Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Brasília-DF. Órgãos de Preservação do Patrimônio e LegisLação de Conservação Elaboração André Augusto Araújo Oliveira Jackson Moreira Souza Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 4 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 5 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7 UNIDADE I PRIMEIROS TEÓRICOS DA CONSERVAÇÃO ............................................................................................ 9 CAPÍTULO 1 RECRIAÇÃO: EUGÈNTE E. VIOLLET-LE-DUC ................................................................................ 9 CAPÍTULO 2 CONSERVAÇÃO: JOHN RUSKIN .............................................................................................. 14 CAPÍTULO 3 ARTISTICIDADE: CESARE BRANDI ............................................................................................. 19 UNIDADE II PATRIMÔNIO NO BRASIL ...................................................................................................................... 31 CAPÍTULO 1 INSPETORIA DE MONUMENTOS NACIONAIS (IMN) .................................................................... 31 CAPÍTULO 2 PATRIMÔNIO NO BRASIL ......................................................................................................... 35 CAPÍTULO 3 CONSTITUIÇÃO DE 1988 ........................................................................................................ 39 UNIDADE III QUEM PROTEGE E FISCALIZA O PATRIMÔNIO? OS ÓRGÃOS DE PRESERVAÇÃO NO BRASIL .................... 50 CAPÍTULO 1 O TOMBAMENTO .................................................................................................................... 50 CAPÍTULO 2 UNESCO (MUNDIAL) ............................................................................................................... 57 CAPÍTULO 3 IPHAN (NACIONAL) ................................................................................................................. 62 UNIDADE IV LEGISLAÇÃO DE PRESERVAÇÃO NO BRASIL ......................................................................................... 73 CAPÍTULO 1 A PREMISSA CONTEMPORÂNEA A RESPEITO DA RESTAURAÇÃO ............................................... 73 CAPÍTULO 2 AUTENTICIDADE X INTEGRALIDADE .......................................................................................... 77 CAPÍTULO 3 A DOCUMENTAÇÃO E O INVENTÁRIO DE BENS ....................................................................... 80 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................. 95 5 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 6 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 7 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 8 Introdução Sejam muito bem-vindos à disciplina Órgãos de Preservação do Patrimônio e Legislação de Conservação! É com grande alegria que lhes convido para juntos adentrarmos nesta jornada histórica de leis e decretos. Nosso módulo foi construído com muito carinho, com o objetivo de proporcionar sempre o melhor para que os estudos sejam feitos com maior qualidade. Nessa percepção, será destacada a análise das bases teóricas associadas às práticas de Conservação, em seguida abordando o Patrimônio no Brasil com suas inspetorias, secretarias e a constituição, faremos uma parada de descanso para compreendermos quem e/ou quais são os órgãos de proteção e fiscalização do Patrimônio aqui no Brasil, e, por fim, aportaremos no descampado das legislações que vigoram em nosso país. Essa disciplina está planejada e desenvolvida em quatro unidades, nas quais os tópicos de sua ementa estarão contemplados e desenvolvidos em seus conteúdos específicos. O intuito é torná-lo um profissional capacitado. Assim, estruturamos nossa disciplina especialmente para você! Leia com atenção o material e busque se aprofundar nos assuntos propostos. Isso será de suma importância, pois lhe auxiliará na otimização do custo sistêmico, da inovação, criação e gerenciamento do conhecimento, fortalecendo-o técnica e esteticamente. Esperamos que tenha uma boa jornada e que aproveite bastante o conhecimento disponibilizado. Objetivos » Apresentar as normas e leis existentes de proteção e preservação dos bens culturais. » Desenvolver entendimento global da historicidade arquitetônica do território brasileiro. » Compreender o processo histórico da evolução patrimonial no mundo. » Um discente interessado e estimulado é capaz de, com suas próprias habilidades, trilhar rumos diferentes aos designados pelo docente, auferindo assim resultados maiores e engrandecendo as aulas. Bons estudos! 9 UNIDADE IPRIMEIROS TEÓRICOS DA CONSERVAÇÃO CAPÍTULO 1 Recriação: Eugènte E. Viollet-le-Duc Figura 1. Eugènte E. Viollet-Le-Duc. Fonte: disponível em https://bit.ly/2QYa926. Iniciamos nossa busca a partir do entendimento de quemfoi Eugènte E. Viollet-Le-Duc. Nascido em Paris, aos 27 de janeiro de 1814, e falecido em Lausana, aos 17 de setembro de 1879, foi um grande arquiteto francês, considerado um dos primeiros teóricos da preservação do patrimônio histórico, ligado à arquitetura revivalista do século XIX podendo também ser considerado como um precursor teórico da arquitetura moderna. Suas atividades como arquiteto iniciaram em 1830, quando começou a trabalhar com Huvé e Leclère. No ano de 1836, teve sua significativa participação na restauração das obras em Saint Chapelle, esta pesquisa foi por 10 UNIDADE I │ PRIMEIROS TEÓRICOS DA CONSERVAÇÃO ele considerada como um laboratório empírico. A partir daí, outros trabalhos foram desenvolvidos por Le-Duc, como em: 1840 a Igreja de Vézelay; 1844 Notre-Dame de Paris e Carcassone; 1846 Saint-Sernin de Toulouse; e, em 1849, Amiens. Viollet-Le-Duc foi, em 1853, nomeado Inspetor Geral dos Edifícios Diocesanos, sendo responsabilizado pela tutela de várias igrejas em toda a França. Portanto, é em virtude aos fatos mencionados, e por meio dessas várias atividades, que Le-Duc consolida sua produção intelectual neste contexto de pesquisas intensas, resultando numa linha de ação, de produção intelectual e de teorias sobre restauração, as quais vão se consolidando, transformando-se no que se conhece como “restauração estilística”, sabendo-se, ainda, que esse processo se baseia na unidade formal e estilística das edificações, buscando criar um modelo idealizado na “pureza” de seu estilo. Esse modelo idealizado por Viollet-Le-Duc é de um sistema teórico que se apresenta a partir da relação entre os elementos da estrutura, forma e função, buscando a lógica do conjunto arquitetônico dando proporção a um sistema de formação característico a um tipo de modelo que serviria como base para seus projetos de intervenção e restauração. Dessa maneira, o formato metodológico, criado por Le-Duc em seus trabalhos, muitas vezes era a obtenção final da intervenção que apresentava uma obra completamente diferente da original, sua crença era que ao dominar o sistema construtivo da edificação e conhecendo profundamente seu estilo arquitetônico, conseguiria atingir plenamente os objetivos de um processo de restauração, assim estava pautado seu estilo arquitetônico. Para este teórico, era necessário realizar a compreensão das formas do passado em suas instâncias formais e espaciais, estas auxiliariam de base para justificar os problemas da arquitetura contemporânea. Entende-se, assim, que restaurar uma edificação não é mantê-la, repará-la ou refazê-la, é restabelecê-la para uma nova configuração, recriando um atual modelo. Com isso, Viollet-Le-Duc formulou este postulado a partir de seu sistema de ação. A fundamentação de sua prática profissional intensa inspirou as ações intervencionistas de muitos países europeus. No século XIX, o programa de restauração seguido pela Comissão de Monumentos Históricos passou a admitir que os edifícios fossem restaurados 11 PRIMEIROS TEÓRICOS DA CONSERVAÇÃO │ UNIDADE I no estilo original de sua aparência e estrutura. Dessa forma, vê-se que a comissão se dedicou, de maneira especial, às edificações em estilo Gótico que peculiarmente se apresentavam por levarem décadas para serem construídas. Como efeito, se tornou inevitável o uso de mais de uma técnica construtiva na mesma edificação, bem como a realização de acréscimos e modificações parciais no projeto. Nesta perspectiva, Viollet-Le-Duc e a Comissão de Monumentos Históricos desenvolveram uma metodologia rigorosa de análise e classificação com o objetivo de estabelecer visivelmente a idade e as etapas de construção do bem construído. O resultado da aplicação deste método é um relatório que respalda uma enorme quantidade de peças gráficas, tendo por objetivo documentar e inventariar o patrimônio sujeito à intervenção. A visão defendida pelo pensamento de Viollet-Le-Duc era de que todas as partes retiradas de um monumento precisassem ser alteradas por partes equivalentes de um bom material, adotando meios mais eficazes. Neste aspecto, é afirmado que o bom senso do arquiteto substitui as tesouras de madeira de uma cobertura, já deteriorada e infestada por insetos, por uma em ferro de igual desenho e proporção, por exemplo. A funcionalidade deste pensamento no que tange à reutilização das edificações era defendida atribuindo usos concretos enquanto arquiteturas, com a finalidade de torná-las úteis à sociedade. Viollet-Le-Duc, de certa forma, organizou uma nova compreensão de restauração que até hoje se reflete nos