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2 Os Protestantes no Período Colonial

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Prévia do material em texto

História das
Religiões no Brasil
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Dr. Edgar Silva Gomes
Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin
Os Protestantes no Período Colonial 
• Os Calvinistas Franceses;
• A “Invasão” Holandesa em Pernambuco.
 · Entender como se deram os primeiros contatos entre cristãos reforma-
dos e o Catolicismo no Período Colonial do Brasil e sua população.
OBJETIVO DE APRENDIZADO
Os Protestantes no Período Colonial 
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem 
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua 
formação acadêmica e atuação profissional, siga 
algumas recomendações básicas: 
Assim:
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e 
horário fixos como seu “momento do estudo”;
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma 
alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos 
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você 
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão 
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o 
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e 
de aprendizagem.
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Determine um 
horário fixo 
para estudar.
Aproveite as 
indicações 
de Material 
Complementar.
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma 
Não se esqueça 
de se alimentar 
e de se manter 
hidratado.
Aproveite as 
Conserve seu 
material e local de 
estudos sempre 
organizados.
Procure manter 
contato com seus 
colegas e tutores 
para trocar ideias! 
Isso amplia a 
aprendizagem.
Seja original! 
Nunca plagie 
trabalhos.
UNIDADE Os Protestantes no Período Colonial 
Introdução
Nesta Unidade, vamos abordar, de forma sucinta, como se deu o encontro dos 
primeiros cristãos reformados com os nativos e os cristãos católicos no contexto do 
Brasil Colonial, especificamente, os huguenotes franceses e sua intenção de fundar 
na região fluminense a “França Antártica”, no século XVI, entre outros contatos 
breves, até o século XVIII e, mais adiante, vamos abordar os protestantes holan-
deses em Pernambuco, no século XVII, em contato mais duradouro e marcante, 
abordado em nossa historiografia. 
As primeiras tentativas de instalar o Protestantismo na Colônia esbarraram na 
aliança da Coroa portuguesa com a Igreja de Roma, que procurou defender sua 
hegemonia sociopolítica apoiada na fé “católica” e, por esse motivo, tentou afastar 
tudo que pudesse ameaçar essa hegemonia associativa entre Estado e Igreja. 
Os Calvinistas Franceses
A história da colonização do Brasil é controversa e se lança com o modelo 
de feitorias, adotado por Portugal, para comerciar com as nações africanas no 
século XV.
Inicialmente, a Coroa portuguesa faz uma concessão para que Fernando de No-
ronha possa explorar comercialmente os “achados” do “novo mundo” no território 
pertencente aos lusos, outorgado pelo Tratado de Tordesilhas que, desde 1494, 
havia traçado uma linha imaginária dividindo “território e gente” que estivesse den-
tro daquele marco entre os reinos ibéricos. 
Segundo Fausto, o Contrato terminou no ano de 1505 e não temos nenhum 
registro que levantasse o interesse de Noronha de continuar explorando seu direito 
de arrendamento, o que levou a Coroa a tomar a iniciativa de colonizar suas 
possessões ultramarinas. 
De acordo com o mesmo autor, até o ano de 1535, a atividade que moveu o 
interesse dos portugueses por suas terras no novo mundo foi a atividade extrativista, 
com foco no comércio do pau-brasil. Esse trabalho foi facilitado pelo contato com 
os índios tupinambás que, segundo Fausto: “À medida que a madeira foi-se esgotan-
do no litoral, os europeus passaram a recorrer aos índios para obtê-la. O trabalho 
coletivo, especialmente a derrubada de árvores, era uma tarefa comum à sociedade 
tupinambá” (2002, p. 42). 
Porém, o contato com os Tupinambás e outros grupos não fornecia apenas o 
pau-brasil para ser enviado para a metrópole do Império português; outros produtos 
também faziam parte desse comércio como, por exemplo, a farinha de mandioca; 
em contrapartida, o pagamento aos nativos se dava por meio da entrega de vários 
objetos: facas e canivetes e peças de tecido, entre outros. 
8
9
Figura 01 – Tratado de Tordesilhas
Fonte: Wikimedia Commons
Retomando a questão do Tratado de Tordesilhas, nome da cidade espanhola 
na qual se realizou uma Conferência entre os Reinos ibéricos, o objetivo era que 
fossem dirimidas as disputas por novos territórios “conquistados” por espanhóis e 
portugueses em suas aventuras marítimas, que se acentuaram a partir do século XV 
e que, teoricamente, deveriam ser resolvidas com esse Acordo; porém, a divisão 
era de difícil aplicação, pois, somente no final do século XVII, os holandeses con-
seguiram desenvolver uma técnica capaz de medir longitudes.
Figura 02 – Meridiano de Tordesilhas (em roxo) demarcando os territórios 
a explorar por Portugal e Espanha e o seu antimeridiano (em verde)
Fonte: Wikimedia Commons
9
UNIDADE Os Protestantes no Período Colonial 
Ainda de acordo com Fausto, quando os portugueses souberam da “descoberta” 
de Colombo, que pensara estar descobrindo uma nova rota para as Índias, mas, na 
realidade, encontrava-se no Caribe, às portas do “novo mundo”, bastou esse fato 
novo para que as animosidades voltassem a se revelar. 
Apesar de tudo isso ter resultado no Tratado acima mencionado, os problemas 
dos portugueses não se resumiam às disputas com seu vizinho ibérico; havia outras 
nações interessadas em expandir seus domínios e, assim, chegar a locais nos quais 
pudessem lucrar com o comércio e a descoberta de novas terras.
