUMENTO A FAVOR DO EDUCADOR 4.2 AS RESPOSTAS DOS ALUNOS AO QUESTIONÁRIO APLICADO GLOSSÁRIO ANEXOS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AN02FREV001/REV 4.0 5 MÓDULO I 1 INTRODUÇÃO Há um poema, escrito por uma celebridade do mundo da comunicação, que insinua que os momentos mais importantes do aprendizado humano ocorrem ainda no jardim da infância. Seu conteúdo refere-se à base de uma vida futura feliz, que são as regrinhas educativas que deveríamos aplicar em nosso dia a dia e, por conseguinte, amadurecê-las quando adultos. No processo de alfabetização o raciocínio é semelhante. Precisamos de uma base, de regrinhas educativas informais que encaminhem a criança e a preparem para o mundo da leitura e da escrita. A principal delas é construir junto à criança um ambiente de interesse e afeição nesta etapa da vida infantil. As outras regrinhas devem ser construídas no cotidiano escolar, espontaneamente, a partir da necessidade do aluno, da turma e do professor. Em meio a esse contexto, envolto aos interesses e às necessidades infantis no processo de alfabetização formal, este instrumento foi elaborado para educadores, pesquisadores e profissionais de áreas afins, sendo conduzido por diretrizes atuais, como os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) e pensamentos de célebres nomes da educação. Os conteúdos programáticos foram selecionados, entre outras possibilidades, para atender às exigências atuais de aplicação prática do conhecimento no cotidiano escolar, como veremos, detalhadamente, a seguir: a) Como a Criança Aprende; b) Decodificação e Codificação Gráfica – Uma das Faces da Alfabetização; c) Prática e Avaliação em Sala de Aula – A Escolha dos Conteúdos e Instrumentos; d) A Tecnologia a Favor da Alfabetização; e) Construção do Plano Político Pedagógico; AN02FREV001/REV 4.0 6 f) A Importância da Consciência Fonológica na Alfabetização; g) A Perspectiva Infantil em Fase de Alfabetização – Conhecendo seu Aluno. No final da apostila há uma lista de sugestões de leituras interessantes e sites para pesquisas, referentes ao tema abordado. 1.1 OBJETIVO GERAL DO CURSO Este material foi elaborado com o intuito de: a) Oferecer instrumentos que possibilitem uma maior abrangência e enriquecimento na construção da prática cotidiana do processo de alfabetização aos educadores, pesquisadores e profissionais de áreas afins; b) Produzir um material alicerçado em diretrizes atuais, que oportunize ao aluno pesquisador, interessado em ampliar seus conhecimentos em alfabetização, lançar mão de recursos e parâmetros na construção de seu conhecimento pessoal e profissional. 1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Instrumentalizar o educador para a prática do processo de alfabetização em sala de aula; Oportunizar temas para debates e enriquecimento do conhecimento profissional; Instigar no educador a curiosidade pelas expectativas de seus alunos; Avaliar o profissional em seu conhecimento específico do tema abordado. AN02FREV001/REV 4.0 7 1.3 COMO A CRIANÇA APRENDE (O QUE PENSAM OS PENSADORES) A alfabetização é apenas uma das etapas que contribui para a evolução intelectual do aluno, sendo um processo importante que ocorre em sua vida, dinâmico e contínuo, e que necessita ser compreendido a partir da subjetividade infantil, desde seu nascimento até a idade escolar. Como a criança aprende? Quais os caminhos e processos que devem ocorrer naturalmente para possibilitar à criança o aprendizado? Veremos, a partir deste módulo, o que pensam os pensadores e os pesquisadores que dedicaram e dedicam sua vida a esse assunto e suas contribuições na atualidade. Teorias que se complementam e se contrapõem, podendo ser analisadas a partir de circunstâncias que indicam tanto os fatores ambientais quanto biológicos, determinantes da evolução e aprendizado humano. Ao admitirmos tanto as abordagens de teorias psicogenéticas quanto as sociointeracionistas, acreditamos que o aprendizado é um processo por meio do qual os indivíduos influenciam-se mutuamente. A diferença implica na questão da prontidão genética para que isso aconteça, ou seja, em que momento a criança estará apta para receber determinada influência que faça com que ela aprenda e interaja, construindo novos aprendizados. Existem pesquisas, atualmente, indicando que a educação formal deva iniciar antes do que há alguns anos era considerado apropriado. A criança está se alfabetizando cada vez mais cedo e nós, adultos, somos os responsáveis pela qualidade do que estamos impondo a esse precoce público de futuros cidadãos. Ao citar qualidade, a referência não é apenas ao que é oferecido na escola, mas antes dela, o conhecimento que a criança adquire em casa, no ambiente do seu lar, é o alicerce para a educação formal na escola, posteriormente. A iniciação à alfabetização, entretanto, depende do que essa estrutura familiar lhe oferece. Ainda que não saiba ler, a criança aprende o valor e a noção da importância dos símbolos gráficos e dos desenhos. AN02FREV001/REV 4.0 8 Cada vez que alguém lê uma história para ela, está lhe transmitindo a informação de que o mundo da leitura é prazeroso e quando ao observar a mãe perguntar ao pai o que ele está lendo no jornal, ela aprende que informação é