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Formação Profissional em Saúde Coletiva - Saúde da Família - Módulo 04

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AN02FREV001/REV 4.0 
 202 
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA 
Portal Educação 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE 
SAÚDE DA FAMÍLIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aluno: 
 
EaD - Educação a Distância Portal Educação 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 203 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE 
SAÚDE DA FAMÍLIA 
 
 
 
 
 
MÓDULO IV 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este 
Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do 
mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são 
dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 204 
 
 
MÓDULO IV 
 
 
19 O IDOSO E A ABORDAGEM DA SAÚDE DA FAMÍLIA 
 
 
Com frequência vemos profissionais da saúde dirigirem-se a pacientes 
idosos usando nomes no diminutivo. Após tantos anos de vida, de experiências 
incríveis, muitas vezes tendo ocupado cargos e exercido atividades de alta 
responsabilidade, deixam de ser chamados por seus nomes e viram “vovozinho(a)”, 
entre outros. 
Ao atendermos os idosos, devemos nos dirigir a eles pelo nome. Sempre 
precedido por senhor ou senhora. É um pronome de tratamento da língua 
portuguesa que deve ser utilizado sempre quando estamos diante de pessoas mais 
velhas. Não é assim que aprendemos nas aulas de português? Nada de “vôzinho”, 
vovô, vovó. Eles não são nossos parentes. São pessoas que merecem nosso 
respeito e toda consideração. 
Quantos de nós aproveitamos a grande oportunidade de conversar com 
pessoas mais velhas? Muitos, pela idade e também pela profissão, podem contar 
histórias riquíssimas, que não são encontradas em livros nem jornais, mas que 
foram vivenciadas por eles. 
Brasília é uma cidade jovem, de 49 anos. Muitos que vieram para a 
construção da nova capital do Brasil, hoje possuem mais de 70 ou 80 anos. 
Imaginem a riqueza de conversarmos com essas pessoas e sabermos como era a 
vida na década de 1960 e início dos anos 1970 em nosso país. 
É comum vermos o idoso, em consultas, ser acompanhado por parentes; e o 
profissional de saúde, ao invés de fazer perguntas diretamente ao idoso, faz ao 
parente. Idoso não é criança. Se em consultas com crianças que sabem falar, 
perguntamos diretamente a elas, por que seria diferente com o idoso? A justificativa 
para nos dirigirmos aos acompanhantes dá-se apenas diante de quadros avançados 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 205 
de demência, quando o paciente não consegue mais fornecer informações 
adequadas ou, mesmo, falar. 
As diferentes formas de demência são extremamente graves, requerem 
toda nossa atenção e as pesquisas devem ser incentivadas e apoiadas de todas 
as formas para diminuir a morbidade e oferecer opções de tratamento e cura. No 
entanto, devemos ter em mente que a maioria dos idosos possui plenas 
condições de responder perguntas sobre suas vidas e, a menos que haja claras 
evidências do contrário é que devemos nos dirigir a outras pessoas para 
avaliação de sinais e sintomas. 
Naturalmente que há questões que podem e devem ser compartilhadas com 
parentes mais próximos, desde que o idoso permita, como as relacionadas à 
qualidade do sono. Nem sempre o paciente percebe movimentos involuntários de 
pernas ou roncos durante a noite. Nestes casos, por exemplo, e esta abordagem 
independe da idade, pode ser feita a quem dorme junto ou perto do paciente. 
Muitas vezes, para nós, é mais confortável conversar com quem entende 
rápido nossas perguntas e nos responde com presteza. É comum os 
acompanhantes já chegarem com um diagnóstico: “Papai está deprimido desde que 
o cachorro dele morreu.” Será que é depressão mesmo? Ou um quadro de 
demência? Por outro lado, poderíamos ter a pergunta inversa: “Papai está 
esclerosado igual à vovó. Já não se lembra de mais nada e não quer nem conversar 
mais.” Será que é mesmo demência? Não poderia ser uma depressão? E se for 
demência, que tipo seria? 
O atendimento ao idoso requer cuidado, paciência, respeito, observação 
clínica e, sobretudo, humildade. 
Deve-se ter cuidado ao se referir ao paciente. Não achar que, porque ele 
está olhando para você fixamente ou pouco se comunicando, não o está 
compreendendo. Em particular, recordo de uma senhora, já com mais de 75 anos, 
que, em decorrência de um acidente vascular cerebral, não conseguia mais articular 
uma frase (afasia), embora fosse capaz de cantar e rezar. Os familiares que 
conviviam com esta senhora se divertiam em apresentá-la aos amigos para cantar e 
rezar, apesar de não conseguir falar. Patético e cruel. O pior é que achavam ser 
uma forma de distrair a tal senhora. Ela estava bastante deprimida e mesmo com 
todas suas dificuldades tentava se comunicar. O problema é que todos naquela casa 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 206 
só se dispunham a ouvir, com os ouvidos, quando há horas que devemos entender 
com o coração. 
O respeito deve existir desde o primeiro momento. Até mesmo na forma 
como nos vestimos. Há alguns profissionais que entendem que, porque estão em 
um Programa de Saúde da Família, devem vestir-se de forma desleixada. Asseio e 
bom gosto ao vestir-se não têm nenhuma relação com classe social. Encontraremos 
pessoas bem asseadas e muito bem vestidas em todas as classes sociais, como 
também o contrário. Espera-se dos profissionais da saúde, roupas limpas, sobretudo 
quando utilizam o jaleco. Chinelos não são calçados adequados a serem utilizados 
durante as consultas, a menos que seja um programa desenvolvido na praia. 
Como você se sentiria se fosse consultar com um profissional da saúde e 
fosse recebido por alguém com aspecto de sujeira e desleixo? A primeira coisa que 
vem à mente seria “se ele não cuida dele mesmo, como poderá cuidar de mim”? 
Não quero dizer que as aparências compensam uma formação deficiente. 
Longe disso, mas que você não causará uma primeira boa impressão. Como a 
confiança e a empatia são fundamentais na relação com o paciente, certamente 
você encontrará dificuldades em sua avaliação. 
Os idosos viveram a juventude quando muitos de nós sequer éramos 
nascidos. Era outra época. Outro momento. Nem melhor, nem pior do que agora. 
Quem sabe? Mas, com certeza, diferente, e temos que reconhecer e respeitar isso. 
Se queremos (e devemos) “entrar no mundo” de nossos pacientes idosos, 
temos que entender e nos comunicar na linguagem deles. 
Ninguém precisa usar terno e gravata em um Programa de Saúde da Família, 
mas um mínimo de bom-senso se faz necessário. O uso de gírias deve ser evitado. 
Quer usar um piercing na sobrancelha? Vá em frente. Mas, na hora de ir trabalhar, 
deixe-o em casa ou guardado na bolsa. O objetivo da consulta é o paciente. 
Estou insistindo um pouco nesta questão, porque, com frequência, encontro 
pacientes idosos que se queixam de ser atendidos por jovens de chinelo, falando 
gírias, e com isso, sentem-se desrespeitados. Não custa nada um pouco de atitude. 
A paciência é uma virtude. Ouvir e, quando falar, repetir, ou mudar a forma 
de dizer se não estiver conseguindo ser compreendido; são atributos indispensáveis 
a quem lida com os idosos. Muitas vezes há uma deficiência auditiva importante. 
Outras vezes, não nos fazemos compreender. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 207 
Certa vez, vi um profissional que falava rápido e não tinha muita paciência. 
Após falar duas vezes com um senhor e não ser compreendido perdeu a paciência 
e pediu que outra pessoa fizesse as perguntas. Aconselhou ao paciente que 
buscasse um otorrino, pois não era possível que não tivesse entendido. Quanta 
arrogância! Pois bem, o paciente não tinha nenhum problema auditivo. Só não 
falava português. Ou melhor, entendia, mas com muita dificuldade. Era um 
imigrante da Ucrânia e, ao iniciar a consulta, o profissional não apenas não olhou 
para ele, como mandouque sentasse e foi logo medindo a pressão. Ao perguntar 
se o paciente estava tomando alguma medicação não foi compreendido. Isso não é 
forma de atender ninguém, muito menos uma pessoa que já está fragilizada por 
não estar em seu país e não entender a nossa língua. 
Devemos ter cuidado também com o “mediquês”, ou seja, ao explicarmos 
as condutas e fazermos as perguntas, é importante que percebamos se fomos 
compreendidos. Nem todo mundo sabe o que é icterícia, náuseas, lombalgia, 
fadiga, dispneia e muitos outros termos que são comuns para nós, mas não para 
os pacientes. 
Se prescrevermos uma medicação para ser tomada duas vezes ao dia, 
estamos sendo claros? Pode ser que para uns, sim. Mas, para muitos, pode ser 
entendido como tomar dois comprimidos de uma só vez, ou na hora em que for mais 
conveniente. Se for uma medicação, como um antibiótico, por exemplo, que precisa 
ser tomado com horário certo, devemos perguntar ao paciente qual o melhor horário 
para ele e escrever no receituário. Peço desculpas aos que possam entender estas 
recomendações como básicas, mas acreditem, são problemas extremamente 
comuns e que causam sérios problemas na aderência ao tratamento. 
O mesmo se dá com a caligrafia do profissional da saúde. Ninguém é 
obrigado a ter que traduzir palavras mal escritas ou, mesmo, indecifráveis. Há ainda 
o risco de medicação com nome similar, mas substâncias completamente diferentes 
de serem administradas. 
A forma de administração da medicação também deve ser explicada e não 
só escrita. Pergunte ao paciente se ele entendeu e, se não for possível, ao seu 
acompanhante. 
Observe também como o paciente se veste. As roupas estão combinando? 
Não só em cores, mas com o clima? Pacientes com aspecto de desleixo ou não se 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 208 
preocupando com o aspecto visual, sobretudo em idosos, podem apresentar indício 
de depressão. Outros muito alegres e com roupas muito coloridas ou mesmo 
bizarras podem estar em um quadro de mania ou, simplesmente, não ser nada mais 
que a forma como gosta de se vestir. Há sinais de alcoolismo? Há cinzeiros na 
casa? Há sinais de cigarro? Como o paciente se comunica? Ele parece enxergar e 
escutar bem? Como ele caminha? 
Na Geriatria, a observação é extremamente importante. Aquele paciente 
com marcha diferente e incontinência urinária pode estar com um quadro de 
hidrocefalia de pressão normal. Cuidado com rótulos. Nem todo tremor em idoso é 
Parkinson e ainda que a filha de seu paciente diga que ele tem esta doença, avalie o 
quadro. Quem fez o diagnóstico? Quando? Foi medicado? O que parecia ser 
Parkinson pode ser apenas um Tremor Essencial. 
Ao realizar a anamnese do paciente esteja atento para alguns fatores. Não 
faz sentido perguntar a ele se nasceu de fórceps ou de parto normal. Mas, faz 
sentido perguntar sobre sua alimentação, seu padrão de sono, sua sexualidade e, 
sobretudo, verificar se algum sintoma surgiu após o início de alguma medicação. 
Percebe-se, pelos estudos citados, que, embora a demência seja um 
problema muito importante e que deva ser precocemente identificado, como 
veremos mais a frente, a maior parte dos idosos não sofre de demência. Apenas na 
faixa etária acima de 95 anos é que a doença alcança pouco mais de 50%. 
Mais de 90% dos idosos com menos de 80 anos não são portadores de 
demência, contrariando a percepção de muitas pessoas, inclusive, profissionais 
da saúde. 
O idoso possui uma série de características fisiológicas e comportamentais 
que devem ser observadas. O envelhecimento do corpo é acompanhado pelo 
envelhecimento dos órgãos e, assim, temos alterações fisiológicas (não são 
doenças) que acompanham o avançar da idade. Muitas vezes essas alterações 
fisiológicas trazem limitações, o que não significa incapacidade ou doença. 
Se formos nos lembrar de nossa infância, perceberemos que havia uma 
série de atividades que fazíamos sem nos cansarmos e tínhamos uma energia fora 
do comum para brincar. Tínhamos também outros interesses. Quando nos tornamos 
adultos, nosso corpo passa a ter outras exigências e comporta-se de forma 
diferente. O mesmo se dá com o idoso. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 209 
Estamos falando de Geriatria e de Gerontologia, mas qual a diferença entre 
essas disciplinas? 
A Gerontologia estuda o envelhecimento e suas correlações com as 
demais áreas e campos sociais, humanos, biológicos, entre outros. Não é voltada 
para diagnóstico, nem tratamento de doenças. Quem cuida desta parte é a 
Geriatria. Na Geriatria, encontramos principalmente profissionais da saúde; na 
Gerontologia, encontramos sociólogos, cientistas políticos e uma quantidade 
enorme de estudiosos. Os profissionais da Saúde da Família possuem uma 
interface com a Geriatria, embora todos que queiram estudar o tema do 
envelhecimento possam fazê-lo em pesquisas e especializações, incluindo a pós-
graduação strictu sensu, em Gerontologia. 
 
