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______________________ TRAUMATISMO CRANIOENCEFÁLICO INTRODUÇÃO x TCE = qualquer lesão de etiologia traumática que afete o parênquima cerebral ou suas estruturas adjacentes, como as meninges, os vasos, a calota craniana e o couro cabeludo. Os traumas relacionados com atividades de transporte (acidentes com motocicletas, veículos automotores, atropelamento) são as causas mais comuns de TCE, representando mais da metade das lesões graves (escala de coma de Glasgow 3-8) e dos óbitos. Outras causas de TCE em nosso meio incluem as quedas (crianças e idosos), violência interpessoal e trauma associado a atividades esportivas e recreacionais. Em adultos, o compartimento intracraniano é protegido pelo crânio, uma estrutura rígida com volume interno fixo de 1.400 a 1.700 mL, composto por 80% de parênquima cerebral, 10% de liquido cefalorraquidiano e 10% de sangue. A população jovem, com idade entre 15 e 24 anos, é o grupo mais acometido pelo TCE. O sexo masculino supera o feminino em incidência. Classificado em escalas de gravidade de lesão - GLASGOW - leve, moderado e grave. ANATOMIA c Seguindo da porção mais externa, podemos identificar três camadas que envolvem o encéfalo e o tronco cerebral: couro cabeludo, crânio e meninges. O couro cabeludo caracteriza-se por sua rica irrigação, podendo suas lacerações levar a sangramentos importantes, principalmente em crianças. O crânio pode ser dividido em duas porções – abóbada, que recobre o encéfalo, e a base. A abóbada é mais fina nas regiões temporais, o que explica seu frequente envolvimento nas fraturas de crânio. Linhas de fratura na região temporal devem chamar a atenção para possível lesão associada da artéria meníngea média, causadora do hematoma extradural. Já a base é firme e áspera, ocasionando lesões por meio de movimentos de aceleração e desaceleração, tão comuns no TCE. As meninges constituem o revestimento mais interno, sendo seu estudo fundamental na compreensão do mecanismo de formação dos hematomas pós-traumáticos; são formadas por três camadas: dura-máter, aracnoide e pia-máter. A dura-máter é constituída por dois folhetos de tecido conjuntivo denso, um em contato com o periósteo craniano e outro com a aracnoide. Em algumas regiões, como por exemplo, na parietal, o folheto externo encontra-se frouxamente aderido à tábua interna do crânio, facilitando o acúmulo de sangue nesta topografia, formando o hematoma epidural, também conhecido como extradural. Já o folheto interno, em alguns pontos, forma dependências que determinam compartimentos neste espaço, como a foice do cérebro, que o divide em dois hemisférios, e a tenda do cerebelo ou tentório. Esta última delimita a loja que abriga o cerebelo e divide a cavidade craniana em duas porções: supratentorial (que compreende a fossa cerebral anterior e média) e infratentorial (que compreende a fossa cerebral posterior). Através de um amplo orifício existente no tentório, passam as estruturas que formam o tronco cerebral em direção à coluna vertebral. O sistema venoso cerebral drena para os venosos, dentre eles o sagital (especialmente sensível ao trauma pela sua localização superior na linha média), que se encontram entre os folhetos da dura. A aracnoide é formada por uma camada frouxamente aderida à dura-máter e apresenta prolongamentos digitiformes que a comunicam com a pia-máter, a camada mais interna. O Líquido Cefalorraquidiano (LCR) corre exatamente neste espaço entre a aracnoide e a pia-máter. Existem várias pequenas veias que unem a dura à aracnoide (bridging veins). Estas estruturas quando lesadas podem levar a acúmulo de sangue entre a dura e a aracnoide, formando o hematoma subdural. O encéfalo compreende cérebro, cerebelo e tronco cerebral. O cérebro é composto pelos hemisférios direito e esquerdo, separados pela foice. O hemisfério esquerdo contém os centros da linguagem em virtualmente todos os indivíduos destros e em mais de 85% dos indivíduos canhotos. O lobo frontal controla as funções de execução, as emoções, as funções motoras e, no lado dominante, a expressão da fala (área motora da fala). O lobo parietal dirige a função sensorial e a orientação espacial. O lobo temporal regula certas funções da memória. O lobo occipital é responsável pela visão. O tronco cerebral é constituído pelo mesencéfalo, ponte e bulbo. O mesencéfalo e a parte superior da ponte contêm o sistema ativador da formação reticular responsável pelo estado de alerta. No bulbo, que continua para formar a medula espinhal, alojam-se centros cardiorrespiratórios vitais. Mesmo pequenas lesões no tronco cerebral podem ser acompanhadas de déficit neurológico grave. O cerebelo, responsável principalmente pela coordenação e pelo equilíbrio, projeta-se posteriormente, na fossa posterior, e forma conexões com a medula, o tronco cerebral e, em última análise, com os hemisférios cerebrais. A região do cérebro que habitualmente hernia através da incisura tentorial é a parte medial do lobo temporal, conhecida como uncus. Herniação do uncus também causa compressão do trato córtico-espinhal (piramidal) do mesencéfalo. O trato motor cruza para o lado oposto do forame magno, e a sua compressão resulta em déficit motor do lado oposto do corpo ( hemiplegia contralateral). A dilatação da pupila ipsilateral associada à hemiplegia contralateral é a síndrome clássica de herniação do uncus. Raramente, a lesão de massa pode empurrar o lado oposto do mesencéfalo contra a margem da tenda do cerebelo, provocando hemiplegia e dilatação da pupila no mesmo lado do hematoma. FISIOPATOLOGIA b Pode ser separada em duas categorias: ______________________ LESÃO CEREBRAL PRIMÁRIA c No momento do trauma. Os mecanismos envolvidos envolvem impacto direto, aceleração e desaceleração, trauma penetrante e ondas de explosão. Apesar dos mecanismos heterogêneos, eles resultam em forças mecânica externas que são transferidas pra os compartimentos intracranianos. O dano resultante inclui uma combinação de contusões focais e hematomas, bem como cisalhamento dos tratos de substância branca (lesão axonal difusa), juntamente com edema cerebral. LESÃO CEREBRAL SECUNDÁRIA v Em decorrência da cascata de lesão molecular que se inicia no momento do trauma e perdura por horas ou dias. Esses mecanismos incluem: ● Lesão da membrana celular por radicais livres ● Distúrbios hidroeletrolíticos ● Disfunção mitocondrial ● Apoptose celular ● Isquemia cerebral secundária a vasoespasmos, oclusão microvascular e/ou lesão vascular direta. Um aspecto crítico do atendimento → evitar insultos cerebrais secundários que podem piorar lesões neuronais. Por exemplo, evitar hipotensão arterial e hipóxia (diminui fornecimento de oxigênio e glicose ao cérebro lesado), tratar febre e convulsões (que podem aumentar a demanda metabólica) e evitar disglicemias (que podem exacerbar os mecanismos de lesão em andamento). CONCEITOS FISIOPATOLÓGICOS IMPORTANTES v Um fenômeno observado no TCE, que ocorre alguns minutos após o trauma, é a perda da autorregulação cerebrovascular, ou seja, os vasos arteriais do encéfalo são incapazes de se acomodar a diminuições ou aumentos súbitos da Pressão Arterial Média (PAM). Em indivíduos saudáveis, aumentos da PAM fazem com que os vasos cerebrais se contraiam (para proteger o sistema nervoso central da "onda" de pressão arterial elevada) e diminuições da PAM fazem com que haja vasodilatação cerebral, em uma tentativa de manter o fluxo sanguíneo para o encéfalo. Observa-se no TCE grave uma elevação intensa do fluxo sanguíneo cerebral (sem correlação alguma com a demanda metabólica) em um encéfalo que perdeu seu mecanismo de defesa (a autorregulação); este fenômeno, por si só, é responsável por elevação da PIC. Lesões expansivas (hematomas subdural, extradural e intraparenquimatoso) e um aumento da permeabilidade da barreira hematoencefálica são fenômenos que também agravam a hipertensão intracraniana. A PIC é normalmente ≤ 15 mmHg em adultos e a HIC está presente quando PIC ≥ 20 mmHg por período maior que 5 minutos. Uma vez que o volume total da abóbada cranianaé invariável, um aumento no volume de um componente ou a presença de componentes patológicos, tais