Portugal esteve de olho, principalmente, nas descobertas de ouro e prata sobre 
as quais a Espanha começava a dar notícias na Península, noticiando a descoberta 
desses metais preciosos em seus “domínios”.
Poder tornar-se próspero com as aventuras marítimas aguçava o imaginário 
popular dos peninsulares que, até então, estavam impossibilitados de ter qualquer 
tipo de ascensão social; essa novidade – as navegações – fazia com que se lançassem 
às aventuras incentivadas por seus reis e nobres.
Também dentro desse contexto de buscar o novo e a prosperidade, principalmente, 
nos séculos XV e XVI e até o século XVII, havia casos em que a “fuga” se fazia 
em ocasiões de perseguição política a determinados grupos; outros grupos de 
pessoas de um país fugiam das disputas religiosas iniciadas em 1517, com a revolta 
de Lutero contra o domínio do Papa e da Cúria Romana sobre grande parte do 
território conhecido hoje como Alemanha.
Deve ficar claro que as disputas nesse contexto extrapolavam a causa religiosa 
e atingiam os patamares político e econômico. Em relação ao aspecto religioso, a 
Reforma atingiu outros países, entre eles a França, mas, dessa feita, a influência 
reformista se dava pelas mãos de Calvino. 
Nessa busca por um novo espaço geográfico no qual fosse possível se instalar e 
viver a sua fé sem serem perseguidos, os huguenotes franceses, segundo Fausto, 
instalaram-se no Brasil em duas ocasiões, entre 1555 e 1560, no Rio de Janeiro, e 
de 1612 a 1615, no Maranhão, e depois novamente no Rio de Janeiro, em 1711. 
Segundo o relato no livro de Fuga, a história huguenote na França foi tensa 
desde seu início:
Os protestantes na França eram chamadoshuguenotes. O verdadeiro 
significado deste nome não é bem conhecido, mas a palavra provavelmente 
é derivada de outra que significa “os pactuantes”. O evangelho se espalhou 
rapidamente depois do começo da Reforma na Alemanha em 1517. 
Mas a poderosa Igreja Católica Romana, em cooperação com monarcas 
franceses, lançou mão de todos os meios para impedir o progresso da 
Reforma, usando forte e cruel perseguição. O primeiro mártir francês, um 
monge agostiniano chamado Jean Valliers, foi queimado vivo na estaca 
em Paris, no ano de 1523. Era o começo de uma severa perseguição 
na qual milhares e milhares de cristãos, homens e mulheres, crianças 
e velhos, leigos e clérigos, foram torturados e queimados vivos (FUGA, 
2012, p. 8).
10
11
De acordo com Bicalho, o comandante de navios Nicolas Durand de Villegagnon 
chegou à Baía de Guanabara no crepúsculo do ano de 1555. 
Não era novidade essa aproximação de franceses no litoral da Colônia portuguesa, 
haja vista que franceses, segundo alguns estudos desse período, já “comerciavam” 
com os nativos o nosso ouro vermelho, o pau-brasil, madeira bastante valorizada 
naquele contexto devido a suas propriedades corantes. Em alta no Mercado europeu 
do período, esse comércio se dava na forma de escambo. 
Porém, havia também outra finalidade: a expedição comandada por Villegagnon 
pretendia fundar por essas bandas o que ficou depois conhecido na nossa histo-
riografia como “França Antártica”, ou seja, uma Colônia protestante francesa no 
“Novo Mundo”. 
Mas as disputas político-econômicas do período com países europeus como, por 
exemplo, França, Inglaterra e Holanda, capitaneadas por saqueadores conhecidos 
como corsários, representavam constante ameaça para os colonizadores ibéricos, 
tanto para os lusos, quanto para os castelhanos.
O problema maior não era apenas uma colônia protestante no mundo ibérico 
ultramarino, mas a ameaça ao exclusivo comercial que habitava a prática econômica 
exercida pelas nações europeias daquele contexto. 
Segundo Bicalho:
Havia muito que embarcações francesas navegavam por estas bandas, 
realizando escambo com populações indígenas, embarcando grandes 
quantidades de pau-brasil. A expedição de Villegaignon e a criação da 
França Antártica, embora possuíssem objetivos muito mais complexos e 
duradouros (...) [havia] disputa lusofrancesas pelas riquezas, pelo comércio 
e pelo domínio ultramarino. Em outras palavras, (...) as recorrentes 
ameaças representadas pelo corso francês, no Atlântico Sul. A abordagem 
da dinâmica do corso permite que se compreenda o movimento maior 
de disputa europeia por mares e territórios coloniais. O sentimento de 
medo dele decorrente, ao influenciar a tessitura do colonialismo moderno, 
possibilita a interpretação das marcas e dos significados impressos no Rio 
de Janeiro e nos séculos XVI, XVII e XVIII (BICALHO, 2008, p. 29).
Bicalho (2008, p. 30) nos informa ainda que:
Na carta que Tomé de Souza escrevera ao rei em junho de 1553 (...) 
pode-se perceber uma profunda admiração pelas riquezas naturais (...) 
somada à precaução e aos cuidados necessários diante do intenso assédio 
dos franceses. A colonização estava em um estágio bastante incipiente, 
havia iniciado de fato no ano de 1549 com a chegada do governador ge-
ral, Tomé de Souza e uma missão jesuítica comandada pelo padre Manoel 
da Nóbrega, tudo estava por ser ordenado dentro de uma administração 
efetiva de ocupação, diferente das feitorias, forma de contato comercial 
que os lusos utilizavam, e que já mencionamos acima, agora era neces-
sário administrar de fato e colocar em prática seu acordo de converter os 
11
UNIDADE Os Protestantes no Período Colonial 
infiéis e, para isso, “as cartas e ordens régias, provisões, e toda sorte de 
correspondência oficial, permitem uma apreensão específica da experiên-
cia e do contato com o novo espaço a ser desbravado e ordenado”.
