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Curso de Enfermagem em Neurologia MÓDULO II Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização do mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. 37 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores MÓDULO II NEUROTRAUMA Trauma Cranioencefálico (TCE) Segundo Neto e Machado (2003), dados fornecidos pelo CDC afirmam que nos EUA ocorrem 1,5 a 2 milhões de casos de TCE por ano, resultando em 54 mil mortes e 70 a 90 mil pacientes com sequelas, onde destes 2.500 permanecem em estado vegetativo persistente. Sousa (2007) refere que no Brasil os acidentes e à violência configuram um problema de saúde pública de grande magnitude com forte impacto na mortalidade da população. O TCE é a causa mais importante de morte e incapacidade entre jovens, e a mais frequente causa neurológica de mortalidade e morbidade segundo estimativa americana. O TCE pode causar fratura do crânio, com ou sem lesão do parênquima cerebral. As fraturas do crânio podem ser fechadas ou abertas. Nas fraturas fechadas, pode haver afundamento do crânio e lesão das estruturas cerebrais. Nas fraturas abertas, há comunicação do conteúdo intracraniano com o meio externo, permitindo perda de massa cefálica. O impacto do cérebro com a caixa craniana muitas vezes causa contusão ou laceração. A laceração leva a hemorragia intraparenquimatosa e/ou subaracnoidea. 38 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Outra complicação do TCE é o surgimento de hematomas extra-axiais, que são: hematoma epidural e subdural, que deverão ser drenados cirurgicamente. Podem ainda haver lesões axonais difusas, sem que haja lesões anatômicas exuberantes no tecido cerebral, acarretando danos neurológicos permanentes. Para Reis e Py (2002) uma causa importante de letalidade e, mau prognóstico do TCE é o edema cerebral, que pode ser localizado ou difuso. Há também a possibilidade de inchaço cerebral denominado Swelling que se caracteriza pelo aumento de volume do parênquima cerebral, sem que haja propriamente o edema. Algumas consequências do TCE são explicadas pelas características peculiares do encéfalo, que se localiza no interior de uma caixa óssea, juntamente com o líquido cefalorraquidiano e o sangue circulante. Elevações de qualquer destes compartimentos levam ao aumento da Pressão Intracraniana (PIC). (Reis e Py 2002) Neto e Machado (2003) explicam que a apresentação mais frequente é do TCE moderado (Glasgow de 9 a 12), responsável por 80% das internações hospitalares. Mesmo nos casos de TCE leve (Glasgow de 13 a 15) após três meses de evolução (fase aguda) observam-se que 79% dos pacientes ainda apresentam cefaleia persistente, 59% têm falhas de memória. Com isso, podemos dizer que há cinco tipos de trauma craniano com lesões primárias, estas que por sua vez, ocorrem no momento do impacto e são consideradas irreversíveis, sendo assim distribuídos: 39 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores • Lesões de couro cabeludo. Acometem: abrasão, laceração, contusão, hematoma subgaleal (Fig. 2.1). Figura 2.1 TCE com lesão de couro cabeludo. Disponível em: <www.enfermagem.ufpr.br/tce_monica_parolin.ppt>. Acesso em: 12 mar.2009. • Fraturas de crânio Acometem: fratura sem afundamento (Fig.2.2), fratura com afundamento (Fig.2.3). Fratura de base de crânio: otoliquorreia, rinoliquorreia; equimose na região da mastoide (sinal de Battle); sangue na membrana timpânica (hemotimpano); equimose periorbitária (olhos de guaxinin) (Fig.2.4) 40 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Figura 2.2 Fratura de crânio sem afundamento. Disponível em: <www.enfermagem.ufpr.br/tce_monica_parolin.ppt>. Acesso em: 12 mar.2009. Figura 2.3 Fratura de crânio com afundamento. Disponível em: <www.enfermagem.ufpr.br/tce_monica_parolin.ppt>. Acesso em: 12 mar.2009. 