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Direito ,Moral e Ética

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UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA 
FACULDADE DE DIREITO 
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA DO DIREITO 
PROF. JOSEMAR ARAÚJO – josemar@josemararaujo.com 
FOLHA DE APOIO 06 
 
DIREITO, MORAL E ÉTICA 
 
Os conceitos de moral e ética, embora sejam diferentes, são 
com frequência usados como sinônimos. Aliás, a etimologia 
dos termos é semelhante: moral vem do latim mos, moris, que 
significa "maneira de se comportar regulada pelo uso", daí 
"costume", e de moralis, morale, adjetivo referente ao que é 
"relativo aos costumes". 
 
Ética vem do grego ethos, que tem o mesmo significado de 
"costume". Em sentido bem amplo, a moral é o conjunto das 
regras de conduta admitidas em determinada época ou por um 
grupo de homens. Nesse sentido, o homem moral é aquele que 
age bem ou mal na medida em que acata ou transgride as 
regras do grupo. 
 
A ética ou filosofia moral é a parte da filosofia que se ocupa 
com a reflexão a respeito das noções e princípios que 
fundamentam a vida moral. Essa reflexão pode seguir as mais 
diversas direções, dependendo da concepção de homem que 
se toma como ponto de partida. 
 
Moral é um conjunto de normas que regulam o comportamento 
do homem em sociedade, e estas normas são adquiridas pela 
educação, pela tradição e pelo cotidiano. Durkheim explicava 
Moral como a “ciência dos costumes”, sendo algo anterior à 
própria sociedade. A Moral tem caráter obrigatório. 
 
A Moral sempre existiu, pois todo ser humano possui a 
consciência Moral que o leva a distinguir o bem do mal no 
contexto em que vive. Surgindo realmente quando o homem 
passou a fazer parte de agrupamentos, isto é, surgiu nas 
sociedades primitivas, nas primeiras tribos. A Ética teria 
surgido com Sócrates, pois se exigi maior grau de cultura. Ela 
investiga e explica as normas morais, pois leva o homem a agir 
não só por tradição, educação ou hábito, mas principalmente 
por convicção e inteligência. Vásquez (1998) aponta que a 
Ética é teórica e reflexiva, enquanto a Moral é eminentemente 
prática. Uma completa a outra, havendo um inter-
relacionamento entre ambas, pois na ação humana, o 
conhecer e o agir são indissociáveis. 
 
Miguel reale explica que “as leis éticas, ou melhor, as normas 
éticas, não envolvem apenas um juízo de valor sobre os 
comportamentos humanos, mas culminam na escolha de uma 
diretriz considerada obrigatória numa coletividade. Da tomada 
de posição axiológica resulta a imperatividade da via escolhida, 
a qual não representa assim mero resultado de uma nua 
decisão, arbitrária, mas é a expressão de um complexo 
processo de opções valorativas, no qual se acha, mais ou 
menos condicionado, o poder que decide. 
 
A Noção da Moral 
 
Esta se identifica, fundamentalmente, com a noção de bem, 
que constitui o seu valor. As teorias e discussões filosóficas 
que se desenvolvem em seu âmbito giram em torno do 
conceito de bem. Esta é a palavra-chave no campo da Moral e 
que deflagrou, ao longo da história, interminável dissídio, que 
teve início na antiga Grécia, entre os estoicos e os seguidores 
de Epicuro. Para o estoicismo o bem consistia no 
desprendimento, na resignação, em saber suportar 
serenamente o sofrimento, pois a virtude se revelava como a 
única fonte da felicidade. Em oposição à escola fundada por 
Zenão de ítio, o epicurismo identificou a ideia de bem com o 
prazer, não um prazer desordenado, mas concebido dentro de 
uma escala de importância. Modernamente os sistemas éticos 
ainda se dividem, com variações, de acordo com o velho 
antagonismo grego. 
 
 
A partir da ideia matriz de bem, organizam-se os sistemas 
éticos, deduzem-se princípios e chegam-se às normas morais, 
que vão orientar as consciências humanas em suas atitudes. 
 
Setores da Moral 
 
Paulo Nader argumenta que o paralelo entre o Direito e a 
Moral não pode conduzir a resultados claros e positivos, sem a 
prévia distinção entre os vários setores da Moral. Impõe-se, em 
primeiro lugar, a distinção entre a Moral natural e a Moral 
positiva, analogamente às duas ordens que o Direito 
apresenta. 
 
A Moral natural 
 
Não resulta de uma convenção humana. Consiste na ideia de 
bem captada diretamente na fonte natureza, isto é, na ordem 
que envolve, a um só tempo, a vida humana e os objetos 
naturais. A Moral natural toma por base não o que há de 
peculiar a um povo, mas considera o que há de permanente no 
gênero humano. Corresponde à ideia de bem que não varia no 
tempo e no espaço e que deve servir de critério à Moral 
positiva. Esta se revela dentro de uma dimensão histórica, 
como a interpretação que o homem, de um determinado lugar 
e época, faz em relação ao bem. 
 
