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Universidade de Brasília- UnB Faculdade de Arquitetura e Urbanismo FAU Disciplina de Infraestrutura Urbana Drenagem Urbana: antigos, novos conceitos e soluções Ana Paula da Silva Gomes (190102233) Matheus Rudo Antoniassi Pereira de Oliveira (190114207) Millena de Menezes Dutra (190129191) Resumo: A urbanização descontrolada das cidades brasileiras tem provocado, dentre outros impactos, o agravamento das enchentes naturais e a ampliação de sua frequência, provenientes da crescente impermeabilização do solo, o aumento do volume pluvial escoado e redução de amortecimento. O presente artigo apresenta o contexto da drenagem nas cidades brasileiras, os métodos convencionais e os novos métodos de drenagem, além de uma exemplificação a partir de modelos existentes. Palavras chave: drenagem urbana, águas pluviais, métodos alternativos, sustentabilidade. Introdução O principal problema da drenagem urbana nas cidades brasileiras atuais, é a estaticidade dos modelos convencionais de drenagem (a não capacidade de se adaptar às novas dinâmicas de uso, ocupação e impermeabilização do solo), uma vez visto que, segundo o IBGE, a maior parte da população tem acesso aos sistemas de drenagem urbana, sendo que sua falta já foi o maior problema da drenagem urbana nas cidades brasileiras. Os sistemas de drenagem foram projetados inicialmente para escoar a água o mais rápido possível, dimensionando a rede para contemplar uma vazão específica relacionada à ocupação do solo no momento em que eles foram inseridos, esses são considerados hoje os métodos convencionais de drenagem. O problema surge quando a configuração do uso do solo muda, pela dinâmica da dinamicidade das cidades (a forma em que se alteram as dinâmicas de uso, ocupação e impermeabilização do solo), na maioria das vezes, os sistemas convencionais de drenagem não conseguem acompanhar essa evolução. Com a defasagem pelas novas dinâmicas de uso do solo, principalmente pela decorrência de novas áreas impermeáveis decorrentes desse novo uso, se torna cada vez mais comum o aparecimento de focos de alagamentos pelas cidades. Isso ocorre pelo aumento de volume de água que necessita de escoamento em relação à vazão máxima dos sistemas de drenagem instalados, que suportavam outro padrão de ocupação do solo. Essa dinâmica de mudança da ocupação do solo nas cidades pode gerar diversos problemas, um dos maiores deles é a maior impermeabilização do solo, que pode deixar os sistemas de drenagem convencionais defasados quanto à vazão necessária para escoar a nova quantidade superficial de água. Com o aumento das áreas impermeáveis, os sistemas de drenagem urbanos se tornaram obsoletos, muitas vezes, a quantidade de água que chove sobre as vias permanece sobre a camada superficial do solo por muito mais tempo do que ficaria com a drenagem natural. Visto, geralmente, como um sinal de desenvolvimento, a pavimentação por meio do asfaltamento é um dos principais fatores de impermeabilização das áreas urbanas pode gerar problemas. A impermeabilidade pode causar problemas não só nas áreas onde elas ocorrem, mas podem se tornar causadoras do rebaixamento dos lençóis freáticos e, consequentemente, da crise de abastecimento das cidades, pela escassez. Isso se dá por conta do ciclo hidrológico, que, em suma, se dá pela forma em que as águas pluviais incidem sobre o solo, que as absorve e abastece as bacias hidrográficas pela infiltração e percolação, onde a água é levada para uma nova área onde ela irá evaporar e formar, eventualmente, nuvens de chuva, onde o ciclo recomeça. Visto que a água não infiltra, e, consequentemente, não abastece as bacias hidrográficas, a água não se acumula em um ponto central e evapora muito rápido, gerando nuvens que praticamente não formam chuva, diminuindo a quantidade de água disponível para o próximo ciclo (MIRANDA et al. 2010). Figura 1: esquema apresentando o ciclo hidrológico Fonte: Adaptado de Hoban e Wong (2006) Em ambientes naturais, a água da chuva é absorvida pelas raízes das plantas, penetra no solo ou evapora. Contudo, com