41 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Figura 2.4 Fratura de base de crânio. Na primeira ilustração fratura de assoalho de orbita, esfenoide, porção da mastoide, do osso temporal. (presença de rinoliquorreia). Na imagem abaixo equimose na região da mastoide (sinal de Battle) e equimose periorbitária (olhos de guaxinim). Disponível em: <www.enfermagem.ufpr.br/tce_monica_parolin.ppt>. Acesso em: 12 mar.2009. • Lesão cerebral difusa Concussão e lesão axonial difusa (descrita mais a frente) • Lesão focal Contusão, hemorragias e hematomas (Fig. 2.5) • Lesão penetrante 42 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Causada por objetos penetrantes (Fig. 2.6) Figura 2.5 Ilustração dos hematomas cerebrais. À esquerda hematoma subdural, ao centro hematoma epidural e a direita hematoma intracerebral. Disponível em: <www.enfermagem.ufpr.br/tce_monica_parolin.ppt>. Acesso em: 12 mar.2009. 43 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Figura 2.6 TCE com lesão perfurante. Disponível em: <www.enfermagem.ufpr.br/tce_monica_parolin.ppt>. Acesso em: 12 mar.2009. Na tabela a seguir veremos os principais tipos de lesões primárias acometidas pelo TCE e distribuídas conforme sua natureza. Tabela 2.1 Principais tipos de lesões primárias, segundo a natureza e estrutura lesada Lesão Estrutura lesada Natureza da lesão Difusa Encéfalo Concussão* Lesão axonal difusa (LAD)** 44 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Localizada Escalpe Abrasão Contusão Laceração Meninges Laceração Crânio Fratura (de base, linear, cominutiva, com afundamento, fechada e aberta) Encéfalo Contusão Laceração Nervos cranianos Contusão Laceração Vasos sanguíneos Laceração Hematomas (extradural, epidural, subdural, intracerebral, subaracnoidea e intraventricular *Definida como incapacidade funcional transitória do neurônio causada pelo traumatismo, provoca sintomas temporários (cefaleia, tonturas, zumbidos, vômitos, amnésia pós-traumática, perda de consciência momentânea) que rapidamente desaparecem na concussão leve e que permanecem por períodos longos nas concussões clássicas. (Sousa 2007) **A LAD é uma lesão microscópica dos axônios nos hemisférios cerebrais, corpo caloso e tronco cerebral. Nestes casos o trauma provoca rotação do encéfalo e deslocamento diferente das substâncias cinzenta e branca. Isto causa o rompimento do axônio em relação ao corpo celular e a interrupção da transmissão de impulsos da célula nervosa. (Sousa 2007) 45 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores As lesões secundárias sãodenominadas aquelas lesões que surgem em outro local do encéfalo ou se estendem a partir da lesão primária. A importância da lesão secundária decorre da sua alta frequência, grande influência prognóstica e da possibilidade de prevenção. (Machado e Neto 2003) Em geral a lesão secundária é de natureza isquêmica, pois alterações do fluxo sanguíneo cerebral (FSC) e de sua autorregulação, associadas à resposta inflamatória decorrente do próprio trauma e da lesão de reperfusão, aumentam ainda mais a vulnerabilidade encefálica a isquemia. Sousa (2007) explica que estas lesões podem levar minutos, horas e até dias para se instalarem e dentre suas causas estão: hipóxia, hipotensão, queda da perfusão cerebral, hipertensão intracraniana, problemas respiratórios, distúrbios metabólicos e infecção. Diagnóstico A história do TCE é obvia, em geral, a causa é a queda, acidentes automobilísticos, projéteis de arma de fogo, objetos contusos ou perfurantes. Após a coleta da história clínica, o exame físico é minucioso e deve-se estar atento a possibilidade de trauma raquimedular (TRM) associado, além de lesões em tórax, abdome e ortopédicos, além de fraturas craniofaciais, observadas por hematomas e equimoses que podem estar localizados em regiões periorbitária, face e nariz (Fig. 2.7) A avaliação neurológica é descrita a seguir. Após a avaliação clínica, o exame de neuroimagem se faz extremamente necessário. 