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ESTRUTURAS EM CONCRETO PROTENDIDO: CÁLCULO E DATALHAMENTO, VOLUME 1 ROBERTO CHUST CARVALHO CAPÍTULO 1- CONCEITUAÇÃO E TIPOS DE PROTENSÃO -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 1 CAPÍTULO 1- CONCEITUAÇÃO E TIPOS DE PROTENSÃO 1.1-INTRODUÇÃO As estruturas de concreto armado e de concreto protendido hoje em dia já são consideradas como sendo do mesmo tipo, ou seja, são normalizadas por um mesmo documento (uma mesma norma) que usa especificações diferentes quando for o caso. Assim, a NBR 6118:2003 homologada no início de 2004 (Abril) já trata do “Projeto de estruturas de concreto” englobando o concreto simples (sem armadura), o armado (apenas com armadura passiva) e o protendido (em que pelo menos parte da armadura é ativa). Para se confeccionar uma peça tanto de um (concreto armado) quanto do outro (concreto protendido) os materiais utilizados são os mesmos: cimento, agregados graúdos e miúdos, água e aço conveniente disposto. A principal diferença entre ambos está no tipo de aço empregado assim como no procedimento construtivo. Nos elementos fletidos de concreto armado a armadura longitudinal, composta geralmente de barras de aço, são simplesmente colocadas na estrutura e só passam a trabalhar quando o concreto começa a se deformar. Assim é preciso retirar o escoramento da estrutura de concreto armado para que, iniciada a deformação das fibras de concreto, a armadura, que tem aderência ao concreto, comece a se deformar e passe então a resistir aos esforços. Diz-se então que esta armadura é do tipo passiva, ou seja, só funciona depois de solicitada pela deformação advinda do concreto. Em elementos fletidos de concreto protendido, como será visto no próximo item, mesmo que não haja a retirada do escoramento, a armadura longitudinal principal, constituída por aço de protensão, é distendida por elementos (macacos de protensão) externos à estrutura entra em ação independente da movimentação do concreto. Assim a armadura de protensão é chamada de “ativa”. QUADRO 1.1-ARMADURA PASSIVA E ATIVA. ARMADURA CONCEITUAÇÃO PASSIVA Aquela cuja tensão só é mobilizada pela deformação do concreto que a ela está aderente. Ocorrem normalmente nas estruturas de concreto armado. ATIVA Independentemente do concreto da estrutura estar sob tensão e se deformar após a operação de protensão a armadura ativa passa a funcionar e posteriormente ou imediatamente a estrutura. Ocorrem nas estruturas de concreto protendido e precisam de meios externos para serem distendidas provocando a protensão. Ainda que haja diferença no tipo de armadura empregada em um caso e outro as peças de concreto armado e protendido funcionam de mesma forma sendo, portanto errôneo imaginar que é necessário estabelecer regras de projeto e execução (Norma Técnicas) diferentes para os dois tipos de elementos. O protendido pode ser considerado como um “concreto armado” em que parte ou quase a totalidade da armadura é ativa. Esta posição já existia no CEB [1970] quando os dois tipos de estruturas já eram tratados por uma única Norma . Esta idéia foi defendida ROCHA [1964] quando cita no prefácio de sua obra “O fato de o concreto protendido ter sido introduzido no nosso curso de concreto armado é motivado pelo conceito atual que define o concreto protendido como um caso particular de um sistema construtivo mais geral denominado de concreto armado protendido”. Finalmente este conceito foi também aceito pelo meio técnico Brasileiro e como já foi escrito anteriormente ESTRUTURAS EM CONCRETO PROTENDIDO: CÁLCULO E DATALHAMENTO, VOLUME 1 ROBERTO CHUST CARVALHO CAPÍTULO 1- CONCEITUAÇÃO E TIPOS DE PROTENSÃO -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 2 na nova versão da norma de concreto (que substitui a NB1 de 1982) estão presentes o concreto armado e o protendido (além do concreto simples). Alguns autores vão além destas assertivas e consideram as estruturas de concreto protendido não apenas como um processo construtivo, mas sim um sistema estrutural, pois introduz ações na estrutura modificando-as no seu comportamento. De qualquer maneira as estruturas de concreto protendido são consideradas como um avanço ou uma extensão das de concreto armado pois com elas podem-se usar tanto aços de maiores resistências assim como concreto de alto desempenho (CAD). De acordo com a antiga norma de protendido a NBR 7197 (1978) a definição de uma uma peça como de concreto protendido, implica em estar submetida a um sistema de forças especialmente e permanentemente aplicadas, chamadas de forças de protensão, e tais que, em condições de utilização quando agirem simultaneamente com as demais ações de utilização impeçam, ou limitem, a fissuração do concreto. Normalmente só se considera o caso em que as forças de protensão são produzidas por armadura. Na nova redação da norma NBR6118:2004 em seu item 3.1.4 tem-se a redação: – Considera-se que os elementos de Concreto Protendido: “São aqueles nos quais parte das armaduras são previamente alongadas por equipamentos especiais de protensão com a finalidade de, em condições de serviço, impedir ou limitar a fissuração e os deslocamentos da estrutura e propiciar o melhor aproveitamento de aços de alta resistência no ELU (estado limite de último)”. Assim percebe-se que fica claro que normativamente o princípio do concreto protendido é: diminuir a fissuração do concreto através da introdução de tensões normais de compressão em regiões onde devido a outras ações existam tensões de tração. Como é sabido o concreto (simples) possui uma resistência à tração bem menor que à compressão (cerca de dez vezes menos), assim sua eficiência em peças fletidas é muito pequena, pois na região em que há tensão de tração devido à flexão, normalmente, sua função é desprezada ou pouco significativa. Desta forma quando se projeta uma peça em concreto protendido procura-se faze-lo de maneira que em todas regiões e nas diversas combinações de ação as tensões sejam somente de compressão ou de pequenos valores de tração. Pode-se imaginar, de uma maneira simplista e plagiando a oração de São Francisco que o projetista quando detalhe estruturas submetidas à flexão deve levar em conta para o concreto armado: Onde houver tração que se leve armadura; e no caso do protendido Onde houver tração que se leve a compressão. Mas na redação da nova norma fica claro que os efeitos da protensão não se reduzem apenas as questões de serviço, também no estado limite último (em situações próximas ao colapso) há alguns benefícios como por exemplo o fato de se poder usar armaduras com tensão muito mais elevada que as passivas. QUADRO 1.2-BENEFÍCIOS DA PROTENSÃO. SITUAÇÃO CONCEITUAÇÃO SERVIÇO Impede ou limita a fissuração e os deslocamentos da estrutura. ÚLTIMA Permite o melhor aproveitamento de aços de alta resistência no ELU (estado limite de último) . Historicamente a idéia de protensão surgiu praticamente simultaneamente a do concreto armado como pode ser visto em AGOSTINI [1983]. Existiram patentes de 1886 e 1888 requeridas por Jackson (Califórnia -USA) e Dohering (Alemanha) e cita-se ainda a experiência de Koenem (Berlim-Alemanha) que em 1906 aplicou a protensão para reduzir a ESTRUTURAS EM CONCRETO PROTENDIDO: CÁLCULO E DATALHAMENTO, VOLUME 1 ROBERTO CHUST CARVALHO CAPÍTULO 1- CONCEITUAÇÃO E TIPOS DE PROTENSÃO -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 3 fissuração de elementos de piso em argamassa. Porém as primeiras tentativas esbarraram sempre na impossibilidade de se garantir tensões de compressão permanentes no concreto. Os efeitos da retração e da deformaçãolenta do concreto acabavam por anular o efeito do estiramento prévio da armadura. Somente após os estudos e ensaios feitos por Eugene Freyssinet, a partir de 1928, é que foi possível entender que seria necessário o uso de aços que permitiriam grandes deformações de estiramento, de sorte que mesmo que perdessem parte do estiramento, ao longo do tempo, ainda assim transfeririam esforços de compressão ao concreto. As grandes deformações do aço podem ser obtidas sem comprometer a aderência com concreto usando dispositivos (bainhas por exemplo) que evitam o contato entre ambos, aço de protensão e concreto, durante a distensão do primeiro e permitindo o limite de deformação de 0,1% seja mantido após consolidada a aderência entre os mesmos. 