 
19.1 COMO ABORDAR O IDOSO NA SAÚDE DA FAMÍLIA? 
 
 
O Ministério da Saúde elaborou um Caderno de Envelhecimento e Saúde da 
Pessoa Idosa, que pode (e deve) ser consultado. Ele está disponível em: 
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/abcad19.pdf>. 
A Lei nº 8.842, de 4 de janeiro de 2004, dispõe sobre a Política Nacional do 
Idoso, cria o Conselho Nacional do Idoso e dá outras providências. Por meio desta 
lei, temos condições de saber como é o pensamento dos Poderes Legislativo e 
Executivo de nosso país, com a questão dos idosos. 
A lei começa definindo quem é idoso, pelo critério da idade. Assim, quem 
tem mais de 60 anos entra nesta categoria. 
Fala também da finalidade deste dispositivo legal, ao estabelecer que tem 
por objetivo: “[...] assegurar os direitos sociais do idoso, criando condições para 
promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade” (ITAMAR 
FRANCO; Leonor Barreto Franco - Brasília, 4 de janeiro de 1994, 173º da 
Independência e 106º da República.). 
O que seriam estes direitos sociais? Podemos em um conceito amplo 
entender que compreendem educação, saúde, moradia, condições dignas para 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 210 
exercício da cidadania, respeito e segurança, o que inclui a não discriminação, entre 
outras. 
A lei segue os seguintes princípios: 
I) a família, a sociedade e o Estado têm o dever de assegurar ao idoso todos 
os direitos da cidadania, garantindo sua participação na comunidade, 
defendendo sua dignidade, bem-estar e o direito à vida; 
II) o processo de envelhecimento diz respeito à sociedade em geral, 
devendo ser objeto de conhecimento e informação para todos; 
III) o idoso não deve sofrer discriminação de qualquer natureza; 
IV) o idoso deve ser o principal agente e o destinatário das transformações a 
serem efetivadas por meio desta política; 
V) as diferenças econômicas, sociais, regionais e, particularmente, as 
contradições entre os meios rural e urbano do Brasil deverão ser observadas 
pelos poderes públicos e pela sociedade em geral, na aplicação desta Lei. 
Observe que a responsabilidade não recai apenas sobre o Estado, mas 
também sobre a Sociedade e a Família, de forma compartilhada. 
Infelizmente, é comum, ainda que veladamente, o preconceito contra os 
mais velhos. Vemos isto ocorrer constantemente na área de empregos. Por que 
alguém com 60 anos e boas condições de saúde não pode exercer plenamente suas 
atividades? Há, no entanto, muitas empresas que simplesmente descartam os mais 
velhos, mais experientes, com mais bagagem cultural e de vida, em busca do que 
chamam de “renovação”, mas que nada mais é do que uma simples redução de 
custos. Esta política cruel, discriminatória e pouco inteligente é vista com muita 
frequência até mesmo em universidades, onde antigos professores cedem seus 
lugares para os que estão começando. 
Nada contra a renovação, mas o que ocorre, em muitos casos, é apenas a 
opção pelo “mais barato”. 
Em alguns países, esta seria umasituação inaceitável. Em muitas culturas, 
os idosos, também conhecidos como anciãos, são os mais respeitados e a quem 
cabe as decisões mais importantes. Em outras, quando ocorre a aposentadoria, 
passam a fazer parte de um conselho de notáveis. 
O problema é ainda mais complexo, quando nos deparamos com famílias 
segregando seus parentes. Pais que dedicaram suas vidas a seus filhos, de uma 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 211 
hora para outra, são tratados como estorvos. São conhecidas as histórias de maus 
tratos e abandonos de idosos por seus filhos e membros da família. 
É verdade que não é fácil lidar com doenças crônicas, degenerativas e 
incapacitantes, que podem, por sua vez, ocorrer em qualquer fase de nossas vidas, 
com nomes e diagnósticos diferentes, mas com prognóstico igualmente sombrio. O 
que fazer nessas horas? 
O profissional da Saúde da Família, ao realizar sua consulta familiar, deve 
sempre avaliar, ao constatar a presença de idoso na casa visitada, de que forma ele 
é visto pelos demais. Se está doente, como está sendo cuidado. Entre outras coisas: 
 Que medicamentos estão sendo utilizados? Quem prescreveu? 
Quando? Por que razão? Um dos problemas mais comuns na avaliação do 
idoso, diz respeito à prática da polifarmácia, ou seja, o uso de diversos 
medicamentos de forma simultânea, muitas vezes dirigido para o alívio de 
sintomas, de síndromes ou doenças não diagnosticadas. 
 Quem é o responsável para administrar as medicações? A que horas 
são tomadas? De que forma são administradas? 
O encarregado por administrar as medicações deve ser alguém responsável, 
o que significa saber a importância de seu papel na recuperação do idoso, verificar 
se a medicação prescrita é de fato a que foi adquirida e a que está sendo 
administrada; se a dose está correta e se a via de administração também. Nem toda 
medicação pode ser fracionada, uma vez que há diferentes sítios de absorção. O 
horário de administração da medicação deve levar em conta a sua praticidade, mas, 
sobretudo, as condições do paciente. Ter que acordar o idoso para receber a 
medicação, porque quem a administra gosta de ir a festas é inadmissível. 
 O paciente recebe os devidos cuidados para não apresentar escaras de 
decúbito? Quem realiza esta prevenção? 
 O paciente toma banho diariamente? Como? Quem dá o banho? 
 Como é o ambiente em que o idoso está? Há riscos de quedas? 
Muitos estarão pensando: em um país como o nosso, onde há milhões de 
pessoas com precárias condições de saneamento, assistência social, como garantir 
ou até mesmo pedir a familiares, também pobres e sem condições mínimas de 
qualidade de vida, para cuidarem, de forma correta, de seus idosos? 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 212 
Realmente não é fácil, no entanto, há um elemento a mais nesta discussão, 
que é a existência de uma lei. Também sei que apenas o fato de ela existir não 
garante o seu cumprimento, mas se, como sociedade, não fizermos nosso papel, já 
estaremos “passando por cima” do primeiro preceito da lei, que é o compartilhamento 
de responsabilidades. Seu papel como profissional da Saúde da Família está 
exatamente aí: avaliando, prevenindo, diagnosticando e tratando doenças. 
Também levando às autoridades competentes condições e situações 
degradantes. Não apenas para punir, mas, sobretudo, para corrigir. O mundo não é 
perfeito, mas temos que fazer cumprir nosso papel. 
Por outro lado, a Saúde da Família, em nosso país, é vista com um viés 
quase que totalmente direcionado para comunidades carentes e necessitadas. Outro 
erro. Em países como o Canadá, o Reino Unido e os Estados Unidos, os médicos de 
família são profissionais que atendem diferentes tipos de pessoas e das mais 
diversas condições econômicas. No Canadá, por exemplo, o primeiro contato de 
todo paciente é sempre com o médico de família e não com o especialista. 
No artigo 4º da lei são estabelecidas as suas diretrizes, ou seja, o que 
precisa ser seguido. 
 
I – Viabilização de formas alternativas de participação, ocupação e convívio 
do idoso, que proporcionem sua integração às demais gerações. 
Comentário: esta é uma diretriz essencialmente relacionada à não 
discriminação e à integração do idoso. Quantos aposentados não poderiam 
contribuir em programas de voluntariado? O voluntariado ainda é pouco 
estimulado e desenvolvido no Brasil, embora tenham surgido diversas iniciativas 
nos últimos anos. 
 