importante. Quando a criança acompanha a avó que lê uma receitae em seguida a põe em prática, resultando em num bolo gostoso, aprende a respeito da utilidade da escrita e leitura. São conceitos sutis, que vão se formando subjetivamente, no cotidiano, e que contribuem enormemente para seu aprendizado formal. Entretanto, quando a criança cresce em um ambiente empobrecido de significados, de estímulos e recursos, essa construção de noções e conceitos aparece refletida em todos os momentos e aspectos escolares. A criança que não “lê” histórias em quadrinhos, livros clássicos e revistinhas, possivelmente não terá despertado da mesma forma como a criança que experiencia essas “leituras” cotidianamente. Ao analisarmos essa questão, poderíamos supor que há alguma desvantagem entre as estruturas dos lares acima mencionados, em detrimento de fatores socioeconômicos e culturais. Porém, atualmente, a aquisição de recursos apropriados para o êxito da educação depende da prioridade que esta ocupa na vida familiar desses lares e não apenas de fatores econômicos. Até agora a referência feita foi a respeito de fatores determinantes de motivações educacionais para crianças sem comprometimentos adquiridos ou genéticos e hereditários. Para as crianças PNEEs – Portadores de Necessidades Educacionais Especiais – a discussão encaminha-se não somente aos recursos ou prioridades que alavancam o processo ensino-aprendizagem, podemos acrescentar, ainda, as condições biológicas dessas crianças e o nível de comprometimento das famílias. Olivier, em seu livro “Distúrbios de Aprendizagem e de Comportamento”, descreve indícios que podem nos chamar a atenção ao percebermos presentes no comportamento de crianças de zero a cinco anos de idade, no período pré- escolar. Portanto, pode-se concluir que o fato de realizarmos uma entrevista com cada responsável por nossos alunos, em idade escolar, não significa mero procedimento investigatório, mas um ato de prevenção que todo professor deve realizar no início do ano letivo, com a finalidade de detectar algum distúrbio e AN02FREV001/REV 4.0 9 encaminhá-lo para atendimento especializado sem haver perdas desnecessárias para ambos. Recém-nascido até seis meses de vida – Com essa idade o bebê normalmente reage a estímulos sensoriais, diferenças de iluminação, som, calor, frio, chora quando se sente incomodado, enfim, já domina seus reflexos. É esperado que consiga sugar seu leite, que tenha a digestão regularizada e o sono tranquilo. Comportamentos considerados problemáticos – quando o bebê possui dificuldade para alimentar-se, constantes vômitos e diarreias, sono inconstante, choro e sucção em excesso, assim como irritabilidade, sem motivos verificáveis. Comportamentos considerados distúrbios – o problemático transforma-se em distúrbio quando o bebê apresenta apatia, chora de forma monótona constantemente, grita sem motivos e não reage aos estímulos descritos acima. Ao apresentar algumas características consideradas problemáticas não significa que o bebê necessite de acompanhamento neurológico ou psiquiátrico, podendo ser apenas demonstrações da personalidade do bebê. O bebê sinaliza possuir algum distúrbio quando apresentar uma ou mais das características acima citadas, devendo ser encaminhado ao pediatra, para que esse, por sua vez, encaminhe para outros profissionais adequados a cada caso. Dos seis aos 24 meses de vida – características como maior estabilidade fisiológica, controle motor e tolerância, fazendo com que a criança brinque e se envolva por um tempo maior com objetos, sem irritar-se, determinam um comportamento considerado normal. Sua ligação com a figura materna é bastante forte e ela já distingue pessoas próximas do seu ambiente familiar. Até os 18 meses seu vocabulário já possui muitas palavras aprendidas e ocorre ainda a fase da imitação. Comportamentos problemáticos – a criança apresenta intolerância, choro e raiva em excesso, dificuldade no controle esfincteriano, sono e alimentação alterada. Chupa o dedo constantemente, tem tiques nervosos e balança-se em determinadas situações. AN02FREV001/REV 4.0 10 Os comportamentos que indicam distúrbios poderão apresentar características como perda de fôlego, crises temperamentais, convulsões e isolamento frequente. A criança não estreita laços com a mãe, ela chupa dedo ou objetos compulsivamente, balança-se e bate a cabeça contra a parede ou berço. Nessas condições, a criança deverá ser encaminhada ao pediatra, neurologista ou psiquiatra para avaliação. Dos dois anos aos cinco anos de idade – Nessa fase, normalmente, o desenvolvimento linguístico infantil “dá um salto” e o seu vocabulário compreende a estruturação de frases completas, com sentido. Possui controle nas evacuações e já se alimenta sozinho. Sua relação com a mãe, embora ainda seja de dependência, abre espaço para os outros membros da família e sua coordenação é desenvolvida por intermédio de saltos e corridas. Realiza atividades como recorte, pintura e trabalhos manuais simples. As perguntas são constantes, inclusive a respeito da sexualidade, e sua sociabilidade fica mais evidente. O comportamento problemático evidencia-se quando há comprometimento na coordenação motora e no desenvolvimento linguístico (gagueira e trocas de