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Formação Profissional em Saúde Coletiva - Saúde da Família - Módulo 01

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Prévia do material em texto

AN02FREV001/REV 4.0 
 1 
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA 
Portal Educação 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE 
SAÚDE DA FAMÍLIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aluno: 
 
EaD - Educação a Distância Portal Educação 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE 
SAÚDE DA FAMÍLIA 
 
 
 
 
 
MÓDULO I 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este 
Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do 
mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são 
dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 3 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
MÓDULO I 
1 SAÚDE PREVENTIVA 
1.1 E O QUE FALAR ENTÃO DA SAÚDE PREVENTIVA? 
1.2 COMO ENTÃO PROMOVER A SAÚDE? 
1.2.1 O que dizer então de preparar as comunidades para enfrentamento a 
desastres naturais? 
1.2.1.1 Por que desastre? 
1.2.1.2 Por que ocorreu? 
1.2.1.2.1 Sob o ponto de vista meteorológico 
1.2.1.2.2 Sob o ponto de vista ambiental 
1.2.1.2.3 Sob o ponto de vista político e social 
1.2.1.2.4 Sob o ponto de vista da Defesa Civil 
1.2.1.2.5 Sob o ponto de vista de Gerenciamento de Crises 
1.2.1.2.6 Sob o ponto de vista cultural 
1.2.1.2.7 Sob o ponto de vista da Saúde da Família 
1.3 ANTECEDENTES DO PROCESSO DE REORGANIZAÇÃO DA SAÚDE 
PÚBLICA NO BRASIL 
1.4 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS E OPERACIONALIZAÇÃO 
1.4.1 ALÉM DOS PRINCÍPIOS GERAIS DA ATENÇÃO BÁSICA: 
1.4.2 CARACTERÍSTICAS DO TRABALHO DAS EQUIPES DE ATENÇÃO BÁSICA 
1.4.3 CARACTERÍSTICAS DO PROCESSO DE TRABALHO DA SAÚDE DA 
FAMÍLIA 
2 AS ATRIBUIÇÕES DOS PROFISSIONAIS DAS EQUIPES DE SAÚDE DA 
FAMÍLIA, DE SAÚDE BUCAL E DE ACS 
2.1 SÃO ATRIBUIÇÕES COMUNS A TODOS OS PROFISSIONAIS 
2.2 ATRIBUIÇÕES ESPECÍFICAS 
2.2.1 Do agente comunitário de saúde 
2.2.2 Do enfermeiro 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 4 
2.2.3 Do médico 
2.2.4 Do técnico de Enfermagem 
2.2.5 Do cirurgião-dentista 
2.2.6 Do técnico em Higiene Dental (THD) 
2.2.7 Do auxiliar de consultório dentário (ACD) 
3 O TRABALHO EM EQUIPE E A TRANSDISCIPLINARIDADE 
4 USO DE TECNOLOGIAS LEVES NA PROMOÇÃO DA SAÚDE: AS VISITAS 
DOMICILIARES E AS ATIVIDADES COLETIVAS 
4.1 O PAPEL DAS ATIVIDADES COLETIVAS 
4.1.1 Pedagogia tradicional 
4.1.2 Pedagogia renovada 
4.1.3 Pedagogia por condicionamento 
4.1.4 Pedagogia crítica 
4.1.5 Pedagogia libertadora ou da problematização 
5 PLANEJANDO UM GRUPO EDUCATIVO 
6 ASPECTOS ÉTICOS NO TRABALHO EM EQUIPE, NO DOMÍCILIO E NA 
INTERFACE COM A COMUNIDADE 
 
 
MÓDULO II 
7 TERMINOLOGIA DA SAÚDE 
8 PLANEJAMENTO E PROGRAMAÇÃO EM SAÚDE 
8.1 PASSO 1 – DEFINIÇÃO DO TERRITÓRIO 
8.2 PASSO 2 – DEFINIÇÃO DA SITUAÇÃO ATUAL DA SAÚDE DA POPULAÇÃO 
ADSCRITA 
8.3 PASSO 3 – IDENTIFICAÇÃO DOS PRINCIPAIS PROBLEMAS DE SAÚDE DA 
POPULAÇÃO QUE SE QUER ABORDAR 
8.4 PASSO 4 – ANÁLISE DOS DETERMINANTES DO PROBLEMA: A ÁRVORE 
EXPLICATIVA 
8.5 PASSO 5 – LEVANTAMENTO DE RECURSOS 
8.6 PASSO 6 – PROGRAMAÇÃO DAS AÇÕES 
9 EPIDEMIOLOGIA 
9.1 CONTROLE DA HANSENÍASE 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 5 
9.2 CONTROLE DA TUBERCULOSE 
9.3 DIABETES E HIPERTENSÃO 
9.4 SAÚDE DA CRIANÇA 
9.5 SAÚDE DA MULHER 
9.6 SAÚDE DO IDOSO 
9.7 SAÚDE BUCAL 
10 PROMOÇÃO DA SAÚDE 
10.1 PROCESSO SAÚDE/DOENÇA E HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA 
10.2 VIGILÂNCIA E INVESTIGAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA 
10.3 LISTA NACIONAL DE AGRAVOS DE NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA 
11 INDICADORES DE SAÚDE E SISTEMATIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO 
11.1 COEFICIENTE OU TAXA 
11.2 PROPORÇÃO 
11.3 RAZÃO 
12 SISTEMATIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO EM SAÚDE 
12.1 INDICADORES DE MORTALIDADE 
12.1.1 Taxa de Mortalidade Geral (TMG) 
12.1.2 Taxa de Mortalidade Infantil (TMI) 
12.1.3 Taxa de Mortalidade Infantil Precoce (TMIP – neonatal) 
12.1.4 Taxa de Mortalidade Infantil Tardia (TMIT) 
12.1.5 Razão de Mortalidade Materna (RMM) 
12.1.6 Taxa de Mortalidade por Causa (TMC) 
12.1.7 Taxa de Letalidade (TL) 
12.1.8 Razão de Mortalidade Proporcional (RMP) 2 ou Indicador de Swaroop-
Uemura 
12.1.9 Coeficiente de Mortalidade por Doenças Transmissíveis 
12.2 INDICADORES DE MORBIDADE 
12.2.1 Taxa de Incidência 
12.2.2 Taxa de Prevalência 
12.2.3 Taxa de Ataque (TA) 
12.2.4 Distribuição Proporcional (DP) 
12.2.5 Cobertura Vacinal (CV) 
12.3 ANÁLISE DA OCORRÊNCIA DAS DOENÇAS: ENDEMIAS E EPIDEMIAS 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 6 
12.3.1 Formas de ocorrência das doenças 
12.3.1.1 Caso esporádico 
12.3.1.2 Conglomerado temporal de casos 
12.3.1.3 Endemia 
12.3.1.4 Epidemia 
12.3.1.6 Pandemia 
12.3.1.7 Doenças transmissíveis com tendência declinante 
12.3.1.8 Doenças transmissíveis com quadro de persistência 
12.3.1.9 Doenças transmissíveis emergentes e reemergentes 
13 ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL 
13.1 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA 
 
 
MÓDULO III 
14 NUTRIÇÃO NA GESTAÇÃO E LACTAÇÃO 
14.1 IMPORTÂNCIA DA BOA NUTRIÇÃO NA GESTAÇÃO 
14.2 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL 
14.3 RECORDATÓRIO DE 24 HORAS 
14.4 QUESTIONÁRIO DE FREQUÊNCIA DE CONSUMO DE ALIMENTOS (QFCA) 
14.5 REGISTRO DE CONSUMO DE ALIMENTOS (RCA) 
14.6 HISTÓRIA ALIMENTAR OU DIETÉTICA (HA) 
14.7 LACTAÇÃO 
15 NUTRIÇÃO NA INFÂNCIA E NA ADOLESCÊNCIA 
15.1 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL 
15.2 PONTOS DE CORTE ESTABELECIDOS PARA ADOLESCENTES 
15.3 RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS 
16 NUTRIÇÃO DO ADULTO 
16.1 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL DO ADULTO (≥ 20 E < 60 ANOS DE IDADE) 
16.2 RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS E ALIMENTARES 
17 NUTRIÇÃO DO IDOSO 
17.1 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL 
17.2 PIRÂMIDE ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO IDOSA 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 7 
17.3 RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS E ALIMENTARES - ORIENTAÇÕES 
PRÁTICAS 
18 SUPORTE BÁSICO DE VIDA 
18.1 ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR E AVALIAÇÃO INICIAL DA VÍTIMA 
18.2 PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA 
18.3 COMO RECONHECER OS SINAIS DE UMA PARADA 
CARDIORRESPIRATÓRIA (PCR)? 
18.4 OBJETIVOS DAS MANOBRAS DE REANIMAÇÃO CARDIOPULMONAR 
(MRCP) 
18.5 PROTOCOLO DE REANIMAÇÃO CARDIOPULMONAR (DIRETRIZES INCOR 
2005) 
18.6 SEQUÊNCIA RESUMIDA DOS PASSOS PARA EXECUÇÃO DO SUPORTE 
BÁSICO DE VIDA E MANOBRAS DE RCP 
18.6.1 Vias aéreas 
18.6.1.1 Obstrução das vias aéreas por corpos estranhos (OVACE) 
18.6.2 Boa ventilação 
18.6.3 Circulação 
 
 
MÓDULO IV 
19 O IDOSO E A ABORDAGEM DA SAÚDE DA FAMÍLIA 
19.1 COMO ABORDAR O IDOSO NA SAÚDE DA FAMÍLIA? 
19.2 ACESSO AO IDOSO 
19.3 ANAMNESE 
19.4 EXAME FÍSICO 
19.5 AVALIAÇÃO DO STATUS FUNCIONAL 
19.6 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL 
19.7 AVALIAÇÃO DA VISÃO 
19.8 AVALIAÇÃO DA AUDIÇÃO 
19.9 AVALIAÇÃO COGNITIVA 
19.10 AVALIAÇÃO SOCIAL 
20 ABORDAGEM DA CRIANÇA E PROBLEMAS MAIS COMUNS 
20.1 TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 8 
20.2 ALEITAMENTO MATERNO 
20.3 ACIDENTES NA INFÂNCIA 
20.4 DOENÇAS INFECCIOSAS 
20.5 PREVENÇÃO DA DESIDRATAÇÃO 
20.6 IMUNIZAÇÃO 
20.6.1 Vacinação no Brasil – histórico 
21 ABORDAGEM DO ADOLESCENTE E PROBLEMAS MAIS COMUNS 
21.1 PREVENÇÃO À VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES 
21.2 GRAVIDEZ E ADOLESCÊNCIA 
 