Dentro da dinâmica da defesa patrimonial, ou seja, de seu espaço geográfico 
na América recém descoberta, os portugueses começaram a conviver com 
a possibilidade do cisma religioso no seio da Cristandade, que estava sendo 
encaminhado a passos largos desde os conflitos de 1517 e houve a instalação do 
Concílio de Trento, na cidade do mesmo nome, no ano de 1546, na região do 
Tirol (Itália), convocado pelo Papa Paulo III. 
O problema do encontro entre os calvinistas franceses e os cristãos portugueses 
se deu num contexto em que a verdade de fé era excludente, ou seja, não se aceitava 
outra forma de religiosidade que não fosse a ditada pelo centro de regulação, a 
partir de Roma. 
Segundo Matos: “A cristandade colonial procurou afastar qualquer ameaça à sua 
integridade e hegemonia sociopolítica, seja no foro externo, seja no interno. Na con-
cepção católica da época não havia lugar para o diferente” (MATOS, 2001, p. 251).
Concílio de Trento: https://goo.gl/tCpNWP
Ex
pl
or
A questão religiosa extrapola as questões de fé, engloba questões mais densas, 
pois, dentro da cosmovisão ibérica, uma coisa que estava intrinsicamente ligada 
à questão de pureza de sangue relacionava-se ao mundo religioso, e essa questão 
estava no princípio da divisão da Sociedade.
No Brasil, ou em qualquer parte do mundo ocidental daquele contexto, os súditos 
estavam por definição automaticamente ligados ao Cristianismo (reforçando, ainda 
não havia se processado a divisão que determinaria outras formas de religiosidade 
cristã no Ocidente europeu), ou seja, em sendo colono português, ou negro africano 
e ou “índio”, habitantes do universo imperial luso, você seria católico; porém, 
nem todos tinham os mesmos direitos, somente os puros de sangue ascendiam 
socialmente ou no seio das ordens religiosas da época. 
Segundo Fausto:
Um princípio básico de exclusão distinguia determinadas categorias 
sociais, pelo menos até uma Carta-lei de 1773. Era o princípio de pureza 
de sangue. Impuros eram os cristãos-novos, os negros, mesmo quando 
livres, os índios em certa medida e as várias espécies de mestiços. Eles não 
podiam ocupar cargos de governo, receber títulos de nobreza, participar 
de irmandades de prestigio etc. A Carta-lei de 1773 acabou com a 
distinção entre cristãos antigos e novos, o que não quer dizer que daí para 
frente o preconceito tenha se extinguido (FAUSTO, 2002, p. 65).
12
13
Os judeus enfrentaram muitos preconceitos; eram os mais ou menos católicos, 
chamados de cristãos-novos, judeus ou seus descendentes, e foram obrigados a se 
converter ao Cristianismo por decisão da Monarquia lusa (1497). 
Sobre eles, pesava a suspeita adicional de praticar em segredo a religião judaica. 
Os cristãos-novos tiveram papel relevante, desde os primeiros tempos da Colônia, 
e veremos, ainda, que com a instalação dos holandeses em Pernambuco, no século 
seguinte, houve inclusive a abertura da primeira sinagoga na América, devido à 
tolerância religiosa que se implementou naquele contexto para que os objetivos de 
exploração da produção açucareira fossem atingidos. 
Mas, em grau de maior desconfiança, estava o europeu que abraçava uma nova 
forma de confissão cristã apartada de Roma. Eles sofreriam todo tipo de repudio 
da sociedade ibérica; eram os “protestantes ou cristãos reformados”. 
Portugal se colocava como a nação escolhida para propagar a fé católica junto 
aos povos infiéis de todo o mundo: “É visto como uma nação messiânica que de 
Deus recebeu a missão de dilatar a fé e o império. A monarquia está a serviço desse 
ideal, tendo assim um caráter sagrado. Semelhante mentalidade é transportada para 
os territórios ultramarinos” (MATOS, 2001, p. 251). Portanto, seria inimaginável 
receber um grupo de “hereges” nos domínios desse povo destinado a dilatar a fé e 
a ortodoxia de que acreditavam ser portadores.
Todo cuidado para que a dimensão religiosa e moral dentro do projeto português 
de colonização não fosse maculada vinha amparado por normas de instâncias 
oficiais do Estado português, direto da metrópole, ou seja, a religião e o Estado 
normatizavam suasações por meio de Leis. 
Entre o Esporádico e o Permanente 
Após explanarmos de forma sucinta os conflitos políticos, econômicos e sociais 
que envolviam os portugueses e outras nações europeias e a problemática de tomar 
posse efetivamente de seu território ultramarino, houve a violação do direito de 
Portugal administrar de forma exclusiva seu território, sem a intervenção de outra 
nação, conforme era o entendimento da época.
Os franceses, como vimos, não se intimidavam em negociar com os índios na 
costa brasileira e, para piorar a relação entre lusos e franceses, a tentativa de se 
fixar na Baía de Guanabara provocou muita dor de cabeça ao Governador Geral 
do Brasil. 