II – Participação do idoso por meio de suas organizações representativas, na 
formulação, implementação e avaliação das políticas, planos, programas e projetos 
a serem desenvolvidos. 
Comentário: quem são as organizações representativas dos idosos? De que 
forma, na prática, eles podem de fato participar de planos, políticas, programas e 
projetos, sobretudo na formulação, implementação e avaliação? 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 213 
III – Priorização do atendimento ao idoso por meio de suas próprias famílias, 
em detrimento do atendimento asilar, à exceção dos idosos que não possuam 
condições que garantam sua própria sobrevivência. 
Comentário: esta é uma questão diretamente relacionada à participação da 
família no cuidado do idoso. É com base nesta diretriz, sobretudo, que o profissional 
da Saúde da Família deve atuar. 
Os asilos devem ser a exceção, não a regra. Alguns planos de saúde já 
admitem o pagamento do cuidador de idoso, que pode ser inclusive parente, desde 
que não pertencente ao núcleo familiar direto. A figura do cuidador ainda é nova em 
nosso meio e há carência de muitos profissionais nesta área. 
 
IV – Descentralização político-administrativa. 
V – Capacitação e reciclagem dos recursos humanos nas áreas de Geriatria 
e Gerontologia e na prestação de serviços. 
Comentário: é enorme a necessidade de geriatras e gerontólogos em nosso 
país. Há, no entanto, poucos programas de formação, e não é fácil, mesmo para o 
profissional que já está atuando no mercado há vários anos, conseguir sua titulação. 
Nos Estados Unidos, por exemplo, o processo é bem mais simplificado, sem com 
isso diminuir a capacidade técnica de seus profissionais. Naquele país, a Geriatria é 
uma subespecialidade (no sentido de ser derivada) da Medicina Interna e não 
especialidade primária. Da mesma forma, há uma formação diferenciada para os 
enfermeiros geriátricos. 
 
VI – Implementação de sistema de informações que permita a divulgação da 
política, dos serviços oferecidos, dos planos, dos programas e dos projetos em cada 
nível de governo. 
Comentários: alguns programas foram de fato implementados, como o do 
“Viaje Mais”, do Ministério do Turismo, voltado para idosos, em que são oferecidos 
vários descontos e benefícios para quem quer viajar. Diversas leis estaduais e 
municipais já foram criadas e algumas “derrubadas”, como na questão do transporte 
interestadual, em que vagas seriam destinadas ao transporte gratuito de idosos. 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 214 
VII – Estabelecimento de mecanismos que favoreçam a divulgação de 
informações de caráter educativo sobre os aspectos biopsicossociais do 
envelhecimento. 
Comentários: esta é uma diretriz que ainda precisa ser implementada. 
 
VIII – Priorização do atendimento ao idoso em órgãos públicos e privados 
prestadores de serviços, quando desabrigados e sem família. 
Comentários: a priorização dos idosos tem sido na maioria das vezes restrita 
a vagas preferenciais. 
 
IX – Apoio a estudos e pesquisas sobre as questões relativas ao 
envelhecimento. 
Comentários: este apoio ainda precisa ser anunciado e efetivado, pois, na 
prática, ainda não foi de fato implementado. 
 
Parágrafo único – É vedada a permanência de portadores de doenças que 
necessitem de assistência médica ou de enfermagem permanente em instituições 
asilares de caráter social. 
Comentários: há situações em que ocorre a necessidade de 
encaminhamento de idosos que padecem de doenças crônico-degenerativas, 
quando asfamílias não possuem condições de cuidar. Por outro lado, é grande a 
deficiência de centros especializados para esses cuidados. Ou são muito caros ou 
são asilos, que mais se parecem depositários de pessoas. Poucos, de fato, são 
acessíveis à boa parcela dos que requerem esses cuidados. 
 
Vimos a lei que discute a Política Nacional do Idoso, mas o que diz o 
Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741 de 2003)? 
Da mesma forma que o faz a Política Nacional do Idoso, o Estatuto também 
compartilha responsabilidades, como disposto no art. 3º: 
 
Art. 3º É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder 
Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito 
à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, 
ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à 
convivência familiar e comunitária. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 215 
No trecho citado, existe a palavra “prioridade”, ou seja, antes dos demais, 
ela é absoluta e não relativa, o que significa que não está sujeita a condições para 
ser aplicada. Naturalmente que não podemos entender que haja uma prioridade no 
direito à vida, pois este é inalienável e não comporta prioridades, já que ninguém 
abrirá mão de seu direito de viver em favor de outros. Assim, o entendimento que 
podemos dar para este artigo é que o idoso não pode ser tratado com discriminação. 
Ele não é um pária da sociedade e nem alguém a ser tratado em último 
lugar. 
Apesar disso, pacientes idosos, sem levar em consideração comorbidades, 
status socioeconômico e suporte social, recebem menos intervenções 
cardiovasculares intensivas e tratamento em geral que os pacientes mais jovens, 
apenas com base na idade. 
O legislador, para deixar claro de que tipo de prioridade ele se refere, assim 
definiu no art . 4º do Estatuto do Idoso: 
 
A garantia de prioridade compreende: 
I – atendimento preferencial imediato e individualizado junto aos órgãos 
públicos e privados prestadores de serviços à população; 
II – preferência na formulação e na execução de políticas sociais públicas 
específicas; 
III – destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas 
com a proteção ao idoso; 
IV – viabilização de formas alternativas de participação, ocupação e convívio 
do idoso com as demais gerações; 
V – priorização do atendimento do idoso por sua própria família, em 
detrimento do atendimento asilar, exceto dos que não a possuam ou careçam de 
condições de manutenção da própria sobrevivência; 
VI – capacitação e reciclagem dos recursos humanos nas áreas de Geriatria 
e Gerontologia e na prestação de serviços aos idosos; 
VII – estabelecimento de mecanismos que favoreçam a divulgação de 
informações de caráter educativo sobre os aspectos biopsicossociais de 
envelhecimento; 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 216 
VIII – garantia de acesso à rede de serviços de saúde e de assistência social 
locais; 
IX – prioridade no recebimento da restituição do Imposto de Renda. 
 
Comentário: ou seja, corrobora o que foi dito, com relação à “não 
discriminação”. 
 
Mais à frente, no art. 9º, assim estabelece: “[...] é obrigação do Estado garantir 
à pessoa idosa a proteção à vida e à saúde, mediante efetivação de políticas sociais 
públicas que permitam um envelhecimento saudável e em condições de dignidade.” 
Fica claro, portanto, que o Estado tem a obrigação de agir no sentido de 
garantir a proteção da vida e da saúde do idoso, o que não exclui o dever ético, 
moral e social da sociedade e da família em atuarem no mesmo sentido. 
É, no entanto, o Capítulo V, que trata do Direito à Saúde do Idoso. 
 
CAPÍTULO IV 
Do Direito à Saúde 
 
Art. 15. É assegurada a atenção integral à saúde do idoso, por intermédio do 
Sistema Único de Saúde – SUS, garantindo-lhe o acesso universal e igualitário, em 
conjunto articulado e contínuo das ações e dos serviços, para a prevenção, 
promoção, proteção e recuperação da saúde, incluindo a atenção especial às 
doenças que afetam preferencialmente os idosos. 
§ 1º A prevenção e a manutenção da saúde do idoso serão efetivadas por 
meio de: 
I – cadastramento da população idosa em base territorial; 
II – atendimento geriátrico e gerontológico em ambulatórios; 
III – unidades geriátricas de referência, com pessoal especializado nas áreas 
de Geriatria e Gerontologia social; 
IV – atendimento domiciliar, incluindo internação, para a população que dele 
necessitar e esteja impossibilitada de se locomover, inclusive para idosos abrigados 
e acolhidos por instituições públicas, filantrópicas ou sem fins lucrativos e 
eventualmente conveniadas com o Poder Público, nos meios urbano e rural; 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 217 
V – reabilitação orientada pela Geriatria e Gerontologia, para redução das 
sequelas decorrentes do agravo da saúde. 
Comentário: este é um exemplo típico da teoria distante da prática. O 
atendimento geriátrico e gerontológico está distante da população como um todo. Há 
poucos serviços do gênero no país e os existentes estão lotados. É comum a 
marcação de retorno para meses, o que inviabiliza qualquer tipo de tratamento 
continuado, com sério prejuízo ao idoso, sobretudo no acompanhamento e 
tratamento dos distúrbios neuropsiquiátricos. A titulação na área é pouco estimulada 
e o concurso para novos especialistas, extremamente dificultado, o que agrava a 
crise no setor. O atendimento domiciliar muitas vezes é o que resta ao idoso, já que 
a existência de vagas em unidades hospitalares é cada vez mais restrita. Se por um 
lado, o atendimento domiciliar deve ser estimulado, dada suas vantagens em 
diversos aspectos, também é verdade que, mesmo nos casos onde a internação se 
impõe como condição fundamental para o tratamento, ela é dificultada ou mesmo 
impossível de ser realizada. 
 
§ 2º Incumbe ao Poder Público fornecer aos idosos, gratuitamente, 
medicamentos, especialmente os de uso continuado, assim como próteses, órteses 
e outros recursos relativos a tratamento, habilitação ou reabilitação. 
Comentário: a distribuição de medicamentos de uso continuado, embora 
seja uma obrigação do Estado, é descumprida de forma sistemática, sendo 
frequente a sua falta para distribuição. O mesmo deve ser dito com relação a 
próteses, órteses e outros recursos. 
 
§ 3º É vedada a discriminação do idoso nos planos de saúde pela cobrança 
de valores diferenciados em razão da idade. 
Comentário: praticamente todos os planos de saúde aplicam valores 
diferenciados de acordo com a idade do segurado, em flagrante desrespeito a 
esta norma. 
 
