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Interface entre as organizações APRESENTAÇÃO O papel do Estado foi se reconfigurando, procurando acompanhar as mudanças de ordem econô mica e política que ocorreram no decorrer dos últimos séculos, e que nos impuseram a racionali dade neoliberal como regime de governo, que hoje se apresenta hegemônico, atuando no Brasil e no mundo para a grande maioria das nações capitalistas. O Estado neoliberal, também conheci do como Estado mínimo, procura incentivar as ações de mercado, dando forte incentivo para as i niciativas empresariais (segundo setor), ao mesmo tempo em que promove e estimula os discurs os de solidariedade e cidadania por meio do engajamento de voluntários nas ações sociais do ter ceiro setor. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai estudar qual é o papel do Estado no contexto econôm ico atual, identificando como esse se relaciona com o mercado e com o terceiro setor a partir da prestação dos serviços públicos. Você também irá conhecer alguns dos desafios presentes para o modelo de Estado atual e a superação de seu paradigma anterior como Estado interventor. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir o papel do Estado no atual contexto econômico.• Identificar as relações entre o mercado e o terceiro setor nos serviços públicos.• Descrever os desafios para a superação do paradigma do Estado interventor.• DESAFIO Para realizar as suas atividades de governança com eficácia, o Estado neoliberal, presente no Br asil e em grande parte do mundo na atualidade, costuma articular os três setores da economia, o que envolve considerar os agentes e as suas respectivas organizações públicas, empresariais e do terceiro setor. INFOGRÁFICO As relações de governo desenvolvidas pelo Estado, historicamente, têm no contexto econômico a grande motivação para as suas mudanças. Sendo assim, para que se possa entender melhor a fo rma como o Estado neoliberal hoje se relaciona com o terceiro setor, é preciso entender as difere nças existentes entre a economia capitalista, típica de mercado e a economia social, típica das or ganizações sociais. Neste Infográfico, você conhecerá as diferenças entre a Economia capitalista e a Economia socia l. CONTEÚDO DO LIVRO Os eventos históricos demonstram que os paradigmas de governo foram atravessados pelos cont extos econômicos, sociais e culturais que fizeram com que esses adotassem posturas diferentes p ara conduzir as ações do Estado até chegar ao estado neoliberal existente na atualidade. A racion alidade neoliberal opera a partir da ideia de empresariamento de organizações e da vida social, b em como adota a lógica da concorrência e da competição entre todos. No capítulo Interface entre as organizações, da obra Gestão de Organizações Educacionais, voc ê irá aprender sobre o paradigma de atuação econômica do Estado na atualidade, percebendo co mo esse age em relação ao terceiro setor para o atendimento das demandas sociais, bem como q uais desafios são impostos para a ação estatal na contemporaneidade. Boa leitura. GESTÃO DE ORGANIZAÇÕES EDUCACIONAIS Pablo Rodrigo Bes Interface entre as organizações Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir o papel do Estado no atual contexto econômico. Identificar as relações entre o mercado e o terceiro setor nos serviços públicos. Descrever os desafios para a superação do paradigma do Estado interventor. Introdução O papel do Estado foi se reconfigurando, a fim de acompanhar as mu- danças de ordem econômica e política ocorridas no decorrer dos últimos séculos. Essas mudanças nos impuseram a racionalidade neoliberal como regime de governo que hoje se apresenta hegemônico, atuando no Brasil e na grande maioria das nações capitalistas. O Estado neoliberal, também conhecido como Estado mínimo, procura incentivar as ações de mercado, dando forte incentivo às iniciativas empresariais (segundo setor), ao mesmo tempo em que promove e estimula os discursos de solidariedade e cidadania por meio do engajamento de voluntários nas ações sociais do terceiro setor. Neste capítulo, você vai estudar qual é o papel do Estado no con- texto econômico atual, identificando como este se relaciona com o mercado e com o terceiro setor a partir da prestação dos serviços públicos. Também vai conhecer alguns dos desafios presentes para o modelo de Estado atual e a superação do seu paradigma anterior, como Estado interventor. O papel do Estado na atualidade O papel do Estado se modifi cou radicalmente a partir da segunda metade do século XX, deixando de atuar de forma mais reguladora e interventora nos processos econômicos e sociais das nações, e voltando-se aos ditames do mercado. Desse modo, podemos perceber que o Estado se reconfi gura e, ao mesmo tempo, cede espaço para que o sistema econômico que se expande — o capitalismo — passe a determinar os moldes nos quais vai funcionar. Essas mudanças na ordem econômica, que reorganizam o funcionamento do Estado, vão refl etir diretamente na forma como a sociedade se estrutura e nas relações entre os indivíduos e as organizações públicas e privadas existentes. Para que você possa entender mais detalhadamente como ocorreu a trans- formação que fez com que o Estado atual se constituísse, analise os seguintes pontos (MOREIRA; NETO, 2005): globalização; expansão do Estado; Estado e pós-modernidade. O processo de globalização foi um evento que teve uma das suas ondas mais significativas na década de 1990, afetando as áreas econômicas, políticas, sociais e culturais das nações mundiais. Embalado nas ideias que associavam o desenvolvimento econômico com a solução para os problemas da exclusão social mundial, como