A intenção do comandante Nicolas Durand de Villegaignon, em 1555, era a 
de instalar na Baía de Guanabara um “império francês ultramarino”, com o apoio 
do líder huguenote, o almirante Gaspard de Coligny, cansados da perseguição 
religiosa que esse grupo estava sofrendo em seu país. 
13
UNIDADE Os Protestantes no Período Colonial 
As terras da costa brasileira eram extensas e pouquíssimo ocupadas por europeus; 
a cidade do Rio de Janeiro seria fundada apenas no ano de 1565 por Estácio de 
Sá, incumbido, justamente, de ocupar aquele espaço geográfico para tentar por fim 
às disputas entre portugueses e franceses naquela região. 
Mas, voltando à ocupação francesa daquele ano, foi construído, pelos franceses, 
um forte no local, chamado de “Forte Coligny”, onde hoje está situado o Aeroporto 
Santos Dumond, região central da cidade. 
Dessa forma, era lançada a “pedra fundamental” do que seria chamado de 
“França Antártica”. 
A “Terra de Santa Cruz” estava, dessa maneira, na visão portuguesa, sendo 
invadida por hereges estrangeiros, e ficou registrado na história dos huguenotes 
franceses um grande feito por eles realizado, ou seja, o primeiro culto e a primeira 
celebração da “Ceia do Senhor” protestante em solo americano:
No dia 10 de março, numa quarta-feira, após o desembarque, os Hu-
guenotes realizaram o primeiro culto Reformado onde pregou o ministro 
Pierre Richier, expondo o versículo quarto do Salmo vinte e sete. O mi-
nistro Richier orou invocando a Deus. Em seguida foi cantado por todos 
o Salmo 5, com a melodia de Genebra: “Ouve, Senhor, minhas palavras. 
Acode os gemidos meus. Escuta-me, Deus meu e Rei! À minha voz que 
clama, implora, vem dar ouvidos” (...) no domingo dia 21 a Igreja foi 
instalada de perfeito acordo com as doutrinas, leis e regras de Genebra, 
quando na ocasião foi celebrada pela primeira vez na América a Ceia do 
Senhor (FUGA, 2012, p. 14).
Houve a ofensiva portuguesa contra o Forte instalado na Baía de Guanabara, no 
ano de 1560, ordenada pelo terceiro Governador-geral do Brasil, Mem de Sá, que 
governou nosso território entre os anos de 1558 e 1572. 
De acordo com documento da época, o padre Anchieta atribuía a vitória dos 
portugueses a um milagre divino. Pode-se ler, em alguns trechos, extraídos de 
Matos: “Pela justiça foram ajudados do Senhor dos Exércitos (...) e é de crer que 
muitos hereges fugiram com espanto que lhes pôs o Senhor contra as forças 
humanas” (MATOS, 2001, p. 254). 
Apesar da vitória anunciada por Anchieta, após a investida de Mem de Sá con-
tra o Forte de Coligny, os calvinistas franceses deixam totalmente o local no ano de 
1567, ou seja, dois anos depois de ser fundada a cidade de São Sebastião do Rio 
de Janeiro, pelo sobrinho do governador, Estácio de Sá. 
Os puritanos tiveram seus sonhos realizados com a “França Antártica” na Baía 
de Guanabara por quase uma década. Foi assim, portanto, a primeira experiência 
protestante na América do Sul. Uma nota lamentável foi a morte de Coligny, 
puritano que deu nome ao forte, morto na “Noite de São Bartolomeu”, em Paris, 
no dia 24 de agosto de 1572. 
14
15
A “Ivasão” Holandesa em Pernambuco
Os holandeses eram conhecidos parceiros comerciais dos portugueses, e essa 
relação está intrinsecamente ligada ao comércio de açúcar aclamado como o “ouro 
português” das suas possessões ultramarinas. 
O açúcar era um produto muito valorizado e, nesse contexto, da invasão holan-
desa, os portugueses estavam sob domínio espanhol, desde 1580, devido à vacân-
cia no trono luso, haja vista que, com a morte de D. Sebastião, no ano de 1578, 
sem deixar sucessor, o representante mais próximo dele e que deveria assumir o 
trono era o cardeal D. Henriques, um religioso de idade avançada que veio a falecer 
no ano de 1580. 
Vago o trono, coube um intrincado jogo sucessório que recaiu sobre a Dinas-
tia Filipina, ou seja, um monarca do império espanhol, inimigos viscerais dos 
holandeses devido à perseguição religiosa imposta a eles desde o reinado de 
Carlos V. A Dinastia Filipina substituiu a Dinastia de Avis e governou Portugal 
durante seis décadas. 
Esse episódio deixou os holandeses furiosos já que, com a “União Ibérica”, o 
comércio deles com os portugueses encontrava-se sob séria ameaça, ou seja, na 
prática, esse comércio seria extinto. 
A Espanha tinha um império imenso e com isso não deu a devida atenção aos 
problemas dos portugueses em relação à defesa de seu território. Os holandeses 
eram difíceis de serem vencidos, e isso ficou provado, com o tempo de ocupação 
que eles conseguiram realizar no território brasileiro.
Alguns historiadores acreditam que esse conflito foi o maior em território 
brasileiro durante o Período Colonial e tomou dimensões muito maiores do que 
se podia acreditar que tivesse naquele contexto, pois não foi um conflito apenas 
regional; ele tomou dimensões muito maiores devido ao seu alcance político-
econômico, e a importância que esse comércio tinha com a Europa. Os espanhóis 
tinham outras preocupações em seu Império e os portugueses tiveram de lidar com 
a situação praticamente sozinhos. 