pensamentos da atualidade. Sua proposta de recuperação dos edifícios reporta-se ao conceito de estilo, entendido como uma realidade histórico-formal coerente e unitária circunscrita no tempo e bem definida nas suas características físicas. Dessa forma, a expressão direta de uma época, ou melhor, seu estilo, representa um momento histórico, o que passa a autorizar a hipótese da reconstrução de partes não mais existentes. Sendo assim, e com base nisso, o estilo e a teoria de Viollet-Le-Duc passam a ser conhecidos como “restauro estilístico” ou ainda “Teoria do Restauro Estilístico”, isto é, tem-se que através dela, cada elemento arquitetônico se subordina ao conjunto, contribuindo para a unidade do edifício. Dessa forma, muitos entendiam que o método usado por Le-Duc era conexo à Teoria de Georges Couvier, naturalista e paleontólogo, o qual acreditava que a 12 UNIDADE I │ PRIMEIROS TEÓRICOS DA CONSERVAÇÃO partir de apenas um osso se reconstituiria todo um esqueleto. Viollet-Le-Duc valia-se também deste preceito, crendo que por meio apenas do perfil do edifício, conseguiria reconstituí-lo completamente. Le-Duc estudava a fundo todo monumento que lhe era confiado, não intervindo hipoteticamente. Dessa forma, conseguia realizar detalhados levantamentos, usando desenhos, fotografias, e textos, procurando entender a lógica da concepção do projeto. Neste sentido, analisava também edifícios do mesmo período de construção, qual técnica fora utilizada, as formas características, as linguagens; na busca sempre de um coeficiente comum que lhe fornecesse conclusões para a recuperação do monumento em questão. Giovanni Carbonara (1997, p. 141) ressalta que a postura de Viollet-Le-Duc parece transformar com a continuidade de suas ações. Passa de uma intervenção mais cautelosa, de caráter conservativo, para uma atuação mais livre e radical de recomposição e reconstrução. Como se fosse possível inferir a ocorrência de uma maior liberdade de ação, a partir da prática mais intensa. A conservação/preservação do patrimônio cultural amplia diversas concepções daquilo que é considerado monumento histórico. Em relação aos bens arquitetônicos esse debate associa-se intimamente com uma de suas características intrínsecas, o uso: “A arquitetura é a única, entre as artes maiores, cujo uso faz parte de sua essência e mantém uma relação complexa com suas finalidades estética e simbólica” (CHOAY, 2001, p. 230). Salienta-se que diversas reflexões são suscitadas pela funcionalidade de uma obra arquitetônica, pois, além de seu papel simbólico relativo às representações sociais, é reconhecidamente ampla a necessidade de uma destinação útil para a preservação de qualquer bem, já que o abandono é um dos principais agentes da degradação dos monumentos. Contudo, a imposição de uma destinação incongruente amplia o risco de sua destruição. Desse modo, o levantamento dos usos de um determinado bem passa a ser extremamente necessário e importante para o campo da preservação arquitetônica, tanto que vem sendo abordado por vários teóricos, principalmente a partir da segunda metade do século XIX, quando abandona a relação exclusiva com as interferências de grandeza prática e outros valores introduzidos à discussão, tornando-a um ato cultural, a conhecer: 13 PRIMEIROS TEÓRICOS DA CONSERVAÇÃO │ UNIDADE I Fluxograma 1. Cultura.Formal Monumentais Simbólicos Históricos Fonte: Próprio autor. Apesar de se tratar de uma técnica exaustiva em relação ao estudo de um monumento, sabe-se da sua importância para a contribuição nos estudos desenvolvidos nas técnicas de preservação, assim sendo, as intervenções de Le-Duc eram muito incisivas neste contexto e acabavam, muitas vezes, entrando no campo da criação, supondo elementos que talvez nunca existiram naquele edifício. Buscava-se chegar em uma reformulação ideal de um determinado projeto. Segundo Viollet-Le-Duc (2000, p. 65) “o melhor meio para conservar um edifício é encontrar para ele uma destinação, e satisfazer tão bem todas as necessidades que exigem essa destinação, que não haja modo de fazer modificações”. Portanto, muitas vezes partes autênticas do edifício eram alteradas por serem consideradas em mau estado e, por muitas vezes, não se respeitaram modificações feitas posteriormente. Dessa maneira, a postura intervencionista de Viollet-Le-Duc defendia contundentemente a necessidade de um uso às edificações. 14 CAPÍTULO 2 Conservação: John Ruskin Comunitariamente, é sabido que os bens culturais são produtos concretos do homem que resultam da capacidade deste em conviver com o meio ambiente, tais como objetos artísticos ou mesmo históricos. Fluxograma 2. Objetos artísticos. Construções Obras plásticas Obras literárias Obras musicais Fonte: Próprio autor. Neste contexto, tais bens passam a testemunhar a cultura humana materialmente sendo importantes para o conhecimento da história das civilizações bem como para que os povos contemporâneos possam ver seu passado refletido nesses objetos, construindo, assim, sua identidade. Desta maneira, entendemos que a memória social depende da forma pela qual os elementos do passado estão e são ativos no presente bem como protegidos. Funari (2000, p. 30) diz que “não há identidade sem memória, como diz uma canção catalã: ‘aqueles que esquecem suas origens, abandonam sua identidade também’”. Ao fazermos um estudo histórico da humanidade, veremos que desde tempos remotos há uma preocupação em proteger os bens culturais da degradação, consoante apontamento de Elias (2002 p. 16). 15 PRIMEIROS TEÓRICOS DA CONSERVAÇÃO │ UNIDADE I Assim sendo, na idade antiga, entre 3400 a.C. ao ano 476 d.C., temos como exemplo a civilização egípcia que mirava manter o corpo físico de seus líderes, neste caso, os faraós intactos, por meio da mumificação, após a sua morte. Você sabia que a mumificação é um processo no qual o cadáver é submetido a um processo de embalsamamento com a utilização do sal como elemento conservativo?! Há ainda na antiguidade relatos deixados em diferentes textos que fazem referência à civilização romana sobre o uso de técnicas voltadas para a satisfatória manutenção física dos bens culturais – como o relato feito por Plínio acerca da limpeza executada em Roma na obra Ato Trágico com Apolo, de Aristides, no ano 13 a.C. Elias (2002, p.16) ratifica que Roma dava grande importância à longevidade de seus bens culturais. Já entre 476 e 1453, período medieval, na Europa, o elemento primordial de identidade cultural foi encarnado pela Igreja Católica, que dominava toda a sociedade tanto culturalmente como economicamente e/ou mesmo socialmente. O desejo de manutenção do poder para a igreja era interessante, pois transmitia e perpetuava suas regras, inclusive por meio de suas bibliotecas e da longevidade física dos materiais nelas existentes. Entretanto, foi entre os séculos XVII e XVIII que se iniciaram pesquisas buscando compreender o que causava degradação. Elias (2002) diz que neste período, Carlo Maratta, pintor-restaurador, começou a estudar meios que evitassem problemas de deterioração em pinturas. Mas, foi no século XVIII que descobertas arqueológicas grandiosas ocorreram: » Pompéia em 1748. » Herculano em 1738. » Numerosas tumbas egípcias. Vale, contudo, darmos um salto histórico para observarmos que, em 1789, com a Revolução Francesa, sob o lema Igualdade, Liberdade, Fraternidade, a burguesia assume o poder da França, rompendo com o desenvolvimento e manutenção do Antigo Regime feudal e retirando as regalias da Nobreza e Clero. (REVOLUÇÃO FRANCESA, 2003). Segundo Funari (2004, p. 20), através deste momento é que acontece a laicização do conceito de bem cultural, o qual passa a se referir ao interesse público que 16 UNIDADE I │ PRIMEIROS TEÓRICOS DA CONSERVAÇÃO implica numa limitação ao direito de propriedade em nome do coletivo, gerando, assim, uma nova concepção que dá início à noção de patrimônio público. No século XVIII, com a revolução industrial que teve início na Inglaterra, tendo como característica a passagem da manufatura à indústria mecânica, houve a possibilidade da ascensão da burguesia às esferas de poder, o que produziu transformações econômicas e políticas que modificaram a atitude dos colecionadores de arte, resultando na entrada das classes menos favorecidas no mundo cultural. Vemos, neste sentido, que a revolução industrial promoveu o enriquecimento cultural de todas as classes sociais e propagou princípios científicos e culturais graças às novas técnicas de impressão, aumentando o interesse das diferentes classes sociais pela educação. Para Hernampérez (2003), a ciência permitiu ao povo a possibilidade de ver o mundo de uma maneira diferente: mais progressiva, racional e harmônica. Nesta etapa, apareceram novas ciências com campos de ação nitidamente definidos e com metodologia própria de trabalho. Nesse contexto, vê-se surgir o aprimoramento das técnicas da restauração, a conservação de bens culturais e nela, embrionariamente, a conservação preventiva. Diagrama 1. John Ruskin. Construções Obras musicais Obras plásticas Obras literárias Fonte: Próprio autor. É nesta ocasião que temos a percepção a respeito do pensamento e do trabalho de John Ruskin, crítico de arte, escritor, sociólogo e um apaixonado pelo desenho bem como pela música, nascido em 08 de fevereiro de 1819 em Londres, e falecido em 20 de janeiro de 1900. Como um dos personagens principais para a construção do pensamento sobre conservação, representa a teoria romântica, ou melhor, a teoria da restauração romântica em que defendia a intocabilidade do monumento degradado. 