Prévia do material em texto
AN02FREV001/REV 4.0 116 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE MEDICINA DO TRABALHO Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 117 CURSO DE MEDICINA DO TRABALHO MÓDULO IV HIGIENE E TOXICOLOGIA OCUPACIONAL Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 118 MÓDULO IV 4 HIGIENE E TOXICOLOGIA OCUPACIONAL A Toxicologia Ocupacional é uma área da toxicologia que estuda os princípios e métodos para identificação, gestão e controle dos compostos químicos no ambiente de trabalho, buscando o uso adequado e seguro de agentes químicos que podem oferecer risco ao trabalhador. Dessa forma, a Toxicologia Ocupacional tem por objeto de estudo o trabalhador. Enquanto a Higiene Ocupacional, complemento da Toxicologia Ocupacional, estuda os ambientes ocupacionais. Para fins de prevenção e retorno à atividade ocupacional, é de fundamental importância que a doença seja caracterizada como profissional ou do trabalho, embora, para o diagnóstico e tratamento, o estabelecimento da relação causal não tenha influência na abordagem terapêutica e nem no prognóstico das doenças. Entretanto, nem sempre é fácil estabelecer esse nexo causal entre a exposição ocupacional e o aparecimento das doenças. 4.1 INTRODUÇÃO E CONCEITUAÇÃO: DE HIGIENE DO TRABALHO A higiene do trabalho ou higiene ocupacional corresponde a um conjunto de procedimentos preventivos relacionados ao ambiente do trabalho, visando a redução de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais. Uma dessas medidas da higiene do trabalho é a avaliação do risco ergonômico no ambiente de trabalho, análise utilizada na identificação de fatores que possam prejudicar a saúde do trabalhador e para decisão sobre o pagamento adicional de insalubridade e/ou periculosidade, buscando sempre a eliminação ou o controle desses riscos e a redução do adoecimento do trabalhador. http://pt.wikipedia.org/wiki/Ergonomia AN02FREV001/REV 4.0 119 A Higiene do Trabalho dedica-se principalmente à antecipação, reconhecimento, avaliação e controle de fatores e riscos ambientais originados nos ambientes de trabalho e que podem causar doenças, prejuízos para a saúde ou ao bem-estar dos trabalhadores, como também para os ambientes vizinhos e para o meio ambiente em geral. A higiene do trabalho está direta ou indiretamente relacionada com diversas áreas de conhecimentos diversos: a) Direito – com relação aos direitos previdenciário e civil, os dados sobre a avaliação de exposição a riscos ambientais auxiliam na concessão de aposentadoria especial e indenizações por incapacidade e/ou doenças do trabalho. A higiene do trabalho fornece ainda subsídios técnicos para solução de problemas envolvendo insalubridade; b) Engenharia – a engenharia é uma ciência presente em todas as etapas de um programa de higiene do trabalho. Ela é essencial no reconhecimento, avaliação e controle dos riscos ambientais, como será abordado em todo este trabalho; c) Ergonomia – a higiene do trabalho busca além da detecção de atividades insalubres, a melhoria do conforto e qualidade de vida do trabalhador no seu ambiente de trabalho; d) Saneamento e meio ambiente – o processo de avaliação e controle de riscos ocupacionais ultrapassa os limites do ambiente de trabalho. Por meio da prevenção adequada dos riscos ocupacionais, o impacto negativo da industrialização no meio ambiente pode ser apreciavelmente reduzido, e favorecer o bem-estar do meio ambiente em geral; e) Psicologia e sociologia – a psicologia e a sociologia tratam de harmonizar as relações entre o processo produtivo, o ambiente de trabalho e o homem; f) Medicina do Trabalho – o processo de controle biológico, por meio de exames médicos, é um dos parâmetros utilizados para verificar a eficiência das medidas em higiene do trabalho. AN02FREV001/REV 4.0 120 4.2 RISCOS FÍSICOS E MECÂNICOS Os riscos físicos compreendem as diversas formas de energia a que possam estar expostos os trabalhadores, tais como: ruído, calor, frio, pressão, umidade, radiações ionizantes e não ionizantes, vibração, etc. Risco mecânico é o perigo ao qual o trabalhador está exposto ao manusear equipamentos, operar máquinas ou utilizar algumas ferramentas que possam lhe causar danos físicos, tais como: queimaduras, quedas, prensamentos, cortes, amputações, agarramento, enrolamento, choque ou impacto, projeção de objetos, perfurações, esmagamento e abrasão. Esses danos causados por agentes de risco mecânico estão ligados, em sua maioria, a atividades operacionais que são realizadas sem os equipamentos de proteção individual (EPIs) e também sem equipamentos de proteção e manutenção das ferramentas e máquinas utilizadas. Os principais agentes de risco mecânico são os instrumentos de trabalho: máquinas, ferramentas e até mesmo as peças produzidas pelo trabalhador. As máquinas são, em sua maioria, os agentes de maior risco, principalmente as relacionadas a corte, moldagem, perfuração, estampagem, esmagamento ou empilhamento. Outras fontes de riscos são os mecanismos de transmissão de força, onde componentes do sistema mecânico transmitem energia às partes da máquina que executam o trabalho. A utilização de EPIs é de fundamental importância para os trabalhadores que entram em contato direto com máquinas e ferramentas que oferecem riscos. Existem inúmeros produtos de segurança individual que podem ser utilizados de acordo com as necessidades de segurança que o trabalho com riscos mecânicos exige, como: luvas – proteção para as mãos contra cortes, queimaduras e perfurações; óculos – proteção para os olhos contra impactos, queimaduras e perfurações; AN02FREV001/REV 4.0 121 calçados – proteção para os pés contra prensamentos, cortes, perfurações e impactos; capacetes – proteção para a cabeça contra impactos, perfurações e queimaduras; aventais – proteção para o tronco contra cortes, queimaduras e impactos; protetores auriculares – proteção para os ouvidos contra ruídos e efeitos sonoros muito altos. São considerados também agentes de riscos mecânicos geradores de acidentes: arranjo físico deficiente, máquinas e equipamentos sem proteção, ferramentas inadequadas ou defeituosas, eletricidade, incêndio ou explosão, animais peçonhentos e armazenamento inadequado. A principal medida de prevenção dos acidentes causados por riscos mecânicos é realizar um programa de inspeções de segurança. Por meio de exame criterioso de todas as máquinas e instalações, é possível evitar acidentes e reparar as situações de risco potencial. A manutenção preventiva eficiente e sistemática é a melhor para eliminar os riscos mecânicos de acidente. 4.3 RUÍDO – CONCEITOS GERAIS, OCORRÊNCIA, UNIDADE, APARELHOS, TÉCNICAS DE AVALIAÇÃO E MEDIDAS DE CONTROLE. As máquinas e equipamentos utilizados pelas empresas produzem ruídos que podem atingir níveis excessivos, podendo a curto, médio ou longo prazos provocar sérios prejuízos à saúde do trabalhador. Dependendo do tempo de exposição, nível sonoro e da sensibilidade individual, as alterações danosas poderão manifestar-se imediatamente ou gradualmente. O nível do ruído é expresso em uma unidade de medida chamada Decibel (dB). Os riscos de danos à saúde aumentam quando os ruídos emitidos ficam acima dos 65dB. Neste nível, o som já começa a ser prejudicial à saúde do trabalhador. Dessa forma, quanto maior o nível de ruído, menor deverá ser o tempo de exposição ocupacional. O tempo de exposição segue descrito conforme a tabela a seguir. AN02FREV001/REV 4.0 122 TABELA 3 - TEMPO DE EXPOSIÇÃO CONFORME O RUÍDO Nível de ruído dB Máxima exposição diária permissível 85 8 horas 86 7 horas 87 6 horas 88 5 horas 89 4 horas e 30 minutos 90 4 horas 91 3 horas e 30 minutos 92 3 horas 93 2 horas e 40 minutos 94 2 horas e 40 minutos 95 2 horas 96 1 hora e 45 minutos 98 1 hora e 15 minutos 100 1 hora 102 45 minutos 104 35 minutos 105 30 minutos 106 25 minutos 108 20 minutos 110 15 minutos 112 10 minutos 114 8 minutos 115 7 minutos FONTE: Associação Brasileira de Normas Técnicas (NBR 10152). Disponível em: <http://www.cabreuva.sp.gov.br/pdf/NBR_10152-1987.pdf>. Acesso em: 1 abr. 2013. AN02FREV001/REV 4.0 123 O ruído tem uma atividade danosa ao organismo humano, agindo diretamente sobre o sistema nervoso, ocasionando: fadiga nervosa; alterações mentais (perda de memória, irritabilidade, dificuldade em coordenar ideias); hipertensão; modificação do ritmo cardíaco; modificação do calibre dos vasos sanguíneos; modificação do ritmo respiratório; perturbações gastrointestinais; diminuição da visão noturna; dificuldade na percepção de cores. Além destas consequências, o ruído atinge também o aparelho auditivo causando a perda temporária ou definitiva da audição. Para evitar ou diminuir os danos provocados pelo ruído no local de trabalho, podem ser adotadas as seguintes medidas: medidas de proteção coletiva – isolamento da máquina produtora de ruído; isolamento de ruído; medidas de proteção individual – fornecimento de equipamento de proteção individual (EPI), como o protetor auricular. No caso do EPI, ele deve ser