como hematomas, requer o deslocamento de outras estruturas, um aumento da PIC ou ambos. Desse modo, a PIC depende do volume e complacência de cada componente do compartimento intracraniano, também conhecida como doutrina Monro-Kellie. Nas fases iniciais de um hematoma intracraniano em expansão, o liquor e o sangue venoso intravascular podem ser comprimidos para fora dessa "caixa" mantendo uma PIC dentro da normalidade. Todavia, esse deslocamento de líquidos tem um limite, situação em que volumes adicionais não podem mais deixar o crânio. Sendo assim, quando este limite é alcançado, a presença de um volume de sangue considerável no interior de um hematoma faz com que a PIC se eleve rapidamente. A lesão cerebral suficientemente grave para produzir coma pode causar redução importante do Fluxo Sanguíneo Cerebral durante as primeiras horas após o trauma. Por razões conhecidas e desconhecidas, a isquemia cerebral regional, e mesmo global, são comuns após o trauma craniencefálico grave. CLASSIFICAÇÃO c Pelo escore de gravidade clínica: Escore de gravidade tomográfica: A escala de Marshall usa os achados da TC para classificar as lesões em 6 categorias: Categoria Definição Lesão difusa I Não há patologia intracraniana visível Lesão difusa II Cisternas presentes com desvio da linha média de até 5 mm; ausência de lesões expansivas > 25 cm³ Lesão difusa III Cisternas comprimidas ou ausentes com desvio da linha média de até 5 mm; ______________________ Ausência de lesões expansivas > 25 cm³ Lesão difusa IV Desvio da linha média > 5 mm, ausência de lesões expansivas > 25 cm³ Lesão expansiva evacuada (V) Qualquer lesão evacuada cirurgicamente Lesão expansiva não evacuada (VI) Lesão > 25cm³ com densidade mista ou alta, não evacuada. DIAGNÓSTICO c Tomografia Computadorizada (TC) de crânio de urgência deve ser realizada após a normalização hemodinâmica. O exame deve ser repetido na presença de alterações neurológicas e, de forma rotineira, 12 e 24 horas após o trauma nos casos de contusão ou hematoma à TC inicial. Achados relevantes na TC incluem inchaço do couro cabeludo ou hematomas subgaleais na região do impacto. As lesões de maior gravidade na TC incluem hematoma intracraniano, contusões e desvio da linha média (efeito de massa). O septo pelúcido, que fica entre os dois ventrículos laterais, deve estar localizado na linha média. O desvio de linha média é diagnosticado e quantificado pelo grau de afastamento do septo pelúcido contralateral ao hematoma e o grau de desvio real usando uma escala impressa ao lado da imagem tomográfica. Um desvio de 5 mm ou mais é frequentemente indicativo da necessidade de cirurgia para evacuar o coágulo ou contusão causadora do desvio. A radiografia de crânio geralmente é prescindível, à exceção dos traumas penetrantes e em casos de suspeita de lesão em osso temporal, nos quais a presença de um traço de fratura pode estar relacionada ao surgimento de hematoma extradural. Em casos de trauma contuso, geralmente o exame clínico e a inspeção local fornecem informações muito mais relevantes do que a radiografia de crânio. MORFOLOGIA v São agrupadas em dois grandes grupos: as fraturas de crânio e lesões intracranianas. ● Fratura de crânio: ão estão relacionadas obrigatoriamente com um quadro clínico adverso, ocorrendo muitos casos de lesão cerebral grave em que não se observam fraturas cranianas. Sendo assim, o diagnóstico de uma fratura no crânio nunca deve retardar a avaliação ou o tratamento de uma lesão cerebral. O principal significado clínico das fraturas é que este grupo de pacientes apresenta um risco maior de hematomas intracranianos; este fenômeno leva alguns autores a preconizar internação hospitalar mesmo de indivíduos pouco ou assintomáticos. 1. Fraturas lineares simples: não necessitam de tratamento cirúrgico, devendo-se apenas observar se a linha de fratura cruza algum território vascular na radiografia de crânio, o que aumenta a probabilidade de hematomas intracranianos; 2. Fraturas com afundamento: seu tratamento é dirigido para a lesão cerebral subjacente, havendo indicação de fixação cirúrgica apenas nos casos em que a depressão supera a espessura da calota craniana, uma vez que existe risco de sequelas neurológicas, como crises convulsivas; 3. Fraturas abertas: são aquelas em que há rompimento da dura-máter e comunicação entre o meio externo e o parênquima cerebral. Necessitam de desbridamento e sutura das lacerações na dura-máter; 4. Fraturas da base do crânio: geralmente passam despercebidas no exame radiológico, sendo seu diagnóstico clínico feito através da presença de fístula liquórica através do nariz (rinorreia) ou do ouvido (otorreia); equimoses na região mastoidea ou pré-auricular (sinal de Battle); e equimoses periorbitárias (sinal do guaxinim) que resultam de fraturas da lâmina crivosa. Podem ser observadas lesões do VII e VIII pares cranianos provocando paralisia facial e perda da audição, respectivamente. As manifestações clínicas do envolvimentos dos pares cranianos podem ocorrer logo após o trauma ou surgirem após alguns dias. Fraturas de calota craniana: lineares ou estreladas, apresentando-se com ou em afundamento. A presença de fratura de calota craniana pressupõe um mecanismo de alta energia, aumentando a ocorrência de hematoma intracraniana em até 400x. ● Lesões intracranianas: ○ DIFUSAS: São produzidas pela desaceleração súbita do sistema nervoso central dentro do crânio com interrupção da função cerebral. Esta interrupção pode ser temporária, como na concussão, ou pode determinar envolvimento estrutural definitivo, como na lesão axonal difusa. Concussão Cerebral: a perda temporária da função neurológica, que nas suas formas mais brandas consiste em amnésia ou confusão, associada, frequentemente, à perda temporária da consciência. Todas estas alterações tendem a desaparecer de forma rápida, geralmente antes da chegada do paciente à sala de emergência. Uma amnésia retrógrada é a regra. Alguns autores dividem a concussão em leve, ou seja, sem perda da consciência, mas com distúrbio temporário da função neurológica, e clássica, com perda temporária da consciência por período inferior a seis horas. A memória usualmente é recuperada em uma sequência temporal, com os eventos mais distantes do momento do trauma sendo relembrados primeiro. Lesão axonal difusa: caracterizada na neuroimagem como múltiplas pequenas lesões vistas dentro do trato da substância branca. Esses pacientes geralmente apresentam coma profundo sem PIC elevada e desfecho desfavorável; As alterações estruturais ocorrem por lesão por cisalhamento (tangencial) dos prolongamentos axonais, em ambos os hemisférios, por forças de aceleração e desaceleração entre camadas corticais e subcorticais. O mecanismo do trauma parece ser explicado por aceleração rotacional da cabeça. Embora se distribua de forma difusa, a LAD costuma acometer com maior frequência estruturas inter-hemisféricas (corpo caloso) e porção dorsolateral do mesencéfalo. Existe uma elevada frequência de lesões centromedianas associadas: hemorragia intraventricular e encefálica múltipla, assim como hemorragias do fórnix, cavum e septo pelúcido. Clinicamente, observa-se alteração importante no nível de consciência já no momento do trauma. O estado comatoso dura obrigatoriamente mais de seis horas, fenômeno que diferencia a LAD da concussão cerebral leve e clássica. A LAD grave é aquela em que o estado comatoso perdura por mais de 24 horas e coexistem sinais de envolvimento do tronco encefálico, como postura de descerebração ao estímulo nociceptivo. Nesses casos, devemos suspeitar de LAD devido à ausência de sinais que denotam lesão expansiva intracraniana (assimetria pupilar ou motora) e, portanto, ausência de hipertensão intracraniana, em um paciente grave com postura patológica que encerra prognóstico sombrio. A mortalidade é de 51%. A LAD moderada é toda aquela não acompanhada de posturas de decorticação oudescerebração, em um paciente que permanece em coma por mais de 24 horas. A recuperação clínica costuma ser incompleta, com uma mortalidade de 24%. A LAD leve caracteriza-se por coma por mais de seis horas, porém menos do que 24 horas. Deficit neurológicos