letras excessivas). Demonstra dificuldades em separar-se da mãe, irrita-se frequentemente, recusa-se a largar a chupeta ou mamadeira, demonstra medo excessivo de estranhos e não mostra interesse por crianças da sua idade. O distúrbio é confirmado a partir do comportamento hiperativo ou apático, sem reações e com pouca fala. A criança não controla as evacuações, age com comportamento destrutivo, rasga, corta, queima, risca objetos e agride animais ou irmãos mais novos, sentindo aparente prazer nesses atos. 1.4 DESENVOLVIMENTO LINGUÍSTICO – TEORIAS SOBRE FATORES AMBIENTAIS E BIOLÓGICOS De acordo com Chomsky, defensor da Teoria Linguista, em seu livro “Linguagem e Mente - Pensamentos Atuais”, o desenvolvimento da linguagem AN02FREV001/REV 4.0 11 ocorre simultaneamente à maturação infantil, sendo o meio ambiente uma influência significativa para que ocorra este processo. Porém, a ênfase é dada à capacidade inata da criança de possuir sua bagagem biológica preestabelecida, denominada de estado inicial. A aquisição da língua se parece muito com o crescimento dos órgãos em geral; é algo que acontece com a criança e não algo que a criança faz. E, embora o meio ambiente importe claramente, o curso geral do desenvolvimento e os traços básicos do que emerge são predeterminados pelo estado inicial. (CHOMSKY, 1998, p. 23). Pode-se, então, corroborar tal conclusão e acrescentar, ainda que, no caso da criança possuir um passado genético que a beneficie ou não, de tal situação dependerão suas condições linguísticas, cognitivas, intelectuais, enfim, todas as suas aptidões. Ao acompanharmos compactamente a evolução da vida infantil, podemos supor que a criança, ao ser gerada, não apresenta nenhuma doença genética, e no período neonatal não sofre anóxia ou qualquer outra situação adversa, levando uma vida saudável, em ambiente adequado nos próximos meses (que antecedem o período de aquisição linguística), terá condições de adquirir sua linguagem natural e espontaneamente. Em contrapartida, para o sociointeracionista Vygotsky, a propensão em suas obras é de enfatizar o desenvolvimento infantil pelo viés dos estímulos ambientais. A criança deve estar sempre usufruindo de interações sociais, sem deixar, entretanto, de dar a devida importância à predisposição biológica natural da criança. “(...) aproveitar os dotes naturales: el balbuceo infantil, la mímica y los gestos naturales (...)” Neste trecho do seu livro “Obras Escogidas V” (1997), o autor refere-se à importância de aproveitar a bagagem natural infantil e, a partir dela, proporcionarpara a criança um ambiente estimulador espontâneo, construindo alicerces ao seu desenvolvimento linguístico antes mesmo do período formal de educação - período escolar. 1.4.1 Etapas do Desenvolvimento Linguístico AN02FREV001/REV 4.0 12 O comportamento humano é compreendido por meio do funcionamento de mecanismos que se caracterizam por estabelecer relação entre pessoa e meio ambiente. Sendo assim, encontramos em nossos sentidos aptidões para colher informações e interpretá-las conforme nossos objetivos ou necessidades. Uma relação importante em nosso comportamento é estabelecida pela comunicação, por intermédio da qual podemos realizar a troca de informações e produzir conhecimento e aprendizagem, além de dar continuidade para a nossa cultura. Baseado em Quadros (1997), a aquisição de uma língua ocorre de forma natural, espontânea e refere-se ao conhecimento inconsciente, enquanto a aprendizagem é um processo formal, sistematizado. É o conhecimento incorporado de forma consciente. Conforme Scliar-Cabral (apud Quadros, 1997, p. 85), “a não exposição a uma língua, no caso a língua nativa, no período natural de aquisição da linguagem, causa danos irreparáveis e irreversíveis à organização psicossocial de um indivíduo”. Portanto, a criança deve ser exposta ao ambiente apropriado que lhe proporcionará trocas sociais, logo que estiver apta a receber as primeiras estimulações sonoras ainda quando bebê, para não ter maiores dificuldades durante a fase escolar, quando ocorre, geralmente, o aprendizado sistemático e formal da língua em sua expressão gráfica. Dessa forma, destaca-se a importância do aprendizado informal da linguagem em sua forma oral, que recairá anos depois no aprendizado sistemático da língua portuguesa escrita e em suas diversas formas de expressão. O processo de desenvolvimento da linguagem e do pensamento foi estudado por Vygotsky e a relação que estes mantêm entre si merece projeção especial. Conforme Jobim e Souza (1996), Vygotsky realiza seu estudo em função da importância que a estrutura da linguagem possui na produção do pensamento, identificando a relação pensamento e linguagem como um processo constante, com origens genéticas diferentes, mas que ao longo de sua evolução tornam-se interdependentes. Sua ligação é um processo dinâmico, que transcende à compreensão de suas formas individuais. AN02FREV001/REV 4.0 13 Pode-se aqui vislumbrar a postura dialética pela qual Vygotsky aborda os fatos, estando esses de acordo com os princípios da reciprocidade e mutabilidade, revelando-se nas fases em que se apresenta o desenvolvimento da linguagem e pensamento. Nos primeiros meses de vida da criança, pensamento e linguagem encontram-se