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Brasília-DF. Patologia – Perícia Diagnóstica na eDificação Para restauro Elaboração Ana Cândida Pinheiro Cavalcante Melo Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 5 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 6 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 8 UNIDADE I ENGENHARIA DE DIAGNÓSTICO ............................................................................................................ 9 CAPÍTULO 1 INSPEÇÃO VISUAL..................................................................................................................... 9 CAPÍTULO 2 INSPEÇÃO PREDIAL ................................................................................................................ 17 CAPÍTULO 3 DIAGNÓSTICO DAS PATOLOGIAS ............................................................................................ 22 UNIDADE II GESTÃO DA ENGENHARIA ................................................................................................................... 32 CAPÍTULO 1 GERENCIAMENTO DE PROJETOS ........................................................................................... 32 CAPÍTULO 2 GERENCIAMENTO DE OBRAS.................................................................................................. 38 CAPÍTULO 3 VISTORIAS ............................................................................................................................. 45 UNIDADE III PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES ......................................................................................................... 55 CAPÍTULO 1 TECNOLOGIA DOS MATERIAIS ................................................................................................ 55 CAPÍTULO 2 PROJETO E EXECUÇÃO .......................................................................................................... 61 CAPÍTULO 3 COMPORTAMENTO ESTRUTURAL ............................................................................................. 64 4 UNIDADE IV SINTOMATOLOGIA ............................................................................................................................... 78 CAPÍTULO 1 MANIFESTAÇÕES APRESENTADAS ............................................................................................ 78 CAPÍTULO 2 INTERVENÇÕES ...................................................................................................................... 84 CAPÍTULO 3 MATERIAIS .............................................................................................................................. 88 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 96 5 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 6 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 7 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 8 Introdução Várias são as causas das patologias na construção civil, as quais podem ser endógenas ou exógenas. Embora o setor tenha se desenvolvido e aprimorado suas técnicas e tecnologias no decorrer dos anos, as edificações ainda apresentam falhas, anormalidades e, algumas vezes, baixo desempenho estrutural. Com o passar dos anos, observa-se que as anomalias apresentadas nas edificações são as mesmas, apresentando soluções idênticas, porque, em sua maioria, estão atreladas aos fenômenos naturais, como chuvas e ventos, que não sofrem alteração no decorrer do tempo, e à ação antrópica. Esta é a mais preocupante, pois, durante anos, não se observa a qualificação da mão de obra, tampouco a redução de problemas relacionados à compatibilização de projetos. Devido ao aparecimento de falhas e anomalias, faz-se necessário inspecionar e dar diagnósticos para edificações deficientes, propondo soluções exequíveis, compatíveis e proporcionando qualidade para as edificações, sempre levando em consideração a relação custo-benefício da solução para o empreendimento. Para falhas decorrentes de ações exógenas e desgastes de peças, é necessário realizar manutenções preventivas em edificações, as quais têm a finalidade de evidenciar anomalias ainda em fase inicial, fazendo com que, dessa forma, os custos com as correções sejam mais acessíveis. Esperamos que aproveitem este módulo para sanar todas as suas dúvidas em relação ao aparecimento de patologias, diagnóstico e medidas de correção. Bons estudos! Objetivos » Desenvolver entendimento da natureza e da causa das anomalias patológicas das construções. » Compreender a manutenção e as ações nos procedimentos preventivos e corretivos. » Apresentar elementos que contribuam para a tomada de decisões mais acertadas perante os problemas encontrados. » Desenvolver tecnicidade para atuar em agravos devido ao sentido de urgência em uma rápida intervenção para evitar elevado nível de prejuízos financeiros a todos os envolvidos. 