1.2-TIPOS DE CONCRETO PROTENDIDO QUANTO À ADERENCIA E EXECUÇÃO Uma primeira classificação de elementos protendidos pode ser obtida considerando o mecanismo de aderência entre a armadura de protensão (chamada de armadura ativa) e o concreto. Desta forma têm-se os seguintes tipos de concreto protendido: • Com aderência inicial (também chamado de pré-tração)- a aderência entre a armadura e o concreto é iniciada quando do lançamento do mesmo • Com aderência posterior (também chamado de pós-tração)- a aderência entre a armadura e o concreto é iniciada posteriormente a execução da protensão quando o concreto já está endurecido • Sem aderência (também chamado de pós-tração)– neste caso a armadura só estará solidária ao concreto junto (e através) às ancoragens. Para que fique mais fácil o entendimento descreve-se o procedimento de execução de vigas com cada um dos sistemas. 1.2.a- Viga executada com concreto protendido com aderência inicial Este tipo de protensão é usado, normalmente, para peças pré-moldadas. Para fabricar a viga indicada na figura 1.1, usa-se uma pista de protensão com um berço (que nada mais é do que uma forma de fundo com grande comprimento) apoios rígidos e macaco de protensão (figuras 1.2 e 1.3). Figura 1.1 – Perspectiva esquemática de viga calha fabricada com protensão com aderência inicial Na figura 1.2 estão mostrados os principais elementos de uma pista de protensão. ESTRUTURAS EM CONCRETO PROTENDIDO: CÁLCULO E DATALHAMENTO, VOLUME 1 ROBERTO CHUST CARVALHO CAPÍTULO 1- CONCEITUAÇÃO E TIPOS DE PROTENSÃO -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 4 A seqüência de operações neste caso é a seguinte: a) posicionam-se, inicialmente, os fios de protensão que são ancorados (extremidade afixada) em um dos apoios rígidos, por exemplo, o do lado esquerdo; b) através de um macaco que reage contra o apoio à direita estira-se a armadura de protensão que pode ser composta de fios ou cordoalhas. Após alcançar o estiramento necessário as extremidades da armadura de protensão são ancoradas no apoio da direita; Figura 1.2 Pista de protensão -Execução de viga calha protendida com aderência inicial c) o carro indicado na figura 1.3 lança o concreto, vibra-o e dá o acabamento da superfície superior. A partir deste instante o concreto entre em contato com a armadura iniciando o processo de aderência. Daí o nome de aderência inicial ou pré-tensão, pois a armadura já estava tensionada quando do lançamento do concreto. Figura 1.3 Etapas da execução da viga calha e detalhe da ancoragem da armadura d) depois de transcorrido o tempo suficiente para que o concreto curado e já tenha resistência adequada promove-se à retirada da ancoragem de um dos apoios. A armadura ESTRUTURAS EM CONCRETO PROTENDIDO: CÁLCULO E DATALHAMENTO, VOLUME 1 ROBERTO CHUST CARVALHO CAPÍTULO 1- CONCEITUAÇÃO E TIPOS DE PROTENSÃO -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 5 tenta retornar ao comprimento que tinha antes da distensão provocando compressão no concreto em virtude de estar aderente ao mesmo. Na figura 1.3 além das etapas pode ser visto também o detalhe da ancoragem da armadura que é feita com o auxilio, por exemplo, de um cone composto por três elementos (ver figura 1.3-e) e que permite a passagem da armadura no centro do mesmo. O cone ao ser introduzido no orifício do apoio (também tronco cônico) vai se fechando em torno da armadura provocando a ancoragem da mesma no apoio. Percebe-se que a pista de protensão poderá ter a extensão que se desejar sendo possível até a execução de diversas peças do mesmo tipo simultaneamente, bastando para isso colocar forma intermediarias como é mostrado na figura 1.4, ou simplesmente, como no caso de lajes alveolares, cortar-se através de serra especial um segmento da pista que passa a ser um elemento. Desta maneira o comprimento de armadura “perdido” é pequeno, pois para um grande comprimento de peça apenas o trecho s (ver a figura 1.4) entre as seções extremas da primeira e última peça até os apoios indeslocaveis é que acabam sendo não aproveitados após a retirada da ancoragem. Também neste tipo de protensão não é necessário o uso de elementos de ancoragens (cones, placa de ancoragem e outros mais) nos elementos de concreto propriamente ditos. peça 2peça 1 peça 3 forma intermediária s Figura 1. 4 – Execução simultânea de diversas peças no mesmo berço Na figura 1.5 mostra-se também como seria o esforço de protensão devido a duas armaduras situadas em um mesmo nível, distante “e” do centro de gravidade da seção transversal nas situações a1 e b1. Executando a protensão da maneira descrita anteriormente tem-se um momento de protensão uniforme igual a Mp=2.F.e ao longo do elemento (Figura 1.5 a2). Imaginando o elemento trabalhando bi apoiado e submetido a uma ação uniforme o diagrama de momento fletor das ações atuantes nele varia com a equação de uma parábola do segundo grau indicado por M0 (Figura 1.5 a3). Assim o diagrama resultante de momento (Mp+o) (protensão e ação externa) está indicado em 1.5 a3, apresentando um momento grande intensidade próximo dos apoios (Mae). Para evitar isto, antes da concretagem, são colocados tubos de plástico (fazendo o papel de bainhas) envolvendo a armadura em um pequeno trecho (no caso o treco s da figura 1.5) em umas armaduras, junto ao apoio, fazendo com que o momento de protensão fique com o aspecto apresentado em 1.5 b2, e o diagrama final apresente valores máximos de mesma ordem de grandeza tanto no meio do vão quanto no apoio (Mbe). De qualquer modo pode-se notar que neste tipo de protensão não é fácil obter um diagrama de momentos (de protensão) com a variação parabólica, pois, em princípio, o valor de “e” não pode variar. ESTRUTURAS EM CONCRETO PROTENDIDO: CÁLCULO E DATALHAMENTO, VOLUME 1 ROBERTO CHUST CARVALHO CAPÍTULO 1- CONCEITUAÇÃO E TIPOS DE PROTENSÃO -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 6 a) peça 1 e 2F2F b) peça 2 F eF FF trecho s trecho s a1) diagrama de M a2) diagrama de M a3) diagrama de M p o p+o b1) diagrama de M p+o ob2) diagrama de M b3) diagrama de M Mae Mbe p Figura 1 5 – Peças com aderência inicial com aderência em todo comprimento (peça 1) e com trechos (s para uma armadura) sem aderência (peça 2) Chama-se ainda a atenção que na verdade o esforço de protensão não se introduz pontualmente como é sugerido no raciocínio anterior, é preciso ainda considerar que nas extremidades dos elementos existe uma introdução gradual da protenssão. Maiores detalhes são apresentados no capítulo 3. 