§ 4º Os idosos portadores de deficiência ou com limitação incapacitante 
terão atendimento especializado, nos termos da lei. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 218 
Art. 16. Ao idoso internado ou em observação é assegurado o direito a 
acompanhante, devendo o órgão de saúde proporcionar as condições adequadas 
para a sua permanência em tempo integral, segundo o critério médico. 
Parágrafo único. Caberá ao profissional da saúde responsável pelo 
tratamento conceder autorização para o acompanhamento do idoso ou, no caso de 
impossibilidade, justificá-la por escrito. 
Art. 17. Ao idoso que esteja no domínio de suas faculdades mentais é 
assegurado o direito de optar pelo tratamento de saúde que lhe for reputado mais 
favorável. 
Parágrafo único. Não estando o idoso em condições de proceder à opção, 
esta será feita: 
I – pelo curador, quando o idoso for interditado; 
II – pelos familiares, quando o idoso não tiver curador ou este não puder ser 
contactado em tempo hábil; 
III – pelo médico, quando ocorrer iminente risco de morte e não houver 
tempo hábil para consulta a curador ou familiar; 
IV – pelo próprio médico, quando não houver curador ou familiar conhecido, 
caso em que deverá comunicar o fato ao Ministério Público. 
Art. 18. As instituições de saúde devem atender aos critérios mínimos para o 
atendimento às necessidadesdo idoso, promovendo o treinamento e a capacitação 
dos profissionais, assim como orientação a cuidadores familiares e grupos de 
autoajuda. 
Art. 19. Os casos de suspeita ou confirmação de maus tratos contra idoso 
serão obrigatoriamente comunicados pelos profissionais da saúde a quaisquer dos 
seguintes órgãos: 
I – Autoridade policial; 
II – Ministério Público; 
III – Conselho Municipal do Idoso; 
IV – Conselho Estadual do Idoso; 
V – Conselho Nacional do Idoso. 
Comentário: Aqui, fica claro que os profissionais da saúde, o que inclui os 
envolvidos na Saúde da Família, devem denunciar os casos de suspeita ou 
confirmação de maus tratos, o que é muitas vezes negligenciado. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 219 
 
 
19.2 ACESSO AO IDOSO 
 
 
Antes de falarmos do acesso ao idoso, é importante registrarmos o conceito 
de Avaliação Geriátrica Ampla. 
O termo Avaliação Geriátrica Ampla (AGA) começou a ser utilizado no 
Reino Unido, no final da década de 1930, e, posteriormente, difundiu-se de forma 
que conceito, parâmetros e indicações foram motivos para inúmeras publicações 
em revistas especializadas. Os primeiros artigos sobre a necessidade e a 
importância de uma avaliação geriátrica especializada foram publicados pela 
médica britânica Marjory Warren, considerada a mãe da Geriatria. Em 1936, ela 
assumiu a chefia de um grande hospital londrino com pacientes crônicos, 
imobilizados e negligenciados, que não tinham recebido um diagnóstico médico 
apropriado e muito menos encaminhados para reabilitação. Acreditava-se que eles 
deveriam permanecer na instituição pelo resto de suas vidas. Bons cuidados de 
enfermagem mantinham os pacientes vivos, mas a falta de diagnóstico e a 
reabilitação mantinham-nos incapacitados. 
A doutora Warren avaliou sistematicamente cada um dos pacientes e iniciou 
a reabilitação de todos eles, com isso, conseguiu que a maioria deles deixasse de 
ser imobilizada e muitos receberam alta do hospital. Como resultado de seu 
trabalho, ela passou a ser reconhecida como geriatra e passou a advogar que todo 
idoso deveria receber uma Avaliação Geriátrica Ampla, com o objetivo de se planejar 
a reabilitação antes de ser encaminhado para uma instituição de longa permanência. 
A AGA é sempre multidimensional, frequentemente interdisciplinar e tem por 
objetivo determinar deficiências, incapacidades e desvantagens apresentadas pelo 
idoso, objetivando o planejamento do cuidado e o acompanhamento a longo prazo. 
Ela difere do exame clínico padrão por enfatizar a avaliação da capacidade funcional 
e da qualidade de vida e por basear-se em escalas e testes quantitativos. 
A AGA permite uma avaliação multifuncional do idoso, de tal forma a se 
verificar diferentes capacidades que podem estar comprometidas e que em uma 
consulta médica convencional poderiam ser ignoradas ou subavaliadas. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 220 
A Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) apresenta, de 
forma bastante didática, este tema, que pode ser encontrado em: <www.sbgg.org.br>. 
De que forma fazemos o acesso ao paciente idoso? 
 
 
TABELA 12 
 
FONTE: Adaptada da American Geriatric Society. 
 
 
A abordagem do idoso deve permitir a seguinte avaliação: 
 condições físicas e clínicas (existência de doença?); 
 capacidade funcional; 
 capacidade cognitiva. 
Ao realizar a avaliação do idoso, alguns cuidados são importantes para 
evitar interferências e obter uma boa comunicação e relação profissional nesta 
abordagem. Tais como: 
 utilize uma cama ou colchão em que o paciente possa deitar-se de forma 
adequada; 
 evite luz de fundo; 
 diminua ruídos ambientes; 
 evite interrupções; 
 apresente-se ao paciente e diga que você está lá para ajudá-lo; 
 chame o paciente pelo nome (sempre usando senhor ou senhora antes 
do nome); 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 221 
 mantenha uma atitude de respeito e um linguajar adequado, respeitando 
a cultura local e o grau de instrução do paciente; 
 olhe diretamente para os olhos do paciente; 
 sente-se na mesma altura dos olhos dele; 
 fale devagar e em tom adequado; 
 respeite a forma e a velocidade da fala do paciente; 
 não tente falar por ele e nem permita que outras pessoas o façam, a 
menos que ele não consiga se comunicar; 
 pergunte sobre a audição, o volume que costuma usar para assistir 
televisão, por exemplo. Use um diapasão para testar a audição, se possível; 
 seja paciente ao receber as respostas às suas perguntas; 
 não minimize as queixas do paciente; 
 não credite sinais e sintomas apenas ao envelhecimento. 
 
 
19.3 ANAMNESE 
 
 
Na anamnese do idoso, as questões devem ser dirigidas. É importante saber 
o que mais o incomoda, desde quando surgiu esse incômodo e procurar explorar 
melhor as suas características. Não faz qualquer sentido, no entanto, questões 
comuns em outras faixas etárias, como condições de parto, por exemplo. Questione 
sobre hábitos, como tabagismo, etilismo, uso de drogas e sexualidade, sempre de 
forma respeitosa e sem emitir juízo de valor. 
Pergunte sobre o funcionamento intestinal e urinário. Sobretudo no homem, 
investigue possíveis disúria noctúria ou nictúria, poliúria e qualquer alteração na 
intensidade, quantidade e características da urina. 
Ao questionar a um paciente se dorme bem, ele pode dizer que dorme 
pouco e acorda várias vezes à noite. Se sua investigação terminar por aí, é possível 
que ele acabe recebendo prescrição de um hipnótico, um benzodiazepínico ou um 
antidepressivo. Se a investigação prosseguir, no entanto, você poderia descobrir que 
ele acorda várias vezes, porque precisa urinar e que a urina sai com dificuldade. 
Aprofundando a investigação, é possível que este paciente tenha uma hiperplasia 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 222 
prostática benigna ou mesmo um câncer de próstata. Observe como é importante a 
correta avaliação dos sintomas apresentados. 
Outra possibilidade. Uma paciente queixa-se de incontinência urinária e você 
imediatamente pensa, como primeira possibilidade, em uma infecção urinária. No 
entanto, a examina sentada e não se lembra de perguntar sobre a marcha. Se 
tivesse perguntado, talvez recebesse a informação que não apenas a marcha estava 
alterada, como também havia algum grau de dificuldade cognitiva. Esses sinais ou 
sintomas poderiam ajudá-lo a diagnosticar ou suspeitar de uma hidrocefalia de 
pressão normal, que deve ser tratada o quanto antes. 
 
 
19.4 EXAME FÍSICO 
 
 
Deve começar pela avaliação da marcha, se o paciente vem caminhando. 
Como ele está vestido? A roupa está combinando ou existe claramente uma 
completa dissociação (exagero de cores, extravagância, que pode estar aumentada 
na mania ou na hipomania)? O paciente parece estar limpo, os cabelos estão 
penteados, há uma preocupação em apresentar-se de forma adequada? Forma 
adequada não significa usar roupas caras, mas uma preocupação com a 
autoimagem, que pode estar rebaixada na depressão, por exemplo. 
Como está a pele do paciente? Está hidratada, tem sinais que possam 
indicar um câncer de pele? As lesões suspeitas são aquelas que apresentam os 
seguintes sinais (ABCDE). 
A – Assimetria: 
Lesão simétrica (normal); lesão assimétrica (suspeita). 
B – Bordas: 
Regulares (normal); irregulares (suspeita). 
C – Cor: 
Uma cor apenas (normal); variações de cor (suspeita). 
D – Diâmetro: 
Qualquer lesão mais larga que a borracha da ponta de um lápis (>6mm) 
deve ser suspeita. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 223 
E – Elevação: 
Lesões elevadas são consideradas suspeitas. 
Qualquer sinal que tenha apresentado mudança na cor, no tamanho, no 
aspecto, nas características em geral deve ser avaliado. 
Nem todo sinal suspeito é um câncer, mas todos devem ser avaliados. 
O melanoma é um câncer extremamente agressivo e pode levar à morte. Há 
outros tipos de câncer de pele (basocelular, espinocelular) que são menos 
agressivos, mas também devemser avaliados. 
 
As taxas de sobrevida média nos casos de melanoma de extremidades, em 
5 e 10 anos, foram de 80,3% e 67,5% respectivamente. Nos negros, a taxa 
de sobrevivência em 5 e 10 anos foi menor (77,2% e 71,5%) que nos 
indivíduos caucasianos ou brancos hispânicos’, explica o Dr Aldo Toschi, 
conselheiro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica e 
coordenador de Dermatologia do Instituto Brasileiro de Controle do Câncer. 
Os brancos hispânicos (72.8% e 57.3%) e asiáticos (70, 2% e 54,1%) 
também evoluem pior que as pessoas de pele clara e têm piores taxas em 
períodos de 5 e 10 anos, respectivamente. (SBCD, 2010, s. p.). 
 
Segundo a mesma notícia, 
 
[...] os negros representam 10% dos casos de melanoma; a localização 
mais comum é nas extremidades das mãos, região plantar e sob as unhas. 
Os primeiros sinais surgem com manchas que progridem até 2 a 3 cm, de 
cor castanho-enegrecida e bordas irregulares. O período de evolução é de 
aproximadamente 2 anos e meio quando surgem elevações e nódulos. O 
maior problema nos melanomas é a falta do diagnóstico precoce; uma vez 
que não existe tratamento radio, quimio ou imunoterápico eficiente. A 
cirurgia feita de modo correto e precoce é ainda o melhor tratamento. 
(SBCD, 2010, s. p.). 
 