o desenvolvimento urbano esse processo mudou gravemente, removendo a vegetação da terra e cobrindo-a com superfícies impermeáveis ou semipermeáveis. Como resultado, a água da chuva escoa dessas superfícies, através de drenos de águas pluviais e se direciona para novos cursos de água, rapidamente poluindo as águas. Isso muda o tempo, a velocidade e o volume dos fluxos de água, o que pode afetar nossos cursos de água e baías. Em síntese a urbanização promove a impermeabilização do solo leva a alteração do ciclo hidrológico e as soluções de drenagem tradicionais que tinham como princípio o rápido escoamento sem gerar infiltração não colaboram para solução dessa consequência da urbanização. Hoje existem novas visões sobre o tema com sistemas que potencializam a infiltração das águas no solo, privilegiando o ciclo hidrológico natural. O presente trabalho visa discutir os conceitos e métodos dessas duas visões e apresentar um exemplo que possa estimular a revisão do sistema tradicional. 1.1 Drenagem tradicional brasileira No Brasil, mais de 80% da população brasileira vive em cidades, como consequência desse crescimento populacional, há impermeabilização do solo natural, ocupação das margens de proteção dos rios, desmatamentos, canalização de rios, quantidade crescente de resíduos sólidos jogados nesses corpos hídricos, dentre outras. Quando ocorre grande precipitação pluvial, os corpos hídricos transbordam provocando inundações com danos materiais, humanos e ambientais que impactam a saúde da população. No mundo, 20 milhões de pessoas sofrem anualmente com enchentes. O Brasil ocupa a 11ª colocação no ranking com 270 mil pessoas atingidas pelas inundações (CHISTOFIDIS et al. 2019). Dentro deste contexto definem-se as diferentes fases da drenagem brasileira propostas por Silveira: Etapa Higienista, Método Racional e a Hidrologia Urbana. O Brasil demonstra três etapas para o modo como a drenagem urbana é posta em prática no país ao longo dos últimos dois séculos. A primeira delas é a fase Higienista, onde com o aumento das aglomerações urbanas a partir do século XIX evidenciou-se o papel sanitário de águas pluviais como transmissor de doenças, contribuindo para uma mudança de concepção das relações entre urbanismo e águas urbanas, levando ao conceito higienista de drenagem representado pela implantação das primeiras canalizações de águas pluviais e esgoto em importantes cidades brasileiras. Com essa fase começou a drenagem urbana tradicional, onde havia a coleta e o afastamento imediato das águas pluviais para jusante, causando a elevação do pico de cheias nos cursos de água e a diminuição do tempo de concentração, agravando a situação das cidades, dos cidadãos e das águas, pelas características das soluções parciais resultando em inúmeros problemas intersetoriais. A etapa higienista foi sucedida pela etapa da racionalização marcada pelo desenvolvimento e aplicação do Método Racional e pela normalização dos cálculos hidrológicos para dimensionamento de obras hidráulicas. Essa segunda etapa não altera substancialmente o conceito de evacuação rápida das águas pluviais e se dedica a conferir mais precisão aos cálculos, possibilitados pela importação de melhores instrumentos de medição das grandezas hidrológicas, tais como os pluviógrafos, que chegam ao país na década de 1930. Assim, seguem os investimentos na escala da cidade, a macrodrenagem, e não mais ao nível local, ou seja, somente do sistema viário. A adoção da solução de macrodrenagem associada ao sistema viário estruturante, já em uma escala compatível com a cidade e não mais ao nível local, utiliza os fundos de vale para escoamento de efluentes sanitários e pluviais, disseminou-se em todo o país, demandando obras massivas de canalização. Contudo, foram desconsiderados nessas ações os impactos socioambientais, tais como a transferência de vazões para jusante, estímulo à ocupaçãode áreas de risco, desconexão com aquíferos, remoções de população ribeirinha e perda de referências paisagísticas. Ao mesmo tempo, os cursos de água que permaneceram em leito natural foram sendo degradados