 
MÓDULO V 
22 SAÚDE DO HOMEM E DA MULHER – PROBLEMAS COMUNS 
22.1 DOENÇAS CARDIOVASCULARES 
22.1.1 Hipertensão arterial 
22.1.1.1 Procedimento para a medida da pressão arterial 
22.1.2 Doença coronariana 
22.2 DIABETES MELLITUS 
22.3 NEOPLASIAS 
22.3.1 Câncer de pulmão 
22.3.2 Câncer de útero 
22.3.2.1 O exame preventivo 
22.3.3 Câncer de próstata 
22.3.4 Câncer colorretal 
22.4 TRAUMA E SUA PREVENÇÃO 
22.5 IMUNIZAÇÃO DO ADULTO 
22.6 SAÚDE MENTAL 
22.6.1 Depressão 
22.6.1.1 Fatores de risco para depressão 
22.6.2 Ansiedade 
22.6.3 Síndrome do ninho vazio 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 9 
 
 
MÓDULO I 
 
 
1 SAÚDE PREVENTIVA 
 
 
O Ministério da Saúde define Saúde da Família da seguinte forma: 
 
A Saúde da Família é entendida como uma estratégia de reorientação do 
modelo assistencial, operacionalizada mediante a implantação de equipes 
multiprofissionaisem unidades básicas de saúde. Essas equipes são 
responsáveis pelo acompanhamento de um número definido de famílias, 
localizadas em uma área geográfica delimitada. As equipes atuam com 
ações de promoção da saúde, prevenção, recuperação, reabilitação de 
doenças e agravos mais frequentes e de manutenção da saúde desta 
comunidade. (PORTAL DA SAÚDE, 2010, s. p.). 
 
Ou seja, a definição de Saúde da Família do Ministério da Saúde se 
confunde com o programa implementado pela mesma instituição intitulado 
Programa de Saúde da Família (PSF). Pela definição, podemos entender que à luz 
do Ministério da Saúde, a Saúde da Família possui as seguintes características: 
 uma estratégia de reorientação do modelo assistencial; 
 a operacionalização dá-se pela implantação de equipes 
multidisciplinares em unidades básicas de saúde; 
 as equipes são responsáveis pelo acompanhamento de um número 
determinado de famílias, dentro de um espaço físico delimitado; 
 a atuação das equipes é focada em ações de promoção da saúde, 
prevenção, recuperação, reabilitação de doenças e agravos mais frequentes, 
além da manutenção da saúde da comunidade. 
Com essas características, podemos entender que: 
 o PSF não é um atendimento ambulatorial nem emergencial nos moldes 
tradicionais; 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 10 
 o PSF é operacionalizado por profissionais de diversas áreas e, 
portanto, não é uma especialidade médica, embora a equipe deva ter 
médicos, preferencialmente, especialistas em Medicina da Família; 
 há uma atuação direcionada para o atendimento de um grupo limitado 
de pessoas que passarão a receber assistência de forma contínua; 
 a delimitação da atuação das equipes dá-se pelo espaço geográfico e 
não pelo nível social da população atendida; 
 as ações compreendem desde a prevenção e a promoção de saúde, 
motivo de estudo desta disciplina, até a reabilitação e a manutenção da 
saúde da comunidade. 
A Medicina de Família é uma especialidade médica e não se confunde com 
o entendimento de Saúde da Família, que é mais amplo e multidisciplinar. 
A Medicina de Família é amplamente utilizada em países como Inglaterra, 
Estados Unidos, Canadá, dentre outros. 
A Academia Americana de Medicina de Família (American Academy of 
Family Physicians - AAFP) assim conceitua esta especialidade: 
 
Medicina de Família é a especialidade médica que tem por objetivos 
promover o cuidado contínuo de saúde para o indivíduo e a família. É uma 
especialidade que integra a Biologia e as Ciências Clínicas e 
Comportamentais. O escopo da família engloba todas as idades, ambos os 
sexos, todos os órgãos e sistemas e doenças associadas. 
 
Percebe-se, portanto, que é uma especialidade com grande área de 
abrangência e que requer, do médico, atuação nas quatro áreas básicas da 
medicina: Pediatria, Clínica Médica, Ginecologia e Cirurgia Geral. Embora não atue 
como especialista em cada uma dessas áreas de forma isolada. 
A atenção do especialista em Medicina de Família, cuja especialidade, no 
Brasil, recebe o nome de Medicina de Família e Comunitária, é voltada 
principalmente para a atenção primária de saúde. O PSF assim como as ações de 
atenção primária de saúde, típicas do envolvimento do especialista de Medicina de 
Família, não são exclusivas desses profissionais. 
Conforme já explicamos, as ações são multiprofissionais e estão abertas 
para médicos de outras áreas, que deverão, neste caso, conhecer e adquirir novas 
habilidades para atuação nesse importante campo da medicina. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 11 
Segundo dados do Ministério da Saúde de 2007: 
 Equipes de Saúde da Família 
Total de Equipes de Saúde da Família implantadas: 27.324; 
Total de Municípios: 5.125; 
Cobertura populacional: cobrindo 46,6% da população brasileira, o que 
corresponde a cerca de 87,7 milhões de pessoas. 
 Equipes de Saúde Bucal 
Total de Equipes de Saúde Bucal implantadas: 15,7 mil; 
Total de Municípios: 4,3 mil; 
Cobertura populacional: 40,9% da população brasileira, o que 
corresponde a cerca de 77 milhões de pessoas. 
 Agentes Comunitários de Saúde 
Total de Agentes Comunitários de Saúde: 211 mil; 
Total de Municípios: 5,3 mil; 
Cobertura populacional: 56,8% da população brasileira, o que 
corresponde a cerca de 107,0 milhões de pessoas. 
O investimento em 2007 na estratégia de Saúde da Família: R$ 4,064 
milhões. 
Podemos perceber pelos dados acima, que boa parte dos municípios 
brasileiros conta com a assistência de equipes de Saúde da Família, mas, é ainda 
grande o desafio para atingir toda a população ou pelo menos quase toda. 
O gráfico diagramado (Gráfico 1) a seguir mostra a “Meta e Evolução do 
Número de Equipes de Saúde da Família Implantadas no Brasil, de 1994 a março de 
2009”, em que podemos perceber que as ações realizadas estão bem próximas da 
meta projetada – e, ao mesmo tempo, o crescimento no número de equipes de 
Saúde da Família implantadas. Já o gráfico posterior (Gráfico 2) mostra a evolução 
no número de municípios com Programas de Saúde da Família implantados. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 12 
 
 
GRÁFICO 1 - META E EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE EQUIPES DE SAÚDE DA 
FAMÍLIA IMPLANTADAS NO BRASIL, DE 1994 A 2009 
 
FONTE: Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB). 
 
 
GRÁFICO 2 - EVOLUÇÃO NO NÚMERO DE MUNICÍPIOS COM PROGRAMAS DE 
SAÚDE DA FAMÍLIA IMPLANTADOS 
 
FONTE: Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB). 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 13 
O Ministério da Saúde, por meio de sua Política Nacional de Atenção Básica, 
assim define: 
 
A Atenção Básica caracteriza-se por um conjunto de ações de saúde, no 
âmbito individual e coletivo, que abrange a promoção e a proteção da 
saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação 
e a manutenção da saúde. É desenvolvida por meio do exercício de 
práticas gerenciais e sanitárias democráticas e participativas, sob forma 
de trabalho em equipe, dirigidas a populações de territórios bem 
delimitados, pelas quais assume a responsabilidade sanitária, 
considerando a dinamicidade existente no território em que vivem essas 
populações. Utiliza tecnologias de elevada complexidade e baixa 
densidade, que devem resolver os problemas de saúde de maior 
frequência e relevância em seu território. É o contato preferencial dos 
usuários com os sistemas de saúde. (DAB, 2010, s. p.). 
 