9 UNIDADEIENGENHARIA DE DIAGNÓSTICO CAPÍTULO 1 Inspeção visual No setor de construção civil, os termos vistoria, inspeção e perícia são usados corriqueiramente, por isso é necessário saber a diferença entre cada um deles. Muitas vezes, um profissional é convocado para fazer uma perícia em uma edificação, mas, na verdade, o correto é uma vistoria, ou, então, o profissional é chamado para uma inspeção, quando, de fato, o solicitado é uma perícia. Vistoria, inspeção e perícia são ferramentas que norteiam a engenharia diagnóstica. Entende-se por vistoria como a constatação técnica de determinado fato, condição relativa a um edifício; por inspeção, a análise técnica de determinado fato, condição relativa a uma edificação, com base em informações genéricas e interpretação baseada na experiência do profissional; por perícia, a apuração técnica da origem, causa e mecanismo de ação de um fato, condição ou direito relativo a um edifício. Em linhas gerais, vistoria e inspeção são etapas que compõem uma perícia e fazem parte do diagnóstico a ser dado para a edificação em análise. O termo inspeção quer dizer examinar ou observar com atenção os detalhes e pode se referir a uma análise minuciosa com o intuito de encontrar problemas. A inspeção visual é o método pelo qual o profissional acompanha a evolução de uma atividade, processo, produto ou serviço ou detecta irregularidades apenas visualmente, sem a necessidade de instrumentação ou ensaios de laboratório, sendo pautada nas observações encontradas e na experiência do profissional que realiza a inspeção. A inspeção visual muitas vezes é suficiente para elaboração do diagnóstico de uma edificação, desde que conduzida de forma sistemática para reduzir possíveis erros de avaliação. A inspeção visual de uma edificação com vista à avaliação do seu estado de conservação deverá abranger alguns pontos relevantes, como implantação do terreno, estruturas e componentes externos e internos da edificação em questão. O quadro 1 10 UNIDADE I │ ENGENHARIA DE DIAGNÓSTICO apresenta de forma simplificada os pontos mais relevantes a serem verificados durante uma inspeção visual em uma edificação. Quadro 1. Aspectos relevantes a serem verificados durante uma inspeção visual em uma edificação. Parte do edifício Aspectos de relevância Local de implantação Terreno de fundação Acessos e arranjos exteriores Infraestrutura local Estacionamento, garagem Envolvente Paredes externas Coberturas Guarda-corpos de proteção Interiores Pavimentos Tetos Paredes interiores Fonte: Adaptado de Ferreira (2010). De acordo com Ferreira (2010), no que se refere à construção propriamente dita e ao seu local de implantação, a experiência demonstra que, normalmente, são responsáveis por problemas. O quadro 2 sugere o que pode ser inspecionado, correlacionando com as anomalias que frequentemente aparecem associadas à origem do problema. Quadro 2. Inspeção visual: situações que requerem atenção associada a seus problemas. Situação a ter atenção Problemas associados LOCAL DE IMPLANTAÇÃO Ambiente Condições climáticas e microclimáticas. Umidade, crescimento biológico, deterioração das argamassas. Ambiente marinho. Sais, eflorescências, corrosão das armaduras. Atmosfera poluída (ambiente urbano ou proximidade de indústrias ou vias de comunicação). Crostas negras, dissolução, deterioração do revestimento as chuvas ácidas, corrosão das armaduras. Proximidade de tráfego pesado. Vibrações (deterioração das argamassas de assentamento; desprendimento de solo compactado) Possibilidade de inundações sazonais (leitos de cheias). Umidade excessiva. Grandes variações de exposição solar. Variações de temperatura, alteração do comportamento térmico da estrutura. Árvores e vegetação Árvores de grande porte ou espécies de crescimento rápido a menos de 10 m da construção. Entupimento do sistema de drenagem da cobertura. Roturas e entupimentos em canalizações de esgotos. Facilitação da proliferação de agentes biológicos. Heras, trepadeiras e arbustos sobre a construção. Destruição e deterioração de revestimentos, desagregação das alvenarias. 