a eliminação da pobreza e a maior igualdade na distri- buição de renda entre as populações, esse processo veio a consolidar-se. Porém, os seus resultados, sobretudo na área social, não foram como o esperado. Muitas das nações que compactuaram com a ideia da globalização tiveram aumento nos seus índices de pobreza e na marginalização de alguns grupos étnico-culturais historicamente desprestigiados — esse foi o caso no Brasil. O que a globalização fez bem, no entanto, foi propulsionar o capitalismo ao seu ápice de expansão, forçando o Estado a abrir espaço para que o mercado passasse a ditar as regras do funcionamento econômico com mais contundência. A globalização fez com que o Estado passasse a entender que deveria “de- sestatizar” muitas das organizações nacionais que servem de base estratégica para o desenvolvimento nacional. Assim, iniciou-se o processo de privatização dessas organizações, ou seja, vendeu-se ou transferiu-se para a iniciativa privada empresarial esse controle e a operação no mercado. Pode parecer que, ao ceder espaço para o mercado e as organizações empresariais, locais ou internacionais (globais), o Estado tenha perdido a sua Interface entre as organizações2 capacidade de controle e tenha diminuído a sua regulação; porém, não é o que acontece. Castells e Cardoso (2005, p. 25) referem-se à globalização e à sua ação sobre o Estado a partir da “[...] formação de uma rede de redes globais que ligam seletivamente, em todo o planeta, todas as dimensões funcionais da sociedade”. O Estado se reconfigura agindo em rede no território nacional, apresentando agora novas maneiras de continuar agindo e controlando os processos por meio do agenciamento de setores importantes e suas atividades. Da mesma forma, ele se expande ao começar a se utilizar de mecanismos de participação e envolvimento comunitário com a sua governança em redes e os preceitos da democracia e da própria cidadania. Além disso, ao agir em rede de forma internacional, procura aliar-se com outros países que compactuam com os seus sistemas de governo, visando a estabelecer vantagens econômicas, como as percebidas por ocasião da junção em blocos econômicos — éo caso, por exemplo, do Brasil, ao participar do Mercosul. O Mercosul é a mais abrangente iniciativa de integração regional da América Latina, tendo como fundadores o Brasil, a Argentina, o Paraguai e o Uruguai, signatários do Tratado de Assunção, de 1991. A Venezuela aderiu ao bloco em 2012, mas está suspensa desde dezembro de 2016, por descumprimento do seu Protocolo de Adesão, e desde agosto de 2017, por violação da Cláusula Democrática do bloco. Todos os demais países sul-americanos estão vinculados ao Mercosul como Estados associados (a Bolívia tem o status de Estado associado em processo de adesão). Além disso, há inúmeros organismos multilaterais que se desdobram para conduzir as ações em rede global, como a Organização das Nações Unidas (ONU), o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. Da mesma forma, o Estado apresenta grandes diferenças entre a sua forma de atuação e o seu sentido de existir frente às características da Modernidade e as atuais (da pós-modernidade), deslocando-se de uma condição de admi- nistração — estável, sólida e segura — para um novo formato, de gestão mais líquido, maleável e instável, capaz de adaptar-se às novas exigências e à dinamicidade dos novos tempos. Nos aspectos econômicos, podemos entender que o regime fordista, que pautou o funcionamento do capitalismo e o desenvolvimento industrial até a Grande Depressão de 1930, serviu também para orientar o funcionamento do 3Interface entre as organizações Estado, e até mesmo a vida em sociedade, uma vez que “[...] o capital também funciona como forma impessoal de dominação que impõe leis próprias, leis econômicas que estruturam a vida social, fazendo com que as hierarquias e subordinações pareçam naturais e necessárias” (HARDT; NEGRI, 2016, p. 210). As lógicas do período fordista, que funcionavam pela acumulação dos excedentes da produção industrial e o reinvestimento nas fábricas, alavan- cando o seu crescimento, foram perdendo força com o passar do tempo, e nem mesmo os subsídios cedidos pelos governos ao regular os mercados foram suficientes para lidar com a expansão do capitalismo. Logo, foi preciso abrir os mercados, ampliar os horizontes corporativos, deslocar a ênfase do lucro/ salário para a renda/especulação financeira. Assim, o capitalismo industrial se transforma em capitalismo pós-industrial, mais flexível, com ênfase nos aspectos imateriais e no consumo. Para operar com eficiência e cumprir com as suas demandas nos tempos atuais, o Estado passa, dentro da lógica racional neoliberal, a cumprir as seguintes atribuições: regulador de mercado; alocador de recursos; parceiro econômico; fomentador econômico. O caráter regulador do mercado é hoje essencial para o funcionamento do Estado, pois permite que os controles sobre as áreas essenciais e estruturais da economia nacional se desloquem da esfera burocrática executiva para agências técnicas e profissionalizadas, de forma que possam atuar visando à máxima eficiência a partir das suas ações. Assim, por meio da regulação, do Estado acaba por expandir a sua atuação a partir dos seus órgãos reguladores. Por exemplo, as ações de empresas públicas e privadas em nível nacional, na área da teleco- municação, são de responsabilidade da Agência Nacional de Telefonia (Anatel). O Estado como alocador de recursos, então, consiste na sua posição assu- mida de distribuir os recursos existentes entre as demandas sociais sobre as quais atua. Isso é realizado por intermédio de políticas públicas, que devem