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AN02FREV001/REV 4.0 1 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE SAÚDE DA FAMÍLIA Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 2 CURSO DE SAÚDE DA FAMÍLIA MÓDULO I Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 3 SUMÁRIO MÓDULO I 1 SAÚDE PREVENTIVA 1.1 E O QUE FALAR ENTÃO DA SAÚDE PREVENTIVA? 1.2 COMO ENTÃO PROMOVER A SAÚDE? 1.2.1 O que dizer então de preparar as comunidades para enfrentamento a desastres naturais? 1.2.1.1 Por que desastre? 1.2.1.2 Por que ocorreu? 1.2.1.2.1 Sob o ponto de vista meteorológico 1.2.1.2.2 Sob o ponto de vista ambiental 1.2.1.2.3 Sob o ponto de vista político e social 1.2.1.2.4 Sob o ponto de vista da Defesa Civil 1.2.1.2.5 Sob o ponto de vista de Gerenciamento de Crises 1.2.1.2.6 Sob o ponto de vista cultural 1.2.1.2.7 Sob o ponto de vista da Saúde da Família 1.3 ANTECEDENTES DO PROCESSO DE REORGANIZAÇÃO DA SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL 1.4 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS E OPERACIONALIZAÇÃO 1.4.1 ALÉM DOS PRINCÍPIOS GERAIS DA ATENÇÃO BÁSICA: 1.4.2 CARACTERÍSTICAS DO TRABALHO DAS EQUIPES DE ATENÇÃO BÁSICA 1.4.3 CARACTERÍSTICAS DO PROCESSO DE TRABALHO DA SAÚDE DA FAMÍLIA 2 AS ATRIBUIÇÕES DOS PROFISSIONAIS DAS EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA, DE SAÚDE BUCAL E DE ACS 2.1 SÃO ATRIBUIÇÕES COMUNS A TODOS OS PROFISSIONAIS 2.2 ATRIBUIÇÕES ESPECÍFICAS 2.2.1 Do agente comunitário de saúde 2.2.2 Do enfermeiro AN02FREV001/REV 4.0 4 2.2.3 Do médico 2.2.4 Do técnico de Enfermagem 2.2.5 Do cirurgião-dentista 2.2.6 Do técnico em Higiene Dental (THD) 2.2.7 Do auxiliar de consultório dentário (ACD) 3 O TRABALHO EM EQUIPE E A TRANSDISCIPLINARIDADE 4 USO DE TECNOLOGIAS LEVES NA PROMOÇÃO DA SAÚDE: AS VISITAS DOMICILIARES E AS ATIVIDADES COLETIVAS 4.1 O PAPEL DAS ATIVIDADES COLETIVAS 4.1.1 Pedagogia tradicional 4.1.2 Pedagogia renovada 4.1.3 Pedagogia por condicionamento 4.1.4 Pedagogia crítica 4.1.5 Pedagogia libertadora ou da problematização 5 PLANEJANDO UM GRUPO EDUCATIVO 6 ASPECTOS ÉTICOS NO TRABALHO EM EQUIPE, NO DOMÍCILIO E NA INTERFACE COM A COMUNIDADE MÓDULO II 7 TERMINOLOGIA DA SAÚDE 8 PLANEJAMENTO E PROGRAMAÇÃO EM SAÚDE 8.1 PASSO 1 – DEFINIÇÃO DO TERRITÓRIO 8.2 PASSO 2 – DEFINIÇÃO DA SITUAÇÃO ATUAL DA SAÚDE DA POPULAÇÃO ADSCRITA 8.3 PASSO 3 – IDENTIFICAÇÃO DOS PRINCIPAIS PROBLEMAS DE SAÚDE DA POPULAÇÃO QUE SE QUER ABORDAR 8.4 PASSO 4 – ANÁLISE DOS DETERMINANTES DO PROBLEMA: A ÁRVORE EXPLICATIVA 8.5 PASSO 5 – LEVANTAMENTO DE RECURSOS 8.6 PASSO 6 – PROGRAMAÇÃO DAS AÇÕES 9 EPIDEMIOLOGIA 9.1 CONTROLE DA HANSENÍASE AN02FREV001/REV 4.0 5 9.2 CONTROLE DA TUBERCULOSE 9.3 DIABETES E HIPERTENSÃO 9.4 SAÚDE DA CRIANÇA 9.5 SAÚDE DA MULHER 9.6 SAÚDE DO IDOSO 9.7 SAÚDE BUCAL 10 PROMOÇÃO DA SAÚDE 10.1 PROCESSO SAÚDE/DOENÇA E HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA 10.2 VIGILÂNCIA E INVESTIGAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA 10.3 LISTA NACIONAL DE AGRAVOS DE NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA 11 INDICADORES DE SAÚDE E SISTEMATIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO 11.1 COEFICIENTE OU TAXA 11.2 PROPORÇÃO 11.3 RAZÃO 12 SISTEMATIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO EM SAÚDE 12.1 INDICADORES DE MORTALIDADE 12.1.1 Taxa de Mortalidade Geral (TMG) 12.1.2 Taxa de Mortalidade Infantil (TMI) 12.1.3 Taxa de Mortalidade Infantil Precoce (TMIP – neonatal) 12.1.4 Taxa de Mortalidade Infantil Tardia (TMIT) 12.1.5 Razão de Mortalidade Materna (RMM) 12.1.6 Taxa de Mortalidade por Causa (TMC) 12.1.7 Taxa de Letalidade (TL) 12.1.8 Razão de Mortalidade Proporcional (RMP) 2 ou Indicador de Swaroop- Uemura 12.1.9 Coeficiente de Mortalidade por Doenças Transmissíveis 12.2 INDICADORES DE MORBIDADE 12.2.1 Taxa de Incidência 12.2.2 Taxa de Prevalência 12.2.3 Taxa de Ataque (TA) 12.2.4 Distribuição Proporcional (DP) 12.2.5 Cobertura Vacinal (CV) 12.3 ANÁLISE DA OCORRÊNCIA DAS DOENÇAS: ENDEMIAS E EPIDEMIAS AN02FREV001/REV 4.0 6 12.3.1 Formas de ocorrência das doenças 12.3.1.1 Caso esporádico 12.3.1.2 Conglomerado temporal de casos 12.3.1.3 Endemia 12.3.1.4 Epidemia 12.3.1.6 Pandemia 12.3.1.7 Doenças transmissíveis com tendência declinante 12.3.1.8 Doenças transmissíveis com quadro de persistência 12.3.1.9 Doenças transmissíveis emergentes e reemergentes 13 ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL 13.1 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA MÓDULO III 14 NUTRIÇÃO NA GESTAÇÃO E LACTAÇÃO 14.1 IMPORTÂNCIA DA BOA NUTRIÇÃO NA GESTAÇÃO 14.2 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL 14.3 RECORDATÓRIO DE 24 HORAS 14.4 QUESTIONÁRIO DE FREQUÊNCIA DE CONSUMO DE ALIMENTOS (QFCA) 14.5 REGISTRO DE CONSUMO DE ALIMENTOS (RCA) 14.6 HISTÓRIA ALIMENTAR OU DIETÉTICA (HA) 14.7 LACTAÇÃO 15 NUTRIÇÃO NA INFÂNCIA E NA ADOLESCÊNCIA 15.1 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL 15.2 PONTOS DE CORTE ESTABELECIDOS PARA ADOLESCENTES 15.3 RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS 16 NUTRIÇÃO DO ADULTO 16.1 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL DO ADULTO (≥ 20 E < 60 ANOS DE IDADE) 16.2 RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS E ALIMENTARES 17 NUTRIÇÃO DO IDOSO 17.1 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL 17.2 PIRÂMIDE ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO IDOSA AN02FREV001/REV 4.0 7 17.3 RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS E ALIMENTARES - ORIENTAÇÕES PRÁTICAS 18 SUPORTE BÁSICO DE VIDA 18.1 ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR E AVALIAÇÃO INICIAL DA VÍTIMA 18.2 PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA 18.3 COMO RECONHECER OS SINAIS DE UMA PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA (PCR)? 18.4 OBJETIVOS DAS MANOBRAS DE REANIMAÇÃO CARDIOPULMONAR (MRCP) 18.5 PROTOCOLO DE REANIMAÇÃO CARDIOPULMONAR (DIRETRIZES INCOR 2005) 18.6 SEQUÊNCIA RESUMIDA DOS PASSOS PARA EXECUÇÃO DO SUPORTE BÁSICO DE VIDA E MANOBRAS DE RCP 18.6.1 Vias aéreas 18.6.1.1 Obstrução das vias aéreas por corpos estranhos (OVACE) 18.6.2 Boa ventilação 18.6.3 Circulação MÓDULO IV 19 O IDOSO E A ABORDAGEM DA SAÚDE DA FAMÍLIA 19.1 COMO ABORDAR O IDOSO NA SAÚDE DA FAMÍLIA? 19.2 ACESSO AO IDOSO 19.3 ANAMNESE 19.4 EXAME FÍSICO 19.5 AVALIAÇÃO DO STATUS FUNCIONAL 19.6 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL 19.7 AVALIAÇÃO DA VISÃO 19.8 AVALIAÇÃO DA AUDIÇÃO 19.9 AVALIAÇÃO COGNITIVA 19.10 AVALIAÇÃO SOCIAL 20 ABORDAGEM DA CRIANÇA E PROBLEMAS MAIS COMUNS 20.1 TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL AN02FREV001/REV 4.0 8 20.2 ALEITAMENTO MATERNO 20.3 ACIDENTES NA INFÂNCIA 20.4 DOENÇAS INFECCIOSAS 20.5 PREVENÇÃO DA DESIDRATAÇÃO 20.6 IMUNIZAÇÃO 20.6.1 Vacinação no Brasil – histórico 21 ABORDAGEM DO ADOLESCENTE E PROBLEMAS MAIS COMUNS 21.1 PREVENÇÃO À VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES 21.2 GRAVIDEZ E ADOLESCÊNCIA MÓDULO V 22 SAÚDE DO HOMEM E DA MULHER – PROBLEMAS COMUNS 22.1 DOENÇAS CARDIOVASCULARES 22.1.1 Hipertensão arterial 22.1.1.1 Procedimento para a medida da pressão arterial 22.1.2 Doença coronariana 22.2 DIABETES MELLITUS 22.3 NEOPLASIAS 22.3.1 Câncer de pulmão 22.3.2 Câncer de útero 22.3.2.1 O exame preventivo 22.3.3 Câncer de próstata 22.3.4 Câncer colorretal 22.4 TRAUMA E SUA PREVENÇÃO 22.5 IMUNIZAÇÃO DO ADULTO 22.6 SAÚDE MENTAL 22.6.1 Depressão 22.6.1.1 Fatores de risco para depressão 22.6.2 Ansiedade 22.6.3 Síndrome do ninho vazio REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AN02FREV001/REV 4.0 9 MÓDULO I 1 SAÚDE PREVENTIVA O Ministério da Saúde define Saúde da Família da seguinte forma: A Saúde da Família é entendida como uma estratégia de reorientação do modelo assistencial, operacionalizada mediante a implantação de equipes multiprofissionaisem unidades básicas de saúde. Essas equipes são responsáveis pelo acompanhamento de um número definido de famílias, localizadas em uma área geográfica delimitada. As equipes atuam com ações de promoção da saúde, prevenção, recuperação, reabilitação de doenças e agravos mais frequentes e de manutenção da saúde desta comunidade. (PORTAL DA SAÚDE, 2010, s. p.). Ou seja, a definição de Saúde da Família do Ministério da Saúde se confunde com o programa implementado pela mesma instituição intitulado Programa de Saúde da Família (PSF). Pela definição, podemos entender que à luz do Ministério da Saúde, a Saúde da Família possui as seguintes características: uma estratégia de reorientação do modelo assistencial; a operacionalização dá-se pela implantação de equipes multidisciplinares em unidades básicas de saúde; as equipes são responsáveis pelo acompanhamento de um número determinado de famílias, dentro de um espaço físico delimitado; a atuação das equipes é focada em ações de promoção da saúde, prevenção, recuperação, reabilitação de doenças e agravos mais frequentes, além da manutenção da saúde da comunidade. Com essas características, podemos entender que: o PSF não é um atendimento ambulatorial nem emergencial nos moldes tradicionais; AN02FREV001/REV 4.0 10 o PSF é operacionalizado por profissionais de diversas áreas e, portanto, não é uma especialidade médica, embora a equipe deva ter médicos, preferencialmente, especialistas em Medicina da Família; há uma atuação direcionada para o atendimento de um grupo limitado de pessoas que passarão a receber assistência de forma contínua; a delimitação da atuação das equipes dá-se pelo espaço geográfico e não pelo nível social da população atendida; as ações compreendem desde a prevenção e a promoção de saúde, motivo de estudo desta disciplina, até a reabilitação e a manutenção da saúde da comunidade. A