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Brasília-DF. 
Órgãos de Preservação do Patrimônio 
e LegisLação de Conservação
Elaboração
André Augusto Araújo Oliveira
Jackson Moreira Souza
Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
Sumário
APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 4
ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 5
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7
UNIDADE I
PRIMEIROS TEÓRICOS DA CONSERVAÇÃO ............................................................................................ 9
CAPÍTULO 1
RECRIAÇÃO: EUGÈNTE E. VIOLLET-LE-DUC ................................................................................ 9
CAPÍTULO 2
CONSERVAÇÃO: JOHN RUSKIN .............................................................................................. 14
CAPÍTULO 3
ARTISTICIDADE: CESARE BRANDI ............................................................................................. 19
UNIDADE II
PATRIMÔNIO NO BRASIL ...................................................................................................................... 31
CAPÍTULO 1
INSPETORIA DE MONUMENTOS NACIONAIS (IMN) .................................................................... 31
CAPÍTULO 2 
PATRIMÔNIO NO BRASIL ......................................................................................................... 35
CAPÍTULO 3
CONSTITUIÇÃO DE 1988 ........................................................................................................ 39
UNIDADE III
QUEM PROTEGE E FISCALIZA O PATRIMÔNIO? OS ÓRGÃOS DE PRESERVAÇÃO NO BRASIL .................... 50
CAPÍTULO 1
O TOMBAMENTO .................................................................................................................... 50
CAPÍTULO 2
UNESCO (MUNDIAL) ............................................................................................................... 57
CAPÍTULO 3
IPHAN (NACIONAL) ................................................................................................................. 62
UNIDADE IV
LEGISLAÇÃO DE PRESERVAÇÃO NO BRASIL ......................................................................................... 73
CAPÍTULO 1
A PREMISSA CONTEMPORÂNEA A RESPEITO DA RESTAURAÇÃO ............................................... 73
CAPÍTULO 2
AUTENTICIDADE X INTEGRALIDADE .......................................................................................... 77
CAPÍTULO 3
A DOCUMENTAÇÃO E O INVENTÁRIO DE BENS ....................................................................... 80
REFERÊNCIAS ................................................................................................................................. 95
5
Apresentação
Caro aluno
A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se 
entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. 
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela 
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da 
Educação a Distância – EaD.
Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade 
dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos 
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém 
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a 
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.
Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo 
a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na 
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.
Conselho Editorial
6
Organização do Caderno 
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em 
capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos 
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar 
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para 
aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.
A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos 
Cadernos de Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes 
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor 
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita 
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante 
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As 
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Sugestão de estudo complementar
Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, 
discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.
Atenção
Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a 
síntese/conclusão do assunto abordado.
7
Saiba mais
Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões 
sobre o assunto abordado.
Sintetizando
Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o 
entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.
Para (não) finalizar
Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem 
ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.
8
Introdução
Sejam muito bem-vindos à disciplina Órgãos de Preservação do Patrimônio e 
Legislação de Conservação! É com grande alegria que lhes convido para juntos 
adentrarmos nesta jornada histórica de leis e decretos. Nosso módulo foi 
construído com muito carinho, com o objetivo de proporcionar sempre o melhor 
para que os estudos sejam feitos com maior qualidade.
Nessa percepção, será destacada a análise das bases teóricas associadas às 
práticas de Conservação, em seguida abordando o Patrimônio no Brasil com suas 
inspetorias, secretarias e a constituição, faremos uma parada de descanso para 
compreendermos quem e/ou quais são os órgãos de proteção e fiscalização do 
Patrimônio aqui no Brasil, e, por fim, aportaremos no descampado das legislações 
que vigoram em nosso país.
Essa disciplina está planejada e desenvolvida em quatro unidades, nas quais os 
tópicos de sua ementa estarão contemplados e desenvolvidos em seus conteúdos 
específicos. O intuito é torná-lo um profissional capacitado.
Assim, estruturamos nossa disciplina especialmente para você! Leia com atenção 
o material e busque se aprofundar nos assuntos propostos. Isso será de suma 
importância, pois lhe auxiliará na otimização do custo sistêmico, da inovação, 
criação e gerenciamento do conhecimento, fortalecendo-o técnica e esteticamente.
Esperamos que tenha uma boa jornada e que aproveite bastante o conhecimento 
disponibilizado.
Objetivos 
 » Apresentar as normas e leis existentes de proteção e preservação dos 
bens culturais.
 » Desenvolver entendimento global da historicidade arquitetônica do 
território brasileiro.
 » Compreender o processo histórico da evolução patrimonial no mundo.
 » Um discente interessado e estimulado é capaz de, com suas próprias 
habilidades, trilhar rumos diferentes aos designados pelo docente, 
auferindo assim resultados maiores e engrandecendo as aulas. 
Bons estudos!
9
UNIDADE IPRIMEIROS TEÓRICOS 
DA CONSERVAÇÃO
CAPÍTULO 1
Recriação: Eugènte E. Viollet-le-Duc
Figura 1. Eugènte E. Viollet-Le-Duc.
Fonte: disponível em https://bit.ly/2QYa926.
Iniciamos nossa busca a partir do entendimento de quemfoi Eugènte E. 
Viollet-Le-Duc. Nascido em Paris, aos 27 de janeiro de 1814, e falecido 
em Lausana, aos 17 de setembro de 1879, foi um grande arquiteto francês, 
considerado um dos primeiros teóricos da preservação do patrimônio 
histórico, ligado à arquitetura revivalista do século XIX podendo também 
ser considerado como um precursor teórico da arquitetura moderna.
Suas atividades como arquiteto iniciaram em 1830, quando começou 
a trabalhar com Huvé e Leclère. No ano de 1836, teve sua significativa 
participação na restauração das obras em Saint Chapelle, esta pesquisa foi por 
10
UNIDADE I │ PRIMEIROS TEÓRICOS DA CONSERVAÇÃO
ele considerada como um laboratório empírico. A partir daí, outros trabalhos 
foram desenvolvidos por Le-Duc, como em: 1840 a Igreja de Vézelay; 1844 
Notre-Dame de Paris e Carcassone; 1846 Saint-Sernin de Toulouse; e, em 
1849, Amiens. Viollet-Le-Duc foi, em 1853, nomeado Inspetor Geral dos 
Edifícios Diocesanos, sendo responsabilizado pela tutela de várias igrejas em 
toda a França.
Portanto, é em virtude aos fatos mencionados, e por meio dessas várias 
atividades, que Le-Duc consolida sua produção intelectual neste contexto de 
pesquisas intensas, resultando numa linha de ação, de produção intelectual e 
de teorias sobre restauração, as quais vão se consolidando, transformando-se 
no que se conhece como “restauração estilística”, sabendo-se, ainda, que esse 
processo se baseia na unidade formal e estilística das edificações, buscando 
criar um modelo idealizado na “pureza” de seu estilo.
Esse modelo idealizado por Viollet-Le-Duc é de um sistema teórico que se 
apresenta a partir da relação entre os elementos da estrutura, forma e função, 
buscando a lógica do conjunto arquitetônico dando proporção a um sistema 
de formação característico a um tipo de modelo que serviria como base para 
seus projetos de intervenção e restauração.
Dessa maneira, o formato metodológico, criado por Le-Duc em seus trabalhos, 
muitas vezes era a obtenção final da intervenção que apresentava uma 
obra completamente diferente da original, sua crença era que ao dominar 
o sistema construtivo da edificação e conhecendo profundamente seu estilo 
arquitetônico, conseguiria atingir plenamente os objetivos de um processo 
de restauração, assim estava pautado seu estilo arquitetônico. Para este 
teórico, era necessário realizar a compreensão das formas do passado em 
suas instâncias formais e espaciais, estas auxiliariam de base para justificar 
os problemas da arquitetura contemporânea.
Entende-se, assim, que restaurar uma edificação não é mantê-la, repará-la 
ou refazê-la, é restabelecê-la para uma nova configuração, recriando um atual 
modelo. Com isso, Viollet-Le-Duc formulou este postulado a partir de 
seu sistema de ação. A fundamentação de sua prática profissional intensa 
inspirou as ações intervencionistas de muitos países europeus.
No século XIX, o programa de restauração seguido pela Comissão de 
Monumentos Históricos passou a admitir que os edifícios fossem restaurados 
11
PRIMEIROS TEÓRICOS DA CONSERVAÇÃO │ UNIDADE I
no estilo original de sua aparência e estrutura. Dessa forma, vê-se que 
a comissão se dedicou, de maneira especial, às edificações em estilo 
Gótico que peculiarmente se apresentavam por levarem décadas para serem 
construídas. Como efeito, se tornou inevitável o uso de mais de uma técnica 
construtiva na mesma edificação, bem como a realização de acréscimos e 
modificações parciais no projeto.
Nesta perspectiva, Viollet-Le-Duc e a Comissão de Monumentos Históricos 
desenvolveram uma metodologia rigorosa de análise e classificação com o 
objetivo de estabelecer visivelmente a idade e as etapas de construção do 
bem construído. O resultado da aplicação deste método é um relatório que 
respalda uma enorme quantidade de peças gráficas, tendo por objetivo 
documentar e inventariar o patrimônio sujeito à intervenção.
A visão defendida pelo pensamento de Viollet-Le-Duc era de que todas as partes 
retiradas de um monumento precisassem ser alteradas por partes equivalentes de 
um bom material, adotando meios mais eficazes. Neste aspecto, é afirmado que 
o bom senso do arquiteto substitui as tesouras de madeira de uma cobertura, já 
deteriorada e infestada por insetos, por uma em ferro de igual desenho e proporção, 
por exemplo.
A funcionalidade deste pensamento no que tange à reutilização das edificações 
era defendida atribuindo usos concretos enquanto arquiteturas, com a 
finalidade de torná-las úteis à sociedade. Viollet-Le-Duc, de certa forma, 
organizou uma nova compreensão de restauração que até hoje se reflete nos 
pensamentos da atualidade.