fornecido na impossibilidade de eliminar o ruído ou como medida complementar; medidas médicas – exames audiométricos periódicos, afastamento do local de trabalho, revezamento no período de trabalho; medidas educacionais – orientação para o uso correto do EPI, campanha de conscientização; medidas administrativas – tornar obrigatório o uso do EPI e controlar seu uso. De acordo com as Normas Regulamentadoras (NRs) brasileiras, torna-se prejudicial o ruído acima de 85 dBA (decibéis, medidos na escala A do aparelho medidor da pressão sonora) para uma exposição máxima de oito horas por dia de trabalho. Entretanto, é sabido que sons acima dos 65 dB podem contribuir para aumentar os casos de insônia, estresse, comportamento agressivo e irritabilidade, entre outros. E, níveis superiores a 75 dB podem gerar problemas de surdez e provocar hipertensão arterial. AN02FREV001/REV 4.0 124 4.4 PRESSÕES ANORMAIS Existem inúmeras atividades em que os trabalhadores ficam sujeitos a pressões ambientais diferentes das pressões normais, isto é, acima ou abaixo da pressão atmosférica a que normalmente estamos expostos. Podemos classificar as pressões da seguinte maneira: baixas pressões – são as que se situam abaixo da pressão atmosférica normal e ocorrem com trabalhadores que realizam tarefas em grandes altitudes. No Brasil, são raros os trabalhadores expostos a este risco. altas pressões – são as que se situam acima da pressão atmosférica normal. Ocorrem em trabalhos realizados em tubulações de ar comprimido, máquinas de perfuração, caixões pneumáticos e trabalhos executados por mergulhadores, por exemplo. A exposição do trabalhador a pressões anormais pode causar a ruptura do tímpano quando o aumento de pressão for brusco e a liberação de nitrogênio nos tecidos e vasos sanguíneos e morte. Por ser uma atividade de alto risco, devem ser obedecidas as normas presentes na Norma Regulamentadora NR-15, que descreve sobre as atividades e operações em ambientes insalubres, discutido no módulo 2 deste curso. 4.5 TEMPERATURAS EXTREMAS – CONCEITOS GERAIS, PARÂMETROS FUNDAMENTAIS QUE INFLUEM NAS TROCAS TÉRMICAS, ÍNDICES DE AVALIAÇÃO, MEDIDAS DE CONTROLE Os mecanismos de regulação do calor pelo corpo humano buscam manter o corpo em uma temperatura constante de 37°C. A pele e os tecidos subcutâneos são mantidos em uma temperatura constante pelo sangue circulante. A temperatura do sangue se deve ao calor proveniente da energia liberada pelas células quando estas AN02FREV001/REV 4.0 125 queimam o alimento (um processo que requer um suprimento constante de alimento e oxigênio). O excesso é eliminado, sendo normal que o corpo perca constantemente calor através dos pulmões e da pele. No caso de exposição ao calor ambiental excessivo, o organismo produz mais calor e utiliza esses mecanismos de regulação para perder mais calor e manter constante a sua temperatura. Em primeiro lugar, se produz dilatação dos vasos sanguíneos da pele e dos tecidos subcutâneos e se desvia parte importante do fluxo sanguíneo para essas regiões superficiais. Por consequência, há um aumento do volume sanguíneo circulante devido à contração do baço e à diluição do sangue circulante com líquidos extraídos de outros tecidos. Esses ajustes circulatórios favorecem o transporte de calor do centro do organismo até a superfície. Simultaneamente, as glândulas sudoríparas são ativadas, e regulam o calor do corpo pelo suor. No organismo humano, as altas temperaturas podem provocar: desidratação; erupção da pele; câimbras; fadiga física; distúrbios psiconeuróticos; problemas cardiocirculatórios; insolação. Ao passo que as baixas temperaturas podem provocar: feridas; rachaduras e necrose na pele; enregelamento (ficar congelado); agravamento de doenças reumáticas; predisposição para acidentes; predisposição para doenças das vias respiratórias. Para o controle dos agravos à saúde do trabalhador relacionados a temperaturas extremas, é necessário tomar algumas medidas, relativas a: proteção coletiva – ventilação local com sistema de exaustão com a função de retirar o calor e gases dos ambientes, isolamento das fontes de calor/frio; e, proteção individual – fornecimento de EPI (por exemplo, avental, bota, capuz, luvas especiais para trabalhar no frio). Os efeitos da sobrecarga térmica (ou estresse térmico), a que um trabalhador está submetido em uma área de trabalho quente, dependem de fatores ambientais e de características individuais do trabalhador, tais como idade, peso e condicionamento físico, especialmente do aparelho cardiocirculatório. Entre os fatores ambientais, devem ser considerados a temperatura, a umidade, o calor radiante (sol, fornos) e a velocidade do ar. AN02FREV001/REV 4.0 126 As ocupações que apresentam maior risco de exposição ao calor incluem os cozinheiros, padeiros, fundidores de metais, fabricantes de vidros, mineiros, entre outros. Os riscos aumentam com a umidade elevada, que diminui o efeito refrescante da sudorese, e com o esforço físico prolongado, que aumenta a quantidade de calor produzido pelos músculos. Os limites de exposição humana ao calor excessivo estão explícitos no Anexo nº 3 da NR-15, da Portaria 3214/78. Consta nessa portaria para tais condições de insalubridade que é necessário a implementação de procedimentos para uma adequada reidratação e reposição salina, por meio da ingestão de sal e água. Devem ser utilizadas roupas adequadas para tais procedimentos, e reposição de líquido e sais perdidos pelo suor, que pode ser realizada pela ingestão de bebidas e alimentos levemente salgados. Com relação do frio, quando o corpo está exposto a este agente ocorre o oposto do que acontece em situações de calor excessivo. Os vasos sanguíneos periféricos (pele e extremidades) se contraem para reduzir a perda de calor no ambiente, o que resulta numa queda brusca da temperaturada pele, dos dedos das mãos e dos pés, das orelhas e do nariz. Dessa forma, mais sangue é enviado para os órgãos vitais como o coração e o cérebro. As ocupações com maior risco de exposição ao frio são os trabalhos em câmaras frigoríficas, a céu aberto no clima frio, nos serviços de refrigeração, entre outros. Quando há congelamento dos tecidos, e isso ocorre quando a temperatura chega perto de –1°C ocorre alteração da estrutura celular e necrose dos tecidos. O primeiro sinal de lesão por frio é uma sensação aguda de pontada, adormecimento e anestesia dos tecidos atingidos. A necrose por frio pode produzir desde uma lesão superficial com mudança da cor da pele, anestesia transitória, até o congelamento de tecidos profundos com isquemia persistente, trombose, cianose profunda e gangrena. AN02FREV001/REV 4.0 127 4.6 ILUMINAÇÃO Os ambientes de trabalho devem possuir iluminação adequada, natural ou artificial, apropriada à natureza da atividade. Ou seja, o tipo de iluminação utilizada no ambiente de trabalho deve estar relacionado ao tipo de atividade que é realizada ali. Além de ser distribuída e difundida de maneira uniforme no ambiente, a iluminação deve ser projetada e instalada de forma a evitar ofuscamento, reflexos incômodos, sombras e contrastes excessivos. Alguns problemas comuns relativos à iluminação que podem estar presentes no ambiente de trabalho precisam ser evitados, como: nível insuficiente de iluminação – esse tipo de problema pode causar percepção inadequada dos detalhes, queda de rendimento do trabalhador, além de erros, cansaço etc.; claridade excessiva ou de ofuscamento – ocasiona a fadiga visual; tamanho inadequado de letras e objetos – ocasiona fadiga visual e posturas forçadas, para enxergar melhor; uso de lâmpadas de baixa reprodutibilidade cromática – lâmpadas de vapor de sódio para atividades em que a percepção de cores é fundamental. Importante ressaltar que iluminação e acústica são fatores que influenciam diretamente o conforto, a produtividade e até mesmo a saúde dos profissionais no ambiente de trabalho. Níveis de iluminação inadequada, além de atrapalhar o rendimento das pessoas, também podem deixar uma imagem negativa da sua marca ou empresa junto ao público. Os projetos de iluminação dos ambientes de trabalho raramente se preocupam com o tipo de tarefa que será realizada no local mesmo. Para isso, existe apoio legal para esses procedimentos, cujas exigências constam na NBR-5413 (a Norma de Iluminação) e na NR-9 (a Norma de Prevenção de Riscos Ambientais). A iluminância de um ambiente é mensurada por um aparelho chamado luxímetro. A unidade de medida é expressa em LUX, e varia entre 1 LUX e 50.000 AN02FREV001/REV 4.0 128 LUX. A tabela a seguir apresenta alguns níveis de iluminância necessários a alguns ambientes e tarefas. TABELA 4 - NÍVEIS DE ILUMINÂNCIA NÍVEIS DE ILUMINÂNCIA PARA INTERIORES (NBR-5413) AMBIENTE OU TRABALHO LUX Sala de espera 100 Garagem, residência, restaurante 150 Depósito, indústria (comum) 200 Sala de aula 300 Lojas, laboratórios, escritórios 500 Sala de desenho (alta precisão) 1.000 Serviços de muito alta precisão 2.000 FONTE: Associação Brasileira de Normas Técnicas (NBR 5413). Disponível