por lançamentos em fluentes, pelo aumento dos picos de vazão, em decorrência da impermeabilização do solo e da instalação de rede de drenagem em sua área de contribuição, e ainda pela ocupação de margens por habitações precárias, fora da legislação urbanística e ambiental (TUCCI, 2007). A emergência do ambientalismo na década de 1960 levou ao questionamento desse modelo de desenvolvimento, adotado pela sociedade urbano-industrial. A incorporação desse questionamento define a terceira etapa denominada, por Silveira (1998) de etapa da hidrologia urbana, sucessora das etapas higienista e de racionalização. Ela tem origem nos países desenvolvidos, que, dispondo de instrumentos tecnológicos mais sofisticados para a aferição de dados e para simulações via modelagem hidrológica e hidráulica, passam a buscar a mitigação dos impactos da urbanização sobre o ciclo hidrológico. No Brasil, essa nova abordagem é introduzida em meados dos anos 1970, principalmente a partir do contato de técnicos e acadêmicos com pesquisas teóricas e aplicadas estrangeiras. A terceira fase representa um salto a uma nova dimensão, um nível de realidade na evolução humana, no qual passou a existir uma consciência ampliada no conhecer e no cuidar das águas, reconhecida como proposta de Soluções baseadas na Natureza (SbN) para a gestão da água. Higienista Método Racional Hidrologia Urbana - Segunda metade século XIX - primeiras canalizações pluviais - drenagem tradicional - afastamento de águas para jusante - Primeira metade século XX - relação matemática entre chuvas e escoamento - macrodrenagem + sistema viário estruturante na escala da cidade - impactos socioambientais - Segunda metade século XX até os dias de hoje - emergência ambientalismo - instrumentos tecnológicos mais sofisticados - mitigação de impactos Dentre os principais elementos do sistema tradicional se destacam dois sistemas distintos, o Sistema de Microdrenagem e o Sistema de Macrodrenagem, ambos planejados e projetados mediante critérios diferenciados. O primeiro é projetado para atender a drenagem de precipitações com risco demorado e, o segundo, para atender precipitações superiores às de microdrenagem com riscos conforme os prejuízos humanos e materiais potenciais. O Sistema Inicial de Drenagem, ou Microdrenagem, possui em sua composição pavimentos das ruas, guias e sarjetas, bocas de lobo, canais de pequenas dimensões e galerias de águas pluviais já o Sistema de Macrodrenagem é composto, na sua maioria, por canais de maiores dimensões, o seu correto funcionamento necessita-se de prevenção e/ou minimização dos danos às propriedades, à saúde 3. Métodos convencionais e novos métodos de drenagem A drenagem urbana é o gerenciamento da água da chuva que escoa nas cidades com o objetivo de evitar inundações e possibilitar o desenvolvimento urbano de forma harmônica. As primeiras versões de drenagem urbana tinham como meta remover as águas pluviais para algum curso d'água, retirando da área urbana. A visão moderna abrange a compreensão integrada do meio ambiente, social, legal, institucional e tecnológico. A drenagem urbana é dividida em dois métodos: drenagem convencional que visa o rápido escoamento das águas e drenagem sustentável que intenta a infiltração. 3.1 Drenagem convencional A drenagem convencional é o meio mais utilizado no Brasil e no mundo. Ela é feita por meio de sistemas de dutos que canalizam as águas até a jusante para evitar alagamentos e inundações mediante o rápido escoamento das águas da estrutura urbana. Esse método possui diversas falhas, sendo a consequência imediata o aumento dos alagamentos à jusante. Com o processo de reunir as água para lançamento no curso d’água, em pontos mais baixos os dutos não aguentam a quantidade de água escoada e transbordam, gerando os alagamentos. Outra consequência preocupante é a falta de infiltração, levando ao rebaixamento dos lençóis freáticos e redução da recarga de aquíferos. 