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Direito x Moral: Critérios Distintivos ● Bilateralidade x Unilateralidade - Unilateralidade: a moral é unilateral pois as normas morais disciplinam a vida humana em sua dimensão subjetiva, não sendo assim possível a exigibilidade institucional do dever moral. A relação que temos com a moral é individual e subjetiva. - Bilateralidade: As normas jurídicas são bilaterais pois regulam relações intersubjetivas atribuindo direitos subjetivos e deveres jurídicos. É possível afirmar que a exigibilidade do dever jurídico decorre desta bilateralidade das relações jurídicas - pode ser sempre exigida pois tem a outra parte da história. - A escolha do campo moral é da sua consciência ética, escolha subjetiva e genuína. ● Exterioridade x Interioridade ○ Exterioridade: - O direito é exterior pois as normas jurídicas só incidem a partir de comportamentos que estejam materializados no mundo dos fatos. Para que o direito possa incidir no âmbito das relações sociais, é necessário que haja comportamentos que estejam postos no plano concreto/fenomênico/empírico. Não há como o direito ser invocado a partir de ideações. ⤷ Exemplo: enquanto o desejo de matar alguém estiver apenas idealizado, na sua cabeça, não há o que o jurídico fazer. Só há o que fazer em caso de exteriorização (enunciação, gesticulação, verbalização). ○ Interioridade: - As normas morais são interiores, pois os preceitos de moralidade podem ser invocados independentemente do comportamento humano. A moral independe da exteriorização. ⤷ Exemplo: quando pensamos em algo reprovável e nossa consciência moral atua reprimindo esse pensamento. ● Heteronomia x Autonomia ○ Heteronomia: - O direito é heterônomo pois apresenta normas obrigatórias que são impostas independentemente da vontade dos agentes sociais. O sujeito deve agir conforme as normas que já lhe são impostas (como uma Lei produzida pelo Estado). ○ Autonomia: - As normas morais são autônomas, pois os seus preceitos podem ser escolhidos pelos agentes sociais, isto é, o sujeito não é obrigado a se comportar conforme as normas morais, sendo livre para tomar suas decisões. - O campo moral é o campo da liberdade. - Moralidade = liberdade (Kant trabalha isso). ● Maior coercitividade x Menor coercitividade - O direito é dotado de coerção enquanto a moral é incoercível. O direito conta com a coerção para coagir os homens. - A ordem jurídica apresenta uma maior capacidade intimidatória (ameaça de aplicação de um castigo ético). Referir-se a essa capacidade intimidatória é dizer que no mundo ocidental o direito projeta muito mais temor/receio na mente dos agentes sociais do que a moral em regra. O peso da sanção jurídica é muito maior do que o peso da sanção moral. - A moral só comporta sanções internas (sentimentos de reprovação), é menos coercitiva pois projeta um receio menor de imposição de um castigo ético. Atua no psiquismo do indivíduo de forma menos contundente. ● Maior coatividade x Menor coatividade - O direito é mais coativo que a moral pois a ordem jurídica, através de suas instituições e normas, utiliza uma carga maior de violência, sendo pois mais severas as sanções jurídicas (a sanção jurídica é mais coativa e violenta). - Coação é a aplicação forçada da sanção. ● Sanções organizadas x Sanções difusas ○ Sanção organizada: - A sanção jurídica é organizada pois é aplicada em regime de monopólio pelo Estado, estando pré determinada no sistema normativo. ○ Sanção difusa: a sanção moral apresenta uma natureza difusa pq ela é aplicada de forma espontânea e plural pela opinião pública (ex: cancelamento nas redes sociais) Teoria dos Círculos Éticos - A Teoria dos Círculos Éticos trata-se da parte da teoria geral do direito que estuda as relações existentes entre direito e moral. ○ Círculos éticos Concêntricos: - Idade Antiga e na Idade Média no Ocidente, segundo a qual o direito seria o núcleo do mundo moral. - Concepção influenciada pelo jusnaturalismo (teoria dos direitos naturais). - Essa visão, embora ainda predominante nas sociedades orientais, é hoje criticada pois nem sempre existe uma coincidência do direito com a moral no tratamento dos temas humanos. - Tudo que é direito é moral, mas nem tudo que é moral é direito. - Moral é maior que o direito e se sobrepõe a ele. - O direito está inserido na moral, nasce nela e está subordinado a ela. ○ Círculos Éticos Separados: - Desenvolvida por Hans Kelsen - Teoria Pura do Direito - Concepção firmada durante a Idade Moderna e representa a ideia de neutralização do fenômeno jurídico das subjetividades morais. - O direito deveria ser criado e aplicado independentemente das convicções morais de justiça de seus aplicadores. Trata somente da norma e diz que a moral deve ser tratada pelos moralistas. - Restariam garantidas a segurança jurídica e a previsibilidade decisória. - Teoria influenciada pelo positivismo jurídico e científico de Augusto Comte. Essa teoria surgiu na modernidade. O grande risco dessa concepção é potencializar a realização de injustiças. ○ Círculos Éticos Secantes: - O direito e a moral são independentes, mas em algum momento estão interligados. - Concepção desenvolvida após a Segunda Guerra Mundial – Idade Contemporânea. - Para esta visão, direito e moral, compartilham uma zona crescente de interseção representada pelos direitos humanos fundamentais. Tal visão é criticada por gerar insegurança jurídica e estimular o ativismo judicial irresponsável. - Exemplos: omissão de socorro e abandono de incapaz. - Existem fatos que podem ser analisados tanto pela ótica do Direito quanto pela ótica da moral.
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