em: <http://www.labcon.ufsc.br/anexos/13.pdf>. Acesso em: 1 abr. 2013. A iluminação adequada no local de trabalho é um dos fatores mais importantes para um desempenho eficiente das atividades dos trabalhadores, além de ser essencial para evitar muitos acidentes. É importante não só a quantidade de luz, mas também a qualidade da luz. AN02FREV001/REV 4.0 129 4.7 RADIAÇÕES ELETROMAGNÉTICAS IONIZANTES E NÃO IONIZANTES São formas de energia transmitidas em ondas eletromagnéticas. A absorção das radiações pelo organismo é responsável pelo aparecimento de diversas lesões. As radiações eletromagnéticas podem ser classificadas em dois grupos: radiações ionizantes – os operadores de raios-x e radioterapia estão frequentemente expostos a esse tipo de radiação, que pode afetar o organismo ou se manifestar nos descendentes das pessoas expostas; radiações não ionizantes – são radiações não ionizantes a radiação infravermelha, proveniente de operação em fornos, radiação ultravioleta, como a gerada por operações em solda elétrica, raios laser, micro-ondas, etc. Seus efeitos são perturbações visuais, queimaduras, lesões na pele, etc. Para que haja o controle da ação das radiações para o trabalhador é preciso que se tomem: medidas de proteção coletiva – isolamento da fonte de radiação, como por exemplo, por meio do uso de biombo protetor para operação em solda, e enclausuramento da fonte de radiação, por meio de pisos e paredes revestidas de chumbo em salas de raio-x; medidas de proteção individual – fornecimento de EPI adequado ao risco (avental, luva, perneira e mangote de raspa para soldador, óculos para operadores de forno); medida administrativa – uso de dosímetro de bolso para técnicos de raio-x, por exemplo; medida médica – realização de exames periódicos. AN02FREV001/REV 4.0 130 4.8 RISCOS QUÍMICOS Os riscos químicos presentes nos locais de trabalho são encontrados nas formas sólida, líquida e gasosa e classificam-se em: poeiras, fumos, névoas, gases, vapores, neblinas e substâncias, compostos e produtos químicos em geral. Poeiras, fumos, névoas, gases e vapores estão dispersos no ar na forma de aerossóis. Poeiras são partículas sólidas geradas mecanicamente por ruptura de partículas maiores. As poeiras são classificadas em: poeiras minerais – sílica, asbesto, carvão mineral. Traz consequências à saúde humana, como silicose (quartzo), asbestose (amianto), pneumoconiose dos minérios de carvão (mineral); poeiras vegetais – algodão, bagaço de cana-de-açúcar. As consequências à saúde humana são bissinose (algodão), bagaçose (cana- de-açúcar) etc.; poeiras alcalinas – calcário. As consequências à saúde humana são doenças pulmonares obstrutivas crônicas, enfizema pulmonar; poeiras incômodas – partículas de origem diversa encontradas no ambiente de trabalho. As consequências à saúde humana são interações com outros agentes nocivos presentes no ambiente de trabalho, potencializando sua nocividade. Os fumos são partículas sólidas produzidas por condensação de vapores metálicos. Fumo de óxido de zinco nas operações de soldagem com ferro é um exemplo. Apresentam consequências à saúde humana como doença pulmonar obstrutiva, febre de fumos metálicos, intoxicação específica de acordo com o metal. E, as névoas, por sua vez, correspondem a partículas líquidas resultantes da condensação de vapores ou da dispersão mecânica de líquidos. Névoa resultante do processo de pintura a revólver e monóxido de carbono liberado pelos escapamentos dos carros são alguns exemplos. AN02FREV001/REV 4.0 131 4.9 GASES E VAPORES TÓXICOS Os gases correspondem ao estado natural das substâncias nas condições usuais de temperatura e pressão, tais como: gás liquefeito de petróleo (GLP), hidrogênio, ácido nítrico, butano, ozona, etc. Já os vapores são dispersões de moléculas no ar que podem condensar-se para formar líquidos ou sólidos em condições normais de temperatura e pressão, tais como: nafta, gasolina, naftalina, etc. Névoas, gases e vapores podem ser classificados em: irritantes – que causam irritação das vias aéreas superiores. Por exemplo, ácido clorídrico, ácido sulfúrico, soda cáustica, cloro, etc.; asfixiantes – causam dor de cabeça, náuseas, sonolência, convulsões, coma e morte. Por exemplo, hidrogênio, nitrogênio, hélio, metano, acetileno, dióxido de carbono, monóxido de carbono, etc.; anestésicos – são, em sua maioria, solventesorgânicos que possuem ação depressiva sobre o sistema nervoso, causam danos a diversos órgãos, ao sistema formador de sangue (benzeno), etc. Por exemplo, butano, propano, aldeídos, cetonas, cloreto de carbono, tricloroetileno, benzeno, tolueno, alcoóis, percloritileno, xileno, etc. As vias de penetração dos agentes químicos podem ser: via cutânea (pele); via digestiva (boca); via respiratória (nariz). Sendo que a penetração dos agentes químicos no organismo depende de sua forma de utilização. Para avaliar o potencial tóxico das substâncias químicas, alguns fatores devem ser levados em consideração: concentração – quanto maior a concentração, mais rapidamente seus efeitos nocivos se manifestarão no organismo; índice respiratório – representa a quantidade de ar inalado pelo trabalhador durante a jornada de trabalho; sensibilidade individual – o nível de resistência varia de indivíduo para indivíduo; toxicidade – é o potencial tóxico da substância no organismo; AN02FREV001/REV 4.0 132 tempo de exposição – é o tempo que o organismo fica exposto ao contaminante. Para evitar danos à saúde humana, algumas medidas de proteção podem ser empregadas nos ambientes de trabalho: ventilação e exaustão do ponto de operação, substituição do produto químico utilizado por outro menos tóxico, redução do tempo de exposição, estudo de alteração de processo de trabalho, conscientização dos riscos no ambiente, fornecimento do EPI como medida complementar (máscara de proteção respiratória para poeira, para gases e fumos, luvas de borracha), e, em alguns casos, afastamento do local de trabalho. 4.10 APARELHOS UTILIZADOS NA HIGIENE INDUSTRIAL A higiene industrial é definida como uma técnica ou ciência não médica dedicada à identificação e quantificação dos contaminantes do ambiente de trabalho, assim como à avaliação da exposição dos trabalhadores a esses contaminantes. A higiene industrial tem como principais objetivos criar e manter condições de trabalho que não prejudiquem a saúde dos trabalhadores e que sejam as mais adequadas à psicologia e fisiologia dos trabalhadores. Atua também na prevenção do aparecimento de doenças profissionais e aumento do bem-estar psicossocial, da produtividade e da satisfação no trabalho. Para que esses objetivos sejam alcançados, a Higiene Industrial é constituída de quatro áreas fundamentais: a Higiene de Campo, a Higiene Analítica, a Higiene Teórica e a Higiene Operativa. 1) Higiene de Campo: está diretamente ligada à higiene operativa. Tem como função recolher todos os elementos para o estudo das condições de higiene nos postos e ambientes de trabalho. Para tal, é necessário realizar uma identificação de potenciais riscos. É importante a observação rigorosa das instalações, do processo produtivo, dos equipamentos e materiais, dos métodos de trabalho e da própria organização do trabalho. A coleta do maior número de elementos é de extrema importância e deve ser realizada por um técnico especializado, de modo a permitir uma análise correta do local de trabalho. Os dados obtidos dessas análises AN02FREV001/REV 4.0 133 serão posteriormente avaliados com a colaboração das outras áreas, dando origem a resultados, a partir dos quais permitirão conclusões e recomendações, com vista a solucionar o problema em questão. 2) Higiene Analítica: faz a determinação qualitativa e quantitativa dos poluentes existentes no ambiente. Em geral, há sempre mais do que um contaminante no ambiente de trabalho. Na fase da quantificação dos fatores ambientais, a exatidão dos seus resultados vai depender, não só da calibração dos aparelhos de medida, da coleta de amostras de ar para análise laboratorial posterior e da qualidade dessas análises (determinadas por métodos analíticos padronizados), mas também dos locais e altura das medições e colheitas. 3) Higiene Teórica: estuda a relação dose-resposta, isto é, a relação entre o contaminante, o tempo de exposição e o homem, e estabelece valores-padrão de referência, níveis de ação ou valores-limite de exposição para os quais a maioria das pessoas não sofre qualquer tipo de alteração funcional. A correta avaliação da exposição do trabalhador requer conhecimento das tarefas desempenhadas e da sua duração, a integração destes dois elementos é comparada com os referidos valores-limite fixados por lei, normas, recomendações ou orientações. 