3.2 Drenagem sustentável O momento contemporâneo caracteriza-se por uma mudança de paradigma em relação à drenagem urbana, um novo modo ampliado de compreender as águas ocorre com a combinação da experiência adquirida nas práticas convencionais da engenharia, passando para o entendimento do conceito de desenvolvimento sustentável e das preocupações atuais das mudanças climáticas causadas, em tese, pela ocupação agressiva humana no planeta. Consequentemente causando um ressignificado e um despertar para a importância de aprimorar as realizações das atividades e empreendimentos em ambientes e ecossistemas hídricos, cooperando e dialogando com seus componentes, dedicando à harmonização com os ciclos da natureza e das águas. A partir da década de 1970, em diversos países, aconteciam avanços no modo de manejar as águas pluviais que apresentavam uma constante evolução. Surgiram medidas, tais como; o controle na fonte, a indução à infiltração e à retenção, ampliando perenemente a introdução de componentes, de um modo de pensar da integração das águas urbanas e de menor interferência ao ciclo das águas A descrição das inovações inseridas por essa fase, suas características inovadoras e vantagens introduzidas ultrapassaram o modo tradicional de apenas coletar e conduzir as águas pluviais aliaram a essa percepção a geomorfologia, os componentes estruturais e não estruturais (planejamentos, zoneamentos, medidas indutoras à ocupação de áreas menos vulneráveis às inundações, seguros contra inundações etc.) Sistema Estratégias aplicadas Soluções adotadas Drenagem convencional Canalização; promover o afastamento rápido dos escoamentos; Galerias subterrâneas; canais; sarjetas; bocas de lobo; poços de visita; Drenagem sustentável Armazenar; infiltrar; evaporar; diminuir o escoamento superficial; manter a qualidade da água; aproveitamento de águas pluviais Jardins de chuva; tech garden; pavimentos permeáveis; sistemas de aproveitamento de águas pluviais; bacias de retenção; espaços públicos alagáveis; 3.2.1. Drenagem sustentável, os novos métodos de drenagem A infiltração é a finalidade da drenagem sustentável. Com ela é possível recarregar os aquíferos e manter o ciclo hidrológico, além de estar intrinsecamente ligada às decisões de projeto urbano, sendo possível implantar soluções de forma posterior, visando corrigir problemas e dar melhores soluções ao sistema de drenagem. Atualmente existem vários estudos que associam padrões de desenho urbano a um menor impacto sobre a infiltração natural e a manutenção do ciclo hidrológico. As novas abordagens de manejo das águas no meio urbano, muitas delas, existentes desde a década de 1970, podem ser sintetizadas em algumas iniciativas que são utilizadas tanto pelo urbanismo focado na infraestrutura verde como pela soluções baseadas na natureza. 3.2.2. Low Impact Development – LID; As medidas estruturais, recurso que compreendem as obras de engenharia como poços de infiltração e bacias de detenção, em conjunto com as medidas não estruturais, soluções de planejamento de drenagem como recuperação de matas ciliares ampliaram as estratégias. Possibilitando a haver maior detenção, infiltração, tratamento da água em pequena escala e conservação de processos hidrológicos, mitigando os impactos da urbanização desordenada, de modo a compensar as consequências negativas da drenagem tradicional e passando a ser conhecida por drenagem urbana sustentável. Em decorrência disso, pode-se dizer que houve uma forma de ver as águas pluviais, com base nos conceitos de redução dos impactos ambientais. Essa afirmação decorre de uma base concebida e aplicada, inicialmente nos anos 1970, denominada por LID (Low Impact Development), que foi ampliada nas duas décadas seguintes (1980 e 1990)e disseminada, especialmente nos anos 2000 a 2010, a partir da inserção nas legislações do Canadá e dos EUA. Na Nova Zelândia, outro novo paradigma em drenagem urbana, seguindo os conceitos do LID, expandiu-se e foi denominado por LIUDD (Low Impact Urban Design and Development), com os principais propósitos de restabelecer ou de manter as águas urbanas por meio de soluções locais e pontuais, integradas em uma paisagem funcional hidrológica, para proporcionarem o balanço hidrológico. Uma segunda alternativa