Sua proposta de recuperação dos edifícios reporta-se ao conceito de estilo, 
entendido como uma realidade histórico-formal coerente e unitária circunscrita 
no tempo e bem definida nas suas características físicas. Dessa forma, a expressão 
direta de uma época, ou melhor, seu estilo, representa um momento histórico, o 
que passa a autorizar a hipótese da reconstrução de partes não mais existentes. 
Sendo assim, e com base nisso, o estilo e a teoria de Viollet-Le-Duc passam a ser 
conhecidos como “restauro estilístico” ou ainda “Teoria do Restauro Estilístico”, 
isto é, tem-se que através dela, cada elemento arquitetônico se subordina ao 
conjunto, contribuindo para a unidade do edifício.
Dessa forma, muitos entendiam que o método usado por Le-Duc era conexo à 
Teoria de Georges Couvier, naturalista e paleontólogo, o qual acreditava que a 
12
UNIDADE I │ PRIMEIROS TEÓRICOS DA CONSERVAÇÃO
partir de apenas um osso se reconstituiria todo um esqueleto. Viollet-Le-Duc 
valia-se também deste preceito, crendo que por meio apenas do perfil do 
edifício, conseguiria reconstituí-lo completamente.
Le-Duc estudava a fundo todo monumento que lhe era confiado, não intervindo 
hipoteticamente. Dessa forma, conseguia realizar detalhados levantamentos, usando 
desenhos, fotografias, e textos, procurando entender a lógica da concepção 
do projeto. Neste sentido, analisava também edifícios do mesmo período 
de construção, qual técnica fora utilizada, as formas características, as 
linguagens; na busca sempre de um coeficiente comum que lhe fornecesse 
conclusões para a recuperação do monumento em questão.
Giovanni Carbonara (1997, p. 141) ressalta que a postura de Viollet-Le-Duc 
parece transformar com a continuidade de suas ações. Passa de uma intervenção 
mais cautelosa, de caráter conservativo, para uma atuação mais livre e radical 
de recomposição e reconstrução. Como se fosse possível inferir a ocorrência 
de uma maior liberdade de ação, a partir da prática mais intensa.
A conservação/preservação do patrimônio cultural amplia diversas 
concepções daquilo que é considerado monumento histórico. 
Em relação aos bens arquitetônicos esse debate associa-se 
intimamente com uma de suas características intrínsecas, o uso: 
“A arquitetura é a única, entre as artes maiores, cujo uso faz 
parte de sua essência e mantém uma relação complexa com suas 
finalidades estética e simbólica” (CHOAY, 2001, p. 230).
Salienta-se que diversas reflexões são suscitadas pela funcionalidade de uma obra 
arquitetônica, pois, além de seu papel simbólico relativo às representações 
sociais, é reconhecidamente ampla a necessidade de uma destinação útil para 
a preservação de qualquer bem, já que o abandono é um dos principais agentes 
da degradação dos monumentos. Contudo, a imposição de uma destinação 
incongruente amplia o risco de sua destruição.
Desse modo, o levantamento dos usos de um determinado bem passa a 
ser extremamente necessário e importante para o campo da preservação 
arquitetônica, tanto que vem sendo abordado por vários teóricos, principalmente 
a partir da segunda metade do século XIX, quando abandona a relação exclusiva 
com as interferências de grandeza prática e outros valores introduzidos à 
discussão, tornando-a um ato cultural, a conhecer:
13
PRIMEIROS TEÓRICOS DA CONSERVAÇÃO │ UNIDADE I
Fluxograma 1. Cultura.Formal 
Monumentais
Simbólicos
Históricos
Fonte: Próprio autor.
Apesar de se tratar de uma técnica exaustiva em relação ao estudo de um 
monumento, sabe-se da sua importância para a contribuição nos estudos 
desenvolvidos nas técnicas de preservação, assim sendo, as intervenções de 
Le-Duc eram muito incisivas neste contexto e acabavam, muitas vezes, entrando 
no campo da criação, supondo elementos que talvez nunca existiram naquele 
edifício. Buscava-se chegar em uma reformulação ideal de um determinado 
projeto.
Segundo Viollet-Le-Duc (2000, p. 65) “o melhor meio para conservar um edifício 
é encontrar para ele uma destinação, e satisfazer tão bem todas as necessidades 
que exigem essa destinação, que não haja modo de fazer modificações”.
Portanto, muitas vezes partes autênticas do edifício eram alteradas por 
serem consideradas em mau estado e, por muitas vezes, não se respeitaram 
modificações feitas posteriormente. Dessa maneira, a postura intervencionista 
de Viollet-Le-Duc defendia contundentemente a necessidade de um uso às 
edificações.
14
CAPÍTULO 2
Conservação: John Ruskin
Comunitariamente, é sabido que os bens culturais são produtos concretos do 
homem que resultam da capacidade deste em conviver com o meio ambiente, 
tais como objetos artísticos ou mesmo históricos.
Fluxograma 2. Objetos artísticos.
 
 
Construções 
Obras 
plásticas 
Obras 
literárias 
Obras 
musicais 
Fonte: Próprio autor.
Neste contexto, tais bens passam a testemunhar a cultura humana 
materialmente sendo importantes para o conhecimento da história das 
civilizações bem como para que os povos contemporâneos possam ver seu 
passado refletido nesses objetos, construindo, assim, sua identidade. 
Desta maneira, entendemos que a memória social depende da forma 
pela qual os elementos do passado estão e são ativos no presente bem 
como protegidos. Funari (2000, p. 30) diz que “não há identidade sem 
memória, como diz uma canção catalã: ‘aqueles que esquecem suas 
origens, abandonam sua identidade também’”.
Ao fazermos um estudo histórico da humanidade, veremos que desde 
tempos remotos há uma preocupação em proteger os bens culturais da 
degradação, consoante apontamento de Elias (2002 p. 16).
15
PRIMEIROS TEÓRICOS DA CONSERVAÇÃO │ UNIDADE I
Assim sendo, na idade antiga, entre 3400 a.C. ao ano 476 d.C., temos como 
exemplo a civilização egípcia que mirava manter o corpo físico de seus líderes, 
neste caso, os faraós intactos, por meio da mumificação, após a sua morte.
Você sabia que a mumificação é um processo no qual o cadáver é 
submetido a um processo de embalsamamento com a utilização do sal 
como elemento conservativo?!
Há ainda na antiguidade relatos deixados em diferentes textos que fazem 
referência à civilização romana sobre o uso de técnicas voltadas para a 
satisfatória manutenção física dos bens culturais – como o relato feito por 
Plínio acerca da limpeza executada em Roma na obra Ato Trágico com 
Apolo, de Aristides, no ano 13 a.C. Elias (2002, p.16) ratifica que Roma 
dava grande importância à longevidade de seus bens culturais.
Já entre 476 e 1453, período medieval, na Europa, o elemento primordial 
de identidade cultural foi encarnado pela Igreja Católica, que dominava 
toda a sociedade tanto culturalmente como economicamente e/ou mesmo 
socialmente. O desejo de manutenção do poder para a igreja era 
interessante, pois transmitia e perpetuava suas regras, inclusive por meio 
de suas bibliotecas e da longevidade física dos materiais nelas existentes.
Entretanto, foi entre os séculos XVII e XVIII que se iniciaram pesquisas 
buscando compreender o que causava degradação. Elias (2002) diz que 
neste período, Carlo Maratta, pintor-restaurador, começou a estudar meios 
que evitassem problemas de deterioração em pinturas. Mas, foi no século 
XVIII que descobertas arqueológicas grandiosas ocorreram:
 » Pompéia em 1748.
 » Herculano em 1738.
 » Numerosas tumbas egípcias.
Vale, contudo, darmos um salto histórico para observarmos que, em 1789, com a 
Revolução Francesa, sob o lema Igualdade, Liberdade, Fraternidade, a burguesia 
assume o poder da França, rompendo com o desenvolvimento e manutenção do 
Antigo Regime feudal e retirando as regalias da Nobreza e Clero. (REVOLUÇÃO 
FRANCESA, 2003).
Segundo Funari (2004, p. 20), através deste momento é que acontece a laicização 
do conceito de bem cultural, o qual passa a se referir ao interesse público que 
16
UNIDADE I │ PRIMEIROS TEÓRICOS DA CONSERVAÇÃO
implica numa limitação ao direito de propriedade em nome do coletivo, gerando, 
assim, uma nova concepção que dá início à noção de patrimônio público.
No século XVIII, com a revolução industrial que teve início na Inglaterra, 
tendo como característica a passagem da manufatura à indústria mecânica, 
houve a possibilidade da ascensão da burguesia às esferas de poder, o que 
produziu transformações econômicas e políticas que modificaram a atitude dos 
colecionadores de arte, resultando na entrada das classes menos favorecidas 
no mundo cultural. Vemos, neste sentido, que a revolução industrial promoveu 
o enriquecimento cultural de todas as classes sociais e propagou princípios 
científicos e culturais graças às novas técnicas de impressão, aumentando o 
interesse das diferentes classes sociais pela educação.
Para Hernampérez (2003), a ciência permitiu ao povo a possibilidade de ver 
o mundo de uma maneira diferente: mais progressiva, racional e harmônica. 
Nesta etapa, apareceram novas ciências com campos de ação nitidamente 
definidos e com metodologia própria de trabalho. Nesse contexto, vê-se surgir 
o aprimoramento das técnicas da restauração, a conservação de bens culturais e 
nela, embrionariamente, a conservação preventiva.
Diagrama 1. John Ruskin.
 
 
Construções Obras musicais
Obras 
plásticas
Obras 
literárias
Fonte: Próprio autor. 
É nesta ocasião que temos a percepção a respeito do pensamento e do trabalho de 
John Ruskin, crítico de arte, escritor, sociólogo e um apaixonado pelo desenho bem 
como pela música, nascido em 08 de fevereiro de 1819 em Londres, e falecido em 20 de 
janeiro de 1900.