ser construídas respeitando ou indicando as dotações orçamentárias disponíveis para a sua implementação. O Estado também assume a função de redistribuir os recursos entre os entes que o compõem, quando se fizer necessário. Um bom exemplo dessa função se encontra na área da educação, na qual a União exerce Interface entre as organizações4 função redistributiva e supletiva de recursos para os Estados que não tenham conseguido manter as suas instituições escolares funcionando a partir das políticas de financiamento da educação atuais, como o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação e o Salário Educação. A atuação do Estado como parceiro econômico pode ser apontada como a mais importante das transformações do Estado pós-moderno, pois alia-se ao conceito de busca de parcerias com outros setores da economia para o atendimento das funções anteriormente estatais. Dessa forma, o primeiro setor (público) se articula tanto com a esfera privada empresarial (segundo setor) quanto com as organizações da sociedade civil (terceiro setor) em busca da manutenção das suas demandas sociais. Essa reconfiguração da atuação do Estado é impulsionada pela própria ideia de democracia e de cidadania, que traduz a necessidade de envolvimento e participação coletiva para o sucesso das ações de caráter nacional. Outro aspecto significativo da atuação do Estado na atualidade é o seu aspecto fomentador, ou seja, motivador ou impulsionador de ações por parte dos demais atores que compõem a sociedade. Dessa forma, o Estado opera como mola propulsora para atividades empreendedoras (pessoais e empresariais); atividades laborais, a partir de novas oportunidades de trabalho; atividades de financiamento, fomentando novos investimentos nas mais diversas áreas. Além disso, ele propõe ainda a busca por novas atividades econômico-tecnológicas que possam continuar alavancando o crescimento e possibilitando o desen- volvimento nacional. Perceba no seu dia a dia como essas funções do Estado estão presentes, visto que a nossa vida em sociedade está pautada por essas lógicas que nos fazem pensar, sentir e viver a partir delas no cotidiano. O Estado de bem-estar social, que se encarrega de prover assistência nas áreas dos direitos sociais para a população, costuma ser designado como “welfarestate”. Já o Estado neoliberal, ao incentivar o empresariamento e a liberdade de mercado a partir da concorrência e competitividade entre as organizações e as pessoas, é designado como “workfarestate”. 5Interface entre as organizações O terceiro setor e as suas relações com o serviço público O terceiro setor da economia teve um impulso muito grande nas décadas que se sucederam ao processo de globalização da economia, aliada aos fatores que você já estudou, os quais alteraram o paradigma do Estado, deslocando-o de interventor e provedor para uma posição de provimento mínimo e propulsor de parcerias entre as demais esferas econômicas, tanto do segundo quanto do terceiro setor. Para que você possa entender um pouco melhor como são as relações do terceiro setor com a administração pública e as suas ações de governança, convém lembrar a que se refere esse setor: Conjunto das organizações sem fins lucrativos, criadas e mantidas pela ênfase na participação voluntária, num âmbito não governamental, dando continuidade às políticas tradicionais da caridade, da filantropia e do mece- nato e expandindo o seu sentido para outros domínios, graças, sobretudo, à incorporação do conceito de cidadania e de suas múltiplas manifestações na sociedade civil (IOSCHPE, 2005, p. 27). Acompanhando a citação do autor, você pode perceber como é essencial, dentro do atual modelo de Estado neoliberal, que a sociedade civil assuma a sua posição de cidadania e se envolva com a busca pela transformação das realidades sociais que se encontram em conflito. Para que essa transformação ocorra, são necessários esforços que desenvolvam tanto o capital humano quanto o capital social existente na sociedade. Ora, o capital humano é de- senvolvido a partir da apropriação de novos conhecimentos, do estímulo e da conquista de novas aprendizagens por parte dos indivíduos. O capital social, por sua vez, carece de ações que potencializem e estimulem a participação coletiva, desenvolvendo lideranças e o empreendedorismo social. Para ambos os tipos de necessidade de desenvolvimentode capital, humano e social, existem atualmente no Brasil inúmeras organizações da sociedade civil atuantes, procurando fazer dos seus voluntários multiplicadores desses valores cidadãos. A partir do desenvolvimento do capital humano e social, pode haver ainda um incremento da participação popular nas ações políticas brasileiras, mobilizando-se em busca da construção ou do monitoramento de políticas públicas existentes e que interferem no cotidiano. Convém salientar que, com o Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil (BRASIL, 2015), também conhecido como Marco do Terceiro Interface entre as organizações6 Setor, as modalidades de contratação com a administração pública tornaram- -se menos burocratizadas, mais ágeis e transparentes, fomentando que um número maior e mais significativo dessas organizações possa vir a operar no Brasil, acompanhando a tendência mundial. Na verdade, aqui se constata o caráter fomentador e propulsor típico do governo neoliberal: ao lidar com o social, “[...] intervém para favorecer a multiplicidade, a diferenciação e a concorrência das empresas, e para incitar, solicitar e forçar cada indivíduo a se tornar empresário de si mesmo, a se tornar ‘capital humano’” (LAZZARATO, 2011, p. 29). Como a principal característica dos cidadãos que desenvolvem as suas