e de memória podem ser encontrados. A mortalidade gira em torno de 15%. ______________________ O diagnóstico é confirmado pela Tomografia Computadorizada (TC) de crânio, que exclui a possibilidade de lesões expansivas e hipertensão intracraniana. Infelizmente, somente em metade dos casos as lesões sugestivas (discretos pontos de hemorragias no corpo caloso e centro semioval) são observadas na TC de crânio. Atualmente, a ressonância magnética por difusão apresenta grande sensibilidade para determinar as lesões anatômicas; o exame identifica a presença de hipersinal no esplênio do corpo caloso. O tratamento tem como base o suporte clínico, não havendo indicação de tratamento cirúrgico. ○ FOCAIS: São restritas a uma determinada área do encéfalo; podem exercer efeito de massa, com desvio da linha média, ou podem levar à hipertensão intracraniana, caso atinjam volume significativo. Como em muitos casos o tratamento é cirúrgico, todos os esforços propedêuticos devem ser direcionados no diagnóstico precoce; em pacientes graves, uma intervenção neurocirúrgica pode alterar a história natural do TCE. Contusão e Hematomas Intracerebrais: comprometimento da superfície do cérebro (córtex e subcórtex), consiste em graus variados de hemorragia petequial, edema e destruição tecidual; a contusão é identificada em até 20 a 30% dos casos de TCE grave, sendo mais encontrada nos lobos frontal e temporal. Costuma ser ocasionada por um fenômeno de desaceleração que o encéfalo sofre no crânio (a caixa craniana "para" e o cérebro "continua"), chocando-se contra sua superfície em um mecanismo de golpe e contragolpe. A gravidade do deficit neurológico varia conforme o tamanho da lesão. Um quadro semelhante ao acidente vascular isquêmico em território de artéria cerebral média é típico. Uma complicação tardia das contusões é a formação de cicatrizes corticais, que favorecem o aparecimento de epilepsia pós-traumática. Outras complicações, observadas em um período de horas a dias, incluem a coalescência das contusões e/ou a formação de hematoma intracerebral, desordens que ocorrem em até 20% dos pacientes que se apresentam inicialmente com uma contusão cerebral na TC de crânio. Nesses casos, deterioração neurológica e aumentos súbitos e inesperados da PIC são observados. O efeito de massa pode requerer evacuação cirúrgica. Por esta razão, todos os pacientes com contusão cerebral devem ter sua TC de crânio repetida em 24 horas, para que seja identificada uma possível mudança no padrão do exame. Hematomas intraparenquimatosos grandes e únicos após trauma cerebral mínimo devem nos chamar a atenção para a presença de diáteses hemorrágicas (induzida por drogas ou não) ou de amiloidose vascular do idoso. Hematoma epidural: bem menos frequente que o subdural, ocorrendo em apenas 0,5 das vítimas de TCE que não se encontram em coma, e em 9% daquelas em estado comatoso. Como o nome sugere, esta lesão representa sangue no espaço compreendido entre a face interna da abóbada craniana e o folheto externo da dura-máter. O acúmulo de sangue é decorrente de lesões dos ramos da artéria meníngea média que cruzam o osso temporal, onde estão expostos ao trauma direto; em poucos casos, o hematoma resulta da lesão do seio venoso sagital, da veia meníngea média e das veias diploicas. Embora seja decorrente de trauma craniano grave, o hematoma epidural não costuma vir acompanhado de grande dano ao córtex cerebral subjacente, complicação que ocorre com maior frequência no hematoma subdural agudo. Devido a sua origem arterial frequente, o hematoma epidural é de instalação imediata. O aumento progressivo do hematoma descola a dura-máter do osso, o que faz com que alcance grandes volumes em um breve intervalo de tempo. O aumento da pressão intracraniana e a herniação do úncus são complicações temidas. Clinicamente, os hematomas epidurais apresentam uma evolução peculiar. A perda inicial da consciência ocorre devido à concussão cerebral; após um tempo inferior a seis horas, o paciente recobra a consciência, período conhecido como intervalo lúcido; quando o sangue que está se acumulando no espaço epidural atinge volume considerável, o doente apresenta piora neurológica súbita, podendo evoluir com herniação do úncus (midríase homolateral à lesão e paresia dos membros contralaterais ao hematoma). Em alguns doentes, a perda inicial da consciência por concussão cerebral pode não acontecer. A radiografia simples, ao contrário do que acontece no hematoma subdural, tem valor. O achado de fratura de crânio que cruza o trajeto dos ramos da artéria meníngea média ou dos seios sagitais pode ser de auxílio diagnóstico. Muitas vezes, a janela para osso na tomografia de crânio já é suficiente para identificarmos a fratura. Assim como no hematoma subdural, a TC de crânio é o método diagnóstico de escolha. O hematoma caracteriza-se por lesão hiperdensa biconvexa na maioria dos casos. Outros achados que podem ou não estar presentes incluem edema cerebral, desvios da linha média, apagamento das cisternas superficiais e apagamento das estruturas do sistema ventricular. As localizações temporal, temporoparietal e frontotemporoparietal são as mais frequentes. O tratamento cirúrgico está indicado nos hematomas sintomáticos com pequenos desvios da linha média ≥ 5 mm e nos hematomas assintomáticos com espessura maior do que 15 mm. Uma craniotomia ampla frontotemporoparietal, seguida de tratamento da lesão com remoção do hematoma e coagulação bipolar das áreas de hemorragia, é o procedimento correto a ser empregado. A intervenção neurocirúrgica precoce (nas primeiras duas horas) melhora muito o prognóstico do paciente, havendo em muitos casos (sobretudo crianças) completa recuperação da função neurológica. Hematoma subdural: o mais frequentemente encontrado, sendo a causa mais comum de efeito de massa no TCE. Resultam de danos às veias pontinas (entre a dura e a aracnoide), que drenam as superfícies corticais cerebrais para os seios venosos durais. Essa lesão tende a ser em forma de crescente e frequentemente associada a lesões cerebrais subjacentes. A localização mais comum é a região frontotemporoparietal. Alteração no nível de consciência, deficit lateralizados, anisocoria, posturas patológicas e arritmia respiratória são encontrados em combinações variadas. Dependendo do volume e da velocidade de instalação do hematoma, pode ocorrer efeito de massa significativo, com o desenvolvimento de síndrome de hipertensão intracraniana; esta se manifesta muitas vezes por meio da tríade de Cushing: hipertensão arterial, bradicardia e bradipneia. A tríade de Cushing está relacionada à presença de hipertensão intracraniana grave, com herniação transtentorial (através da tenda do cerebelo) iminente. A TC de crânio é o exame de escolha. O método evidencia, na totalidade dos casos, imagem hiperdensa ______________________ que acompanha a convexidade cerebral (em forma de "lua crescente"). Edema cerebral e desvios da linha média usualmente são encontrados. A abordagem do hematoma com desvio da linha média de 5 mm ou mais é cirúrgica. A drenagem deve ser realizada através de craniotomia ampla. Deve-se ressaltar que o prognóstico é sombrio, geralmente por conta das lesões parenquimatosas adjacentes (hematomas intraparenquimatosos, LAD grave etc.), sendo a mortalidade de até 60%. Hemorragia Subaracnoidea: rompimento de pequenos vasos nas fissuras silvianas e cisternas interpedunculares. A hemorragia intraventricular ou intracerebral superficial também podem se estender para o espaço subaracnoideo. Hemorragia Intraventricular: rompimento das veias subependimárias ou por extensão da hemorragia intraparenquimatosa ou subaracnoidea adjacente. ● Lesões aos pares cranianos decorrentes do TCE: Nervo Olfatório (I par). Anosmia e perdada sensibilidade gustativa para sabores aromáticos. O nervo é comprometido nas fraturas do osso frontal, quando seus filamentos são lesados na placa cribriforme. Nervo Óptico (II par). Cegueira unilateral completa ou diminuição importante da acuidade visual. Ocorre raramente nas fraturas do osso esfenoide. A pupila é não reativa, entretanto o reflexo consensual encontra-se preservado. Nervo Troclear (IV par). Diplopia