A avaliação seguinte é a dos aparelhos circulatório, respiratório, abdominal, 
não se esquecendo de observar e buscar informações como edema, ferimentos 
plantares (sobretudo em diabéticos) e, sempre que possível, uma otoscopia e um 
exame de fundo de olho. A pressão arterial deve ser medida com o paciente deitado 
e em pé, em busca de hipotensão ortostática. 
O exame físico deve ser completado por outros exames: 
 avaliação do status funcional; 
 nutrição; 
 audição; 
 visão. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 224 
 
 
19.5 AVALIAÇÃO DO STATUS FUNCIONAL 
 
 
 Atividades diárias – tomar banho, vestir-se, ir ao banheiro para suas 
necessidades básicas, alimentar-se, cuidar da aparência; 
 Atividades diárias instrumentais – usar o telefone, preparar comidas, 
administrar as finanças, tomar medicações, lavar roupas, fazer compras, 
pegar o sistema de transporte etc.; 
 Teste de “energia” – marcha, balanço, qualidade de vida. 
 
 
19.6 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL 
 
 
 Busque sinais de subnutrição ou de deficiências nutricionais; 
 Faça uma inspeção visual; 
 Faça avaliação da massa corporal (IMC) que é igual ao peso dividido 
pela altura ao quadrado. Valores abaixo de 20 kg/m2 são preocupantes; 
 Perdas de peso inexplicadas devem ser investigadas; 
 Má nutrição pode estar associada a várias doenças, como depressão, 
câncer, disfunção de mastigação, entre outras. 
 
 
19.7 AVALIAÇÃO DA VISÃO 
 
 
Há diversas patologias que podem estar presentes independentemente do 
envelhecimento natural. Devem ser objeto de investigação e avaliação, situações 
como catarata, glaucoma, degeneração macular, entre outras. A catarata, por 
exemplo, é uma condição que, ao ser corrigida, traz inúmeros benefícios e agrega 
qualidade de vida ao paciente. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 225 
No processo de investigação de sinais e sintomas, pergunte como está a 
visão do paciente. Se ele possui dificuldades para ler, para ver televisão, se houve 
mudanças recentes, se ele enxerga melhor de perto ou de longe e não deixe de 
fazer uma avaliação, ainda que simples, do campo visual. Isso é muito importante, 
pois a diminuição da campimetria pode estar associada a outros distúrbios e sob o 
ponto de vista prático para a vida do paciente, ele deve estar ciente de sua 
condição, pois, ao atravessar ruas, poderá não perceber a aproximação de carros. 
Ao avaliar o paciente, se ele for alfabetizado, peça para que ele leia alguma 
coisa, comparando a visão de um olho com o outro. Se não, peça para ver objetos, 
comparando também a visão dos olhos. 
A avaliação com o uso de Cartão de Snellen ou de Jaeger também pode ser 
utilizada para este fim. 
 
 
FIGURA 26 - CARTÃO DE SNELLEN 
 
FONTE: Arquivo pessoal do autor. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 226 
 
 
19.8 AVALIAÇÃO DA AUDIÇÃO 
 
 
Como está a audição do paciente? Há dificuldade na compreensão? Ele 
inclina-se para ouvi-lo? Em que volume ele assiste à televisão? As pessoas 
precisam repetir as frases para que ele possa compreendê-las? 
A diminuição da audição é comum entre idosos. Há, no entanto, causas 
outras que devem ser investigadas. Um exame com otoscópio pode mostrar, por 
exemplo, que há um tampão de cera, dificultando a audição. Antes de dizermos que a 
perda é apenas decorrente da idade, devemos estar atentos para algumas questões: 
 Quando começou a ficar mais evidente? 
 A perda é progressiva? 
 Atinge apenas um dos ouvidos? 
 Houve algum fato relacionado à perda auditiva? 
 Como a perda é percebida? 
 A otoscopia é normal? 
 Um teste simples com diapasão foi realizado e a audição comparada? 
Sempre que possível, uma audiometria deve complementar a avaliação com 
parecer do fonoaudiólogo e do otorrino. 
A perda de 40 dB (tonal) em 1000 ou 2000 Hz em um ou ambos os ouvidos 
é anormal. 
 
 
19.9 AVALIAÇÃO COGNITIVA 
 
 
O envelhecimento cerebral é fato e, como decorrência, algumas atividades 
podem estar comprometidas. No entanto, nem todo esquecimento significa 
demência. Por outro lado, nem todo esquecimento deve receber o diagnóstico de 
envelhecimento cerebral, sem uma avaliação mais criteriosa. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 227 
De acordo com a Sociedade Americana de Geriatria, 10% dos pacientes 
com mais de 65 anos e cerca de 50% daqueles com mais de 85 anos apresentam 
quadro de Alzheimer. Muitos pacientes com quadro demencial, no início, não 
possuem queixas expressivas de perda de memória. 
Os pacientes com comprometimento do estado cognitivo possuem risco 
aumentado para acidentes, bem como baixo desempenho nas atividades diárias e 
no uso de medicações. 
A avaliação consiste na utilização do teste de Minimental de Folstein. 
Trata-se de teste amplamente e facilmente utilizado, em que é possível verificar 
diferentes aspectos cognitivos. Não é, contudo, diagnóstico para um tipo específico 
de quadro demencial, embora possa ser utilizado para se fazer um estudo 
comparativo ao longo do tempo. Nos casos não diagnosticados de demência, 
diante de alteração importante no resultado do Minimental, o paciente 
preferencialmente deve ser avaliado por psicólogo, geriatra e/ou neurologista, para 
confirmação diagnóstica e conduta. Além do Minimental, outros exames devem ser 
realizados, como o do desenho do relógio. 
É importante nos lembrarmos de que muitas vezes um diagnóstico de 
depressão pode ser confundido com um quadro demencial. Nem sempre a 
depressão se manifesta de forma clássica, e a chamada depressão “subclínica” 
pode estar presente. 
Por trás de adinamia, perda de apetite, irritação e esquecimento pode haver 
um quadro de depressão. Não confundir, no entanto, tristeza com depressão 
também é importante. 
Para facilitar o diagnóstico do quadro depressivo em idosos, a chamada 
Escala de Depressão Geriátrica é um bom instrumento. Na versão de 30 itens, uma 
pontuação maior que 10 indica um quadro depressivo, em que cada resposta em 
negrito vale um ponto e, diferente do negrito não pontua. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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 228 
 
 
ESCALA GERIÁTRICA DE DEPRESSÃO 
(Yesavage, 1983) 
 
PACIENTE: 
__________________________________________________________________ 
DATA DA AVALIAÇÃO: __________________________ 
AVALIADOR: __________________________________ 
 
1) Você está satisfeito com sua vida? ( ) Sim ( ) Não 
2) Abandonou muitos de seus interesses e atividades? ( ) Sim ( ) Não 
3) Sente que sua vida está vazia? ( ) Sim ( ) Não 
4) Sente-se frequentemente aborrecido? ( ) Sim ( ) Não 
5) Você tem muita fé no futuro? ( ) Sim ( ) Não 
6) Tem pensamentos negativos? ( ) Sim ( ) Não 
7) Na maioria do tempo está de bom humor? ( ) Sim () Não 
8) Tem medo de que algo de mal vá lhe acontecer? ( ) Sim ( ) Não 
9) Sente-se feliz na maioria do tempo? ( ) Sim ( ) Não 
10) Sente-se frequentemente desamparado, adoentado? ( ) Sim ( ) Não 
11) Sente-se frequentemente intranquilo? ( ) Sim ( ) Não 
12) Prefere ficar em casa em vez de sair? ( ) Sim ( ) Não 
13) Preocupa-se muito com o futuro? ( ) Sim ( ) Não 
14) Acha que tem mais problema de memória que os outros? ( ) Sim ( ) Não 
15) Acha bom estar vivo? ( ) Sim ( ) Não 
16) Fica frequentemente triste? ( ) Sim ( ) Não 
17) Sente-se inútil? ( ) Sim ( ) Não 
18) Preocupa-se muito com o passado? ( ) Sim ( ) Não 
19) Acha a vida muito interessante? ( ) Sim ( ) Não 
20) Para você é difícil começar novos projetos? ( ) Sim ( ) Não 
21) Sente-se cheio de energia? ( ) Sim ( ) Não 
22) Sente-se sem esperança? ( ) Sim ( ) Não 
23) Acha que os outros têm mais sorte que você? ( ) Sim ( ) Não 
 
 
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 229 
24) Preocupa-se com coisas sem importância? ( ) Sim ( ) Não 
25) Sente frequentemente vontade de chorar? ( ) Sim ( ) Não 
26) É difícil para você se concentrar? ( ) Sim ( ) Não 
27) Sente-se bem ao despertar? ( ) Sim ( ) Não 
28) Prefere evitar as reuniões sociais? ( ) Sim ( ) Não 
29) É fácil para você tomar decisões? ( ) Sim ( ) Não 
30) O seu raciocínio está tão claro quanto antigamente? ( ) Sim ( ) Não 
 
 
19.10 AVALIAÇÃO SOCIAL 
 
 
Como o idoso (neste contexto, estamos usando a palavra no masculino, 
como está na lei, mas emprega-se para ambos os gêneros) está inserido no aspecto 
social e nas atividades diárias? Ele consegue realizar as atividades básicas diárias 
sozinho? Sob o ponto de vista financeiro, consegue se manter? Tem atividades de 
lazer? Tem amigos? Os familiares o visitam com regularidade ou ele mora com a 
família? É casado(a)? Tem um(a) companheiro(a)? Namora? Tem filhos? Tem 
netos? Como é a relação com a família? Trabalha? Possui um cuidador? Quem é? 
Dirige (o número de acidentes envolvendo idosos é maior do que todas as demais 
faixas etárias, com exceção da faixa de 16-24 anos, segundo a Sociedade 
Americana de Geriatria)? 
 