1.2.b- Viga executada com concreto protendido com aderência posterior As vigas construídas com aderência posterior seguem, normalmente, a seguinte ordem de execução mostrada na figura1.6: • Etapa 1 - montagem do escoramento, das formas e da colocação das armaduras passivas (armaduras normais feitas com barras de aço comum) e bainhas estanques (não permitem a penetração do concreto dentro delas) com cabos em seu interior (no detalhe 1 podem ser vistos a bainha, os cabos que são compostos, neste caso de cordoalhas de 7 fios de aço de protensão). A bainhas, em geral, tem seção circular e são corrugadas para prevenir seu amassamento nas fases de execução e possibilitar uma melhor aderência calda de cimento (a ser introduzida posteriormente) e bainha. Em alguns casos os cabos (conjunto de cordoalhas dentro de uma bainha) poderão ser enfiados posteriormente embora o usual seja a colocação das bainhas já com os cabos dentro delas. • Etapa 2- O concreto é lançado, porém sem entrar em contato com a armadura de protensão pois a bainha o impede (não há aderência entre a armadura de protensão e o concreto no momento do lançamento do concreto, daí o nome de aderência posterior ...à concretagem). • Etapa 3- Após o endurecimento do concreto e alcançada resistência mínima, para tanto, é efetivada a protensão, normalmente através de macacos hidráulicos que se apóiam nas faces da viga e distendem a armadura de protensão. Assim, o concreto é comprimido pelo apoio dos macacos e simultaneamente o aço de protensão é distendido. Normalmente (dependendo de como a peça foi projetada) após a ESTRUTURAS EM CONCRETO PROTENDIDO: CÁLCULO E DATALHAMENTO, VOLUME 1 ROBERTO CHUST CARVALHO CAPÍTULO 1- CONCEITUAÇÃO E TIPOS DE PROTENSÃO -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 7 protensão do último cabo a viga não estará mais em contato com o escoramento pois ela (protensão) cria um efeito de flexão com curvatura contrária à que existe devido à ação de peso próprio. Por este motivo é interessante, controlar no ponto de maior deformação da viga (neste caso no meio do vão) se há a separação da face inferior da viga da forma (retirando as formas laterais para verificar este fato). Após a protensão de um cabo ele pode ser ancorado, com procedimento similar ao discutido no caso anterior, considerando apenas um conjunto de peças, geralmente, de maiores dimensões como a mostrada no detalhe e explicadas na figura 1.7 e detalhas no capítulo 9. • Etapa 4 – Injeção de calda de cimento nas bainhas. A bainha é projetada para alojar os cabos com uma certa folga de maneira que, durante a protensão, seja permitido seu deslocamento, após a protensão e ancoragem dos cabos torna-se interessante o preenchimento do espaço vazio entre a armadura e bainha com calda de cimento para estabelecer, após o endurecimento da mesma) a aderência entre armadura e concreto (no caso cordoalhas-bainha que por sua vez já estão aderentes ao concreto). Este operação melhora também a proteção da armadura quanto à corrosão. Se não se efetuar a injeção de nata de cimento tem-se uma viga de concreto protendido sem aderência. São deixados orifícios junto aos elementos que compõem a ancoragem nas extremidades dos cabos, de maneira que se pode injetar, sobre pressão a calda de cimento por uma extremidade e quando a mesma purgar pela outra extremidade se assegurar que os espaços vazios entre cordoalhas e interior da bainha estão devidamente preenchidos. É importante destacar que mesmo que haja uma grande retração da nata de cimento o corrugamento das bainhas permite a transmissão de ações entre o concreto e face da bainha ondulada. para se aprofundar neste assunto recomenda-se a leitura de LEOHNARDT [1983] no seu capítulo 5. Nesta obra mostra-se também que a aderência da nata de cimento com a armadura depende fundamentalmente do formato em hélice das cordoalhas (conjunto de fios) pois existe neste caso um efeito “saca-rolhas” que faz com que haja uma maior superfície de contato além de um engrenamento mecânico. Alguns comentários complementares são feitos no capítulo 3. ESTRUTURAS EM CONCRETO PROTENDIDO: CÁLCULO E DATALHAMENTO, VOLUME 1 ROBERTO CHUST CARVALHO CAPÍTULO 1- CONCEITUAÇÃO E TIPOS DE PROTENSÃO -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 8 Detalhe 1 cordoalha Bainha Cabo ETAPA 1 - MONTAGEM DAS FORMAS E ARMAÇÃO Cabo C2 C1 detalhe 1 Bainha ETAPA 2 - CONCRETAGEM Cabo C2 C1 detalhe 1 Bainha ETAPA 3 - PROTENSÃO E ANCORAGEM Macaco C2 C1 ETAPA 5- ACABAMENTO EXTREMIDADES DOS CABOS C2 C1 de 7 fios Tubo para injetar nata na bainha ETAPA 4 - INJEÇÃO DE NATA DE CIMENTO Bomba C2 C1 Detalhe 2 Detalhe 2 Nicho Figura 1 .6- Etapas de protensão de uma viga executada com concreto protendido com aderência posterior • Etapa 5 – Corte das extremidades dos cabos, rebatimento das mesmas e preenchimento dos nichos usados para a protensão. • Etapa 7 – Retirado do escoramento. 1.2.c- Viga executada com concreto protendido sem aderência As primeiras obras em concreto protendido no Brasil foram executadas com protensão não aderente. A ponte do Galeão – Rio de Janeiro, segundo CAUDURO [1996], maior obra em extensão na época em concreto protendido e a primeira aplicação do processo FREYSSINET*∗, projetada pelo próprio em 1949, utiliza-se de cabos com 12 fios lisos de φ= 5 mm, pintados com tinta betuminosa e envolvidos por duas ou três camadas de papel resistente (Kraft). A tinta betuminosa além de impedir o contato do concreto protegia a armadura de corrosão e permita que após o endurecimento do concreto o cabo pudesse ser tensionado. Apenas em 1956 iniciou-se a enrolar os cabos com fitas plásticas usando ainda o betume para pintura dos cabos e, finalmente em 1958, começaram a serem fabricadas bainhas metálicas de chapa metálica de 0,3 mm, similares às usadas hoje em dia, costuradas em hélices. ∗ Eugene Freyssinet –engenheiro Francês que em 1928 mostrou que era necessário o uso de aços de grande resistência para promover a protensão sendo considerado porisso o pai da protensão. ESTRUTURAS EM CONCRETO PROTENDIDO: CÁLCULO E DATALHAMENTO, VOLUME 1 ROBERTO CHUST CARVALHO CAPÍTULO 1- CONCEITUAÇÃO E TIPOS DE PROTENSÃO -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 9 Há também a possibilidade de se executar a protensão sem promover aderência entre a armadura usando bainhas convencionais. Basta neste caso não se fazer a injeção de nata de cimento. Porém, esta maneira não se tem nenhuma vantagem a não ser evitar uma de etapa de execução e haveria uma grande possibilidade de corrosão da armadura ativa, pois o aço solicitado sob tensão de grande intensidade pode sofrer uma corrosão muito rápida. O mais comum é usar cabos, na verdade uma cordoalha envolta em graxa e encapada com capa plástica protetora como pode ser visto na figura 7. Desta forma a capa faz a função da bainha isolando o concreto do cabo e a graxa além de preencher os vazios entre cabo e capa plástica ajuda na fase de protensão permitindo o seu estiramento ao diminuir bastante o atrito na superfície do cabo. Segundo CAUDURO [1996] o coeficiente de atrito reduz-se de 0,24 para cordoalha-bainha metálica para 0,07 para cordoalha engraxada. C2 C2 Cabos Cabos A A capa plástica cordoalha graxa para proteção ancoragem CORTE AA Figura 1 7 viga em concreto protendido com cabos com cordoalhas engraxadas A cordoalha engraxada, disponibilizada no mercado há pouco tempo aqui no Brasil pela mesma fabricante do aço de protensão, permite simplificar a execução de peças protendidas, porém o funcionamento em serviço das peças com aderência é melhor e há um pequenoaumento de resistência, no estado limite último, quando se usa peças com aderência. Também há de se notar que se por ventura houver a ruptura da ancoragem ou o corte da armadura ativa a protensão da cordoalha engraxada o efeito de protensão do cabo desaparece por completo. 