17 PRIMEIROS TEÓRICOS DA CONSERVAÇÃO │ UNIDADE I Ruskin era partidário da autenticidade histórica, pois acreditava que os monumentos medievais que representavam o antigo deveriam ser mantidos sem modificação alguma, tendo a destruição como uma ideia em si mesma bela, para Elias (2002), ele defendia que: Quando chegar o momento em que perecimento do bem edificado [e acreditando que] o ato de restaurar é tão impossível quanto o ato de ressuscitar os mortos.(...) Elaborado dentro de uma severa educação religiosa anglicana, ele parte da princípio de que o homem, ao nascer, recebe em depósito bens que na realidade não lhe pertencem, dessa forma, deve fazer deles uma utilização respeitosa, já que deverá prestar contas a quem o construiu e à humanidade vindoura (ELIAS, 2002, p. 27). De maneira indireta, para Koller (1994, p. 37) Ruskin deu os primeiros passos na direção da conservação preventiva quando defendeu que as pedras de um edifício ancestral deveriam ser cuidadas como as jóias de uma coroa e que esse edifício tratado com ternura e com respeito veria nascer e desaparecer à sombra de seus muros mais de uma geração. Dessa forma, entende-se que Ruskin privilegiava a integridade e autenticidade física do bem, atentando para o fato de que a vigilância de um velho edifício o salvaria de quaisquer causas de degradação, pois havia os melhores cuidados possíveis. Mas, para Elias (2002), foi entre os anos de 1836 a 1914 que Camilo Boito aperfeiçoou as ideias de Ruskin, quando relacionou a teoria de John Ruskin à necessidade do restauro, prolongando a vida dos bens culturais por meio de vários procedimentos. Neste sentido,compreendemos que a repercussão das ideias de Ruskin adquirem maior relevância em: » 1849 a partir do livro The Seven Lamps of Architecture – lançado cinco anos antes do primeiro tomo do Dictionnaire de Viollet-Le-Duc. » 1853 com The Stones of Venice – onde relatou sua apologia ao “ruinísmo” como um devoto às construções outrora, pregando o total e absoluto respeito à matéria original das edificações. Acreditava Ruskin que a conservação da arquitetura do passado, como expressão de arte e cultura, permitiria que entendêssemos a relação existente entre os estilos 18 UNIDADE I │ PRIMEIROS TEÓRICOS DA CONSERVAÇÃO arquitetônicos e as técnicas construtivas como o resultado do fruto do trabalho de determinada cultura, usando a história dessas construções como o meio de comunicação dos processos de crescimento cultural. Nesta perspectiva, assegurar vivo o testemunho cultural do passado no cotidiano viabiliza aos indivíduos a identificação nos espaços urbanos, e, nos monumentos históricos, os marcos referenciais de identidade e de memória. Portanto, na ideia de Ruskin as edificações pertenciam ao seu “primeiro construtor”, ou seja, a população de determinada localidade se tornava herdeira desses bens culturais, estabelecia uma relação de compromisso social entre a presente e as futuras gerações para a preservação das edificações históricas em sua concepção original, evitando, assim, atos de negligência e descaso. Segundo ele, a integridade das edificações, como um conjunto formal e técnico-construtivo, se torna o bem de maior valor que se pode legar às novas gerações. Sendo essa herança o mecanismo responsável por transferir, ao espaço construído, os sentimentos de pertencimento e apropriação de seus valores memoriais. 19 CAPÍTULO 3 Artisticidade: Cesare Brandi De acordo com a historiografia da preservação e do restauro é atribuído ao historiador Cesare Brandi um papel primordial. Suas enunciações são estimuladas pelas investigações acontecidas da própria prática de restauro e alimentadas pelas buscas nos campos da Estética e da História da Arte. Neste contexto, o eminente caráter cultural dos estudos sobre a restauração recebeu um grande e decisivo impulso. Os fatos e teorizações postos pelo autor estão reunidos na obra Teoria da Restauração, os quais trazem uma repercussão por meio das elaborações conceituais vinculadas ao chamado “restauro crítico” que a partir de reflexões sólidas adensam pautas que valorizam os atributos artísticos dos bens patrimoniais, assim como pelas condições de sua apreciação e recepção. Entretanto, é necessário destacar que existe um período na história do restauro marcado pela II Guerra Mundial que afetou a Europa no século XX. Na fase da guerra, muitas cidades ficaram completamente destruídas, consequentemente, a maioria das construções existentes foram totalmente arruinadas e outras ficaram com marcas de destruição profundas, geradas por incêndios e pelos efeitos bélicos, frente à desastrosa degradação de monumentos históricos com valor artístico e cultural, surgiu a necessidade de inovar em relação à conservação com intervenção mínima dos princípios da Carta de Atenas. Logo, o sentimento pelo valor artístico do monumento destruído supera o valor histórico. Um dos protagonistas de teorias de restauro, inclusive pela publicação do seu livro Teoria do Restauro, Cesare Brandi, passa a se preocupar com o problema e trabalha no sentido de ampliar o conceito, de modo a adaptá-lo às novas exigências. 20 UNIDADE I │ PRIMEIROS TEÓRICOS DA CONSERVAÇÃO Figura 2. Cesare Brandi. Fonte: disponível em https://bit.ly/2Vmugtm. Nascido em 08 de abril de 1906, na cidade de Siena, e falecido em Vignano em 19 de janeiro de 1988, Cesare Brandi é tido como um dos nomes principais da restauração de objetos de arte. Suas ideias conhecidas por Restauro Crítico, o faz defender que os valores artísticos prevalecem sobre os históricos, afirmando que “A consistência física da obra de arte deve ter necessariamente prioridade porque assegura a transmissão da imagem ao futuro”. Brandi, em seu conceito de restauro, extrai dois axiomas: » 1o : restaura-se somente a matéria da obra de arte. Fazendo referência aos limites da intervenção restauradora, que leva em conta que a obra de arte, em sua acepção, é um ato mental manifestado a partir da imagem por meio da matéria e é sobre esta matéria que se degrada, que se intervém e não sobre esse processo mental, no qual é impossível agir. » 2o : a restauração visa ao restabelecimento da unidade potencial da obra de arte, desde que isso seja possível sem cometer um falso artístico ou um falso histórico, e sem cancelar nenhum traço da passagem da obra de arte no tempo, buscando com a restauração a unidade potencial da obra. 21 PRIMEIROS TEÓRICOS DA CONSERVAÇÃO │ UNIDADE I Brandi (2004), em sua teoria da restauração, observa o restauro como um ato crítico direcionado ao reconhecimento da obra e de sua individualidade, por meio de criteriosos estudos sobre História da Arte e Estética. Neste sentido, Brandi evidencia que a priorização do caráter artístico do monumento demanda o delineamento interpretativo desde os desafios interpostos pelas destruições da Segunda Guerra e do consequente limite operativo atribuído ao restauro científico. Sua defesa é que qualquer intervenção em uma obra de valor artístico deverá ser precedida pelo reconhecimento desta obra de arte enquanto tal. Existe, por conseguinte, um elo indissolúvel entre o restauro e a própria obra, simplesmente pelo fato de a obra de arte motivar a restauração e não o oposto. Ainda é esclarecido que a apreensão da obra, por se tratar de um produto da atividade humana, pressupõe a observância de sua dúplice instância: » A estética, que corresponde à qualidade do artístico pelo qual a obra é obra de arte. » A histórica, que lhe confere, como um produto humano realizado, a especificidade de um dado tempo e lugar. Dessa maneira, a teoria brandiana ao abordar, especialmente, aspectos relacionados à qualidade do artístico nas obras patrimoniais, oferece ricos subsídios para o aprofundamento do debate em torno da preservação e do restauro de bens culturais, seja na relação a um único monumento, móvel ou imóvel, seja também na relação à atuação sobre ambientes inteiros, abordados pelo autor como monumentos coletivos. Assim, devemos considerar a restauração como uma oportunidade, por sua própria importância de que é revestida justamente pela instância histórica, deva ser sempre resolvida do ponto de vista figurativo de modo a não infringir, por excesso de escrúpulo arqueológico, “a própria unidade que se visa a reconstruir” (BRANDI, 2004: 47); Segundo Rufinoni (2013, p. 112 et al.), as análises de Brandi ofertavam novos argumentos para o entendimento dos atributos patrimoniais da constituição urbana, considerando seus aspectos materiais e figurativos. Deve-se extrair, de acordo as considerações de Brandi, quatro fundamentais proposições: 22 UNIDADE I │ PRIMEIROS TEÓRICOS DA CONSERVAÇÃO » O restauro é ato crítico, está direcionado ao reconhecimento da obra de arte (sem o qual o restauro não é restauro), sendo necessário para vencer a retórica das duas instâncias, senso elas: a histórica e a estética. » Tratando-se de obras de arte, o restauro pode somente favorecer a instância estética (“que corresponde ao fato substancial da artisticidade pela qual a obra de arte é apenas obra de arte”; Brandi, 2004: 30). » A obra de arte é compreendida na sua mais ampla totalidade (como imagem e como consistência material, dirimindo-se nesta última “também outros elementos intermediários entre a obra e o observador”; Brandi, 2004: 40). » O restauro