atividades nas organizações do terceiro setor ainda é o voluntariado, esse aspecto também isenta o Estado desses encargos com recursos humanos para atuar perante os problemas sociais envolvidos. Percebemos, na atualidade, um grande esforço para a implementação de políticas intersetoriais e interinstitucionais, que envolvem as organizações públicas e privadas nas questões sociais — como se se buscasse uma maneira de humanizar o capitalismo e, assim, continuar compactuando com a sua manutenção e o seu crescimento. A esse respeito, Junqueira (2004, documento on-line) salienta: [...] a ação intersetorial não se esgota no âmbito de uma organização ou de uma política social, mas de várias organizações públicas, sejam privadas ou estatais, apontando para a necessidade de procurar outras saídas, para lidar com as incertezas e a complexidade dos problemas sociais. Os problemas sociais emergem da interação do sujeito com o mundo, e sua percepção não é única, depende dos valores de cada ator social envolvido, e, como tal, sua solução também não será única, inclusive porque as certezas absolutas per- deram consistência. Ao refletir sobre as ações das organizações do terceiro setor, você consegue entender bem o que o autor expõe: são apontadas novas saídas e novas estra- tégias para lidar com as múltiplas questões que envolvem o social e carecem de atenção. Além disso, podemos entender a importância das organizações da sociedade civil que operam no terceiro setor ao realizar o empoderamento de comunidades fragilizadas, levando-as a desenvolverem o seu capital social e contribuindo, assim, de forma decisiva e qualitativa para a sociedade. Em essência, devemos considerar a comunidade como algo mais forte e cons- titutivo do sujeito, uma vez que implica a formação da sua identidade por meio dos laços culturais ali desenvolvidos a partir das experiências pessoais 7Interface entre as organizações e aprendizagens coletivas. Ao referir-se ao conceito de comunidade, Gorz (2004, p. 131) comenta que esta é entendida como: [...] um agrupamento ou um coletivo cujos membros são unidos pela solida- riedade vivida, concreta, entre pessoas concretas. Sua comunidade possui um fundamento factual: ela repousa sobre algo que cada qual reconhece como comum a todos os outros membros, seja porque dela comungam, vendo aí seu interesse comum ou seu bem comum (e, neste caso, dir-se-á comunidade associativa ou cooperativa), seja porque compartilham-na originalmente e por nascimento (sua língua, sua cultura, seu “país”) e, neste caso, dir-se-á a comunidade de origem ou “constitutiva”. Já a sociedade, ao contrário da comunidade, é composta por um vasto e complexo conjunto de relações e interações que se distanciam e se diferenciam muito daquelas presentes nas comunidades. Isso nos desafia como cidadãos (membros da sociedade) a buscar desenvolver essas experiências concretas que as relações solidárias e comunitárias nos conferem. Essa relação pode ser mais bem-resolvida a partir de ações e de engajamento em práticas relacionadas ao terceiro setor. Para que o Estado consiga agir, correlacionando todos os atores que se encontram nas esferas públicas e privadas, incluindo as organizações do terceiro setor, este tem procurado desenvolver a sua governança pública, que traz como princípio básico a interdependência e articulação entre os setores e as suas organizações objetivando o bem público. Podemos exemplificar como o Estado interfere nas ações cotidianas, a partir da sua governança, ao tomarmos a educação básica como exemplo. Nessa área social, existem as escolas públicas, as escolas privadas (muitas mantidas por organizações da sociedade civil), os respectivos órgãos educacionais de cada ente da federação (Secretaria Muni- cipal e Estadual, Ministério da Educação). Também existem os respectivos Conselhos e planos educacionais; os espaços de participação popular no interior das escolas; as legislações pertinentes; as políticas públicas educacionais; a atuação das organizações da sociedade civil no campo educacional via ações de reforço, apoio aos estudos, alimentação, transporte, entre outras; ações intersetoriais com organizações de outras áreas, como a da assistência social e da saúde, sempre que forem necessárias. Interface entre as organizações8 É importante destacar que o Estado regula a área educacional também em termos de mercado e da oferta de serviços educacionais privados, que são devidamente controlados e autorizados a funcionar, a partir do cum- primento dos mesmos princípios e estruturas que as instituições públicas. Essa tarefa é realizada diretamente pelo Ministério da Educação e pelos seus órgãos correspondentes em cada nível administrativo (municipal, estadual e federal). No ensino superior, porém, já houve casos em que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) precisou intervir, aprovando ou desaprovando a expansão de grupos educacionais que poderiam estar agindo como cartéis — logo, impedindo a continuidade da concorrência e da liberdade de mercado. Outro ponto de vista que pode ser utilizado para entender como o Estado atual organiza as formas de participação das organizações do primeiro, se- gundo e terceiro setores da economia nas suas ações de governo (governança) é proposto por França Filho (2002, documento on-line), como hibridação de economias, em que existe: [...] a possibilidade de combinação de uma economia mercantil, não mercantil e não monetária. Isso porque, nessas iniciativas de economia solidária, em geral existem, ao mesmo tempo: venda de um produto ou prestação de um serviço (recurso mercantil); subsídios públicos oriundos do reconhecimento da natureza de utilidade social