A Moral positiva 
 
Possui três esferas distintas, que o autor denomina por: a) 
Moral autônoma; b) Ética superior dos sistemas religiosos; c) 
Moral social. Explica que qualquer referência sobre a Moral 
deve, forçosamente, particularizar a esfera correspondente, 
pois a não diferenciação pode conduzir a qualificações falsas. 
 
A Moral autônoma corresponde à noção de bem particular a 
cada consciência. O homem atua como legislador para a sua 
própria conduta. A consciência individual, que é o centro da 
Moral autônoma, com base na experiência pessoal, elege o 
dever-ser a que se obriga. Esta esfera exige vontade livre, 
isenta de qualquer condicionamento. 
 
A Ética superior dos sistemas religiosos consiste nas noções 
fundamentais sobre o bem, que as seitas religiosas consagram 
e transmitem a seus seguidores. Ao aderir ou confirmar a fé 
por determinada Religião, a consciência age em estado de 
liberdade, com autonomia de vontade. Se o sistema religioso 
não for um todo coerente e harmônico e se alguns preceitos se 
desviarem de suas linhas doutrinárias gerais, pode ocorrer 
conflito entre essas normas e a consciência individual. Neste 
momento, a ética superior se revela heterônoma, isto é, os 
preceitos serão acatados não com vontade própria, mas em 
obediência à crença em uma força superior, que o próprio 
sistema religioso procura expressar. Aponta ainda a autonomia 
dessa esfera da Moral sob o argumento de que a Religião só 
fornece conteúdos normativos, como princípios gerais reitores 
da atuação moral, o que permite, aos seguidores da seita 
religiosa, em certa flexibilidade, uma faixa de liberdade, que 
favorece a adaptação da conduta àqueles princípios. 
 
A Moral social constitui um conjunto predominante de 
princípios e de critérios que, em cada sociedade e em cada 
época, orienta a conduta dos indivíduos. Socialmente cada 
pessoa procura agir em conformidade com as exigências da 
Moral social, na certeza de que seus atos serão julgados à luz 
desses princípios. Os critérios éticos não nascem, pois, de uma 
determinada consciência individual. Na medida em que a Moral 
autônoma não coincide com a Moral social, esta assume um 
caráter heterônomo e impõe aos indivíduos uma norma de agir 
não elaborada por sua própria consciência. 
 
Distinção entre Direito e Moral 
 
Paulo Nader adverte que São várias as teorias, fórmulas e 
critérios de distinção entre Direito e Moral atualmente 
apresentados. Todos têm sido alvo de críticas, a tal ponto que 
se corre o risco de um recuo histórico, à época em que as 
normas éticas constituíam um todo homogêneo e 
indiferenciado. Para o exame da matéria, utiliza-se do método 
adotado por Alessandro Groppali, que traça o paralelo entre o 
Direito e a Moral, separando os aspectos forma e conteúdo.. 
 
Distinções de Ordem Formal 
 
a) A Determinação do Direito e a Forma não Concreta da Moral 
- Enquanto o Direito se manifesta mediante um conjunto de 
regras que definem a dimensão da conduta exigida, que 
especificam a fórmula do agir, a Moral, em suas três esferas, 
estabelece uma diretiva mais geral, sem particularizações. 
 
b) A Bilateralidade do Direito e a Unilateralidade da Moral - As 
normas jurídicas possuem uma estrutura imperativo-atributiva, 
isto é, ao mesmo tempo em que impõem um dever jurídico a 
alguém, atribuem um poder ou direito subjetivo a outrem. Daí 
se dizer que a cada direitocorresponde um dever. Se o 
trabalhador possui direitos, o empregador possui deveres. A 
Moral possui uma estrutura mais simples, pois impõe deveres 
apenas. Perante ela, ninguém tem o poder de exigir uma 
conduta de outrem. Fica-se apenas na expectativa de o 
próximo aderir às normas. Assim, enquanto o Direito é 
bilateral, a 
Moral é unilateral. 
 
c) Exterioridade do Direito e Interioridade da Moral - A partir de 
Tomásio, surgiu o presente critério, desenvolvido por Kant, 
posteriormente, e conduzido ao extremo por Fichte. Afirma-se 
que o Direito se caracteriza pela exterioridade, enquanto que a 
Moral, pela interioridade. Com isto se quer dizer, 
modernamente, que os dois campos seguem linhas diferentes. 
Enquanto a Moral se preocupa pela vida interior das pessoas, 
como a consciência, julgando os atos exteriores apenas como 
meio de aferir a intencionalidade, o Direito cuida das ações 
humanas em primeiro plano e, em função destas, quando 
necessário, investiga o animus do agente. 
 