1.2.d- Viga executada com protensão exterior e sem aderência Quando se executas pontes ou reforços de estruturas pode ser vantajoso usar a protensão a partir de cabos externos que não terão desta forma aderência perfeita com o concreto ao longo dos seus comprimentos como mostra a figura 1.8. SDão usadas nestas situações desviadores, ou seja pontos em que há contato entre a armadura (cabos) e a peça. ESTRUTURAS EM CONCRETO PROTENDIDO: CÁLCULO E DATALHAMENTO, VOLUME 1 ROBERTO CHUST CARVALHO CAPÍTULO 1- CONCEITUAÇÃO E TIPOS DE PROTENSÃO -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 10 C2 C2 Cabos Cabos"Desviador" A A corte AA Transversina Figura 1.8 viga em concreto protendido com cabos externos não aderentes 1.2.d- Definições da Norna Brasileira para os diversos tipos de protensão Os diversos tipos de protensão quanto a aderência são definido pela NBR 6118 nos itens 3.1.7 a 3.1.9 da seguinte forma: • Concreto com armadura ativa pré-tracionada (protensão com aderência inicial): Concreto protendidole em que o pré-alongamento da armadura ativa é feito utilizando-se apoios independentes do elemento estrutural, antes do lançamento do concreto, sendo a ligação da armadura de protensão com os referidos apoios desfeita após o endurecimento do concreto; a ancoragem no concreto realiza-se só por aderência. • Concreto com armadura ativa pós-tracionada (protensão com aderência posterior):Concreto protendido em que o pré alongamento da armadura (ativa de protensão) é realizado após o endurecimento do concreto, utilizando-se, como apoios, partes do próprio elemento estrutural, criando-se posteriormente aderência com o concreto de modo permanente, através da injeção das bainhas. • Concreto com armadura ativa pós-tracionada sem aderência (protensão sem aderência) Concreto protendido oem que o pré alongamento da armadura ativa é realizado após o endurecimento do concreto, sendo utilizado como apoios, partes do próprio elemento estrutural, mas não sendo criada aderência com o concreto, ficando a armadura ligada ao concreto apenas em pontos localizados. Fazendo um resumo dos tipos de protensão em relação a aderência e a operação de protensão com a concretagem constrói-se o quadro 1.1. QUADRO 1.3 – PRINCIPAIS TIPOS DE PROTENSÃO QUANTO A ADERENCIA EM RELAÇÃO A CONCRETAGEM E CARACTERÍSTICAS Quanto à aderência Quanto à concretagem Característica Aderência inicial pré-tração (antes) Cabos retos – pré-fabricação Aderência posterior pós-tração (após) Cabos curvos – moldada no local pré- fabricação Sem aderência pós-tração (após) Cabos curvos – moldada no local e unidades individuais ESTRUTURAS EM CONCRETO PROTENDIDO: CÁLCULO E DATALHAMENTO, VOLUME 1 ROBERTO CHUST CARVALHO CAPÍTULO 1- CONCEITUAÇÃO E TIPOS DE PROTENSÃO -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 11 1.3 - TIPOS DE CONCRETO PROTENDIDO QUANTO A INTENSIDADE DE PROTENSÃO Segundo a NBR 6118:2004 os tipos de protensão quanto a sua intensidade relacionam-se com a durabilidade das peças e a maneira de se evitar a corrosão da armadura e portanto estão ligados os estados limites de serviço referentes à fissuração. No caso de armadura ativa o risco de corrosão é maior que as armaduras passivas devido a intensidade de tensão atuante na primeira, assim os cuidados a serem tomados quanto a fissuração em peças de concreto protendido são maiores que em peças de concreto armado. Os tipos de protensão definidos são: protensão completa, protensão limitada e protensão parcial. A escolha do tipo de protensão a ser empregada em um projeto é feita em função do tipo de construção ou da agressividade do meio ambiente, conforme pode ser visto no capítulo 7. De uma maneira geral para elementos com aderência posterior recomenda-se para ambientes com fraca e moderada agressividade o uso de protensão parcial e para ambientes com agressividade forte e muito forte recomenda-se a protensão limitada. Para a protensão com aderência inicial para ambiente com fraca agressividade recomenda-se protensão parcial, para ambiente com moderada agressividade a protensão limitada e finalmente protensão completa para ambientes com agressividade forte e muito forte. Definido o tipo de protensão a se empregar diversas condições, referentes a estados de serviço (chamados antigamente de estados de utilização) ligados à fissuração deverão ser verificados. Além da intensidade da protensão o uso de concreto com uma resistência à compressão mínima e cobrimentos devem ser atendidos (itens 7.4.2 e 7.4.6A da NBR 6118) comentados detalhadamente no capítulo 7. Curiosamente pela antiga norma de protendido a NBR 7197 acrescentava-se às exigências anteriores a de que em estruturas de pontes ferroviárias ou vigas de ponte rolantes só seria admitida protensão com aderência. Tal assertiva não é mais citada na nova norma. A protensão sem aderência, ainda segundo a NBR 6197 só poderia ser empregado em casos especiais e sempre com protensão completa. A nova norma é omissa a condições especiais para a protensão sem aderência. Isto mostra que com o avanço de estudos e disponibilidade de dados experimentais as limitações em serviço, por serem função da durabilidade e as análises dependerem de observações feitas ao longo do tempo, vão sendo mudadas e o projetista deve estar atento a estas mudanças. 1.4 VANTAGENS E DESVANTAGENS DO CONCRETO PROTENDIDO As estruturas de concreto protendido, em diversas situações são mais econômicas que as executadas com outros materiais. Em relação as estruturas de madeira e de aço apresentam sempre a vantagem de necessitarem, usualmente, manutenção mais simples e mais barata. Em relação às de concreto armado as protendidas têm a fissuração impedida ou mais controlada na região tracionada dos trechos fletidos. Para entender a economia das estruturas em concreto protendido pode-se usar um estudo do custo do aço estrutural. Neste estudo serão comparados os aços CA25, CA50, CA60, CP170 e CP175 (os três primeiros usados em peças de concreto armado e os dois últimos em peças de concreto protendido). Imaginando apenas o custo do aço sendo dado por quilo de matéria prima chega-se ao gráfico apresentado na figura 1.9, que poderia levar à conclusão enganosa, ou seja, que o aço que tem preço menor por quilo é o mais barato. O melhor é analisar o custo da força desenvolvida por cada um. Assim, 1 kg de CA25 será capaz de desenvolver uma força proporcional a sua tensão de escoamento (no caso 1,25x25=31.25 kN). Ao