da ação organizacional (recurso não-mercantil); e trabalho voluntário (recurso não monetário). Dessa forma, as ações do terceiro setor implicam-se tanto na economia social, pelos seus objetivos, quanto na economia solidária, pela sua forma de atuação. Assim, atuam perante o mercado de forma híbrida, como colocado pelo autor, em que se evidenciam características de mercado de caráter social e não monetárias ao mesmo tempo. Você pode perceber que as ações do terceiro setor são indispensáveis na atualidade para que o modelo de Estado neoliberal possa existir, uma vez que o neoliberalismo opera a partir do Estado mínimo. Nesse cenário, para atender às demandas sociais existentes no país, o Estado precisa das iniciativas solidárias e que propõem o envolvimento e engajamento co- munitário, bem como ações de cidadania propostas pelas organizações da sociedade civil. Dessa forma, compete ao Estado estimular e apoiar cada vez mais asiniciativas de organizações sociais que se disponham a apoiar e complementar as funções sociais desse Estado mínimo, que tem como 9Interface entre as organizações foco principal o mercado e as organizações empresariais do segundo setor, entendidas como aquelas que podem alavancar crescimento econômico para a Nação. A economia social — conceito tão importante na atualidade para o próprio funcio- namento do Estado neoliberal — originou-se no século XIX como uma forma de resistência ao capitalismo, que se impunha objetivando unicamente o lucro e deixando os trabalhadores e as suas demandas sociais em segundo plano. Na atualidade, a economia social é considerada como aliada à governança estatal, uma vez que, com o apoio dela, principalmente a partir da atuação das organizações do terceiro setor, o Estado consegue encontrar soluções para os problemas sociais que muitas vezes são gerados pela economia de mercado. Superando o paradigma do Estado interventor: desafios atuais Como você já viu, atualmente houve uma mudança de paradigma estatal na transformação de um Estado interventor e burocrático para um Estado fl exível e pós-moderno, que cumpre com os seus aspectos de regulador, apoiador, fomentador e parceiro econômico. Para que você possa entender os desafi os que estão postos nessa mudança, deve entender inicialmente como se dá, da perspectiva cronológica, a passagem entre os seguintes sistemas de governo estatais: o liberalismo, o Estado de bem-estar e socialismo, e o neoliberalismo. Esse esforço é necessário, porque, sempre que ocorre uma mudança de modelo ou paradigma que está em vigência, os processos não são todos interrompidos, e as novas ideias não são simplesmente aceitas e postas em execução. Muitas das racionalidades que foram construídas no decorrer dos períodos e sistemas anteriores ainda continuam ocupando as mentes das pessoas, assim como dos governantes e dos gestores de organizações públicas e privadas. Para compreender um pouco mais sobre as diferenças entre esses modelos de Estado, acompanhe o Quadro 1, que apresenta as ideais principais de cada um deles. Interface entre as organizações10 Principais ideias Ação do Estado Liberalismo (Século XVIII e parte do século XIX) Herdeiro do pensamento ilumi- nista do século XVIII, defende o capitalismo. O seu fundador é Adam Smith, baseando-se nas ideias de que o mercado, com a sua “mão invisível”, deveria regular as ações sociais. Não intervém na economia, deve somente harmonizar os interesses individuais a fim de buscar o bem-estar da coletividade. Estado de bem-estar (Final do século XIX e maior parte do século XX) Surge após a Segunda Guerra Mundial, associado à ideia de que o desenvolvimento está intimamente relacionado aos processos de industrialização e aos problemas sociais que estes ocasionam. É o Estado assistencial, que procura garantir e prover a todos os cidadãos padrões mínimos de educação, habitação, saúde, renda, seguridade social, entre outros. O foco do Estado não está na intervenção econômica, e sim nas condições sociais com o objetivo de assegurar quali- dade de vida à população. Socialismo (Maior parte do século XX) Defende as ideias socialistas, que refutam o capitalismo e entendem que, a partir da in- tervenção do Estado nas áreas econômicas, políticas e sociais, haverá uma melhor distribui- ção de renda e uma sociedade mais justa e igualitária. O Estado é o detentor e condu- tor das organizações que geram recursos para o país e providen- cia que as demandas sociais sejam atendidas a partir desse gerenciamento. Neoliberalismo (Final do sé- culo XX até a atualidade) Conjunto de ideias políticas e econômicas capitalistas que defendem uma participação menor do Estado na economia, entendendo que, a partir da liberdade no comércio, haverá crescimento econômico e social. Conhecido como Estado mínimo, em que existe a mínima participação do Estado na economia, agindo indiretamente a partir de agências regulado- ras. Defende privatizações de empresas estatais e circulação de capitais internacionais, com ên- fase na globalização e conversão de organizações ao modelo em- presarial e no empresariamento de si mesmo aos indivíduos. Quadro 1. Paradigmas de Estado e suas características 11Interface entre as organizações Ao referir-se aos paradigmas estatais que surgira após a Revolução Indus- trial, Moreira Neto (2005, documento on-line) comenta que “[...] esses dois modelos novecentistas — o do bem-estar social e o socialista — mantiveram-se hegemônicos praticamente até o último quartel do século passado, quando começaram a se afirmar as características gerais de uma nova configuração contemporânea”. Em outras palavras, os modelos anteriores dominaram até que as bases do neoliberalismo