é observado como intervenção acerca da matéria, ademais, como salvaguarda das condições ambientais que garantem a melhor apreciação do objeto e, quando preciso for, como resolução da articulação do espaço físico, no qual tantoobservador quanto a obra de arte se colocam, e a espacialidade própria da obra. Ainda em sua defesa, os mesmos princípios sugeridos para a restauração das obras de arte móveis, neste caso, esculturas e pinturas, devem igualmente incidir sobre a restauração dos monumentos arquitetônicos. Neste sentido, deve ser considerado como obra artística, que a arquitetura usufrui “da dúplice e indivisível natureza de monumento histórico e de obra de arte, logo, o restauro arquitetônico recai também sob a instância histórica e estética” (BRANDI, 2004, p.131). É importante entender o que Brandi estabelece como metodologia para que se chegue ao conhecimento dos valores estéticos, históricos e materiais individuais da obra de arte preservando e mantendo singularmente sua transmissão para o futuro. Dessa maneira, pode-se encontrar diversas formas corretas para a prática do restauro, que pode ser a mais simples até a mais profunda, desde que preserve a essência primeira do objeto. Pode-se, assim, compreender que consoante Brandi, um dos princípios essenciais da restauração diz respeito à consistência física da obra que significa o próprio local da manifestação da imagem, ou ainda, aquilo que a transmite e garante a sua conservação e recepção. 23 PRIMEIROS TEÓRICOS DA CONSERVAÇÃO │ UNIDADE I Cartas patrimoniais É importante compreender que os documentos que contêm definições e medidas para ações administrativas e diretrizes de documentação, manutenção e restauro de um patrimônio artístico, cultural, histórico, promoção da preservação de bens, planos de conservação, são chamadas de cartas patrimoniais. A finalidade das Cartas Patrimoniais é de orientar bem como uniformizar as práticas em torno da proteção aos bens culturais. Para Salcedo (2007, p. 26), a finalidade delas são padronizar um discurso do cuidado ao bem cultural. Contudo, ao serem elaboradas por grupos de interesses variados, não se atende tal perspectiva. Existem, na maioria dos casos, ideias que competem, em suas lógicas, com os princípios de veracidade, de restauro do objeto, de inventário, de hierarquia, de valores artísticos. Na definição de Kühl: as denominadas cartas patrimoniais são documentos – singulares aquelas que derivam de organismos internacionais – cujo caráter é indicativo ou, no máximo, prescritivo. Compõem base deontológica para as diversas profissões envolvidas na preservação, entretanto não são receituário de simples aplicação (KÜHL, 2010, p. 287). Diante disso, as Cartas Patrimoniais são vistas como a dimensão social e temporal de sua formulação e a consequente contribuição para preservação de bens culturais. No que diz respeito às relações sociais cada vez mais complexas, Santos (2011) identifica três faces da preservação, onde há interação contínua e nem sempre harmônica dos diferentes atores, a exemplo de: [...] a institucional, mais consolidada e, pelo menos legalmente, incontornável, todavia passando pelo desmonte e a burocratização de instituições que deixaram de estar direcionadas na produção de conhecimento; a acadêmica, que chegou mais tarde, centrada em referências teóricas internacionais e na produção de conhecimento, às vezes incrédula, porque estando desvinculada da “prática tradicional”; e a face de mercado, que vem se ampliando, e na maior parte das vezes não leva em consideração a experiência e a reflexão das outras duas, justificando-se pela celeridade de prazos e resultados (SANTOS, 2011, pp. 249-250). 24 UNIDADE I │ PRIMEIROS TEÓRICOS DA CONSERVAÇÃO Assim, as cartas patrimoniais incluem documentos formais: » Da UNESCO. » Dos órgãos de patrimônio instituídos nos países para sua preservação. » Daqueles produzidos por grupos de indivíduos interessados no assunto e que se reúnem para discuti-lo e propor regras e normas que melhor organizem o setor. Neste aspecto, ratificam-se que as cartas patrimoniais demonstram uma medida de preservação, pois são resultado da discussão entre diversos atores sobre determinado aspecto relacionado ao patrimônio, e contribuem para ampliar o conhecimento sobre procedimentos e metodologias para sua proteção, permitindo que sejam estabelecidas regras a serem cumpridas, procurando a padronização das abordagens aos bens culturais. Vejamos, de maneira sintética, as cartas patrimoniais segundo o IPHAN em seus respectivos anos. Quadro 1. Cartas Patrimoniais. Ano Carta e Recomendação Descrição 1931 Carta de Atenas Contou com o Escritório Internacional dos Museus Sociedade das Nações que traz para o debate questões das principais preocupações da época, que envolviam: » As técnicas. » A legislação. » Os princípios de conservação dos bens artísticos e históricos. O documento mostra a necessidade das organizações trabalharem na atuação e consultas relacionadas à preservação e restauro dos patrimônios, garantindo o direito coletivo. 1933 Carta de Atenas Envolvendo assuntos das novas cidades, em uma época de amplo crescimento urbano. Essa carta resultou do Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (CIAM), onde tal manifesto trouxe como tema fundamental a cidade funcional, contando com arquitetos e urbanistas renomados, dentre os quais destacamos: Le Corbusier. Neste evento, debateu-se o “Urbanismo Racionalista”, a pauta levantada foi sobre a infra o planejamento regional, a infraestrutura, a utilização do zoneamento, a verticalização das edificações, bem como a industrialização dos componentes e a padronização das construções, buscando novos rumos para o urbanismo. 1956 Recomendação de Nova Delhi Resultado da Conferência Geral da UNESCO, a recomendação de Nova Delhi possui um conteúdo que apoia princípios internacionais sobre pesquisas e preservação arqueológica, definindo: » Programas educativos. » Instituição de órgãos governamentais. » A proteção do patrimônio arqueológico. » Criação de acervo como responsabilidade do Estado. 1962 Recomendação de Paris Essa recomendação datada em 1962 a Paisagens e Sítios de Paris foi preparada em uma Conferência Geral da UNESCO, sendo o primeiro documento que traz um conceito fundamental sobre proteção da beleza e do caráter paisagístico, além dos territórios respectivos. Com esta recomendação, o conceito de patrimônio cultural se tornou mais amplo, estendendo à beleza e caráter das paisagens e sítios, naturais, rurais ou urbanos. Ficou evidente a necessidade de estímulo nas áreas da educação e proteção aos bens, complementando as medidas de proteção à natureza. 25 PRIMEIROS TEÓRICOS DA CONSERVAÇÃO │ UNIDADE I Ano Carta e Recomendação Descrição 1964 Carta de Veneza No II Congresso Internacional de Arquitetos e Técnicos dos Monumentos Históricos, o Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS) elaborou a carta de Veneza com foco na carência de um plano internacional para conservar e restaurar os bens culturais numa ação interdisciplinar. 1964 Recomendação de Paris Essa recomendação de Paris foi publicada pela UNESCO e trata das medidas de impedir a exportação e a importação, mas, também, de proibi-la, além da transferência de propriedade ilícita dos bens culturais. Nela, enfatizaram-se questões como: » Ações que impeçam operações ilícitas. » Colaborações internacionais em acordos. » Identificação e inventário dos bens culturais. » Legislações para aplicação de medidas administrativas. » Instituição de órgãos oficiais adequados para a proteção do patrimônio. 1967 Normas de Quito Elaboradas no Equador, em Quito, as Normas tratam da conservação e uso tanto dos lugares quanto dos monumentos de interesse artístico e histórico. A recomendação era que os projetos de valorização dos bens constituíssem os planos de desenvolvimento nacional e que está ação fosse de responsabilidade do governo. A divulgação dos conhecimentos acerca dos bens culturais tem por finalidade a eficiência na preservação além dos produtos a serem explorados, bem como, a legislação adequada ou ainda as disposições governamentaispara o interesse público. O documento relatou a necessidade e importância de uma coordenação de projetos por instituto idôneo, contando com equipe técnica. 1968 Recomendação de Paris Diante dos problemas enfrentados com o crescimento das cidades, a Conferência Geral da UNESCO, em 1968, publicou a recomendação que tratava das Obras Públicas ou Privadas, considerando as intervenções urbanas que estivessem relacionadas com a preservação do patrimônio, dentre outras. Ficou clara neste documento a responsabilidade do governo sobre as medidas de preservação e salvamento do patrimônio, assegurando a: » Expansão urbana. » Renovação urbana. » Modificação e reparos. » Implantação de barragens e oleodutos. » Trabalho de desenvolvimento de indústrias. » Alterações ou construções de vias de fluxos grandes. » Obras em locais onde os bens possam correr qualquer tipo de perigo de destruição. 1970 Compromisso de Brasília Sob influência dos documentos internacionais com relação ao patrimônio, o Brasil organizou o 1o Encontro dos Presidentes, Governadores de Estado, Secretários Estaduais da Área Cultural, Prefeitos de Municípios, Representantes de Instituições Culturais, que teve como resultado, em 1970, o Compromisso de Brasília. Esse documento baseava-se nos cuidados necessários que se devia ter com o patrimônio cultural brasileiro, sugerindo a criação de órgãos estaduais ou mesmo municipais onde não houvesse e que todos deveriam estar ligados aos Conselhos Estaduais de Cultura bem como ao DPHAN. 