Orienta-se pelos princípios da universalidade, da acessibilidade e da 
coordenação do cuidado, do vínculo e da continuidade, da integralidade, da 
responsabilização, da humanização, da equidade e da participação social. 
A partir dessa conceituação, podemos perceber como a Atenção Básica é 
importante, ampla e se impõe como desafio. 
Ao orientar-se pela universalidade e acessibilidade, mostra que a 
preocupação deve ser igual para todos, sem distinções de quaisquer tipos. 
Anteriormente, apresentamos gráficos e números que mostram a evolução 
na implementação de Programas de Saúde da Família nos municípios brasileiros. O 
grande cuidado que devemos ter ao analisar tais números diz respeito à própria 
definição de Atenção Básica, ao afirmar que esta deve ser o contato preferencial 
com os sistemas de saúde. Assim, o fato de se ter a implantação de equipes de 
Saúde da Família em um determinado município não obrigatoriamente garante que 
toda a população daquele local está sendo atendida pelo Programa. Em grandes 
municípios como São Paulo, por exemplo, poderíamos ter centenas de equipes 
trabalhando, sem, no entanto, garantir a universalidade, a acessibilidade e o contato 
preferencial do usuário com os sistemas de saúde. 
O sistema britânico de Saúde da Família prevê equipes de saúde 
multidisciplinares em todas as comunidades e, geralmente, é por meio destes 
profissionais que se dá o primeiro contato com o sistema de saúde, conhecido como 
National Health System (NHS) – Sistema Nacional de Saúde, em português. Pelo 
site (<http://www.nhs.uk/Pages/HomePage.aspx>),é possível aos usuários do 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 14 
sistema ter acesso a orientações de saúde, medidas preventivas, como também 
encontrar o médico de família mais próximo (basta inserir o equivalente ao CEP de 
onde a pessoa reside). Naquele país, o sistema é universal e de fácil acesso e de 
fato, na maioria das vezes, dá-se por meio da Saúde da Família e do médico por lá 
denominado general practitioner (GP). Há mais de 10 anos, o NHS tem permitido 
aos seus profissionais (médicos, dentistas, enfermeiros) criarem mecanismos e 
estratégias para promover a atenção básica de saúde em suas comunidades. 
Sistema semelhante possui o Canadá. O sistema público de saúde é 
universal, de fácil acessibilidade, no entanto, varia conforme o estado em que o 
usuário vive. Durante muitos anos, o Canadá vem tentando, mediante suas 
associações médicas, manter a proporção de 50/50, na formação de médicos de 
família e especialistas, o que não tem sido fácil pela tendência global na medicina de 
formação cada vez maior de especialistas, com prejuízo à atenção de saúde primária. 
O profissional envolvido em Saúde da Família possui uma grande vantagem 
diante dos demais profissionais de saúde. A maioria dos agravos à saúde das 
pessoas é de alguma forma afetada pelo meio ambiente e as relações sociais em 
que o indivíduo está inserido. Se não determina o início da doença, certamente 
influencia no seu processo de resolução. 
Quando um paciente entra em um consultório médico, em um ambulatório 
ou em um hospital, a relação estabelecida entre médico/paciente é feita a partir da 
empatia recíproca e da necessidade de o paciente expor o que o aflige. O médico, 
por sua vez, faz o diagnóstico com base na história contada e nos achados 
semiológicos, não havendo, contudo, uma visão multidisciplinar, tampouco a 
possibilidade de se estudar o caso desde a sua origem, e nem em que contexto este 
paciente desenvolve suas atividades diárias. 
Um perito é normalmente designado para dar pareceres técnicos sobre 
determinado assunto de seu conhecimento. Para isso, com frequência, ele dirige-se 
ao local onde ocorreram os fatos ou onde está o objeto ou a pessoa a serem 
periciados, e busca o maior número possível de informações para elaborar o seu 
parecer. 
No consultório, isto não é possível de ser feito, mas na Saúde da Família, os 
profissionais, de uma forma privilegiada, têm contato não apenas com o paciente, 
mas com a realidade e o contexto socioeconômico e familiar em que está inserido. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 15 
Imaginem um paciente, hipertenso e tabagista, que procura um atendimento 
médico ambulatorial. Ele possui 60 anos de idade, é do sexo masculino e informa 
que é hipertenso há alguns anos e faz uso regular de algumas medicações anti-
hipertensivas. 
Ele refere que faz alguns meses que sua pressão tem-se mantido instável e 
tem apresentado dificuldades para dormir, devido a uma cefaleia occipital. 
O médico então poderá solicitar alguns exames como um eletrocardiograma 
e até mesmo um Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial (MAPA), embora 
não seja usual que esteja disponível no sistema público de saúde – e modificar a 
dosagem ou as medicações utilizadas. 
Se esse médico, contudo, fizesse parte de uma equipe multidisciplinar e 
atuasse na Saúde da Família, perceberia que o paciente vive em condições 
socioeconômicas extremamente precárias, tendo de sustentar a mulher e três filhos, 
um dos quais havia sido preso na semana anterior por estar envolvido com 
narcotraficantes. Veria que o paciente não possui veículo próprio, o transporte coletivo 
não é de fácil acesso e mora em local relativamente distante do Centro de Saúde. 
Compreenderia também que os seus dois filhos fumam e que a casa é 
pouco ventilada e, ao conversar com a esposa, descobriria que ela gosta muito de 
temperar a comida com sal. Muitas outras informações poderiam ser obtidas apenas 
pela observação e um pouco de conversa com os familiares. Essa experiência seria 
rica e seria mais fácil identificar problemas que estão provocando um quadro de 
ansiedade no paciente, bem como razões de agravo à sua saúde. 
No Programa de Saúde da Família do Ministério da Saúde, as equipes são 
formadas no mínimo por um médico de família, um enfermeiro, um auxiliar de 
enfermagem e seis agentes comunitários de saúde, podendo contar ainda com um 
dentista, um auxiliar de consultório dentário e um técnico em higiene dental. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 16 
 
 
1.1 E O QUE FALAR ENTÃO DA SAÚDE PREVENTIVA? 
 
 
Conversamos até agora a respeito de Saúde da Família, sua importância, 
bem como da atenção primária de saúde. A Saúde Preventiva pode ser entendida 
como um conjunto de medidas e ações de saúde voltadas para a prevenção de 
doenças e/ou seu agravamento. Estamos, nesse entendimento, compreendendo a 
doença como sendo qualquer tipo de agravo à saúde, incluindo o trauma. 
Como trabalharmos com saúde preventiva? Quais são as doenças que 
iremos evitar? 
É importante, ao buscarmos respostas a estas perguntas, que tenhamos 
alguns dados para consulta. 
Tal qual em um inventário de riscos, utilizado para prevenção de crises, 
precisamos saber quais são as principais ameaças presentes. Ou seja, quais são as 
doenças que mais matam e incapacitam na região. Estas devem ser as primeiras a 
serem prevenidas. 
Se analisarmos as principais causas de mortalidade no ano 2006 em todas 
as regiões do Brasil, perceberemos que as doenças cardiovasculares foram as 
principais causas de morte em nosso país, com mais de 300 mil mortes no ano, 
como também em cada Região Administrativa Brasileira. Na Região Sudeste, foi 
registrado o maior número absoluto de mortes por doenças cardiovasculares, com 
quase 176 mil óbitos. É também a região mais densamente povoada em nosso país. 
Se fizermos uma análise percentual em relação ao número total de óbitos 
por região, perceberemos que, com exceção da Região Norte, que corresponde a 
aproximadamente 21% dos óbitos, o que ainda se constitui como principal causa de 
mortalidade na região, nas demais regiões está na faixa de 30% de todas as causas, 
o que representa um número muito alto. 
Se formos agora buscar em que faixa etária as doenças cardiovasculares 
causam mais mortes, veremos que aproximadamente 96% ocorrem após os 40 anos 
de idade. 
 
 
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Bom, então, é só promover a prevenção das doenças cardiovasculares após 
os 40 anos, certo? Não. Completamente errado. Essas doenças matam mais a partir 
dessa faixa etária, mas começam a surgir bem antes e a prevenção deve ser feita já 
com as crianças. 
Já que sabemos qual doença é a principal causa de mortalidade e a partir de 
qual faixa etária ela causa mais mortes, o que fazer agora? 
Identificar os fatores de risco. Como fazer isso? É importante que sejam 
sempre consultados trabalhos científicos e consensos que deem suporte técnico-
científico adequados à prática clínica. Não têm sentido, e são desprovidas de 
qualquer comprovação científica, as práticas clínicas baseadas unicamente em 
experiência pessoal ou em dados obtidos em publicações leigas ou trabalhos 
inconclusivos. 
Na área de doenças cardiovasculares, por exemplo, segundo dados do 
Ministério da Saúde, os principais fatores de risco seriam: 
 história familiar de DAC prematura (familiar de 1º grau do sexo 
masculino <55 anos e sexo feminino <65 anos); 
 homem >45 anos e mulher >55 anos; 
 tabagismo; 
 hipercolesterolemia (LDL-c elevado); 
 hipertensão arterial sistêmica; 
 diabete melito; 
 obesidade (IMC > 30 kg/m²); 
 gordura abdominal; 
 sedentarismo; 
 dieta pobre em frutas e vegetais; 
 estresse psicossocial. 
Um dos mais importantes estudos de avaliação de risco em doença 
cardiovascular é conhecido como Framingham Heart Study. Em 1948, sob a direção 
do então National Heart Institute – Instituto Nacional doCoração, hoje conhecido 
como National Heart, Lung and Blood Institute (NHLBI) – Instituto Nacional do 
Coração, Pulmão e Sangue, foi iniciado um ambicioso projeto, voltado para 
descobrir as principais causas de doenças cardiovasculares, uma vez que pouco se 
sabia sobre elas, mas ao mesmo tempo, passou a se constituir na principal causa de 
 
 
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mortalidade não apenas nos Estados Unidos, mas em diversos outros países, 
incluindo o Brasil, como já vimos há pouco. 
O projeto desenvolvido contou com o apoio conjunto da Universidade de 
Boston. 
Os pesquisadores analisaram 5.209 pessoas com idade entre 30 e 62 anos, 
residentes na cidade de Framingham, Massachusetts (EUA). Nesta primeira fase do 
projeto, essas pessoas foram entrevistadas, examinadas e o estilo de vida de cada 
uma, analisado. Desde 1948, a cada dois anos, essas pessoas têm retornado para 
novos exames, testes e entrevistas. Em 1971, teve início a análise da segunda 
geração, constituída por 5.124 pessoas, filhos e esposas dos primeiros participantes 
do estudo. Em 2002, teve início o estudo com a terceira geração, constituída pelos 
netos dos participantes do estudo original. A primeira fase deste estudo da terceira 
geração foi completada em 2005 e envolveu 4.095 participantes. 
Ao longo dos anos e após análise dos resultados decorrentes deste estudo 
foram identificados os principais fatores de risco para doenças cardiovasculares: 
hipertensão arterial, hipercolesterolemia, tabagismo, obesidade e sedentarismo, 
além de fatores correlatos como hipertrigliceridemia, níveis de colesterol HDL, idade, 
sexo e fatores psicossociais. 
 
 
FIGURA 1 - LOGO DO PROJETO FRAMINGHAM HEART STUDY 
 
FONTE: Framingham Heart Study. 
 
 
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 19 
Diante destas informações, fica evidente a necessidade de Programas de 
Saúde Preventiva para a população em geral, com foco em: 
 diagnóstico, tratamento e acompanhamento da hipertensão arterial; 
 avaliação do perfil lipídico, com especial atenção para o colesterol total, 
suas frações e o nível de triglicerídeos; 
 combate ao tabagismo; 
 avaliação da circunferência abdominal e índice de massa corporal da 
população assistida, bem como adoção de medidas que privilegiem uma 
alimentação saudável; 
 prática de exercícios; 
 diagnóstico e controle da diabetes mellitus. 
Esses são fatores de risco considerados modificáveis, pois podem ser 
mudados. Há, no entanto, os que não podem ser modificados, como idade, sexo, 
fatores familiares. Estas pessoas devem então redobrar os cuidados, pois os fatores 
de risco são aditivos, ou seja, quanto mais fatores, maiores os riscos. 
Por que programa e não campanha? 
É comum as pessoas buscarem campanhas preventivas, quando na verdade 
querem programas. Qual a diferença? 
Uma campanha tem data de início e de fim. Possui um objetivo específico e 
geralmente envolve mutirões para sua condução. Exemplo: Campanha de 
Detecção Precoce do Câncer de Pele em uma comunidade. Durante alguns dias, 
uma equipe multidisciplinar promove um evento em que geralmente é iniciado com 
uma apresentação falando dos fatores de risco e da gravidade do câncer de pele, 
sobretudo o melanoma. Apresenta alguns sinais que são considerados como de 
alerta, ou seja, quando presentes, devem ser examinados por um dermatologista e 
são ensinadas medidas preventivas. Esta é uma atividade de Promoção da Saúde e 
ao mesmo tempo, Prevenção de Doenças. Nos dias que se seguem são realizadas 
triagens de pacientes, e os casos suspeitos, examinados por dermatologistas que 
podem tranquilizar o paciente quando não houver suspeitas de malignidade, ou 
retirar o material para biópsia e encaminhar para análise. Se confirmada a 
malignidade, é realizada a cirurgia. 
 