Como um dos personagens principais para a construção do pensamento sobre 
conservação, representa a teoria romântica, ou melhor, a teoria da restauração 
romântica em que defendia a intocabilidade do monumento degradado.
17
PRIMEIROS TEÓRICOS DA CONSERVAÇÃO │ UNIDADE I
Ruskin era partidário da autenticidade histórica, pois acreditava que os 
monumentos medievais que representavam o antigo deveriam ser mantidos 
sem modificação alguma, tendo a destruição como uma ideia em si mesma bela, 
para Elias (2002), ele defendia que:
Quando chegar o momento em que perecimento do bem edificado 
[e acreditando que] o ato de restaurar é tão impossível quanto o 
ato de ressuscitar os mortos.(...) Elaborado dentro de uma severa 
educação religiosa anglicana, ele parte da princípio de que o 
homem, ao nascer, recebe em depósito bens que na realidade 
não lhe pertencem, dessa forma, deve fazer deles uma utilização 
respeitosa, já que deverá prestar contas a quem o construiu e à 
humanidade vindoura (ELIAS, 2002, p. 27). 
De maneira indireta, para Koller (1994, p. 37) Ruskin deu os primeiros passos na 
direção da conservação preventiva quando defendeu que as pedras de um edifício 
ancestral deveriam ser cuidadas como as jóias de uma coroa e que esse edifício 
tratado com ternura e com respeito veria nascer e desaparecer à sombra de seus 
muros mais de uma geração.
Dessa forma, entende-se que Ruskin privilegiava a integridade e autenticidade 
física do bem, atentando para o fato de que a vigilância de um velho edifício o 
salvaria de quaisquer causas de degradação, pois havia os melhores cuidados 
possíveis.
Mas, para Elias (2002), foi entre os anos de 1836 a 1914 que Camilo Boito 
aperfeiçoou as ideias de Ruskin, quando relacionou a teoria de John Ruskin à 
necessidade do restauro, prolongando a vida dos bens culturais por meio de vários 
procedimentos.
Neste sentido,compreendemos que a repercussão das ideias de Ruskin adquirem 
maior relevância em:
 » 1849 a partir do livro The Seven Lamps of Architecture – lançado cinco 
anos antes do primeiro tomo do Dictionnaire de Viollet-Le-Duc.
 » 1853 com The Stones of Venice – onde relatou sua apologia ao “ruinísmo” 
como um devoto às construções outrora, pregando o total e absoluto 
respeito à matéria original das edificações.
Acreditava Ruskin que a conservação da arquitetura do passado, como expressão 
de arte e cultura, permitiria que entendêssemos a relação existente entre os estilos 
18
UNIDADE I │ PRIMEIROS TEÓRICOS DA CONSERVAÇÃO
arquitetônicos e as técnicas construtivas como o resultado do fruto do trabalho 
de determinada cultura, usando a história dessas construções como o meio de 
comunicação dos processos de crescimento cultural.
Nesta perspectiva, assegurar vivo o testemunho cultural do passado no cotidiano 
viabiliza aos indivíduos a identificação nos espaços urbanos, e, nos monumentos 
históricos, os marcos referenciais de identidade e de memória.
Portanto, na ideia de Ruskin as edificações pertenciam ao seu “primeiro construtor”, 
ou seja, a população de determinada localidade se tornava herdeira desses bens 
culturais, estabelecia uma relação de compromisso social entre a presente e as 
futuras gerações para a preservação das edificações históricas em sua concepção 
original, evitando, assim, atos de negligência e descaso. Segundo ele, a integridade 
das edificações, como um conjunto formal e técnico-construtivo, se torna o bem de 
maior valor que se pode legar às novas gerações. Sendo essa herança o mecanismo 
responsável por transferir, ao espaço construído, os sentimentos de pertencimento e 
apropriação de seus valores memoriais.
19
CAPÍTULO 3
Artisticidade: Cesare Brandi
De acordo com a historiografia da preservação e do restauro é atribuído ao 
historiador Cesare Brandi um papel primordial. Suas enunciações são 
estimuladas pelas investigações acontecidas da própria prática de restauro e 
alimentadas pelas buscas nos campos da Estética e da História da Arte. Neste 
contexto, o eminente caráter cultural dos estudos sobre a restauração recebeu 
um grande e decisivo impulso.
Os fatos e teorizações postos pelo autor estão reunidos na obra Teoria da 
Restauração, os quais trazem uma repercussão por meio das elaborações 
conceituais vinculadas ao chamado “restauro crítico” que a partir de reflexões 
sólidas adensam pautas que valorizam os atributos artísticos dos bens 
patrimoniais, assim como pelas condições de sua apreciação e recepção.
Entretanto, é necessário destacar que existe um período na história do 
restauro marcado pela II Guerra Mundial que afetou a Europa no século 
XX. Na fase da guerra, muitas cidades ficaram completamente destruídas, 
consequentemente, a maioria das construções existentes foram totalmente 
arruinadas e outras ficaram com marcas de destruição profundas, geradas 
por incêndios e pelos efeitos bélicos, frente à desastrosa degradação de 
monumentos históricos com valor artístico e cultural, surgiu a necessidade 
de inovar em relação à conservação com intervenção mínima dos princípios 
da Carta de Atenas. Logo, o sentimento pelo valor artístico do monumento 
destruído supera o valor histórico.
Um dos protagonistas de teorias de restauro, inclusive pela publicação do 
seu livro Teoria do Restauro, Cesare Brandi, passa a se preocupar com o 
problema e trabalha no sentido de ampliar o conceito, de modo a adaptá-lo 
às novas exigências.
20
UNIDADE I │ PRIMEIROS TEÓRICOS DA CONSERVAÇÃO
Figura 2. Cesare Brandi.
Fonte: disponível em https://bit.ly/2Vmugtm.
Nascido em 08 de abril de 1906, na cidade de Siena, e falecido em Vignano 
em 19 de janeiro de 1988, Cesare Brandi é tido como um dos nomes principais 
da restauração de objetos de arte.
Suas ideias conhecidas por Restauro Crítico, o faz defender que os valores 
artísticos prevalecem sobre os históricos, afirmando que “A consistência 
física da obra de arte deve ter necessariamente prioridade porque assegura a 
transmissão da imagem ao futuro”.
Brandi, em seu conceito de restauro, extrai dois axiomas:
 » 1o : restaura-se somente a matéria da obra de arte. Fazendo 
referência aos limites da intervenção restauradora, que leva 
em conta que a obra de arte, em sua acepção, é um ato mental 
manifestado a partir da imagem por meio da matéria e é sobre esta 
matéria que se degrada, que se intervém e não sobre esse processo 
mental, no qual é impossível agir.
 » 2o : a restauração visa ao restabelecimento da unidade potencial 
da obra de arte, desde que isso seja possível sem cometer um falso 
artístico ou um falso histórico, e sem cancelar nenhum traço da 
passagem da obra de arte no tempo, buscando com a restauração a 
unidade potencial da obra.
21
PRIMEIROS TEÓRICOS DA CONSERVAÇÃO │ UNIDADE I
Brandi (2004), em sua teoria da restauração, observa o restauro como um ato 
crítico direcionado ao reconhecimento da obra e de sua individualidade, por meio 
de criteriosos estudos sobre História da Arte e Estética.
Neste sentido, Brandi evidencia que a priorização do caráter artístico do 
monumento demanda o delineamento interpretativo desde os desafios 
interpostos pelas destruições da Segunda Guerra e do consequente limite 
operativo atribuído ao restauro científico.
Sua defesa é que qualquer intervenção em uma obra de valor artístico deverá 
ser precedida pelo reconhecimento desta obra de arte enquanto tal. Existe, por 
conseguinte, um elo indissolúvel entre o restauro e a própria obra, simplesmente 
pelo fato de a obra de arte motivar a restauração e não o oposto.
Ainda é esclarecido que a apreensão da obra, por se tratar de um produto da 
atividade humana, pressupõe a observância de sua dúplice instância:
 » A estética, que corresponde à qualidade do artístico pelo qual a obra é 
obra de arte.
 » A histórica, que lhe confere, como um produto humano realizado, a 
especificidade de um dado tempo e lugar.
Dessa maneira, a teoria brandiana ao abordar, especialmente, aspectos 
relacionados à qualidade do artístico nas obras patrimoniais, oferece ricos 
subsídios para o aprofundamento do debate em torno da preservação e do 
restauro de bens culturais, seja na relação a um único monumento, móvel ou 
imóvel, seja também na relação à atuação sobre ambientes inteiros, abordados 
pelo autor como monumentos coletivos.
Assim, devemos considerar a restauração como uma oportunidade, por sua 
própria importância de que é revestida justamente pela instância histórica, 
deva ser sempre resolvida do ponto de vista figurativo de modo a não infringir, 
por excesso de escrúpulo arqueológico, “a própria unidade que se visa a 
reconstruir” (BRANDI, 2004: 47);
Segundo Rufinoni (2013, p. 112 et al.), as análises de Brandi ofertavam novos 
argumentos para o entendimento dos atributos patrimoniais da constituição 
urbana, considerando seus aspectos materiais e figurativos.
Deve-se extrair, de acordo as considerações de Brandi, quatro fundamentais 
proposições:
22
UNIDADE I │ PRIMEIROS TEÓRICOS DA CONSERVAÇÃO
 » O restauro é ato crítico, está direcionado ao reconhecimento da obra 
de arte (sem o qual o restauro não é restauro), sendo necessário para 
vencer a retórica das duas instâncias, senso elas: a histórica e a estética.
 » Tratando-se de obras de arte, o restauro pode somente favorecer 
a instância estética (“que corresponde ao fato substancial da 
artisticidade pela qual a obra de arte é apenas obra de arte”; Brandi, 
2004: 30). 