1972 Cartas do Restauro Elaborada em 1972, é composta por 12 artigos que propõem diretrizes para intervenções de restauração em todos os tipos de obra de arte desde: » Centros históricos. » Monumentos arquitetônicos. » Coleções artísticas e jardins de importância especial. » Pinturas e esculturas a conjunto de edifícios de interesse monumental, histórico ou ambiental. No documento, a restauração é determinada como qualquer intervenção, direta ou indiretamente, que: » Facilita a leitura. » Mantém o funcionamento. » Transmite integralmente as obras citadas anteriormente. Também, neste documento, são descritos todas as diretrizes, etapas, responsabilidades, trabalhos, técnicas e programas para a conservação e restauração de bens artístico-históricos e culturais. 26 UNIDADE I │ PRIMEIROS TEÓRICOS DA CONSERVAÇÃO Ano Carta e Recomendação Descrição 1972 Declaração de Estocolmo O documento feito a partir da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, em Estocolmo, apontou para a carência de critérios comuns para preservação e melhoria do meio ambiente. Na Declaração são evidenciados itens como: » Políticas ambientais. » Educação ambiental. » Planejamento urbano. » Estabilidade econômica. » Desenvolvimento econômico e social. » Uso de recursos para a preservação ambiental. » Necessidade de utilização consciente dos recursos não renováveis. » Importância de não descartar as substâncias que sejam prejudiciais aos ecossistemas. » Mitigação das consequências dos graves problemas de subdesenvolvimento e desastres naturais. 1972 Recomendação de Paris Consagrada na Conferência Geral da UNESCO, tal documento trata da Proteção do Patrimônio Cultural, Mundial e Natural, que propunha um programa de proteção nacional bem como internacional dos bens por meio da promoção da consciência de preservação para as gerações do presente e, sobretudo, as futuras. 1973 Anais do II Encontro de Governadores O evento que aconteceu em Salvador só teve o documento publicado em 1973, tratava da defesa do patrimônio artístico-histórico, arqueológico e natural brasileiro, a discussão girava acerca da/os: » Relação do acervo de valor cultural. » Proteção dos acervos naturais de valor cultural. » Monumentos naturais em face da indústria do turismo. 1974 Resolução de São Domingos O I Seminário Interamericano sobre Experiências na Conservação e Restauração do Patrimônio Monumental dos períodos Colonial e Republicano (República Dominicana) foi realizado com a Organização dos Estados Americanos e Governo Dominicano em 1974. A partir deste evento, foi publicada a Resolução de São Domingos que registra os serviços operativos que materializam e tornam possível a defesa dos bens culturais. A Resolução descreve recomendações no: » Plano socioeconômico. » Plano da preservação monumental. » Das propostas operativas e do reconhecimento. 1975 Declaração ou Manifesto de Amsterdã Após a reunião dos delegados de diversas partes da Europa, evento que aconteceu em Amsterdã, promulgou-se uma Carta Europeia do Patrimônio Arquitetônico que tratava da arquitetura caracteristicamente europeia como um patrimônio comum, sendo importante para sua proteção que houvesse a cooperação dos países europeus. 1976 Carta do Turismo Cultural Este documento define o turismo cultural como uma forma de turismo com a finalidade do conhecimento de monumentos e sítios artístico-históricos, expressado positivamente, como fato cultural, econômico, humano e social. Neste sentido, o turismo cultural passa a incentivar e justificar os esforços para manutenção e preservação do patrimônio artístico-histórico. 1976 Recomendação de Nairóbi O tema central deste documento salvaguarda os conjuntos históricos e sua função na vida contemporânea, descrevendo a importância do patrimônio histórico e de sua ambiência, envolvendo, assim, a proteção contra: » Deterioração e transformação abusivas ou desprovidas de sensibilidade que atentam contra a autenticidade. 1977 Carta de Machu Picchu Propunha uma revisão na Carta de Atenas de 1933, ressaltando e reafirmando a unidade dinâmica das cidades bem como a importância do planejamento urbano como instrumento de interpretação e realização das necessidades da população. 27 PRIMEIROS TEÓRICOS DA CONSERVAÇÃO │ UNIDADE I Ano Carta e Recomendação Descrição 1980 Carta de Burra Fundamentada nos conhecimentos dos membros do ICOMOS, este documento traça linhas que orientam e conservam a gestão dos sítios com significado cultural. O documento, escrito na Austrália, reconhece a necessidade do envolvimento das pessoas nos processos de formação das decisões. Composta por 29 artigos, a Carta elenca questões relacionadas a: » Definições de conceitos. » Procedimentos de intervenção. » Conservação e preservação por meio de manutenção e restauração. » Reconstrução dadas às circunstâncias, características de elementos a serem implantados e mantidos bem como as exceções. 1981 Carta de Florença Criada pela ICOMOS, a Carta apontou o cuidado com os jardins históricos, entendendo estes como uma composição arquitetônica e vegetal de interesse público. Possuidores de características que necessitavam de preservação, os jardins históricos tinham: » Vegetação. » Traçado e topografia. » Mantinham altura, cores, distância, elementos estruturais ou decorativos, espécies e volumes. A carta ainda defendia a importância de: » Identificar. » Inventariar e amparar os jardins históricos. » Criar medidas legais financeiras para manutenção, conservação e restauro. 1982 Declaração de Nairóbi Elaborada em 1982, esta declaração foi desenvolvida para comemorar o décimo aniversário da Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano de Estocolmo, recriava e trazia todas as diretrizes e o plano de ação que foram descritos na Declaração de Estocolmo. Por fim, o documento reafirmava: » Auxílio ao fortalecimento do programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. » Convida toda a população e todos os governos para assumirem suas responsabilidades na garantia de vida do planeta. 1982 Declaração de Tlaxcala Esta declaração, elaborada no 3o Colóquio Interamericano sobre a Conservação do Patrimônio Monumental “Revitalização das Pequenas Aglomerações” foi realizada pela ICOMOS, fazia referência aos perigos e ameaças ao patrimônio na América, recomendando revitalizações que envolviam: » Etapas de pesquisa e prática. » Reafirmaçãode responsabilidades de serviços públicos. » Aprimoramento educacional e profissionalização de técnicos restauradores. 1982 Declaração do México Esta declaração foi elaborada a partir da realização da Conferência Mundial sobre as Políticas Culturais, com a finalidade de discutir e conceituar: » Cultura. » Identidade cultural. » Patrimônio cultural voltado à dimensão cultural. Destacou-se, também, pela relação entre elementos da sociedade como cultura, educação, ciência e comunicação, mas, também, das recomendações que envolvem principalmente a aproximação cultural entre os povos. 1986 Carta de Washington Criada pela ICOMOS é um documento que Salvaguarda as Cidades Históricas, dizendo respeito a: » Grandes ou pequenas cidades. » Centros ou bairros históricos, com seu ambiente edificado ou natural expressando valores próprios das civilizações urbanas tradicionais. De acordo com esta Carta, qualquer ataque a estes valores tinha como compromisso a autenticidade da cidade histórica. 28 UNIDADE I │ PRIMEIROS TEÓRICOS DA CONSERVAÇÃO Ano Carta e Recomendação Descrição 1987 Carta de Petrópolis Criada no 1o Seminário Brasileiro para Preservação e Revitalização de Centros Históricos, tratou da questão de preservação e consolidação da cidadania reforçando a necessidade de dar ao patrimônio função na vida da sociedade. A carta era composta pelos instrumentos de proteção: » Inventário. » Tombamento. » Desapropriação. » Isenção e incentivos fiscais. » Normatizações urbanísticas e a declaração de disposição cultural. 1987 Carta de Washington Conhecida como Carta Internacional para a Salvaguarda das Cidades Históricas de 1987, o documento narra sobre as cidades e centros/bairros históricos que expressavam valores históricos ameaçados, quer por degradação, desestruturação ou destruição. Este documento ainda complementava a Carta de Veneza, de 1964, traçando: » Objetivos. » Princípios. » Métodos e instrumentos que tendem à proteção da qualidade das cidades históricas. 1989 Carta de Cabo Frio Este documento foi redigido no Encontro de Civilizações nas Américas, o qual comemorou os 500 anos da vinda de Colombo América e homenageou o navegador Américo Vespúcio. 1989 Declaração de São Paulo O tema desta declaração foi a comemoração do 25o aniversário da Carta de Veneza e a análise deste documento de 1964, ressaltando a importância da permanência da Carta de Veneza como modelo e fonte de consulta. 1989 Recomendação de Paris Em 1989, a Conferência Geral da UNESCO recomendou a Salvaguarda da Cultura Tradicional e Popular, abordando itens para: » Difusão. » Salvaguarda. » Identificação. » Conservação. » Cooperação e proteção internacional no que se refere à cultura tradicional e popular. 