d) Autonomia e Heteronomia - De uma forma generalizada, os 
compêndios registram a autonomia, querer espontâneo; como 
um dos caracteres da Moral. Nesta parte, é indispensável a 
distinção suscitada por Heinrich Henkel. Se a adesão 
espontânea ao padrão moral é inerente à Moral, a autonomia 
não ocorre em relação à Moral social. Diante do conjunto de 
exigências morais que a sociedade formula a seus membros, o 
agente se sente compelido a seguir os mandamentos. Neste 
setor, não há espontaneidade da consciência. O fenômeno que 
se dá é o de adaptação das condutas aos padrões morais que 
a sociedade elege. A Moral social, portanto, não é autônoma. 
Em relação ao Direito, este possui heteronomia, que quer dizer 
sujeição ao querer alheio. As regras jurídicas são impostas 
independentemente da vontade de seus destinatários. O 
indivíduo não cria o dever-ser, como acontece com a Moral 
autônoma. A regra jurídica não nasce na consciência 
individual, mas no seio da sociedade. A adesão espontânea às 
leis não descaracteriza a heteronomia do Direito. 
 
e) Coercibilidade do Direito e Incoercibilidade da Moral – Uma 
das notas fundamentais do Direito é a coercibilidade. Entre os 
processos que regem a conduta social, apenas o Direito é 
coercível, ou seja, capaz de adicionar a força organizada do 
Estado, para garantir o respeito aos seus preceitos. A via 
normal de cumprimento da norma jurídica é a voluntariedade 
do destinatário, a adesão espontânea. Quando o sujeito 
passivo de uma relação jurídica, portador do dever jurídico, 
opõe resistência ao mandamento legal, a coação se faz 
necessária, essencial à efetividade. A coação, portanto, 
somente se manifesta na hipótese da não observância das 
normas jurídicas. A Moral, por seu lado, carece do elemento 
coativo incoercível. Nem por isso as normas da Moral social 
deixam de exercer uma certa intimidação. Consistindo em uma 
ordem valiosa para a sociedade, é natural que a inobservância 
de seus princípios provoque uma reação por parte dos 
membros que integram o corpo social. Essa reação, que se 
manifesta de forma variada e com intensidade relativa, assume 
caráter não apenas punitivo, mas exerce também uma função 
intimidativa, desestimulante da violação das normas morais. 
 
Distinções Quanto ao Conteúdo 
 
a) O Significado de Ordem do Direito e o Sentido de 
Aperfeiçoamento da Moral - Ao dispor sobre o convívio social, 
o Direito elege valores de convivência. O seu objetivo limita-se 
a estabelecer e a garantir um ambiente de ordem, a partir do 
qual possam atuar as forças sociais. A função primordial do 
Direito é de caráter estrutural: o sistema de legalidade oferece 
consistência ao edifício social. A realização individual; o 
progresso científico e tecnológico; o avanço da Humanidade 
passam a depender do trabalho e discernimento do homem. A 
Moral visa ao aperfeiçoamento do ser humano e por isso é 
absorvente, estabelecendo deveres do homem em relação ao 
próximo, a si mesmo e, segundo a Ética superior, para com 
Deus. O bem deve ser vivido em todas as direções. 
 
Teorias dos Círculos 
 
A teoria dos círculos concêntricos-Jeremy Bentham (1748- 
1832), jurisconsulto e filósofo inglês, concebeu a relação entre 
o Direito e a Moral, recorrendo à figura geométrica dos 
círculos. A ordem jurídica estaria incluída totalmente no campo 
da Moral. Os dois círculos seriam concêntricos, com o maior 
pertencendo à Moral. Desta teoria, infere-se: a) o campo da 
Moral é mais amplo do que o do Direito; b) o Direito se 
subordina à Moral. As correntes tomistas e neotomistas, que 
condicionam a validade das leis à sua adaptação aos valores 
morais, seguem esta linha de pensamento. 
 
2o) A teoria dos círculos secantes - Para Du Pasquier, a 
representação geométrica da relação entre os dois sistemas 
não seria a dos círculos concêntricos, mas a dos círculos 
secantes. Assim, Direito e Moral possuiriam uma faixa de 
competência comum e, ao mesmo tempo, uma área particular 
independente. 
 
3a) A visão kelseniana - Ao desvincular o Direito da Moral, 
Hans Kelsen concebeu os dois sistemas como esferas 
independentes. Para o famoso cientista do Direito, a norma é o 
único elemento essencial ao Direito, cuja validade não 
depende de conteúdos morais. 
 
4o) A teoria do "mínimo ético" - Desenvolvida por Jellinek, a 
teoria do mínimo ético consiste na ideia de que o Direito 
representa o mínimo de preceitos morais necessários ao bem-
estar da coletividade. Para o jurista alemão toda sociedade 
converte em Direito os axiomas morais estritamente essenciais 
à garantia e preservação de suas instituições. 
 
A prevalecer essa concepção o Direito estaria implantado, por 
inteiro, nos domínios da Moral, configurando, assim, a hipótese 
dos círculos concêntricos. 
 
Fontes: CHAUI , Marilena. Introdução à História da Filosofia. 
Rio de Janeiro: Ática, 2000. 
NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito. 26. ed. Rio de 
Janeiro: Forense, 2012. 
REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. São Paulo: 
Saraiva, 2002.

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