4) Higiene Operativa: executa os estudos no sentido de prevenir, eliminar ou reduzir a situação de risco para níveis aceitáveis. Propõe ações corretivas e preventivas de modo a fazer com que as condições ambientais permaneçam dentro de limites não perigosos para a saúde do homem. É fundamental que o estabelecimento de medidas corretivas e/ou preventivas se adapte à situação concreta dos postos de trabalho e que sejam desenvolvidas ações de sensibilização para que as medidas sejam aceitas por trabalhadores, chefias e empregadores. AN02FREV001/REV 4.0 134 4.11 INTRODUÇÃO À TOXICOLOGIA A Toxicologia Ocupacional é um ramo da ciência que estuda os efeitos nocivos causados por substâncias químicas presentes no ambiente de trabalho. Nos últimos tempos, a Toxicologia Ocupacional tem ganhado grande destaque porque se preocupa com a saúde dos trabalhadores, que é a população produtiva do país. A associação de algum efeito tóxico com uma determinada atividade profissional já é conhecida há séculos, e desde essa época procura-se estudar estes efeitos e estabelecer medidas de segurança no manuseio das inúmeras substâncias tóxicas a que o homem é exposto em seus diferentes ambientes de trabalho. Devido ao crescimento acelerado da indústria e ao constante aumento do uso de produtos químicos, qualquer tipo de atividade pode expor o trabalhador a uma variedade de substâncias, capazes de produzirem efeitos indesejáveis sobre os sistemas biológicos. As medidas preventivas destinadas a este fim são conhecidas como procedimentos de monitoramento. De uma maneira bem resumida, a Toxicologia Ocupacional procura prevenir o desenvolvimento das lesões tóxicas ou de doença profissional. Para cumprir tal objetivo é necessário um grande conhecimento sobre os agentes ocupacionais potencialmente tóxicos, especialmente informações sobre a toxicidade das substâncias e a relação dose/resposta. Esses dados podem ser obtidos por meio de quatro fontes principais: experimentação em animais; experimentação em voluntários; observação ao acaso no ambiente de trabalho; pesquisas epidemiológicas. Com os dados experimentais e epidemiológicos, torna-se possível definir critérios de segurança para cada substância, como, por exemplo, as suas concentrações aceitáveis, e adotar medidas de prevenção que tornem possível respeitar esses critérios. Dessa maneira, é mantida a saúde do trabalhador, ou, em outras palavras, alcançado o objetivo da Toxicologia Ocupacional. O monitoramento ambiental visa determinar os níveis de agentes químicos no ambiente ocupacional, para avaliar uma exposição potencial, isto é, AN02FREV001/REV 4.0 135 a quantidade do agente químico que pode alcançar os organismos vivos. Assim, com base nos dados obtidos e no conhecimento do risco toxicológico das substâncias, é possível evitar que a contaminação atinja níveis perigosos. O controle desses agentes nocivos foi, por muitos anos, efetuado como único modo de se prevenir o aparecimento de alterações prejudiciais à saúde, decorrentes da exposição ocupacional. Para se estabelecer as concentrações máximas para uma exposição ocupacional, uma série de informações científicas é exigida, tais como: os conhecimentos das propriedades físico-químicos das substâncias; investigações toxicológicas sobre toxicidade aguda, subaguda e crônica pelas diversas vias de introdução; experimentos em animais e observaçõesno homem. O monitoramento ambiental, entretanto, ao estimar a intensidade da exposição, não é inteiramente satisfatório para evitar o risco decorrente da exposição ocupacional a agentes nocivos. Existem inúmeras variáveis que prejudicam a associação direta entre a exposição e os efeitos nocivos. Os indivíduos diferem quanto à duração e à intensidade da exposição aos contaminantes da atmosfera, aos hábitos alimentares, hábitos próprios no trabalho e no macroambiente. O monitoramento ambiental não considera, por exemplo, o trabalho extra ou o trabalho pesado, quando pode ocorrer até 20 vezes mais inalação de ar por minuto do que no trabalho leve. Além disso, as características individuais tais como sexo, idade, raça, estados nutricionais, entre outros, resultam em uma série de respostas diferentes dos diversos organismos, frente a uma mesma concentração do agente tóxico ocupacional. No entanto, para vários agentes tóxicos, como, por exemplo, aqueles que apresentam ação tóxica local (vapores de ácidos, NO, NO2, SO2, etc.), o monitoramento ambiental é o único meio de prevenir o aparecimento de intoxicações. Há uma série de vantagens e limitações para que seja realizado o monitoramento biológico. Ele é de uso limitado a poucos agentes químicos e também não pode ser utilizado para a prevenção de efeitos carcinogênicos, mutagênicos ou alergênicos, para os quais não são conhecidas as doses onde não são observados efeitos nocivos. AN02FREV001/REV 4.0 136 Dentre as vantagens do monitoramento biológico em relação ao ambiental, podemos citar: exposição relativa a um período de tempo prolongado; exposição como resultado da movimentação do trabalhador no ambiente de trabalho; absorção de uma substância, por meio de várias vias de introdução e, não apenas, pelo sistema respiratório; exposição global, decorrentes de várias fontes de exposição, seja ocupacional, seja ambiental; quantidade da substância absorvida pelo trabalhador, em função de outros fatores (atividade física no trabalho e fatores climáticos); quantidade da substância absorvida pelo trabalhador, em função de fatores individuais (idade, sexo, características genéticas, condições funcionais dos órgãos relacionados com a biotransformação e eliminação do agente tóxico). Quando o monitoramento biológico é realizado, deve ser considerado o fato de que o próprio homem é a melhor indicação das condições do seu local de trabalho. No monitoramento biológico é estimado o risco para a saúde dos indivíduos expostos a substâncias químicas com base na exposição interna do organismo (dose interna). Todos os trabalhadores são examinados, individualmente, procurando detectar precocemente uma exposição excessiva (antes que alterações biológicas significativas ocorram) ou, então, algum distúrbio biológico reversível (antes que tenham causado algum prejuízo à saúde). Temos, então, dois tipos de monitoramento biológico. O monitoramento biológico de dose interna foi definido como: “A medida e avaliação de agentes químicos ou de seus produtos de biotransformação em tecidos, secreções, excreções, ar exalado ou alguma combinação desses, para estimar a exposição ou o risco à saúde quando comparados com uma referência apropriada”. Ele visa estimar a quantidade biodisponível do agente químico (dose interna). O objetivo desse procedimento é de assegurar que a exposição do indivíduo não alcance níveis nocivos. A dose interna pode representar: 1) a quantidade do agente químico recentemente absorvida (exposição recente), como, por exemplo, o fenol urinário na exposição ao benzeno; 2) a quantidade do agente químico ligada aos sítios de ação (dose no órgão crítico), como, por exemplo, o cádmio no tecido renal; 3) a quantidade armazenada num ou vários compartimentos do organismo (dose total integrada ou dose especifica num órgão), como, por exemplo, o chumbo nos ossos. AN02FREV001/REV 4.0 137 Uma vez que o monitoramento biológico envolve prioritariamente a prevenção, o monitoramento biológico de efeito seria conceitualmente contraditório com o primeiro. Todavia, deve-se considerar que o efeito no qual esse monitoramento está baseado é o não nocivo. O monitoramento de um efeito precoce, não nocivo, produzido por um agente químico pode, em princípio, ser adequado para prevenir efeitos nocivos à saúde. Assim, o monitoramento biológico de efeito é definido como: “A medida e avaliação de efeitos biológicos precoces, para os quais não foi ainda estabelecida relação com prejuízos à saúde, em trabalhadores expostos, para estimar a exposição e/ou os riscos para saúde quando comparados com referência apropriada”. Um efeito biológico pode ser definido como uma alteração bioquímica, funcional ou estrutural que resulta da reação do organismo à exposição. Essa alteração é considerada não nociva quando: ao serem produzidas numa exposição prolongada não resultem em transtornos da capacidade funcional nem da capacidade do organismo para compensar nova sobrecarga; são reversíveis e não diminuem perceptivamente a capacidade do organismo de manter sua homeostasia; não aumentam as suscetibilidades do organismo aos efeitos indesejáveis de outros fatores ambientais tais como os químicos, os físicos, os biológicos ou sociais. A vantagem dos testes que avaliam os efeitos biológicos não nocivos é que fornecem melhor informação sobre a quantidade do agente químico que interage com o sítio de ação. Como exemplos de efeitos considerados não nocivos, temos a depressão da desidratase do ácido delta-aminolevulínico no sangue (delta-alaD) e o aumento da zincoprotoporfirina no eritrócito (zn-pp) na exposição ao chumbo. Dessa forma, o objetivo principal do monitoramento biológico, seja ele de dose interna ou de efeito, é, essencialmente, o mesmo do monitoramento ambiental, ou seja, prevenir a exposição excessiva aos agentes químicos que podem provocar efeitos nocivos, agudos ou crônicos, nos indivíduos expostos. Nos três casos, o risco à saúde é avaliado comparando