 » A obra de arte é compreendida na sua mais ampla totalidade 
(como imagem e como consistência material, dirimindo-se nesta 
última “também outros elementos intermediários entre a obra e o 
observador”; Brandi, 2004: 40). 
 » O restauro é observado como intervenção acerca da matéria, 
ademais, como salvaguarda das condições ambientais que garantem 
a melhor apreciação do objeto e, quando preciso for, como resolução 
da articulação do espaço físico, no qual tantoobservador quanto a 
obra de arte se colocam, e a espacialidade própria da obra.
Ainda em sua defesa, os mesmos princípios sugeridos para a restauração das 
obras de arte móveis, neste caso, esculturas e pinturas, devem igualmente 
incidir sobre a restauração dos monumentos arquitetônicos. Neste sentido, deve 
ser considerado como obra artística, que a arquitetura usufrui “da dúplice e 
indivisível natureza de monumento histórico e de obra de arte, logo, o restauro 
arquitetônico recai também sob a instância histórica e estética” (BRANDI, 
2004, p.131).
É importante entender o que Brandi estabelece como metodologia para que 
se chegue ao conhecimento dos valores estéticos, históricos e materiais 
individuais da obra de arte preservando e mantendo singularmente sua 
transmissão para o futuro. Dessa maneira, pode-se encontrar diversas formas 
corretas para a prática do restauro, que pode ser a mais simples até a mais 
profunda, desde que preserve a essência primeira do objeto.
Pode-se, assim, compreender que consoante Brandi, um dos princípios 
essenciais da restauração diz respeito à consistência física da obra que 
significa o próprio local da manifestação da imagem, ou ainda, aquilo que a 
transmite e garante a sua conservação e recepção.
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PRIMEIROS TEÓRICOS DA CONSERVAÇÃO │ UNIDADE I
Cartas patrimoniais
É importante compreender que os documentos que contêm definições 
e medidas para ações administrativas e diretrizes de documentação, 
manutenção e restauro de um patrimônio artístico, cultural, histórico, 
promoção da preservação de bens, planos de conservação, são chamadas de 
cartas patrimoniais. 
A finalidade das Cartas Patrimoniais é de orientar bem como uniformizar as 
práticas em torno da proteção aos bens culturais. Para Salcedo (2007, p. 26), 
a finalidade delas são padronizar um discurso do cuidado ao bem cultural. 
Contudo, ao serem elaboradas por grupos de interesses variados, não se atende 
tal perspectiva. Existem, na maioria dos casos, ideias que competem, em suas 
lógicas, com os princípios de veracidade, de restauro do objeto, de inventário, 
de hierarquia, de valores artísticos.
Na definição de Kühl:
as denominadas cartas patrimoniais são documentos – singulares 
aquelas que derivam de organismos internacionais – cujo caráter é 
indicativo ou, no máximo, prescritivo. Compõem base deontológica 
para as diversas profissões envolvidas na preservação, entretanto 
não são receituário de simples aplicação (KÜHL, 2010, p. 287).
Diante disso, as Cartas Patrimoniais são vistas como a dimensão social e temporal 
de sua formulação e a consequente contribuição para preservação de bens culturais.
No que diz respeito às relações sociais cada vez mais complexas, Santos (2011) 
identifica três faces da preservação, onde há interação contínua e nem sempre 
harmônica dos diferentes atores, a exemplo de:
[...] a institucional, mais consolidada e, pelo menos legalmente, 
incontornável, todavia passando pelo desmonte e a burocratização 
de instituições que deixaram de estar direcionadas na produção de 
conhecimento; a acadêmica, que chegou mais tarde, centrada em 
referências teóricas internacionais e na produção de conhecimento, 
às vezes incrédula, porque estando desvinculada da “prática 
tradicional”; e a face de mercado, que vem se ampliando, e na 
maior parte das vezes não leva em consideração a experiência e a 
reflexão das outras duas, justificando-se pela celeridade de prazos 
e resultados (SANTOS, 2011, pp. 249-250).
24
UNIDADE I │ PRIMEIROS TEÓRICOS DA CONSERVAÇÃO
Assim, as cartas patrimoniais incluem documentos formais:
 » Da UNESCO.
 » Dos órgãos de patrimônio instituídos nos países para sua preservação. 
 » Daqueles produzidos por grupos de indivíduos interessados no assunto 
e que se reúnem para discuti-lo e propor regras e normas que melhor 
organizem o setor.
Neste aspecto, ratificam-se que as cartas patrimoniais demonstram uma medida 
de preservação, pois são resultado da discussão entre diversos atores sobre 
determinado aspecto relacionado ao patrimônio, e contribuem para ampliar 
o conhecimento sobre procedimentos e metodologias para sua proteção, 
permitindo que sejam estabelecidas regras a serem cumpridas, procurando a 
padronização das abordagens aos bens culturais.
Vejamos, de maneira sintética, as cartas patrimoniais segundo o IPHAN em 
seus respectivos anos.
Quadro 1. Cartas Patrimoniais.
Ano
Carta e 
Recomendação
Descrição
1931 Carta de Atenas
Contou com o Escritório Internacional dos Museus Sociedade das Nações que traz para o debate questões 
das principais preocupações da época, que envolviam:
 » As técnicas.
 » A legislação.
 » Os princípios de conservação dos bens artísticos e históricos.
O documento mostra a necessidade das organizações trabalharem na atuação e consultas relacionadas à 
preservação e restauro dos patrimônios, garantindo o direito coletivo.
1933 Carta de Atenas
Envolvendo assuntos das novas cidades, em uma época de amplo crescimento urbano. Essa carta 
resultou do Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (CIAM), onde tal manifesto trouxe como 
tema fundamental a cidade funcional, contando com arquitetos e urbanistas renomados, dentre os quais 
destacamos: Le Corbusier. Neste evento, debateu-se o “Urbanismo Racionalista”, a pauta levantada foi sobre 
a infra o planejamento regional, a infraestrutura, a utilização do zoneamento, a verticalização das edificações, 
bem como a industrialização dos componentes e a padronização das construções, buscando novos rumos 
para o urbanismo.
1956
Recomendação de Nova 
Delhi
Resultado da Conferência Geral da UNESCO, a recomendação de Nova Delhi possui um conteúdo que apoia 
princípios internacionais sobre pesquisas e preservação arqueológica, definindo:
 » Programas educativos.
 » Instituição de órgãos governamentais.
 » A proteção do patrimônio arqueológico.
 » Criação de acervo como responsabilidade do Estado.
1962 Recomendação de Paris
Essa recomendação datada em 1962 a Paisagens e Sítios de Paris foi preparada em uma Conferência Geral 
da UNESCO, sendo o primeiro documento que traz um conceito fundamental sobre proteção da beleza e 
do caráter paisagístico, além dos territórios respectivos. Com esta recomendação, o conceito de patrimônio 
cultural se tornou mais amplo, estendendo à beleza e caráter das paisagens e sítios, naturais, rurais ou 
urbanos. 
Ficou evidente a necessidade de estímulo nas áreas da educação e proteção aos bens, complementando as 
medidas de proteção à natureza.
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PRIMEIROS TEÓRICOS DA CONSERVAÇÃO │ UNIDADE I
Ano
Carta e 
Recomendação
Descrição
1964 Carta de Veneza
No II Congresso Internacional de Arquitetos e Técnicos dos Monumentos Históricos, o Conselho Internacional 
de Monumentos e Sítios (ICOMOS) elaborou a carta de Veneza com foco na carência de um plano 
internacional para conservar e restaurar os bens culturais numa ação interdisciplinar.
1964 Recomendação de Paris
Essa recomendação de Paris foi publicada pela UNESCO e trata das medidas de impedir a exportação e a 
importação, mas, também, de proibi-la, além da transferência de propriedade ilícita dos bens culturais. Nela, 
enfatizaram-se questões como:
 » Ações que impeçam operações ilícitas.
 » Colaborações internacionais em acordos.
 » Identificação e inventário dos bens culturais.
 » Legislações para aplicação de medidas administrativas.
 » Instituição de órgãos oficiais adequados para a proteção do patrimônio.
1967 Normas de Quito
Elaboradas no Equador, em Quito, as Normas tratam da conservação e uso tanto dos lugares quanto dos 
monumentos de interesse artístico e histórico. A recomendação era que os projetos de valorização dos 
bens constituíssem os planos de desenvolvimento nacional e que está ação fosse de responsabilidade do 
governo.
A divulgação dos conhecimentos acerca dos bens culturais tem por finalidade a eficiência na preservação 
além dos produtos a serem explorados, bem como, a legislação adequada ou ainda as disposições 
governamentaispara o interesse público.
O documento relatou a necessidade e importância de uma coordenação de projetos por instituto idôneo, 
contando com equipe técnica.
1968 Recomendação de Paris
Diante dos problemas enfrentados com o crescimento das cidades, a Conferência Geral da UNESCO, em 
1968, publicou a recomendação que tratava das Obras Públicas ou Privadas, considerando as intervenções 
urbanas que estivessem relacionadas com a preservação do patrimônio, dentre outras.
Ficou clara neste documento a responsabilidade do governo sobre as medidas de preservação e 
salvamento do patrimônio, assegurando a:
 » Expansão urbana.
 » Renovação urbana.
 » Modificação e reparos.
 » Implantação de barragens e oleodutos.
 » Trabalho de desenvolvimento de indústrias.
 » Alterações ou construções de vias de fluxos grandes.
 » Obras em locais onde os bens possam correr qualquer tipo de perigo de destruição.
1970 Compromisso de Brasília
Sob influência dos documentos internacionais com relação ao patrimônio, o Brasil organizou o 1o Encontro 
dos Presidentes, Governadores de Estado, Secretários Estaduais da Área Cultural, Prefeitos de Municípios, 
Representantes de Instituições Culturais, que teve como resultado, em 1970, o Compromisso de Brasília.