Segundo Fausto (2002, p. 84), esses conflitos: “Fizeram parte do quadro das 
relações internacionais entre os países europeus, revelando a dimensão da luta 
pelo controle do açúcar e das fontes de suprimento de escravos”.
A religiosidade ibérica fundada em mitos messiânicos era/é tão importante 
para esses povos que ao serem reintegrados ao Império espanhol, os portugueses 
recorreram mais uma vez às “visões” milenaristas, pois essa volta aos domínios 
espanhóis deveu-se à crise sucessória após a morte do rei Sebastião na batalha de 
Alcácer-Quibir, lutando contra o imperador do Marrocos, considerado infiel diante 
dos olhos do povo cristão e, diz uma lenda, que o povo português recusou-se 
15
UNIDADE Os Protestantes no Período Colonial 
a aceitar a morte de seu rei e acreditavam que “D. Sebastião regressaria um 
dia ao seu reino para o conduzir até uma época áurea, em que o mundo inteiro 
seria unido numa monarquia universal sob a Coroa portuguesa” (WILLIAMSON, 
2012, p. 81),
Como era uma crença popular, ela influenciou os povos sob o domínio por-
tuguês, que acreditava ser o povo eleito por Deus para salvar o mundo e deveria 
combater os infiéis em seus domínios; apesar de não estar no controle, a cosmovi-
são ibérica se assemelhava e eram reinos católicos em combate contra o diferente. 
A relação de Portugal e Holanda mudou, então, por causa do conflito existente 
entre os países baixos e os espanhóis; ficava claro, nessas circunstâncias, que a 
Espanha não iria manter o tipo de relação que Portugal mantinha com as Compa-
nhias de Navegação holandesa no comércio e transporte do açúcar. 
Alguns historiadores dizem que “a guerra foi uma luta pelo açúcar”. Mas essa 
guerra teve início em outras bandas. Os holandeses começaram atacando os 
domínios lusos na Costa africana, no ano de 1595, e depois se voltaram para a 
Costa brasileira, com o ataque a Salvador, no ano de 1604. Houve um período de 
calmaria nessa relação, devido à paz provisória entre Espanha e Holanda, nos anos 
de 1609 a 1621. 
Foi uma trégua curta, de apenas doze anos; a partir daí, a Holanda criou 
uma Companhia de Navegação chamada de “Companhia Holandesa das Índias 
Ocidentais”. O alvo da criação dessa Empresa mista,formada por capitais do Estado 
e investidores particulares, era o comércio do açúcar produzido nas possessões 
lusas da América e, relativamente, descuidado pelo Império espanhol. 
Os holandeses investiram contra Salvador no ano de 1624, e tomaram a cidade 
com relativa facilidade; porém, houve resistência de parte da população rural, 
chefiada pelo novo Governador, Matias de Albuquerque, e pelo bispo local, D. 
Marcos Teixeira. 
A resistência durou até a chegada da Europa de um reforço de combatentes 
que vieram numa grande frota de navios, cerca de 52 naves. O combate durou até 
meados do ano de 1625 e, não conseguindo se expandir para além dos limites da 
cidade, os holandeses recuaram depois de um ano.
Depois de cinco anos de espera, os holandeses atacaram Pernambuco, em 
1630, travando várias batalhas durante quase sete anos, até conseguirem dominar 
a região, em 1637, num arco que compreendia do Ceará até o Rio São Francisco.
Segundo os portugueses, a vitória dos holandeses deveu-se à traição do alagoano 
Domingos Fernandes Calabar, que aderiu às forças holandesas como informante e 
traiu os luso-brasileiros; porém, o traidor foi preso e executado.
16
17
Esse momento tenso foi substituído por um período de relativa paz, que corres-
pondeu ao período do governo do nobre holandês Maurício de Nassau, que com-
preendeu os anos de 1637 a 1644.
Os feitos políticos e administrativos de Nassau, durante o seu governo, são 
lembrados com bastante afeição até os dias atuais. 
Em primeiro lugar, em seu governo, a Economia açucareira voltou a ter destaque 
internacional, ajudou a sociedade local a se desenvolver, trouxe melhorias urbanas 
para o Recife, pressionou os proprietários de Engenho a produzirem mais açúcar, 
ou seja, o rendimento da produção de açúcar aumentou durante um bom período 
de sua administração. Mas, a preocupação de Nassau com a sociedade local ocupou 
outros lugares que eram incomuns naquele contexto da América portuguesa. Ele 
trouxe para o país artistas e intelectuais para documentar o que era visto por aqui. 
Apesar de ser calvinista, Nassau esteve à frente de seu tempo, e demonstrou 
relativa abertura para a tolerância religiosa. Ele foi tolerante com católicos em 
seus domínios e autorizou a construção de sinagogas no Recife, “os chamados 
cripto-judeus, isto é, os cristão-novos que praticavam o antigo culto às escondidas, 
foram autorizados a professá-la abertamente. Duas sinagogas existiram no Recife 
na década de 1640, e muitos judeus vieram da Holanda” (FAUSTO, 2002, p. 86). 
Segundo alguns historiadores, ao se retirarem do país, os holandeses pediram 
que os judeus fossem autorizados a deixar o país com eles; diz-se que muitos 
migraram para o Suriname, para Nova Iorque e para a Jamaica, ou retornaram 
para a Europa e foram viver na Holanda. 