dissociados, um evolui independente do outro. Anterior ao uso da fala, verbalmente articulada, a criança apropria-se do som por meio do balbucio. Esse som que ouvimos inicialmente é a produção resultante de estímulos internos, desvinculados de intenções planejadas pelo bebê. Durante o balbucio, a criança comunica-se independente do pensamento. Essa forma expressiva ocorre com funções diferenciadas: como meio de comunicação e como forma de conhecer-se, experimentar-se. O bebê, nesta fase, exprime sua produção sonora, motivado por estímulos internos, quando sente fome, sono, dor, prazer. Sem reconhecer ainda tais sentimentos, exterioriza-os por meio dessa forma primária de linguagem. A criança poderá também utilizar a apontação para comunicar-se, substituindo a oralização. Este é o período pré-linguístico que inicia no nascimento e vai até os dois anos, aproximadamente. Por volta dos 11 aos 14 meses de idade a criança entra na fase linguística, quando ocorre a verbalização de palavras inicialmente desconexas ou apenas uma de cada vez, progredindo de acordo com seu desenvolvimento neuropsicomotor. Nessa etapa, pensamento e linguagem se interligam, inicia uma nova fase caracterizada pela racionalidade da fala e verbalização do pensamento, ou seja, a criança exterioriza seu pensamento de uma forma mais organizada e complexa. A criança saudável inicia o domínio da fala exterior a partir do som da palavra, em seguida passa a compreendê-la e posteriormente desenvolve a capacidade de uni-las formando frases. O significado da palavra é inicialmente compreendido pela criança como o sentido de uma frase completa. Somente mais tarde ela dominará a frase, com as várias unidades que a compõem. Nesta etapa seu pensamento pode ser resumido em uma única palavra. À medida que se desenvolve mais complexo se torna seu pensamento e ela não consegue mais sintetizar suas ideias em apenas uma palavra. Então, quanto mais se expressa, mais define seu pensamento, indo de um todo condensado para AN02FREV001/REV 4.0 14 unidades específicas. A partir dos dois anos de idade, até aproximadamente os sete anos, a linguagem compreende duas funções que agem simultaneamente: - a interna, que organiza e dirige o pensamento; - a externa, que, como o próprio nome já diz, tem a função de exteriorizar seu pensamento para outras pessoas. A fala egocêntrica caracteriza-se quando a criança fala alto para si mesma, como se estivesse guiando-se por ela. Essa tem função primordial nas atividades que a criança exerce, pois serve como um “apoio mental” para sua organização, bem como na superação de obstáculos. A fala egocêntrica futuramente será transformada em fala interior. Já na idade escolar a criança não necessita mais deste apoio e a fala interior indica que ela passou por mais uma etapa de seu desenvolvimento linguístico. Outra observação importante neste processo de passagem da fala egocêntrica à fala social é a tendência que a criança tem de omitir o sujeito e manter o predicado, e quanto mais perto da fala interior estiver, maior será a abreviação observada em suas frases. 1.5 O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO CONFORME PIAGET O trabalho desenvolvido por Piaget, ao longo de aproximadamente 50 anos, revelou-se em substancial estudo a respeito do desenvolvimento infantil, contribuindo para diversos campos que na atualidade usufruem de suas pesquisas. Na área educacional Piaget demarcou época, suas obras alicerçam nossos trabalhos e suplementam nossa prática em sala de aula, tendo elas lançado termos e enfatizado expressões chaves do desenvolvimento cognitivo que as caracterizam. Recorremos, portanto, a Piaget para conhecermos um pouco mais as características padrões da evolução mental infantil, enfocando, especialmente, os primeiros dois anos de vida, classificados como período sensório-motor e subdividido em três estágios: I – Dos Reflexos; II – Da Organização das Percepções e Hábitos e III – Da Inteligência Sensório-Motor. AN02FREV001/REV 4.0 15 I – Dos Reflexos – A vida inicial do bebê sintetiza-se nos reflexos, nos impulsos instintivos acionados pela fome, voz da mãe, dor, sensações prazerosas, sono, sensações táteis, etc. Antecipando a presença de uma atividade, sensório- motor. Um dos reflexos que se destacam é o da sucção, sendo sua função principal tornar-se um instrumento, por intermédio do qual a criança toma conhecimento do seu mundo material externo. Ela experimenta sabores, texturas, sensações táteis, levando para o cérebro informações importantes para a construção de seu conhecimento futuro. É como a construção de um quebra-cabeça que se inicia nesta experimentação e vai sendo composto quando outras funções orgânicas já estiverem desenvolvidas. É ponto comum entre as mães saberem e afirmarem que seus filhos recorrem à boca para colocarem os objetos que estão ao seu alcance, sugando-os. Essa é a forma do bebê sentir, perceber, conhecer, degustar, provar... Essa capacidade cognitiva desenvolve-se antes mesmo de a criança poder enxergar ou manusear com precisão. II – Das Organizaçõesdas Percepções e Hábitos - Após utilizar seus reflexos e aperfeiçoá-los em função das suas necessidades, o bebê inicia uma fase mais complexa de assimilação. É quando chega o momento