paradigmática de drenagem urbana sustentável surgiu, concomitantemente, nos anos 1980 e ampliou-se na década de 1990, conhecida pela sigla BMP (Best Management Practices). O termo baseou-se em práticas agrícolas que se mostraram eficazes em aspectos conservacionistas nas atividades rurais dos EUA, cujos componentes e conceitos mostraram-se convincentes e foram adaptados para atenderem às atividades de drenagem urbana e de controle da poluição ambiental na América do Norte 3.2.3. Water Sustainable Urban Design – WSUD; As novas soluções mostraram as vantagens em abandonar o modo aproveitamento, utilitarista e fragmentado de conceber os planejamentos urbanos e assentamentos humanos e dedicaram valor ao respeito à diversidade de visões, às características e especificidades sociais e ambientais. Essas soluções influenciaram e originaram, na década de 1990, na Austrália, o WSUD (Water Sensitive Urban Design) O WSUD usa um planejamento urbano para reutilizar as águas pluviais, impedindo que cheguem aos cursos de água, imitando, o mais próximo possível, o ciclo natural da água. Ele constituiu-se em um modo de conceber o urbanismo baseado no princípio da precaução, no qual o planejamento proativo das cidades e dos assentamentos humanos tivesse condições de evitar ou minimizar os impactos hidrológicos da urbanização nos ambientes hídricos. Ao mesmo tempo, proporcionou opções e facilidades para a concepção dos sistemas de drenagem urbana expandindo o alcance dos sistemas de drenagem por considerar uma forma de gestão que ampliava os olhares além do simples controle das cheias, da indução à infiltração e a detenção das águas de chuva. Passou-se, então, a se constituir em um conjunto de oportunidades pluri setoriais e multidisciplinares de olhar sinérgico. Expandiu, também, a unificação do manejo fluvial com o pluvial, com a qualidade das águas e seus regimes. 3.3. Drenagem sustentável no Brasil No Brasil, a visão da gestão integrada de águas urbanas foi motivo de diversas debates acerca dos planos diretores e como eles poderiam se desenvolver nesse aspecto, como em Belo Horizonte (PINHEIRO & SANTOS, 2019) e Recife (SILVA, 2010), mostrando que se as cidades fossem planejadas de forma integrada, reduzir-se-iam os problemas ocasionados por cheias. Vale lembrar que, em 1997, foi criada a Lei nº 9.433, mais conhecida como Lei das Águas, que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos e criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Entre outros benefícios da Lei das Águas, está a definição das bacias hidrográficas como unidades de planejamento para a gestão das águas. Ou seja, a partir da formação dos Comitês de Bacias Hidrográficas, a gestão torna-se descentralizada, sendo conduzida pelas prefeituras e sociedade civil organizada, bem como outras instâncias dos governos estadual e federal. Assim, sustentabilidade como meta passou a induzir a regras de uso e de ocupação dos solos de modo a preservar a natureza, assim, os sistemas podem receber o abastecimento de água, o esgotamento sanitário, tratamento, a drenagem urbana e a coleta, o processamento e a reciclagem dos resíduos. 4. Exemplo no Brasil Os problemas gerados principalmente pelo modo como a ocupação urbana se desenvolve, muitas vezes sem planejamento e sem controle do uso do solo, traz diversas consequências na drenagem de bacias urbanas, especialmente em alterações no escoamento. A questão da drenagem urbana tornou-se muito complexa no contexto contemporâneo da demanda ambiental crescente, que além de questões sustentáveis envolve aspectos sanitários, paisagísticos, sociais e tecnológicos. De acordo com Tucci (2008) nas áreas de ocupação ilegal, existem processos de invasão e ocupação de áreas de risco, o que gera problemas de inundações e escorregamentos, assim a cidade informal geralmente não é tratada pela gestão urbana. Nesse sentido, muitas vezes os conceitos de urbanização no processo de formalização dessas áreas ainda mantém uma ocupação muito densa e que não prioriza os conceitos sustentáveis. No Brasil a bacia hidrográfica da Mãe d'água, no Rio grande