fossem postas em operação como a nova ra- cionalidade mundial, principalmente após a derrocada das nações socialistas que vinham de encontro ao paradigma capitalista no século XX. Em relação às nações contemporâneas e aos principais problemas enfren- tados dentro da nova lógica do Estado neoliberal, Souza Santos (2013) aponta como principais desafios os seguintes pontos: economia; intervencionismo estatal ou não estatal; participação do indivíduo; democracia; territorialização/desterritorialização. Os desafios de ordem econômica continuam a afrontar o modelo econômico neoliberal, uma vez que as nações capitalistas continuam apresentando altos índices de desemprego e pobreza, com bolsões de marginalização social que muitas vezes colocam em xeque a posição do Estado como não provedor direto das demandas sociais, mas como incentivador de ações em parceria para resolver tais questões. Tangenciando esse desafio, vemos crescerem as iniciativas do terceiro setor, por intermédio das organizações da sociedade civil (sejam elas associações, fundações, organizações religiosas ou cooperativas), que procuram se responsabilizar pelas principais causas sociais existentes. Além disso, buscam apoiar a própria formação de líderes e empreendedores sociais que possam atuar em conjunto para resolver os problemas de natureza econômica. Da mesma forma, as organizações empresariais, a partir da sua conscientização de responsabilidade social, costumam desenvolver parcerias com a administração pública e com o terceiro setor, visando a contribuir para as demandas sociais ou, ainda, criando negócios sociais cujo lucro seja investido no social. Outro desafio contemporâneo diz respeito ao próprio mecanismo de regu- lação realizado pelo Estado por meio das suas agências reguladoras. Embora elas surjam para realizar um trabalho com maior rigor técnico e profissional, também podem representar um aumento excessivo dos controles e da ação do Interface entre as organizações12 Estado. Essa postura desloca o antigo paradigma de intervenção do Estado para uma nova forma de intervenção “não estatal”, uma vez que este controla e normatiza o funcionamento das agências e dos demais órgãos reguladores. Um aspecto que apresenta grandes dificuldades para o modelo de Estado contemporâneo, pós-moderno e neoliberal diz respeito ao individualismo que acomete a sociedade e que foi, de certa forma, ainda mais reforçado a partir das redes sociais digitais e do hiperconsumo. Na contramão desse individu- alismo, temos o esforço de um discurso e de ações que visam à participação e ao envolvimento coletivo para a solução de problemas e para iniciativas empreendedoras. Dessa forma, muitas vezes, o paradigma estatal que promove a cidadania como forma de parceria para o trabalho social se defronta com uma população de sujeitos individualistas, materialistas, pouco altruístas e desinteressados politicamente. Isso vem se modificando a partir do desen- volvimento de uma mentalidade do serviço voluntário nas últimas décadas. Outro ponto conflitante e que apresenta certo grau de desconforto atu- almente — sendo considerado em crise — é o próprio regimede governo democrático. A democracia entra em crise quando parece não atender mais às suas premissas básicas, como a garantia da participação popular nas decisões de governo por meio dos representantes escolhidos e da observação dos seus princípios fundamentais no interior das nações. A esse respeito, convém salientar que, no Brasil, na Constituição Federal vigente, consta a seguinte descrição: Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado democrático de direito e tem como fundamentos: I — a soberania; II — a cidadania; III — a dignidade da pessoa humana; IV — os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V — o pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de re- presentantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição (BRASIL, 1988, documento on-line). Analisando os fundamentos do nosso próprio Estado democrático, iden- tificamos que há problemas, uma vez que, em alguns casos, percebemos, por exemplo, questões sociais que expõem grupos a situações de completa falta de dignidade, bem como falta de trabalho ou, ainda, desconhecimento das formas de exercício da cidadania. 13Interface entre as organizações Um aspecto que desafia os Estados na contemporaneidade são os limi- tes sobre o conceito de território que se colocaram principalmente após o processo de globalização da década de 1990. Esses discursos globais, que procuraram uma universalização mundial e valeram-se do aumento da mo- bilidade (física e virtual), acabam por colidir com manifestações culturais e sociais desafiadoras. É o caso, por exemplo, das migrações realizadas por aqueles que não têm mais condições de vida nas suas nações e que se veem obrigados a deslocar-se para outros países. O Brasil está vivenciando essa situação nessa segunda década do século XXI, recebendo milhares de migrantes da Venezuela. Esse fato exigiu atitudes por parte da União, por meio de políticas públicas criadas e implementadas para acolher e, inclusive, realocar tais pessoas no nosso país, fomentando condições mínimas de vida, trabalho e dignidade. Como você pode observar, os desafios que o Estado neoliberal enfrenta são muitos, e estes afetam os contextos econômicos, políticos, sociais e culturais — logo, afetam a vida de todos no Brasil e no mundo. Para con- cluir, gostaríamos de propor que você possa refletir sobre o papel que está ocupando para solucionar tais demandas que muitas vezes têm sido pauta das queixas nacionais. Em outras palavras, fomentamos alguns questionamentos: estamos desenvolvendo a nossa