 
20 ABORDAGEM DA CRIANÇA E PROBLEMAS MAIS COMUNS 
 
 
A prevenção de problemas com a criança tem início muito antes do 
nascimento. É a partir da gravidez que os primeiros cuidados devem ser adotados. 
Gravidez não é doença. Nós todos sabemos disso, no entanto, há uma série de 
modificações fisiológicas na gestante que não podem ser ignoradas e que merecem 
atenção, tanto para prevenir problemas com a futura mãe, quanto para o filho que se 
está esperando. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 230 
É nesse contexto que surgiram os programas de pré-natal. Tão importantes 
e infelizmente não acessíveis a todas as gestantes. É o momento em que é possível 
avaliar as condições de saúde da gestante, verificar sua imunidade, doenças 
preexistentes e em atividade, bem como detectar problemas nutricionais e oferecer a 
melhor assistência possível para que a gestação possa seguir seu curso de forma 
natural e saudável. 
Os profissionais de Saúde da Família não podem perder a oportunidade de 
abordar as gestantes, com uma perspectiva de atuação positiva para a saúde da 
futura mãe, mas também da criança esperada. Em que contexto essa criança está 
sendo gerada? É uma gravidez desejada? A gestante é adolescente? O pai da 
criança está presente (não apenas fisicamente, mas sob o ponto de vista 
emocional)? Qual a realidade socioeconômica dessa família? A gestante usa algum 
medicamento, drogas, álcool? É tabagista? Com que frequência? Qual a realidade 
socioeconômica da futura mãe? Como é a vizinhança? A que perigos e riscos 
naturais e ambientais a gestante e a futura criança estão inseridas? 
Os profissionais de Saúde da Família possuem grande vantagem sobre os 
que trabalham apenas em postos de saúde ou hospitais neste aspecto, uma vez que 
podem observar diretamente a realidade da futura mãe e de seu filho. Muitas vezes, 
a gestante omite determinadas situações, com vergonha das condições 
socioeconômicas em que vive. Outras vezes, pode ser que para ela, as condições 
estejam adequadas, pois está comparando a situação em que vive, com os demais 
da rua ou mesmo usando como parâmetro o conforto. Mas como é o saneamento 
básico da casa em que mora? Como está a sua alimentação? Ela trabalha? Em qual 
jornada? Como ela faz para ir ao trabalho? 
Poderíamos fazer muitas outras perguntas. O importante é que percebamos 
que, como profissionais de Saúde da Família, há muito a ser feito nesta avaliação, 
incluindo as orientações de pré-natal. Esta não é uma ação exclusiva de 
ginecologistas, como também o acompanhamento da criança não é exclusividade do 
pediatra, embora sejam profissionais importantíssimos nestas ações. No entanto, 
quantas comunidades em nosso país sequer possuem médico? Como esperar que 
apenas especialistas possam atuar? 
Diante de tantas questões que podem afetar de forma negativa uma 
gestação, podendo até mesmo provocar a morte da gestante e do neonatal, o 
 
 
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 231 
Governo Federal lançou o chamado “Pacto Nacional pela Redução da Mortalidade 
Materna e Neonatal”. 
Segundo estudos do Ministério da Saúde que fundamentam este pacto, as 
principais causas de mortalidade materna são: 
 hipertensão arterial; 
 hemorragias; 
 complicações por aborto; 
 infecções puerperais. 
A saúde da mulher será foco de nossa atenção posteriormente, mas não 
podemos deixar de comentar a importância da assistência pré-natal para a 
prevenção e o diagnóstico precoce de doenças que podem levar às condições 
mencionadas, como hemorragias e o controle da pressão arterial – que deve ser 
feita por todo profissional de enfermagem e médicos. 
Segundo pesquisa nacional coordenada pelo professor Ruy Laurenti, 
Universidade de São Paulo (USP)/Ministério da Saúde, em 2002, houve 2.321 óbitos 
maternos (números absolutos). 
Com relação à mortalidade neonatal, as principais causas elencadas foram: 
problemas respiratórios e circulatórios; 
 prematuridade e baixo peso; 
 infecções perinatais; 
 hemorragias. 
Segundo o mesmo estudo, em 2002, houve 38.570 óbitos neonatais, ou 
seja, quase 40 mil “brasileirinhos” que não puderam ter a oportunidade de brincar e 
crescer, como tantos outros. 
Como principais determinantes para estes números, foram apresentados: 
 oferta insuficiente de profissionais capacitados para atuar na atenção 
obstétrica e neonatal; 
 reconhecimento restrito da magnitude da questão enquanto problema de 
Saúde Pública; 
 precárias condições socioeconômicas da população; 
 baixa escolaridade (60% das mulheres não concluíram o Ensino 
Fundamental). 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 232 
De que forma as condições socioeconômicas da população impactam nestes 
números? Por quê? O que a baixa escolaridade tem em comum com a mortalidade 
materna e neonatal? Nesta pesquisa, foi evidenciado que a Região Nordeste 
compreende a maior taxa de mulheres com menos de um ano de estudo (23,04%). 
De que forma essa taxa pode ser relacionada aos altos índices de mortalidade 
infantil na região? 
Uma das causas importantes de mortalidade materna é a eclampsia, 
caracterizada por hipertensão arterial, proteinúria e manifestações neurológicas, 
como a convulsão. 
De acordo com este pacto em trabalho publicado pela conceituada revista 
Lancet, em 1995 (The Eclampsia Trial), e, em 2002 (Magpie Collaborative Group. Do 
women with pre-eclampsia, and their babies, benefit from magnesium sulphate?), “o 
tratamento de eclampsia com o uso de Sulfato de Magnésio – 1g endovenosa por 
hora durante 24 horas em gestantes no anteparto com PA de 140x90 mmhg e 
proteinúria de + reduz em 70% a incidência de eclampsia”, com custo diário de cinco 
reais. Um valor muito baixo, para um benefício tão grande. Naturalmente, que 
nenhum tratamento é “receita de bolo” e há semprecondições clínicas que devem 
ser avaliadas e este é um tratamento que apenas pode ser utilizado por médicos, já 
que requer o diagnóstico e a prescrição de medicamentos, mas o que está 
acontecendo na opinião de vocês? Não há medicamento disponível? O tratamento 
não é de conhecimento de todos os médicos, ficando restrito apenas aos 
especialistas? De que forma o Ministério da Saúde pode e deve mudar esta 
situação? Falamos da importância do pré-natal, mas em que consiste de fato essa 
assistência e por que ela é importante para a criança? 
De acordo com as diretrizes de Assistência Pré-Natal da Federação 
Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia, “talvez o principal indicador 
do prognóstico ao nascimento seja o acesso à assistência pré-natal”. 
Segundo o mesmo texto, “as consultas devem ser mensais até a 28ª 
semana, quinzenais entre 28 e 36 semanas e semanais no termo”. 
De acordo com a diretriz, já na primeira consulta, as seguintes informações 
devem ser obtidas na anamnese. 
 data da última menstruação; 
 regularidade dos ciclos; 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 233 
 uso de anticoncepcionais; 
 número de filhos; 
 intercorrências clínicas, obstétricas e cirúrgicas; 
 detalhes de gestações prévias; 
 hospitalizações anteriores e exames de pré-natal realizados (em outras 
gestações); 
 uso de medicações; 
 história prévia de doença sexualmente transmissível; 
 exposição ambiental ou ocupacional de risco; 
 reações alérgicas; 
 história pessoal ou familiar de doenças hereditárias/malformações; 
 gemelaridade anterior; 
 fatores socioeconômicos; 
 atividade sexual; 
 uso de tabaco, álcool ou outras drogas lícitas ou ilícitas; 
 história infecciosa prévia; 
 vacinações prévias; 
 história de violências. 
Alguns exames dos solicitados acima estão diretamente relacionados à 
saúde da mãe, mas e com relação à saúde da criança? O histórico de doença 
sexualmente transmissível diz respeito apenas à saúde da mãe? O que pode 
acontecer com um feto cuja mãe esteja com sífilis em atividade? E com AIDS? 
Exames complementares e uma boa avaliação biométrica e clínica da gestante são 
fundamentais. 
Para avançarmos em nossos estudos, vamos conceituar Mortalidade Infantil 
nos próximos tópicos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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 234 
 
 
20.1 TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL 
 
 
É o quociente entre os óbitos de menores de um ano ocorridos em uma 
determinada unidade geográfica e o período de tempo, e os nascidos vivos da 
mesma unidade nesse período, segundo a fórmula: 
 
Taxa de Mortalidade Infantil = (óbitos de menores de um ano/nascidos vivos) x 1.000 
 
Nota: a maior variabilidade nas taxas, em alguns municípios, pode decorrer 
do número reduzido de nascidos vivos e óbitos de menores de um ano, ocorridos em 
cada período considerado. 
Observação: essa taxa é, em geral, multiplicada por mil para facilitar a leitura 
e permitir comparação internacional. 
 
 
GRÁFICO 4 - EVOLUÇÃO DA MORTALIDADE INFANTIL 
 
FONTE: Disponível em: <http://www.seade.gov.br/index.php>. Acesso em: 28 fev. 2010. 
 
 
Que podemos aferir deste quadro? 
A situação está melhorando em quais aspectos? 
 
 
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 235 
Onde está piorando? 
Que fatores são os mais importantes causadores da mortalidade infantil? 
 
 
TABELA 13 - TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL DO BRASIL SEGUNDO 
REGIÕES E COMPARAÇÃO COM ALGUNS PAÍSES EM 2003 
Brasil 
 Norte – 26,2 
 Nordeste – 35,5 
 Sudeste – 15,6 
 Sul – 15,8 
 Centro-Oeste – 18,7 
 
23,6 
Argentina 16,5 
Chile 7,8 
México 19,7 
Peru 33,4 
FONTE: Arquivo pessoal do autor. 
 
 
Observem esta afirmação do Ministério da Saúde (Ministério da Saúde): 
 
Estudo produzido pelo Ministério da Saúde e publicado em 2006 (Macinko 
et al.) mostrou que o Programa de Saúde da Família (PSF) teve impacto 
significativo na queda da mortalidade infantil no Brasil, no período de 1991 a 
2002. Para cada aumento de 10% da cobertura do PSF a mortalidade 
infantil caiu 4,5%. 
A cobertura média do PSF, nos municípios, em 2004, foi de 62,3%, em 
2002 foi de 54,8%. Aumentou 10% em dois anos, concentrando-se nos 
municípios com menor renda, onde a mortalidade infantil apresenta índices 
mais elevados. 
Apesar da queda grande no período, a mortalidade infantil ainda é alta se 
comparada a outros países. 
 