do sul, representa bem essa realidade. Essa bacia já vem sofrendo com problemas de assoreamento da rede de drenagem e consequentes alagamentos. Além de sua ocupação ocorrer em áreas de risco por populações de baixa renda, o município permite a impermeabilização urbana por meio do estabelecimento de baixas taxas de permeabilidade dos lotes, em uma tentativa de ordenação da região pelo plano diretor municipal. A taxa de permeabilidade exigida por lote nessa macrozona é de 10% do terreno, definido como o percentual expresso pela relação entre as áreas do lote sem pavimentação impermeável e sem construção no subsolo e total do terreno (VIAMÃO, 2013), o que permite o aumento da impermeabilização da bacia. Figura 2: localização da sub-bacia do Arroio Central da bacia hidrográfica Mãe d’Água Fonte: SILVEIRA & ZANANDREA (2019) As simulações realizadas no estudo, apontam alguns cenários na permeabilidade do solo para a região com o impacto do processo de urbanização. De acordo com levantamento realizado na bacia, o mapa de uso do solo gerado a partir da imagem de satélite para o ano de 2014, sem nenhuma intervenção e com as taxas de permeabilidade atuais, totalizando 60% de área impermeável na bacia. Um cenário futuro representado pela concretização do plano diretor considerando as taxas de permeabilidade em 10% por lote, apontam uma área impermeável da bacia de cerca de 85%, ainda se estima pela região, que é possível que a zona se encontre com outra macrozona em expansão, nesse caso totalizando 90% de impermeabilização da área bacia. Figura 3: discretização da sub-bacia do Arroio Central Mãe d’água Fonte: SILVEIRA & ZANANDREA (2019) Com base nesses critérios estabeleceu-se um estudo para a elaboração de um cenário possível representado pela intervenção de propostas sustentáveis. No caso foi proposto a opção de pavimentos permeáveis e vegetative swale, que entende-se por uma grande vala de infiltração, que na prática é uma depressão no terreno natural ou escavada que acumula 1m de faixa de água temporariamente. Ressalta-se que as vegetative swales apresentam apenas a zona denominada “superfície” e os pavimentos permeáveis às zonas “superfície”e “armazenamento”. Essa estrutura foi escolhida devido à falta de espaço para estruturas de manejo pluvial, além de locais onde predominantemente existe a população de baixa renda pouco atendida pela gestão de drenagem e espaços de área pública disponíveis. As vias de implantação foram escolhidas por sua declividade e que não fossem rotas de tráfego intenso. Os dados de chuva utilizados na calibração e validação são provenientes de uma estação pluviométrica localizada no Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Essa é a estação mais próxima à área de estudo, com uma série de 5 anos, de dezembro de 2003 a abril de 2008, com dados de 15 em 15 minutos. Foi utilizado o método de tentativa e erro na calibração, de modo a minimizar a diferença entre as vazões calculadas e as medidas em campo. Nesse estudo, as simulações hidrológicas e hidráulicas foram realizadas por meio do modelo SWMM (Storm Water Management Model) que vêm sendo utilizados para avaliar o efeito integrado de LID em bacias urbanas, apresentando bons resultados. Na simulação da transformação chuva-vazão, o modelo tratacada sub-bacia como um reservatório não linear, incluindo evaporação, armazenamento em depressão, infiltração e escoamento superficial. Foram realizados levantamentos em campo para averiguação e georreferenciamento das estruturas de drenagem urbana existentes. Nesses levantamentos, determinaram-se o comprimento e a largura ou o diâmetro de pontes e canalizações. A duração da precipitação adotada foi estimada através de simulações realizadas com hietogramas de projeto de duração de 1, 3, 5, 6 e 10 horas, com tempo de retorno de 20 anos. O tempo de retorno é um parâmetro utilizado para dimensionamento de projetos de drenagem e análises de incidência de chuvas, estabelecendo um período de retorno para milímetros de chuva por metro quadrado. Um cenário com tempo de retorno de 10 anos, por exemplo, tem por princípio