na mirada para baixo. Geralmente a lesão ocorre no TCE leve, e a clínica surge após alguns dias do trauma. O acometimento do nervo troclear é consequente a fraturas da asa menor do esfenoide. Nervo Facial (VII par). Lesão direta decorrente da fratura de base de crânio, ocorrendo em cerca de 3% dos casos. A paralisia facial pode surgir após cerca de cinco a sete dias do trauma. Nervo Vestibulococlear (VIII par). Perda da audição, vertigem e nistagmo logo após o trauma. A lesão é decorrente de fratura do osso petroso. O quadro vertiginoso faz diagnóstico diferencial com a dissecção traumática (com trombose) da artéria vertebral. Além de lesão do VIII par, a perda da audição no TCE pode ter outras etiologias, como hemotímpano, envolvimento direto dos ossículos do ouvido médio e comprometimento da cóclea (sons de alta tonalidade) TRATAMENTO c Objetivo primordial: evitar ocorrência de lesões cerebrais secundárias à hipotensão e a hipóxia. A avaliação inicial do paciente com TCE deve também seguir o ABCDE do exame primário, dando prioridade à manutenção de uma via aérea pérvia e à proteção da coluna cervical (10% dos pacientes com TCE possuem lesão cervical), além de uma boa oxigenação. Qualquer alteração hemodinâmica deve ser corrigida. Uma boa oxigenação associada à correção das perdas de volume são elementos de fundamental importância na prevenção das lesões cerebrais secundárias. O choque hipovolêmico nos pacientes com TCE não é decorrente de sangramento intracraniano. Via de regra esta perda sanguínea não é volumosa; e o choque, quando presente, é ocasionado por hemorragia em outro compartimento corporal. Após as medidas iniciais, procede-se a um exame neurológico mínimo. Este visa estimar o nível de comprometimento das funções neurológicas e permitir, através de reavaliações frequentes, intervenção neurocirúrgica o mais precoce possível. O exame neurológico no paciente com trauma craniano consiste em: 1. Avaliação do nível de consciência:sua análise seriada e comparativa é fundamental no acompanhamento destes pacientes. Utiliza-se a escala de coma de Glasgow para uma avaliação quantitativa. Afastadas outras causas, como intoxicação por drogas e álcool, a alteração do nível de consciência é sinal cardinal de lesão intracraniana; 2. Avaliação da função pupilar: são avaliados a simetria e o reflexo fotomotor. Qualquer assimetria maior que 1 mm deve ser considerada indicativa de acometimento cerebral. Lesões expansivas cerebrais (hematomas) graves levam ao aumento da pressão intracraniana e fazem com que a parte medial do lobo temporal, conhecido como úncus, sofra herniação através da tenda do cerebelo e comprima o III par craniano (oculomotor) no mesencéfalo; este fenômeno ocasiona midríase (e perda da resposta à luz) ipsilateral à lesão do III par e, portanto, ipsilateral à lesão expansiva. Outro achado da herniação do úncus consiste no surgimento de deficit motor lateralizado, contralateral à lesão expansiva, devido à compressão do trato corticoespinhal (primeiro neurônio motor) em sua passagem no mesencéfalo; é sempre importante lembrarmos que a via motora cruza (na decussação das pirâmides) antes de descer na medula espinhal, o que justifica a localização dessa hemiplegia. Em poucos casos, a lesão de massa pode empurrar o lado oposto do mesencéfalo contra a tenda do cerebelo, comprimindo a via motora contralateral à lesão expansiva, fenômeno que provoca hemiplegia no mesmo lado do hematoma; esta condição é conhecida como síndrome de Kernohan. Nesses casos, o III par contralateral à lesão expansiva não é afetado; 3. Deficit motor lateralizado: deve ser observada a presença de assimetria nos movimentos voluntários ou desencadeada por estímulos dolorosos, no caso dos pacientes comatosos. POSSÍVEIS ACHADOS NEUROLÓGICOS NAS LESÕES DE MASSA Midríase ipsilateral à lesão expansiva + hemiplegia contralateral = herniação do úncus. Hemiplegia ipsilateral à lesão expansiva + midríase ipsilateral à lesão expansiva = herniação do úncus com a síndrome de Kernohan. Com base neste exame, podemos classificar como TCE grave o paciente que apresente qualquer um dos seguintes achados: (1) pupilas assimétricas; (2) assimetria motora; (3) fratura aberta de crânio com perda de liquor ou exposição de tecido cerebral; (4) escore de Glasgow menor ou igual a oito ou queda maior que três pontos na reavaliação (independente do escore inicial); e (5) fratura de crânio com afundamento. Estes pacientes requerem atenção imediata de um neurocirurgião e devem ser tratados em centros de terapia intensiva. PRÉ-HOSPITALAR c Prevenção de hipoxemia e hipotensão. Risco de morte é maior em pacientes com PAS < 90 mmHg ou PaO2 < 60 mmHg na admissão. As decisões mais importantes: paciente precisa de oxigênio? Qual dispositivo mais adequado (mascara não reinalante ou via area avançada)? Manter boa imobilização cervical; avaliar necessidade de reposição volêmica parcimoniosa visando à manutenção de boa perfusão cerebral; e encaminhar o paciente o mais rápido possível para a realização de exames de imagem e avaliação especializada. ______________________ Para definir ventilação → dispositivo necessário para manter uma SatO2 > 90%. O mais usado é a mascara não reinalante com fluxo de 15 L/ min. Intubação recomendada se: ● Incapacidade de proteger via aérea ● TCE grave (glasgow < 9) ● Dificuldade em ventilar ou manter SatO2 > 90% após oxigênio suplementar. ● Instabilidade hemodinâmica ● Transporte de longa duração Dispositivos supraglóticos também tem apresentado bons resultados → podem ser indicados após. TCE LEVE c Após a avaliação primária e secundária, deve-se avaliar se o paciente tem indicação de internação hospitalar e se estão indicados no exame de imagem. A obtenção de exame de imagens, geralmente TC de cranio sem contraste, é recomendada para um subgrupo de pacientes com TCE leve no cenário agudo. Alterações do estado mental nunca devem ser atribuídas a fatores de confusão até que a lesão cerebral tenha sido definitivamente excluída. A avaliação secundária é de particular importância na avaliação dos doentes com TCE L. Identifique o mecanismo de lesão, com particular atenção para a ocorrência de qualquer perda da consciência, incluindo o tempo de duração de estado não responsivo, qualquer episódio de convulsão e o nível subsequente do estado de consciência. Determine a duração da amnésia tanto antes (retrógrada) quanto depois ( anterógrada) do evento traumático. Os critérios canadenses indicam realização de TC de crânio para pacientes com TCE leve e qualquer um desses achados: A TC também deve ser considerada se o doente apresentou perda da consciência por mais de cinco minutos, amnésia retrógrada por mais de 30 minutos, um mecanismo de trauma importante, cefaleia grave, ou déficit neurológico focal que pode ser atribuído ao cérebro. Critérios de Nova orleans: ECG de 15 e requerem TC se houver cefaleia, vomito, idade > 60 anos, intoxicação por drogas ou alcool, amnésia retrograda persistente, convulsão ou trauma visível acima da clavícula. NEXUS II: TC é indicada em ECG ≤ 14, fratura craniana significativa, hematoma de couro cabeludo, deficit neurológico, comportamento anormal, coagulopatia ou vômito persistente. Internação hospitalar e a avaliação por um neurocirurgião são recomendadas para pacientes com risco de complicações imediatas de um TCE leve incluem: ● ECG < 15 em 2 horas ● Alterações na TC ● Convulsões ● Distúrbios de coagulação ou paciente em vigência de anticoagulação ● Deficit neurológico novo ● Vômitos recorrentes ● Alta pode ser considerada para TCE leve com baixo risco de deteriorização clínica.Tanto o paciente quanto os acompanhantes devem receber orientações explícitas e compreensíveis sobre o monitoramento, e quando procurarem ajuda médica nas próximas 24h. Os seguintes sinais de alerta devem levar o paciente e/ou familiares a procura de ajuda imediata: ● Incapacidade de acordar o paciente no momento do despertar esperado ● Dores de cabeça intensas ou que pioraram ● Sonolencia ou Confusão Mental ● Inquietação, instabilidade ou convulsões ● Dificuldade de visão ● Vômito, febre ou rigidez de nuca ● Incontinência urinária ou intestinal ● Fraqueza ou