Esse documento baseava-se nos cuidados necessários que se devia ter com o patrimônio cultural brasileiro, 
sugerindo a criação de órgãos estaduais ou mesmo municipais onde não houvesse e que todos deveriam 
estar ligados aos Conselhos Estaduais de Cultura bem como ao DPHAN. 
1972 Cartas do Restauro
Elaborada em 1972, é composta por 12 artigos que propõem diretrizes para intervenções de restauração 
em todos os tipos de obra de arte desde:
 » Centros históricos.
 » Monumentos arquitetônicos.
 » Coleções artísticas e jardins de importância especial.
 » Pinturas e esculturas a conjunto de edifícios de interesse monumental, histórico ou ambiental. 
No documento, a restauração é determinada como qualquer intervenção, direta ou indiretamente, que:
 » Facilita a leitura. 
 » Mantém o funcionamento.
 » Transmite integralmente as obras citadas anteriormente. 
Também, neste documento, são descritos todas as diretrizes, etapas, responsabilidades, trabalhos, técnicas e 
programas para a conservação e restauração de bens artístico-históricos e culturais.
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UNIDADE I │ PRIMEIROS TEÓRICOS DA CONSERVAÇÃO
Ano
Carta e 
Recomendação
Descrição
1972 Declaração de Estocolmo
O documento feito a partir da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, em 
Estocolmo, apontou para a carência de critérios comuns para preservação e melhoria do meio ambiente.
Na Declaração são evidenciados itens como:
 » Políticas ambientais.
 » Educação ambiental.
 » Planejamento urbano.
 » Estabilidade econômica.
 » Desenvolvimento econômico e social.
 » Uso de recursos para a preservação ambiental.
 » Necessidade de utilização consciente dos recursos não renováveis. 
 » Importância de não descartar as substâncias que sejam prejudiciais aos ecossistemas.
 » Mitigação das consequências dos graves problemas de subdesenvolvimento e desastres naturais.
1972 Recomendação de Paris
Consagrada na Conferência Geral da UNESCO, tal documento trata da Proteção do Patrimônio Cultural, 
Mundial e Natural, que propunha um programa de proteção nacional bem como internacional dos bens por 
meio da promoção da consciência de preservação para as gerações do presente e, sobretudo, as futuras.
1973
Anais do II Encontro de 
Governadores
O evento que aconteceu em Salvador só teve o documento publicado em 1973, tratava da defesa do 
patrimônio artístico-histórico, arqueológico e natural brasileiro, a discussão girava acerca da/os:
 » Relação do acervo de valor cultural. 
 » Proteção dos acervos naturais de valor cultural.
 » Monumentos naturais em face da indústria do turismo.
1974
Resolução de São 
Domingos
O I Seminário Interamericano sobre Experiências na Conservação e Restauração do Patrimônio Monumental 
dos períodos Colonial e Republicano (República Dominicana) foi realizado com a Organização dos Estados 
Americanos e Governo Dominicano em 1974. A partir deste evento, foi publicada a Resolução de São 
Domingos que registra os serviços operativos que materializam e tornam possível a defesa dos bens 
culturais.
A Resolução descreve recomendações no:
 » Plano socioeconômico. 
 » Plano da preservação monumental. 
 » Das propostas operativas e do reconhecimento.
1975
Declaração ou Manifesto 
de Amsterdã
Após a reunião dos delegados de diversas partes da Europa, evento que aconteceu em Amsterdã, 
promulgou-se uma Carta Europeia do Patrimônio Arquitetônico que tratava da arquitetura caracteristicamente 
europeia como um patrimônio comum, sendo importante para sua proteção que houvesse a cooperação 
dos países europeus.
1976 Carta do Turismo Cultural
Este documento define o turismo cultural como uma forma de turismo com a finalidade do conhecimento de 
monumentos e sítios artístico-históricos, expressado positivamente, como fato cultural, econômico, humano 
e social. Neste sentido, o turismo cultural passa a incentivar e justificar os esforços para manutenção e 
preservação do patrimônio artístico-histórico.
1976 Recomendação de Nairóbi
O tema central deste documento salvaguarda os conjuntos históricos e sua função na vida contemporânea, 
descrevendo a importância do patrimônio histórico e de sua ambiência, envolvendo, assim, a proteção 
contra:
 » Deterioração e transformação abusivas ou desprovidas de sensibilidade que atentam contra a 
autenticidade.
1977 Carta de Machu Picchu
Propunha uma revisão na Carta de Atenas de 1933, ressaltando e reafirmando a unidade dinâmica das 
cidades bem como a importância do planejamento urbano como instrumento de interpretação e realização 
das necessidades da população.
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PRIMEIROS TEÓRICOS DA CONSERVAÇÃO │ UNIDADE I
Ano
Carta e 
Recomendação
Descrição
1980 Carta de Burra
Fundamentada nos conhecimentos dos membros do ICOMOS, este documento traça linhas que orientam 
e conservam a gestão dos sítios com significado cultural. O documento, escrito na Austrália, reconhece a 
necessidade do envolvimento das pessoas nos processos de formação das decisões.
Composta por 29 artigos, a Carta elenca questões relacionadas a:
 » Definições de conceitos.
 » Procedimentos de intervenção.
 » Conservação e preservação por meio de manutenção e restauração.
 » Reconstrução dadas às circunstâncias, características de elementos a serem implantados e mantidos bem 
como as exceções.
1981 Carta de Florença
Criada pela ICOMOS, a Carta apontou o cuidado com os jardins históricos, entendendo estes como uma 
composição arquitetônica e vegetal de interesse público.
Possuidores de características que necessitavam de preservação, os jardins históricos tinham:
 » Vegetação.
 » Traçado e topografia. 
 » Mantinham altura, cores, distância, elementos estruturais ou decorativos, espécies e volumes.
A carta ainda defendia a importância de:
 » Identificar.
 » Inventariar e amparar os jardins históricos.
 » Criar medidas legais financeiras para manutenção, conservação e restauro.
1982 Declaração de Nairóbi
Elaborada em 1982, esta declaração foi desenvolvida para comemorar o décimo aniversário da Conferência 
das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano de Estocolmo, recriava e trazia todas as diretrizes e o plano 
de ação que foram descritos na Declaração de Estocolmo.
Por fim, o documento reafirmava:
 » Auxílio ao fortalecimento do programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.
 » Convida toda a população e todos os governos para assumirem suas responsabilidades na garantia de 
vida do planeta.
1982 Declaração de Tlaxcala
Esta declaração, elaborada no 3o Colóquio Interamericano sobre a Conservação do Patrimônio Monumental 
“Revitalização das Pequenas Aglomerações” foi realizada pela ICOMOS, fazia referência aos perigos e 
ameaças ao patrimônio na América, recomendando revitalizações que envolviam:
 » Etapas de pesquisa e prática.
 » Reafirmaçãode responsabilidades de serviços públicos. 
 » Aprimoramento educacional e profissionalização de técnicos restauradores.
1982 Declaração do México
Esta declaração foi elaborada a partir da realização da Conferência Mundial sobre as Políticas Culturais, com 
a finalidade de discutir e conceituar:
 » Cultura. 
 » Identidade cultural.
 » Patrimônio cultural voltado à dimensão cultural.
Destacou-se, também, pela relação entre elementos da sociedade como cultura, educação, ciência e 
comunicação, mas, também, das recomendações que envolvem principalmente a aproximação cultural entre 
os povos.
1986 Carta de Washington
Criada pela ICOMOS é um documento que Salvaguarda as Cidades Históricas, dizendo respeito a:
 » Grandes ou pequenas cidades.
 » Centros ou bairros históricos, com seu ambiente edificado ou natural expressando valores próprios das 
civilizações urbanas tradicionais.
De acordo com esta Carta, qualquer ataque a estes valores tinha como compromisso a autenticidade da 
cidade histórica.
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UNIDADE I │ PRIMEIROS TEÓRICOS DA CONSERVAÇÃO
Ano
Carta e 
Recomendação
Descrição
1987 Carta de Petrópolis
Criada no 1o Seminário Brasileiro para Preservação e Revitalização de Centros Históricos, tratou da questão 
de preservação e consolidação da cidadania reforçando a necessidade de dar ao patrimônio função na vida 
da sociedade.
A carta era composta pelos instrumentos de proteção:
 » Inventário.
 » Tombamento. 
 » Desapropriação.
 » Isenção e incentivos fiscais.
 » Normatizações urbanísticas e a declaração de disposição cultural.
1987 Carta de Washington
Conhecida como Carta Internacional para a Salvaguarda das Cidades Históricas de 1987, o documento 
narra sobre as cidades e centros/bairros históricos que expressavam valores históricos ameaçados, quer por 
degradação, desestruturação ou destruição.
Este documento ainda complementava a Carta de Veneza, de 1964, traçando:
 » Objetivos.
 » Princípios.
 » Métodos e instrumentos que tendem à proteção da qualidade das cidades históricas.
1989 Carta de Cabo Frio
Este documento foi redigido no Encontro de Civilizações nas Américas, o qual comemorou os 500 anos da 
vinda de Colombo América e homenageou o navegador Américo Vespúcio.
1989 Declaração de São Paulo
O tema desta declaração foi a comemoração do 25o aniversário da Carta de Veneza e a análise deste 
documento de 1964, ressaltando a importância da permanência da Carta de Veneza como modelo e fonte 
de consulta.
1989 Recomendação de Paris
Em 1989, a Conferência Geral da UNESCO recomendou a Salvaguarda da Cultura Tradicional e Popular, 
abordando itens para:
 » Difusão.
 » Salvaguarda.
 » Identificação.
 » Conservação.
 » Cooperação e proteção internacional no que se refere à cultura tradicional e popular.
1990 Carta de Lausanne
Criada para a Proteção e Gestão do Patrimônio Arqueológico, esta carta descrevia:
 » Inventários.
 » Informação.
 » Apresentação.
 » Reconstituição.
 » Intervenções nos sítios.