1990 Carta de Lausanne Criada para a Proteção e Gestão do Patrimônio Arqueológico, esta carta descrevia: » Inventários. » Informação. » Apresentação. » Reconstituição. » Intervenções nos sítios. » Legislação e economia. » Qualificação profissional. » Cooperação internacional. » Preservação e conservação. » Definição e introdução no âmbito das políticas de conservação integrada. 1992 Carta do Rio Esta carta foi feita na Conferência Geral das Nações Unidas Sobre o Desenvolvimento e o Meio Ambiente, reafirmando a Declaração de 1972 aprovada em Estocolmo, apresentando 28 princípios que estabeleceriam uma nova aliança e novos níveis de cooperação para alcançar os acordos internacionais visando à integridade do sistema ambiental e do desenvolvimento mundial. 29 PRIMEIROS TEÓRICOS DA CONSERVAÇÃO │ UNIDADE I Ano Carta e Recomendação Descrição 1994 Conferência de Nara Este evento abarcou a Veracidade em relação à Convenção do Patrimônio Mundial, ocasionando um documento que revalidava o valor da autenticidade do patrimônio, assunto que já era discutido na Carta de Veneza, em 1964, que visava: » Estudos científicos. » Planos de conservação e restauração. 1995 Carta de Brasília No ano de 1995, na cidade de Brasília, é de novo trazido o tema de Autenticidade abordando essa questão frente à situação regional de uma cultura de resistência e universalidade, associando a: » Autenticidade e o contexto. » Autenticidade e a identidade. » Autenticidade e a mensagem. » Autenticidade e a materialidade. » Categorização e a conservação da autenticidade. 1995 Recomendação da Europa Criada em 1995, pelo Comitê da Europa, tratava da conservação integrada das áreas de paisagens culturais, indicando que os governos adaptassem suas políticas com o objetivo de conservar e evoluir as áreas consideradas de paisagem cultural. Composto por 10 artigos que: » Relacionam os objetivos. » Relacionam o treinamento e pesquisa. » Relacionam a cooperação internacional. » A implementação de políticas de paisagem. » Relacionam a estrutura legal ou reguladora. » Relacionam o campo da empregabilidade de tal recomendação. » Relacionam os níveis de competência e estratégia de ação. » Relacionam a informação e incremento da conscientização. » Relacionam o processo de identificação e a avaliação das áreas de paisagem natural. » Associam a proteção legal e conservação dos espaços de paisagem cultural, metodologias específicas de proteção, aplicação de medidas específicas de proteção, assim como as medidas específicas para conservação e evolução controlada. 1996 Declaração de Sofia Esta declaração foi elaborada em 1996, na XI Assembleia Geral da ICOMOS, recomendando a: » Utilização. » Proteção e exploração do patrimônio subaquático. Os processos deveriam ocorrer por meio da participação da sociedade civil tendo como parceiros o Estado, os órgãos do governo e as entidades públicas garantindo a efetiva preservação e desenvolvimento equilibrado dos recursos naturais. 1996 Declaração de São Paulo II Com a finalidade de debater o tema principal da declaração de Sofia, membros do Conselho da ICOMOS se reuniram no Brasil, em especial em São Paulo, tendo em vista a necessidade de enfrentar os conflitos entre expansão urbana e preservação do Patrimônio Cultural no país, tendo como resultado a Declaração de São Paulo II. 1997 Carta de Fortaleza Em comemoração pelos 60 anos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), o evento criado em forma de Seminário que teve como tema o Patrimônio Imaterial: Estratégias e Formas de Proteção teve como finalidade: » Recolher subsídios que viabilizassem a elaboração de diretrizes e instrumentos legais e administrativos para identificar, proteger, promover e fomentar os processos e bens do patrimônio cultural brasileiro. 30 UNIDADE I │ PRIMEIROS TEÓRICOS DA CONSERVAÇÃO Ano Carta e Recomendação Descrição 1997 Carta de Mar Del Prata Este documento fala sobre o Patrimônio Intangível recomendando: » Estímulo da educação. » Incrementação de pesquisas. » Promoção do registro documento. » Catalogação do patrimônio intangível. » Montagem do banco de dados com todas as publicações. » Composição das informações sobre o patrimônio cultural intangível. 1999 Cartagenas de Índias, Colômbia Elaborada pelo Conselho Andino de Ministros das Relações Exteriores da Comunidade Andina, refere-se à proteção e recuperação de bens culturais do patrimônio arqueológico, artístico, etnológico, histórico e paleontológico da Comunidade Andina. Nove artigos compõem este documento que recomenda políticas e normas comuns para a/o: » Registro. » Proteção. » Identificação. » Conservação. » Vigilância e restituição. » Impedimento de importação. » Exportação e transferência dos bens culturais de forma ilícita. 2003 Recomendação de Paris Em sua 32ª Sessão a Conferência Geral da UNESCO, em 2003, elabora um documento em forma de convenção com o intuito de preservar o patrimônio cultural imaterial, que visava o respeito: » Aos bens das comunidades. » À sapiência e reconhecimento nacionais e internacionais. 2009 Carta de Nova Olinda Elaborada noI Seminário de Avaliação e Planejamento das Casas do Patrimônio, esta carta visava à avaliação das Casas do Patrimônio, preparando diretrizes e instrumentos legais. 2010 I Fórum Nacional do Patrimônio Cultural Em 2009, na cidade de Ouro Preto, acontecia o I Fórum Nacional do Patrimônio Cultural, mas foi em 2010 que o trabalho foi publicado com a finalidade de disponibilizar para consulta os/as: » Conteúdos dos relatórios. » Análises realizadas no evento. O evento foi parte do processo de instituição do Sistema Nacional do Patrimônio Cultural (SNPC), buscando coordenar e realizar ações na área de gestão do patrimônio cultural. 2010 Carta de Brasília Documento criado no Fórum Juvenil do Patrimônio Mundial Brasil-Brasília, reuniu distintas experiências e realidades tendo como foco o patrimônio. Foram propostas nove ideias como a participação ativa dos jovens no Comitê do Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO); a promoção do turismo sustentável e responsável, divulgando o patrimônio sem comprometê-lo etc. 2010 Carta dos Jardins Históricos ou Carta de Juiz de Fora Criada com o intuito de descrever conceitos, critérios e diretrizes na defesa e preservação dos jardins históricos como sítios e paisagens criados pelo homem. Fonte: Elaboração Própria (2020). Adaptado e extraído do archi&urban “Cartas Patrimoniais” disponível em: https://archiurban. wordpress.com/2015/04/17/cartas-patrimoniais/. Complementado no Portal educação “O que são as cartas patrimoniais” Disponível em: https://siteantigo.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/cotidiano/cartas-patrimoniais/61157. 31 UNIDADE IIPATRIMÔNIO NO BRASIL CAPÍTULO 1 Inspetoria de Monumentos Nacionais (IMN) Criada a partir da assinatura à época do então presidente Getúlio Vargas e do ministro da Educação e Saúde Pública Washington Pires por meio do Decreto no 24.735 em 14 de julho de 1934, a Inspetoria de Monumentos Nacionais (IMN), este novo regulamento do Museu Histórico Nacional (MHN) de caráter departamental tinha como finalidade a inspeção do bem construído com valor artístico e histórico bem como o controle do comércio de objetos de arte e antiguidades, que seria feito baseado em certas determinações, dentre as quais: a organização dos edifícios existentes no país dotados de valor e interesse artístico-histórico que proporia ao governo federal os que deveriam ser declarados como monumentos nacionais. Estes não poderiam ser: » Demolidos. » Reformados. » Modificados sem a permissividade e ausência da fiscalização do Museu Histórico Nacional (MNH). É importante, contudo, evidenciarmos que a inspetoria não possuía autonomia para determinar quais edificações poderiam ser consideradas monumentos nacionais. Apenas era previsto o levantamento, a título de sugestão, ao governo federal para que este pudesse atribuir-lhe o título de monumento. Cabe, no entanto, destacar que a inspetoria foi atuante na área em que seu regulamento menos amparava, conforme a figura abaixo: 32 UNIDADE II │ PATRIMÔNIO NO BRASIL Diagrama 2. Áreas de atuação da Inspetoria. Conservação dos monumentos imóveis Restauro dos monumentos imóveis Fonte: Elaborado pelo autor (2020). Neste sentido, ficaria a cargo da inspetoria entrar em entendimento com os governos dos estados, uniformizando a legislação sobre a proteção e conservação dos Monumentos Nacionais, além de guarda e fiscalizar seus objetos histórico-artísticos. Desta forma, os encargos das atividades nos territórios eram de responsabilidade de cada Estado, como exemplos temos: Quadro 2. Inspetorias Estaduais dos Monumentos. Ano Inspetoria 1926 Inspetoria dos Monumentos Históricos de Minas Gerais 1927 Inspetoria dos Monumentos Históricos na Bahia 1928 Inspetoria dos Monumentos Históricos de Pernambuco Fonte: Elaborado pelo autor (2020). Mas, a partir do ano de 1928, essas inspeções começaram a ser orquestradas e supervisionadas pelo órgão sediado no Museu Histórico Nacional (MNH). Cabe, todavia, entender que a Inspetoria de Monumentos Nacionais conduziu a instalação de um regime de governo autoritário no país. Dentro da perspectiva deste capítulo em estudo, é relevante destacar o conhecimento acerca da Educação Patrimonial, dessa forma convido-lhes a fazer um brinde à história da cultura brasileira! Vamos?! Sendo assim, quando “se fala ou se ouve” a palavra tombamento ou preservação, meio mundo se esconde. O desconhecimento sobre o valor de nossa história, pública e privada, origina desconfiança, medo e atitudes extremas, são elas: as demolições noturnas ou descaso. Assim sendo, há a necessidade do conhecimento e o debate sobre este tema. Acesse o link e complemente esta leitura: https://educacaopatrimonial.blogspot.com/2011/. 