dormência envolvendo qualquer parte do corpo. Não podemos esquecer que pacientes em uso de anticoagulante oral ou que apresentem diátese hemorrágica, ou naqueles com sinais focais ou convulsões, a TC deve ser solicitada sempre. Outro detalhe: cada vez mais recomenda-se evitar a realização da TC em um hospital primário. Alterações na TC ou persistência dos sintomas requerem avaliação por um neurocirurgião. Sendo assim, o paciente deve permanecer no hospital. Já o indivíduo assintomático e alerta deve ser observado por mais algumas horas e reexaminado; caso este novo exame esteja normal, ele pode receber alta. Nesse caso, o ideal é que o paciente fique aos cuidados de um acompanhante durante as próximas 24 horas; o surgimento de cefaleia, de declínio do estado mental ou o aparecimento de deficit neurológico indicam retorno imediato à sala de emergência. Se o doente estiver assintomático, completamente acordado e alerta, e neurologicamente normal, ele poderá ser observado por algumas horas, reexaminado, e se estiver ainda normal, receber alta com segurança. Em condições ideais, o doente recebe alta devendo ficar aos cuidados de um acompanhante que possa ficar junto dele e observá-lo durante as próximas 24 horas. Tanto o doente como seu acompanhante são orientados de acordo com um protocolo de instruções de manter o doente sob observação cuidadosa e de trazê-lo de volta ao serviço de emergência se aparecer cefaleia, se houver declínio no estado mental ou se houver desenvolvimento de défices neurológicos focais. ______________________ TCE MODERADO c Os pacientes com TCE moderado (ECG 9 a 12) correspondem a 10% dos casos; habitualmente se encontram confusos ou sonolentos e podem apresentar deficit neurológico focal. No geral, costumam obedecer a comandos verbais simples. Aproximadamente 10 a 20% desses doentes pioram e evoluem para coma. Esses pacientes devem primeiramente ser estabilizados do ponto de vista cardiopulmonar antes da avaliação neurológica. A TC é realizada e um neurocirurgião imediatamente contatado. A hospitalização é necessária em todos os casos e os doentes devem permanecer em observação rigorosa em UTI ou unidade semelhante, com exames neurológicos frequentes nas próximas 12 a 24 horas. Uma nova TC em 12 a 24 horas é indicada caso a TC inicial tiver sido anormal ou na presença de deterioração neurológica. TCE GRAVE x Instabilidade hemodinâmica, hipoxemia e retenção de CO2 são condições que afetam diretamente lesões cerebrais graves, piorando o quadro neurológico e o prognóstico da vítima de TCE. A presença de hipóxia e hipotensão, por exemplo, aumenta o risco relativo de uma determinada vítima evoluir para óbito em até 75%. Não retarde a transferência do doente para realizar uma TC. Sendo assim, torna-se fundamental a estabilização cardiopulmonar o mais rapidamente possível de todo o paciente com TCE grave (ECG de 3 a 8). No exame primário e ressuscitação, o paciente deve ter sua via aérea prontamente acessada e ventilação mecânica iniciada com 100% de O2 (FiO2 = 1). Após a coleta de gasometria, os parâmetros do respirador são regulados para mantermos uma saturação de O2 > 98% e uma PaCO2 de 35 mmHg. Períodos de hiperventilação (PaCO2 < 32 mmHg) devem ser utilizados com cautela, estando indicados na presença de deterioração neurológica súbita. Pacientes hipotensos devem ser ressuscitados com infusão de volume e derivados de sangue o mais breve possível. É importante lembrarmos que na presença de instabilidade hemodinâmica, o exame neurológico perde sua confiabilidade. Caso não haja uma resposta à administração de líquidos, ou seja, uma PA sistólica ≤ 100 mmHg, fontes de sangramento devem ser pesquisadas com o emprego de exames complementares, como o FAST ou LPD. Se houver indicação de laparotomia para a abordagem do sangramento, esta deve ser prioritária; nesses casos, a intervenção neurológica quase concomitante deve se limitar à realização de trepanações ou craniotomia para drenagem de coleções. Inicialmente → patência da via aérea, se precisa ser intubado, ventilação e ressuscitação hemodinâmica. Mesmo que venha do APH, precisam ser reavaliados. Em paralelo ao exame físico, deve-se monitorizar os sinais vitais: FC, FR, oximetria de pulso, capnografia, PA, temperatura, glicemia. Evitar hipóxia e hipotensão. Após estabilizar, pedir exame de imagem. A deteriorização clínica é mais comum nas primeiras hora após o trauma. As principais alterações na avaliação primária que irão sugerir aumento da PIC: rebaixamento no nível de consciência, depressão respiratória, tríade de Cushing (hipertensão, bradicardia e respiração irregular), pupilas assimétricas ou medio-fixas e posturas patológicas, como decorticação ou descerebração. É recomendado nesses pacientes: ● Monitorização adequada com ECG, oximetria, capnografia e sinais vitais ● Avaliação sistemática para outros tipos de trauma ● Realização de exames de imagem, como TC sem contraste sendo a imagem preferida neste contexto, pela rapidez, facilidade e possibilidade de avaliar lesões mais prevalentes como fraturas, sangramentos e edema. ● Avaliação com neurocirurgião ● Coleta de Hemograma completo, eletrólito, coagulograma, função renal, glicemia e exames toxicológicos. Se tiver coagulopatia na vigencia de TCE grave implica necessidade de correção da coagulopatia. TERAPIA DE ANTIFIBRINOLÍTICO c Administração de ácido tranexâmico para pacientes com TCE moderado (ECG > 8 e < 13) dentro de 3h após a lesão para menor mortalidade, com dose de ataque de 1g infundida em 10 min e seguida por uma infusão intravenosa de 1g em 8h. TRATAMENTO CIRÚRGICO c São indicações: Hematoma epidural: quando volume > 30mL independentemente de status neurológico, ou em paciente com Glasgow < 8 e assimetria pupilar. Hematoma subdural: quando > 10mm de espessura ou associado a desvio da linha média > 5 mm, ou se Glasgow < 8 ou caiu 2 pontos na escala desde a admissão hospitalar. Hemorragia intracraniana: se em fossa posterior é recomendada abordagem, em outras situações a indicação é controversa. Em geral, se indica a intervenção se lesão > 50 cm³ ou > 20 cm³ em hemorragia frontal ou temporal em pacientes com ______________________ Glasgow 6-8 com desvio de linha média > 5 mm ou compressão das cisternas. A craniotomia descompressiva profilática unilateral é frequentemente realizada para hematomas subdurais agudos e para contusões graves e edema cerebral hemisférico unilateral. A craniectomia descompressiva pode ser indicada como um tratamento de segunda linha para a hipertensão intracraniana em lesão cerebral traumática grave. LESÕES DE COURO CABELUDO v É importante limpar e inspecionar ferida cuidadosamente antes da sutura. As causas mais comuns de infecção de feridas do couro cabeludo são a limpeza e o desbridamento inadequados. As perdas sanguíneas oriundas de ferimentos de couro cabeludo podem ser abundantes, especialmente em crianças. O sangramento de couro cabeludo geralmente pode ser controlado aplicando-se pressão direta, e cauterizando-se ou ligando-se os vasos maiores. Podem então ser aplicados suturas, clipes ou grampeadores apropriados. Deve-se inspecionar cuidadosamente a ferida, sob visão direta, à procura de sinais de fratura ou de corpos estranhos. A presença de vazamento de LCR indica que existe laceração da dura-máter associada. O neurocirurgião deve ser consultado em todos os casos com fratura exposta ou afundamento. Não raramente uma coleção de sangue subgaleal pode ser interpretadacomo uma fratura de crânio. Em tais casos, a presença de fratura pode ser confirmada ou excluída por uma radiografia simples da região e/ou uma TC. FRATURAS COM AFUNDAMENTO DE CRÂNIO d Geralmente a fratura com afundamento de crânio deve ser reduzida cirurgicamente se o grau de depressão for maior do que a espessura da calota adjacente, ou se estiver exposta e grosseiramente contaminada. As fraturas com afundamento menos significativo podem ser tratadas com segurança com fechamento do ferimento do couro cabeludo, quando presente. A TC é útil para a identificação do grau de afundamento, mas, principalmente, para excluir a presença de hematoma ou contusão intracranianos. LESÕES INTRACRANIANAS DE MASSA Estas