Em relação aos artistas trazidos pela missão de Nassau para o país, podemos 
destacar alguns personagens que construíram fama posterior e que são nossos 
conhecidos até a atualidade, como, por exemplo, o hoje famoso pintor de paisagens 
e cenas do cotidiano brasileiro, Franz Post. 
Outro destaque administrativo foi a construção da “Cidade Maurícia”, ao lado 
da velha Recife. Nela, encontra-se presente um traçado geométrico e os canais 
que imitavam nos trópicos os canais europeus da Amsterdã de Nassau. O período 
de Nassau no país, segundo Fausto, chegou ao fim, “por causa de desavenças 
com a Companhia das Índias Ocidentais. Nassau regressou à Europa em 1644” 
(FAUSTO, 2002, p. 86). 
Os Países Baixos pertenciam ao Império espanhol; seus nobres, que faziam 
parte do Conselho, foram excluídos das decisões do Império; a quebra de acordo 
partiu do Conselho de Regência de Felipe II, rei de Espanha, o que provocou 
todo o conflito, que teve séria perseguição dos espanhóis contra os protestantes 
da região que englobava a Holanda calvinista, mas, nem toda a região tinha se 
tornado protestante. 
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UNIDADE Os Protestantes no Período Colonial 
Os holandeses formavam o maior contingente de adesão à “nova fé”. Os excessos 
calvinistas provocaram um racha entre os Países Baixos. A Espanha esteve em 
guerra contra os países baixos por aproximadamente oitenta anos. 
Essa Guerra durou de 1568 a 1648, encerrando-se com o “Tratado de 
Westfália”, em função da “fusão” da Guerra entre espanhóis e holandeses com 
a Guerra europeia, conhecida como a “Guerra dos Trinta Anos”, que durou de 
1618 a 1648 e que teve como motivação os conflitos religiosos, dinásticos e 
comerciais entre várias nações europeias.
Em relação às atividades comerciais dos holandeses, como dissemos acima, o 
açúcar era muito rentável e eles tinham um acordo comercial com os portugueses 
e eram inimigos dos espanhóis, pois tentavam se desvincular do domínio espanhol 
desde sua integração a esse império, por meio de Carlos V, imperador do sacro-
-império e de outras posições pertencentes à expansão do Império castelhano, que 
ele herdou com a morte dos reis católicos Isabel e Fernando. 
As Companhias das Índias Orientais (1602) e depois a Companhia das Índias 
Ocidentais (1621) tinham como objetivo colonizar e comerciar os produtos das 
regiões dominadas por eles, mediante a conquista de regiões economicamente 
vantajosas, pois, “As autoridades holandesas asseguravam à nova companhia um 
monopólio comercial de 24 anos. O Brasil era um alvo cobiçado da Companhia 
das Índias Ocidentais” (MATOS, 2001, p. 258).
De acordo com Matos, a administração de João Mauricio de Nassau Siegen 
(1604-1676) foi notável justamente porque, além de governar de forma eficiente 
as regiões conquistadas dos portugueses na colônia do Brasil, ele se preocupava 
não apenas com as terras e seu rico produto, o açúcar, mas dedicou especial 
atenção a seus moradores, quando soube conciliar diversos interesses em jogo: 
“Em relação às divergências religiosas mostrava-se prudente e de bom, logicamente 
sempre condicionado pelo papel que exercia na Companhia, ávida de obter o lucro 
máximo da empresa” (MATOS, 2001, p. 259), ou seja, como obter o máximo de 
lucro lidando com um grupo de homens insatisfeitos!
O jeito foi ser conciliador até o limite do tolerável, dentro do contexto. 
Seu jeito conciliador recebeu, inclusive, elogios dos jesuítas, pois não foi hostil 
aos católicos na região sob seu domínio, haja vista que isso não era a norma a ser 
praticada contra os povos conquistados, pois, “Representante de uma instituição 
originada no espírito militante do Calvinismo, evitou as medidas extremas de 
repressão pedidas pelos pastores protestantes, contra o que eles chamavam de 
superstições e insolências dos papistas” (MATOS, 2001, p. 259). 
Os calvinistas não toleravam as festas da Igreja Católica e seus cultos aos santos; 
eram avessos as procissões e outras manifestações da celebração romana. 
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A questão aqui, na realidade, vai muito além do espírito de fé que movia as 
guerras religiosas na Europa daquele contexto; o que interessava era o lucro com 
o comércio e tirar o máximo proveito da concessão de 24 anos para explorar o 
comércio local concedido para as Companhias de Comércio. 
Na realidade, documentos obtidos por essas companhias davam a entender que 
se concedessem liberdade de culto aos povos conquistados, apesar de que “Os mi-
nistros calvinistas solicitavam continuamente providências contra os católicos que 
saíam à rua a conduzir o ‘ídolo do Rosário’, que batizavam crianças negras e índias, 
que abençoavam moendas dos engenhos nas botadas etc.” (MATOS, 2001, p. 259). 
Nassau foi um governante e devia conciliar interesses; não podia se levar pelas 
paixões; porém, no cotidiano, os conflitos nunca deixaram de existir, ou seja, ele 
estava rodeado de outros atores nesse jogo intrincado entre Política e Economia 
de que a Religião fazia parte; católicos e protestantes não deixaram de lado as 
rivalidades durante o período de Governo holandês no nordeste.
“Em relatório ao Conselho dos Senhores XIX (colégio de dirigentes da Companhia 
das Índias Ocidentais da Holanda,sobre o estado das capitanias conquistadas no 
Brasil (...) se queixavam das dificuldades encontradas pelos predikanten” (MATOS, 
2001, p. 261).