o valor medido, com um padrão de segurança. AN02FREV001/REV 4.0 138 Para o monitoramento biológico, existem alguns indicadores biológicos, também conhecidos como biomarcadores, que auxiliam no processo de detecção e avaliação do efeito tóxico dos agentes. Indicador Biológico de Exposição (IBE) é uma substância química, elemento químico, atividade enzimática ou constituintes dos organismos, cuja concentração ou atividade biológica no organismo (sangue, urina, ar exalado) ou em tecidos, possui relação com a exposição ambiental a determinado agente tóxico. A substância ou elemento químico determinado pode ser produto de uma biotransformação ou alteração bioquímica precoce decorrente da introdução deste agente tóxico no organismo. Para os agentes químicos preconizados na NR-7, é definido o Índice Biológico Máximo Permitido (IBMP), que é: “O valor máximo do indicador biológico para o qual se supõe que a maioria das pessoas ocupacionalmente expostas não corre risco de dano à saúde. A ultrapassagem deste valor significa exposição excessiva” (NR-7). Este valor (IBMP) deve ter correlação com a concentração do agente químico no ambiente de trabalho e é definido como limite de tolerância ou limite de exposição ocupacional. Para realizar o monitoramento biológico é preciso ter o indicador biológico, que pode ser definido como todo agente tóxico inalterado e/ou seu produto de biotransformação, determinado em amostras representativas do organismo dos trabalhadores expostos (sangue, urina e ar expirados), assim como a identificação de alterações biológicas precoces decorrentes da exposição. Dentre os fatores que podem influenciar os níveis dos indicadores biológicos, podemos citar os seguintes: 1) fatores não ocupacionais hábitos pessoais (por exemplo, consumo de álcool ou fumo); fármacos (por exemplo,aspirina); fatores constitucionais (por exemplo, espécie, sexo, idade); fatores patológicos (pessoas anêmicas expostas a metais Cd, Pb, Hg, terão seus níveis mais baixos); fatores ligados às características dos fluídos biológicos (densidade da urina, correção pela creatinina urinária). AN02FREV001/REV 4.0 139 2) fatores ocupacionais interações metabólicas, decorrentes de exposições múltiplas a vários agentes industriais; momento da amostragem (padronização pela NR-7 em função da permanência dos indicadores biológicos no organismo); utilização de frascos adequados para coleta (evitar contaminação, principalmente nas análises de metais); observar que a coleta seja realizada em local afastado do local de trabalho (evitar contaminação exógena); evitar urinas muito diluídas (comprometem o resultado em função da correção pela creatinina urinária). Os resultados obtidos dos exames dos indicadores biológicos são comparados com referências apropriadas. Aqui no Brasil, a legislação que estabelece estas referências é regulamentada pela NR 7, Portaria nº 24, de 29 de dezembro de 1994, da Secretaria de Segurança e Saúde no Trabalho, onde são definidos os parâmetros para o controle biológico de exposição a alguns agentes químicos. É necessário estabelecer, claramente, a diferença entre monitoramento biológico e vigilância à saúde. Vigilância em saúde corresponde a exames médico fisiológicos, periódicos de trabalhadores expostos, com o objetivo de proteger a saúde e detectar precocemente a doença. A detecção da doença instalada esta fora do propósito desta definição. Desse modo, a vigilância à saúde utiliza indicadores sensíveis que auxiliam na detecção, porém, não na prevenção de sinais precoces de alterações orgânicas provocadas pela interação do agente químico com o organismo. A vigilância à saúde é um procedimento médico no qual se recombinam os diversos elementos, obtidos a partir do exame clínico do trabalhador, aos quais se somam os do monitoramento biológico, para se obter um quadro geral da condição e saúde do trabalhador, relacionando-a com uma atividade específica. Em programas de vigilância à saúde são utilizados os indicadores do efeito nocivo que revela a fase inicial, reversível, da intoxicação. Os exames podem necessitar de especificidade com relação à exposição. Como exemplos, podemos citar as provas de função hepática, que poderão estar alteradas em muitas moléstias do fígado com o resultado do hábito de ingerir álcool. O quadro AN02FREV001/REV 4.0 140 hematológico altera-se não somente na exposição ao benzeno, mas também em uma variedade de outros agentes químicos, além de numerosas moléstias originadas por micro-organismos. A validação das provas a serem usadas na vigilância à saúde para determinar efeitos precoces produzidos por agentes químicos é um processo difícil, pois a sensibilidade e a especificidade dos exames devem ser conhecidas. De fato, programas de vigilância à saúde utilizam o monitoramento biológico e o monitoramento de efeito como alguns de seus critérios mais valiosos na detecção precoce de doenças decorrentes da exposição humana a substâncias químicas. Deve-se sempre levar em consideração que somente os indicadores altamente específicos, para uma determinada patologia do órgão, é que podem ser considerados como instrumentos úteis para o diagnóstico precoce de uma doença em processo de instalação. A vigilância à saúde procura dar ênfase às características da exposição, especialmente tempo e duração, associando-se ao estado de saúde, podendo ser aplicada com os seguintes objetivos: 1) comprovar a ausência de um efeito nocivo numa exposição considerada aceitável ou a eficiência das medidas ambientais adotadas; 2) dar atenção às alterações precoces do estado de saúde para poder interferir, preventivamente, em relação à doença. As alterações do estado de saúde ocorrem com as seguintes características: 1) uma fase de indução, isto é, aquela em que decorre certo tempo para se iniciar o processo de morbidade, após alcançar uma certa dose do agente químico no organismo; 2) uma fase de latência, que corresponde ao período compreendido entre o início do processo de morbidade e o aparecimento das alterações funcionais que ainda não permitem a sua individualização. A aplicação da vigilância à saúde, a exemplo do que acontece com o monitoramento biológico, não pode ser confundida com os procedimentos que visam o diagnóstico. É importante enfatizar que a manifestação de deterioração da saúde não ocorre necessariamente no momento do reconhecimento médico. A ocorrência de certas alterações biológicas pode, desde que evidenciada em tempo hábil, AN02FREV001/REV 4.0 141 advertir que, se não forem modificadas as condições de trabalho, ocorrerão os transtornos funcionais. 4.12 OS AGENTES TÓXICOS Pode-se definir agente tóxico como sendo qualquer substância que, interagindo com o organismo, seja capaz de produzir em um órgão ou conjunto de órgãos, lesões estruturais e/ou funcionais, podendo provocar até mesmo a morte. De modo geral, a intensidade da ação do agente tóxico será proporcional à concentração e ao tempo de exposição. Esta relação de proporcionalidade, por sua vez, pode variar de acordo com o estágio de desenvolvimento do organismo e de acordo com seu estado de funcionamento biológico. Com bastante frequência, o termo xenobiótico é usado para designar agente tóxico. No entanto, por xenobiótico entende-se qualquer substância química qualitativa ou quantitativamente estranha ao organismo. Um xenobiótico pode ser de efeito benéfico, como é o caso dos medicamentos, ou de efeito negativo, como no caso de intoxicação por chumbo, por exemplo. A presença de agentes químicos, físicos ou biológicos no ambiente de trabalho oferece um risco à saúde dos trabalhadores. Entretanto, o fato de estarem expostos a estes agentes agressivos não implica, obrigatoriamente, que venham a contrair uma doença do trabalho. Para que os agentes causem danos à saúde, é necessário que estejam acima de uma determinada concentração ou intensidade, que seja suficiente para uma atuação nociva desses agentes sobre o ser humano. Denominamos Limites de Tolerância, para fins legais, como está na NR-15 da Portaria 3214/78 do MTE, aquelas concentrações dos agentes presentes no ambiente de trabalho sob as quais os trabalhadores podem ficar expostos durante toda a sua vida laboral, sem sofrer danos a sua saúde. Esses limites têm por objetivo garantir a proteção da saúde, mas o seu caráter não é absoluto, refletindo, unicamente, o estado em que se encontram os conhecimentos em um dado momento. Quando se determina a possibilidade de uma AN02FREV001/REV 4.0 142 substância provocar câncer, por exemplo, não há mais sentido em falar-se em "Limites de Tolerância", uma vez que qualquer exposição deverá ser evitada, como é o caso dos conhecimentos sobre o benzeno, que até poucos anos atrás tinha seu limite de tolerância definido internacionalmente. No Brasil, até o ano de 1978, não tínhamos tabelas de limites de tolerância para substâncias químicas. A Portaria 491, de 1965, que era a legislação vigente até a promulgação da atual NR-15 e Anexos, determinava os trabalhos insalubres baseando-se apenas nos aspectos