 
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 20 
Percebam que após a data de conclusão da campanha não mais haverá 
dermatologistas naquele local, nem serão realizadas outras atividades específicas, a 
menos que se torne um programa. 
No Programa, as ações são continuadas. Não há prazo para encerramento 
das atividades. Há um cuidado com a Promoção de Saúde por meio de palestras, 
cartilhas, filmes, bem como com o diagnóstico precoce e o acompanhamento 
assistencial. 
Geralmente, os programas são mais voltados para as doenças mais 
prevalentes. 
Acabamos de estudar que as doenças cardiovasculares são a principal 
causa de mortalidade em nosso país e que há uma série de fatores de risco 
associados. Deveríamos fazer campanhas ou programas para combater esses 
fatores de risco? 
O melhor seria que pudéssemos fazer programas e deixar as campanhas 
apenas para os casos em que não há viabilidade de implementação de um 
programa (falta de profissionais e recursos na região, por exemplo). 
É por esta razão que o Ministério da Saúde realiza programas voltados para 
diferentes áreas e sempre com foco nas enfermidades mais prevalentes, que podem 
e devem ser diagnosticadas e acompanhadas. Visa à redução da morbidade e da 
mortalidade. 
Nas ações de atenção primária de saúde, esses temas também são 
trabalhados, visando desta forma, a atingir o maior número possível de pessoas em 
uma população. 
O Ministério da Saúde desenvolveu então publicações voltadas para temas a 
serem discutidos e avaliados na atenção primária de saúde, que podem ser 
acessados por qualquer pessoa e sem custo algum. É uma forma de padronização 
de condutas, ao mesmo tempo em que contribui para o aprimoramento profissional. 
O mesmo dá-se com relação aos médicos, de uma forma mais específica. 
Foram encaminhados para as residências de todos os médicos do país, cartilhas e 
material voltados para diagnóstico e medidas de suporte na dengue, dentre outras 
informações. 
Um dos principais desafios da Saúde Preventiva, no entanto, é o devido 
acompanhamento e o registro dos dados obtidos, que permitirá futuros estudos, bem 
 
 
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 21 
como o conhecimento dos níveis de penetração dos programas junto às 
comunidades. 
Outro aspecto de quem está inserido em um determinado programa é o 
paciente sentir-se bem recebido e acompanhado. 
Se ele é portador de hipertensão arterial deve possuir uma carteira onde 
serão anotadas as medições de pressão realizadas, com data, local e o nome de 
quem fez a medição. Nos casos em que estiver muito alterada, o médico deve ser 
consultado. É importante, pois, que o paciente tenha acesso fácil às medidas 
necessárias ao seu controle. De nada adianta um programa de acompanhamento de 
pacientes diabéticos em que não haja reagentes e material disponível para a 
dosagem da glicemia. 
Um dos importantes aspectos da Atenção Básica e da Saúde Preventiva 
está na avaliação multidisciplinar. 
No Centro de Medicina do Idoso do Hospital Universitário de Brasília, 
referência no acompanhamento de pacientes portadores de Alzheimer, as consultas 
são todas multidisciplinares. O paciente é atendido não apenas pelo médico, mas 
pelo farmacêutico clínico, psicólogo, enfermeiro, odontólogo, terapeuta ocupacional 
– que juntos podem estabelecer a melhor linha de acompanhamento do paciente, 
além de serem trabalhadas diferentes questões com os familiares. 
Na síndrome metabólica, por exemplo, encontramos uma associação de 
diferentes fatores de risco para doença cardiovascular e diabetes. Se os programas 
de saúde preventiva não forem de alguma forma integrados, pacientes com vários 
fatores de risco serão acompanhados de forma isolada e um diagnóstico importante 
como esse deixa de ser feito. 
Essa é mais uma responsabilidade para quem atua na Saúde da Família, ao 
identificar os diversos agravos, agindo sobre o paciente de tal forma a dificultar o 
seu tratamento. 
A Promoção da Saúde é realizada por profissionais da área, com o objetivo 
de, por meio de diferentes ações, levar conhecimento sobre prevenção de doenças 
e orientações que podem conduzir a uma vida mais saudável. 
Nós que somosda área de saúde sabemos que não há como conduzir um 
tratamento adequado sem que o paciente esteja disposto a se tratar. Podemos 
empregar os melhores medicamentos, terapia e tudo o que houver de bom para 
 
 
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combater o tabagismo, mas se o paciente não quiser deixar de fumar, de nada 
servirão tais medidas. 
A Promoção de Saúde, portanto, depende da utilização de sólidos 
conhecimentos técnicos e científicos aliados a boas práticas de saúde, e a vontade 
das pessoas, o que inclui receptividade em não apenas receber estas informações, 
mas usá-las a seu favor. 
Isso tem um nome: mudança! 
Mudança de hábitos de vida! 
Fácil? Não. Quem quer mudar de hábitos, muitas vezes, já incorporados há 
anos? 
Normalmente, mudamos quando percebemos que algo não vai bem. 
Infelizmente é aquela história de só fechar a porta depois que o ladrão entrou. 
Vivemos em um mundo cheio de normas, regras e a chamada ditadura da 
beleza. Criou-se um padrão em que todos devem ser muito magros e os 
estereótipos dizem que os magros são saudáveis e cheios de vida, enquanto os 
gordos são doentes e preguiçosos. 
Vocês certamente já viram muitos magros doentes e muitos gordos 
saudáveis. A obesidade deve ser tratada como doença, assim como um índice de 
massa corporal muito baixo. 
Há diversos tipos de beleza e pena que comumente só olhemos para o que 
as pessoas refletem e não o que elas de fato são. 
Não é à toa que, ao envelhecer, muitos se desesperam em busca de um 
elixir da juventude, que simplesmente não existe. 
É o medo de perder o atributo que julgam ter, a beleza exterior. Nada mais 
efêmero e passageiro, não? 
Recentemente, uma britânica apresentou-se em um famoso programa de 
televisão, com o objetivo de selecionar bons cantores. Ela não fazia parte nem de 
longe, do chamado padrão de beleza. Tinha idade bem acima da média de seus 
concorrentes. Nunca havia tido um namorado e teve dificuldades para aprendizado 
quando criança. Ao entrar no palco, foi motivo de risos e de ironia por parte dos 
jurados. Como alguém como ela poderia querer ser uma cantora de sucesso? 
No entanto, ao começar a cantar, Susan Boyle, conseguiu algo inédito. 
Todos se calaram e assistiram maravilhados à apresentação dessa britânica. 
 
 
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 23 
A opinião das pessoas a respeito de Susan mudou radicalmente após ouvi-
la. Por quê? Porque temos por hábito classificarmos ou julgarmos diversos 
aspectos de uma pessoa apenas olhando para ela. A roupa que veste. A forma 
como se comporta. 
Será que não agimos também assim ao avaliarmos nossos pacientes? Ao 
encontrarmos um paciente tabagista que fuma diariamente e desde que era criança, 
percebemos que a postura dele não é de quem quer parar de fumar. Como agimos? 
Nos afastamos ou nos aproximamos ainda mais? Nos sentimos frustrados 
por não conseguirmos convencê-lo a parar de fumar e o agredimos (com ironias, 
com ameaças de morte dolorosa) ou tentamos compreendê-lo como alguém que 
precisa de ajuda, mas não percebeu isso ainda? Naturalmente que há situações 
críticas e dramáticas, em que vemos pessoas que poderiam ter um belo futuro se 
não se “afundassem” em álcool e outros tipos de drogas. O que fazemos? Agimos 
como os que já se distanciaram e deixaram a vida seguir o seu curso? Se 
agirmos assim, como agiremos diante de um suicida que quer se jogar de cima 
de um prédio? 
A forma de viver das pessoas e os hábitos presentes são sinais que nem 
sempre conseguimos captar. O paciente que deixou de fazer coisas que lhe davam 
prazer ficou mais irritado, não necessariamente mostrando-se mais triste, podendo, 
sim, estar deprimido. Aquela senhora que procura remédios para dormir, pois não 
consegue “pregar os olhos antes das três da manhã”, pode ser a mesma que 
apresenta um quadro ansioso importante porque sabe que não terá como pagar o 
aluguel no final do mês. Fazê-la dormir a base de medicamentos irá resolver o 
problema dela? Certamente que não. Nem se espera que você resolva os problemas 
que ela precisa enfrentar. Mas uma conversa um pouco mais aprofundada pode 
revelar que ela não terá dinheiro este mês, porque precisa comprar remédios para o 
marido que está doente. Será que os medicamentos que o marido dela está 
tomando não possuem substitutos mais baratos? Quem está acompanhando ele? 
É comum presenciar profissionais que prescrevem medicamentos e ao 
terminar perguntam ao paciente: “Você tem dinheiro para comprar remédio?” Para 
muitos essa é uma pergunta triste e difícil de ser respondida, pois se a resposta for 
não, a interiorização desta resposta poderia ser: “Sou tão miserável, que não tenho 
nem dinheiro para comprar um remédio para mim ou minha família.” E com 
 
 
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 24 
frequência dizem que têm, quando na verdade essa quantia irá faltar. Há, contudo, 
em boa parte das vezes, medicamentos semelhantes que irão atuar de forma muito 
satisfatória. Ao invés de fazer esta pergunta, os médicos devem prestar atenção 
onde estão atuando. Que tipo de clientela ele atende? Onde vivem essas pessoas? 
O que elas fazem? Remédio caro não é sinônimo de remédio bom! E nem sempre 
há necessidade de emprego de medicamentos. Ocorre, no entanto, que muitos 
profissionais preferem perder pouco tempo fornecendo uma receita ao invés de 
perder um pouco mais de tempo conversando com o paciente. 
Esta não é uma crítica aos médicos. E sim, a todos que agem dessa forma 
em suas áreas de competência. É ao odontólogo que prefere “condenar” dentes 
bons, pois o tratamento é demorado e complexo. É ao enfermeiro que não percebe 
que o paciente está irritado porque está doente etc. Todos nós temos nossos dias 
ruins, mas devemos estar vigilantes para que não descontemos nossas amarguras 
em nossas ações de saúde. 
A integração da equipe é fundamental. Cada um com sua especialização 
somando esforços para o melhor do paciente e da comunidade. Ninguém é melhor 
do que ninguém na equipe. São apenas funções diferenciadas que devem ser 
respeitadas por todos. 
 