de organizar suas percepções, compreendendo um pouco mais do que ocorre exteriormente. Assim, a partir da quinta semana, aproximadamente, o bebê começa a sorrir e a reconhecer pessoas mais próximas. Embora isso não indique ainda que essa evolução no comportamento faça parte da noção de dissociação do ambiente exterior ao seu “eu”. Nessa fase o bebê ainda percebe-se sendo parte de um todo e não algo dissociado do ambiente que o cerca. Este estágio chega ao fim e é visualizado quando o bebê consegue pegar objetos do seu interesse, conquistando a capacidade de preensão e manipulação. Pode-se dizer, então, que ele está apto a organizar novos hábitos. III – Estágio da Inteligência Sensório-Motora - Desse estágio podemos afirmar que, sucintamente, caracteriza-se pelo ato de intenção. Ou seja, quando a AN02FREV001/REV 4.0 16 criança manipula algum objeto de seu interesse e organiza seus movimentos com um determinado propósito, pegando um brinquedo para si, por exemplo, é um ato intencional. Assim, a criança aprimora seus esquemas motores, interagindo com os objetos, balançando-os, batendo-os, jogando-os ao longe e observando-os, seguindo-os em sua trajetória, construindo noção tempo-espaço e aprendendo a cada nova ação. Seu mundo exterior vai tomando forma, expandindo-se, aparecendo, dissociando-se de seu universo central como um contraste gradual. Dessa forma, o bebê começa a ter consciência e experimentar este universo externo de uma forma objetiva. Nos dois primeiros anos de vida a criança constrói noções práticas importantes para sua evolução cognitiva como as de objeto, espaço, tempo e causalidade. A noção de objeto, termo apresentado por Piaget para definir a permanência do objeto, constitui-se quando a criança compreende que algo ou alguém pode estar em outro “cenário”, espaço que ela não pode alcançar ou enxergar. Quando, inicialmente, alguém ou algum objeto sai do alcance da visão da criança nesta fase, a tendência é que ela reaja com indiferença. Somente quando esta noção é estabelecida a criança procura o objeto ou pessoa desaparecida. Só por volta do fim primeiro ano é que os objetos são procurados depois que saem do campo da percepção e é sob este critério que se pode reconhecer um começo de exteriorização do mundo material. Resumindo, a ausência inicial de objetos substanciais, depois a construção de objetos sólidos e permanentes, é um primeiro exemplo desta passagem do egocentrismo integral primitivo para a elaboração final de um universo exterior. (PIAGET, 1973 p. 20). A constituição da percepção espacial é construída gradual e simultaneamente a dos objetos, sendo que por volta do segundo ano de vida infantil este aprendizado está mais bem compreendido e elaborado. Esse processo é realizado de acordo com a percepção que a criança possui de seu corpo, a organização dos seus movimentos neste espaço, em relação aos objetos existentes à sua volta. Já no aprendizado das relações entre as causas e seus efeitos são descobertas acidentalmente pela criança, quando ela age atraída por algo e tem AN02FREV001/REV 4.0 17 como resultado um efeito inesperado. Nesta fase da vida da criança pode-se observar o aparecimento do egocentrismo infantil. Um bom exemplo da descrição desta etapa é colocado por Piaget quando a criança puxa a corda do móbile suspenso em seu berço. O móbile começa a se movimentar e a emitir o som musical. O brinquedo “reagiu” ao toque da criança, ou seja, ela aprendeu que pode causar um efeito desejado, e utilizará essa prática para alcançar outros feitos. A criança se servirá deste esquema causal para agir a distância sobre qualquer coisa. Essa espécie de “causalidade mágica” ou “mágico fenomenista” (conforme Piaget) mostra o egocentrismo causal primitivo. Essa etapa encerra quando a criança, já no segundo ano de vida, baseia-se mais em critérios concretos e menos na sua subjetividade infantil. Percebe a relação coerente que há de suas ações em relação às “reações” dos objetos. 1.5.1 2 a 7 anos de idade – Período Pré-operatório Um dos fatos marcantes da primeira infância remete-se ao surgimento da linguagem. A partir dela a criança apropria-se da expressão verbal mais eficaz em sua comunicação. É o estágio da inteligência simbólica. A criança terá, a partir desta fase, a capacidade de narrar fatos, representar situações já vividas ou futuras e interagir socialmente com instrumentos comunicativos mais esquematizados. Esse período possui, de acordo com Goulart (1987, p. 23), subdivisões: De 2 a 4 anos: aparecimento da função simbólica por meio da linguagem, do jogo e da imitação. A criança constrói conceitos a partir das experiências visuais concretas. De 4 a 5 anos e meio: ela “calcula” sua realidade por meio de perguntas sucintamente elaboradas: Onde? Como? Por quê? E suas respectivas respostas. É o início da famosa fase dos “PORQUÊS”! Dessa forma, ela inicia a construção de significados do que se passa ao redor, de situações e fenômenos a serem compreendidos. É um período rico em AN02FREV001/REV 4.0 18 descobertas, em relação à etapa anterior, podendo-se observar que a criança apresenta traços marcantes e peculiares. De 5 anos e meio a 7 anos de idade: a criança elabora e organiza seu mundo por intermédio de esquemas padrões de