11 ENGENHARIA DE DIAGNÓSTICO │ UNIDADE I EDIFICAÇÃO PROPRIAMENTE DITA Estado geral da construção Cuidado aparente com a manutenção do edifício. Um edifício bem cuidado apresenta, normalmente, poucos problemas. Sinais de acidentes anteriores incêndios, sismos, alagamentos. Essas ocorrências debilitam, geralmente, as construções em maior ou menor grau. Sinais de assentamento ou rotações. Fendas, fissuras, juntas abertas, desaprumos. Coberturas Estado geral. Uma cobertura bem cuidada reduz, normalmente, o número e a gravidade dos problemas no edifício. Platibandas e guarda-corpo. A deterioração das paredes começa, frequentemente, por esses elementos. Ralos e tubos de queda. A deterioração desses elementos é responsável por muitos problemas na construção. Rufos e outros revestimentos com chapa metálica. A deterioração desses elementos é responsável por muitos problemas na construção. Vãos exteriores Estado dos castilhos e do guarda-corpo de proteção. A deterioração desses elementos é responsável por muitos problemas na construção Interiores Áreas molhadas. São locais preferenciais de problemas de umidade excessiva. Modificações posteriores à construção. São frequentemente causa de enfraquecimento ou deterioração da estrutura. ALVENARIAS Materiais utilizados Composição da alvenaria, características dos materiais constituintes. Determinam a qualidade da alvenaria. Presença de elementos decorativos. Podem requerer tratamentos especiais. Falta de elementos. Causam enfraquecimento e permitem penetração da água. Sinais de tratamento anteriores (desgaste, erosão e escamações). Efeito estético negativo e facilidade de penetração de umidade. Acúmulo de sujeira. Facilita a deterioração e o crescimento biológico. Umidade Penetração de água através de juntas abertas. Facilita a deterioração no interior das paredes. Revestimentos Pinturas. Podem impedir as trocas de umidade com o exterior, causando bolhas ou delaminações. Tratamentos impermeabilizantes. Podem impedir a umidade de deixar a alvenaria Argamassa de assentamento Estado das juntas. As juntas abertas ou com argamassa fraturada ou demasiadamente porosa permitem a penetração de água. Características da argamassa (cal, cimento). Podem ser inadequadas. Presença de peças metálicas Chumbadores ou ferrolhos de ferro ou aço. Possibilidade de corrosão com fraturamento do revestimento. 12 UNIDADE I │ ENGENHARIA DE DIAGNÓSTICO MADEIRA Materiais utilizados Espécie de madeira. A resistência mecânica e a durabilidade variam com a espécie. Defeitos em elementos. Nós, fendas de retração, empenos, deformações. Cuidado posto na execução Qualidade das ligações. Ausência de encaixe. Confinamento da madeira nos apoios. Um excessivo confinamento (peças encastradas na alvenaria) está, frequentemente, na origem de problemas de conservação. Umidade Sinais e umidade (manchas e odor). A umidade em madeira é determinante fator de risco para proliferação de agentes biológicos. FERRO E AÇO Materiais utilizados Tipo de ferro ou aço. Influencia o comportamento mecânico e a durabilidade. Cuidado posto na execução Ligações de ferro forjado em componentes de ferro fundido. Possibilidade de deterioração de ferro fundido por corrosão do ferro forjado. Inserção de elementos de ferro ou aço na alvenaria. Possibilidade de corrosão localizada do ferro, possível deterioração das alvenarias. Elementos de ferro em contato com materiais nobres. Possibilidade de corrosão galvânica. Proteção superficial. Influencia a durabilidade. CONCRETO ARMADO Materiais utilizados Composição do concreto, relação água/cimento, qualidade dos agregados. Determinam a resistência e a durabilidade de concreto. Concreto fragmentado. Pode colocar a armadura exposta a corrosão. Sinais de anteriores reparações. Deficiente aspecto estético e risco acrescido de corrosão.Cuidado posto na execução Falta de recobrimento das armaduras.. É causa frequente de