46 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores As principais alterações encontradas em exames de neuroimagem, segundo Reis e Py (2002) são: hemorragias intraparenquimatosa, sinais de lesão axonal difusa, hemorragia subaracnoidea, hemorragia intraventricular, hematoma subdural, hematoma epidural, edema cerebral difuso e localizado. Figura 2.7 Múltiplas fraturas faciais. Disponível em: <www.enfermagem.ufpr.br/tce_monica_parolin.ppt>. Acesso em: 12 mar.2009. Avaliação Neurológica O exame neurológico se inicia pela aplicação da escala de coma de Glasgow, que para Reis e Py (2002) é um importante instrumento para medir a gravidade do TCE e seu prognóstico. Deve-se ter cuidado, entretanto, de afastar a 47 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores possibilidade de uso de álcool e drogas ou instabilidade hemodinâmica que podem interferir no resultado da escala. Serão apresentadas duas escalas de coma de Glasgow, em que a primeira em formato de tabela, em geral a mais encontrada em base bibliográfica que apresenta uma variação da escala para lactentes. A segunda escala de coma Glasgow é totalmente ilustrada, permite reconhecer como aplicar a escala e facilitará durante a avaliação clínica. (Fig. 2.8 e 2.9) Figura 2.8. Escala de Coma de Galsgow, apresentada com a versão para adultos e adaptada para lactentes. (GIUGNO, Katia M.; MAIA, Tânia R.; KUNRATH, Cláudia L. and BIZZI, Jorge J. Tratamento da hipertensão intracraniana. J. Pediatr. (Rio J.) [online]. 2003, v. 79, n. 4, pp. 287-296) 48 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 49 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 50 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Figura 2.9 Escala de coma Glasgow ilustrada (retirado de: Ferreira. Avaliação Neurológica. Disponível em: <www.fiel.edu.br/painel/uploads/12_09_2007__03_21_43Avaliacao%20Neurologica.ppt>. Acesso em: 12 mar.2009. A seguir a avaliação pupilar também possui importância diagnóstica e prognóstica. Reis e Py (2002) comentam que a midriase fixa bilateral na fase aguda 51 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores do traumatismo é indicativa de mau prognóstico com 74% dos casos evoluindo para estado vegetativo e apenas 25% recuperando vida independente. Por outro lado a miose bilateral pode indicar herniação diencefálica, devendo-se, contudo excluir a possibilidade de intoxicação por narcóticos, principalmente os opioides. A midriase fixa unilateral indica provável massa intracraniana, (hematomas extra-axiais) deslocando e comprimindo o III nervo craniano. A avaliação pupilar consiste em: · Avaliar diâmetro, simetria, assimetria e reflexo fotomotor; · Comparar uma pupila à outra; · Diâmetro normal: em média 3,5mm; · O diâmetro pode ser medido com uma régua ou por pupilômetro. A avaliação da motricidade ocular é explicada por Ferreira (2007), sendo realizados em pacientes em coma, avaliados os movimentos dos nervos cranianos (oculomotor, troclear e abducente). A avaliação realizada em cinco etapas: · Movimentos oculares espontâneos; · Manobra dos olhos de boneca; · Manobra vestibulocular; · Reflexo córneo palpebral; · Pálpebras. 52 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores O próximo passo da avaliação neurológica consiste na avaliação motora, que é direcionada para identificar o grau de incapacidade e/ou de dependência do paciente em realizar um movimento ou de movimentar-se. Durante a avaliação da força muscular, deve-se avaliar: · A postura; · O tono muscular; · Os reflexos; · Os tipos de movimentos; · A coordenação dos grupos musculares. Tratamento O primeiro item para o tratamento de um paciente vítima de TCE é evitar dano secundário. Observe na tabela, as consequências de uma injúria secundária para o paciente acometido por TCE Caso o paciente admitido esteja estável hemodinamicamente, proceder com avaliação clínica (aplicação da escala de coma de Glasgow, avaliação pupilar, déficit focal), solicitar uma tomografia de crânio e um raio x de crânio e coluna. Após, o paciente deverá ser reavaliado a cada 1 hora nas primeiras 24 horas e a cada 2 horas, nas horas seguintes. O tratamento dos pacientes vítimas de TCE será orientado conforme a gravidade do caso, adotando-se medidas terapêuticas distintas conforme os achados do exame físico e dos métodos complementares. (Reis e Py 2002) 53 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Para