Medicina de Família é uma especialidade médica e não se confunde com o entendimento de Saúde da Família, que é mais amplo e multidisciplinar. A Medicina de Família é amplamente utilizada em países como Inglaterra, Estados Unidos, Canadá, dentre outros. A Academia Americana de Medicina de Família (American Academy of Family Physicians - AAFP) assim conceitua esta especialidade: Medicina de Família é a especialidade médica que tem por objetivos promover o cuidado contínuo de saúde para o indivíduo e a família. É uma especialidade que integra a Biologia e as Ciências Clínicas e Comportamentais. O escopo da família engloba todas as idades, ambos os sexos, todos os órgãos e sistemas e doenças associadas. Percebe-se, portanto, que é uma especialidade com grande área de abrangência e que requer, do médico, atuação nas quatro áreas básicas da medicina: Pediatria, Clínica Médica, Ginecologia e Cirurgia Geral. Embora não atue como especialista em cada uma dessas áreas de forma isolada. A atenção do especialista em Medicina de Família, cuja especialidade, no Brasil, recebe o nome de Medicina de Família e Comunitária, é voltada principalmente para a atenção primária de saúde. O PSF assim como as ações de atenção primária de saúde, típicas do envolvimento do especialista de Medicina de Família, não são exclusivas desses profissionais. Conforme já explicamos, as ações são multiprofissionais e estão abertas para médicos de outras áreas, que deverão, neste caso, conhecer e adquirir novas habilidades para atuação nesse importante campo da medicina. AN02FREV001/REV 4.0 11 Segundo dados do Ministério da Saúde de 2007: Equipes de Saúde da Família Total de Equipes de Saúde da Família implantadas: 27.324; Total de Municípios: 5.125; Cobertura populacional: cobrindo 46,6% da população brasileira, o que corresponde a cerca de 87,7 milhões de pessoas. Equipes de Saúde Bucal Total de Equipes de Saúde Bucal implantadas: 15,7 mil; Total de Municípios: 4,3 mil; Cobertura populacional: 40,9% da população brasileira, o que corresponde a cerca de 77 milhões de pessoas. Agentes Comunitários de Saúde Total de Agentes Comunitários de Saúde: 211 mil; Total de Municípios: 5,3 mil; Cobertura populacional: 56,8% da população brasileira, o que corresponde a cerca de 107,0 milhões de pessoas. O investimento em 2007 na estratégia de Saúde da Família: R$ 4,064 milhões. Podemos perceber pelos dados acima, que boa parte dos municípios brasileiros conta com a assistência de equipes de Saúde da Família, mas, é ainda grande o desafio para atingir toda a população ou pelo menos quase toda. O gráfico diagramado (Gráfico 1) a seguir mostra a “Meta e Evolução do Número de Equipes de Saúde da Família Implantadas no Brasil, de 1994 a março de 2009”, em que podemos perceber que as ações realizadas estão bem próximas da meta projetada – e, ao mesmo tempo, o crescimento no número de equipes de Saúde da Família implantadas. Já o gráfico posterior (Gráfico 2) mostra a evolução no número de municípios com Programas de Saúde da Família implantados. AN02FREV001/REV 4.0 12 GRÁFICO 1 - META E EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA IMPLANTADAS NO BRASIL, DE 1994 A 2009 FONTE: Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB). GRÁFICO 2 - EVOLUÇÃO NO NÚMERO DE MUNICÍPIOS COM PROGRAMAS DE SAÚDE DA FAMÍLIA IMPLANTADOS FONTE: Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB). AN02FREV001/REV 4.0 13 O Ministério da Saúde, por meio de sua Política Nacional de Atenção Básica, assim define: A Atenção Básica caracteriza-se por um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrange a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde. É desenvolvida por meio do exercício de práticas gerenciais e sanitárias democráticas e participativas, sob forma de trabalho em equipe, dirigidas a populações de territórios bem delimitados, pelas quais assume a responsabilidade sanitária, considerando a dinamicidade existente no território em que vivem essas populações. Utiliza tecnologias de elevada complexidade e baixa densidade, que devem resolver os problemas de saúde de maior frequência e relevância em seu território. É o contato preferencial dos usuários com os sistemas de saúde. (DAB, 2010, s. p.). Orienta-se pelos princípios da universalidade, da acessibilidade e da coordenação do cuidado, do vínculo e da continuidade, da integralidade, da responsabilização, da humanização, da equidade e da participação social. A partir dessa conceituação, podemos perceber como a Atenção Básica é importante, ampla e se impõe como desafio. Ao orientar-se pela universalidade e acessibilidade, mostra que a preocupação deve ser igual para todos, sem distinções de quaisquer tipos. Anteriormente, apresentamos gráficos e números que mostram a evolução na implementação de Programas de Saúde da Família nos municípios brasileiros. O grande cuidado que devemos ter ao analisar tais números diz respeito à própria definição de Atenção Básica, ao afirmar que esta deve ser o contato preferencial com os sistemas de saúde. Assim, o fato de se ter a implantação de equipes de Saúde da Família em um determinado município não obrigatoriamente garante que toda a população daquele local está sendo atendida pelo Programa. Em grandes municípios como São Paulo, por exemplo, poderíamos ter centenas de equipes trabalhando, sem, no entanto, garantir a universalidade, a acessibilidade e o contato preferencial do usuário com os sistemas de saúde. O sistema britânico de Saúde da Família prevê equipes de saúde multidisciplinares em todas as comunidades e, geralmente, é por meio destes profissionais que se dá o primeiro contato com o sistema de saúde, conhecido como National Health System (NHS) – Sistema Nacional de Saúde, em português. Pelo site (<http://www.nhs.uk/Pages/HomePage.aspx>),é possível aos usuários do AN02FREV001/REV 4.0 14 sistema ter acesso a orientações de saúde, medidas preventivas, como também encontrar o médico de família mais próximo (basta inserir o equivalente ao CEP de onde a pessoa reside). Naquele país, o sistema é universal e de fácil acesso e de fato, na maioria das vezes, dá-se por meio da Saúde da Família e do médico por lá denominado general practitioner (GP). Há mais de 10 anos, o NHS tem permitido aos seus profissionais (médicos, dentistas, enfermeiros) criarem mecanismos e estratégias para promover a atenção básica de saúde em suas comunidades. Sistema semelhante possui o Canadá. O sistema público de saúde é universal, de fácil acessibilidade, no entanto, varia conforme o estado em que o usuário vive. Durante muitos anos, o Canadá vem tentando, mediante suas associações médicas, manter a proporção de 50/50, na formação de médicos de família e especialistas, o que não tem sido fácil pela tendência global na medicina de formação cada vez maior de especialistas, com prejuízo à atenção de saúde primária. O profissional envolvido em Saúde da Família possui uma grande vantagem diante dos demais profissionais de saúde. A maioria dos agravos à saúde das pessoas é de alguma forma afetada pelo meio ambiente e as relações sociais em que o indivíduo está inserido. Se não determina o início da doença, certamente influencia no seu processo de resolução. Quando um paciente entra em um consultório médico, em um ambulatório ou em um hospital, a relação estabelecida entre médico/paciente é feita a partir da empatia recíproca e da necessidade de o paciente expor o que o aflige. O médico, por sua vez, faz o diagnóstico com base na história contada e nos achados semiológicos, não havendo, contudo, uma visão multidisciplinar, tampouco a possibilidade de se estudar o caso desde a sua origem, e nem em que contexto este paciente desenvolve suas atividades diárias. Um perito é normalmente designado para dar pareceres técnicos sobre determinado assunto de seu conhecimento. Para isso, com frequência, ele dirige-se ao local onde ocorreram os fatos ou onde está o objeto ou a pessoa a serem periciados, e busca o maior número possível de informações para elaborar o seu parecer. No consultório, isto não é possível de ser feito, mas na Saúde da Família, os profissionais, de uma forma privilegiada, têm contato não apenas com o paciente, mas com a realidade e o contexto socioeconômico e familiar em que está inserido. AN02FREV001/REV 4.0 15 Imaginem um paciente, hipertenso e tabagista, que procura um atendimento médico ambulatorial. Ele possui 60 anos de idade, é do sexo masculino e informa que é hipertenso há alguns anos e faz uso regular de algumas medicações anti- hipertensivas. Ele refere que faz alguns meses que sua pressão tem-se mantido instável e tem apresentado dificuldades para dormir, devido a uma cefaleia occipital. O médico então poderá solicitar alguns exames como um eletrocardiograma e até mesmo um Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial (MAPA), embora não seja usual que esteja disponível no sistema público de saúde – e modificar a dosagem ou as medicações utilizadas. Se esse médico, contudo, fizesse parte de uma equipe multidisciplinar e atuasse na Saúde da Família, perceberia que o paciente vive em condições socioeconômicas extremamente precárias, tendo de sustentar a mulher e três filhos, um dos quais havia sido preso na semana anterior por estar envolvido com narcotraficantes. Veria que o paciente não possui veículo próprio, o transporte coletivo não é de fácil acesso e mora em local relativamente distante do Centro de Saúde. Compreenderia também que os seus dois filhos fumam e que a casa é pouco ventilada e, ao conversar com a esposa, descobriria que ela gosta muito de temperar a comida com sal. Muitas outras informações poderiam ser obtidas apenas pela