deterioração precoce da estrutura. Má compactação do concreto. Concreto poroso, pouco durável. Má qualidade dos moldes. Perda na nata de cimento. Cura deficiente, retração de secagem. Fissuras superficiais. Deformações Má qualidade do concreto. Fluência excessiva, mau aspecto estético, vibrações, utilização desconfortável. Deficiente dimensionamento das lajes. Deformação excessiva, espaçamento entre paredes e lajes. Fonte: Adaptado de Ferreira (2010). Em relação a fissuras, trincas, rachaduras, fendas e brechas, a inspeção visual serve para caracterizar cada uma delas. A classificação dessas anomalias é feita com base na localização, na extensão, na profundidade, na largura, no estado de degradação do 13 ENGENHARIA DE DIAGNÓSTICO │ UNIDADE I elemento ou zona e na exigência temporal de reparação. As figuras a seguir evidenciam cada uma das anomalias mencionadas anteriormente. Fissuras são anomalias estreitas e pouco profundas, aberturas que aparecem na superfície de qualquer material sólido, provenientes de ruptura pouco profunda de sua massa, sem causar divisão do sólido em partes separadas – até 0,50 mm. Figura 1. Fissura em sólido. Fonte: Elaborada pelo autor (2019). Trincas são fissuras acentuadas e mais profundas. É o estágio intermediário entre a fissura e a rachadura. São as aberturas que aparecem na superfície de qualquer material sólido, provenientes de ruptura mais profunda de sua massa, sem causar, todavia, divisão dos sólidos em partes separadas – de 0,500 mm a 1,50 mm. Figura 2. Trinca em sólido. Fonte: Elaborada pelo autor (2019). Rachaduras são aberturas mais acentuadas e profundas que as trincas. São as aberturas expressivas que aparecem na superfície de qualquer material sólido, provenientes de clara ruptura de sua massa, causando divisão do sólido em partes separadas – de 1,50 mm a 5,00 mm. 14 UNIDADE I │ ENGENHARIA DE DIAGNÓSTICO Figura 3. Rachadura em sólido. Fonte: Elaborada pelo autor (2019). Fenda é uma grande abertura que aparece na superfície de qualquer material sólido, proveniente da total ruptura de sua massa, causando divisão do sólido em partes separadas, permitindo a passagem de luz entre ela com abertura variável de 5,00 mm a 10,00 mm. Já as brechas são fendas com dimensões superiores a 10 mm. Figura 4. Fenda em sólido. Fonte: Elaborada pelo autor (2019). 15 ENGENHARIA DE DIAGNÓSTICO │ UNIDADE I Figura 5. Brecha em sólido. Fonte: Elaborada pelo autor (2019). A inspeção de uma dada edificação pode estar relacionada à análise específica de anomalias, falhas de manutenção, aspectos relacionados à saúde e segurança ou a algum outro interesse técnico associado a um determinado sistema construtivo. A inspeção pressupõe a formulação de orientação técnica simplificada visando ao direcionamento da solução a ser proposta pelo engenheiro que realiza o diagnóstico, sendo essa formulação listada na figura 6. Figura 6. Formulações de inspeção. IN SP EÇ ÃO INSPEÇÃO PREDIAL INSPEÇÃO DE VIZINHANÇA INSPEÇÃO DE ESTÁGIO DE OBRA INSPEÇÃO DE RECEBIMENTO DE OBRA INSPEÇÃO LOCATIVA INSPEÇÃO DE OBRA EM GARANTIA Fonte: Elaborada pelo autor (2020). Inspeção Predial é uma análise técnica tridimensional (construção, manutenção e uso) da edificação e será tratada de maneira específica posteriormente. A Inspeção de 16 UNIDADE I │ ENGENHARIA DE DIAGNÓSTICO Vizinhança é a avaliação técnica das características e condições físicas aparentes dos imóveis vizinhos a um terreno de futura obra, sob a ótica da segurança para edificações vizinhas. Esse tipo de inspeção tem por objetivo resguardar a obra e seus vizinhos para eventuais anomalias que venham a surgir nos imóveis circunvizinhos. A Inspeção de Estágio de Obra é a análise técnica dos serviços realizados, dos que estão em andamento e dos materiais estocados numa obra, sob a supervisão do setor da qualidade ou outros setores, na data da inspeção. A Inspeção de Conclusão ou Recebimento de Obra é a análise técnica das características, especificações e condições de funcionamento de uma edificação, sob supervisão do setor de qualidade ou outros setores. Esse tipo de inspeção fica configurado quando tem por objetivo o recebimento da obra nova (recém-construída) pelo preposto de proprietário ou usuário, antes da etapa de uso. Inspeção Locativa é a avaliação técnica