lesões são tratadas por um neurocirurgião. Caso um neurocirurgião não esteja disponível no hospital que recebe de início o doente com lesão intracraniana de massa, é essencial que se transfira esse doente A perda de sangue nos ferimentos de couro cabeludo pode ser grande, especialmente nas crianças para um hospital que possua um neurocirurgião de plantão. Em circunstâncias muito excepcionais, um hematoma em rápida expansão pode implicar em risco iminente de vida, não permitindo a transferência do doente se cuidados neurocirúrgicos ficam a alguma distância. Embora esta circunstância possa ser rara em áreas urbanas, ela pode ocorrer em áreas rurais. Somente em circunstâncias extremas e no doente que apresenta deterioração rápida, pode-se considerar a realização de trepanação feita por um médico que não é neurocirurgião. Um cirurgião treinado para fazer tal procedimento pode realiza-lo apenas após o aconselhamento de um neurocirurgião. Esse procedimento é justificado somente quando não houver possibilidade de se conseguir o tratamento definitivo por um neurocirurgião. O Comitê de Trauma recomenda enfaticamente que aqueles que antecipam a necessidade deste tratamento sejam adequadamente treinados por um neurocirurgião. FERIMENTOS ENCEFÁLICOS PENETRANTES c A TC de cabeça é fortemente recomendada para a avaliação dos doentes portadores de ferimentos encefálicos penetrantes. Radiografias simples de crânio podem ser úteis na avaliação da trajetória do projétil, e na presença de grandes corpos estranhos e de ar intracraniano. Entretanto, quando a TC estiver disponível, as radiografias simples não são essenciais. Em todo ferimento penetrante do cérebro ou quando a trajetória do projétil é próxima ou através de um seio venoso dural maior ou a base do crânio, recomenda-se a realização da angioTC ou angiografia convencional. Hemorragia subaracnoideia importante ou hematoma tardio tambem devem induzir a realização de exame vascular por imagem. Doentes vítimas de ferimento penetrante envolvendo as regiões orbitofascial ou pterional devem ser submetidos a angiografia para a identificação de aneurisma ou fístula arteriovenosa (A V) intracraniana traumática. Quando um aneurisma ou uma fístula AV é identificada, recomenda-se o tratamento cirúrgico ou o endovascular. Imagens de Ressonância Magnética podem desempenhar papel importante na avaliação de ferimentos penetrantes por madeira ou outros objetos não magnéticos. A presença de grandes contusões, hematomas ou hemorragia intraventricular identificadas pela TC, está associada a aumento da mortalidade, especialmente quando estão envolvidos ambos hemisférios. É adequada a utilização de antibioticoterapia profilática de amplo espectro nos doentes portadores de ferimentos encefálicos penetrantes. A monitoração precoce da PIC é recomendada quando o clínico não é capaz de avaliar o exame neurológico de forma acurada; quando não está clara a necessidade de evacuar uma lesão em massa; ou quando os exames de imagem sugerem uma PIC elevada. É correto tratar os orifícios de entrada de projétil na cabeça com cuidados locais de feridas e com fechamento quando essas lesões forem pequenas, não apresentarem tecidos desvitalizados nem lesões intracranianas importantes. Os objetos que penetram o compartimento intracraniano ou a fossa infra-temporal e estão exteriorizados (por exemplo, flechas, facas ou chaves de fenda) não devem ser retirados até que sejam excluídas possíveis lesões vasculares e que o tratamento neurocirúrgico tenha sido estabelecido. A mobilização ou a remoção precoce de objetos penetrantes pode levar a lesão vascular fatal ou a hemorragia intracraniana. INDICAÇÕES DE INTERNAÇÃO, SEGUIMENTO E TERAPIA INTENSIVA c Pacientes com TCE leve devem ser internados se: ECG < 15 Anormalidades na TC (hemorragia, isquemia, efeito de massa, desvio da linha média) Convulsões Pacientes com alteração de hemostasia ou em anticoagulação Outros déficits neurológicos Vômitos recorrentes. Pacientes com trauma grave devem ser internados em UTI e idealmente transferidos para um centro de atendimento de neurotrauma se ECG < 9. CUIDADOS INTENSIVOS NO DEPARTAMENTO DE EMERGÊNCIA c Quando indicar a monitorização da PIC → Nos pacientes comatosos com TCE grave (Glasgow ≤ 8) e alterações na TC de crânio. Nesses casos, os valores da PIC servem como um guia terapêutico, uma vez que os próprios procedimentos empregados no doente grave podem comprometer a perfusão do tecido cerebral (a hiperventilação pode levar à isquemia). O posicionamento de um cateter de monitorização dentro do ventrículo cerebral (ventriculostomia) é o método mais confiável de se monitorar a PIC. Em pacientes com PIC monitorada, é comum observar-se a PIC de repouso ser interrompida por ondas em plateau, que representam aumento súbito do fluxo sanguíneo cerebral (lembre-se de que a autorregulação foi perdida). O surgimento dessas ondas pode ocorrer de ______________________ forma espontânea ou após procedimentos como aspiração de secreções, fisioterapia e administração excessiva de fluidos. O ideal é que se mantenha a PIC em níveis de 5-15 mmHg (uma PIC normal, no indivíduo em repouso, é de aproximadamente 10 mmHg). Pressão de Perfusão Cerebral (PPC) → ? A PPC é a diferença entre a PAM e a PIC, ou seja, quanto menor a PIC, mais fácil de se manter uma perfusão adequada do encéfalo, um fator fundamental para a sobrevida dos pacientes. Por outro lado, um aumento importante da PIC sem resposta a terapia faz cair a PPC e o cérebro acaba sofrendo uma agressão isquêmica, o que resulta em lesão cerebral secundária. O ideal é mantermos a PPC em um valor ≥ 60 mmHg. A neuromonitorização avançada engloba alguns exames sofisticados utilizados em vítimas de TCE grave. Embora possam individualizar a conduta e tornarem mais completa a avaliação de doentes críticos, esses métodos ainda requerem estudos científicos mais consistentes. A oximetria venosa jugular (SjVO2 ) tem como base o seguinte princípio: o cérebro isquêmico extrai mais oxigênio do que o normal. Este fenômeno faz com que a saturação de oxigênio no sangue jugular, ou seja, o sangue que "retorna" do cérebro, diminua. Este dado pode ser empregado no acompanhamento da terapêutica ventilatória, por exemplo (ver adiante). A tensão de O2 do tecido cerebral (PbtO2 ) é medida através de eletrodos implantados no parênquima do cérebro. No TCE grave, níveis de PbtO2 ≥ 15 mmHg (valor normal > 20 mmHg) parecem estar relacionados a um melhor prognóstico. Outros métodos de neuromonitorização avançada incluem microdiálise cerebral, fluxometria de difusão térmica e índice de reatividade pressórica. Ventilação: Uma vez que a hipercapnia pode resultar em elevações da PIC e a hipocapnia pode precipitar vasoconstricção e consequentemente isquemia cerebral, o uso de monitores de dióxido de carbono expirado deve ser considerado para todos os pacientes com TCE ventilados → objetivo de PaCO2 entre 35-45. Hipoxemia deve ser evitada e a PaO2 mantida > 60 mmHg. Embora hiperventilação possa ser utilizada para reduzir a PIC, via de regra é recomendado evita-la por questões de segurança, principalmente na fase aguda (primeiras 24-48h) após TCE por causar vasoconstricção cerebral e piorar a perfusão, podendo resultar em isquemia cerebral. Pressão Arterial: evitar hipotensão contínua sendo uma prioridade paraevitar lesão cerebral secundária. Atualmente, recomenda-se manter a PA sistólica ≥ 100 mmHg para 50-69 anos e ≥ 110 mmHg para pacientes de 15-49 anos e > 70 anos. Fluidoterapia: fluidos isotonicos ou transfusões sanguíneas devem ser utilizados para manter a euvolemia. A solução salina é preferível à albumina., pois essa foi associada ao aumento da mortalidade. Embora as soluções cristaloides balanceadas (como Ringer Lactato e PlasmaLyte) sejam atualmente utilizadas para diminuir o risco de LRA em críticos, a solução salina normal é preferida em pacientes com TCE, uma vez que as soluções balanceadas são relativamente hipotônica e podem piorar o edema cerebral. Os desequilíbrios eletrólitos são comuns em paciente com TCE e devem ser reavaliados regularmente. Profilaxia de convulsão: embora controverso, pacientes que apresentam convulsão pós-traumática