observação e um pouco de conversa com os familiares. Essa experiência seria rica e seria mais fácil identificar problemas que estão provocando um quadro de ansiedade no paciente, bem como razões de agravo à sua saúde. No Programa de Saúde da Família do Ministério da Saúde, as equipes são formadas no mínimo por um médico de família, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e seis agentes comunitários de saúde, podendo contar ainda com um dentista, um auxiliar de consultório dentário e um técnico em higiene dental. AN02FREV001/REV 4.0 16 1.1 E O QUE FALAR ENTÃO DA SAÚDE PREVENTIVA? Conversamos até agora a respeito de Saúde da Família, sua importância, bem como da atenção primária de saúde. A Saúde Preventiva pode ser entendida como um conjunto de medidas e ações de saúde voltadas para a prevenção de doenças e/ou seu agravamento. Estamos, nesse entendimento, compreendendo a doença como sendo qualquer tipo de agravo à saúde, incluindo o trauma. Como trabalharmos com saúde preventiva? Quais são as doenças que iremos evitar? É importante, ao buscarmos respostas a estas perguntas, que tenhamos alguns dados para consulta. Tal qual em um inventário de riscos, utilizado para prevenção de crises, precisamos saber quais são as principais ameaças presentes. Ou seja, quais são as doenças que mais matam e incapacitam na região. Estas devem ser as primeiras a serem prevenidas. Se analisarmos as principais causas de mortalidade no ano 2006 em todas as regiões do Brasil, perceberemos que as doenças cardiovasculares foram as principais causas de morte em nosso país, com mais de 300 mil mortes no ano, como também em cada Região Administrativa Brasileira. Na Região Sudeste, foi registrado o maior número absoluto de mortes por doenças cardiovasculares, com quase 176 mil óbitos. É também a região mais densamente povoada em nosso país. Se fizermos uma análise percentual em relação ao número total de óbitos por região, perceberemos que, com exceção da Região Norte, que corresponde a aproximadamente 21% dos óbitos, o que ainda se constitui como principal causa de mortalidade na região, nas demais regiões está na faixa de 30% de todas as causas, o que representa um número muito alto. Se formos agora buscar em que faixa etária as doenças cardiovasculares causam mais mortes, veremos que aproximadamente 96% ocorrem após os 40 anos de idade. AN02FREV001/REV 4.0 17 Bom, então, é só promover a prevenção das doenças cardiovasculares após os 40 anos, certo? Não. Completamente errado. Essas doenças matam mais a partir dessa faixa etária, mas começam a surgir bem antes e a prevenção deve ser feita já com as crianças. Já que sabemos qual doença é a principal causa de mortalidade e a partir de qual faixa etária ela causa mais mortes, o que fazer agora? Identificar os fatores de risco. Como fazer isso? É importante que sejam sempre consultados trabalhos científicos e consensos que deem suporte técnico- científico adequados à prática clínica. Não têm sentido, e são desprovidas de qualquer comprovação científica, as práticas clínicas baseadas unicamente em experiência pessoal ou em dados obtidos em publicações leigas ou trabalhos inconclusivos. Na área de doenças cardiovasculares, por exemplo, segundo dados do Ministério da Saúde, os principais fatores de risco seriam: história familiar de DAC prematura (familiar de 1º grau do sexo masculino <55 anos e sexo feminino <65 anos); homem >45 anos e mulher >55 anos; tabagismo; hipercolesterolemia (LDL-c elevado); hipertensão arterial sistêmica; diabete melito; obesidade (IMC > 30 kg/m²); gordura abdominal; sedentarismo; dieta pobre em frutas e vegetais; estresse psicossocial. Um dos mais importantes estudos de avaliação de risco em doença cardiovascular é conhecido como Framingham Heart Study. Em 1948, sob a direção do então National Heart Institute – Instituto Nacional doCoração, hoje conhecido como National Heart, Lung and Blood Institute (NHLBI) – Instituto Nacional do Coração, Pulmão e Sangue, foi iniciado um ambicioso projeto, voltado para descobrir as principais causas de doenças cardiovasculares, uma vez que pouco se sabia sobre elas, mas ao mesmo tempo, passou a se constituir na principal causa de AN02FREV001/REV 4.0 18 mortalidade não apenas nos Estados Unidos, mas em diversos outros países, incluindo o Brasil, como já vimos há pouco. O projeto desenvolvido contou com o apoio conjunto da Universidade de Boston. Os pesquisadores analisaram 5.209 pessoas com idade entre 30 e 62 anos, residentes na cidade de Framingham, Massachusetts (EUA). Nesta primeira fase do projeto, essas pessoas foram entrevistadas, examinadas e o estilo de vida de cada uma, analisado. Desde 1948, a cada dois anos, essas pessoas têm retornado para novos exames, testes e entrevistas. Em 1971, teve início a análise da segunda geração, constituída por 5.124 pessoas, filhos e esposas dos primeiros participantes do estudo. Em 2002, teve início o estudo com a terceira geração, constituída pelos netos dos participantes do estudo original. A primeira fase deste estudo da terceira geração foi completada em 2005 e envolveu 4.095 participantes. Ao longo dos anos e após análise dos resultados decorrentes deste estudo foram identificados os principais fatores de risco para doenças cardiovasculares: hipertensão arterial, hipercolesterolemia, tabagismo, obesidade e sedentarismo, além de fatores correlatos como hipertrigliceridemia, níveis de colesterol HDL, idade, sexo e fatores psicossociais. FIGURA 1 - LOGO DO PROJETO FRAMINGHAM HEART STUDY FONTE: Framingham Heart Study. AN02FREV001/REV 4.0 19 Diante destas informações, fica evidente a necessidade de Programas de Saúde Preventiva para a população em geral, com foco em: diagnóstico, tratamento e acompanhamento da hipertensão arterial; avaliação do perfil lipídico, com especial atenção para o colesterol total, suas frações e o nível de triglicerídeos; combate ao tabagismo; avaliação da circunferência abdominal e índice de massa corporal da população assistida, bem como adoção de medidas que privilegiem uma alimentação saudável; prática de exercícios; diagnóstico e controle da diabetes mellitus. Esses são fatores de risco considerados modificáveis, pois podem ser mudados. Há, no entanto, os que não podem ser modificados, como idade, sexo, fatores familiares. Estas pessoas devem então redobrar os cuidados, pois os fatores de risco são aditivos, ou seja, quanto mais fatores, maiores os riscos. Por que programa e não campanha? É comum as pessoas buscarem campanhas preventivas, quando na verdade querem programas. Qual a diferença? Uma campanha tem data de início e de fim. Possui um objetivo específico e geralmente envolve mutirões para sua condução. Exemplo: Campanha de Detecção Precoce do Câncer de Pele em uma comunidade. Durante alguns dias, uma equipe multidisciplinar promove um evento em que geralmente é iniciado com uma apresentação falando dos fatores de risco e da gravidade do câncer de pele, sobretudo o melanoma. Apresenta alguns sinais que são considerados como de alerta, ou seja, quando presentes, devem ser examinados por um dermatologista e são ensinadas medidas preventivas. Esta é uma atividade de Promoção da Saúde e ao mesmo tempo, Prevenção de Doenças. Nos dias que se seguem são realizadas triagens de pacientes, e os casos suspeitos, examinados por dermatologistas que podem tranquilizar o paciente quando não houver suspeitas de malignidade, ou retirar o material para biópsia e encaminhar para análise. Se confirmada a malignidade, é realizada a cirurgia. AN02FREV001/REV 4.0 20 Percebam que após a data de conclusão da campanha não mais haverá dermatologistas naquele local, nem serão realizadas outras atividades específicas, a menos que se torne um programa. No Programa, as ações são continuadas. Não há prazo para encerramento das atividades. Há um cuidado com a Promoção de Saúde por meio de palestras, cartilhas, filmes, bem como com o diagnóstico precoce e o acompanhamento assistencial. Geralmente, os programas são mais voltados para as doenças mais prevalentes. Acabamos de estudar que as doenças cardiovasculares são a principal causa de mortalidade em nosso país e que há uma série de fatores de risco associados. Deveríamos fazer campanhas ou programas para combater esses fatores de risco? O melhor seria que pudéssemos fazer programas e deixar as campanhas apenas para os casos em que não há viabilidade de implementação de um programa (falta de profissionais e recursos na região, por exemplo). É por esta razão que o Ministério da Saúde realiza programas voltados para diferentes áreas e sempre com foco nas enfermidades mais prevalentes, que podem e devem ser diagnosticadas e acompanhadas. Visa à redução da morbidade e da mortalidade. Nas ações de atenção primária de saúde, esses temas também são trabalhados, visando desta forma, a atingir o maior número possível de pessoas em uma população. O Ministério da Saúde desenvolveu então publicações voltadas para temas a serem discutidos e avaliados na atenção primária de saúde, que podem ser acessados por qualquer pessoa e sem custo algum. É uma forma de padronização de condutas, ao mesmo tempo em que contribui para o aprimoramento profissional. O mesmo dá-se com relação aos médicos, de uma forma mais específica. Foram encaminhados para as residências de todos os médicos do país, cartilhas e material voltados para diagnóstico e medidas de suporte na dengue, dentre outras informações. Um dos principais desafios da Saúde Preventiva, no entanto, é o devido acompanhamento e o registro dos dados obtidos, que permitirá futuros estudos, bem AN02FREV001/REV 4.0 21 como o conhecimento dos níveis de penetração dos programas