 » Legislação e economia.
 » Qualificação profissional.
 » Cooperação internacional.
 » Preservação e conservação. 
 » Definição e introdução no âmbito das políticas de conservação integrada.
1992 Carta do Rio
Esta carta foi feita na Conferência Geral das Nações Unidas Sobre o Desenvolvimento e o Meio 
Ambiente, reafirmando a Declaração de 1972 aprovada em Estocolmo, apresentando 28 princípios que 
estabeleceriam uma nova aliança e novos níveis de cooperação para alcançar os acordos internacionais 
visando à integridade do sistema ambiental e do desenvolvimento mundial.
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PRIMEIROS TEÓRICOS DA CONSERVAÇÃO │ UNIDADE I
Ano
Carta e 
Recomendação
Descrição
1994 Conferência de Nara
Este evento abarcou a Veracidade em relação à Convenção do Patrimônio Mundial, ocasionando um 
documento que revalidava o valor da autenticidade do patrimônio, assunto que já era discutido na Carta de 
Veneza, em 1964, que visava:
 » Estudos científicos.
 » Planos de conservação e restauração.
1995 Carta de Brasília
No ano de 1995, na cidade de Brasília, é de novo trazido o tema de Autenticidade abordando essa questão 
frente à situação regional de uma cultura de resistência e universalidade, associando a:
 » Autenticidade e o contexto. 
 » Autenticidade e a identidade. 
 » Autenticidade e a mensagem. 
 » Autenticidade e a materialidade. 
 » Categorização e a conservação da autenticidade.
1995 Recomendação da Europa
Criada em 1995, pelo Comitê da Europa, tratava da conservação integrada das áreas de paisagens 
culturais, indicando que os governos adaptassem suas políticas com o objetivo de conservar e evoluir as 
áreas consideradas de paisagem cultural.
Composto por 10 artigos que:
 » Relacionam os objetivos.
 » Relacionam o treinamento e pesquisa.
 » Relacionam a cooperação internacional.
 » A implementação de políticas de paisagem. 
 » Relacionam a estrutura legal ou reguladora.
 » Relacionam o campo da empregabilidade de tal recomendação. 
 » Relacionam os níveis de competência e estratégia de ação.
 » Relacionam a informação e incremento da conscientização. 
 » Relacionam o processo de identificação e a avaliação das áreas de paisagem natural.
 » Associam a proteção legal e conservação dos espaços de paisagem cultural, metodologias específicas 
de proteção, aplicação de medidas específicas de proteção, assim como as medidas específicas para 
conservação e evolução controlada.
1996 Declaração de Sofia
Esta declaração foi elaborada em 1996, na XI Assembleia Geral da ICOMOS, recomendando a:
 » Utilização.
 » Proteção e exploração do patrimônio subaquático.
Os processos deveriam ocorrer por meio da participação da sociedade civil tendo como parceiros o 
Estado, os órgãos do governo e as entidades públicas garantindo a efetiva preservação e desenvolvimento 
equilibrado dos recursos naturais.
1996 Declaração de São Paulo II
Com a finalidade de debater o tema principal da declaração de Sofia, membros do Conselho da ICOMOS 
se reuniram no Brasil, em especial em São Paulo, tendo em vista a necessidade de enfrentar os conflitos 
entre expansão urbana e preservação do Patrimônio Cultural no país, tendo como resultado a Declaração de 
São Paulo II.
1997 Carta de Fortaleza
Em comemoração pelos 60 anos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), o 
evento criado em forma de Seminário que teve como tema o Patrimônio Imaterial: Estratégias e Formas de 
Proteção teve como finalidade:
 » Recolher subsídios que viabilizassem a elaboração de diretrizes e instrumentos legais e administrativos 
para identificar, proteger, promover e fomentar os processos e bens do patrimônio cultural brasileiro.
30
UNIDADE I │ PRIMEIROS TEÓRICOS DA CONSERVAÇÃO
Ano
Carta e 
Recomendação
Descrição
1997 Carta de Mar Del Prata
Este documento fala sobre o Patrimônio Intangível recomendando: 
 » Estímulo da educação.
 » Incrementação de pesquisas.
 » Promoção do registro documento.
 » Catalogação do patrimônio intangível. 
 » Montagem do banco de dados com todas as publicações.
 » Composição das informações sobre o patrimônio cultural intangível.
1999
Cartagenas de Índias, 
Colômbia
Elaborada pelo Conselho Andino de Ministros das Relações Exteriores da Comunidade Andina, refere-se 
à proteção e recuperação de bens culturais do patrimônio arqueológico, artístico, etnológico, histórico e 
paleontológico da Comunidade Andina.
Nove artigos compõem este documento que recomenda políticas e normas comuns para a/o:
 » Registro.
 » Proteção. 
 » Identificação. 
 » Conservação. 
 » Vigilância e restituição.
 » Impedimento de importação.
 » Exportação e transferência dos bens culturais de forma ilícita.
2003 Recomendação de Paris
Em sua 32ª Sessão a Conferência Geral da UNESCO, em 2003, elabora um documento em forma de 
convenção com o intuito de preservar o patrimônio cultural imaterial, que visava o respeito:
 » Aos bens das comunidades.
 » À sapiência e reconhecimento nacionais e internacionais.
2009 Carta de Nova Olinda
Elaborada noI Seminário de Avaliação e Planejamento das Casas do Patrimônio, esta carta visava à 
avaliação das Casas do Patrimônio, preparando diretrizes e instrumentos legais.
2010
I Fórum Nacional do 
Patrimônio Cultural
Em 2009, na cidade de Ouro Preto, acontecia o I Fórum Nacional do Patrimônio Cultural, mas foi em 2010 
que o trabalho foi publicado com a finalidade de disponibilizar para consulta os/as:
 » Conteúdos dos relatórios.
 » Análises realizadas no evento. 
O evento foi parte do processo de instituição do Sistema Nacional do Patrimônio Cultural (SNPC), buscando 
coordenar e realizar ações na área de gestão do patrimônio cultural.
2010 Carta de Brasília
Documento criado no Fórum Juvenil do Patrimônio Mundial Brasil-Brasília, reuniu distintas experiências e 
realidades tendo como foco o patrimônio. Foram propostas nove ideias como a participação ativa dos jovens 
no Comitê do Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura 
(UNESCO); a promoção do turismo sustentável e responsável, divulgando o patrimônio sem comprometê-lo 
etc. 
2010
Carta dos Jardins 
Históricos ou Carta de Juiz 
de Fora
Criada com o intuito de descrever conceitos, critérios e diretrizes na defesa e preservação dos jardins 
históricos como sítios e paisagens criados pelo homem.
Fonte: Elaboração Própria (2020). Adaptado e extraído do archi&urban “Cartas Patrimoniais” disponível em: https://archiurban.
wordpress.com/2015/04/17/cartas-patrimoniais/. Complementado no Portal educação “O que são as cartas patrimoniais” 
Disponível em: https://siteantigo.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/cotidiano/cartas-patrimoniais/61157.
31
UNIDADE IIPATRIMÔNIO NO 
BRASIL
CAPÍTULO 1
Inspetoria de Monumentos Nacionais 
(IMN)
Criada a partir da assinatura à época do então presidente Getúlio Vargas e do 
ministro da Educação e Saúde Pública Washington Pires por meio do Decreto 
no 24.735 em 14 de julho de 1934, a Inspetoria de Monumentos Nacionais 
(IMN), este novo regulamento do Museu Histórico Nacional (MHN) de caráter 
departamental tinha como finalidade a inspeção do bem construído com 
valor artístico e histórico bem como o controle do comércio de objetos de 
arte e antiguidades, que seria feito baseado em certas determinações, dentre 
as quais: a organização dos edifícios existentes no país dotados de valor e 
interesse artístico-histórico que proporia ao governo federal os que deveriam 
ser declarados como monumentos nacionais. Estes não poderiam ser:
 » Demolidos.
 » Reformados.
 » Modificados sem a permissividade e ausência da fiscalização do Museu 
Histórico Nacional (MNH).
É importante, contudo, evidenciarmos que a inspetoria não possuía autonomia 
para determinar quais edificações poderiam ser consideradas monumentos 
nacionais. Apenas era previsto o levantamento, a título de sugestão, ao governo 
federal para que este pudesse atribuir-lhe o título de monumento.
Cabe, no entanto, destacar que a inspetoria foi atuante na área em que seu 
regulamento menos amparava, conforme a figura abaixo:
32
UNIDADE II │ PATRIMÔNIO NO BRASIL
Diagrama 2. Áreas de atuação da Inspetoria.
Conservação dos 
monumentos 
imóveis
Restauro dos 
monumentos 
imóveis
Fonte: Elaborado pelo autor (2020). 
Neste sentido, ficaria a cargo da inspetoria entrar em entendimento com 
os governos dos estados, uniformizando a legislação sobre a proteção e 
conservação dos Monumentos Nacionais, além de guarda e fiscalizar seus 
objetos histórico-artísticos. Desta forma, os encargos das atividades nos 
territórios eram de responsabilidade de cada Estado, como exemplos temos:
Quadro 2. Inspetorias Estaduais dos Monumentos.
Ano Inspetoria
1926 Inspetoria dos Monumentos Históricos de Minas Gerais
1927 Inspetoria dos Monumentos Históricos na Bahia
1928 Inspetoria dos Monumentos Históricos de Pernambuco
Fonte: Elaborado pelo autor (2020).
Mas, a partir do ano de 1928, essas inspeções começaram a ser orquestradas e 
supervisionadas pelo órgão sediado no Museu Histórico Nacional (MNH). Cabe, 
todavia, entender que a Inspetoria de Monumentos Nacionais conduziu a instalação 
de um regime de governo autoritário no país.
Dentro da perspectiva deste capítulo em estudo, é relevante destacar o 
conhecimento acerca da Educação Patrimonial, dessa forma convido-lhes a 
fazer um brinde à história da cultura brasileira! Vamos?!