cidadania? Estamos procurando participar da vida social, contribuindo para a sua melhoria? E ainda mais importante, estamos, como professores, estimulando as aprendizagens sobre esses temas tão relevantes? Você sabia que existem organizações do terceiro setor que se especializam em desenvolver o capital humano, transmitindo conhecimentos e desenvolvendo competências individuais e coletivas, desenvolvendo assim novas lideranças sociais e empreendedoras para atuar no setor? Conheça uma dessas organizações e os seus materiais gratuitos, que são disponibilizados via internet ao alcance de todos, acessando o link a seguir. https://qrgo.page.link/Tdxk Interface entre as organizações14 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da União, Brasília, 5 out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constituicao.htm. Acesso em: 8 maio 2019. BRASIL. Lei nº. 13.204, de 14 de dezembro de 2015. Altera a Lei nº. 13.019, de 31 de julho de 2014, “que estabelece o regime jurídico das parcerias voluntárias, envolvendo ou não transferências de recursos financeiros, entre a administração pública e as organizações da sociedade civil, em regime de mútua cooperação, para a consecução de finalidades de interesse público; define diretrizes para a política de fomento e de colaboração com organizações da sociedade civil; institui o termo de colaboração e o termo de fomento; e altera as Leis nº. 8.429, de 2 de junho de 1992, e nº. 9.790, de 23 de março de 1999”; altera as Leis nº. 8.429, de 2 de junho de 1992, nº. 9.790, de 23 de março de 1999, nº. 9.249, de 26 de dezembro de 1995, nº. 9.532, de 10 de dezembro de 1997, nº. 12.101, de 27 de novembro de 2009, e nº. 8.666, de 21 de junho de 1993; e revoga a Lei nº. 91, de 28 de agosto de 1935. Diário Oficial da União, Brasília, 15 dez. 2015. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13204.htm#art1. Acesso em: 8 mai. 2019. CASTELLS, M.; CARDOSO, G. (org.). A sociedade em rede: do conhecimento à política. Belém: Imprensa Nacional, 2005. FRANÇA FILHO, G. C. Terceiro setor, economia social, economia solidária e economia popular: traçando fronteiras conceituais. Bahia Análise & Dados, Salvador, v. 12, n. 1, p. 9-19, jun. 2002. Disponível em: http://base.socioeco.org/docs/economiasolidria- -fronteirasconceituais.pdf. Acesso em: 8 maio 2019. GORZ, A. Misérias do presente, riqueza do possível. São Paulo: Annablume, 2004. HARDT, M.; NEGRI, A. Bem-estar comum. Rio de Janeiro: Record, 2016. IOSCHPE, B. E. Terceiro setor: desenvolvimento social sustentado. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005. JUNQUEIRA, L. A. P. A gestão intersetorial das políticas sociais e o terceiro setor. Saúde e Sociedade, [s. l.], v. 13, n. 1, p. 25-36, jan./abr. 2004. Disponível em: https://www.scielosp. org/pdf/sausoc/2004.v13n1/25-36/pt. Acesso em: 8 maio 2019. LAZZARATO, M. 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Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar. EXERCÍCIOS 1) A forma que o Estado assume no decorrer das épocas históricas está relacionada dire tamente aos aspectos econômicos, afetando também a cultura e a forma de viver em s ociedade. Na década de 1990, ocorreu o evento da Globalização que, dentre muitos ou tros fatores, também serviu para que o Estado brasileiro tomasse o atual formato neo liberal que tem atualmente. Marque a alternativa que apresenta um acontecimento d a globalização que contribuiu para a modificação da forma de agir do Estado. A) A globalização impulsiona as ações do Estado interventor, fazendo com que, em prol do de senvolvimento econômico, a pobreza seja erradicada. B) A globalização proporcionou que o Estado tivesse sucesso na melhor distribuição de renda entre a população. C) A globalização serviu de base para a retração do sistema econômico capitalista, fazendo co m que o Estado repensasse seu sistema de governo. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/85880df635f487025dd27ac689242550 D) A partir da globalização, o Estado resolve abrir para o mercado o controle e a operação de empresas públicas, promovendo uma onda de privatizações. E) Na época da globalização, o Estado passa a perder o controle e o comando sobre as operaç ões empresariais, deixando ao mercado esse controle. 2) O Estadoatual, no Brasil e nas nações capitalistas mundiais, assumiu uma racionalid ade neoliberal, que faz com que ele se reconfigure e passe a agir procurando cumprir algumas atribuições, como a de regulador, alocador, parceiro econômico e fomentado r. Analise as alternativas a seguir e marque aquela que apresenta uma relação corret a entre um desses aspectos e a sua descrição. A) Regulador: embora o Estado tenha diminuído seu controle sobre as operações, ele continua sendo feito a partir da esfera burocrática executiva dos órgãos de sua administração direta. B) Alocador: o Estado passa a distribuir/redistribuir recursos para suas áreas sociais por meio do planejamento, da criação e da implementação de políticas públicas que possam ser efici entes nas causas envolvidas. C) Parceiro econômico: o Estado impulsiona sua parceria com o segundo setor da economia, uma vez que as empresas podem doar seus recursos financeiros para atender às áreas sociai s que necessitam de ajuda. D) Fomentador: o Estado procura promover iniciativas rígidas, modernas e de cunho conserva dor que mantenham a relação entre o emprego formal e a melhoria de vida, acompanhando a tendência mundial. E) Parceiro econômico: o Estado configura parcerias com bancos e com outras nações que op eram em seu bloco econômico, procurando tornar a si próprio e essas organizações finance iras ainda mais ricos. Segundo Gorz (2004, p. 131), uma