junto às comunidades. Outro aspecto de quem está inserido em um determinado programa é o paciente sentir-se bem recebido e acompanhado. Se ele é portador de hipertensão arterial deve possuir uma carteira onde serão anotadas as medições de pressão realizadas, com data, local e o nome de quem fez a medição. Nos casos em que estiver muito alterada, o médico deve ser consultado. É importante, pois, que o paciente tenha acesso fácil às medidas necessárias ao seu controle. De nada adianta um programa de acompanhamento de pacientes diabéticos em que não haja reagentes e material disponível para a dosagem da glicemia. Um dos importantes aspectos da Atenção Básica e da Saúde Preventiva está na avaliação multidisciplinar. No Centro de Medicina do Idoso do Hospital Universitário de Brasília, referência no acompanhamento de pacientes portadores de Alzheimer, as consultas são todas multidisciplinares. O paciente é atendido não apenas pelo médico, mas pelo farmacêutico clínico, psicólogo, enfermeiro, odontólogo, terapeuta ocupacional – que juntos podem estabelecer a melhor linha de acompanhamento do paciente, além de serem trabalhadas diferentes questões com os familiares. Na síndrome metabólica, por exemplo, encontramos uma associação de diferentes fatores de risco para doença cardiovascular e diabetes. Se os programas de saúde preventiva não forem de alguma forma integrados, pacientes com vários fatores de risco serão acompanhados de forma isolada e um diagnóstico importante como esse deixa de ser feito. Essa é mais uma responsabilidade para quem atua na Saúde da Família, ao identificar os diversos agravos, agindo sobre o paciente de tal forma a dificultar o seu tratamento. A Promoção da Saúde é realizada por profissionais da área, com o objetivo de, por meio de diferentes ações, levar conhecimento sobre prevenção de doenças e orientações que podem conduzir a uma vida mais saudável. Nós que somosda área de saúde sabemos que não há como conduzir um tratamento adequado sem que o paciente esteja disposto a se tratar. Podemos empregar os melhores medicamentos, terapia e tudo o que houver de bom para AN02FREV001/REV 4.0 22 combater o tabagismo, mas se o paciente não quiser deixar de fumar, de nada servirão tais medidas. A Promoção de Saúde, portanto, depende da utilização de sólidos conhecimentos técnicos e científicos aliados a boas práticas de saúde, e a vontade das pessoas, o que inclui receptividade em não apenas receber estas informações, mas usá-las a seu favor. Isso tem um nome: mudança! Mudança de hábitos de vida! Fácil? Não. Quem quer mudar de hábitos, muitas vezes, já incorporados há anos? Normalmente, mudamos quando percebemos que algo não vai bem. Infelizmente é aquela história de só fechar a porta depois que o ladrão entrou. Vivemos em um mundo cheio de normas, regras e a chamada ditadura da beleza. Criou-se um padrão em que todos devem ser muito magros e os estereótipos dizem que os magros são saudáveis e cheios de vida, enquanto os gordos são doentes e preguiçosos. Vocês certamente já viram muitos magros doentes e muitos gordos saudáveis. A obesidade deve ser tratada como doença, assim como um índice de massa corporal muito baixo. Há diversos tipos de beleza e pena que comumente só olhemos para o que as pessoas refletem e não o que elas de fato são. Não é à toa que, ao envelhecer, muitos se desesperam em busca de um elixir da juventude, que simplesmente não existe. É o medo de perder o atributo que julgam ter, a beleza exterior. Nada mais efêmero e passageiro, não? Recentemente, uma britânica apresentou-se em um famoso programa de televisão, com o objetivo de selecionar bons cantores. Ela não fazia parte nem de longe, do chamado padrão de beleza. Tinha idade bem acima da média de seus concorrentes. Nunca havia tido um namorado e teve dificuldades para aprendizado quando criança. Ao entrar no palco, foi motivo de risos e de ironia por parte dos jurados. Como alguém como ela poderia querer ser uma cantora de sucesso? No entanto, ao começar a cantar, Susan Boyle, conseguiu algo inédito. Todos se calaram e assistiram maravilhados à apresentação dessa britânica. AN02FREV001/REV 4.0 23 A opinião das pessoas a respeito de Susan mudou radicalmente após ouvi- la. Por quê? Porque temos por hábito classificarmos ou julgarmos diversos aspectos de uma pessoa apenas olhando para ela. A roupa que veste. A forma como se comporta. Será que não agimos também assim ao avaliarmos nossos pacientes? Ao encontrarmos um paciente tabagista que fuma diariamente e desde que era criança, percebemos que a postura dele não é de quem quer parar de fumar. Como agimos? Nos afastamos ou nos aproximamos ainda mais? Nos sentimos frustrados por não conseguirmos convencê-lo a parar de fumar e o agredimos (com ironias, com ameaças de morte dolorosa) ou tentamos compreendê-lo como alguém que precisa de ajuda, mas não percebeu isso ainda? Naturalmente que há situações críticas e dramáticas, em que vemos pessoas que poderiam ter um belo futuro se não se “afundassem” em álcool e outros tipos de drogas. O que fazemos? Agimos como os que já se distanciaram e deixaram a vida seguir o seu curso? Se agirmos assim, como agiremos diante de um suicida que quer se jogar de cima de um prédio? A forma de viver das pessoas e os hábitos presentes são sinais que nem sempre conseguimos captar. O paciente que deixou de fazer coisas que lhe davam prazer ficou mais irritado, não necessariamente mostrando-se mais triste, podendo, sim, estar deprimido. Aquela senhora que procura remédios para dormir, pois não consegue “pregar os olhos antes das três da manhã”, pode ser a mesma que apresenta um quadro ansioso importante porque sabe que não terá como pagar o aluguel no final do mês. Fazê-la dormir a base de medicamentos irá resolver o problema dela? Certamente que não. Nem se espera que você resolva os problemas que ela precisa enfrentar. Mas uma conversa um pouco mais aprofundada pode revelar que ela não terá dinheiro este mês, porque precisa comprar remédios para o marido que está doente. Será que os medicamentos que o marido dela está tomando não possuem substitutos mais baratos? Quem está acompanhando ele? É comum presenciar profissionais que prescrevem medicamentos e ao terminar perguntam ao paciente: “Você tem dinheiro para comprar remédio?” Para muitos essa é uma pergunta triste e difícil de ser respondida, pois se a resposta for não, a interiorização desta resposta poderia ser: “Sou tão miserável, que não tenho nem dinheiro para comprar um remédio para mim ou minha família.” E com AN02FREV001/REV 4.0 24 frequência dizem que têm, quando na verdade essa quantia irá faltar. Há, contudo, em boa parte das vezes, medicamentos semelhantes que irão atuar de forma muito satisfatória. Ao invés de fazer esta pergunta, os médicos devem prestar atenção onde estão atuando. Que tipo de clientela ele atende? Onde vivem essas pessoas? O que elas fazem? Remédio caro não é sinônimo de remédio bom! E nem sempre há necessidade de emprego de medicamentos. Ocorre, no entanto, que muitos profissionais preferem perder pouco tempo fornecendo uma receita ao invés de perder um pouco mais de tempo conversando com o paciente. Esta não é uma crítica aos médicos. E sim, a todos que agem dessa forma em suas áreas de competência. É ao odontólogo que prefere “condenar” dentes bons, pois o tratamento é demorado e complexo. É ao enfermeiro que não percebe que o paciente está irritado porque está doente etc. Todos nós temos nossos dias ruins, mas devemos estar vigilantes para que não descontemos nossas amarguras em nossas ações de saúde. A integração da equipe é fundamental. Cada um com sua especialização somando esforços para o melhor do paciente e da comunidade. Ninguém é melhor do que ninguém na equipe. São apenas funções diferenciadas que devem ser respeitadas por todos. 1.2 COMO ENTÃO PROMOVER A SAÚDE? Já vimos que há diversos fatores de risco conhecidos para muitas doenças. Citamos os das doenças cardiovasculares, mas poderíamos falar de tantas outras. Há também alguns fatores de risco que podem provocar não apenas uma doença, mas várias, como o tabagismo. Quem sabe um tabagista não repense seu hábito, com base não em ameaças de morte dolorosa, mas em quanto seria bom se ele tivesse saúde para brincar com o neto que acabou de nascer. Toda mudança é dolorosa e difícil porque pressupõe que saiamos de uma situação onde nos encontramos – e, mal ou bem, a conhecemos – e passemos para outra – desconhecida. Sair de uma situação “cômoda” para outra que irá gerar algum sacrifício inicial, mas que poderá resultar AN02FREV001/REV 4.0 25 em grandes ganhos no futuro. Como será não fumar para quem fumou a vida toda? Por que ele fuma? É só por hábito? Ninguém passa a gostar de comer salada de um dia para o outro. Não adianta falar para quem gosta de chocolate, que, toda vez que ele tenha vontade, coma uma cenoura crua. Não vai funcionar. Não é o consumo esporádico de um chocolate que irá engordar ninguém, mas o consumo exagerado e frequente. Ao promover a saúde, fale com entusiasmo. Mostre que você de fato acredita no que está falando e seja otimista. Procure a melhor forma de alcançar seu público. Se você pretende dar uma palestra para a comunidade, vista-se de acordo com os costumes locais, sem parecer caricato. Se as pessoas são simples na forma de vestir, não vá de terno ou roupas extremamente formais. Não vá, contudo, de chinelo e bermudas. Saiba perceber a melhor forma de conversar com a população, sem parecer que está forçando uma situação de intimidade, pois soará falso. Ao falar, use a linguagem de acordo com o entendimento de sua plateia. Se estiver falando para profissionais