dividir o custo do kg do aço pela tensão (proporcional à força) chega- se ao preço necessário para desenvolver a força em questão ou a tensão (são proporcionais). ESTRUTURAS EM CONCRETO PROTENDIDO: CÁLCULO E DATALHAMENTO, VOLUME 1 ROBERTO CHUST CARVALHO CAPÍTULO 1- CONCEITUAÇÃO E TIPOS DE PROTENSÃO -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 12 O gráfico da figura 1.10 apresenta esta situação mostrando que na verdade os aços de maiores tensões limites são os mais econômicos (os de menor custo por força desenvolvida). Custo (em R$) do kg do aço 0 0,5 1 1,5 2 2,5 1 Categoria dos aços Va lo r d o kg e m R $ CA25 CA50 CA60 CP175 CP190 Figura 1 9 Gráfico com custos das diversas categorias do aço Um argumento que poderiaainda ser usado está no fato que os aços de protensão nem sempre alcançam a máxima tensão devido às perdas imediatas e ao longo do tempo sofridas nos sistemas protendidos. Porém há outras vantagens, advindas da protensão, como por exemplo, a diminuição da fissuração que compensam estas perdas e que não são encontradas nos sistemas de concreto armado. Esta discussão é feita com mais detalhes no anexo I. Custo em R$ por tensão (emdaN/cm2) desenvolvida 0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 0,35 0,4 0,45 0,5 0 50 100 150 200 Figura 1 .10 Custo da tensão desenvolvida pela armadura Pode-se dizer que em diversas situações, principalmente em peças fletidas, o concreto protendido apresenta custo mais baixo que estruturas similares sendo que as principais vantagens que acabam contribuindo para isto são estruturas: • Mais leves que as similares em concreto armado (devido ao controle da fissuração) • Com grande durabilidade com pequenos custos de manutenção (o controle da fissuração do concreto aumenta a resistência ao ataque de agentes agressivos na armadura). ESTRUTURAS EM CONCRETO PROTENDIDO: CÁLCULO E DATALHAMENTO, VOLUME 1 ROBERTO CHUST CARVALHO CAPÍTULO 1- CONCEITUAÇÃO E TIPOS DE PROTENSÃO -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 13 • Com boa resistência ao fogo. • Que são adequadas ao uso de pré-moldagem (devidos as características de peso menor e controle de fissuração) e portanto com o uso mais efeiciente do material concreto. • Apresentando menores deformações que as estruturas similares, fletidas, em concreto armado. • Com maior controle da propriedade dos materiais aço e concreto. Como o aço e o concreto são colocados sob carga durante a protensão (principalmente o aço que recebe tensões próximas ao seu escoamento) costuma-se afirmar que a estrutura protendida se apresenta com a resistência de seus materiais testada. • Que fazem parte de uma tecnologia bastante conhecida nos grandes centros do país e basta se ter uma equipe de montagem de cabos, unidades de protensão e execução de protensão para complementar os trabalhos das equipes de confecção de estruturas de concreto.que existem em todo país No anexo I são discutidas mais detalhadamente as vantagens dos elementos em concreto protendido. As desvantagens dos sistemas em protendido são aquelas mesma que existem (neste caso com menor intensidade) nas estruturas de concreto armado: • Peso final relativamente alto (comparado às estruturas metálicas e de madeira) • Necessidade de escoramento e tempo de cura para peças moldadas no local • Condutibilidade alta de calor e de som • Dificuldade, em algumas situações para execução de reformas • Necessidade de colocação de elementos específicos: bainhas, cabos etc 1.5 CONCEITOS BÁSICOS USADOS PARA O CÁLCULO DE PEÇAS PROTENDIDAS Os procedimentos de cálculo empregados para a análise de peças em concreto protendido estão ligados à própria historia do mesmo. No início de sua aplicação quando se desejava apenas evitar as tensões normais de tração na seção transversal e a teoria de estado limite último (especialmente a ruptura) ainda não estava sendo usada, bastava o uso da teoria da resistência dos materiais para se conhecer esforços solicitantes e deslocamentos. A partir da década de 50 quando paulatinamente considerou-se que bastava controlar a abertura das fissuras do concreto e estudar também a seção transversal no estado limite último a armadura de protensão passou a ter duas funções. Em serviço para combinações de ações se evita a fissura ou apenas se controla a sua abertura com a introdução dos esforços de protensão da armadura ativa. Neste caso as hipóteses usadas desde o princípio do cálculo de concreto protendido podem ser usadas sem nenhuma modificação. No caso do estado limite último a teoria técnica do concreto armado pode ser usada para o concreto protendido desde que se considere na armadura a tensão decorrente da tração de protensão como é visto no capítulo 6. Finalmente lançando mão do processo construtivo de se efetuar a protensão através de cabos curvos pode-se considerar a introdução da protensão através de uma ação equivalente que passa a ser um procedimento de cálculo simples e eficaz para peças hiperestáticas. Neste item introduzem-se alguns conceitos usados para empregar a teoria da resistência dos materiais assim como a do cabo equivalente. A teoria técnica do concreto armado faz parte de outra obra do autor e será abordada resumidamente em outros capítulos com a adaptação necessária apara o emprego em peças de concreto protendido. Em todas as situações ESTRUTURAS EM CONCRETO PROTENDIDO: CÁLCULO E DATALHAMENTO, VOLUME 1 ROBERTO CHUST CARVALHO CAPÍTULO 1- CONCEITUAÇÃO E TIPOS DE PROTENSÃO -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 14 analisadas neste item a força de protensão ao longo cabo é considerada constante (e também ao longo do tempo), ou seja, despreza-se as perdas ao longo do mesmo (e no decorrer do tempo), e nos capítulos posteriores indica-se como estes cálculos podem ser feitos. 1.5a Tensões Normais na seção transversal decorrentes da flexão usando a resistência dos materiais Para verificar as condições de serviço (fissuração, deformação excessiva) é preciso conhecer o que acontece na peça sob as condições em utilização, ou seja, com as ações que realmente vão ocorrer com maior freqüência e não as esporádicas ou que levarão a estrutura ao colapso e que possivelmente nunca ocorrerão. Assim para verificar a fissuração de peças em concreto protendido em serviço costuma-se calcular as tensões normais máximas em cada seção transversal. As hipóteses empregadas para tanto são (lembrar que valem para ações em serviço): • Vale a lei de Hooke para os materiais aço e concreto (relação linear entre tensão e deformação). • Vale a superposição de efeitos. Os deslocamentos são pequenos e não interferem nos esforços internos. • A seção plana da seção transversal permanece plana após a deformação. • O material da seção transversal é homogêneo. A última hipótese pode ser empregada, pois macroscopicamente falando o concreto pode ser considerado um material homogêneo e isótropo enquanto o aço de protensão poderá ser considerado como uma ação externa. Assim, com todas estas condições e considerando ainda que a intensidade da tensão de tração, quando houver, pode ser resistida pelo concreto a teoria técnica da resistência dos materiais pode ser empregada. Desta forma em uma seção transversal S, submetida a um momento fletor M as tensões máximas e mínimas devido o efeito da protensão