 
1.2 COMO ENTÃO PROMOVER A SAÚDE? 
 
 
Já vimos que há diversos fatores de risco conhecidos para muitas doenças. 
Citamos os das doenças cardiovasculares, mas poderíamos falar de tantas outras. 
Há também alguns fatores de risco que podem provocar não apenas uma doença, 
mas várias, como o tabagismo. 
Quem sabe um tabagista não repense seu hábito, com base não em 
ameaças de morte dolorosa, mas em quanto seria bom se ele tivesse saúde para 
brincar com o neto que acabou de nascer. Toda mudança é dolorosa e difícil porque 
pressupõe que saiamos de uma situação onde nos encontramos – e, mal ou bem, a 
conhecemos – e passemos para outra – desconhecida. Sair de uma situação 
“cômoda” para outra que irá gerar algum sacrifício inicial, mas que poderá resultar 
 
 
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 25 
em grandes ganhos no futuro. Como será não fumar para quem fumou a vida toda? 
Por que ele fuma? É só por hábito? 
Ninguém passa a gostar de comer salada de um dia para o outro. Não 
adianta falar para quem gosta de chocolate, que, toda vez que ele tenha vontade, 
coma uma cenoura crua. Não vai funcionar. Não é o consumo esporádico de um 
chocolate que irá engordar ninguém, mas o consumo exagerado e frequente. 
Ao promover a saúde, fale com entusiasmo. Mostre que você de fato 
acredita no que está falando e seja otimista. Procure a melhor forma de alcançar 
seu público. 
Se você pretende dar uma palestra para a comunidade, vista-se de acordo 
com os costumes locais, sem parecer caricato. 
Se as pessoas são simples na forma de vestir, não vá de terno ou roupas 
extremamente formais. Não vá, contudo, de chinelo e bermudas. Saiba perceber a 
melhor forma de conversar com a população, sem parecer que está forçando uma 
situação de intimidade, pois soará falso. 
Ao falar, use a linguagem de acordo com o entendimento de sua plateia. Se 
estiver falando para profissionais de saúde,seja mais técnico, sem abusar, contudo, 
de siglas e terminologias extremamente especializadas – salvo se você tem certeza 
que todos entenderão o que está sendo apresentado. 
Não use regionalismos se você não é da região. Não empregue palavras 
que possam ter duplo sentido e não faça piadas com pessoas da comunidade, 
sobretudo, de humor negro ou jocosas. 
A escolha do tema a ser utilizado deve levar em conta o interesse geral das 
pessoas e ao mesmo tempo, o que ensejar mudanças de hábitos de vida e adoção 
de práticas saudáveis. 
Dependendo da plateia, você poderá ter que usar datashow, enquanto em 
outros grupos, poderá utilizar-se de dramatização com pessoas da própria 
comunidade, ou ainda discussão em grupos ou mesmo aconselhamento individual. 
Toda equipe de Saúde da Família e todo profissional de saúde deve 
aproveitar todo contato com seus pacientes para promover a saúde. 
É interessante que é comum as pessoas associarem promoção de saúde com: 
o combate ao sedentarismo, ao tabagismo; a promoção de alimentação saudável, a 
prevenção de doenças; mas poucas se lembram da prevenção de acidentes. 
 
 
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 26 
Mais de 100 mil pessoas perdem suas vidas anualmente no Brasil, em 
decorrência de acidentes, sobretudo, automobilísticos. 
É, portanto, importante que, durante as ações de promoção da saúde, sejam 
incluídas medidas de prevenção de acidentes. 
Tem rio na região? Fale do risco de afogamento, de mergulhos em águas 
rasas, com grande risco de lesão da coluna. 
Os acidentes e as causas externas são a principal causa de mortalidade nos 
grupos mais jovens da população. Muitos acidentes são causados pelo hábito de 
beber e dirigir. Não há índices seguros de alcoolismo para quem quer dirigir. 
Há de se ter cuidado com o preconceito. Mais uma vez temos de estar 
atentos. Saúde da Família não é saúde dos pobres. É voltada para a saúde de 
todos. É comum, no entanto, dirigirmos ações de promoção de saúde apenas para 
comunidades mais carentes de recursos econômicos. Naturalmente que essas 
comunidades devem receber assistência de qualidade em Saúde da Família, mas 
não podemos nos esquecer dos demais. 
O jovem pobre atropelado na estrada, enquanto espera a hora de poder 
atravessar para o outro lado, pode ter sido vítima do jovem rico que dirigia bêbado, 
em alta velocidade. 
Saúde Preventiva e Promoção de Saúde, incluindo prevenção de acidentes 
e primeiros socorros, deveriam fazer parte do currículo escolar do Ensino 
Fundamental. Infelizmente, não é ensinado nem no Ensino Médio e nem na 
faculdade. 
Em qual curso de Pedagogia existe a disciplina de Suporte Básico de Vida? 
Até nos cursos de Saúde, poucos são os que oferecem tal disciplina. Geralmente, 
não fazem parte do currículo obrigatório das Faculdades de Saúde, incluindo 
Medicina. É comum o estudante de Medicina querer aprender o suporte avançado 
de vida sem que tenha visto o básico. 
Ele acha que sabe porque é básico. Quantas coisas não deixamos de fazer 
porque são básicas e, no entanto, são elas que realmente importam? Não é possível 
partir para nada avançado, sem que o treinamento básico esteja consolidado. 
Ensinar primeiros socorros às comunidades é uma ação de Promoção de 
Saúde? Mais do que isso, trata-se de uma lição de cidadania. 
 
 
 
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 27 
 
 
1.2.1 O que dizer então de preparar as comunidades para enfrentamento a 
desastres naturais? 
 
 
Cada vez mais teremos desastres no mundo, com um número crescente de 
vítimas e danos. Isto ocorre pela ocupação desordenada do solo, instalação de 
residências em áreas de alto risco, aumento da população de menor poder aquisitivo 
em grandes cidades, construindo casas menos seguras, dentre muitas outras 
razões. A melhor definição de desastres é aquela que entende esse conceito como 
sendo todo evento crítico cuja magnitude exceda a capacidade de resposta da 
sociedade. Melhor explicando: um tornado passa em uma grande cidade, destrói 
algumas casas e faz dez vítimas. A cidade tem condições de socorrer as vítimas e 
reconstruir a cidade? Sim. Então não é desastre. Se pelo número de vítimas houve 
necessidade de utilização de recursos ou serviços adicionais podemos falar em 
incidente com múltiplas vítimas, mas não em desastre. Por outro lado, o mesmo 
tornado passa em uma comunidade rural e acaba com quase todas as casas e faz o 
mesmo número de vítimas, mas o hospital mais próximo está a quilômetros de 
distância. Foi um desastre? Sim. 
Como a população pode se preparar para os desastres? Por meio de 
utilização de boas práticas em seu dia a dia. Não destruir, nem ocupar encostas de 
morros, não jogar entulho nos rios, saber reconhecer quando há risco iminente de 
ocorrência de desastres naturais na região, buscar apoio da Defesa Civil para 
criação dos Conselhos e Núcleos de Defesa Civil onde não existirem, entre muitas 
outras informações. Os profissionais de Saúde da Família têm importante papel 
nesta prevenção. É muito comum, principalmente em comunidades mais 
desassistidas, que, enquanto o pai ou a mãe está trabalhando, os filhos fiquem em 
casa, cuidados por irmãos mais velhos, pelos avós ou outros parentes. Essas 
pessoas devem saber o que fazer em situações de emergência e desastres. 
Em 2009, houve um grande terremoto na Itália, atingindo principalmente a 
cidade de L’Aquila e causando mais de 290 mortes. Mais de 40 mil pessoas 
perderam suas casas. 
 
 
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 28 
 
 
1.2.1.1 Por que desastre? 
 
 
Porque se trata de situação crítica com diversos mortos, feridos e 
desabrigados, com grave destruição de infraestrutura das cidades, onde a 
capacidade de resposta das comunidades foi inferior à magnitude do evento. Ou 
seja, as comunidades atingidas não possuíam condições de responder ao evento, 
sem a necessidade de recursos extras (municipais, estaduais e federais), 
independente do número de vítimas. 
 
 
1.2.1.2 Por que ocorreu? 
 
 
1.2.1.2.1 Sob o ponto de vista meteorológico 
 
 
Um anticiclone (zona de alta pressão, com movimento em sentido anti-
horário) formou-se no mar, provocando ventos fortes em direção ao continente 
(conhecido na região como vento do leste) provocando chuva persistente, ainda que 
fraca. Essa chuva foi formando poças e sendo absorvida pela terra, morros, 
encostas. Um sistema de baixa pressão (vórtice ciclônico localizado em altitude 
média da atmosfera foi formado, com ventos em sentido horário). Este sistema 
formado passou a receber os ventos fortes do mar, fazendo com que as chuvas 
começassem a se formar, de maneira contínua e cada vez mais fortes. Com as 
chuvas, a água, cada vez mais, foi absorvida pela terra dos morros, como se fosse 
uma esponja; e dada a ocupação desordenada das encostas, os barrancos 
desabaram, além dos alagamentos. 
 
 
 
 
 
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 29 
 
1.2.1.2.2 Sob o ponto de vista ambiental 
 
 
Com o desmatamento e a ocupação irregular e indevida dos morros, o que 
inclui escavações, a água passa a não encontrar dificuldades em avançar de forma 
rápida, pois com a vegetação, há uma barreira natural que impede ou dificulta um 
avanço tão intenso. 
 
 
1.2.1.2.3 Sob o ponto de vista político e social 
 
 
A omissão e a permissividade diante da ocupação ilegal e irregular de 
encostas de morro faz com que centenas de famílias estejam em risco permanente 
de desastres. Obras de saneamento, voltadas para a redução de danos, custam 
caro e são pouco percebidas pela população. Ou seja, não são prioridades para 
muitos governos. Não apenas a ocupação é irregular, mas diante de construções em 
área não planejada o acesso é precário, assim como a infraestrutura. 
 