classificar a gravidade do TCE é aplicada uma escala da pontuação do Glasgow, que será demonstrada abaixo. Tabela 2.2 Classificação de gravidade do TCE Glasgow Gravidade 13 a 15 Leve 8 a 12 Moderado 3 a 7 Grave As medidas de tratamento iniciais universais, ou seja, para todos os tipos de TCE devem ser: • Manutenção vias aéreas (promover ventilação adequada, realizando intubação se rebaixamento do nível de consciência e gasometria); • Exame físico completo; • Diagnosticar rapidamente trauma raquimedular (TRM) para evitar hiperextensão da cabeça ou movimentação da fratura; • Identificar hemorragias e proceder a tratamento; • Manter pressão arterial sistólica > 100 mmHg e pressão arterial média < 130 mmHg (hipotensão diminui fluxo cerebral e hipertensão exagerada é deletéria); 54 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores • Corrigir hipovolemiacom 3 litros de solução salina 0,9%, caso não haja resposta aplicar solução hipersalina 3%, e se ainda não houver resposta aplicar drogas vasoativas; • Evitar desnutrição, administrando dieta enteral precocemente. Caso a clínica do paciente não permita administrar nutrição parenteral; • Monitorizar a PIC está indicado se: Glasgow menor 8, há hematoma cerebral, na CT crânio é evidenciado edema cerebral e pacientes submetidos a bloqueio muscular (em que a monitorização clínica é prejudicada). Pois em outros casos a PIC pode levar a uma lesão secundária desnecessária (pois é um procedimento cirúrgico); • Tratar hipertensão intracraniana (meta manter PIC abaixo de 20 mmHg e PPC acima de 70 mmHg). Em casos de hipertensão intracraniana persistente pode-se considerar aplicação de hipotermia induzida para combater a HIC. A temperatura deverá ser mantida entre 32 a 34 ºC e pode ser obtida por meio de colchão térmico, solução salina 0,9% gelada, lavagem gástrica com solução salina 0,9% gelada; • Remover cirurgicamente hematomas (extradural, epidural intraparenquimatoso); • Administrar manitol se evidenciado edema cerebral; • Administrar anticonvulsionantes três vezes ao dia; • Avaliar parâmetros específicos: temperatura cerebral, oximetria do bulbo jugular, saturação venosa mista, eletroencefalograma, doppler transcraniano, tomografia de crânio de controle; 55 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Prognóstico O prognóstico do TCE depende de vários fatores. Em geral 60% das mortes ocorrem antes de chegar à sala de emergência, de 3 a 5% evoluem para estado vegetativo. (Reis e Py 2002) São fatores de pior prognóstico: • Glasgow igual a 3; • Idade maior 65 anos; • Alterações pupilares; • Choque hipovolêmico a admissão; • Hipertensão intracraniana persistente; • Múltiplas contusões de crânio. Cuidados de Enfermagem • Proceder à avaliação neurológica com anamnese e exame físico, observando condições de meio ambiente do paciente, e seus comportamentos emocional, físico e cognitivo. Para alguns pacientes é necessária a presença da família para responder algumas questões. 56 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores • Ao avaliar nível de consciência devem ser realizadas as seguintes avaliações: atenção e concentração, memória, estado afetivo, linguagem, raciocínio e orientação. • Caso a escala de coma de Glasgow apresente valor igual ou menor a oito deve-se realizar avaliação pupilar, motricidade ocular, padrão respiratório e padrão motor. • Orientar a família a evitar diálogos emocionalmente carregados enquanto o paciente estiver em desmame da ventilação mecânica, evitando elevação da PIC. • Os valores de PIC devem ser relacionados com os procedimentos realizados com os pacientes (posicionamento adequado, período de agitação psicomotora, alterações hemodinâmicas importantes, estímulo doloroso, fisioterapia respiratória). • Manter a cabeça do paciente com o alinhamento cefalocaudal pode-se utilizar coxins para conseguir manter a posição • Manter a cabeceira elevada 30º (com exceção para o paciente com restrição decúbito por trauma raquimedular). • Manter a temperatura corporal abaixo de 37,5ºC. • Comunicar a enfermeira e/ou médico a hipotensão arterial (deverá ser evitada hipotensão para manter FSC). • Comunicar a enfermeira e/ou médico se PIC maior que 20 mmHg e/ou PPC menor que 70 mmHg. • Comunicar qualquer alteração do estado neurológico (queda do Glasgow, convulsões, piora do padrão respiratório, sangramentos, agitação psicomotora, hipertensão arterial exagerada). 