respostas para eventos que ainda não possui subsídios para compreender e explicar. O egocentrismo é visualizado pelo aparecimento do “animismo”, “artificialismo” e “finalismo”. O animismo caracteriza-se pela tendência da criança de dar vida, animar objetos, astros da natureza e os próprios componentes da natureza em geral. Habitualmente aparece um solzinho ou uma casa desenhada, portando um par de olhos, boca, nariz... Podemos observar também sua manifestação quando algum objeto machuca a criança e esta passa a culpá-lo pelo seu feito. Nesta fase os objetos possuem ânimo e intenção para a criança, e esta lógica se configura de acordo com a utilidade do objeto ou ser: “a lâmpada que acende, o forno que esquenta, a lua que dá claridade” (Piaget, 1997, p. 31), ou seja, a vida dada é em função de algo feito por estes objetos, significando “claramente” que eles possuem vida tanto quanto os humanos, visto que executam funções, tanto quanto estes. O artificialismo, por sua vez, é a propensão da criança em atribuir a um personagem humano a origem de tudo, como a origem natural dos elementos da natureza, que os adultos direcionam para a imagem do “Papai do Céu”. O finalismo é a fase caracterizada pela tendência que a criança possui de direcionar os eventos e explicá-los a partir de sua existência. Ou seja, os objetos e pessoas existentes em determinadas situações têm a finalidade de servi-la. A cada avanço maturacional, suas perguntas elaboradas se aprimoram e tornam-se mais complexas, de acordo com a melhor compreensão do que ocorre ao seu redor. Na fase pré-escolar, a criança ainda não discrimina os detalhes, as “miudezas” dos fatos e acontecimentos. Assim, torna-se fácil ser levada a acreditar apenas no que enxerga, nas evidências aparentes. É nesta fase que usamos a experiência de mostrar para a criança algum conteúdo (em mesma quantidade) em recipientes ou formas diferentes. A criança, ao ser questionada da possibilidade do conteúdo ter a mesma quantidade em AN02FREV001/REV 4.0 19 recipientes diferentes, lança uma resposta negativa, baseada na sua experiência visual. 1.5.2 O período de 7 a 12 anos - Operações Concretas Nessa idade a criança já iniciou seu período escolar, coincidindo com o período demarcado em sua evolução mental. Quando a criança atinge a idadeescolar, muitas mudanças em seu comportamento são notadas, ela apresenta maior poder de concentração e de trabalho em conjunto. Um tipo de sociabilidade mais proveitosa gera benefícios para seu desenvolvimento cognitivo, pois a criança aprende com as trocas, caso saiba usufruí-las. Anterior a este período, Piaget avalia que há um monólogo coletivo quando os alunos trabalham “juntos”, sendo que todos podem estar falando sobre o mesmo assunto, porém não conseguem manter uma conexão que caracterize o trabalho em equipe. Essa característica é denominada de linguagem egocêntrica. A partir dos sete anos de idade o aluno aprimora sua capacidade de cooperação, solidariedade, pois já pode compreender que o ponto de vista do colega está dissociado do seu. As brincadeiras com regras se tornam muito produtivas nesta idade, pois já são mais fáceis de serem compreendidas com a evolução da linguagem egocêntrica para a linguagem social. Quando um professor propõe um jogo para crianças com idade abaixo de sete anos, logo se depara com a função de oportunizar que cada um seja o ganhador. As regras são ignoradas parcial ou totalmente pelo aluno, e o prazer encontra-se em ser o “vencedor do jogo”. Quando o mesmo jogo é proposto para crianças com sete anos ou mais, verifica-se, entretanto, a mesma vontade de vencer. Porém, a criança necessita realmente ganhar o jogo, ultrapassar seus esquemas e regras para sentir-se satisfeitas. Essa é a etapa que inicia a construção da lógica infantil, embasada, justamente nas trocas sociais, na aceitação do espaço que o colega e suas opiniões ocupam além do seu próprio pensar e agir. AN02FREV001/REV 4.0 20 Piaget incluiu em suas pesquisas observações sobre a noção de permanência de peso e volume para crianças maiores e menores de sete anos. Consistia em apresentar a elas dois copos semelhantes e de medidas idênticas com o mesmo volume de líquido, preenchido com três quartos de água. Em seguida ele questionou o que ocorreria se jogasse uma quantidade determinada de açúcar em um dos copos, em relação ao outro. O que ele identificou foi certa progressão na lógica das respostas, equivalente às idades em questão. Crianças menores de sete anos ainda não consideram qualquer modificação em função do fato do açúcar ser adicionado à água, sendo sua resposta pitoresca, pois, se ele derrete, sumindo de seu campo de visão, simplesmente é considerado inexistente. Somente por volta dos sete anos de idade é que as crianças assumem a existência da conservação de substâncias, e, ao contrário dos pequenos, o açúcar continua na água. Uma resposta mais complexa é dada por crianças maiores de sete anos, que admitem certos pedaços de açúcar que dão sabor a ela. Seria, então, esta a fase correta para serem trabalhadas noções de tamanho, peso e volume. 