 
1.2.1.2.4 Sob o ponto de vista da Defesa Civil 
 
 
Os alertas meteorológicos em nosso país não são divulgados de forma 
adequada. Embora estejam disponibilizados na internet, e tanto a Secretaria 
Nacional de Defesa Civil quanto a Estaduale os órgãos municipais são avisados, 
mas não possuem postura proativa de iniciarem a resposta de pré-impacto 
adequada. O que esses órgãos fizeram antes do "dilúvio"? Foram à televisão? 
Avisaram à população do risco em que se encontravam? O anticiclone e o posterior 
sistema de baixa pressão eram de conhecimento destas instituições. Uma vez 
ocorrido o desastre, foi estabelecido um sistema de comando de incidentes? Se foi, 
quem era o incident comander (coordenador da crise)? 
 
 
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 30 
A arrecadação de donativos deve sempre ser feita com muito critério. 
Primeiro, conseguem-se os meios de transporte. 
Verifica-se a capacidade de transportar. Depois, verificam-se quais são as 
necessidades da região e de forma coordenada, estabelecem-se prioridades e 
métodos que permitam perceber o que não deve ser mais recebido nem arrecadado. 
Há comida suficiente? A comida doada chegará a tempo? Quando há coordenação 
adequada e eficiente, em um contexto nacional, os donativos não devem ser 
solicitados à população de forma aleatória. Assistimos diariamente o pedido de 
doação de alimentos feito por oficiais do Exército, depois da Defesa Civil Regional, 
depois de políticos, cada um pedindo algo diferente. Outra questão com relação a 
donativos: todo donativo deve ser transportado. Não foi pedido? Se sobrou é porque 
a logística não foi pensada e nem está adequada. Pedir donativos para o desastre e 
depois distribuí-los em outras campanhas não é ético e pode trazer problemas 
futuros, diante de novas solicitações à população. As doações devem ser 
acompanhadas pelo Ministério Público. Para onde estão indo as doações em 
dinheiro? Como está sendo feita a contabilização de gastos? Quem é o responsável 
por arrecadação, armazenamento, transporte e distribuição de donativos? O povo 
brasileiro é muito solidário, mas não pode ser ludibriado. O que aconteceu com os 
donativos para o tsunami da Indonésia? Segundo a imprensa, por dificuldades 
logísticas, toneladas de donativos nunca chegaram lá. 
Certa vez, um coordenador estadual de Defesa Civil afirmou que haviam 
arrecadado toneladas de donativos e que iriam agora buscar uma forma de 
transportá-los até Santa Catarina. Que absurdo! Diversos locais solicitaram 
voluntários para classificar e separar donativos e alegaram que não estavam 
conseguindo e, por isso, os donativos levaram muito tempo para estarem aptos a 
serem transportados. Não é uma situação de desastre? Que as Forças Armadas, 
então, sejam convocadas para ajudar também neste processo, bem como a 
sociedade civil organizada, órgãos públicos cedendo funcionários, dentre outras. 
 
 
 
 
 
 
 
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 31 
1.2.1.2.5 Sob o ponto de vista de Gerenciamento de Crises 
 
 
Durante o pré-impacto, pouco ou nada foi feito para se evitar a crise. As 
fases de alerta e alarme foram solenemente ignoradas. Não houve planejamento. 
Não tendo havido a atuação pré-crise, a mesma se estabeleceu. Não foi instalado 
Gabinete de Crise na forma padronizada, o que significaria ter um responsável pelo 
contato permanente com a imprensa. Um profissional daria as informações sobre o 
desastre – número de vítimas, deficiências, necessidades; só ele e o incident 
comander (coordenador de crises) poderiam falar e ainda assim, de forma 
coordenada. Pela falta de adoção de planejamento prévio, o socorro teve de agir 
sempre de forma crítica e heroica, o que representa grave risco. A fase de 
reconstrução tem início com o fim das operações de busca e salvamento. Faltou 
planejamento. Faltou logística. 
 
 
1.2.1.2.6 Sob o ponto de vista cultural 
 
 
Nós vivemos em um país fatalista onde a prevenção não é prioridade e 
quando o desastre ocorre, é porque era vontade de Deus. Novos desastres 
ocorrerão, pela mesma causa e, possivelmente, no mesmo local. 
Assim como teremos outros furacões, além do Catarina, atentados 
terroristas e toda a sorte de eventos críticos, sem, no entanto, haver planejamento e, 
sobretudo, crença que tais situações são iminentes. Nascemos com a ideia de que 
"Deus é brasileiro" e por isso somos imunes a tudo. Sob o ponto de vista da análise 
de ameaças, riscos e vulnerabilidade, estamos altamente vulneráveis e com 
diversas ameaças graves e iminentes. A população desabrigada, com o retorno da 
água aos níveis normais, volta para suas casas, que continuam em situação de 
risco. É sabido e conhecido que o verão em nosso país é caracterizado por fortes 
chuvas, alagamentos, inundações, enchentes e desabamentos. 
 
 
 
 
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 32 
1.2.1.2.7 Sob o ponto de vista da Saúde da Família 
 
 
Aquela região é assistida por PSF? Caso sim, existe um cadastro que 
permita localizar e remover os pacientes crônicos e com dificuldade de locomoção 
diante de um desastre? A população foi treinada em como agir em casos de 
emergência? Sabem prestar primeiros socorros? Existe um Plano de Desastres para 
a região que contemple as equipes de Saúde da Família? Está a cargo de quem? 
O tempo passou, a chuva parou e as cidades atingidas começaram a 
voltar ao normal, exceto para todos que perderam seus parentes e seus 
pertences. Algo mudou? Algum planejamento para evitar novos desastres foi 
feito? E no restante do país? 
Outra situação que merece a atuação da promoção de saúde das equipes 
de Saúde da Família diz respeito a epidemias. 
E a qualidade de vida? Falamos tanto dela em nosso dia a dia. Todos dizem 
que o que mais querem é qualidade de vida. 
Mas o que isto significa? 
Como o próprio nome sugere, é viver com qualidade. É buscar sentido em 
tudo o que fazemos, nas coisas mais simples. 
Dormir bem. Comer bem. Amar. Ser amado. Fazer da vida uma diversão! 
Ser feliz! A felicidade é uma decisão interior nossa e não um lugar a se chegar ou 
um patamar a ser alcançado. Clichê? Talvez. O fato é que muitas pessoas sempre 
imaginam que felizes são os outros. Motivos não nos faltam para sermos felizes, 
pois viver já deveria ser uma celebração! 
Há problemas a serem resolvidos? Quem não os tem? Com saúde, tudo 
podemos, já diriam nossos avós. 
Promover saúde é promover o bem-estar. Com saúde, podemos buscar todo 
o resto. 
Ao nos aproximarmos de quem sofre, devemos levar conforto e buscar, a 
todo custo, eliminar o sofrimento. Nem sempre conseguiremos curar a doença, mas 
podemos e devemos evitar ou aliviar a dor. 
Talvez este seja um bom momento para refletirmos. Estamos colocando 
qualidade em nossas vidas? Temos um tempo para nós mesmos? Quando foi a 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 33 
última vez que você apreciou um pôr do sol, caminhou sem hora para chegar e 
sem destino, se permitiu passar algumas horas, simplesmente contemplando a 
beleza da vida? 
Pense nisso e seja feliz! 
A Saúde Preventiva e a Promoção de Saúde são fundamentais em qualquer 
área da saúde. A Associação Americana de Medicina Preventiva traz um 
interessante artigo, em que analisa as questões que envolvem a cura e a prevenção. 
Está acessível em <http://www.acpm.org/Perspectives_PreventionvsCure.pdf> (em 
inglês). 
Em outro artigo, da mesma sociedade, intitulado Health Effects of Global 
Climate Change: How Health Professionals Can Be Part of the Solution, a discussão 
é sobre o papel dos profissionais de saúde diante dos problemas de saúde 
decorrentes do aquecimento global. Vejam como a prevenção e a promoção de 
saúde assumem novos contornos e diferentes desafios. 
Não percam a oportunidade de sempre promoverem a saúde junto a seus 
pacientes e à comunidade da qual fazem parte. 
É fundamental que suas informações estejam atualizadas e de acordo 
com os protocolos internacionais e diretrizes do Ministério da Saúde e literatura 
especializada. Não esperem a realização de congressos para se atualizarem. 
Essa é uma atividade diária e que exige muita dedicação, pois a orientação boa 
para nossos pacientes é aquela baseada em evidências seguras e práticas 
devidamentecomprovadas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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 34 
1.3 ANTECEDENTES DO PROCESSO DE REORGANIZAÇÃO DA SAÚDE 
PÚBLICA NO BRASIL 
 
 
Para melhor compreensão dos caminhos que levaram à proposição da 
Estratégia Saúde da Família, vale a pena uma breve recapitulação da trajetória dos 
modelos de saúde no Brasil. 
Pode-se dizer que o sistema de saúde no Brasil se caracterizou, 
historicamente, pelo dualismo entre atividades preventivas e curativas na atenção à 
saúde. O governo brasileiro teve a especificidade de produzir e regular a saúde 
pública, desde os anos 1930, por meio da medicina previdenciária, utilizando como 
política a compra de serviços de terceiros na área da assistência médica, induzindo 
assim a chamada “produção de procedimentos”. Em 1977, 80% do valor dos 
financiamentos aprovados para a área de saúde foram destinados ao setor privado. 
O modelo médico assistencial privatista tornou-se dominante na segunda 
metade do século XX, induzido pelo processo da industrialização brasileira. Até o 
início da década de 1970, somente os contribuintes das caixas de assistência dos 
trabalhadores (Caixas de Aposentadorias e Pensões – CAPs 12 e dos Institutos de 
Aposentadorias e Pensões – IAPs 13 e, posteriormente, do Instituto Nacional de 
Previdência Social – INPS 14) e seus dependentes diretos, devidamente munidos da 
“carteirinha”, tinham acesso aos serviços de saúde com melhor qualidade. Aos 
indigentes, aos desempregados, aos trabalhadores domésticos, aos trabalhadores 
rurais e aos autônomos restava a filantropia das Santas Casas de Misericórdia. Isso 
nos leva à compreensão de que a universalidade de cobertura e atendimento à 
saúde no Brasil trouxe consigo a noção de direito social em detrimento à noção 
anterior de concessão. 
A crise desse modelo de saúde foi qualificada por Mendes (1996) em quatro 
dimensões: a ineficiência, a ineficácia, a iniquidade e a insatisfação da população, 
atribuindo-lhe características mais estruturais que circunstanciais. A crise e a 
reforma nos sistemas de saúde são fenômenos praticamente globalizados, porque o 
que sucede na realidade, conforme ressalta Mendes (1999), é uma profunda reforma 
nos estados capitalistas em geral. 
 