57 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Trauma Raquimedular (TRM) As lesões traumáticas da medula espinhal são eventos catastróficos, decorrentes, na sua maioria, de causas externas ligadas a violência urbana, causa destruição mecânica do tecido neural e hemorragia intramedular. (Faro 2007) O TRM acomete pessoas de qualquer faixa etária, sendo mais frequente na população jovem do sexo masculino entre 15 a 35 anos e indivíduos acima de 65 anos, segundo o banco de trauma norte americano. (Monteiro e Castro 2002) Segundo Machado e Neto (2003) nos EUA a incidência de TRM é de aproximadamente 10.000 casos novos por ano. A mortalidade no TRM isolado é de 5 a 7%, elevando-se para 20% quando associado a outras lesões traumáticas. Faro (2007) afirma que no Brasil a incidência de lesão medular vem aumentando de maneira significativa nos últimos 20 anos, calcula-se um número estimado entre 250 mil e 500 mil, em razão da menor segurança de veículos, falta de sinalização em piscinas e locais de veraneio, maior impunidade nas infrações de trânsito, entre outras. Atualmente a primeira causa externa são os ferimentos por armas de fogo, considerando a violência urbana, seguidos pelos acidentes de trânsito, quedas de altura. Os mergulhos aparecem mais no período de verão. Como no encéfalo a lesão medular envolve lesão primária e lesão secundária, onde a primária é aquela que ocorre diretamente pelo trauma e pode ser classificada como penetrante ou não, pode ser de natureza isquêmica ou compressiva. A lesão secundária está intimamente relacionada ao processo inflamatório, com ativação de fosfolipases, trombina, prostaglandinas, peroxidação 58 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores lipídicas e radicais livres, entre outros, além de eventos isquêmicos que produzem ou agravam a lesão neural existente. (Machado e Neto 2003) Monteiro e Castro (2002) afirmam que a lesão primária é a lesão mecânica, propriamente dita, resultante do impacto e compressões iniciais sobre o tecido medular que determina dano tecidual direto, além do rompimento de pequenos vasos intramedulares. (Fig. 2.10) Figura 2.10 A primeira imagem apresenta fratura da coluna torácica com deslocamento para esquerda, a segunda imagem apresenta fratura posicionada de L1 e L3. A terceira imagem apresenta fratura de L1. E a última imagem uma fratura de cervical com objeto penetrante. Disponível em: <www.enfermagem.ufpr.br/trmcurso_enfer_monica_parolin.ppt>. Acesso em: 12 mar.2009. 59 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Para Faro (2007) as notáveis diferenças anatômicas nos segmentos da coluna vertebral condicionam o aparecimento de lesões traumáticas diferentes. Os mecanismos envolvidos na lesão primária são a compressão, o impacto, o estiramento e as complexas lesões pró-projeteis sobre os elementos neurais. A injúria primária pode causar secção medular completa ou parcial. Quando dada a injúria medular completa a perda funcional é irreversível abaixo do lesionado. Em lesões parciais, o déficit funcional poderá ser total e transitório ou parcial. (Monteiro e Castro 2002). As lesões secundárias são representadas pela ruptura ou trombose arterial e pela hipoperfusão decorrente do choque, estão relacionadas à queda do fluxo sanguíneo medular. Assim como na injúria cerebral, as lesões secundárias podem não aparecer inicialmente, levando horas ou dias para se manifestar. E a consequência final da lesão secundária é a queda da condução sináptica, a lesão da membrana celular, a quebra do cistoesqueleto, com perda de integridade estrutural e morte (Monteiro e Castro 2002). As manifestações clínicas presentes nalesão medular estão dispostas na tabela a seguir, conforme avaliação de Machado e Neto (2003): Tabela 2.3. Manifestações clínicas Tipo de lesão acometida Manifestação apresentada Choque medular Paralisia medular inicialmente flácida e depois espástica. Perda dos reflexos tendíneos e cutâneos. 