prever o comportamento da modelagem hidrológica considerando a maior chuva (em quantidade de milímetros de água por metro quadrado) que ocorre em um período de 10 anos. Quanto maior é o tempo de retorno, maiores são as chances de incidir sobre o projeto uma chuva com quantidades maiores de milímetros de água por metro quadrado (segundo o manual de determinação de intensidade de chuvas do DNIT). Figura 4: hidrogramas de tempo de retorno no cenário atual no trecho 5 e 25 Fonte: adaptado de SILVEIRA & ZANANDREA (2019) Figura 4: hidrogramas de tempo de retorno com base na implementação do plano diretor no trecho 5 e 25 Fonte: adaptado de SILVEIRA & ZANANDREA (2019) Figura 5: hidrogramas de tempo de retorno com base na implementação da proposta de intervenção no trecho 5 e 25 Fonte: adaptado de SILVEIRA & ZANANDREA (2019) Figura 6: volume infiltrado pelas infraestruturas de low impact development por sub-bacia Fonte: SILVEIRA & ZANANDREA (2019) A intensidade média de cada um desses hietogramas foi testada como uma chuva constante no modelo calibrado. Com isso, calculou-se o tempo da curva, ou seja, o tempo desde o início da chuva até a estabilização da vazão. Então, definiu-se o tempo de duração mais apropriado para a bacia quando o tempo de duração do hietograma fosse aproximadamente igual ao da curva S representativo de todas as durações. Encontrou-se, assim, o valor de cinco horas, utilizado como a duração de todas as chuvas de projeto, permitindo que toda a precipitação contribuísse no hidrograma do exutório da bacia. Escolheram-se, para avaliação, os hidrogramas do trecho 5, em que não existem medidas LID a montante, e do trecho 25 na foz de toda a sub-bacia. O trecho 5 representa a porção a montante da bacia, onde atualmente possui baixa ocupação, e o 25, a porção mais a jusante da bacia, onde se tem a representação do escoamento total da área de estudo. Todos os trechos apresentaram aumento dos volumes dos hidrogramas no cenário da concretização do Plano Diretor, como esperado, em razão do aumento da impermeabilização do solo, o que ocasionou também aumento dos alagamentos de nós, considerando que a região é um local de investimento na expansão urbana do município. Os mesmos trechos foram escolhidos para apresentar os resultados simulados no cenário possível com a inserção das LID. Todos os hidrogramas do projeto para um cenário mais sustentável apresentaram uma vazão de pico e volume menores comparados ao cenário futuro do plano diretor, utilizando também o cenário de ocupação máxima conforme o plano. As áreas que apresentaram maior armazenamento foram as que possuíam pavimento permeável. De acordo com Qin, Li e Fu (2013), os pavimentos permeáveis apresentaram maior desempenho com a localização do pico da chuva no meio da duração, como utilizado neste estudo. Já as vegetative swales apresentaram melhor desempenho quando o pico da chuva era no início da duração, segundo o estudo. Também identificaram que o pavimento permeável tem maior efeito sobre a redução do escoamento superficial do que as vegetative swales, encontraram efeitos de 7 a 15% na redução do escoamento superficial com a instalação de equipamentos de LID, incluindo vegetative swales, para chuvas de grande intensidade, porém, observou-se maior eficiência das LID para tempos de retorno menores. Observa-se que o cenário mais crítico quanto a problemas de drenagem é o futuro com a implantação do novo plano diretor, visto que a impermeabilização do solo é maior e não existem medidas preventivas ou corretivas para mitigação dos impactos hidrológicos. Mostra-se que, no cenário possível com a implantação das medidas LID, ainda com medidas mitigadoras, restariam consideráveis volumes de extravasamento em alguns nós. O cenário atual foi o que apresentou os menores volumes, demonstrando que, se houvesse manutenção das taxas permeáveis atuais da bacia, associada à inserção de infraestruturas de LID, poderiam se diminuir ainda mais os volumes extravasados. Com os resultados, pode-se observar melhor eficiência na redução dos volumes escoados em medidas não estruturais, como manejo