33 PATRIMÔNIO NO BRASIL │ UNIDADE II Segundo o regulamento, as funções de inspetor dos monumentos e designar representantes para executar serviços onde fosse conveniente era de competência do diretor do MHN. Neste caso, era de sua responsabilidade entabular acordos com quaisquer pessoas jurídicas ou naturais, autoridades eclesiásticas, instituições científicas, literárias ou históricas, administrações estaduais ou municipais, no sentido de ser mais bem conhecido, estudado e protegido o patrimônio tradicional do Brasil. Ainda que o controle e a fiscalização do comércio de objetos artísticos e históricos tenham sido o principal ponto do seu regulamento, esse foi também o seu ponto inoperante, pois no período em que funcionou: » Não houve aumento das coleções do MHN com apreensões por infração dos dispositivos do regulamento, nem pelo direito que a instituição tinha de preferência na compra de antiguidades a serem negociadas. » Não houve ou mesmo não se tem notícias dos trabalhos de fiscalização, autenticação de objetos nem mesmo de elaboração de catálogo ou relação de objetos de arte ou de história. Vale considerarmos que a inspetoria foi o primeiro órgão nacional direcionado para a preservação do patrimônio cultural brasileiro. Suas funções foram finalizadas em 1937, quando da criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), pela Lei no 378, de 13 de janeiro de 1937, que a substituiu. Tendo em vista alguns aspectos históricos, o que se pode observar diante desse processo é o surgimento das correntes fundamentadas no tipo de regime político, as quais estão pautadas no nacionalismo e que foram formuladas destacando-se as ideias dos cientificistas que eram incrédulos no futuro do país, já que a miscigenação, de acordo com eles, destruía as bases da nação, e as dos ufanistas edênicos, os quais cultuavam o orgulho da pátria por meio das condições naturais da terra, não davam importância às características políticas e econômicas. Destaca-se, neste contexto, a década de 1920, a qual foi marcada por segmentos de pensamentos acerca da nação, que procuravam quebrar com essas ideias, até então, em disputa. Observa-se que havia um apego para o passado colonial a fim de identificar as raízes da sociedade brasileira, além de compreender o processo da miscigenação como um argumento positivo da sociedade brasileira e a valorização do povo como genuína expressão da brasilidade. 34 UNIDADE II │ PATRIMÔNIO NO BRASIL Assim sendo, deve-se ter a compreensão sobre os povos, os quais se associam aos estratos mais pobres da sociedade, principalmente aos que estão no interior do Brasil. Essa formulação surgiu do argumento de que os que não viviam no litoral, sob a influência de “estrangeirismos”, preservavam a originalidade do ser brasileiro. Neste contexto, os estudos sobre folclore foram essenciais para compreender essa complexa formação social, sendo a cultura a principal ferramenta para forjar uma integração entre o campo e o centro urbano, entre o popular e o sapiente. Assim sendo, uma breve abordagem do entendimento de como se deu o processo de formação do patrimônio histórico noBrasil. Diante dos fatos abordados é pertinente salientar os critérios utilizados como referência para escolher os monumentos restaurados; os quais são dotados de fundamentos científicos e técnicos em que as obras foram executadas. Ademais, a compreensão de como as ações preservacionistas se articulavam à escritura da história do Brasil produzia nas galerias do Museu Histórico Nacional (MHN) a então denominada Casa do Brasil. Pela observação dos aspectos vistos, ressalta-se ainda que o primeiro requerimento de Gustavo Barroso para a criação de uma instituição responsável pela preservação dos monumentos nacionais foi proferido num relatório de atividades do Museu Histórico Nacional, enviado ao Ministro da Educação e Saúde em 1943, onde consta o seguinte: Através de Barroso (1943) faz-se uma abordagem acerca da necessidade de se reconhecer presente, como também de regular o Governo em prol da defesa do Patrimônio Histórico e artístico do País. Menciona também a importância de se ter uma organização administrativa acauteladora daquele patrimônio, e em equilíbrio com uma legislação ajustada, assim como meios de prevenção contra os assaltos que constantemente sofrem os monumentos históricos no Brasil, que são mal assegurados pelos poderes locais dos Estados e municípios, o que nos permite assistir à devastação/depredação do nosso tesouro tradicional. Portanto, aqui no Brasil não parece persuasiva a criação de um organismo especial para tal função: o Museu Histórico Nacional, sem ônus para os cofres federais, poderia assim executar uma tarefa com a atribuição que, por decreto, lhe designasse de Inspetoria de Monumentos Nacionais. 35 CAPÍTULO 2 Patrimônio no Brasil Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) Introduz-se em nosso capítulo a abordagem de que o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) foi entendido como um órgão federal de proteção ao patrimônio cultural brasileiro, o que hoje se conhece como Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Dessa forma, o SPHAN começou a funcionar em 1936 por meio da deliberação presidencial encaminhada ao ministro da Educação e Saúde Pública, Gustavo Capanema, segundo citado no relatório de atividades apresentado por Rodrigo Melo Franco de Andrade, primeiro diretor do Serviço daquele ano: Tendo V. Excia. em 13 de abril do ano próximo findo requerido ao Senhor Presidente da República autorização para dar abertura ao Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, logo que o Chefe de Estado concedeu essa autorização foi contratado o pessoal necessário para encetar os trabalhos essenciais e preparatórios que, de acordo com o plano traçado por V. Excia., deveriam ser realizados até que, paulatinamente e com os dados fornecidos pela experiência, fosse surgindo o plano definitivo de organização do Serviço, que tivesse de ser convertido em lei (ANDRADE, 1937, p.1). No entanto, o órgão só foi criado oficialmente em 13 de janeiro de 1937 com a promulgação da Lei no 378. Assim sendo, o SPHAN foi inserido na categoria de Instituições de Educação Extraescolar dos Serviços relativos à Educação à estrutura do Ministério da Educação e Saúde (MES). A finalidade ou as finalidades que direcionaram a criação do Serviço foram estimadas no artigo 46 da Lei, no qual se falava: fica criado o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, a fim de promover, em todo o País e de modo permanente, o tombamento, a conservação, o enriquecimento e o conhecimento do patrimônio histórico e artístico nacional (BRASIL, 1937, art. 46). 36 UNIDADE II │ PATRIMÔNIO NO BRASIL Além dessas competências, o Serviço também concebia as funções do Conselho Nacional de Belas Artes: “fica extinto o Conselho Nacional de Belas Artes, cujas funções começarão a ser exercidas pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e pelo Museu Nacional de Belas Artes” (BRASIL, 1937, art. 130). É relevante compreender que a Lei no 378/1937 também deu origem ao Conselho Consultivo do SPHAN, o qual passou a ser o órgão necessário ao funcionamento do Serviço, determinando sua composição, de acordo ao art. 46 § 2o, da seguinte forma: O Conselho Consultivo será composto por: » Diretor do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. » Diretores dos museus nacionais de coisas históricas ou artísticas. » E de mais dez membros, nomeados pelo Presidente da República. Ademais, foi estipulado, por necessidade, a cooperação em suas atividades do “Museu Histórico Nacional, o Museu Nacional de Belas Artes e outros museus nacionais de coisas históricas ou artísticas, que forem criados” (BRASIL, 1937, art. 46, § 3o): O Museu Histórico Nacional é tratado como estabelecimento remetido à guarda, conservação e exposição das relíquias referentes ao passado do País e pertencentes ao patrimônio federal. Art. 48. Fica criado o Museu Nacional de Belas Artes, direcionado a recolher, conservar e expor as obras de arte pertencentes ao patrimônio federal (BRASIL, 1937, art. 37). O Decreto-lei no 25, de 30 de novembro de 1937, regulamentou também o ato de tombamento de bens móveis e imóveis, designando o SPHAN como o órgão competente para gerir essa política. Cabe ressaltar que nessa primeira estruturação não foi definido na instituição um regimento interno, o que foi previsto foi o cargo de diretor (BRASIL, 1937, art. 72). Mas, só em 1946, a instituição já denominada como “Diretoria” passou a ter um regimento interno, de forma que os cargos técnicos foram sendo ocupados com a figura dos representantes. Grande parte desses cargos foram preenchidos por intelectuais ligados ao movimento modernista, remunerados por determinado período em função da necessidade de realização de pesquisas e inventários em diversas regiões do Brasil. 