qualitativos da exposição aos agentes químicos. Os agentes tóxicos podem ser agrupados, para fins didáticos, em diversas categorias, como, por exemplo: agentes tóxicos irritantes – são substâncias que produzem inflamação dos tecidos com que entram em contato, tais como a pele, conjuntiva ocular, tecidos de revestimento das vias respiratórias, etc. (gás clorídrico, amônia, cloro, soda cáustica, ácido sulfúrico); agentes tóxicos asfixiantes – são aqueles que exercem sua ação no organismo interferindo com o oxigêniodisponível. Há os asfixiantes simples, que são gases inertes cuja interferência é apenas em nível de diluição do oxigênio disponível (gás carbônico, hélio, hidrogênio, nitrogênio, etc.). Há também os asfixiantes químicos, os quais impedem o transporte de oxigênio ou a sua perfeita distribuição pelo organismo (monóxido de carbono, anilina, cianeto de hidrogênio, sulfeto de hidrogênio, etc.); agentes tóxicos anestésicos – são aqueles que interagem com o organismo, atuando a nível do sistema nervoso central, de ampla aplicação médica (alcoóis, éter, clorofórmio, etc.); agentes tóxicos de ação local – são aqueles cujos efeitos se manifestam no local onde ocorreu o contato inicial com o organismo (cimento versus dermatose ocupacional); agentes tóxicos de ação sistêmica – são aqueles cujos efeitos se manifestam à distância do local onde se deu o contato inicial entre o agente tóxico e o organismo (benzeno versus danos celulares na medula óssea, tetracloreto de carbono versus danos hepáticos/renais/Sistema Nervoso Central); AN02FREV001/REV 4.0 143 agentes tóxicos mutagênicos – são aqueles capazes de provocar alterações na informação do material genético, acarretando o aparecimento de alterações em descendentes do indivíduo contaminado (alguns pesticidas, clorofórmio, formaldeído); agentes tóxicos teratogênicos – são aqueles capazes de produzirem alterações no desenvolvimento do feto (mercúrio, selênio, manganês); agentes tóxicos carcinogênicos – são aqueles capazes de induzirem a transformação de células normais em células cancerígenas (benzeno, asbesto, formaldeído, anilina). O grau de toxicidade de uma substância é avaliado quantitativamente pela medida da "DL50", que é a dose de um agente tóxico, obtida estatisticamente, capaz de produzir a morte de 50% da população em estudo. Assim, um agente será tanto mais tóxico, quanto menor for sua DL50. Pode-se avaliar a toxicidade de uma substância a partir da provável dose letal oral para humanos. Segundo esse critério, os agentes tóxicos podem ser agrupados segundo seis diferentes categorias de toxicidade. 1) praticamente não tóxico: acima de 15 g/kg; 2) ligeiramente tóxico: entre 5 e 15 g/kg; 3) moderadamente tóxico: entre 0,5 – 5 g/kg; 4) muito tóxico: entre 50 – 500 g/kg; 5) extremamente tóxico: entre 5 – 50 mg/kg; 6) supertóxico: abaixo de 5 mg/kg. Esta classificação ainda é de pouca utilidade prática, pois está baseada apenas na toxicidade intrínseca das substâncias. Na verdade, outros fatores vão afetar significativamente a toxicidade, como, por exemplo: coformulantes da substância ou produto considerado; organismo receptor; fatores genéticos; estado nutricional; sexo; idade; estados patológicos; dose ou concentração da substância considerada; temperatura ambiental; pressão. Um agente químico de alta toxicidade pode ser de baixo risco em virtude da baixa exposição, mas um agente químico de baixa toxicidade pode ser de maior risco se houver elevada exposição individual ou coletiva. Dose é a expressão utilizada para indicar a quantidade ou a concentração de um agente tóxico que atinge um determinado ponto do organismo do receptor, AN02FREV001/REV 4.0 144 em determinado espaço de tempo. Usualmente, a dose é expressa pela relação massa/massa (massa da substância administrada/unidade de massa corporal do indivíduo receptor). Efeito é a alteração biológica observada em um indivíduo ou em uma população, alteração essa provocada pela interação entre a dose do agente tóxico e os organismos receptores. Resposta é o índice percentual de uma população que apresentou um determinado efeito, mediante a administração de uma determinada dose. Em se tratando de ambientes ocupacionais, o estudo das relações dose x efeito e dose x resposta deve ser realizado considerando-se grupos homogêneos de trabalhadores expostos a riscos semelhantes. Nestes casos, busca-se conhecer ou confirmar dados já obtidos estatisticamente, que relacionam a intensidade de exposição com as alterações do estado de saúde provocadas por essa exposição. O conhecimento da relação dose-resposta: estabelece o nexo causal entre os fatos observados e o produto tóxico em estudo; estabelece a menor dose onde um efeito induzido ocorre; determina a taxa de evolução da lesão. Dentro de uma população, a maioria das respostas a xenobióticos são similares, mas existe uma variação nas respostas em alguns indivíduos, com maior susceptibilidade ou maior resistência em alguns outros. O limiar para efeitos tóxicos ocorre no ponto onde a possibilidade do corpo desintoxicar-se ou reparar a lesão tóxica foi excedida. Para a maioria dos órgãos, existe uma capacidade reserva, de forma que a perda de certa porcentagem da função não chega a afetar a performance geral do órgão. Por exemplo, o desenvolvimento de cirrose no fígado pode não resultar em efeitos clínicos até que 50% do fígado tenha sido tomado por tecido fibroso (cirrótico). AN02FREV001/REV 4.0 145 4.13 VIAS DE PENETRAÇÃO NO ORGANISMO Os principais mecanismos de ação tóxica dos agentes nocivos são: 1) interferência com os sistemas enzimáticos (reversível, irreversível, síntese letal); 2) interferência com o transporte de oxigênio (carboxi-hemoglobina, metahemoglobina); 3) interferência com o sistema genético (ação citostática, carcinogênese, mutagênese e teratogênese); 4) interferência com as funções gerais das células (anestésica, neurotransmissão); 5) irritação direta dos tecidos (dermatite química, gases irritantes); 6) reações de hipersensibilidade (alergia química, fotoalergia, fotossensibilização). Entre os agentes tóxicos de interesse da Toxicologia Ocupacional e seus efeitos sobre o organismo, temos os: 1) hepatotóxicos (fígado) – clorofórmio, tetracloreto de carbono, fósforo, cloreto de vinila, álcool etílico; 2) nefrotóxicos (rins) – mercúrio, cádmio, cromo, hidrocarbonetos policíclicos, clorofórmio, tetracloreto de carbono; 3) neurotóxicos (sistemas nervoso central e periférico) – dissulfeto de carbono, álcool etílico, manganês, mercúrio orgânico, brometo de metila, compostos organofosforados, btx (thinners); 4) interação com sistemas biológicos diversos – As, Cd, Pb, Cu, Cr, Sn, Mn, Hg e outros; 5) carcinogênicos (câncer) – benzidina, níquel, cromo, cloreto de vinila, benzeno, asbestos; 6) pneumoconióticos (pulmões) – sílica, asbestos, óxidos de ferro, carbonetos de tungstênio, alumínio. AN02FREV001/REV 4.0 146 A exposição humana a um agente tóxico pressupõe a penetração do agente tóxico no organismo. A penetração é, pois, o contato inicial seguido do ingresso da substância no organismo, por meio de seus orifícios anatômicos (oral, nasal, retal, cutâneos) ou por aberturas não naturais, como feridas e cortes, por exemplo. A absorção, por sua vez, consiste no transporte do agente tóxico do meio externo para o meio interno do organismo receptor, através de membranas biológicas. Após a exposição por um agente tóxico, a exposição, ocorre a intoxicação e inicia a segunda fase, que é a toxicocinética. Esta última inclui as etapas de absorção, distribuição e eliminação do agente tóxico. A absorção dos agentes tóxicos varia conforme a via de penetração do xenobiótico. Os fatores mais importantes envolvidos na absorção são: estrutura da membrana; espessura da membrana; área de membrana disponível; seletividade da membrana; lipossolubilidade do agente; hidrossolubilidade do agente (coeficiente de partição óleo/água). Após a absorção, o transporte dos agentes tóxicos através das membranas ocorre segundo quatro mecanismos: a) difusão simples – é a passagem do agente tóxico através das membranas, regida apenas pelo coeficiente de partição óleo/água; b) filtração – o agente tóxico, na forma de soluto, passa através dos porosda membrana juntamente com o fluxo de água; é influenciada pela solubilidade do agente tóxico em água; c) pinocitose – determinadas células “incorporam” o agente tóxico, fazendo-o através de dobras da membrana celular; d) transporte ativo – substâncias específicas funcionam como “transportadores" do agente tóxico, transportando-o mesmo contra um gradiente de concentração, um gradiente de pressão ou uma diferença elétrica através do consumo de energia do organismo receptor. Há três vias importantes de absorção dos xenobióticos no organismo: absorção via gastrointestinal; absorção via cutânea; absorção via respiratória. Após a absorção, precisa acontecer o transporte das substâncias químicas para a corrente sanguínea. Os fatores mais importantes envolvidos na absorção são: estrutura da