do uso e ocupação do solo, do que nas estruturas, como as LID para esse caso. No entanto, as LID auxiliam na redução do escoamento superficial, sendo uma alternativa viável para áreas já consolidadas. Entendeu-se que apenas o uso das medidas estruturais propostas não consegue minimizar todos os impactos hidrológicos da eventual má gestão do uso do solo. Os efeitos sobre os volumes dos hidrogramas foram maiores quando se reduziu a ocupação, aumentando a permeabilidade do solo, em relação às que mantiveram altas taxas de impermeabilização compatibilizadas com infraestruturas de LID. Entretanto, o desempenho das infraestruturas de LID foi satisfatório, auxiliando na redução dos volumes, principalmente em chuvas de menor intensidade. As LID combinadas reduziram grande parte do volume (14%) gerado pelo efeito da urbanização consolidada (aumento de 16%) para o tempo de retorno de dois anos. O desempenho das LID diminui para chuvas maiores, sendo mais eficiente para chuvas com menores TR, para as quais se propõem as estruturas de drenagem. Uma alternativa para diminuir ainda mais o volume escoado é a de medidas de controle nos lotes, que diminui a vazão de lançamento na rede pluvial. Essa alternativa não foi considerada para este estudo devido à renda da população local da área de estudo. Por isso, optou-se por medidas em áreas públicas. A eficiência das LID é afetada por suas dimensões e propriedades. No caso, os pavimentos permeáveis demonstraram maior eficiência na redução dos volumes escoados sobre as vegetative swales. No entanto, as LID têm sua eficiência afetada pelo tempo se não houver correta manutenção. É necessário o comprometimento do órgão público responsável pela drenagem da cidade para manutenção das infraestruturas de drenagem, principalmente as de LID. Os resultados deste estudo sugerem que as infraestruturas de LID devem ser discutidas como um novo método de controle de alagamentos urbanos, com o manejo do uso do solo, buscando soluções integradas para o correto manejo das águas pluviais. 6. Conclusão Este trabalho avaliou, através de uma análise bibliográfica que os sistemas tradicionais de drenagem são necessários, porém podem ser associados com novos sistemas de drenagem de modo a reestabelecer o ciclo hidrológico no meio urbano, sem impedir o desenvolvimento da urbanização. A aparição de novas propostas de uso sistemas de drenagem sustentável tem se tornado mais comum nos últimos 20 anos no Brasil. Estudos como o realizado em Viamão demonstram que o uso de técnicas compensatórias, como o LID e SWMM, associadas com o sistema tradicional tem grande potencial de reduzir o volume superficial de água em cidades com alta taxa de impermeabilização das bacias hidrográficas. Assim se tornando uma alternativa viável para redução do volume superficial de água excedente dos sistemas de drenagem tradicionais, predominantes no país. Fica explicitado também no caso de Viamão que, mesmo com os sistemas LID e SWMM, a nova ocupação do solo é prejudicialpara a completa drenagem urbana. Assim reafirmando a premissa apresentada ao longo do trabalho de que as novas dinâmicas de uso, ocupação e, principalmente, impermeabilização do solo são sim prejudiciais para os sistemas de drenagem. Ainda que em alguns casos, como o de Viamão, mesmo com a implementação de sistemas de drenagem sustentável, não é possível se equiparar a taxa de escoamento superficial ao que era antes da nova taxa de áreas impermeáveis do solo. Referências bibliográficas A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA DRENAGEM URBANA: DA DRENAGEM TRADICIONAL À SINTONIA COM A NATUREZA. SciELO Brasil, 2019. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/sdeb/a/jpNVWVZSdNRRyQS3qtWmz9g/?lang=pt>. Acesso em: 22/08/2021. ANÁLISE DE TÉCNICAS COMPENSATÓRIAS DE DRENAGEM URBANA PARA ATENUAÇÃO DE INUNDAÇÕES EM UMA SUB-BACIA NO RIO JIQUIÁ NO RECIFE. Repositório Ufpe, 2010. Disponível em: <https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/5401/1/arquivo2468_1.pdf>. Acesso em: 26/08/2021. ANDRADE, L.M.S. 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