de saúde,seja mais técnico, sem abusar, contudo, de siglas e terminologias extremamente especializadas – salvo se você tem certeza que todos entenderão o que está sendo apresentado. Não use regionalismos se você não é da região. Não empregue palavras que possam ter duplo sentido e não faça piadas com pessoas da comunidade, sobretudo, de humor negro ou jocosas. A escolha do tema a ser utilizado deve levar em conta o interesse geral das pessoas e ao mesmo tempo, o que ensejar mudanças de hábitos de vida e adoção de práticas saudáveis. Dependendo da plateia, você poderá ter que usar datashow, enquanto em outros grupos, poderá utilizar-se de dramatização com pessoas da própria comunidade, ou ainda discussão em grupos ou mesmo aconselhamento individual. Toda equipe de Saúde da Família e todo profissional de saúde deve aproveitar todo contato com seus pacientes para promover a saúde. É interessante que é comum as pessoas associarem promoção de saúde com: o combate ao sedentarismo, ao tabagismo; a promoção de alimentação saudável, a prevenção de doenças; mas poucas se lembram da prevenção de acidentes. AN02FREV001/REV 4.0 26 Mais de 100 mil pessoas perdem suas vidas anualmente no Brasil, em decorrência de acidentes, sobretudo, automobilísticos. É, portanto, importante que, durante as ações de promoção da saúde, sejam incluídas medidas de prevenção de acidentes. Tem rio na região? Fale do risco de afogamento, de mergulhos em águas rasas, com grande risco de lesão da coluna. Os acidentes e as causas externas são a principal causa de mortalidade nos grupos mais jovens da população. Muitos acidentes são causados pelo hábito de beber e dirigir. Não há índices seguros de alcoolismo para quem quer dirigir. Há de se ter cuidado com o preconceito. Mais uma vez temos de estar atentos. Saúde da Família não é saúde dos pobres. É voltada para a saúde de todos. É comum, no entanto, dirigirmos ações de promoção de saúde apenas para comunidades mais carentes de recursos econômicos. Naturalmente que essas comunidades devem receber assistência de qualidade em Saúde da Família, mas não podemos nos esquecer dos demais. O jovem pobre atropelado na estrada, enquanto espera a hora de poder atravessar para o outro lado, pode ter sido vítima do jovem rico que dirigia bêbado, em alta velocidade. Saúde Preventiva e Promoção de Saúde, incluindo prevenção de acidentes e primeiros socorros, deveriam fazer parte do currículo escolar do Ensino Fundamental. Infelizmente, não é ensinado nem no Ensino Médio e nem na faculdade. Em qual curso de Pedagogia existe a disciplina de Suporte Básico de Vida? Até nos cursos de Saúde, poucos são os que oferecem tal disciplina. Geralmente, não fazem parte do currículo obrigatório das Faculdades de Saúde, incluindo Medicina. É comum o estudante de Medicina querer aprender o suporte avançado de vida sem que tenha visto o básico. Ele acha que sabe porque é básico. Quantas coisas não deixamos de fazer porque são básicas e, no entanto, são elas que realmente importam? Não é possível partir para nada avançado, sem que o treinamento básico esteja consolidado. Ensinar primeiros socorros às comunidades é uma ação de Promoção de Saúde? Mais do que isso, trata-se de uma lição de cidadania. AN02FREV001/REV 4.0 27 1.2.1 O que dizer então de preparar as comunidades para enfrentamento a desastres naturais? Cada vez mais teremos desastres no mundo, com um número crescente de vítimas e danos. Isto ocorre pela ocupação desordenada do solo, instalação de residências em áreas de alto risco, aumento da população de menor poder aquisitivo em grandes cidades, construindo casas menos seguras, dentre muitas outras razões. A melhor definição de desastres é aquela que entende esse conceito como sendo todo evento crítico cuja magnitude exceda a capacidade de resposta da sociedade. Melhor explicando: um tornado passa em uma grande cidade, destrói algumas casas e faz dez vítimas. A cidade tem condições de socorrer as vítimas e reconstruir a cidade? Sim. Então não é desastre. Se pelo número de vítimas houve necessidade de utilização de recursos ou serviços adicionais podemos falar em incidente com múltiplas vítimas, mas não em desastre. Por outro lado, o mesmo tornado passa em uma comunidade rural e acaba com quase todas as casas e faz o mesmo número de vítimas, mas o hospital mais próximo está a quilômetros de distância. Foi um desastre? Sim. Como a população pode se preparar para os desastres? Por meio de utilização de boas práticas em seu dia a dia. Não destruir, nem ocupar encostas de morros, não jogar entulho nos rios, saber reconhecer quando há risco iminente de ocorrência de desastres naturais na região, buscar apoio da Defesa Civil para criação dos Conselhos e Núcleos de Defesa Civil onde não existirem, entre muitas outras informações. Os profissionais de Saúde da Família têm importante papel nesta prevenção. É muito comum, principalmente em comunidades mais desassistidas, que, enquanto o pai ou a mãe está trabalhando, os filhos fiquem em casa, cuidados por irmãos mais velhos, pelos avós ou outros parentes. Essas pessoas devem saber o que fazer em situações de emergência e desastres. Em 2009, houve um grande terremoto na Itália, atingindo principalmente a cidade de L’Aquila e causando mais de 290 mortes. Mais de 40 mil pessoas perderam suas casas. AN02FREV001/REV 4.0 28 1.2.1.1 Por que desastre? Porque se trata de situação crítica com diversos mortos, feridos e desabrigados, com grave destruição de infraestrutura das cidades, onde a capacidade de resposta das comunidades foi inferior à magnitude do evento. Ou seja, as comunidades atingidas não possuíam condições de responder ao evento, sem a necessidade de recursos extras (municipais, estaduais e federais), independente do número de vítimas. 1.2.1.2 Por que ocorreu? 1.2.1.2.1 Sob o ponto de vista meteorológico Um anticiclone (zona de alta pressão, com movimento em sentido anti- horário) formou-se no mar, provocando ventos fortes em direção ao continente (conhecido na região como vento do leste) provocando chuva persistente, ainda que fraca. Essa chuva foi formando poças e sendo absorvida pela terra, morros, encostas. Um sistema de baixa pressão (vórtice ciclônico localizado em altitude média da atmosfera foi formado, com ventos em sentido horário). Este sistema formado passou a receber os ventos fortes do mar, fazendo com que as chuvas começassem a se formar, de maneira contínua e cada vez mais fortes. Com as chuvas, a água, cada vez mais, foi absorvida pela terra dos morros, como se fosse uma esponja; e dada a ocupação desordenada das encostas, os barrancos desabaram, além dos alagamentos. AN02FREV001/REV 4.0 29 1.2.1.2.2 Sob o ponto de vista ambiental Com o desmatamento e a ocupação irregular e indevida dos morros, o que inclui escavações, a água passa a não encontrar dificuldades em avançar de forma rápida, pois com a vegetação, há uma barreira natural que impede ou dificulta um avanço tão intenso. 1.2.1.2.3 Sob o ponto de vista político e social A omissão e a permissividade diante da ocupação ilegal e irregular de encostas de morro faz com que centenas de famílias estejam em risco permanente de desastres. Obras de saneamento, voltadas para a redução de danos, custam caro e são pouco percebidas pela população. Ou seja, não são prioridades para muitos governos. Não apenas a ocupação é irregular, mas diante de construções em área não planejada o acesso é precário, assim como a infraestrutura. 1.2.1.2.4 Sob o ponto de vista da Defesa Civil Os alertas meteorológicos em nosso país não são divulgados de forma adequada. Embora estejam disponibilizados na internet, e tanto a Secretaria Nacional de Defesa Civil quanto a Estaduale os órgãos municipais são avisados, mas não possuem postura proativa de iniciarem a resposta de pré-impacto adequada. O que esses órgãos fizeram antes do "dilúvio"? Foram à televisão? Avisaram à população do risco em que se encontravam? O anticiclone e o posterior sistema de baixa pressão eram de conhecimento destas instituições. Uma vez ocorrido o desastre, foi estabelecido um sistema de comando de incidentes? Se foi, quem era o incident comander (coordenador da crise)? AN02FREV001/REV 4.0 30 A arrecadação de donativos deve sempre ser feita com muito critério. Primeiro, conseguem-se os meios de transporte. Verifica-se a capacidade de transportar. Depois, verificam-se quais são as necessidades da região e de forma coordenada, estabelecem-se prioridades e métodos que permitam perceber o que não deve ser mais recebido nem arrecadado. Há comida suficiente? A comida doada chegará a tempo? Quando há coordenação adequada e eficiente, em um contexto nacional, os donativos não devem ser solicitados à população de forma aleatória. Assistimos diariamente o pedido de doação de alimentos feito por oficiais do Exército, depois da Defesa Civil Regional, depois de políticos, cada um pedindo algo diferente. Outra questão com relação a donativos: todo donativo deve ser transportado. Não foi pedido? Se sobrou é porque a logística não foi pensada e nem está adequada. Pedir donativos para o desastre e depois distribuí-los em outras campanhas não é ético e pode trazer problemas futuros, diante de novas solicitações à população. As doações devem ser acompanhadas pelo Ministério Público. Para onde estão indo as doações em dinheiro? Como está sendo feita a contabilização de gastos? Quem é o responsável por arrecadação, armazenamento, transporte e distribuição de donativos? O povo brasileiro é muito solidário, mas não pode ser ludibriado. O que aconteceu com os donativos para o tsunami da Indonésia? Segundo a imprensa, por dificuldades logísticas, toneladas de