membrana; espessura da membrana; área de membrana disponível; AN02FREV001/REV 4.0 147 seletividade da membrana; lipossolubilidade do agente; hidrossolubilidade do agente (coeficiente de partição óleo/água). Em termos quantitativos, a via respiratória é, sem dúvida, a mais importante em termos de toxicologia ocupacional, seguida das vias cutânea e gastrointestinal. As intoxicações ocupacionais pela via gastrointestinal são raras e devem-se, na maioria das vezes, a condições higiênicas e de conforto muito precárias nos ambientes de trabalho e a hábitos como fumar ou alimentar-se com as mãos sujas nos ambientes de trabalho. Uma vez no trato gastrointestinal, o agente tóxico poderá sofrer absorção desde a boca até o reto, por difusão através das mucosas, ou por transporte ativo. Normalmente, não há absorção através das mucosas da boca e do esôfago, pois o tempo de contato entre o agente tóxico e estas mucosas é muito pequeno. Nas demais seções do trato gastrointestinal a absorção varia em função das características do agente tóxico, visto que o “ambiente físico-químico” é diferente de uma para outra seção. No estômago, por exemplo, há as substâncias químicas específicas, enzimas digestivas, além do ácido clorídrico (pH~1). Poderá haver ainda alguma quantidade de alimento, a qual contribuirá para a redução da absorção, já que haverá menos contato entre o agente tóxico e a mucosa estomacal. No início do intestino delgado, na área denominada duodeno, o pH varia de 12 a 14, devido à presença dos sais biliares e de hidróxido de sódio, isso facilita ou interfere na absorção de determinadas substâncias. No intestino grosso, a ação de bactérias sobre o agente tóxico poderá levar à produção de moléculas absorvíveis. A via gastrointestinal contribui ainda de forma passiva para a incorporação de substâncias tóxicas inaladas, principalmente material particulado, pois a porção que se deposita na parte superior do trato respiratório é arrastada para cima, pela ação ciliar, sendo posteriormente engolida. Tal contribuição é, na maioria das vezes, pouco significativa em termos de efeitos. As intoxicações ocupacionais pela via cutânea podem significar a penetração do agente tóxico pela pele e o posterior ingresso na corrente circulatória, pela epiderme. As intoxicações mais conhecidas são aquelas de efeito local, ou seja, as dermatoses ocupacionais, produzidas pelo contato com os agentes tóxicos. AN02FREV001/REV 4.0 148 A pele constitui-se numa barreira de revestimento do corpo, sendo um obstáculo contra a penetração de xenobióticos. São duas as camadas formadoras da pele: a epiderme, que é a camada mais externa, estando em contato com o meio ambiente; e a derme, camada interna, onde se observa a presença de glândulas sudoríparas, vasos sanguíneos, nervos e folículos pilosos. Muitos fatores influenciam a absorção através da pele, tais como: abrasão ou descontinuidade da pele, que tornam fácil a penetração do xenobiótico; inflamação; pilosidade (áreas com pelos apresentam absorção cutânea cerca de 3 a 13 vezes maior que as demais); tamanho da área exposta; presença de outras substâncias na pele; tempo de exposição; temperatura no local da exposição; redução da camada gordurosa protetora (efeitos dos solventes e sabões). Em termos de intoxicações ocupacionais, a via respiratória é a via mais importante e frequente via de penetração de agentes tóxicos. A exposição dos trabalhadores a aerodispersoides constitui-se num problema presente na maioria dos ambientes de trabalho. A absorção se dá tanto nas vias aéreas superiores quanto nos alvéolos. A superfície de contato pulmonar, composta pela superfície interna dos brônquios e bronquíolos é estimada em 90 m2, e a superfície interna dos alvéolos pulmonares, estimada em 70 m2, formam a interface de contato com o exterior. Essa área, somada a uma rede capilar de vasos sanguíneos com área média de 140 m2, facilitam muito a absorção, particularmente de substâncias na forma gasosa. Sendo o consumo de ar de 10 kg a 20 kg diários, dependendo fundamentalmente do esforço físico realizado (metabolismo), é fácil chegar à conclusão que mais e 90% das intoxicações generalizadas tenham origem na absorção respiratória. As partículas sólidas ou mesmo as líquidas de maiores diâmetros, podem ficar retidas nas partes superiores do aparelho respiratório, onde podem causar doenças irritativas. Quando menores que 10 micra, podem chegar até os alvéolos pulmonares, onde atravessam a membrana alveolar, entram na corrente sanguínea e dai podem ser levadas a outras partes do organismo, por intermédio do sangue ou das células fagocitárias (glóbulos brancos) do sangue. Outras vezes, determinados xenobióticos fixam-se firmemente nas paredes pulmonares, tornando-se resistentes às tentativas de remoção do organismo, que AN02FREV001/REV 4.0 149 tenta dissolvê-los, por meio do sangue e de secreções, ou pela ação das células fagocitárias que tentam digerir os corpos estranhos. Isso faz com que surjam reações pulmonares à agressão da presença dos aerodispersoides, como inflamações e cicatrizações que acabam por afetar a função dos pulmões em longo prazo. A quantidade de um agente tóxico que será absorvida pelo organismo, quando a penetração se dá pela via respiratória, depende de alguns fatores, tais como: concentração do agente tóxico no ar; taxa de respiração; (quantidade de ar respirada, que depende da taxa de metabolismo); solubilidade do material no sangue (coeficiente de distribuição); reatividade do material com tecidos do organismo. 4.14 MECANISMOS DE PROTEÇÃO DO ORGANISMO Durante a fase de exposição e mesmo após a penetração do agente tóxico no organismo, mecanismos de proteção são acionados, tentando minimizar ou até evitar a absorção do xenobiótico. Por exemplo: a pele e a película de suor e gordura que a recobrem atuam como barreira efetiva para várias substâncias químicas, impedindo sua penetração; a camada queratinosa da pele (formada por células mortas) resiste, até certo ponto, à ação da água, ácidos, raios ultravioleta, etc. Nos olhos, as glândulas lacrimais são ativadas quando gases, vapores ou corpos estranhos entram em contato com a conjuntiva ocular. O aparelho respiratório reage prontamente à presença de partículas, por meio do reflexo da tosse, do efeito dos cílios dos brônquios, produção de secreções (catarro) e ação das células sanguíneas denominadas macrófagos alveolares que englobam e tentam destruir os agentes estranhos. Persistindo a exposição ou dependendo da dose/concentração do agente tóxico, esses mecanismos de proteção tornam-se ineficientes e o xenobiótico instala-se no organismo. Ocorrendo isto, o processo de intoxicação prossegue, ou seja, o agente tóxico começa a movimentar-se no organismo. AN02FREV001/REV 4.0 150 Para se evitar uma doença ou intoxicação, deve-se então eliminá-lo ou neutralizá-lo. Entram em cena os mecanismos de desintoxicação, que são a biotransformação e a excreção. Biotransformação é o conjuntode alterações químicas que as substâncias sofrem no organismo, geralmente pela ação de enzimas. Essas alterações produzem, geralmente, compostos mais polares e solúveis em água. O termo metabolização é aplicável às transformações dos elementos essenciais ao organismo, inclusive as reações químicas de queima de alimentos para fornecimento de energia às células. A detoxificação (desintoxicação) pode ser entendida como a biotransformação de um agente tóxico que resulta em um composto menos tóxico. O oposto à detoxificação seria a biotoxificação (intoxicação). A maior parte dos agentes tóxicos, ao serem biotransformados, sofre desativação, ou seja, o produto resultante da biotransformação é menos ativo (menos tóxico) que o precursor. Nestes casos, a biotransformação é realmente um mecanismo de detoxificação. Esta não é, entretanto, uma regra geral; como exemplo, cita-se a biotransformação dos hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, quando os mesmos são convertidos em derivados arilados, que podem reagir com proteínas, induzindo mutações, câncer e anormalidades embrionárias. As principais reações envolvidas na biotransformação de agentes tóxicos são do tipo oxidação, redução, hidrólise e conjugação. A biotransformação de agentes tóxicos por oxidação se dá pela ação das enzimas do grupo oxidase, localizadas no fígado. As reações de oxidação são as mais frequentes, sendo esta a tendência dos processos bioquímicos no reino animal. Em menor escala, a biotransformação de agentes tóxicos por redução se dá pela ação das flavoproteínas, também situadas no fígado. A biotransformação por hidrólise se dá pela ação das enzimas do grupo estereases, as quais podem localizar-se no fígado, plasma do sangue e outros tecidos. A biotransformação por conjugação consiste na ligação do agente tóxico, ou de seus metabólitos provenientes de biotransformações anteriores, a determinados substratos do organismo, formando moléculas conjugadas de grande tamanho. A biotransformação pode ser intensificada pela presença de substâncias indutoras da