 
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 35 
No âmbito internacional, em setembro de 1978, acontece, em Alma-Ata (na 
antiga União Soviética, numa região onde hoje é o Cazaquistão), a Conferência 
sobre Cuidados Primários de Saúde, com a proposta de atenção primária em saúde 
como estratégia para ampliar o acesso de forma a atender, com igualdade de 
condições, todos os membros ou segmentos da sociedade até o ano 2000. O 
enfoque foi a prioridade à promoção e prevenção da saúde com profissionais cuja 
formação e desempenho fossem, não somente clínicos, mas com percepção 
epidemiológica e social para se relacionar com o indivíduo, família e sociedade. 
Em meados dos anos 1970, teve início o processo de redemocratização 
política e social no Brasil. A mobilização nacional pela luta cidadã se materializou na 
área da saúde, por meio do ideário do Movimento da Reforma Sanitária. 
Integravam o Movimento professores universitários, estudantes de medicina, 
profissionais da saúde, sindicalistas, militantes partidários de esquerda e 
movimentos populares por saúde. O objetivo principal dos reformistas confundia-se 
entre uma oposição ao regime autoritário e a transformação do Sistema Nacional de 
Saúde. Sua luta era direcionada à criação de um sistema único de saúde gratuito e 
universal, essencialmente gerido pelo Estado, e que atribuísse caráter 
complementar ao setor privado. Ficava claro que o modelo atual era incapaz de 
impactar as diversas realidades de saúde vigentes no país. 
Em resumo, o modelo de saúde criticado tinha como características: 
 a extensão da cobertura previdenciária somente a segmentos 
economicamente integrados da população urbana; 
 o privilégio da prática médica curativa e individual em detrimento das 
ações coletivas; 
 a criação de um complexo médico-industrial; 
 o deslocamento da prestação dos serviços médicos a entes privados 
lucrativos e não lucrativos. 
As mudanças políticas e econômicas que se deram nos anos 1970 e 1980 
determinaram o esgotamento desse modelo sanitário. 
Em março de 1986, ocorreu o evento político-sanitário mais importante da 
segunda metade do século passado, a VIII Conferência Nacional de Saúde, onde 
foram lançadas as bases doutrinárias de um novo sistema público de saúde. O 
 
 
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 36 
relatório final da conferência colocou três grandes referenciais para a reforma 
sanitária brasileira: 
 um conceito amplo de saúde; 
 a saúde como direito da cidadania e dever do Estado; 
 a instituição de um sistema único de saúde, organizado pelos princípios 
da universalidade, da integralidade, da descentralização e da participação da 
comunidade. 
O setor de saúde – marcado por uma história de desigualdades, dissociação 
de comando entre esferas de governo e fragmentação/duplicidade da prestação de 
serviços – vivenciou, assim, um sólido movimento pró-reforma sanitária. 
Várias forças políticas oriundas da sociedade civil e articuladas ao 
Movimento Sanitarista disputaram, na época, no âmbito político, a conquista de uma 
proposta de reforma sanitária que privilegiasse a universalidade de atendimento nos 
serviços de saúde e o dever do Estado em garantir esse direito. Essas propostas 
reformistas foram consagradas pela Constituição de 1988, que estabeleceu o lema: 
“Saúde é direito de todos e dever do Estado.” 
Alinhando-se às diretrizes da Organização Mundial da Saúde, a Constituição 
Brasileira reconhece que a saúde depende de condições de bem-estar físico, mental 
e social, sendo diretamente influenciada pela alimentação, moradia, saneamento 
básico, meio ambiente, trabalho, renda, educação, transporte, lazer e o acesso aos 
bens e serviços sociais. 
O novo sistema de saúde apontava para a superação do modelo 
assistencial, dominado pela assistência individual, propondo um novo modelo 
baseado na integralidade da atenção à saúde. O Sistema Único de Saúde (SUS) 
pôs fim, em pouco tempo, à figura iníqua dos indigentes sanitários, promovendo a 
integração do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social 
(INAMPS) ao Sistema Público Único de Saúde. 
O mercado deixava de ser o principal critério para organizar e distribuir 
serviços. Em seu lugar, surge o planejamento, realizado não a partir do poder 
aquisitivo das pessoas, mas de suas necessidades em saúde. O atendimento passa 
a ser universal – todos podem utilizar o sistema, gratuito e organizado; 
hierarquizado, segundo a complexidade da atenção e regionalizado, conforme a 
distribuição populacional e do quadro de morbimortalidade das comunidades. 
 
 
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 37 
Dessa forma, o SUS rompeu com a trajetória de formação do Estado 
brasileiro assentada na centralização e com uma concepção de cidadania que 
vinculava os direitos sociais à inserção no mercado de trabalho. 
Assim, o SUS veio atualizar a concepção do processo saúde/doença, na 
visão de uma nova prática sanitária, articulando a dimensão biológica da doença à 
sua dimensão social e econômica. O conceito de saúde evolui de uma concepção 
negativa (ausência de doença) para uma concepção afirmativa (qualidade de vida) e 
a dinâmica da saúde passa a ser compreendida como uma acumulação ou produção 
social, sujeita a permanente transformação. Tem como campo de conhecimento a 
interdisciplinaridade e como campo de práticas a intersetorialidade. 
Não foi suficiente, porém, dispor de uma base jurídico-formal ampla para 
resolver os importantes problemas de saúde dos brasileiros. 
É nesse contexto que a Estratégia Saúde da Família surge como elemento 
dinamizador do SUS e como eixo estruturante rumo à reorientação do modelo de 
atenção à saúde – a partir do primeiro nível do cuidar, da atençãobásica, em 
conformidade com os princípios do Sistema Único de Saúde. 
Sua implantação foi precedida pela experiência do Programa de Agentes 
Comunitários de Saúde (PACS), instituído pelo Ministério da Saúde, em 1991. A 
partir daí, começou–se a enfocar a família como unidade de ação programática de 
saúde e não mais (tão somente) o indivíduo. Cabe assinalar que o êxito do PACS 
impulsionou a formação do Programa Saúde da Família (PSF), levando ao primeiro 
documento do programa, com a data de setembro de 1994. 
Ao propor o PSF, o Governo Federal teve dois grandes objetivos: o 
primeiro foi, sem dúvida, substituir o modelo assistencial-curativo/hospitalocêntrico 
pelo modelo preventivo, ou seja, pelo modelo de atenção primária à saúde, e com 
isso racionalizar os altos custos da saúde pública no Brasil. O segundo grande 
objetivo foi descentralizar as políticas de saúde, na intenção de tornar a saúde 
pública mais resolutiva, adotando uma postura de parceria com os governos 
estaduais e municipais. 
Esse movimento de “olhar a família” se deu em muitos países e a 
formulação do PSF teve a seu favor o desenvolvimento anterior de modelos de 
assistência à família no Canadá, Cuba, Suécia e Inglaterra, que serviram de 
referência para a formulação do programa brasileiro. Embora rotulado como 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 38 
programa, o PSF, por suas especificidades, foge à concepção usual dos demais 
concebidos pelo Ministério da Saúde, já que não é uma intervenção vertical e 
paralela às atividades dos serviços de saúde. Pelo contrário, caracteriza-se 
como estratégia que possibilita a integração e promove a organização das 
atividades em um território definido com o propósito de enfrentar e resolver os 
problemas identificados. 
Para que essa nova prática se concretize, faz-se necessária não só a 
implantação de políticas públicas, mas também de mudanças no perfil dos 
profissionais de saúde. O novo modelo demanda a presença de um profissional 
com visão sistêmica e integral do indivíduo, família e comunidade, um profissional 
capaz de atuar com criatividade e senso crítico, mediante uma prática 
humanizada, competente e resolutiva, que envolve ações de promoção, de 
proteção específica, assistencial e de reabilitação. O profissional adequado para 
o trabalho nas unidades do PSF é aquele que tem sensibilidade para com as 
questões sociais aliada à disposição para as atividades em comunidade. Um 
profissional capacitado para planejar, organizar, desenvolver e avaliar ações que 
respondam às reais necessidades da comunidade, articulando os diversos 
setores envolvidos na promoção da saúde. Para tanto, deve realizar uma 
permanente interação com a comunidade, no sentido de mobilizá-la, estimular 
sua participação e envolvê-la nas atividades. O fio condutor que desenha a 
prática dos integrantes das unidades do Saúde da Família não é o conhecimento 
técnico, mas sim, o saber humanitário e o agir solidário. 
O Programa de Saúde da Família teve, assim, sua implantação iniciada em 
1994, como resposta intencional à conjuntura da crise na saúde, e conta hoje com 
um total de 29,3 mil equipes de Saúde da Família implantadas em 5.235 municípios, 
garantindo cobertura populacional de 49,5% da população brasileira, o que 
corresponde a aproximadamente 93,178 milhões de pessoas (DAB, 2008). 
 
 
 
 
 
 
 
 
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 39 
1.4 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS E OPERACIONALIZAÇÃO 
 
 
A Saúde da Família é operacionalizada mediante a implantação de equipes 
multiprofissionais em unidades básicas de saúde. As equipes de Saúde da Família 
têm como objetivos centrais a prestação de assistência integral, contínua, com 
resolutividade e qualidade, às necessidades de saúde da população adscrita, 
destacando-se a perspectiva da família. 
Para atingir tais objetivos, requer-se abordagem multidisciplinar, processos 
diagnósticos de realidade, planejamento das ações e organização horizontal do 
trabalho, compartilhamento do processo decisório, além do estímulo ao exercício do 
controle social. 
As equipes atuam com ações de promoção da saúde, prevenção, 
recuperação, reabilitação de doenças e agravos mais frequentes, e na manutenção 
da saúde desta comunidade. 
 
Conhecer a realidade das famílias pelas quais é responsável, por meio do 
cadastramento destas e do diagnóstico de suas características sociais, 
demográficas e epidemiológicas; identificar os problemas de saúde 
prevalentes e situações de risco aos quais a população está exposta; 
elaborar, com a participação da comunidade, um plano local para o 
enfrentamento dos determinantes de processo saúde/doença; prestar 
assistência integral, respondendo de forma contínua e racionalizada à 
demanda organizada ou espontânea na USF, na comunidade, no domicílio 
e no acompanhamento ao atendimento, nos serviços de referência 
ambulatorial ou hospitalar; desenvolver ações educativas e intersetoriais 
para o enfrentamento dos problemas de saúde identificados; são ações 
para as quais as equipes devem estar preparadas. (Ministério da Saúde – 
Programa da Saúde da Família). 
 