1.5.3 12 anos em diante – Período Operatório Formal Nessa idade a criança já se prepara para a adolescência, sua capacidade neuropsicomotora desenvolve-se, aprimorando os esquemas da fase precedente. O processo cognitivo se desenvolve em um nível bastante apurado. Agora a criança já é capaz de elaborar hipóteses, imaginar soluções mais aperfeiçoadas, sendo possível propor problemas de classes mais elaboradas, em vista do raciocínio lógico já ter alcançado a aptidão de abstrair completamente. A criança poderá, inclusive, analisar metáforas, produzindo significados a partir de um sentido e de uma ideia, e não do sentido literal. Os processos pelos quais as crianças passam seguem uma ordem padrão, independente de sexo, raça, cor ou etnia. Portanto, não devemos, enquanto educadores, atermos às idades, mas sim às características de evolução infantil para construirmos nossa prática. AN02FREV001/REV 4.0 21 Garantiremos, assim, um planejamento qualitativamente organizado, que viabilize a todas as crianças um ambiente adequado para seu aprendizado. 1.5.4 Atividades Propostas - Baseadas em Piaget Algumas atividades foram desenvolvidas por Piaget para darem sustentação para suas pesquisas, como também, atualmente, servem de instrumento para que o professor possa permear sua prática e avaliações, utilizando seus resultados e o próprio processo de intervenção para conhecer melhor o perfil de seu aluno. Encontra-se no extenso trabalho elaborado por Goulart (1987), embasado nas teorias Piagetianas, algumas atividades que podem ser desenvolvidas pelo educador, conforme veremos a seguir: Noção da permanência do objeto Ofereça para a criança um objeto que lhe instigue a atenção, deixando que ela brinque com ele. O segundo passo é cobrir o objeto com um pano e observar sua reação. Reações: - Até o 7º mês – a criança imagina que o objeto desapareceu, retirando sua mão; - Após o 7º mês – sua reação é a de procurar pelo objeto. Percepção – constância da forma Mostre para a criança um objeto de seu uso diário de modo que ele apareça parcialmente. Apenas insinuando seu formato e observe se a criança é capaz de identificá-lo. Reações: - Até o 7º mês identifica o objeto quando tem a possibilidade de manuseá-lo para reconhecê-lo; - A partir do 9º mês identifica facilmente o objeto. AN02FREV001/REV 4.0 22 Noção causalidade Esta noção é observada a partir de uma “entrevista” informal com a criança. Pergunta-se a ela as razões de certos eventos ocorrerem e observam-se as respostas. Exemplos: “Por que o céu está lá em cima?” Respostas possíveis: “Porque ele fica lá para eu olhar para ele quando durmo”. “Porque o papai do céu mora lá”. Até os cinco anos de idade uma das possibilidades é que as respostas girem em torno da ação da criança sobre o evento questionado, sendo ela o “agente” responsável. Outra probabilidade é uma resposta baseada na ação de um terceiro, que possa ter condições de “controlar” o evento, como por exemplo, “Papai do Céu”, o pai ou a mãe da criança, seguindo a tendência egocêntrica de responder conforme o animismo, artificialismo e finalismo. 1.5.5 Conservações Físicas A) Conservação de quantidade (líquidos) 1) Mostre para a criança dois copos com as mesmas dimensões, e um terceiro copo de tamanho diferente dos primeiros. Encha com a mesma quantidade de água os copos idênticos, deixando o terceiro vazio. Em seguida, esvazie um dos copos iguais dentro do copo diferente. Pergunte para a criança qual é o copo que possui maior quantidade de água. Respostas: - Antes dos seis anos de idade: A resposta da criança será baseada na aparência dimensional dos copos, elegendo o maior para conter a maior quantidade de água; AN02FREV001/REV 4.0 23 - Aproximadamente aos sete anos de idade a resposta será: “a água continua a mesma”. A criança poderá também, nesta idade, querer que a água volte para o copo de origem para ter a mesma quantidade inicial. Sólidos 2) Deixe a criança manipular um pedaço de argila ou massa de modelar. Em seguida, corte-a ao meio e faça duas bolas. Mostre-lhe que as duas partes contêm a mesma quantidade de massa. Transforme, na frente da criança, uma das bolinhas em salsicha, ou outro formato qualquer, e pergunte qual das partes possui a maior quantidade de massa. Respostas: - Até os sete anos, aproximadamente: a resposta baseia-se na percepção visual, ou seja, a criança tende a imaginar que um dos objetos é maior, por isso ele terá maior quantidade da massa, podendo ser a bola ou a salsicha; - Após os sete anos de idade: já é capaz de responder que as duas partes têm a mesma quantidade de massa. B) Conservação do peso Em frente à criança enrole duas bolas de massa de modelar compostas igualmente em peso e aparência. Pese-as em uma balança de braços, fazendo-a perceber que a balança só equilibra-se porque as duas bolinhas se equivalem. Retire as duas partes de massa e faça de uma delasuma salsicha. Pergunte para a criança qual das duas partes será a mais pesada. Respostas: - Antes dos oito anos: a criança elege uma das partes, considerando a que possuir maiores dimensões; - Após os oito anos: a criança já percebe que as duas partes possuem o mesmo peso. C) Conservação de volume AN02FREV001/REV 4.0 24 Nessa experiência apresentam-se à criança duas bolas de materiais distintos, plástico e argila, por exemplo; e ainda, dois copos idênticos, com a mesma quantidade de água, para que ela visualize que os líquidos