síntese de enzimas específicas. Contrariamente, substâncias inibidoras AN02FREV001/REV 4.0 151 de certos grupos enzimáticos reduzem a velocidade do processo de biotransformação. A biotransformação varia com alguns fatores, tais como: idade (o feto e o recém-nascido têm biotransformação mais lenta); o estado nutricional; frequência das doses; estado patológico; temperatura (a biotransformação é mais rápida quando a temperatura aumenta). A excreção pode ser entendida como o processo de eliminação do agente tóxico 'in natura' ou biotransformado. Essa eliminação pode ocorrer por meio das secreções (secreção biliar, sudorípara, lacrimal, salivar, láctea), por excreções (urina, fezes e catarro) ou pelo ar expirado. Associado ao fenômeno de excreção surge o conceito de meia vida biológica do agente tóxico. O sistema excretor mais importante para a toxicologia é o sistema renal, por ser bastante específico. A urina é o único material biológico de excreção do organismo humano que é citado na NR-7 (PCMSO) como material de referência de rastreamento biológico para detecção de agentes químicos absorvidos em ambientes ocupacionais. A prevenção da intoxicação profissional pressupõe o correto reconhecimento dos fatores de risco presentes no trabalho e da realidade dos riscos ocupacionais a que estão expostos os trabalhadores. O problema começa já na fase de reconhecimento do fator de risco. Independente da boa intenção e da perspicácia do profissional envolvido com a questão, algumas dificuldades podem surgir, por exemplo: para determinadas substâncias químicas, as propriedades toxicológicas são pouco conhecidas; uma determinada substância poderá estar presente como coformulante ou como veículo em um determinado produto, sem que isso esteja claro, quantitativa e qualitativamente na especificação do produto; impurezas comercialmente aceitáveis no produto podem torná-lo perigoso à saúde, etc. Tomadas as medidas iniciais de controle, controlada a exposição grosseira e evidente, é necessário controlar a exposição em longo prazo, sendo necessário, muitas vezes, quantificar os agentes químicos presentes no ambiente. Para a quantificação é preciso que se conheça a intensidade da exposição (dose), os efeitos que tal exposição pode produzir e, ainda, a relação dose versus resposta, para o agente químico considerado. Obtidas estas informações, especifica-se o risco aceitável (exposição admissível) para aquele agente químico. AN02FREV001/REV 4.0 152 Utilizam-se geralmente os Limites de Tolerância legais, constantes na NR-15 da Portaria 3214/78. Os métodos de coleta e análise de produtos químicos são procedimentos delicados e sujeitos a muitos erros, motivo pelo qual os profissionais devem redobrar seus cuidados e aprofundar seus conhecimentos para que não se perca a validade dos resultados obtidos. Por exemplo, se não for possível amostragem contínua, a avaliação das concentrações de agentes químicos por intermédio de métodos de amostragem instantânea, de leitura direta ou não, deverá ser feita pelo menos em dez amostragens, para cada ponto, ao nível respiratório do trabalhador, e entre cada uma das amostragens deverá haver um intervalo de, no mínimo, 20 minutos. Só este exemplo demonstra a complexidade dessas avaliações e os cuidados necessários. Tomadas as medidas de controle e, mesmo estando a exposição dentro dos Limites de Tolerância, a exposição deverá ser monitorizada, objetivando rastrear possíveis efeitos tóxicos nos trabalhadores. A monitorização é feita em duas linhas de ação: monitorização ambiental e monitorização biológica. 4.15 ERGONOMIA A Ergonomia tem como objetivo melhorar as condições de trabalho, permitindo maior conforto operatório e segurança, integrando critérios de produtividade e qualidade. Ela se aplica ao projeto de máquinas, equipamentos, sistemas e tarefas, cognição e layout com o objetivo de melhorar a segurança, satisfação e bem-estar dos trabalhadores no seu relacionamento com sistemas produtivos. O resultado disso tudo será uma maior eficiência no trabalho. Um ambiente mal planejado pode gerar desconforto, doenças e mal-estar, acarretando em perda de produtividade. As condições de insalubridade e desconforto são minimizadas, ou até eliminadas, sendo adequadas às capacidades e limitações físicas e psicológicas do trabalhador. Os benefícios são: adequação das condições operatórias às exigências de trabalho; AN02FREV001/REV 4.0 153 adequação a leis ou normas; redução do absenteísmo e da rotatividade; adequação do posto de trabalho à atividade de trabalho; garantia da segurança do trabalhador na realização das suas atividades; aumento do conforto operatório; diminuição de problemas de saúde decorrentes da atividade de trabalho; melhoria da estrutura organizacional da empresa; adequação das ferramentas ao trabalho; desenvolvimento de critérios para a aquisição dos meios de trabalho (ferramentas, máquinas, etc.); planejamento de um posto de trabalho levando em conta a abordagem ergonômica. Segundo a legislação brasileira, na Norma Regulamentadora NR 17, para avaliar a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, cabe ao empregador realizar a análise ergonômica do trabalho, devendo a mesma abordar, no mínimo, as condições de trabalho. As condições de trabalho incluem aspectos relacionados ao levantamento, transporte e descarga de materiais, ao mobiliário, aos equipamentos, às condições ambientais do posto de trabalho e à própria organização do trabalho. A ergonomia ou engenharia humana é uma ciência relativamente recente que estuda as relações entre o homem e seu ambiente de trabalho e definida pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) como:"A aplicação das ciências biológicas humanas em conjunto com os recursos e técnicas da engenharia para alcançar o ajustamento mútuo, ideal entre o homem e o seu trabalho, e cujos resultados se medem em termos de eficiência humana e bem-estar no trabalho." São considerados riscos ergonômicos: esforço físico, levantamento de peso, postura inadequada, controle rígido de produtividade, situação de estresse, trabalhos em período noturno, jornada de trabalho prolongada, monotonia e repetitividade, imposição de rotina intensa. Os riscos ergonômicos podem gerar distúrbios psicológicos e fisiológicos e provocar sérios danos à saúde do trabalhador porque produzem alterações no organismo e estado emocional, comprometendo sua produtividade, saúde e segurança, tais como: LER/DORT, cansaço físico, dores musculares, hipertensão AN02FREV001/REV 4.0 154 arterial, alteração do sono, diabetes, doenças nervosas, taquicardia, doenças do aparelho digestivo (gastrite e úlcera), tensão, ansiedade, problemas de coluna, etc. Para evitar que estes riscos comprometam as atividades e a saúde do trabalhador, é necessário um ajuste entre as condições de trabalho e o homem sob os aspectos de praticidade, conforto físico e psíquico por meio de: melhoria no processo de trabalho, melhores condições no local de trabalho, modernização de máquinas e equipamentos, melhoria no relacionamento entre as pessoas, alteração no ritmo de trabalho, ferramentas adequadas, postura adequada, etc. Um dos principais riscos encontrados nos mais diversos ambientes de trabalho e responsável por uma gama variável de doenças ocupacionais é o Risco Ergonômico. O ambiente de trabalho ergonomicamente incorreto é um causador importante do adoenciamento físico e mental dos trabalhadores. São áreas de aplicação da Ergonomia: 1) ergonomia na organização do trabalho pesado – planejar o trabalho em atividades fisicamente pesadas, com alto dispêndio de energia e, em alguns casos, em ambientes de altas temperaturas, tendo como objetivo evitar os quadros de fatigas; 2) biomecânica aplicada ao trabalho – é o estudo dos movimentos humanos sob a ótica da mecânica. Estudamos as sobrecargas na coluna vertebral, as posturas incorretas, a prevenção da fadiga muscular, a prevenção das tendinites, tenossinovites, as lesões por movimentos repetitivos, etc.; 3) adequação ergonômica geral do posto de trabalho – por meio dos estudos de antropometria, planeja-se os postos de trabalho visando um índice de satisfação de 90% da população trabalhadora, nos diversos tipos de trabalhos em pé, semissentados ou sentados; 4) prevenção da fadiga no trabalho – identificando e corrigindo os fatores de sobrecarga; 5) prevenção do erro humano – que muitas vezes pode estar associado com os riscos ergonômicos. Não há um profissional específico para lidar com os problemas e soluções no campo da ergonomia. Esse trabalho deve ser desenvolvido por uma equipe multi e interprofissional na abordagem dos problemas e das soluções AN02FREV001/REV 4.0 155 ergonômicas no trabalho. A equipe multiprofissional é composta por pessoas de diferentes especialidades que se complementam, tais como: médico do trabalho, engenheiro de segurança do trabalho, engenheiro industrial, projetista, desenhista industrial, terapeuta ocupacional, fisioterapeuta, gerente, supervisor, trabalhadores de produção etc. FIM DO MÓDULO IV