Sendo assim, quando “se fala ou se ouve” a palavra tombamento ou 
preservação, meio mundo se esconde. O desconhecimento sobre o valor 
de nossa história, pública e privada, origina desconfiança, medo e atitudes 
extremas, são elas: as demolições noturnas ou descaso. Assim sendo, há a 
necessidade do conhecimento e o debate sobre este tema. Acesse o link e 
complemente esta leitura:
https://educacaopatrimonial.blogspot.com/2011/.
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PATRIMÔNIO NO BRASIL │ UNIDADE II
Segundo o regulamento, as funções de inspetor dos monumentos e designar 
representantes para executar serviços onde fosse conveniente era de competência 
do diretor do MHN. Neste caso, era de sua responsabilidade entabular acordos 
com quaisquer pessoas jurídicas ou naturais, autoridades eclesiásticas, instituições 
científicas, literárias ou históricas, administrações estaduais ou municipais, no 
sentido de ser mais bem conhecido, estudado e protegido o patrimônio tradicional 
do Brasil.
Ainda que o controle e a fiscalização do comércio de objetos artísticos e históricos 
tenham sido o principal ponto do seu regulamento, esse foi também o seu ponto 
inoperante, pois no período em que funcionou:
 » Não houve aumento das coleções do MHN com apreensões por 
infração dos dispositivos do regulamento, nem pelo direito que a 
instituição tinha de preferência na compra de antiguidades a serem 
negociadas.
 » Não houve ou mesmo não se tem notícias dos trabalhos de 
fiscalização, autenticação de objetos nem mesmo de elaboração de 
catálogo ou relação de objetos de arte ou de história.
Vale considerarmos que a inspetoria foi o primeiro órgão nacional direcionado para 
a preservação do patrimônio cultural brasileiro. Suas funções foram finalizadas 
em 1937, quando da criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico 
Nacional (SPHAN), pela Lei no 378, de 13 de janeiro de 1937, que a substituiu. 
Tendo em vista alguns aspectos históricos, o que se pode observar diante 
desse processo é o surgimento das correntes fundamentadas no tipo de regime 
político, as quais estão pautadas no nacionalismo e que foram formuladas 
destacando-se as ideias dos cientificistas que eram incrédulos no futuro do 
país, já que a miscigenação, de acordo com eles, destruía as bases da nação, e 
as dos ufanistas edênicos, os quais cultuavam o orgulho da pátria por meio das 
condições naturais da terra, não davam importância às características políticas 
e econômicas.
Destaca-se, neste contexto, a década de 1920, a qual foi marcada por segmentos 
de pensamentos acerca da nação, que procuravam quebrar com essas ideias, até 
então, em disputa. Observa-se que havia um apego para o passado colonial a fim 
de identificar as raízes da sociedade brasileira, além de compreender o processo da 
miscigenação como um argumento positivo da sociedade brasileira e a valorização 
do povo como genuína expressão da brasilidade.
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UNIDADE II │ PATRIMÔNIO NO BRASIL
Assim sendo, deve-se ter a compreensão sobre os povos, os quais se associam 
aos estratos mais pobres da sociedade, principalmente aos que estão no interior 
do Brasil. Essa formulação surgiu do argumento de que os que não viviam no 
litoral, sob a influência de “estrangeirismos”, preservavam a originalidade do ser 
brasileiro. 
Neste contexto, os estudos sobre folclore foram essenciais para compreender essa 
complexa formação social, sendo a cultura a principal ferramenta para forjar uma 
integração entre o campo e o centro urbano, entre o popular e o sapiente. Assim 
sendo, uma breve abordagem do entendimento de como se deu o processo de 
formação do patrimônio histórico noBrasil.
Diante dos fatos abordados é pertinente salientar os critérios utilizados como 
referência para escolher os monumentos restaurados; os quais são dotados de 
fundamentos científicos e técnicos em que as obras foram executadas. Ademais, 
a compreensão de como as ações preservacionistas se articulavam à escritura da 
história do Brasil produzia nas galerias do Museu Histórico Nacional (MHN) a 
então denominada Casa do Brasil.
Pela observação dos aspectos vistos, ressalta-se ainda que o primeiro requerimento 
de Gustavo Barroso para a criação de uma instituição responsável pela preservação 
dos monumentos nacionais foi proferido num relatório de atividades do Museu 
Histórico Nacional, enviado ao Ministro da Educação e Saúde em 1943, onde consta 
o seguinte:
Através de Barroso (1943) faz-se uma abordagem acerca da necessidade de se 
reconhecer presente, como também de regular o Governo em prol da defesa do 
Patrimônio Histórico e artístico do País. 
Menciona também a importância de se ter uma organização administrativa 
acauteladora daquele patrimônio, e em equilíbrio com uma legislação ajustada, 
assim como meios de prevenção contra os assaltos que constantemente sofrem os 
monumentos históricos no Brasil, que são mal assegurados pelos poderes locais 
dos Estados e municípios, o que nos permite assistir à devastação/depredação do 
nosso tesouro tradicional.
Portanto, aqui no Brasil não parece persuasiva a criação de um organismo 
especial para tal função: o Museu Histórico Nacional, sem ônus para os cofres 
federais, poderia assim executar uma tarefa com a atribuição que, por decreto, lhe 
designasse de Inspetoria de Monumentos Nacionais. 
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CAPÍTULO 2 
Patrimônio no Brasil
Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico 
Nacional (SPHAN)
Introduz-se em nosso capítulo a abordagem de que o Serviço do Patrimônio Histórico 
e Artístico Nacional (SPHAN) foi entendido como um órgão federal de proteção ao 
patrimônio cultural brasileiro, o que hoje se conhece como Instituto do Patrimônio 
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
Dessa forma, o SPHAN começou a funcionar em 1936 por meio da deliberação 
presidencial encaminhada ao ministro da Educação e Saúde Pública, Gustavo 
Capanema, segundo citado no relatório de atividades apresentado por Rodrigo Melo 
Franco de Andrade, primeiro diretor do Serviço daquele ano:
Tendo V. Excia. em 13 de abril do ano próximo findo requerido 
ao Senhor Presidente da República autorização para dar abertura 
ao Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, logo 
que o Chefe de Estado concedeu essa autorização foi contratado 
o pessoal necessário para encetar os trabalhos essenciais e 
preparatórios que, de acordo com o plano traçado por V. Excia., 
deveriam ser realizados até que, paulatinamente e com os dados 
fornecidos pela experiência, fosse surgindo o plano definitivo 
de organização do Serviço, que tivesse de ser convertido em lei 
(ANDRADE, 1937, p.1).
No entanto, o órgão só foi criado oficialmente em 13 de janeiro de 1937 com a 
promulgação da Lei no 378. Assim sendo, o SPHAN foi inserido na categoria 
de Instituições de Educação Extraescolar dos Serviços relativos à Educação à 
estrutura do Ministério da Educação e Saúde (MES).
A finalidade ou as finalidades que direcionaram a criação do Serviço foram 
estimadas no artigo 46 da Lei, no qual se falava:
fica criado o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico 
Nacional, a fim de promover, em todo o País e de modo 
permanente, o tombamento, a conservação, o enriquecimento 
e o conhecimento do patrimônio histórico e artístico nacional 
(BRASIL, 1937, art. 46).
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UNIDADE II │ PATRIMÔNIO NO BRASIL
Além dessas competências, o Serviço também concebia as funções do Conselho 
Nacional de Belas Artes: “fica extinto o Conselho Nacional de Belas Artes, 
cujas funções começarão a ser exercidas pelo Serviço do Patrimônio Histórico e 
Artístico Nacional e pelo Museu Nacional de Belas Artes” (BRASIL, 1937, art. 130).
É relevante compreender que a Lei no 378/1937 também deu origem ao Conselho 
Consultivo do SPHAN, o qual passou a ser o órgão necessário ao funcionamento do 
Serviço, determinando sua composição, de acordo ao art. 46 § 2o, da seguinte forma:
O Conselho Consultivo será composto por:
 » Diretor do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
 » Diretores dos museus nacionais de coisas históricas ou artísticas.
 » E de mais dez membros, nomeados pelo Presidente da República.
Ademais, foi estipulado, por necessidade, a cooperação em suas atividades do 
“Museu Histórico Nacional, o Museu Nacional de Belas Artes e outros museus 
nacionais de coisas históricas ou artísticas, que forem criados” (BRASIL, 1937, 
art. 46, § 3o):
O Museu Histórico Nacional é tratado como estabelecimento 
remetido à guarda, conservação e exposição das relíquias referentes 
ao passado do País e pertencentes ao patrimônio federal. Art. 48. 
Fica criado o Museu Nacional de Belas Artes, direcionado a recolher, 
conservar e expor as obras de arte pertencentes ao patrimônio 
federal (BRASIL, 1937, art. 37).
O Decreto-lei no 25, de 30 de novembro de 1937, regulamentou também o ato 
de tombamento de bens móveis e imóveis, designando o SPHAN como o órgão 
competente para gerir essa política.
Cabe ressaltar que nessa primeira estruturação não foi definido na 
instituição um regimento interno, o que foi previsto foi o cargo de diretor 
(BRASIL, 1937, art. 72). Mas, só em 1946, a instituição já denominada 
como “Diretoria” passou a ter um regimento interno, de forma que os 
cargos técnicos foram sendo ocupados com a figura dos representantes. 
Grande parte desses cargos foram preenchidos por intelectuais ligados ao 
movimento modernista, remunerados por determinado período em função 
da necessidade de realização de pesquisas e inventários em diversas regiões 
do Brasil.
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PATRIMÔNIO NO BRASIL │ UNIDADE II
A ação de tal projeto, que propunha a instituição do Serviço do Patrimônio 
Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), foi consentida pelo Presidente Getúlio 
Vargas em abril de 1936 e a promulgação do Decreto-Lei no 25 aconteceu 
em novembro de 1937, finalmente organizando a proteção do patrimônio 
histórico e artístico nacional e encarregando a federação desta.