de um cabo curvo com uma forca de protensão P (considerada constante ao longo do mesmo), cuja inclinação da tangente ao mesmo na seção é dado por α (Figura 1 11) gerando os esforços internos isostáticos: Cortante de protensão Vp = P.senα (1.1) Normal de protensão Np = P.cosα (1.2) Momento Fletor isostático de protensão Mp = Np . e (1.3) Com P- Força resultante de protensão atuando no concreto devido ao efeito de protensão de um ou um conjunto de cabos. e – a excentricidade do cabo de protensão, ou seja a distância do centro de gravidade do(s) cabo(s) ao centro de gravidade da seção. ESTRUTURAS EM CONCRETO PROTENDIDO: CÁLCULO E DATALHAMENTO, VOLUME 1 ROBERTO CHUST CARVALHO CAPÍTULO 1- CONCEITUAÇÃO E TIPOS DE PROTENSÃO -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 15 S AV A B A S B P P N =Pcos V =Psen P P detalhe 1 detalhe 1da seção S do cabo e e cento de gravidade h yi sy trecho curvo Figura 1.11- Ações solicitantes (isostáticas) devido o efeito de protensão em uma seção S As tensões normais máximas ocorrem junto aos pontos mais afastados do centro de massa (cg) da seção e portanto situados junto à borda inferior e superior dadas por: BORDA SUPERIOR ss pp s W M W eN A N ±−= .σ (1.4a) BORDA INFERIOR ii pp i W M W eN A N m.+=σ (1.4b) Com os seguintes significados: σi eσs – tensões normais no concreto junto à borda inferior e superior respectivamente Np – Esforço normal de protensão na seção dado por P.cosα. Como o valor de α é, em geral, pequeno costuma-se confundir Np com P (força de protensão no cabo). e- Excentricidade do cabo na seção. Distância entre o centro de gravidade do cabo e o da seção transversal. A- Área da seção transversal de concreto (em geral a seção geométrica Bruta) que pode ser, em geral, considerada igual a área da seção geométrica. Wi e Ws – módulo de resistência da seção em relação à borda inferior e superior da seção. Dado pela razão entre a inércia à flexão (I) (relativa ao eixo central) e a distância do centro de gravidade da seção a borda inferior (yi) e superior (ys) respectivamente. Assim: i i y IW = (1.5a) ESTRUTURAS EM CONCRETO PROTENDIDO: CÁLCULO E DATALHAMENTO, VOLUME 1 ROBERTO CHUST CARVALHO CAPÍTULO 1- CONCEITUAÇÃO E TIPOS DE PROTENSÃO -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 16 s s y IW = (1.5b) M – soma dos momentos fletores na seção devido às ações atuantes (peso próprio, carga acidental, sobrecarga permanente etc) para a verificação requerida. Np . e – Momento fletor isostático de protensão, refere-se ao efeito da força de protensão estar excêntrica em relação ao centro de gravidade (cg) da peça e assim para reduzi-la (força de protensão) a este ponto (cg) é preciso considerar este momento. No capítulo 12 do segundo volume deste trabalho vê-se que no caso de peças hiperestáticas é preciso também considerar outro efeito que é o “momento hiperestático de protensão”. Para a utilização das fórmulas 1a e 1b introduz-se a convenção, usada internacionalmente para elementos de concreto na qual para as tensões de compressão é atribuído o sinal positivo e, ao contrário, para as tensões de tração. Pode-se usar para tanto uma regra mnemônica dada a seguir: • TENSÃO DE COMPRESSÃO → BOA PARA O CONCRETO → SINAL POSITIVO • TENSÃO DE TRAÇÃO → RUIM PARA O CONCRETO → SINAL NEGATIVO A estas convenções somam-se as largamente empregadas no Brasil que o momento fletor de sinal positivo causa tração nas fibras abaixo do cg da viga e de compressão nas fibras acima do cg e ao contrário para o momento negativo. Nas fórmulas 1 os sinais das tensões normais devido ao momento isostático de protensão já estão de acordo com as regras descritas. Os sinais das tensões devido o momento M dependerão de seu sinal por isso o símbolo ± e m em cada das expressões indicando a possibilidade do sinal a se empregar puder ser negativo ou positivo. 1.5b. Consideração da protensão através de uma ação equivalente Uma outra forma de considerar o efeito da protensão está em considerar o diagrama de corpo livre da viga de concreto separando-o do cabo de protensão (neste caso curvo) e verificando o efeito que nela ocorre. Considerando a ação de um cabo curvo com uma força de protensão P aplicada nas extremidades (neste caso no cg da peça) da viga e que provocará quando for estirado uma ação u (contato cabo-concreto) que pode ser substituída por uma ação distribuída atuando ao longo de l e com direção vertical, ou seja, com intensidade constante (perdas são desprezadas) de up. Fazendo o equilíbrio na vertical obtém-se: 2P senα = up . l (1.6) Considerando que a curva do cabo em questão seja uma parábola do segundo grau o valor de sen α é dado por Sen α = ( ) ( )22 2/2 .2 l+e e (1.7) Considerando que o valor de e na presença de l seja pequeno a expressão (3) fica ESTRUTURAS EM CONCRETO PROTENDIDO: CÁLCULO E DATALHAMENTO, VOLUME 1 ROBERTO CHUST CARVALHO CAPÍTULO 1- CONCEITUAÇÃO E TIPOS DE PROTENSÃO -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 17 Sen α = 2/ .2 l e (1.8) Substituindo em (1.5) em (1.3) tem-se: up = 2 ..8 l eP (1.9) O significado de cada um dos elementos empregados nas fórmulas 1.3 a 1.6 pode ser facilmente entendido a partir da inspeção da figura 1.12. O fato de se considerar o cabo parabólico não invalida os resultados, que seriam praticamente os mesmos para um cabo com a trajetória, por exemplo, circular desde que os valores do ângulo α sejam pequenos (a discussão dos tipos de curvas usadas e as considerações geométricas das mesmas são feitas no capítulo 4). P P a) b) c) P e PP R L 2 g+q d) p p-(g+q) e) f)P P P P Figura 1.12 – Consideração do carregamento equivalente up que traduz o efeito da flexão da protensão. Chama-se a atenção que o uso deste procedimento, ao se considerar a força de protensão constante ao longo do cabo, permite diversas simplificações nos cálculos principalmente de peças hiperestáticas. Em seguida, no quadro 1.2, são agrupadas as principais expressões e convenções deste capítulo. . ESTRUTURAS EM CONCRETO PROTENDIDO: CÁLCULO E DATALHAMENTO, VOLUME 1 ROBERTO CHUST CARVALHO CAPÍTULO 1- CONCEITUAÇÃO E TIPOS DE PROTENSÃO -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 18 QUADRO 1.4 – PRINCIPAIS EXPRESSÕES E CONVENÇÕESUSADAS NO CAPÍTULO 1 Esforços Solicitantes de protensão Cortante Vp = P.senα (1.1) Normal Np = P.cosα (1.2) Momento Fletor Mp = Np . e (1.3) Tensão normal tensão de compressão boa para o concreto sinal positivo tensão de tração ruim para o concreto sinal negativo borda superior ss pp s W M W eN A N ±−= .σ (1.4a) borda inferior ii pp i W M W eN A N m.+=σ (1.4b) Características Geométricas Módulo de flexão inferior i i y IW = (1.5a) Módulo de flexão superior s s y IW = (1.5b) Ação equivalente de protensão Taxa da ação up = 2 ..8 l eP (1.9) 1.6 EXEMPLOS NUMÉRICOS Para ilustrar os conceitos introduzidos são resolvidos a seguir três exemplos numéricos. 