donativos nunca chegaram lá. Certa vez, um coordenador estadual de Defesa Civil afirmou que haviam arrecadado toneladas de donativos e que iriam agora buscar uma forma de transportá-los até Santa Catarina. Que absurdo! Diversos locais solicitaram voluntários para classificar e separar donativos e alegaram que não estavam conseguindo e, por isso, os donativos levaram muito tempo para estarem aptos a serem transportados. Não é uma situação de desastre? Que as Forças Armadas, então, sejam convocadas para ajudar também neste processo, bem como a sociedade civil organizada, órgãos públicos cedendo funcionários, dentre outras. AN02FREV001/REV 4.0 31 1.2.1.2.5 Sob o ponto de vista de Gerenciamento de Crises Durante o pré-impacto, pouco ou nada foi feito para se evitar a crise. As fases de alerta e alarme foram solenemente ignoradas. Não houve planejamento. Não tendo havido a atuação pré-crise, a mesma se estabeleceu. Não foi instalado Gabinete de Crise na forma padronizada, o que significaria ter um responsável pelo contato permanente com a imprensa. Um profissional daria as informações sobre o desastre – número de vítimas, deficiências, necessidades; só ele e o incident comander (coordenador de crises) poderiam falar e ainda assim, de forma coordenada. Pela falta de adoção de planejamento prévio, o socorro teve de agir sempre de forma crítica e heroica, o que representa grave risco. A fase de reconstrução tem início com o fim das operações de busca e salvamento. Faltou planejamento. Faltou logística. 1.2.1.2.6 Sob o ponto de vista cultural Nós vivemos em um país fatalista onde a prevenção não é prioridade e quando o desastre ocorre, é porque era vontade de Deus. Novos desastres ocorrerão, pela mesma causa e, possivelmente, no mesmo local. Assim como teremos outros furacões, além do Catarina, atentados terroristas e toda a sorte de eventos críticos, sem, no entanto, haver planejamento e, sobretudo, crença que tais situações são iminentes. Nascemos com a ideia de que "Deus é brasileiro" e por isso somos imunes a tudo. Sob o ponto de vista da análise de ameaças, riscos e vulnerabilidade, estamos altamente vulneráveis e com diversas ameaças graves e iminentes. A população desabrigada, com o retorno da água aos níveis normais, volta para suas casas, que continuam em situação de risco. É sabido e conhecido que o verão em nosso país é caracterizado por fortes chuvas, alagamentos, inundações, enchentes e desabamentos. AN02FREV001/REV 4.0 32 1.2.1.2.7 Sob o ponto de vista da Saúde da Família Aquela região é assistida por PSF? Caso sim, existe um cadastro que permita localizar e remover os pacientes crônicos e com dificuldade de locomoção diante de um desastre? A população foi treinada em como agir em casos de emergência? Sabem prestar primeiros socorros? Existe um Plano de Desastres para a região que contemple as equipes de Saúde da Família? Está a cargo de quem? O tempo passou, a chuva parou e as cidades atingidas começaram a voltar ao normal, exceto para todos que perderam seus parentes e seus pertences. Algo mudou? Algum planejamento para evitar novos desastres foi feito? E no restante do país? Outra situação que merece a atuação da promoção de saúde das equipes de Saúde da Família diz respeito a epidemias. E a qualidade de vida? Falamos tanto dela em nosso dia a dia. Todos dizem que o que mais querem é qualidade de vida. Mas o que isto significa? Como o próprio nome sugere, é viver com qualidade. É buscar sentido em tudo o que fazemos, nas coisas mais simples. Dormir bem. Comer bem. Amar. Ser amado. Fazer da vida uma diversão! Ser feliz! A felicidade é uma decisão interior nossa e não um lugar a se chegar ou um patamar a ser alcançado. Clichê? Talvez. O fato é que muitas pessoas sempre imaginam que felizes são os outros. Motivos não nos faltam para sermos felizes, pois viver já deveria ser uma celebração! Há problemas a serem resolvidos? Quem não os tem? Com saúde, tudo podemos, já diriam nossos avós. Promover saúde é promover o bem-estar. Com saúde, podemos buscar todo o resto. Ao nos aproximarmos de quem sofre, devemos levar conforto e buscar, a todo custo, eliminar o sofrimento. Nem sempre conseguiremos curar a doença, mas podemos e devemos evitar ou aliviar a dor. Talvez este seja um bom momento para refletirmos. Estamos colocando qualidade em nossas vidas? Temos um tempo para nós mesmos? Quando foi a AN02FREV001/REV 4.0 33 última vez que você apreciou um pôr do sol, caminhou sem hora para chegar e sem destino, se permitiu passar algumas horas, simplesmente contemplando a beleza da vida? Pense nisso e seja feliz! A Saúde Preventiva e a Promoção de Saúde são fundamentais em qualquer área da saúde. A Associação Americana de Medicina Preventiva traz um interessante artigo, em que analisa as questões que envolvem a cura e a prevenção. Está acessível em <http://www.acpm.org/Perspectives_PreventionvsCure.pdf> (em inglês). Em outro artigo, da mesma sociedade, intitulado Health Effects of Global Climate Change: How Health Professionals Can Be Part of the Solution, a discussão é sobre o papel dos profissionais de saúde diante dos problemas de saúde decorrentes do aquecimento global. Vejam como a prevenção e a promoção de saúde assumem novos contornos e diferentes desafios. Não percam a oportunidade de sempre promoverem a saúde junto a seus pacientes e à comunidade da qual fazem parte. É fundamental que suas informações estejam atualizadas e de acordo com os protocolos internacionais e diretrizes do Ministério da Saúde e literatura especializada. Não esperem a realização de congressos para se atualizarem. Essa é uma atividade diária e que exige muita dedicação, pois a orientação boa para nossos pacientes é aquela baseada em evidências seguras e práticas devidamentecomprovadas. AN02FREV001/REV 4.0 34 1.3 ANTECEDENTES DO PROCESSO DE REORGANIZAÇÃO DA SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL Para melhor compreensão dos caminhos que levaram à proposição da Estratégia Saúde da Família, vale a pena uma breve recapitulação da trajetória dos modelos de saúde no Brasil. Pode-se dizer que o sistema de saúde no Brasil se caracterizou, historicamente, pelo dualismo entre atividades preventivas e curativas na atenção à saúde. O governo brasileiro teve a especificidade de produzir e regular a saúde pública, desde os anos 1930, por meio da medicina previdenciária, utilizando como política a compra de serviços de terceiros na área da assistência médica, induzindo assim a chamada “produção de procedimentos”. Em 1977, 80% do valor dos financiamentos aprovados para a área de saúde foram destinados ao setor privado. O modelo médico assistencial privatista tornou-se dominante na segunda metade do século XX, induzido pelo processo da industrialização brasileira. Até o início da década de 1970, somente os contribuintes das caixas de assistência dos trabalhadores (Caixas de Aposentadorias e Pensões – CAPs 12 e dos Institutos de Aposentadorias e Pensões – IAPs 13 e, posteriormente, do Instituto Nacional de Previdência Social – INPS 14) e seus dependentes diretos, devidamente munidos da “carteirinha”, tinham acesso aos serviços de saúde com melhor qualidade. Aos indigentes, aos desempregados, aos trabalhadores domésticos, aos trabalhadores rurais e aos autônomos restava a filantropia das Santas Casas de Misericórdia. Isso nos leva à compreensão de que a universalidade de cobertura e atendimento à saúde no Brasil trouxe consigo a noção de direito social em detrimento à noção anterior de concessão. A crise desse modelo de saúde foi qualificada por Mendes (1996) em quatro dimensões: a ineficiência, a ineficácia, a iniquidade e a insatisfação da população, atribuindo-lhe características mais estruturais que circunstanciais. A crise e a reforma nos sistemas de saúde são fenômenos praticamente globalizados, porque o que sucede na realidade, conforme ressalta Mendes (1999), é uma profunda reforma nos estados capitalistas em geral. AN02FREV001/REV 4.0 35 No âmbito internacional, em setembro de 1978, acontece, em Alma-Ata (na antiga União Soviética, numa região onde hoje é o Cazaquistão), a Conferência sobre Cuidados Primários de Saúde, com a proposta de atenção primária em saúde como estratégia para ampliar o acesso de forma a atender, com igualdade de condições, todos os membros ou segmentos da sociedade até o ano 2000. O enfoque foi a prioridade à promoção e prevenção da saúde com profissionais cuja formação e desempenho fossem, não somente clínicos, mas com percepção epidemiológica e social para se relacionar com o indivíduo, família e sociedade. Em meados dos anos 1970, teve início o processo de redemocratização política e social no Brasil. A mobilização nacional pela luta cidadã se materializou na área da saúde, por meio do ideário do Movimento da Reforma Sanitária. Integravam o Movimento professores universitários, estudantes de medicina, profissionais da saúde, sindicalistas, militantes partidários de esquerda e movimentos populares por saúde. O objetivo principal dos reformistas confundia-se entre uma oposição ao regime autoritário e a transformação do Sistema Nacional de Saúde. Sua luta era direcionada à criação de um sistema único de saúde gratuito e universal, essencialmente gerido pelo Estado, e que atribuísse caráter complementar ao setor privado. Ficava claro que o modelo atual era incapaz de impactar as diversas realidades de saúde vigentes no país. Em resumo, o modelo de saúde criticado tinha como características: a extensão da cobertura previdenciária somente a segmentos economicamente integrados da população urbana; o privilégio da prática médica curativa e individual em detrimento das ações coletivas; a