das condições físicas e condições gerais de funcionamento de equipamentos, móveis e utensílios de uma edificação, visando à entrega das chaves para a locação ou recebimento/devolução de chaves pós-locação. Inspeção de Obra em Garantia é a análise técnica das anomalias remanescentes ou recém-surgidas nas edificações, durante a vigência da garantia. Inspeção de Falhas de Manutenção é a avaliação técnica das falhas de manutenção identificadas nas edificações durante a fase de uso. Esse tipo de inspeção fica configurado quando se objetiva a análise das falhas de manutenção, podendo ser realizado ainda durante a vigência do prazo de garantia ou após o decurso deste. Após a realização de qualquer tipo de inspeção, é necessário apresentar ao contratante um laudo técnico de inspeção, no qual deverá conter informações como: identificação e local de inspeção, data em que foi realizada a vistoria no local, objeto inspecionado com suas características de tipologia, dados do solicitante da inspeção, indicação das documentações analisadas, fotografias e descritivos das anormalidades identificadas e, por fim, breve conclusão sobre o estado de conservação da edificação. 17 CAPÍTULO 2 Inspeção predial Como já mencionado anteriormente, inspeção predial é uma análise técnica tridimensional (construção, manutenção e uso) da edificação e deve ser elaborada por profissionais habilitados e qualificados, que classificarão as não conformidades constatadas nas edificações quanto a origem, grau de risco e indicarão medidas mitigadoras necessárias para melhoria da manutenibilidade dos sistemas e elementos construtivos. As inspeções prediais competem e são de responsabilidade dos profissionais, engenheiros e arquitetos legalmente habilitados pelos Conselhos Regionais de Engenharia e Agronomia (Creas), de acordo com a Lei Federal no 5.194, de 21 de dezembro de 1966, e resoluções do Confea e Conselhos de Arquitetura e Urbanismo (CAUs) – Lei no 12.378, de 31 de dezembro de 2010, e resoluções do CAU-BR. As inspeções prediais são de característica multidisciplinar, devido à complexidade dos sistemas e subsistemas construtivos a serem verificados. Fica factível ao profissional responsável pela realização do trabalho a convocação de profissionais de outras áreas para lhe assessorarem, desde que estes comprovem suas especialidades por meio de Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) e Registro de Responsabilidade Técnica (RRT), que devem ser anexadas ao laudo de inspeção. Conforme Norma de Inspeção Predial do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia (Ibape), as anomalias e falhas detectadas em uma edificação são classificadas em graus de risco, e a inspeção é classificada em níveis que são baseados na complexidade e elaboração de laudo, levando em consideração as características técnicas da edificação, a manutenção e a operação existentes e a necessidade de formação de equipe multidisciplinar para execução dos trabalhos. A Norma de Inspeção Predial do Ibape classifica as anomalias encontradas em uma edificação em três graus de risco, como mostra o quadro a seguir. 18 UNIDADE I │ ENGENHARIA DE DIAGNÓSTICO Quadro 3. Classificação dos graus de risco em uma edificação. GRAU DE RISCO DESCRIÇÃO CRÍTICO Risco de provocar danos contra a saúde e segurança das pessoas e do meio ambiente; perda excessiva de desempenho e funcionalidade, causando possíveis paralisações; aumento excessivo de custo de manutenção e recuperação; comprometimento sensível devida útil. MÉDIO Risco de provocar a perda parcial de desempenho e funcionalidade da edificação sem prejuízo à operação direta de sistemas e deterioração precoce. MÍNIMO Risco de causar pequenos prejuízos à estética ou atividade programável e planejada, sem incidência ou sem a probabilidade de ocorrência dos riscos críticos e regulares, além de baixo ou nenhum comprometimento do valor imobiliário. Fonte: Adaptado de Norma de Inspeção Predial do Ibape (2012). Ainda de acordo com Norma de Inspeção Predial do Ibape, as inspeções são classificadas de acordo com níveis de complexidade e elaboração do laudo técnico, levando em consideração as características técnicas da edificação, manutenção e operação existentes e a necessidade de formação de equipe multidisciplinar para execução dos