1.6.a Exemplo numérico 1 Calcular a força de protensão necessária na seção do meio vão, para a viga dada na figura 1.13 de maneira que a tensão normal na seção fique entre o intervalo de 0 a 17,5 MPa . Considerar que além do peso próprio poderá atuar na viga uma carga acidental de 17 kN/m. Considerar três situações: a) excentricidade do cabo nula, cabo passando pelo cg e a análise com a força de protensão na seção; b) excentricidade do cabo igual a 70 cm, cabo passando abaixo do cg na seção e a análise com a força de protensão na seção; c) excentricidade do cabo igual a 70 cm, cabo passando abaixo do cg na seção e a análise com a ação equivalente de protensão ESTRUTURAS EM CONCRETO PROTENDIDO: CÁLCULO E DATALHAMENTO, VOLUME 1 ROBERTO CHUST CARVALHO CAPÍTULO 1- CONCEITUAÇÃO E TIPOS DE PROTENSÃO -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 19 3000 cm 70 180 Figura 1.13- Viga e seção transversal para o exemplo numérico Resolução Caso a • Cálculo das característicasgeométricas: A= 0,7 x l,80 = 1,26 m2 Wi= Ws = 6 80,17,0 2x = 0,378 m3 • Cálculo dos momentos atuantes O concreto protendido quando se verifica a fissuração (este é o caso) é comum considerar as situações de momento máximo e mínimo pois, há sempre o perigo, no caso de se considerar apenas o valor máximo do momento, de se introduzir protensão que pode provocar, quando da atuação do momento mínimo, excesso de compressão ou mesmo tração excessiva na borda oposta à posição do cabo. Costuma-se dizer que a solução em protendido, quando existe, está sempre entre dois valores e portanto não se pode usar nem protensão de menos nem de mais. No caso em questão tem-se: Mmáx = Mg + Mq Mmin = Mg Onde Mmáx , Mmin , Mg , Mq são momento máximo, mínimo, devido à carga permanente e devido à carga acidental respectivamente. Os valores dos momentos máximos e mínimos são dados por: Mmáx = mkN xxxx .5456 8 3017 8 302580,17,0 22 =+ Mmin = mkN xxx .3543 8 302580,17,0 2 = Análise de tensões (usando as expressões 1.4a e 1.4b e lembrando que neste caso e=0. BORDA SUPERIOR Momento máximo → 378,0 5456 378,0 0. 26,1 +−= pps NNσ Momento mínimo → 378,0 3150 378,0 0. 26,1 +−= pps NNσ ESTRUTURAS EM CONCRETO PROTENDIDO: CÁLCULO E DATALHAMENTO, VOLUME 1 ROBERTO CHUST CARVALHO CAPÍTULO 1- CONCEITUAÇÃO E TIPOS DE PROTENSÃO -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 20 Analisando as expressões anteriores percebe-se que o risco de uma compressão excessiva é maior de ocorrer para a primeira expressão ficando assim fácil de estabelecer os limites tanto dela (primeira expressão) quanto da segunda. Momento máximo → 17500 378,0 5456 378,0 0. 26,1 ≤+−= pps NNσ → Np ≤ 3.863 kN (A) Momento mínimo → 0 378,0 75,3543 378,0 0. 26,1 ≥+−= pps NNσ → Np ≥ -11.802 kN (B) BORDA INFERIOR Usando o mesmo raciocínio que o parágrafo anterior Momento máximo → 0 378,0 5456 378,0 0. 26,1 ≥−+= ppi NNσ → Np ≥18.186 kN (C) Momento mínimo → 500.17 378,0 3543 378,0 0. 26,1 ≤−+= ppi NNσ → Np ≤33.860 kN (D) Os sinais das tensões foram considerados com as regras descritas nos itens anteriores. A análise do problema deve ser feita através do eixo orientado representado na figura 1.14. 18.186 kN O C 33.860 D 3.863 A -11.802 B Figura 1 .14- Eixo orientado com as condições que atendem as inequações de tensão Pela observação do eixo orientado apresentado na Figura 1.14 que mostra as diversas condições (A, B, C e D) que devem ser atendidas simultaneamente conclui-se que o problema em questão não tem solução, ou seja, não é possível aplicar uma protensão centrada que faça com que as tensões normais na seção do meio fiquem entre 0 e 17,50 MPa. Caso b Neste caso deve ser considerada e excentricidade da protensão (e=0,70 m) cujo efeito pode ser visto na Figura 1.15. A força de protensão colocada abaixo cg provoca encurtamento nas fibras inferiores e tração nas superiores. ESTRUTURAS EM CONCRETO PROTENDIDO: CÁLCULO E DATALHAMENTO, VOLUME 1 ROBERTO CHUST CARVALHO CAPÍTULO 1- CONCEITUAÇÃO E TIPOS DE PROTENSÃO -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 21 Figura 1 15 – Efeito da protensão excêntrica. BORDA SUPERIOR Momento máximo→ 500.17 378,0 5456 378,0 70,0. 26,1 ≤+−= pps NNσ → Np≥-2.896 kN (A) Momento mínimo → 0 378,0 3543 75,3543 378,0 70,0. 26,1 ≥+−= pps NNσ → Np ≤ 8.857 kN (B) BORDA INFERIOR Momento máximo → 0 378,0 5456 378,0 70,0. 26,1 ≥−+= ppi NNσ → Np ≥5.456 kN (C) Momento mínimo → 500.17 378,0 3543 378,0 070. 26,1 ≤−+= ppi NNiσ Np≤10.158kN (D) A análise do problema deve ser feito através do eixo orientado representado na figura 1.16 10.158 kN O -2.896 kN 5456 8.857 A C B D Figura 1 .16- Eixo orientado com as condições de força P (em kN) que atendem as inequações de tensão Pela observação do eixo orientado apresentado na Figura 1 .16 chega-se a solução de N=5457 kN o menor valor que atende todas as diversas condições (A, B, C e D). Caso c Neste caso deve a excentricidade da protensão (e=0,70 m) será considerada como uma carga equivalente de intensidade ul como pode ser visto na Figura 1 21.. A ESTRUTURAS EM CONCRETO PROTENDIDO: CÁLCULO E DATALHAMENTO, VOLUME 1 ROBERTO CHUST CARVALHO CAPÍTULO 1- CONCEITUAÇÃO E TIPOS DE PROTENSÃO -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 22 força de protensão colocada abaixo cg provoca encurtamento nas fibras inferiores e tração nas superiores. u P PP P P e L Figura 1 17 – Efeito da protensão excêntrica. Momento de protensão up = 230 70,0..8 pN Mp = 70,0.308 3070,08 8 30 2 22 p pp N x xxxNxu =+= Assim, a análise a ser feita a partir deste ponto é a mesma que foi feita no item anterior e com mesmos valores chegando-se na mesma resposta que o item B. Mostra-se desta forma que o procedimento do carregamento equivalente é o mesmo que o da resistência dos materiais. 1.6.b Exemplo numérico 2 Determinar o intervalo possível de excentricidades para a força de protensão Np=1800 kN pode ter para que a tensão normal uma seção transversal fique entre o intervalo de -265 a 1750 MPa, considerando com as características geométricas: A=0,5099 m2; yi=1,074 m; h(altura da seção)=1,80 m; Ws=0,2857 m3 ; para os valores de momentos máximo e mínimo os valores de 1800 kN.m e -1000 kN.m respectivamente. Resolução Cálculo das características geométricas Como h = yi + ys então 1,80m= 1,074m + ys → ys =0,726m Usando 1.5b s s y IW = tem-se 726,0 2857,0 I= → I =0,2074 m4 Usando 1.5a i i y IW = tem-se 074,1 2074,0=iW → Wi =0,1931 m3 Determinação do valor da excentricidade “e” da força de protensão. Considera-se que a excentricidade “e” e desta forma tem o sinal positivo, bastando agora verificar as condições de tensão para a borda superior e inferior para a situação de máximo e mínimo momento fletor. ESTRUTURAS EM CONCRETO PROTENDIDO: CÁLCULO E DATALHAMENTO, VOLUME 1 ROBERTO CHUST CARVALHO CAPÍTULO 1- CONCEITUAÇÃO E TIPOS DE PROTENSÃO -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 23 BORDA SUPERIOR Momento máximo→ 500.17 2857,0 1800 2857,0 .1800 5099,0 800.1 ≤+−= esσ → e ≥ -1,217 m (A) Momento mínimo → 650.2 2857,0 1000 2857,0 .1800 5099,0 800.1 −≥−−= esσ → e ≤ 0,425 m (B) BORDA INFERIOR Momento máximo→ 650.2 1931,0 1800 1931,0 .1800 5099,0 800.1 −≥−+= eiσ → e ≥ 0,336 m (C) Momento mínimo → 500.17 1931,0 1000 1931,0 .1800 5099,0 800.1 ≤++= esσ → e ≤ 0,9431 m (D) A análise do problema deve ser feito através do eixo orientado representado na figura 1.18 0,724 S -1,217 m 0,425 0,9431,074 0,336 A B D C Figura 1.18 – Efeito da protensão excêntrica. 