De que forma o PSF teve um impacto tão positivo na redução da mortalidade 
infantil? Por que ainda persistem as diferenças regionais? 
Para reduzir esta mortalidade, sobretudo na Amazônia e na região Nordeste, 
o Ministério da Saúde fez o chamado “Pacto pela Redução da Mortalidade Infantil 
 
 
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 236 
Nordeste–Amazônia Legal”. Em que consiste este pacto? Em um compromisso mais 
amplo, voltado para as seguintes ações. 
 redução do analfabetismo; 
 redução da mortalidade infantil; 
 erradicação do sub-registro civil; 
 fortalecimento da agricultura familiar. 
O Ministério da Saúde estabeleceu a seguinte meta para erradicação da 
mortalidade infantil: 
 
 
GRÁFICO 5 - META PARA ERRADICAÇÃO DA MORTALIDADE INFANTIL 
 
FONTE: Arquivo pessoal do autor. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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 237 
 
 
20.2 ALEITAMENTO MATERNO 
 
 
FIGURA 27 - ALEITAMENTO MATERNO 
 
FONTE: Disponível em: <www.maringa.pr.gov.br>. Acesso em: 29 fev. 2010. 
 
 
O aleitamento materno, com frequência, é pouco valorizado. Todos que já 
trabalharam com recém-nascidos já ouviram sobre mães que deixaram de 
amamentar porque o “leite havia secado”, que era “muito ralo” ou que o leite materno 
“não sustenta ninguém”, dentre tantas outras coisas. Muitas então passaram a 
alimentar seus filhos com leite de vaca. Este leite não é bom? Claro que é, mas para 
amamentar bezerros. 
O que está por trás de muitos mitos são técnicas e formas inadequadas de 
amamentar. 
Geralmente, as mães que informam que o “leite é fraco” não percebem ou 
não sabem verificar que a criança está sugando de forma inadequada e, por esta 
razão, vive insatisfeita. 
Quanto melhor e mais eficiente a sucção, mais leite é produzido. Não há um 
estoque de leite que a criança tenha de utilizar aos poucos. Infelizmente, ainda há 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 238 
muitos mitos sobre o tema, como, por exemplo, o de que cerveja aumenta a 
produção de leite. Nada mais absurdo. 
A Organização Pan-Americana de Saúde editou em conjunto com o 
Ministério da Saúde o “Guia Alimentar para Crianças Menores de dois anos”. 
A amamentação é vantajosa sob todos os aspectos. Permite um maior 
contato da mãe com o filho, é um alimento completo para a criança, além de atuar 
positivamente no sistema imune da criança. Poucas são as situações em que a 
amamentação seria contraindicada – algumas doenças que poderiam ser 
transmitidas para a criança, pela mãe contaminada, bem como em alguns casos, 
onde a mãe tenha que tomar determinados medicamentos, com risco de atuarem 
de forma importante na criança. Estas condições devem ser conhecidas e 
avaliadas pelo pediatra. 
Em 2002, durante a Assembleia Mundial de Saúde, os países-membros da 
OMS foram signatários da Estratégia Mundial para Alimentação do Lactente e da 
Criança Pequena, com vistas a “revitalizar esforços para promover, proteger e dar 
apoio apropriado à alimentação de lactantes e crianças pequenas” (ORGANIZAÇÃO 
PAN-AMERICANA DE SAÚDE, 2003). 
A estratégia está baseada nos seguintes princípios: 
 todos os governos devem desenvolver e implementar uma ampla política 
sobre alimentação do lactente e da criança pequena, no contexto de suas 
políticas nacionais de nutrição, de saúde reprodutiva, para a criança e para 
redução da pobreza; 
 todas as mães devem ter acesso à assistência profissional e técnica 
para iniciar e manter a amamentação exclusiva nos primeiros seis meses da 
criança e para assegurar a introdução, no período correto, de alimentação 
complementar adequada e segura, juntamentecom a amamentação até os 
dois anos de idade ou mais; 
 os profissionais de saúde devem ser capacitados para fornecer 
aconselhamento adequado sobre amamentação e tais serviços devem ser 
estendidos às comunidades por meio de treinamento de assistentes; 
 os governos devem rever os progressos obtidos com a implementação, 
em nível nacional, do Código Internacional do Mercado de Substitutos do 
Leite Materno, e considerar a necessidade de novas leis e medidas 
 
 
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 239 
adicionais destinadas a proteger as famílias da influência da propaganda 
destes produtos; 
 os governos devem adotar leis que protegem os direitos das mulheres 
trabalhadoras de amamentar e estabelecer meios para que esse direito 
seja reforçado. 
De acordo com o Banco de Dados sobre Amamentação da Organização 
Mundial de Saúde, apesar do reconhecimento geral das vantagens do leite materno 
sobre o artificial, mesmo em países industrializados, as taxas de amamentação, no 
geral, são baixas e só agora começam a melhorar, como é o caso da França, Itália, 
Holanda, Espanha, Suíça e Reino Unido. Na Suécia, uma exceção: 98% dos bebês, 
em 1990, tinham mamado em algum momento de suas vidas. Progressos nas taxas 
de alimentação exclusiva com leite materno até os quatro meses foram obtidos: na 
Polônia, que passou de 1,5%, em 1988, para 17%, em 1995; Suécia, de 55%, em 
1992, para 61%, em 1993; e Armênia, de 0,7%, em 1993, para 20.8%, em 1997. 
Os dados para a Região das Américas indicam que a porcentagem de 
crianças que chegaram a mamar em algum momento é alta em alguns países: Chile, 
97%, em 1993; Colômbia, 95%, em 1995; e Equador, 96%, em 1994. Por outro lado, 
as taxas de amamentação exclusiva até os quatro meses, ainda que altas se 
comparadas com outras regiões, são mais modestas e estão caindo: na Bolívia, 
59%, em 1989, e 53%, em 1994; Colômbia, 19%, em 1993, e 16%, em 1995; 
República Dominicana, 14%, em 1986, e 10%, em 1991. 
O profissional de Saúde da Família tem importância fundamental no 
aleitamento materno ao atuar nas seguintes questões: 
 orientar a “mãe” com relação aos benefícios da amamentação, 
incentivando-a a alimentar seu filho desta forma, ensinando as técnicas de 
amamentação e os cuidados com os seios, com vistas à prevenção de 
mastites. Muitas mães acabam deixando de amamentar seus filhos, dado a 
dor de mamas inflamadas ou em decorrência de infecções, muitas vezes, 
importantes. É essencial que os bicos dos seios estejam sempre secos após 
a amamentação; 
 identificar mastites e outras situações que requeiram avaliação 
especializada com vistas à saúde materna, e minimizar a possibilidade de 
abandono precoce da amamentação; 
 
 
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 240 
 avaliar os casos em que a amamentação está contraindicada, dado o 
risco de transmissão de doenças da mãe para o filho ou em decorrência de 
uso de determinados medicamentos; 
 atuar de forma multidisciplinar e com foco na saúde da criança e da 
mãe. 
 
 
20.3 ACIDENTES NA INFÂNCIA 
 
 
A prevenção de acidentes é de fundamental importância em todas as faixas 
etárias da população, mas quando nos referimos a crianças, o cuidado deve ser 
mais do que redobrado. Por uma questão muito simples: as crianças, principalmente 
as menores, não têm a noção do perigo. Não sabem os riscos a que estão expostas. 
E os pais, muitas vezes, não acreditam que podem ter seus filhos vitimados 
pelos mais variados números e tipos de acidentes. Com frequência, ao dirigir, vejo 
crianças sentadas no colo do motorista, no colo da passageira, como também no 
banco de trás, sem cinto de segurança. No banco da frente, nem com o cinto pode 
ser permitido! E de fato não é! Quando os acidentes ocorrem, os pais ficam 
desesperados, o que é de se esperar, mas será que aquele acidente poderia ter sido 
evitado? Em boa parte dos casos, sim. 
Em que contexto o profissional de Saúde da Família pode ajudar na 
prevenção de acidentes? De uma maneira extremamente privilegiada, uma vez que 
tem a oportunidade de avaliar o meio em que a criança está se desenvolvendo e, 
assim, buscar identificar os riscos a que está exposta. Há riachos ou rios próximos? 
Há barrancos? A região é violenta? A família tem carro? Onde a criança brinca? Do 
que ela gosta de brincar? Há fios e tomadas sem a devida proteção? Há fossas, 
poços, bueiros, onde há risco grande de um acidente? Há instalações elétricas 
improvisadas? Muitas outras perguntas podem ser feitas. 
Preocupada com o tema, a Sociedade Brasileira de Pediatria lançou a 
Campanha Nacional de Prevenção de Acidentes na Infância e na Adolescência. 
Como parte desta campanha, diferentes cartilhas foram elaboradas. Cada 
uma delas trata dos acidentes mais comuns e da melhor forma de prevenção. 
 
 
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 241 
Os acidentes de consumo são, na definição da Sociedade Brasileira de 
Pediatria, aqueles que ocorrem quando um produto ou serviço, ainda que utilizado 
corretamente, causa danos à saúde ou à segurança dos consumidores. É provocado 
por defeito dos produtos ou na prestação de serviços. 
Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (Jornal da Associação Médica 
Brasileira), 
[...] até meados de 2004, o Brasil não tinha a menor ideia das sequelas 
sociais e econômicas originadas pelo acidente de consumo. Imaginava-se 
que o problema fosse grave, como em outros países. Nos Estados Unidos, 
por exemplo, apenas de outubro de 1998 a setembro de 1999, as falhas em 
produtos e serviços foram responsáveis por mais de quatro milhões de 
ferimentos tratados em salas de emergência de hospitais, que provocaram 
4.308 mortes e custaram U$ 300.557.000 ao sistema de saúde. 
 