criação de um complexo médico-industrial; o deslocamento da prestação dos serviços médicos a entes privados lucrativos e não lucrativos. As mudanças políticas e econômicas que se deram nos anos 1970 e 1980 determinaram o esgotamento desse modelo sanitário. Em março de 1986, ocorreu o evento político-sanitário mais importante da segunda metade do século passado, a VIII Conferência Nacional de Saúde, onde foram lançadas as bases doutrinárias de um novo sistema público de saúde. O AN02FREV001/REV 4.0 36 relatório final da conferência colocou três grandes referenciais para a reforma sanitária brasileira: um conceito amplo de saúde; a saúde como direito da cidadania e dever do Estado; a instituição de um sistema único de saúde, organizado pelos princípios da universalidade, da integralidade, da descentralização e da participação da comunidade. O setor de saúde – marcado por uma história de desigualdades, dissociação de comando entre esferas de governo e fragmentação/duplicidade da prestação de serviços – vivenciou, assim, um sólido movimento pró-reforma sanitária. Várias forças políticas oriundas da sociedade civil e articuladas ao Movimento Sanitarista disputaram, na época, no âmbito político, a conquista de uma proposta de reforma sanitária que privilegiasse a universalidade de atendimento nos serviços de saúde e o dever do Estado em garantir esse direito. Essas propostas reformistas foram consagradas pela Constituição de 1988, que estabeleceu o lema: “Saúde é direito de todos e dever do Estado.” Alinhando-se às diretrizes da Organização Mundial da Saúde, a Constituição Brasileira reconhece que a saúde depende de condições de bem-estar físico, mental e social, sendo diretamente influenciada pela alimentação, moradia, saneamento básico, meio ambiente, trabalho, renda, educação, transporte, lazer e o acesso aos bens e serviços sociais. O novo sistema de saúde apontava para a superação do modelo assistencial, dominado pela assistência individual, propondo um novo modelo baseado na integralidade da atenção à saúde. O Sistema Único de Saúde (SUS) pôs fim, em pouco tempo, à figura iníqua dos indigentes sanitários, promovendo a integração do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS) ao Sistema Público Único de Saúde. O mercado deixava de ser o principal critério para organizar e distribuir serviços. Em seu lugar, surge o planejamento, realizado não a partir do poder aquisitivo das pessoas, mas de suas necessidades em saúde. O atendimento passa a ser universal – todos podem utilizar o sistema, gratuito e organizado; hierarquizado, segundo a complexidade da atenção e regionalizado, conforme a distribuição populacional e do quadro de morbimortalidade das comunidades. AN02FREV001/REV 4.0 37 Dessa forma, o SUS rompeu com a trajetória de formação do Estado brasileiro assentada na centralização e com uma concepção de cidadania que vinculava os direitos sociais à inserção no mercado de trabalho. Assim, o SUS veio atualizar a concepção do processo saúde/doença, na visão de uma nova prática sanitária, articulando a dimensão biológica da doença à sua dimensão social e econômica. O conceito de saúde evolui de uma concepção negativa (ausência de doença) para uma concepção afirmativa (qualidade de vida) e a dinâmica da saúde passa a ser compreendida como uma acumulação ou produção social, sujeita a permanente transformação. Tem como campo de conhecimento a interdisciplinaridade e como campo de práticas a intersetorialidade. Não foi suficiente, porém, dispor de uma base jurídico-formal ampla para resolver os importantes problemas de saúde dos brasileiros. É nesse contexto que a Estratégia Saúde da Família surge como elemento dinamizador do SUS e como eixo estruturante rumo à reorientação do modelo de atenção à saúde – a partir do primeiro nível do cuidar, da atençãobásica, em conformidade com os princípios do Sistema Único de Saúde. Sua implantação foi precedida pela experiência do Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS), instituído pelo Ministério da Saúde, em 1991. A partir daí, começou–se a enfocar a família como unidade de ação programática de saúde e não mais (tão somente) o indivíduo. Cabe assinalar que o êxito do PACS impulsionou a formação do Programa Saúde da Família (PSF), levando ao primeiro documento do programa, com a data de setembro de 1994. Ao propor o PSF, o Governo Federal teve dois grandes objetivos: o primeiro foi, sem dúvida, substituir o modelo assistencial-curativo/hospitalocêntrico pelo modelo preventivo, ou seja, pelo modelo de atenção primária à saúde, e com isso racionalizar os altos custos da saúde pública no Brasil. O segundo grande objetivo foi descentralizar as políticas de saúde, na intenção de tornar a saúde pública mais resolutiva, adotando uma postura de parceria com os governos estaduais e municipais. Esse movimento de “olhar a família” se deu em muitos países e a formulação do PSF teve a seu favor o desenvolvimento anterior de modelos de assistência à família no Canadá, Cuba, Suécia e Inglaterra, que serviram de referência para a formulação do programa brasileiro. Embora rotulado como AN02FREV001/REV 4.0 38 programa, o PSF, por suas especificidades, foge à concepção usual dos demais concebidos pelo Ministério da Saúde, já que não é uma intervenção vertical e paralela às atividades dos serviços de saúde. Pelo contrário, caracteriza-se como estratégia que possibilita a integração e promove a organização das atividades em um território definido com o propósito de enfrentar e resolver os problemas identificados. Para que essa nova prática se concretize, faz-se necessária não só a implantação de políticas públicas, mas também de mudanças no perfil dos profissionais de saúde. O novo modelo demanda a presença de um profissional com visão sistêmica e integral do indivíduo, família e comunidade, um profissional capaz de atuar com criatividade e senso crítico, mediante uma prática humanizada, competente e resolutiva, que envolve ações de promoção, de proteção específica, assistencial e de reabilitação. O profissional adequado para o trabalho nas unidades do PSF é aquele que tem sensibilidade para com as questões sociais aliada à disposição para as atividades em comunidade. Um profissional capacitado para planejar, organizar, desenvolver e avaliar ações que respondam às reais necessidades da comunidade, articulando os diversos setores envolvidos na promoção da saúde. Para tanto, deve realizar uma permanente interação com a comunidade, no sentido de mobilizá-la, estimular sua participação e envolvê-la nas atividades. O fio condutor que desenha a prática dos integrantes das unidades do Saúde da Família não é o conhecimento técnico, mas sim, o saber humanitário e o agir solidário. O Programa de Saúde da Família teve, assim, sua implantação iniciada em 1994, como resposta intencional à conjuntura da crise na saúde, e conta hoje com um total de 29,3 mil equipes de Saúde da Família implantadas em 5.235 municípios, garantindo cobertura populacional de 49,5% da população brasileira, o que corresponde a aproximadamente 93,178 milhões de pessoas (DAB, 2008). AN02FREV001/REV 4.0 39 1.4 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS E OPERACIONALIZAÇÃO A Saúde da Família é operacionalizada mediante a implantação de equipes multiprofissionais em unidades básicas de saúde. As equipes de Saúde da Família têm como objetivos centrais a prestação de assistência integral, contínua, com resolutividade e qualidade, às necessidades de saúde da população adscrita, destacando-se a perspectiva da família. Para atingir tais objetivos, requer-se abordagem multidisciplinar, processos diagnósticos de realidade, planejamento das ações e organização horizontal do trabalho, compartilhamento do processo decisório, além do estímulo ao exercício do controle social. As equipes atuam com ações de promoção da saúde, prevenção, recuperação, reabilitação de doenças e agravos mais frequentes, e na manutenção da saúde desta comunidade. Conhecer a realidade das famílias pelas quais é responsável, por meio do cadastramento destas e do diagnóstico de suas características sociais, demográficas e epidemiológicas; identificar os problemas de saúde prevalentes e situações de risco aos quais a população está exposta; elaborar, com a participação da comunidade, um plano local para o enfrentamento dos determinantes de processo saúde/doença; prestar assistência integral, respondendo de forma contínua e racionalizada à demanda organizada ou espontânea na USF, na comunidade, no domicílio e no acompanhamento ao atendimento, nos serviços de referência ambulatorial ou hospitalar; desenvolver ações educativas e intersetoriais para o enfrentamento dos problemas de saúde identificados; são ações para as quais as equipes devem estar preparadas. (Ministério da Saúde – Programa da Saúde da Família). A produção do cuidado traz consigo a proposta de humanização do processo de desenvolver ações e serviços de saúde. Implica a responsabilização dos serviços e dos trabalhadores da saúde, em construir, com os usuários, a resposta possível às suas dores, angústias, problemas e aflições, de uma forma tal que não apenas se produzam consultas e atendimentos, mas que o processo de consultar e atender venha a produzir conhecimento, responsabilização e autonomia em cada usuário. Assim, as ações e serviços devem resultar de um adequado conhecimento da realidade de saúde de cada localidade para, a partir disso, construir uma prática AN02FREV001/REV 4.0 40 efetivamente resolutiva. É imprescindível, em cada território, aproximar-se das pessoas e tentar conhecê-las: suas condições de vida, as representações e as concepções que têm