1.6.c Exemplo numérico 3 Considerando a seção transversal do problema anterior, a mesma força de protensão Np e uma excentricidade de e=0,37m qual devem ser os momentos máximos e mínimos de maneira que as tensões estejam no intervalo de –2,65 e 17,50 MPa. Determinação do valor dos momentos máximos e mínimos. Basta montar as equações de tensão agora com o valor da excentricidade e=0,37m. BORDA SUPERIOR Momento máximo→500.17 2857,02857,0 37,01800 5099,0 800.1 1 ≤+×−= Msσ → M1≤1859 kN.m (A) Momento mínimo → 650.2 2857,02857,0 37,01800 5099,0 800.1 2 −≥−×−= Msσ →M2≥ -2031kN.m (B) BORDA INFERIOR Momento máximo→ 650.2 1931,01931,0 37,01800 5099,0 800.1 3 −≥−×+= Miσ → M3 ≤ 4657 kN.m (C) ESTRUTURAS EM CONCRETO PROTENDIDO: CÁLCULO E DATALHAMENTO, VOLUME 1 ROBERTO CHUST CARVALHO CAPÍTULO 1- CONCEITUAÇÃO E TIPOS DE PROTENSÃO -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 24 Momento mínimo → 500.17 1931,01931,0 37,01800 5099,0 800.1 4 ≤−×−= Msσ → M4≤-2031kN.m (D) A análise do problema deve ser feito através do eixo orientado representado na figura 1.17 4657 kN.m O -2031 -1099 1859 M M M M3142 Figura 1.19 – Efeito da protensão excêntrica. Resultando assim nos momentos mínimo de M=-1099 kN.m e momento máximo M=1859 kN.m. 1.7 CÁLCULO DAS CARACTERÍSTICAS GEOMÉTRICAS O cálculo das características geométricas de uma seção transversal típica de viga pré- moldada de concreto protendido como a dada na figura 1.20 pode ser feito considerando-a compostas pelos retângulos e triângulos numerados na mesma figura (do lado direito). Assim, a seção passa a ser composta de diversos elementos cujos valores das áreas, posições dos centros de gravidades e inércias são conhecidos. Basta aplicar os conhecimentos de mecânica e resolver o problema, usando a tabela 1.1 apresentada a seguir cujas operações são listadas: 1) Separar a seção em diversos elementos numerando-os. Os elementos devem ser retângulos ou triângulos; 2) Calcular a área de cada elemento fazendo a somatória que representa a área da seção toda; 3) Indicar a coordenada (y) do cg de cada elemento referendada a um eixo horizontal (x). É interessante, como no caso em questão usar o eixo que passa pela borda superior; 4) Efetuar o produto Ay que corresponde ao momento estático em relação ao eixo x e somando as parcelas do mesmo; ESTRUTURAS EM CONCRETO PROTENDIDO: CÁLCULO E DATALHAMENTO, VOLUME 1 ROBERTO CHUST CARVALHO CAPÍTULO 1- CONCEITUAÇÃO E TIPOS DE PROTENSÃO -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 25 Figura 1.20.- Seção Transversal para o exemplo de cálculo de características geométricas com cotas dadas em cm. 5) Determinar a coordenada ys do cg fazendo ∑ ∑= A Ay ys , que para a tabela resulta ys= = 0 3703 0 5099 0 726, , , m e assim yi=1,90-0,726=1,074 m. 6) Cálculo da distância entre o cg de cada elemento ao cg da peça efetuando a operação y’=y-ys; 7) Efetuar o produto Ay’ que corresponde ao momento estático em relação ao eixo central x’ (que passa pelo cg) e somando as parcelas do mesmo que deverá ser aproximadamente igual a zero; 8) Nesta etapa calcula-se a parcela do “transporte”do teorema dos eixos paralelos para o momento de inércia em que Ix=Ix0+ A.(y’)2 fazendo-se o produto da coluna 7 pela 3 e promovendo a somatória das diversas parcelas. Na fórmula anterior Ix é o momento de inércia à flexão de toda a seção em relação ao eixo horizontal x’ que passa pelo cg da peça; TABELA 1.1 - CARACTERÍSTICAS GEOMÉTRICAS 1 2 3 4 6 7 8 9 P A (m2) y (m) Ay (m3) y`=y-ys (m) Ay` (m3) Ay`2 (m4) Ix0 (m4) 1 1x0,16=0,16 0,08 0,0128 -0,646 -0,1034 0,0668 (1x0,163)/12=3,41x10-4 2 0,425x0,09=0,038 0,19 0,0072 -0,536 -0,0205 0,0110 (0,425x0,093)/18=1x10-5 3 0,15x1,44=0,216 0,88 0,1900 0,154 0,0333 0,0051 (0,15x1,443)/12=3,7310-2 4 2x0,1252/2=0,015 1,55 0,0243 0,824 0,0129 0,0106 (2x0,1254/36=1,35x10-5 5 0,4x0,2=0,08 1,70 0,1360 0,974 0,0779 0,0759 (0,2x0,203)/12=2,66x10-4 Σ 0,5099 - 0,3703 - 0,0002 0,1694 0,03796 Ix0 – a soma das parcelas do momento de inércia à flexão de cada elemento em relação ao eixo x passando pelo cg do elemento em questão. 9) Cálculo do momento de inércia de cada elemento em relação ao eixo x que passa pelo próprio cg (do elemento) Como a seção foi dividida em retângulos e ESTRUTURAS EM CONCRETO PROTENDIDO: CÁLCULO E DATALHAMENTO, VOLUME 1 ROBERTO CHUST CARVALHO CAPÍTULO 1- CONCEITUAÇÃO E TIPOS DE PROTENSÃO -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 26 triângulos as fórmulas a se empregar são I = 12 . 3hb e I = 36 . 3hb respectivamente.em que b é a base e h a altura do elemento. 10) Finalmente nesta etapa pode-se efetuar o cálculo da inércia total da seção em relação ao eixo central x usando o teorema dos eixos paralelos chegando-se a Ix=0,1694+0,03796=0,2074 m4, calculando em seguida os valores dos módulos de inércia .2857,0 726,0 2074,0 ==sW m3 e 1931,0074,1 2074,0 ==iW m3. Uma outra maneira de se determinar as características da seção é usar um programa de desenho do tipo CAD (desenho auxiliado por computador) que permite o cálculo de características geométricas a partir de polígonos fechados. Isto é feito desenhando-se a seção com linhas poligonais (em geral comando polilinha) selecionando a figura como região e finalmente usando o comando de propriedades de massas. No caso de seções vazadas como a mostrada na figura 1.21 às vezes é preciso o uso de um “rasgo” na seção para que se forme uma região envolta em apenas um polígono. Há alguns programas que permitem tirar da figura formada pela poligonal mais externa a poligonal mais interna evitando o uso do rasgo. Finalmente existem procedimentos matemáticos que permitem através das coordenadas da figura polignonal obter-se qualquer característica geométrica como e para tanto a seção precisa ser definida, como por exemplo a da figura 1.21, pelas coordenadas dos 21 vértices indicados. Figura 1 21- Consideração dos vértices para usar o programas do tipo desenho auxiliado por computador CAD. Bibliografia AGOSTINI L. R. S. - “Concreto Protendido: estudo das vigas isostáticas” - Livraria Ciência e Tecnologia Editora Ltda - São Paulo 1983. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, NBR 7197- (Projeto de estruturas em concreto protendido) 1978. Rio de Janeiro BR. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, NBR6118-2001 (Projeto de estruturas de concreto)São Paulo - Brasil ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, NBR 6118:2003 Projeto de estruturas de concreto – Procedimento – Abril de 2004 – São Paulo. CARVALHO, R.C. Introdução ao concreto protendido. Apostila CEB/FIP – Code modèle CEB-FIP pour les structures en / béton. 1978. ESTRUTURAS EM CONCRETO PROTENDIDO: CÁLCULO E DATALHAMENTO, VOLUME 1 ROBERTO CHUST CARVALHO CAPÍTULO 1- CONCEITUAÇÃO E TIPOS DE PROTENSÃO -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 27 CAUDURO, EUGENIO LUIZ – “Protensão com cordoalhas engraxadas e plastificadas – Pós-tensão com sistema não aderente”- 38o REIBRAC –1996 LEONHARDT FRITZ – Prestrssed Concrete MASON, J. Conceitos de concreto armado e protendido PFEIL, WALTER- Concreto Protendido, Livros Técnicos e Científicos Editora S. A.- Rio de Janeiro 1980 CHOLFE, LUIZ – Concreto Protendido- Apostila Escola de Engenharia Mackenzie – SãoPaulo CHOLFE, LUIZ, BONILHA LUCIANA – Concreto Protendido Teoria e Prática- Apostila Escola de Engenharia Mackenzie – São Paulo. PFEIL, W. Concreto protendido. Livros técnicos e científicos, Rio de Janeiro, 1980. LEONHARDT, F. Prestressed concrete. 2nd. Ed., W. Ernst & Son, Berlim, 1964. MASON, J. Concreto armado e protendido. 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