comunidade pode ser definida como “(...) um agru pamento ou um coletivo cujos membros são unidos pela solidariedade vivida, concret a, entre pessoas concretas. Sua comunidade possui um fundamento factual: ela repou sa sobre algo que cada qual reconhece como comum a todos os outros membros, seja porque dela comungam, vendo aí seu interesse comum ou seu bem comum (e, neste ca so, dir-se-á comunidade associativa ou cooperativa), seja porque compartilham-na or iginalmente e por nascimento (sua língua, sua cultura, seu 'país') e, neste caso, dir-se- 3) á a comunidade de origem ou 'constitutiva'”. Com base na citação do autor e de seus estudos sobre o terceiro setor e a sua participação na prestação dos serviços de caráte r público presentes nas demandas da sociedade, pode-se afirmar que: A) As ações do terceiro setor abrangem com muito mais ênfase a sociedade como um todo, po dendo ou não valer-se das comunidades existentes. B) As ações do terceiro setor, ao focarem no desenvolvimento do capital social, devem buscar empoderar as comunidades para terem maior sucesso na transformação social. C) Ao agir em parceria com o terceiro setor da economia, o Estado estrutura e cria novas com unidades por zonas de atuação. D) A sociedade tem interesses em relação ao bem comum, por meio de seus laços constitutivo s, devendo ser priorizada nas ações do terceiro setor. E) Como os serviços de caráter público do terceiro setor focam prioritariamente a formação d e capital humano, o conceito de comunidade ou sociedade é irrelevante. 4) Existiram alguns modelos de Estado que visavam a instituir uma forma de governo a ssociada com as ideias da economia de cada época. Dessa forma, surgiram os pensam entos que deram base para o Liberalismo, o Estado de bem-estar, o Socialismo e o Ne oliberalismo. Analise as alternativas a seguir e verifique qual apresenta uma relação correta entre esses paradigmas estatais e as suas características: A) Estado de bem-estar: o Estado procura prover padrões mínimos de educação, habitação, sa úde, renda e seguridade social a todos os cidadãos. B) Socialismo: o Estado privatiza as organizações públicas, cedendo espaço para o cresciment o do segundo setor da economia. C) Liberalismo: propõe uma intervenção agressiva do Estado sobre a economia em busca do b em-estar coletivo. D) Neoliberalismo: o Estado retoma seu caráter nacionalista e procura engessar suas organiza ções públicas, colocando barreiras ao mercado econômico. E) Estado de bem-estar: é o chamado workfare state, em que, visando ao bem público, são rea lizadas ações de privatização e utilização de agências reguladoras. 5) O Estado neoliberal é entendido na atualidade como aquele que dita as regras por me io de sua racionalidade, para a grande maioria das nações capitalistas mundiais, logo, sendo hegemônico. Porém, esse paradigma estatal apresenta alguns desafios consider áveis na contemporaneidade. Analise as alternativas a seguir e marque aquela que ap resenta um desses desafios à racionalidade neoliberal na atualidade. A) A economia das nações neoliberais encontra-se em patamares estáveis e com tendência cre scente de melhoria. B) O estado neoliberal se isenta de intervenção na economia, pois o mercado, por meio do seg undo setor e dos bancos, acaba cumprindo essa função. C) Dentro do contexto da globalização, o estado neoliberal permite que as migrações ocorram de forma livre e sem ocasionar maiores problemas. D) A democracia, como sistema de governo, segue firme, uma vez que todos sentem-se plena mente representados e têm oportunidades. E) Enquanto o neoliberalismo se alia ao conceito de cidadania e participação coletiva, a socie dade continua consolidando uma forma de agir individualista. NA PRÁTICA O Estado neoliberal apresenta, em sua racionalidade, algumas ideias que promovem a conversão de todas as organizações e os indivíduos ao modelo empresarial. Logo, pode-se perceber, dentro das ações intersetoriais propostas na atualidade, que o empreendedorismo tem sido fomentado d esde a infância, o que é feito a partir da articulação de iniciativas de natureza pública e privada. Na Prática, você verá como o empreendedorismo e a formação de lideranças empreendedoras es tão ocorrendo, no Brasil, a partir da articulação de organizações e iniciativas de origem pública e privada. SAIBA + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professo r: O espaço do Estado no neoliberalismo: elementos para uma redefinição crítica Neste artigo, de Felipe Nunes Coelho Magalhães, é apresentada uma reavaliação do conceito de neoliberalismo como um modo de regulação capitalista centrado no Estado, não pautado por seu enfraquecimento, mas por sua reestruturação na direção de outro formato de Estado forte. Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar. Liberalismo e Neoliberalismo Assista a este vídeo e reforce o seu aprendizado sobre as características de cada um desses siste mas de governo e os aspectos históricos, políticos e sociais envolvidos. Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar. Sobre ideologias e programas de transferência de renda no Brasil Leia este artigo, de Antonio Euzébios Filho, e conheça a estratégia utilizada pelo Estado neolibe ral para realizar a assistência social daqueles que necessitam e, da mesma forma, apoiar o consu mo e a economia brasileira a partir das políticas públicas de transferência de renda existentes no Brasil. http://periodicos.uff.br/geographia/article/download/13757/8957 https://www.youtube.com/embed/teu3n1zsQ_4 Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar. http://www.redalyc.org/pdf/3093/309346236007.pdf
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