60 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Reflexo anal e bulbocavernoso podem não desaparecer ou recuperar-se após a lesão. A persistência de arreflexia indica presença de lesão isquêmica de substância cinzenta ou lesão multirradicular. A hiporeflexia dura três dias a seis semanas. Automatismo medular pode aparecer após seis semanas. Os mecanismos de controle da temperatura são alterados. Lesão cervical alta Tetraplegia Paralisia de pares cranianos baixos. Paralisia de músculos acessórios da respiração. Perda do controle diafragmático. Transecção completa de C4 a C8 O paciente pode apresentar também disreflexia em 50% dos casos. Lesão acima de T7 Paraplegia Transecção completa de T12 a S1 Disfunção sexual, vesical e intestinal. 61 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Síndrome de hemissecção medular Paralisia ipisilateral Anestesia para a dor e temperatura contralateral. Síndrome da cauda equina (completa) Paralisia dos membros inferiores Anestesia da região perineal Disfunção vesical e intestinal A lesão no decorrer da medula espinhal e as possíveis lesões com perda funcional são apresentadas nas figuras a seguir. 62 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Figura 2.11 Tipo de lesão irreversível acometida pela localização do TRM. Disponível em: <www.enfermagem.ufpr.br/trmcurso_enfer_monica_parolin.ppt>. Acesso em: 12 mar.2009. 63 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Figura 2.12 Lesão acometida por fratura cervical. Disponível em: <www.enfermagem.ufpr.br/trmcurso_enfer_monica_parolin.ppt>. Acesso em: 12 mar.2009. Diagnóstico A Associação Americana do Trauma Raquimedular (ASIA- American Spine Injury Association) desenvolveu, em 1992, padrões para a avaliação e classificação neurológica do TRM, avaliação que apresenta, no momento, grande aceitação em nível mundial. A avaliação neurológica é baseada na sensibilidade e na função motora, e possui uma etapa compulsória, baseada na qual é determinado o nível da lesão neurológica, o nível motor e o nível sensitivo, e obtêm-se números que, em conjunto, fornecem um escore. A outra etapa é opcional (avaliação da sensibilidade profunda, propriocepção, dor profunda) não participa na formação do escore, mas acrescenta importantes informações na avaliação clínica dos pacientes. 64 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores O exame da sensibilidade do paciente é realizado por meio da avaliação da sensibilidade tátil e dolorosa do paciente, pesquisada nos 28 dermátomos (Fig. 2.13) de ambos os lados, atribuindo-se uma avaliação numérica de acordo com o achado clínico: 0- ausente; 1- alterada; 2- normal. NT (não testada), quando, por qualquer motivo, a avaliação do dermátomo não puder ser realizada. O esfíncter anal externo deve ser também examinado por meio da introdução do dedo do examinador no orifício anal, com a finalidade de determinar-se se a lesão é completa ou incompleta (sensibilidade presente-sim, ou ausente-não). A avaliação da função motora é realizada por meio da avaliação de ambos os lados, de músculos denominados “músculos chaves” em 10 pares de miótomos, e a força muscular graduada de acordo com a seguinte escala: 0- Paralisia total; 1- Contração palpável ou visível; 2- Movimento ativo eliminado pela força da gravidade; 3- Movimento ativo que vence a força da gravidade; 4- Movimento ativo contra alguma resistência; 23 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 5- Normal. NT (não testada). Figura 2.13 Dermátomos (adaptado de arquivo pessoal). Os músculos selecionados para a avaliação e os níveis neurológicos correspondentes são (Fig. 2.14 e 2.15): C5- flexores do cotovelo; C6- flexores do punho; C7- extensores do cotovelo; C8- flexores do dedo (falanges, média e distal); T1- abdutores (dedo mínimo); L2- flexores do quadril; L3- flexores do joelho; L4- dorsiflexores do tornozelo; L5- extensor longo dos dedos; S1- flexores plantares do tornozelo. Figura 2.14 Dermátomos membros superiores e tórax (adaptado de arquivo pessoal). Adicionalmente ao exame dos 10 pares de miótomos mencionados, o esfíncter anal externo deve ser também examinado para se avaliar a sua capacidade 55 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores de contração voluntária (sim ou não), que auxilia na diferenciação da lesão incompleta ou completa. Figura 2.15 Dermátomos membros inferiores (adaptado de arquivo pessoal). 