costumam ser tratados com medicamentos anticonvulsivantes devido ao risco de EME ou piora da lesão sistêmica. Além disso, crises recorrentes podem aumentar o fluxo sanguíneo cerebral e, teoricamente, aumentar a pressão intracraniana. Não há anticonvulsivante ideal para o tratamento das primeiras convulsões. Na prática, fenitoína com 1g de ataque (velocidade de 50 mg/min) mantida posteriormente com 100 mg de 8/8h é frequentemente usada porque não causa sedação significativa. O levetiracetam é uma alternativa razoável. A duração ideal da terapia não é clara e depende em parte da gravidade da lesão. Na ausência de recorrência de convulsão, os anticonvulsivantes geralmente são mantidos durante a internação hospitalar e são gradualmente retirados nas primeiras semanas. Profilaxia de TEV: Inicialmente, é recomendada a profilaxia mecânica com compressão pneumática intermitente na admissão para todos os pacientes com TCE e quimioprofilaxia com heparina não fracionada 5.000 unidades 8/8h ou com enoxaparina 40mg por dia após 24h da admissão na maioria dos pacientes com TCE que apresentam estabilidade da lesão confirmada em exames de imagem. Tratamento de coagulopatia: Aproximadamente ⅓ dos pacientes com TCE grave vão ter uma coagulopatia, que está associada a um risco aumentado de aumento de hemorragia, desfechos neurológicos ruins e morte. A coagulopatia pode resultar de medicamento de uso prévio do paciente, tais como varfarina ou agentes antiplaquetários. Controle da glicemia: evitar hipo e hiperglicemia é apropriado em pacientes com TCE grave, porém não há consenso da faixa ideal. Para evitar niveis extremos de glicemia, recomenda-se mantê-la em uma faixa entre 140-180 mg/dL. Controle glicêmicos mais rígidos (80-110 mg/dL) parecem estar associados à menor disponibilidade de glicose cerebral e a aumento da razão lactato/piruvato, associados ao aumento da mortalidade. Controle da temperatura: febre é associada a pior prognóstico após TCE grave, presumivelmente por agravar a lesão cerebral secundária. A febre também piora o controle da PIC por meio de um aumento da demanda metabólica, e consequentemente de fluxo sanguíneo. MANEJO DE HIPERTENSÃO INTRACRANIANA c A PIC está associada a aumento da mortalidade e piores desfechos. Todos os pacientes devem ser avaliados rapidamente quanto a herniação cerebral iminente; tais avaliações devem ser realizadas a cada uma a duas horas nos primeiros dias após o TCE grave. Sinais clínicos de herniação iminente → assimetria pupilar significativa, pupilas fixas e dilatas unilaterais ou bilaterais, postura decorticada ou descerebrada, depressão respiratória e a tríade de Cushing. Em tais pacientes, as seguintes medidas devem ser tomadas imediatamente: Elevação da cabeceira a 30º para permitir a drenagem venosa adequada do cérebro, sem comprometer a perfusão cerebral, mantendo o pescoço em posição neutra. Intubação orotraqueal assistida por droga, se ainda não foi realizada Breve e controlada hiperventilação a uma PaCO2 de aproximadamente 30 mmHg como medida de salvamento. A hiperventilação reduzirá de forma rápida e confiável a PIC no cenário de herniação cerebral; no entanto, o uso prolongado é potencialmente prejudicial e não é recomendado. Uso de uma dose em bolus de um agente osmótico capaz de reverter transitoriamente a herniação cerebral. Os dois agentes que demonstraram eficácia em estudos publicados para reverter agudamente a hipertensão intracraniana são: Manitol: 1-1,5 g/kg - pode resultar em depleção de volume, pois age a partir de diurese osmótica, portanto não administrar em pacientes hipotensos. NaCl 3 a 23,4% - 30-60 mL administrados em 10 minutos. Manutenção de uma PAM mais elevada, de aproximadamente 80-100 mmHg, para manter uma ______________________ PPC adequada, uma vez que a PIC pode ser extremamente alta no cenário de herniação cerebral. Tanto a ressuscitação com fluidos quanto o uso de vasopressor são frequentemente necessários nesse cenário. RECOMENDAÇÕES GERAIS DO TRATAMENTO c Os cuidados intensivos têm como principal objetivo a prevenção de lesão secundária (por isquemia e/ou hipóxia) em um cérebro já comprometido. O paciente comatoso ou torporoso deve ser submetido à intubação orotraqueal e acoplado à prótese ventilatória. As condutas cirúrgicas emergenciais já foram descritas acima. É importante que o neurocirurgião instale um cateter para a medida da Pressão Intracraniana (PIC), que geralmente funciona como guia para a terapêutica empregada. Os cateteres em posição intraventricular (ventriculostomia) apresentam dispositivos que permitem drenagem liquórica em casos de elevação da PIC. Para obtermos uma PAM adequada, com redução da mortalidade, a pressão arterial sistólica deve ser ≥ 100 mmHg em indivíduos de 50 a 69 anos, ou ≥ 110 mmHg em pacientes de 15 a 49 anos e em idosos > 70 anos. Em alguns casos, para alcançarmos esses parâmetros, é necessária a infusão intravenosa de cristaloides, associada ou não a vasopressores. A reposição hídrica deve manter o paciente normovolêmico. O aumento da PIC > 20 mmHg por mais de cinco minutos caracteriza a hipertensão intracraniana e requer terapia imediata. Toda a vítima de TCE grave deve ser mantida com a cabeceira elevada a 30º. Na presença de hipertensão intracraniana, a primeira medida a ser adotada é a drenagem liquórica. Caso a PIC se mantenha elevada, o paciente deve se submeter a bloqueio neuromuscular e sedação, mantendo a ventilação controlada. Nesses casos, o intensivista se guia apenas por parâmetros de reação pupilar e de valores da PIC. O ideal é que essa intervenção farmacológica seja transitória, uma vez que prejudica a interpretação de nosso exame neurológico. Se a PIC se mantiver em níveis elevados a despeito das medidas acima, devemos infundir manitol ou outro diurético. Nesses doentes, uma vigilância constante da osmolaridade plasmática é necessária, sendo esta mantida em torno de 300 mOsm/kg. Se os níveis alcançarem valores acima de 320 mOsm/kg, o diurético deve ser interrompido. A dose de manitol é de 0,25 a 1 g/kg a cada quatro a seis horas. Todo cuidado é pouco na manutenção da volemia do paciente. Salina hipertônica (nas concentrações de 3 a 23,4%) pode ser utilizada em pacientes hipotensos para redução da PIC, uma vez que não leva à diurese. Contudo, na presença de instabilidade hemodinâmica, nem a salina hipertônica e nem o manitol demonstraram muita eficácia em reduzir a PIC. A PIC permanecendo elevada mesmo após todas essas intervenções é um sinal preocupante e nos autoriza a hiperventilar o paciente com cuidado. Sabemos que a hiperventilação controlada acaba sendo uma "faca de dois gumes". Ao reduzirmos a PaCO2 diminuímos a PIC devido à vasoconstrição de artérias cerebrais. Por outro lado, a redução de fluxo sanguíneo para o sistema nervoso central acaba levando a redução da PPC e isquemia do encéfalo. Sendo assim, em casos de deterioração neurológica aguda, períodos breves de hiperventilação com níveis de PaCO2 de 25 a 30 mmHg são permitidos até a realização de outras medidas, como administração de altas doses de barbitúricos ou craniotomia emergencial descompressiva. Nos pacientes que necessitarem de uma PaCO2 inferior a 30mmHg para manter uma PIC adequada, muitos serviços recomendam o uso de neuromonitorização avançada. Os barbituratos são drogas efetivas na redução da PIC refratária, tanto a terapia clínica otimizada quanto as medidas cirúrgicas. Essa classe de drogas tem em seu mecanismo de ação uma diminuição acentuada do metabolismo cerebral. Hipotensão é um efeito colateral clássico, dessa forma, níveis reduzidos de pressão arterial e hipovolemia são contraindicações ao seu uso. O emprego de barbituratos no TCE grave parece não alterar a mortalidade. O uso de anticonvulsivantes (fenitoína) é recomendado para reduzir a incidência de convulsão pós-traumática precoce, caracterizada como toda aquela que ocorre dentro dos primeiros sete dias do trauma. Contudo, o emprego dessa classe de drogas não é obrigatório, sendo avaliado caso a caso. Hoje em dia sabemos que a presença de convulsão pós-traumática precoce não está associada a um pior prognóstico. A indução de hipotermia apresenta algum potencial em reduzir