acerca de sua saúde, seus hábitos e as providências que tomam para resolver seus problemas quando adoecem, bem como o que fazem para evitar enfermidades. O Ministério da Saúde procura deixar claro que não se trata de um atendimento simplificado, pelo contrário, é uma expansão da atenção primária à saúde em direção à incorporação de práticas preventivas, educativas e curativas mais próximas da vida cotidiana da população e, principalmente, dos grupos mais vulneráveis. A Estratégia Saúde da Família (ESF) está inserida no primeiro nível de ações e serviços do sistema local de assistência, denominado Atenção Básica ou Primária. A Atenção Primária à Saúde (APS) tem sido associada a uma assistência de baixo custo, pois parece tratar-se de serviço simples e quase sempre com poucos equipamentos, embora seja uma abordagem tecnológica específica de organizar a prática e, como tal, dotada de particular complexidade. A APS, ao ser um primeiro atendimento, servirá obrigatoriamente de porta de entrada para o sistema de assistência, ao mesmo tempo em que constitui um nível próprio de atendimento. Deve estar vinculada à rede de serviços, de forma que se garanta atenção integral aos indivíduos e famílias. A responsabilidade pelo acompanhamento das famílias coloca para as equipes de Saúde da Família a necessidade de ultrapassar os limites classicamente definidos para a atenção básica no Brasil, especialmente no contexto do SUS, buscando assegurar a referência e contrarreferência para clínicas e serviços de maior complexidade, sempre que essa conduta se fizer necessária. Assim, a saúde da família e da coletividade poderá desenvolver-se de forma mais plena caso seja compreendida não como um programa para a saúde restrito a procedimentos organizacionais e financeiros, mas como projeto concreto, dotado de interesses, diversidade, desejos e intencionalidades com o objetivo de formular políticas e dar resposta às necessidades em saúde da população.Quanto à sua resolutividade, o Ministério da Saúde afirma que, funcionando adequadamente, as Unidades de Saúde da Família (USFs) são capazes de resolver 85% dos problemas de saúde em sua comunidade, prestando um atendimento de bom nível, prevenindo doenças, evitando internações desnecessárias e melhorando AN02FREV001/REV 4.0 41 a qualidade de vida da população. De acordo com os estudos de Stein (1998), o fácil acesso dos usuários aos atendimentos primários de saúde chega a diminuir em até três vezes o atendimento de casos não urgentes nos setores de emergência dos hospitais. Isso significa dizer que o modelo de atenção primária integral à saúde, quando implantado numa região definida, subtrai as consultas não urgentes dos centros hospitalares, desafogando o sistema de maior complexidade e facilitando o acesso ao atendimento médico. Considerações sobre a implantação das Equipes de Saúde da Família: a equipe multiprofissional mínima deverá ser composta por médico, enfermeiro, auxiliar de enfermagem ou técnico de enfermagem e agentes comunitários de saúde; cada equipe será responsável por, no máximo, 4 mil habitantes, sendo a média recomendada de 3 mil habitantes. A jornada de trabalho é de 40 horas semanais para todos os integrantes da equipe; o número máximo de ESFs pelas quais o município e o Distrito Federal podem fazer jus ao recebimento de recursos financeiros específicos será calculado pela fórmula: população/2400; o número de agentes comunitários de Saúde (ACS) deve ser suficiente para cobrir 100% da população cadastrada, respeitando-se a proporção de 750 pessoas por ACS, e de 12 ACS por equipe de Saúde da Família; os profissionais de Saúde Bucal poderão ser incorporados segundo duas modalidades. Na modalidade um, a equipe contará com cirurgião dentista e auxiliar de consultório dentário. Na modalidade dois, poderá ser incluído também um técnico em higiene bucal. A carga horária dos profissionais deverá ser de 40 horas semanais, com trabalho integrado a uma ou duas equipes ESF, e com responsabilidade sanitária pela mesma população e território que as ESF às quais estão vinculados. AN02FREV001/REV 4.0 42 1.4.1 ALÉM DOS PRINCÍPIOS GERAIS DA ATENÇÃO BÁSICA: Além dos princípios gerais da atenção básica, a estratégia saúde da família deve: I – ter caráter substitutivo em relação à rede de Atenção Básica tradicional nos territórios em que as Equipes Saúde da Família atuam, ou seja, o PSF não significa a criação de novas estruturas de serviços, exceto em áreas desprovidas de qualquer tipo de serviço. Implantá-lo significa substituir as práticas tradicionais de assistência, com foco nas doenças, por um novo processo de trabalho comprometido com a solução dos problemas de saúde, a prevenção de doenças e a promoção da qualidade de vida da população; II – atuar no território, realizando cadastramento domiciliar, diagnóstico situacional, ações dirigidas aos problemas de saúde de maneira pactuada com a comunidade onde atua, buscando o cuidado dos indivíduos e das famílias ao longo do tempo, mantendo sempre postura proativa frente aos problemas de saúde/doença da população; III – desenvolver atividades de acordo com o planejamento e a programação realizados, com base no diagnóstico situacional e tendo como foco a família e a comunidade; IV – buscar a integração com instituições e organizações sociais, em especial em sua área de abrangência, para o desenvolvimento de parcerias; V – ser um espaço de construção de cidadania. AN02FREV001/REV 4.0 43 1.4.2 CARACTERÍSTICAS DO TRABALHO DAS EQUIPES DE ATENÇÃO B São características do processo de trabalho das Equipes de Atenção Básica: I – definição do território de atuação das Unidades Básicas de Saúde; II – programação e implementação das atividades, com a priorização de solução dos problemas de saúde mais frequentes, considerando a responsabilidade da assistência resolutiva à demanda espontânea; III – desenvolvimento de ações educativas que possam interferir no processo de saúde/doença da população e ampliar o controle social na defesa da qualidade de vida; IV – desenvolvimento de ações focalizadas sobre os grupos de risco e fatores de risco comportamentais, alimentares e/ou ambientais, com a finalidade de prevenir o aparecimento ou a manutenção de doenças e danos evitáveis; V – assistência básica integral e contínua, organizada à população adscrita, com garantia de acesso ao apoio diagnóstico e laboratorial; VI – implementação das diretrizes da Política Nacional de Humanização, incluindo o acolhimento; VII – realização de primeiro atendimento às urgências médicas e odontológicas; VIII – participação das equipes no planejamento e na avaliação das ações; IX – desenvolvimento de ações intersetoriais, integrando projetos sociais e setores afins, voltados para a promoção da saúde; e X – apoio a estratégias de fortalecimento da gestão local e do controle social. AN02FREV001/REV 4.0 44 1.4.3 CARACTERÍSTICAS DO PROCESSO DE TRABALHO DA SAÚDE DA FAMÍLIA São características do processo de trabalho da Saúde da Família: I – manter atualizado o cadastramento das famílias e dos indivíduos e utilizar, de forma sistemática, os dados para a análise da situação de saúde considerando as características sociais, econômicas, culturais, demográficas e epidemiológicas do território; II – definição precisa do território de atuação, mapeamento e reconhecimento da área adstrita, que compreenda o segmento populacional determinado, com atualização contínua; III – diagnóstico, programação e implementação das atividades segundo critérios de risco à saúde, priorizando solução dos problemas de saúde mais frequentes; IV – prática do cuidado familiar ampliado, efetivada por meio do conhecimento da estrutura e da funcionalidade das famílias que visa propor intervenções que influenciem os processos de saúde/doença dos indivíduos, das famílias e da própria comunidade; V – trabalho interdisciplinar e em equipe, integrando áreas técnicas e profissionais de diferentes formações; VI – promoção e desenvolvimento de ações intersetoriais, buscando parcerias e integrando projetos sociais e setores afins, voltados para a promoção da saúde, de acordo com prioridades e sob a coordenação da gestão municipal; VII – valorização dos diversos saberes e práticas na perspectiva de uma abordagem integral e resolutiva, possibilitando a criação de vínculos de confiança com ética, compromisso e respeito; VIII – promoção e estímulo à participação da comunidade no controle social, no planejamento, na execução e na avaliação das ações; IX – acompanhamento e avaliação sistemática das ações implementadas, visando à readequação do processo de trabalho. AN02FREV001/REV 4.0 45 2 AS ATRIBUIÇÕES DOS PROFISSIONAIS DAS EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA, DE SAÚDE BUCAL E DE ACS 2.1 SÃO ATRIBUIÇÕES COMUNS A TODOS OS PROFISSIONAIS I – participar do processo de territorialização e mapeamento da área de atuação da equipe, identificando grupos, famílias e indivíduos expostos a riscos, inclusive aqueles relativos ao trabalho, e da atualização contínua dessas informações, priorizando as situações a serem acompanhadas no planejamento local; II – realizar o cuidado em saúde da população adscrita, prioritariamente no âmbito da unidade de saúde, no domicílio e nos demais espaços comunitários (escolas, associações, entre outros), quando necessário; III – realizar ações de atenção integral, conforme a necessidade de saúde da população local, bem como as previstas nas prioridades e protocolos da gestão local; IV – garantir a integralidade da atenção, por meio da realização de ações de promoção da saúde, prevenção de agravos e curativas; e da
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