Indiscutivelmente, o Decreto-Lei no 25 foi sendo modificado ao longo do tempo, 
sendo aprimorado e ampliado em sua aplicabilidade, no entanto sempre foi mantido:
 » As publicações técnicas.
 » As iniciativas educativas.
 » O incentivo a exposições.
 » O incentivo aos tombamentos.
Ao SPHAN então competia:
 » Esmiuçar, classificar, tombar e conservar/preservar monumentos, 
obras, documentos e objetos com valor histórico e artístico existentes 
no Brasil.
 » Cadastrar sistematicamente e proteger os arquivos estaduais, 
municipais, eclesiásticos e particulares, cujos acervos interessassem 
à história nacional e à história da arte do Brasil.
 » Tomar providências a fim do enriquecimento do patrimônio histórico 
e artístico nacional.
 » Proteger os bens tombados consoante o Decreto-Lei no 25, de 
1937 e, bem assim, fiscalizá-los extensivamente ao comércio de 
antiguidades e de obras de arte tradicional do país, para os fins 
estabelecidos no citado Decreto-Lei.
 » Metodizar e orientar as atividades dos Museus federais que lhe fossem 
subordinados, prestando assistência técnica aos demais.
 » Estimular e orientar no país a organização de museus de arte, história, 
etnografia e arqueologia.
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UNIDADE II │ PATRIMÔNIO NO BRASIL
 » Produzir exposições temporárias de obras de valor artístico, 
assim como de publicações e quaisquer outros empreendimentos 
que pudessem difundir, desenvolver e apurar o conhecimento do 
patrimônio histórico e artístico nacional.
Em 1970, ao ganhar nova estruturação e novo regimento interno o SPHAN 
foi mais uma vez sendo modificado e foi sendo transformado no Instituto de 
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o IPHAN.
Neste aspecto, o IPHAN, como uma autarquia federal, corresponde atualmentede forma direta ao Ministério da Cultura e tem como finalidades fundamentais 
a promoção e coordenação do processo de preservação do patrimônio cultural 
brasileiro, com suas atividades compreendidas para:
 » A verificação, restauração/preservação e revitalização dos monumentos, 
sítios e bens móveis.
 » A catalogação e documentação dos bens culturais e naturais.
 » A inserção das diversas comunidades brasileiras no desejo e no esforço 
para a preservação da identidade e do patrimônio cultural do país.
 » A restituição ao público usuário dos resultados dos trabalhos, pesquisas 
e registros realizados por meio de museus, publicações, exposições etc.
De acordo o IPHAN (2014), tudo sempre aconteceu com o objetivo de sensibilizar 
a população sobre “a relevância e o valor do acervo protegido pelo órgão” 
(IPHAN, 2014).
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CAPÍTULO 3
Constituição de 1988
É necessário recorrermos e compreendermos um pouco da história que antecede 
a nossa Carta Magna, a Constituição de 1988, dessa forma, vemos inicialmente 
que a preocupação dos seres humanos com a preservação de vestígios do seu 
passado não é um fenômeno recente.
No campo da arqueologia, é conjecturado que as pinturas deixadas pelos homens 
da pré-história em locais acolhidos dentro de cavernas integram prova de uma 
primeira e deliberada tentativa de se legar para a posterioridade um testemunho 
da existência de gerações coevas e de seus feitos. Uma primitiva forma de 
“assegurar” as coisas julgadas necessárias pelos homens de antigamente.
Dessa maneira, vemos que no âmbito do Direito, o imperador romano Alexandre, 
no século III, aplicava multas a quem comprasse uma casa com a intenção 
de demoli-la. No Império Romano, havia um código de posturas a fim de 
observar a conservação da imagem da cidade.
Anos depois, em 1162, o Senado Romano instituiu proteção para a Coluna de 
Trajano (construída em 114 D.C) e determinou que “aquele que atentar contra 
ela será sentenciado aos piores castigos e os seus bens serão confiscados”.
Tratando-se no Brasil, especialmente, o primeiro resquício de preocupação 
governamental com a preservação do patrimônio cultural está datado no 
ano de 1742, quando o então Vice-Rei, André de Melo e Castro, relatou 
ao Governador de Pernambuco exigindo a paralisação das obras de 
transformação do Palácio das Duas Torres, construído por Maurício de 
Nassau, em um quartel para as tropas locais, época em que foi estipulada 
a restauração do palácio.
Ainda em 1855, o período imperial merece destaque no registro do Aviso de 
1855, remetido pelo Conselheiro Luiz Pedreira de Couto Ferraz, que transferia 
ordens aos Presidentes das Províncias para terem cuidados especiais na 
restauração dos monumentos, assegurando as inscrições neles gravadas.
Sendo assim, apenas em 1933 criou-se o primeiro diploma federal brasileiro 
tratando do patrimônio cultural. Foi o decreto no 22.928, de 12 de julho 
daquele ano, que erigiu a cidade de Ouro Preto, em Minas Gerais, a Monumento 
Nacional e reconheceu “é dever do Poder Público defender o patrimônio 
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UNIDADE II │ PATRIMÔNIO NO BRASIL
artístico da Nação e que fazem parte das tradições de um povo os lugares em 
que se realizaram os grandes feitos da sua história”.
Em virtude desse cenário, a Constituição Brasileira de 1934 estabeleceu as bases 
constitucionais para a defesa do patrimônio cultural nacional, ao instituir a 
função social da propriedade como princípio (art. 133, inciso XVII) e ao dispor 
em seu art. 134 que: Os monumentos históricos, artísticos e naturais, assim como 
as paisagens ou locais particularmente dotados pela natureza, gozam de proteção 
e dos cuidados especiais da Nação, dos Estados e dos Municípios. Os atentados 
contra eles cometidos serão equiparados aos cometidos contra o patrimônio 
nacional.
Desde então, a preservação do patrimônio cultural brasileiro esteve presente 
em todas as constituições subsequentes (1937, 1946, 1967 e EC 01 de 1969).
Neste aspecto, percebeu-se que com a promulgação da Constituição de 1988 
alcançou-se o mais alto degrau na evolução normativa de proteção a bens 
culturais em nosso país, posto que a lex máxima, em seu Título VIII que diz 
respeito Da Ordem Social e o Capítulo III no que diz Da Educação, da Cultural 
e do Desporto, além da Seção II da Cultura, nos arts. 215 e 216, delineou o 
conceito, a abrangência, os instrumentos e as responsabilidades pela proteção 
do patrimônio cultural brasileiro.
Art. 216. Integram o patrimônio cultural brasileiro: tanto os bens de 
natureza material como os imateriais, tomados individualmente ou 
em agrupamento, portadores de referência à identidade, à ação, à 
memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, 
nos quais se inserem:
I – as maneiras em que se expressam; 
II – as formas de inventar, agir e viver;
III - as criações, artísticas, científicas e tecnológicas;
IV - as obras, documentos, objetos, bens edificados, além dos espaços 
orientados às manifestações artístico-culturais;
V - os conjuntos urbanos dentre os quais: arqueológico, 
paleontológico, ecológico e científico, e sítios de valor histórico, 
paisagístico, artístico, 
§ 1o O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e 
protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, 
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PATRIMÔNIO NO BRASIL │ UNIDADE II
registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras 
formas de acautelamento e preservação.
§ 2o Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da 
documentação governamental e as providências para franquear sua 
consulta a quantos dela necessitem.(Vide Lei no 12.527, de 2011).
§ 3o A lei determinará incentivos para a produção e o conhecimento 
dos bens e valores culturais.
§ 4o Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos, na 
forma da lei.
§ 5o Ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores 
de reminiscências históricas dos antigos quilombos.
§ 6 o Não é de obrigação aos Estados e ao Distrito Federal 
vincular a fundo estadual de fomento à cultura até cinco décimos 
por cento de sua receita tributária líquida, para o financiamento 
de programas e projetos culturais, vedada a aplicação desses 
recursos no pagamento de: (Incluído pela Emenda Constitucional 
no 42, de 19.12.2003).
I - despesas com pessoal e encargos sociais; (Incluído pela 
Emenda Constitucional no 42, de 19.12.2003)
II - serviço da dívida; (Incluído pela Emenda Constitucional no 42, 
de 19.12.2003)
III - qualquer outra despesa corrente não vinculada diretamente 
aos investimentos ou ações apoiados. (Incluído pela Emenda 
Constitucional no 42, de 19.12.2003).
Certifica-se, no entanto, como fundamentação teórica o texto constitucional 
descrito no art. 216, § 1o. c/c 23, III e IV que existe uma imediata 
corresponsabilização de todos os cidadãos e entidades públicas e privadas na 
defesa e valorização dos bens culturais, quer na obrigação genérica de non 
facere, não provocação de danos ao patrimônio cultural, quer no específico 
chamamento do Estado às suas responsabilidades de promoção cultural.
Logo, observa-se que a constituição ampara o direito à proteção e fruição 
do patrimônio cultural sob a forma de interesse difuso (necessidade 
comum a conjuntos indeterminados de indivíduos), que somente pode ser 
satisfeita numa perspectiva comunitária, vez que o patrimônio cultural, 
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UNIDADE II │ PATRIMÔNIO NO BRASIL
enquanto valor inadequado, pertence a todos ao mesmo tempo em que 
não pertence, de forma individualizada, a qualquer pessoa.
A proteção conferida aos bens culturais independe da natureza de sua 
propriedade. Ficam eles submetidos a um especial regime jurídico em razão do 
interesse público que sobre eles repousa.
Sob o entendimento dos reflexos jurídicos, a constitucionalização da 
defesa do patrimônio cultural brasileiro traz repercussões extremamente 
importantes, seja de ordem substantiva seja formal.
Diagrama 3. Ordens importantes de repercussão das representações jurídicas.

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