A produção do cuidado traz consigo a proposta de humanização do 
processo de desenvolver ações e serviços de saúde. 
Implica a responsabilização dos serviços e dos trabalhadores da saúde, em 
construir, com os usuários, a resposta possível às suas dores, angústias, problemas 
e aflições, de uma forma tal que não apenas se produzam consultas e atendimentos, 
mas que o processo de consultar e atender venha a produzir conhecimento, 
responsabilização e autonomia em cada usuário. 
Assim, as ações e serviços devem resultar de um adequado conhecimento 
da realidade de saúde de cada localidade para, a partir disso, construir uma prática 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 40 
efetivamente resolutiva. É imprescindível, em cada território, aproximar-se das 
pessoas e tentar conhecê-las: suas condições de vida, as representações e as 
concepções que têm acerca de sua saúde, seus hábitos e as providências que 
tomam para resolver seus problemas quando adoecem, bem como o que fazem 
para evitar enfermidades. 
O Ministério da Saúde procura deixar claro que não se trata de um 
atendimento simplificado, pelo contrário, é uma expansão da atenção primária à 
saúde em direção à incorporação de práticas preventivas, educativas e curativas 
mais próximas da vida cotidiana da população e, principalmente, dos grupos mais 
vulneráveis. A Estratégia Saúde da Família (ESF) está inserida no primeiro nível 
de ações e serviços do sistema local de assistência, denominado Atenção Básica 
ou Primária. A Atenção Primária à Saúde (APS) tem sido associada a uma 
assistência de baixo custo, pois parece tratar-se de serviço simples e quase 
sempre com poucos equipamentos, embora seja uma abordagem tecnológica 
específica de organizar a prática e, como tal, dotada de particular complexidade. 
A APS, ao ser um primeiro atendimento, servirá obrigatoriamente de porta de 
entrada para o sistema de assistência, ao mesmo tempo em que constitui um 
nível próprio de atendimento. 
Deve estar vinculada à rede de serviços, de forma que se garanta atenção 
integral aos indivíduos e famílias. A responsabilidade pelo acompanhamento das 
famílias coloca para as equipes de Saúde da Família a necessidade de ultrapassar 
os limites classicamente definidos para a atenção básica no Brasil, especialmente no 
contexto do SUS, buscando assegurar a referência e contrarreferência para clínicas 
e serviços de maior complexidade, sempre que essa conduta se fizer necessária. 
Assim, a saúde da família e da coletividade poderá desenvolver-se de forma 
mais plena caso seja compreendida não como um programa para a saúde restrito a 
procedimentos organizacionais e financeiros, mas como projeto concreto, dotado de 
interesses, diversidade, desejos e intencionalidades com o objetivo de formular 
políticas e dar resposta às necessidades em saúde da população.Quanto à sua resolutividade, o Ministério da Saúde afirma que, funcionando 
adequadamente, as Unidades de Saúde da Família (USFs) são capazes de resolver 
85% dos problemas de saúde em sua comunidade, prestando um atendimento de 
bom nível, prevenindo doenças, evitando internações desnecessárias e melhorando 
 
 
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 41 
a qualidade de vida da população. De acordo com os estudos de Stein (1998), o fácil 
acesso dos usuários aos atendimentos primários de saúde chega a diminuir em até 
três vezes o atendimento de casos não urgentes nos setores de emergência dos 
hospitais. Isso significa dizer que o modelo de atenção primária integral à saúde, 
quando implantado numa região definida, subtrai as consultas não urgentes dos 
centros hospitalares, desafogando o sistema de maior complexidade e facilitando o 
acesso ao atendimento médico. 
Considerações sobre a implantação das Equipes de Saúde da Família: 
 a equipe multiprofissional mínima deverá ser composta por médico, 
enfermeiro, auxiliar de enfermagem ou técnico de enfermagem e agentes 
comunitários de saúde; 
 cada equipe será responsável por, no máximo, 4 mil habitantes, sendo a 
média recomendada de 3 mil habitantes. A jornada de trabalho é de 40 
horas semanais para todos os integrantes da equipe; 
 o número máximo de ESFs pelas quais o município e o Distrito Federal 
podem fazer jus ao recebimento de recursos financeiros específicos será 
calculado pela fórmula: população/2400; 
 o número de agentes comunitários de Saúde (ACS) deve ser suficiente 
para cobrir 100% da população cadastrada, respeitando-se a proporção de 
750 pessoas por ACS, e de 12 ACS por equipe de Saúde da Família; 
 os profissionais de Saúde Bucal poderão ser incorporados segundo duas 
modalidades. Na modalidade um, a equipe contará com cirurgião dentista e 
auxiliar de consultório dentário. Na modalidade dois, poderá ser incluído 
também um técnico em higiene bucal. A carga horária dos profissionais 
deverá ser de 40 horas semanais, com trabalho integrado a uma ou duas 
equipes ESF, e com responsabilidade sanitária pela mesma população e 
território que as ESF às quais estão vinculados. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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 42 
1.4.1 ALÉM DOS PRINCÍPIOS GERAIS DA ATENÇÃO BÁSICA: 
 
Além dos princípios gerais da atenção básica, a estratégia saúde da família 
deve: 
I – ter caráter substitutivo em relação à rede de Atenção Básica tradicional 
nos territórios em que as Equipes Saúde da Família atuam, ou seja, o PSF não 
significa a criação de novas estruturas de serviços, exceto em áreas desprovidas de 
qualquer tipo de serviço. Implantá-lo significa substituir as práticas tradicionais de 
assistência, com foco nas doenças, por um novo processo de trabalho 
comprometido com a solução dos problemas de saúde, a prevenção de doenças e a 
promoção da qualidade de vida da população; 
II – atuar no território, realizando cadastramento domiciliar, diagnóstico 
situacional, ações dirigidas aos problemas de saúde de maneira pactuada com a 
comunidade onde atua, buscando o cuidado dos indivíduos e das famílias ao longo 
do tempo, mantendo sempre postura proativa frente aos problemas de 
saúde/doença da população; 
III – desenvolver atividades de acordo com o planejamento e a programação 
realizados, com base no diagnóstico situacional e tendo como foco a família e a 
comunidade; 
IV – buscar a integração com instituições e organizações sociais, em 
especial em sua área de abrangência, para o desenvolvimento de parcerias; 
V – ser um espaço de construção de cidadania. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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 43 
1.4.2 CARACTERÍSTICAS DO TRABALHO DAS EQUIPES DE ATENÇÃO B 
 
 
São características do processo de trabalho das Equipes de Atenção Básica: 
I – definição do território de atuação das Unidades Básicas de Saúde; 
II – programação e implementação das atividades, com a priorização de 
solução dos problemas de saúde mais frequentes, considerando a responsabilidade 
da assistência resolutiva à demanda espontânea; 
III – desenvolvimento de ações educativas que possam interferir no processo 
de saúde/doença da população e ampliar o controle social na defesa da qualidade 
de vida; 
IV – desenvolvimento de ações focalizadas sobre os grupos de risco e 
fatores de risco comportamentais, alimentares e/ou ambientais, com a finalidade de 
prevenir o aparecimento ou a manutenção de doenças e danos evitáveis; 
V – assistência básica integral e contínua, organizada à população adscrita, 
com garantia de acesso ao apoio diagnóstico e laboratorial; 
VI – implementação das diretrizes da Política Nacional de Humanização, 
incluindo o acolhimento; 
VII – realização de primeiro atendimento às urgências médicas e 
odontológicas; 
VIII – participação das equipes no planejamento e na avaliação das ações; 
IX – desenvolvimento de ações intersetoriais, integrando projetos sociais e 
setores afins, voltados para a promoção da saúde; e 
X – apoio a estratégias de fortalecimento da gestão local e do controle 
social. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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 44 
1.4.3 CARACTERÍSTICAS DO PROCESSO DE TRABALHO DA SAÚDE DA 
FAMÍLIA 
 
 
São características do processo de trabalho da Saúde da Família: 
I – manter atualizado o cadastramento das famílias e dos indivíduos e 
utilizar, de forma sistemática, os dados para a análise da situação de saúde 
considerando as características sociais, econômicas, culturais, demográficas e 
epidemiológicas do território; 
II – definição precisa do território de atuação, mapeamento e 
reconhecimento da área adstrita, que compreenda o segmento populacional 
determinado, com atualização contínua; 
III – diagnóstico, programação e implementação das atividades segundo 
critérios de risco à saúde, priorizando solução dos problemas de saúde mais 
frequentes; 
IV – prática do cuidado familiar ampliado, efetivada por meio do 
conhecimento da estrutura e da funcionalidade das famílias que visa propor 
intervenções que influenciem os processos de saúde/doença dos indivíduos, das 
famílias e da própria comunidade; 
V – trabalho interdisciplinar e em equipe, integrando áreas técnicas e 
profissionais de diferentes formações; 
VI – promoção e desenvolvimento de ações intersetoriais, buscando 
parcerias e integrando projetos sociais e setores afins, voltados para a promoção da 
saúde, de acordo com prioridades e sob a coordenação da gestão municipal; 
VII – valorização dos diversos saberes e práticas na perspectiva de uma 
abordagem integral e resolutiva, possibilitando a criação de vínculos de confiança 
com ética, compromisso e respeito; 
VIII – promoção e estímulo à participação da comunidade no controle social, 
no planejamento, na execução e na avaliação das ações; 
IX – acompanhamento e avaliação sistemática das ações implementadas, 
visando à readequação do processo de trabalho. 
 
 
 
 
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 45 
2 AS ATRIBUIÇÕES DOS PROFISSIONAIS DAS EQUIPES DE SAÚDE DA 
FAMÍLIA, DE SAÚDE BUCAL E DE ACS 
 
 
2.1 SÃO ATRIBUIÇÕES COMUNS A TODOS OS PROFISSIONAIS 
 
 
I – participar do processo de territorialização e mapeamento da área de 
atuação da equipe, identificando grupos, famílias e indivíduos expostos a riscos, 
inclusive aqueles relativos ao trabalho, e da atualização contínua dessas informações, 
priorizando as situações a serem acompanhadas no planejamento local; 
II – realizar o cuidado em saúde da população adscrita, prioritariamente no 
âmbito da unidade de saúde, no domicílio e nos demais espaços comunitários 
(escolas, associações, entre outros), quando necessário; 
III – realizar ações de atenção integral, conforme a necessidade de saúde da 
população local, bem como as previstas nas prioridades e protocolos da gestão local; 
IV – garantir a integralidade da atenção, por meio da realização de ações de 
promoção da saúde, prevenção de agravos e curativas; e da

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