37 PATRIMÔNIO NO BRASIL │ UNIDADE II A ação de tal projeto, que propunha a instituição do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), foi consentida pelo Presidente Getúlio Vargas em abril de 1936 e a promulgação do Decreto-Lei no 25 aconteceu em novembro de 1937, finalmente organizando a proteção do patrimônio histórico e artístico nacional e encarregando a federação desta. Indiscutivelmente, o Decreto-Lei no 25 foi sendo modificado ao longo do tempo, sendo aprimorado e ampliado em sua aplicabilidade, no entanto sempre foi mantido: » As publicações técnicas. » As iniciativas educativas. » O incentivo a exposições. » O incentivo aos tombamentos. Ao SPHAN então competia: » Esmiuçar, classificar, tombar e conservar/preservar monumentos, obras, documentos e objetos com valor histórico e artístico existentes no Brasil. » Cadastrar sistematicamente e proteger os arquivos estaduais, municipais, eclesiásticos e particulares, cujos acervos interessassem à história nacional e à história da arte do Brasil. » Tomar providências a fim do enriquecimento do patrimônio histórico e artístico nacional. » Proteger os bens tombados consoante o Decreto-Lei no 25, de 1937 e, bem assim, fiscalizá-los extensivamente ao comércio de antiguidades e de obras de arte tradicional do país, para os fins estabelecidos no citado Decreto-Lei. » Metodizar e orientar as atividades dos Museus federais que lhe fossem subordinados, prestando assistência técnica aos demais. » Estimular e orientar no país a organização de museus de arte, história, etnografia e arqueologia. 38 UNIDADE II │ PATRIMÔNIO NO BRASIL » Produzir exposições temporárias de obras de valor artístico, assim como de publicações e quaisquer outros empreendimentos que pudessem difundir, desenvolver e apurar o conhecimento do patrimônio histórico e artístico nacional. Em 1970, ao ganhar nova estruturação e novo regimento interno o SPHAN foi mais uma vez sendo modificado e foi sendo transformado no Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o IPHAN. Neste aspecto, o IPHAN, como uma autarquia federal, corresponde atualmentede forma direta ao Ministério da Cultura e tem como finalidades fundamentais a promoção e coordenação do processo de preservação do patrimônio cultural brasileiro, com suas atividades compreendidas para: » A verificação, restauração/preservação e revitalização dos monumentos, sítios e bens móveis. » A catalogação e documentação dos bens culturais e naturais. » A inserção das diversas comunidades brasileiras no desejo e no esforço para a preservação da identidade e do patrimônio cultural do país. » A restituição ao público usuário dos resultados dos trabalhos, pesquisas e registros realizados por meio de museus, publicações, exposições etc. De acordo o IPHAN (2014), tudo sempre aconteceu com o objetivo de sensibilizar a população sobre “a relevância e o valor do acervo protegido pelo órgão” (IPHAN, 2014). 39 CAPÍTULO 3 Constituição de 1988 É necessário recorrermos e compreendermos um pouco da história que antecede a nossa Carta Magna, a Constituição de 1988, dessa forma, vemos inicialmente que a preocupação dos seres humanos com a preservação de vestígios do seu passado não é um fenômeno recente. No campo da arqueologia, é conjecturado que as pinturas deixadas pelos homens da pré-história em locais acolhidos dentro de cavernas integram prova de uma primeira e deliberada tentativa de se legar para a posterioridade um testemunho da existência de gerações coevas e de seus feitos. Uma primitiva forma de “assegurar” as coisas julgadas necessárias pelos homens de antigamente. Dessa maneira, vemos que no âmbito do Direito, o imperador romano Alexandre, no século III, aplicava multas a quem comprasse uma casa com a intenção de demoli-la. No Império Romano, havia um código de posturas a fim de observar a conservação da imagem da cidade. Anos depois, em 1162, o Senado Romano instituiu proteção para a Coluna de Trajano (construída em 114 D.C) e determinou que “aquele que atentar contra ela será sentenciado aos piores castigos e os seus bens serão confiscados”. Tratando-se no Brasil, especialmente, o primeiro resquício de preocupação governamental com a preservação do patrimônio cultural está datado no ano de 1742, quando o então Vice-Rei, André de Melo e Castro, relatou ao Governador de Pernambuco exigindo a paralisação das obras de transformação do Palácio das Duas Torres, construído por Maurício de Nassau, em um quartel para as tropas locais, época em que foi estipulada a restauração do palácio. Ainda em 1855, o período imperial merece destaque no registro do Aviso de 1855, remetido pelo Conselheiro Luiz Pedreira de Couto Ferraz, que transferia ordens aos Presidentes das Províncias para terem cuidados especiais na restauração dos monumentos, assegurando as inscrições neles gravadas. Sendo assim, apenas em 1933 criou-se o primeiro diploma federal brasileiro tratando do patrimônio cultural. Foi o decreto no 22.928, de 12 de julho daquele ano, que erigiu a cidade de Ouro Preto, em Minas Gerais, a Monumento Nacional e reconheceu “é dever do Poder Público defender o patrimônio 40 UNIDADE II │ PATRIMÔNIO NO BRASIL artístico da Nação e que fazem parte das tradições de um povo os lugares em que se realizaram os grandes feitos da sua história”. Em virtude desse cenário, a Constituição Brasileira de 1934 estabeleceu as bases constitucionais para a defesa do patrimônio cultural nacional, ao instituir a função social da propriedade como princípio (art. 133, inciso XVII) e ao dispor em seu art. 134 que: Os monumentos históricos, artísticos e naturais, assim como as paisagens ou locais particularmente dotados pela natureza, gozam de proteção e dos cuidados especiais da Nação, dos Estados e dos Municípios. Os atentados contra eles cometidos serão equiparados aos cometidos contra o patrimônio nacional. Desde então, a preservação do patrimônio cultural brasileiro esteve presente em todas as constituições subsequentes (1937, 1946, 1967 e EC 01 de 1969). Neste aspecto, percebeu-se que com a promulgação da Constituição de 1988 alcançou-se o mais alto degrau na evolução normativa de proteção a bens culturais em nosso país, posto que a lex máxima, em seu Título VIII que diz respeito Da Ordem Social e o Capítulo III no que diz Da Educação, da Cultural e do Desporto, além da Seção II da Cultura, nos arts. 215 e 216, delineou o conceito, a abrangência, os instrumentos e as responsabilidades pela proteção do patrimônio cultural brasileiro. Art. 216. Integram o patrimônio cultural brasileiro: tanto os bens de natureza material como os imateriais, tomados individualmente ou em agrupamento, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se inserem: I – as maneiras em que se expressam; II – as formas de inventar, agir e viver; III - as criações, artísticas, científicas e tecnológicas; IV - as obras, documentos, objetos, bens edificados, além dos espaços orientados às manifestações artístico-culturais; V - os conjuntos urbanos dentre os quais: arqueológico, paleontológico, ecológico e científico, e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, § 1o O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, 41 PATRIMÔNIO NO BRASIL │ UNIDADE II registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação. § 2o Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da documentação governamental e as providências para franquear sua consulta a quantos dela necessitem.(Vide Lei no 12.527, de 2011). § 3o A lei determinará incentivos para a produção e o conhecimento dos bens e valores culturais. § 4o Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos, na forma da lei. § 5o Ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores de reminiscências históricas dos antigos quilombos. § 6 o Não é de obrigação aos Estados e ao Distrito Federal vincular a fundo estadual de fomento à cultura até cinco décimos por cento de sua receita tributária líquida, para o financiamento de programas e projetos culturais, vedada a aplicação desses recursos no pagamento de: (Incluído pela Emenda Constitucional no 42, de 19.12.2003). I - despesas com pessoal e encargos sociais; (Incluído pela Emenda Constitucional no 42, de 19.12.2003) II - serviço da dívida; (Incluído pela Emenda Constitucional no 42, de 19.12.2003) III - qualquer outra despesa corrente não vinculada diretamente aos investimentos ou ações apoiados. (Incluído pela Emenda Constitucional no 42, de 19.12.2003). Certifica-se, no entanto, como fundamentação teórica o texto constitucional descrito no art. 216, § 1o. c/c 23, III e IV que existe uma imediata corresponsabilização de todos os cidadãos e entidades públicas e privadas na defesa e valorização dos bens culturais, quer na obrigação genérica de non facere, não provocação de danos ao patrimônio cultural, quer no específico chamamento do Estado às suas responsabilidades de promoção cultural. Logo, observa-se que a constituição ampara o direito à proteção e fruição do patrimônio cultural sob a forma de interesse difuso (necessidade comum a conjuntos indeterminados de indivíduos), que somente pode ser satisfeita numa perspectiva comunitária, vez que o patrimônio cultural, 42 UNIDADE II │ PATRIMÔNIO NO BRASIL enquanto valor inadequado, pertence a todos ao mesmo tempo em que não pertence, de forma individualizada, a qualquer pessoa. A proteção conferida aos bens culturais independe da natureza de sua propriedade. Ficam eles submetidos a um especial regime jurídico em razão do interesse público que sobre eles repousa. Sob o entendimento dos reflexos jurídicos, a constitucionalização da defesa do patrimônio cultural brasileiro traz repercussões extremamente importantes, seja de ordem substantiva seja formal. Diagrama 3. Ordens importantes de repercussão das representações jurídicas.
Compartilhar