56 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Após avaliação clínica se faz necessária uma avaliação radiológica. Machado e Neto (2003) citam uma grande variedade de exames de neuroimagem para diagnosticar uma lesão medular, dentre estes estão: • Radiografia da coluna: mais simples exame de imagem; • Tomografia computadorizada da coluna (CT): pode ser realizada em diversos planos (axial, sagital e coronal), aumentando a sensibilidade do método para diagnosticar a fratura. Geralmente indicado para avaliar melhor partes ósseas; • Ressonância nuclear magnética (RNM): é o exame mais sensível e específico para avaliar lesões medulares em geral. A RNM não substitui a tomografia, complementa-a e dificilmente é solicitada em caráter emergencial. • Angiografia: raramente utilizada, somente é aplicada em casos de suspeita de lesão da artéria vertebral. • Potencial evocado (PE): é um conjunto de testes neurofisiológicos do sistema nervoso que avalia funcionalmente os feixes, vias nervosas do Sistema Nervoso Central e Periférico. Não deverá ser realizado na fase aguda da lesão medular, pois pode induzir a erros diagnósticos. Deve-se ter em mente que a lesão medular é sempre um potencial de incapacitação, e com isto devemos considerar todo o paciente politraumatizado como tendo uma lesão medular até que seja descartado por exame comprobatório. Tratamento O tratamento é proposto de duas maneiras: clínico e cirúrgico, no qual o tratamento clínico está indicado para trauma fechado e consiste em administrar medicação corticoide e manter observação e repouso absoluto. 57 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores O tratamento cirúrgico está indicado para trauma com instabilidade da lesão medular e consiste na fixação precoce, apesar de alto custo, o benefício da fixação cirúrgica é mobilidade imediata após o procedimento, não condicionando o paciente a uma única posição. Durante o tratamentoproposto devem-se estar atento as possíveis complicações: Precoces; Depende da gravidade da lesão; Mais frequente – cervical ou torácica alta; Insuficiência respiratória; Choque neurogênico; Tardias – Sequelas neurológicas graves; Infecção; Escaras; Espasticidade; Bexiga neurogênica; Dor crônica; Rigidez articular; Tromboses. Cuidados de Enfermagem: • Realizar o exame físico completo na admissão do paciente e durante a internação; • Avaliar diariamente sensibilidade, força motora; • Observar padrão respiratório; 58 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores • Realizar ausculta pulmonar (se diminuída força da musculatura respiratória causa dificuldade de expectoração); • Verificar temperatura (hipertermia resulta de alterações do controle térmico ou paralisia autônoma); • Avaliar presença de Hiperreflexia autonômica (cefaleia intensa, sudorese profusa, congestão nasal e bradicardia); • Atentar para sinais de choque neurogênico e consequente distensão vesical por paralisia; • Mobilização em bloco, se recomendado pelo médico responsável; • Cuidados com a integridade cutânea; • Cateterismo vesical s/n (bexiga neurogênica causa retenção urinária); • Melhora da função intestinal (íleo paralítico) com dieta adequada; • Proporcionar conforto e apoio emocional à vítima e à família; • Após cirurgia realizar a troca do curativo diariamente conforme protocolo da instituição; • Alterações mínimas encontradas devem ser comunicadas ao médico responsável. ------------------FIM DO MÓDULO II-----------------
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