encontram-se no mesmo nível. Em seguida, peça para a criança verificar em uma balança que as duas bolas possuem pesos diferentes. Mergulhe uma bola em cada copo e formule a seguinte pergunta: “O nível de água aumenta igualmente nos dois copos, por quê?” Respostas: - Antes dos nove anos de idade: Nessa idade a criança responde que o copo que aumentará seu nível é aquele em que a bola que ela considera maior ou mais pesada será mergulhada; - Após os nove anos de idade: a criança responde que o nível de água aumenta na mesma quantidade nos dois copos. Em relação às proporções físicas: conservação de quantidade, de peso e de volume, Piaget concluiu que a noção de volume é a última a ser compreendida em função de algumas noções, como a de quantidade e peso, serem pré-requisitos para que essa última seja aprendida. Portanto, segue-se a seguinte hierarquia referente à esquematização cognitiva que a criança constrói: Primeiro ela adquire a noção de quantidade, em sua forma líquida e sólida, por volta dos seis aos sete anos de idade. Em seguida, a criança aprende a noção de peso, aproximadamente aos oito ou nove anos. E, finalmente, a conservação do volume, por volta dos 10 aos 12 anos. A) Conservações espaciais - de comprimento Mostrar para a criança duas tiras, sendo uma esticada e outra enrolada como uma mola. As duas tiras devem começar e terminar com os extremos coincidindo, então, pergunta-se para a criança se as tiras são do mesmo tamanho. Respostas: - Entre um aos cinco anos a tendência é responder que as tiras são do mesmo tamanho; AN02FREV001/REV 4.0 25 - A partir de cinco aos sete anos de idade a criança percebe que a mola é mais longa. B) Conservação de superfície Apresentam-se à criança dois cenários verdes feitos em cartolina que representam um campo. Com papel colorido deve-se confeccionar o mesmo número de casas para os dois campos. No primeiro, organizar as casas de modo que fiquem separadas uma das outras, e no segundo, colocá-las unidas. Concomitantemente, pergunta-se para a criança qual dos dois cenários terá mais pasto para as vacas comerem. Resposta: Somente a partir dos oito anos de idade a criança perceberá que o espaço de campo restante é o mesmo. Operação de classificação 1) Classificação visual – Oferecer para a criança dois tipos de figuras geométricas de cores e tamanhos diferentes. Em seguida, pedir para que ela organize os objetos de acordo com um dos itens – cor, tamanho e forma. Respostas: - A partir dos cinco ou seis anos de idade a criança já consegue classificar elementos, organizando-os rudimentarmente ao eleger um atributo; - Ao redor de oito anos as combinações admitem mais de dois itens simultaneamente. Classificação tátil-cinestésica 2) A atividade consiste em proporcionar à criança a manipulação de objetos (formas geométricas) sem que ela mantenha contato visual. Em uma mesa distribuir dois cubos grandes e dois pequenos, dois quadrados grandes e dois pequenos, AN02FREV001/REV 4.0 26 tapando-os com uma toalha. Em seguida a criança deve organizá-los de acordo com suas formas e tamanhos. Resposta: Para as crianças, este tipo de atividade é mais difícil de ser realizada, sendo que elas organizam e definem melhor os objetos primeiramente pelo seu tamanho e depois por sua forma. Operação de seriação Nessa experiência é necessário disponibilizar dez círculos de diferentes tamanhos e separar cinco círculos por ordem de tamanho. Desses cinco, deve-se retirar um e misturá-lo com os demais. Pede-se para a criança preencher o espaço que deve ser tomado pelo tamanho equivalente na série. Exemplo: ------------ Respostas: A noção de seriação constitui-se na criança a partir dos sete anos de idade, dominando, inicialmente, a seriação simplificada, com a probabilidade de seriar apenas um elemento, aumentando de acordo com sua capacidade discriminatória. Na teoria de Jean Piaget, as crianças aprendem por meio da ação e da solução de problemas e, uma vez descobrindo-os, poderão modificá-los. Sendo essa a alavanca para alcançar um estágio mais avançado. Entretanto, uma das contribuições dos estudos de Piaget foi a ênfase dada ao desenvolvimento cronológico natural do ser humano, que indica quando a criança estará preparada, “pronta”, para realizar determinada atividade, que não poderia realizar no caso de encontrar-se em outro momento maturacional. Possivelmente sua teoria tem estreita relação com sua formação profissional – biologia e ciências naturais – não podendo, entretanto, contextualizar suas abordagens como fez Vygotsky, a partir de construções em bases filosóficas. AN02FREV001/REV 4.0 27 (...) a principal preocupação de Vygotsky era compreender a natureza, a evolução e a transmissão da cultura humana. Seus primeiros trabalhos incluíram o estudo e a análise da “representação” em arte e literatura. Sua perspectiva psicológica refletiu suas visões sobre as origens históricas e culturais do modo como as pessoas de diferentes sociedades atuam, constroem e representam seu mundo. Assim, enquanto Piaget procurava unificar biologia, ciências naturais e psicologia, a busca de Vygotsky era integrar a psicologia com uma análise da história, da arte, da literatura, da atividade cultural e da sociologia. (DAVID WOOD, 2003. p. 22). FIM DO MÓDULO I