Entre as medidas preventivas sugeridas pela Sociedade Brasileira de 
Pediatria estão as seguintes: 
 é importante que se cumpram as normas do Novo Código Nacional de 
Trânsito (respeitar a faixa de pedestre; uso obrigatório do cinto de 
segurança; uso de assento apropriado para crianças menores em 
automóveis; transporte de crianças sempre no banco traseiro); 
 motoristas devem dobrar sua atenção nos locais onde passam crianças 
e adolescentes, como portas de escola, clubes, condomínios, áreas de lazer; 
 ao transportar crianças em bicicletas, usar sempre o assento especial; 
 estimular o uso de equipamentos de segurança em práticas esportivas 
(skate, patins, bicicletas etc.); 
 proteger as janelas de residências, escolas e creches com telas e 
grades. As piscinas devem ser protegidas com redes apropriadas ou 
cercadas; 
 proteger as crianças menores do risco de ferimentos com objetos e 
tomar cuidado com as escadas e lajes, que devem ter acesso restrito; 
 as tomadas devem ser sempre protegidas e a fiação elétrica não pode 
ficar exposta em locais onde circulem crianças; 
 remédios, produtos de limpeza e material inflamável devem ficar longe 
do alcance das crianças e nunca devem ser guardados em recipientes de 
refrigerantes ou similares; 
 
 
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 242 
 afastar a criança de água ou alimentos muito quentes e de qualquer 
situação onde exista risco de fogo e chama (SBP, 2010). 
 
Em notícia publicada no jornal “Folha de São Paulo”, de 11 de dezembro de 
2008, sob o título “Especialistas dão dicas para ajudar a escolher brinquedos mais 
seguros e evitar possíveis riscos à saúde das crianças”, a repórter Amarílis Lage fez 
a seguinte matéria: 
 
“Na carta para o Papai Noel, a meninada faz seus pedidos: um urso fofo, 
uma boneca gigante, um carrinho reluzente... Cabe aos pais acrescentar no canto 
da carta mais uma orientação: que o brinquedo seja seguro. Um dos primeiros 
aspectos a prestar atenção é a qualidade do brinquedo. Os que são voltados para 
crianças até 14 anos devem apresentar o selo do Inmetro. Isso significa que o 
brinquedo passou por testes como os de impacto, de inflamabilidade e de mordida – 
para ver se a criança consegue arrancar pedaços pequenos da peça com a boca. Aspeças sem o selo não foram submetidas aos testes ou não foram aprovadas neles. 
E não é só no comércio informal que os brinquedos sem certificação estão à 
venda. A ‘Operação Papai Noel’, realizada pelo Ipem (Instituto de Pesos e Medidas 
do Estado de São Paulo) entre os dias 1º e 5 deste mês, confiscou 612 brinquedos 
que estavam sendo vendidos sem o selo do Inmetro em quatro lojas de São Paulo e 
São Bernardo do Campo (Grande São Paulo). Mais 495 brinquedos irregulares 
foram apreendidos em 11 lojas de São José dos Campos, São José do Rio Preto, 
Campinas e Bauru. 
Para complicar, mesmo os brinquedos certificados viraram alvo de 
desconfiança depois que marcas como Mattel e Gulliver promoveram o recall de 
algumas peças. Mas, segundo Alessandra Françoia, coordenadora da ONG Criança 
Segura, os brinquedos à venda no país são seguros. ‘Depois que as peças foram 
recolhidas, o Inmetro avisou que seria mais rigoroso na certificação’, diz. 
Gustavo Kuster, gerente de regulamentação do Inmetro, ressalta que, no 
Brasil, a medida foi preventiva – já que aqui não houve registro de acidentes. Depois 
disso, conta, o Inmetro mudou as regras para a importação. Até então, era feita uma 
certificação no país de origem do brinquedo, e os testes eram repetidos a cada seis 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 243 
meses, no país produtor e no Brasil. Após o recall, a regra passou a ser testar cada 
lote de brinquedos que chega ao país. 
Depois de o presente ser devidamente escolhido, embrulhado e colocado 
sob a árvore, a missão de pais e cuidadores não termina. 
‘O selo do Inmetro assegura que o brinquedo é resistente, que não tem 
materiais tóxicos. Mas não garante que a criança não irá se machucar’, afirma o 
pediatra Tulio Konstantyner, pesquisador do projeto CrechEficiente, da Universidade 
Federal de São Paulo. 
Depois da seleção, vem a supervisão, a manutenção e o armazenamento, 
avisa a pediatra Renata Waksman, presidente do Departamento de Segurança da 
Criança e do Adolescente da Sociedade Brasileira de Pediatria. ‘Brinquedo não é 
babá de criança’, ressalta. 
Veja, a seguir, as dicas de especialistas para cada uma dessas etapas. 
 
DICAS 
Um dos sonhos de consumo infantil, as bicicletas devem ser acompanhadas 
sempre de outro presente: um capacete. Ao escolher, fique atento para que o 
capacete não fique solto nem apertado na cabeça da criança. Como essas peças 
não recebem o selo do Inmetro, já que não há normas definidas para sua fabricação, 
a compra deve levar em consideração aspectos como a credibilidade do fabricante. 
Quando a criança andar de bicicleta, deve usar sapatos fechados e evitar 
cadarços folgados ou soltos. 
Para saber o tamanho adequado da bicicleta: os pés das crianças devem 
alcançar o chão enquanto ela estiver sentada no selim. 
Ensine a criança a olhar sempre para a esquerda, direita e novamente para 
a esquerda antes de entrar numa rua; se usar a bicicleta à noite, é necessário usar 
material refletor na roupa e na bicicleta. 
Ao comprar um brinquedo, fique atento à faixa etária para a qual ele é 
indicado. Os testes de segurança variam conforme a faixa etária, e uma peça segura 
para uma criança de oito anos pode oferecer riscos para outra de dois anos. 
 
 
 
 
 
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 244 
PIRATARIA 
Não adquira brinquedos falsificados. Essas peças não passam pelos 
mesmos testes que os brinquedos originais e, por isso, podem oferecer risco para as 
crianças, como ter substâncias tóxicas em sua composição ou formar arestas 
pontiagudas ao quebrar. 
Não é por ser artesanal ou ter uma proposta educativa que um brinquedo 
está acima do controle de segurança. Pequenos fabricantes também devem ser 
certificados pelo Inmetro – processo que pode durar um pouco mais de 40 dias, caso 
a empresa tenha poucos funcionários e os brinquedos passem imediatamente nos 
testes. Brinquedos sem o selo do Inmetro oferecem tantos riscos de toxicidade e 
acidentes quanto os falsificados. 
Brinquedos vendidos no Mercosul, nos EUA e na Europa devem seguir as 
mesmas normas dos que são vendidos no Brasil. Quem quiser comprar brinquedos 
no exterior deve buscar saber qual é a certificadora equivalente ao Inmetro no país e 
só comprar as peças que tenham o selo. 
 
EMBALAGEM 
Uma embalagem bonita torna qualquer presente ainda mais interessante. 
Mas os adultos devem estar atentos para que a embalagem seja descartada o 
quanto antes, pois as fitas e os sacos plásticos oferecem riscos de estrangulamento 
e asfixia e os grampos podem ferir as crianças. 
 
BEXIGAS 
Evite utilizar balões de látex e, se usá-los, supervisione a brincadeira das 
crianças com menos de seis anos de idade. Não as deixe encherem bexigas e tenha 
cuidado com os pedaços das que estourarem, já que eles podem ser ingeridos e 
causar asfixia. 
 
COMPRIMENTO 
Evite brinquedos com correntes, fios, fitas e cordas com mais de 15 cm de 
comprimento para crianças de até quatro anos de idade, já que elas podem enrolá-
los no pescoço, correndo risco de estrangulamento. 
 
 
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 245 
Para testar se uma peça oferece ou não riscos para crianças em fase oral, a 
dica é usar um tubo para guardar filme fotográfico. Tudo que couber no recipiente 
deve ficar fora do alcance de crianças até os quatro anos de idade. 
É um mito que os móbiles podem deixar as crianças estrábicas. Essas peças 
são, na verdade, benéficas para o desenvolvimento dos bebês. A dica é trocar de 
vez em quando, para que a criança continue a ser estimulada. 
Evite brinquedos que gerem ruídos muito altos ou estridentes. Como as 
crianças usam essas peças repetidamente e perto do ouvido, isso pode gerar 
lesões. Para receber a certificação, um brinquedo sonoro deve gerar ruídos que 
chegam até a criança com, no máximo, 85 decibéis (equivalente ao barulho de uma 
avenida com tráfego pesado). No caso de objetos que ficam perto do ouvido, como 
telefones de brinquedo, o limite é menor: 80 decibéis. Uma dica: se o adulto 
considerar o som incômodo, não deve oferecê-lo à criança. 
Quando um brinquedo precisar de pilhas, elas devem ser armazenadas de 
forma que a criança não consiga retirá-las. As pilhas contêm substâncias tóxicas e 
corrosivas e, caso a criança as engula, esse material pode ser liberado no estômago 
com consequências muito graves, como úlceras. 
As boias não são consideradas equipamentos de segurança, e sim 
brinquedos. Por isso, devem ter o selo do Inmetro. Seu uso deve ser sempre 
acompanhado por um adulto. 
As pistolas d’água, outro brinquedo comum no verão, podem ser perigosas, 
dependendo da pressão com a qual a água é ejetada. Traumas nos olhos são 
comuns. De modo geral, brinquedos que arremessem ou lancem componentes não 
são indicados para crianças com menos de cinco anos. A brincadeira deve ser 
supervisionada por um adulto. 
Jogos eletrônicos também podem ter consequências para a saúde. Passar 
muito tempo brincando dessa forma pode trazer problemas posturais e 
oftalmológicos. Busque controlar o tempo de uso desses jogos e também fique 
atento à cadeira e à posição da criança diante da tela. 
Verifique os brinquedos com frequência para ver se algum deles quebrou e 
está com pontas afiadas, por exemplo. A limpeza também é importante: busque 
seguir a orientação do fabricante. Peças de plástico e de borracha devem ser 
 
 
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 246 
lavadas semanalmente com sabão neutro; peças de madeira podem ser 
higienizadas com um pano úmido. 
Ensine as crianças a guardar os brinquedos após usá-los, isso evita o risco 
de tropeços e escorregões. Escolha, para este fim, uma caixa que não tenha travas 
ou tampas que possam prender os dedos das crianças. 
Controlar o uso de brinquedos conforme a faixa etária pode ser difícil 
quando as crianças têm acesso às peças dos irmãos mais velhos. O importante, 
nesse caso, é guardar separadamente os brinquedos, tendo em mente dois 
grupos: aqueles que são voltados

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