a PIC e em promover neuroproteção, contudo não demonstrou melhorar o prognóstico de pacientes com TCE grave. É uma medida que pode ser tentada somente quando outras falharem, mas a equipe médica deve expor os potenciais riscos e questionáveis benefícios aos familiares da vítima. Outras medidas envolvidas no tratamento intensivo do paciente com TCE grave consistem em: 1. Manutenção do pH gástrico > 3.5 para evitarmos úlceras do estômago relacionadas ao TCE (úlceras de Cushing). Utiliza-se inibidores da bomba de próton ou mesmo bloqueadores H2 , ambos parenterais; Tratamento dos níveis elevados de PA, quando presentes. Os betabloqueadores ou os inibidores da enzima conversora da angiotensina são as drogas recomendadas; 3. Correção dos fatores que venham agravar a lesão neurológica, como hipertermia, acidose, hiperglicemia, hiponatremia e hipóxia; Sendo assim, recomenda-se a manutenção dos seguintes parâmetros: temperatura entre 36- 38°C; glicemia entre 80-180 mmHg; sódio entre 135-145 mEq/L; PaO2 ≥ 100 mmHg; PaCO2 entre 35-45 mmHg; pH entre 7.35-7.45; e níveis de oximetria de pulso ≥ 95%; 4. Manutenção dos parâmetros de coagulação, com plaquetas ≥ 75.000/mm3 e INR ≤ 1,4; 5. Tromboprofilaxia, com compressão pneumática intermitente ou heparina profilática, sendo esta última iniciada apenas em pacientes sem progressão da lesão (avaliada em neuroimagens repetidas); 6. Objetivos nutricionais devem ser alcançados dentro de cinco a sete dias do trauma, com o posicionamento de sonda enteral transpilórica. Este tipo de suporte nutricional está relacionado a uma diminuição da incidência de pneumonia associada à ventilação mecânica. Os glicocorticoides não devem ser prescritos, uma vez que não melhoram o prognóstico e podem agravar alterações nutricionais e metabólicas. MORTE ENCEFÁLICA O reconhecimento de Morte Encefálica (ME) é um procedimento realizado quase que diariamente em hospitais gerais, sobretudo em unidades de terapia intensiva. O diagnóstico deve ser inquestionável, uma vez que envolve aspectos emocionais, por parte de familiares do paciente, e questões éticas e médico-legais. Recentemente, através da resolução 2.173/17, o CFM atualizou critérios para o diagnóstico de ME. Devemos iniciar os procedimentos para a determinação de ME em todos os pacientes que apresentam coma não perceptivo, ausência de reatividade supraespinhal e apneia persistente, e que atendam a todos os pré-requisitos abaixo: 1. Presença de lesão cerebral conhecida, irreversível e capaz de ocasionar morte encefálica; 2. Ausência de condições tratáveis que possam confundir o diagnóstico de ME; 3. Tratamento e observação em ambiente intra-hospitalar pelo período mínimo de seis horas. Em casos de encefalopatia hipóxico-isquêmica, esse período deverá ser, no mínimo, de 24 horas; e ______________________ 4. Presença dos seguintes parâmetros: temperatura corporal > 35°C (ou seja, não pode haver hipotermia), SaO2 > 94% e PA sistólica ≥ 100 mmHg ou PAM ≥ 65 mmHg, para adultos.Ausência de perfusão sanguínea e de atividade elétrica ou metabólica encefálica. Para menores de 16 anos, os níveis de PA sistólica e PAM exigidos são descritos: Diante de tal situação, é importante compreender que não está em pauta a discussão do prognóstico do paciente, mas sim os aspectos éticos, morais e legais decorrentes da constatação da morte encefálica naquele momento. O diagnóstico de ME é independente da condição de o paciente ser doador ou não de órgãos, sendo necessária apenas a suspeita clínica para se iniciar o protocolo. Para o diagnóstico de ME é obrigatória a realização de (1) dois exames clínicos, que identifiquem a presença de coma não perceptivo e ausência de função e reflexos de tronco cerebral; (2) teste de apneia, confirmando ausência de movimentos respiratórios (após estimulação máxima de centros respiratórios); e (3) exame complementar que comprove ausência de atividade encefálica. A realização mínima de dois exames clínicos, com intervalos pre-determinados é obrigatória. Cada exame tem de ser feito por médicos diferentes e capacitados, indicados pela direção técnica do hospital; estes profissionais não devem fazer parte da equipe de remoção ou de transplante de órgãos. Os médicos ditos capacitados devem cumprir os seguintes pré-requisitos: mínimo de um ano de experiência no atendimento de pacientes comatosos e que tenham acompanhado ou realizado pelo menos dez determinações de ME ou tenham feito curso de capacitação para esse fim. Muita atenção: um dos médicos deve ser especialista em uma das seguintes áreas: medicina intensiva clínica ou pediátrica, neurologia clínica ou pediátrica, neurocirurgia ou medicina de emergência. Os dois exames clínicos recomendados devem identificar, de forma inequívoca, os seguintes achados: coma não perceptivo, ausência de reatividade supraespinhal manifestada por ausência dos reflexos fotomotor, córneopalpebral, oculocefálico, vestíbulo-calórico e de tosse. O Teste de Apneia (TA) deve ser realizado apenas uma única vez por um dos médicos responsáveis pelo exame clínico, devendo comprovar ausência de movimentos respiratórios na presença de hipercapnia (PaCO2 > 55 mmHg). É feito da seguinte forma: ventilamos o paciente com O2 a 100% durante dez minutos; este, em seguida, é desconectado do respirador mecânico e lhe é instalado cateter traqueal de O2 a um fluxo de 6 litros/minuto. A administração de oxigênio é mandatória, uma vez que a desconexão do respirador leva à profunda hipoxemia somada à instabilidade hemodinâmica. A ausência de movimentos respiratórios por dez minutos ou até quando a PaCO2 > 55 mmHg nos indica um teste positivo, ou seja, não há integridade da região ponto-bulbar. Quando há a presença de alterações anatômicas que impossibilitam a avaliação bilateral dos reflexos, sendo possível exame em apenas um dos lados, se constatada ausência de reflexos do lado sem alterações, será dado prosseguimento às demais etapas para determinação de ME. A causa dessa impossibilidade deverá ser registrada em prontuário. A abertura do protocolo (ou seja, a suspeita de ME) deve ser prontamente comunicada aos familiares (ou responsáveis legais). A suspeita e o diagnóstico de ME devem ser notificados obrigatoriamente às centrais de captação e distribuição de órgãos dos estados. Cabe a essas centrais a abordagem aos responsáveis sobre a autorização da doação. No caso de negativa ou de contraindicação à doação de órgãos, é autorizada a suspensão das medidas de suporte avançado de vida, desde que a família já esteja esclarecida quanto ao diagnóstico de ME. O exame complementar deve comprovar uma das seguintes condições: 1. Ausência de perfusão sanguínea encefálica: angiografia cerebral; angiorressonância; angio-TC; cintilografia radioisotópica; Doppler transcraniano; monitorização da PIC; TC com xenônio; SPECT cerebral; 2. Ausência de atividade metabólica encefálica: tomografia por emissão de pósitrons (PET-TC) e extração cerebral de O2; 3. Ausência de atividade elétrica cerebral: Eletroencefalograma (EEG). A escolha do exame______________________ complementar deve levar em conta a situação clínica do paciente e disponibilidades locais. De acordo com o CFM, o laudo deverá ser elaborado e assinado por médico especialista no método em situações de ME. Situações que podem simular uma ME devem ser excluídas e, se presentes, revertidas (Tabela 10): – Distúrbio hidroeletrolítico, acidobásico/endócrino e intoxicação exógena grave. A hipernatremia grave refratária ao tratamento não contraindica a prova de ME, exceto se for a única etiologia possível do coma . – Hipotermia (temperatura retal, vesical ou esofagiana < 35°C) deve ser corrigida antes de se iniciar a prova de ME. – Fármacos sedativos do SNC e bloqueadores neuromusculares, se administrados em infusão contínua em pacientes com função renal e hepática normais, fazem com que seja necessário aguardar um intervalo mínimo de quatro a cinco meias-vidas após sua suspensão. Se insuficiência hepática ou renal, hipotermia terapêutica ou suspeita de intoxicação por uso em doses maiores que as usuais, deve-se aguardar tempo maior que cinco meias-vidas do fármaco.
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