Os predikanten eram pastores missionários que estavam relatando as dificuldades 
que tinham para evangelizar os povos do nordeste. Segundo eles, “Sobre o culto di-
vino e a religião, há pouca aparência de que os portugueses se convertam à religião 
reformada, porque ali só há um ministro que prega na língua deles, mas nem um só 
português compareceu às predicas, nem o procuram” (MATOS, 2001, p. 261). 
Em relação às queixas dos predikanten, pastores reformados que missionavam 
no nordeste holandês, fica claro que as dificuldades que eles encontraram naquele 
contexto era a mesma dificuldade encontrada com os jesuítas e outras ordens 
religiosas católicas que tentaram por décadas converter os indígenas, mas que, 
séculos mais tarde, podemos afirmar, foi apenas parcialmente eficiente porque, 
assim como os europeus, os indígenas tinham sua fé, sua Lei e seu rei, e não se 
muda uma cultura com sua cosmovisão formada há séculos à força. 
No caso da divisão cristã, a base estava formada; o Deus e a palavra eram os 
mesmos, apesar das novas interpretações dadas por cada grupo cristão que estava 
se dividindo.
No caso dos indígenas, a coisa se complica um pouco mais, pois impor a fé e a 
cultura europeia era algo mais difícil. 
Quem disse que eles não possuíam Fé, Lei e Rei? 
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UNIDADE Os Protestantes no Período Colonial 
Segundo Laima Mesgravis, o estereótipo repetido por Simão de Vasconcelos e 
entre outros jesuítas era uma imagem retórica engenhosa que, na verdade era um 
sofisma para impor a eles sua cultura, isto é, “Era um fecho para as longas descri-
ções da organização social, política e religiosa dos índios, procurando demostrar o 
perigoso estado de anarquia moral de suas vidas e a necessidade de impor autori-
dade aos valores da civilização europeia” (MESGRAVIS, 2001, p. 39-40).
Apesar da proximidade cultural, os calvinistas holandeses estavam reclaman-
do da rejeição da comunidade luso-brasileira em aceitar seu chamamento à nova 
ordem religiosa, recusando-se a escrutar os pastores que lá estavam, pois, eles 
“Recusam-se a prestar ouvidos a isso com pertinácia, o que procede do que lhes 
disseram os padres, isto é, que a nossa doutrina é uma doutrina herética e maldita, 
da qual não poderiam ouvir falar sem incorrer no pecado da heresia, e coisas tais” 
(MATOS, 2001, p. 261). 
Os pastores tentaram recorrer ao mesmo método dos jesuítas, ou seja, pretendiam 
ensinar a mocidade nos colégios; porém, diferente dos índios nas reduções 
jesuíticas, os portugueses não mandavam seus filhos para os colégios protestantes, 
os “curumins” foram aos colégios, mas os jesuítas também não conseguiam impor 
a eles a cultura ibérica com a facilidade que se imaginava. 
O período de Nassau chegou ao fim no ano de 1644 e, com sua saída, inten-
sificou-se a atuação dos pastores calvinistas. Uma das medidas foi a proibição da 
entrada de missionários católicos na região ocupada pelos holandeses; outra ati-
tude dos ocupantes do território foi a proibição dos padres que lá estavam de se 
comunicar com o bispo da Bahia. A tão divulgada tolerância religiosa dos tempos 
de Nassau estava se esvaindo e o cerco a outras religiões estava se intensificando.
“O proselitismo calvinista estendia-se, igualmente, aos índios, especialmente os 
potiguares, aliados dos holandeses. As figuras mais conhecidas de índios convertidos 
à religião reformada são Pedro Poti e Antônio Paraopeba” (MATOS, 2001, p. 262).
O interessante é que Pedro Poti foi enviado à Holanda, mas seu primo, Antô-
nio Felipe Camarão, foi um dos líderes que resistiram à invasão dos holandeses 
em seu território. 
O destino de Pedro Poti foi a tortura e a morte em um navio português. Cap-
turado e julgado como traidor, morreu na viagem para Lisboa, no ano de 1652; 
porém, foi irredutível às ameaças e se manteve fiel ao seu novo credo. 
Quanto à perseguição dos calvinistas aos católicos, houve períodos de maior e 
menor intensidade e um fato a ser registrado é que os primeiros santos brasileiros, 
beatificados no ano de 2000, pelo Papa João Paulo II, foi justamente em relação 
a um martírio coletivo infringido pelos calvinistas holandeses a um grupo de reli-
giosos e leigos do interior do Rio Grande do Norte, os chamados protomártires, 
sacrificados na primeira metade do século XVII. 
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Segundo Pereira: 
O primeiro massacre ocorreu no dia 16 de junho de 1645, em Cunhaú, a 
80 quilômetros de Natal, e o segundo numa localidade às margens do rio 
Uruaçu. A brutalidade das cenas de tortura e a morte bárbara mancham 
profundamente a história dos holandeses no Brasil, e atestam igualmente 
a vitalidade católica dos moradores da região (PEREIRA, 1999, apud. 
MATOS, 2001, p. 263).
De acordo com Matos, a revolta que pôs fim ao domínio holandês no Nordeste 
teve, para além de motivos político-econômicos, um forte cunho religioso.
As forças lideradas por João Ferreira Vieira manifestavam, em documentos 
deixados para a posteridade, um fervor religioso capaz de motivá-los a enfrentar o 
inimigo do Estado e da religião.
Podemos notar essa motivação num escrito da época: “Prostrados aos pés de 
Vossa Majestade, tornamos a pedir socorro e remédio com tal brevidade que nos 
não obrigue a desesperação, pelo que toca ao culto divino, a buscar em outro 
Príncipe católico o que vossa Majestade esperamos” (MATOS, 2001, p. 264).
O sentimento religioso da resistência aparece em vários documentos da época, 
como mencionado. Esse fato contribuiu muito para a revolta da população dominada 
no Nordeste brasileiro, além, é claro, das motivações políticas e econômicas.
Os holandeses foram derrotados no ano de 1654, mas o Tratado de Paz entre 
Portugal e Holanda foi assinado apenas no ano de 1661.
Reformas e Reformadores 
Ocorrido como um desdobramento da Reforma Luterana, o movimento Calvinista foi uma das principais 
correntes surgidas da Reforma Protestante. A Suíça, criada após sua separação do Império Romano-
Germânico, em 1499, teve contato com as ideias de Martinho Lutero através da pregação feita pelo 
padre Ulrich Zwinglio. Ao propagandear as doutrinas luteranas pela Suíça, Zwinglio desencadeou 
uma série de revoltas civis que questionavam as bases do poder vigente. A prática do zwinglianismo 
preparou terreno para a doutrina que seria mais tarde criada pelo francês João Calvino. Perseguido 
em sua terra natal, João Calvino refugiou-se na Suíça com o intuito de disseminar outra compreensão 
sobre as questões de fé levantadas por Martinho Lutero. Segundo Calvino, o princípio da predestinação 
absoluta seria o responsável por explicar o destino dos homens na Terra. Tal princípio defendia a ideia 
de que, segundo a vontade de Deus, alguns escolhidos teriam direito à salvação eterna. Os sinais 
do favor de Deus estariam ligados à condução de uma vida materialmente próspera, ocupada pelo 
trabalho e afastada das ostentações materiais. De acordo com alguns estudiosos, como o sociólogo Max 
Weber, o elogio feito ao trabalho e à economia fi zeram com que grande parte da burguesia europeia 
simpatizasse com a doutrina calvinista. Contando com esses princípios, observamos que a doutrina 
calvinista se expandiu mais rapidamente que o Luteranismo. Em outras regiões da Europa o calvinismo 
ganhou diferentes nomes. Na Escócia, os calvinistas fi caram conhecidos como presbiterianos; na França, 
como huguenotes; e na Inglaterra, foram chamados de puritanos.
SOUSA, Rainer Gonçalves. Calvinismo. Brasil Escola. Disponível em: https://goo.gl/YD9Nrr. Acesso em: 20 abr. 2018.
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UNIDADE Os Protestantes no Período Colonial 
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Sites
Museu Ricardo Brennand 
Visitar o museu Ricardo Brennand On.Line Tour Virtual.
https://goo.gl/rdPzn4
Museu Huguenote Daniel La Touche 
Visitar o museu Huguenote Daniel La Touche On.Line Tour Virtual. 
https://goo.gl/SBZkaUVídeos
Henrique IV, Rei de Navarra – Os Huguenotes
https://youtu.be/5KZZFSj2lGM
Brasil dos Holandeses – Expedições
https://youtu.be/KBjAKZlMBOk
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Referências
BEOZZO, José Oscar et. al. História da Igreja no Brasil: Segunda Época – 
Século XIX. Petrópolis: Vozes, 2000. 
BICALHO, Maria Fernanda B. A França Antártica, o corso, a conquista e a 
“peçonha luterana”. História, São Paulo, v. 27, n. 1, 2008.
FERNANDES, Paulo Cesar da Conceição. As Origens do Espiritismo no Brasil. 
2008. (Dissertação de Mestrado) Departamento de Sociologia, UnB, 2008. 
FUGA, A. Breve História da Reforma da Igreja de Cristo na França. Recife: Os 
Puritanos/Clire, 2012.
HOORNAERT, Eduardo et. al. História da Igreja no Brasil: Primeira Época – 
Período Colonial. 5.ed. Petrópolis: Vozes, 2008. 
JENSEN, Tina Gudrun. Discurso sobre as religiões afro-brasileiras: da desafrican-
ização para a reafricanização. Revista de Estudos da Religião da PUC, São 
Paulo, n. 1, p. 1-21, 2001.
KNAUSS, Paulo. No Rascunho do Novo Mundo: Os espaços e os personagens da 
França Antártica, História, São Paulo, v. 27, n. 1, 2008.
MATOS, Alderi Souza de. Breve História do protestantismo no Brasil, Revista de 
Ciências Humanas e Letras das Faculdades Integradas da FAMA, v. 3, n. 1, 2011.
MATOS, Henrique Cristiano José. Nossa História: 500 anos de presença da igreja 
católica no Brasil. Tomo 3. Período republicano e atualidade. São Paulo: Paulinas, 2003.
MENDONÇA, Antonio Gouvêa. O Protestantismo no Brasil e suas encruzilhadas. 
Revista USP, São Paulo, n. 67, p. 48-67, set./nov., 2005.
SILVA, Marina Maciel da. A chegada do protestantismo no Brasil Imperial, Protes-
tantismo em Revista, São Leopoldo-RS, n. 26, set./dez., 2011.
SOUSA, Rainer Gonçalves. Calvinismo. Brasil Escola. Disponível em <https://
brasilescola.uol.com.br/historiag/ataques-igreja-calvinismo.htm>. Acesso em: 20 
abr. 2018.
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