trabalhos. O quadro 4 descreve os três níveis de classificação da inspeção. Quadro 4. Classificação dos níveis de inspeção de uma edificação. NÍVEL DE INSPEÇÃO DESCRIÇÃO NÍVEL 1 Inspeção Predial realizada em edificações com baixa complexidade técnica, de manutenção e de operação de seus elementos e sistemas construtivos. Normalmente é empregada em edificações com planos de manutenção muito simples ou inexistentes. A Inspeção Predial nesse nível é elaborada por profissionais habilitados em uma especialidade. NÍVEL 2 Inspeção Predial realizada em edificações com média complexidade técnica, de manutenção e de operação de seus elementos e sistemas construtivos, de padrões construtivos médios e com sistemas convencionais. Normalmente é empregada em edificações com vários pavimentos, com ou sem plano de manutenção, mas com empresas terceirizadas contratadas para execução de atividades específicas, como: manutenção de bombas, portões, reservatórios de água, entre outros. A Inspeção Predial nesse nível é elaborada por profissionais habilitados em uma ou mais especialidades. NÍVEL 3 Inspeção Predial realizada em edificações com alta complexidade técnica, de manutenção e operação de seus elementos e sistemas construtivos, de padrões construtivos superiores e com sistemas mais sofisticados. Normalmente é empregada em edificações com vários pavimentos ou com sistemas construtivos com automação. Fonte: Adaptado de Norma de Inspeção Predial do Ibape (2012). Após classificação de nível e grau da inspeção, passa-se a classificar as anomalias e falhas detectadas na inspeção. Ambas são não conformidades que impactam a perda precoce de desempenho real ou futuro dos elementos e sistemas construtivos e reduzem sua vida útil projetada, podendo comprometer a segurança, a funcionalidade, a operacionalidade, a saúde de usuários, o conforto térmico, acústico e lumínico, a acessibilidade, a durabilidade, a vida útil, entre outros parâmetros de desempenho definidos na ABNT NBR 15575. As anomalias são classificadas em: endógena, exógena, natural e funcional. Anomalias endógenas são aquelas originadas da própria edificação (projeto, materiais e execução). Já anomalias exógenas são as causadas por fatores externos à edificação, são provocadas 19 ENGENHARIA DE DIAGNÓSTICO │ UNIDADE I por terceiros. As anomalias naturais são as decorrentes de fenômenos da natureza. As anomalias funcionais são originárias da degradação de sistemas construtivos pelo envelhecimento natural e, consequentemente, pelo término da vida útil. As falhas são classificadas em: de planejamento, de execução, operacionais e gerenciais. Falhas de planejamento são decorrentes de falhas de procedimentos e especificações inadequados do plano de manutenção, sem aderência a questões técnicas, de uso, de operação, de exposição ambiental e, principalmente, de confiabilidade e disponibilidade das instalações, consoante à estratégia de manutenção. Além dos aspectos de concepção do plano, há falhas relacionadas às periodicidades de execução. Falhas de execução estão associadas à manutenção proveniente de falhas causadas pela execução inadequada de procedimentos e atividades do plano de manutenção, incluindo o uso inadequado dos materiais. As falhas operacionais são relativas a procedimentos inadequados de registros, controles, rondas e demais atividades pertinentes. Por fim, as falhas gerenciais decorrem da falta de controle de qualidade dos serviços de manutenção, bem como da falta de acompanhamento de custos. Alguns sistemas construtivos e seus elementos são de vital importância e devem ser verificados durante a inspeção predial, são eles: estrutura, impermeabilização, instalações elétricas e hidráulicas, revestimentos externos em geral, esquadrias, revestimentos internos, elevadores, climatização, exaustão mecânica, ventilação, coberturas, telhados, combate a incêndio e SPDA. Toda inspeção predial deve seguir critério e metodologia. O critério adotado deve ser baseado na análise do grau de risco oferecido aos usuários, ao meio ambiente e ao patrimônio, diante das condições técnicas, de uso, operação e manutenção da edificação, bem como da natureza da exposição ambiental. A análise de risco é a classificação das anomalias e falhas identificadas nos diversos componentes de uma edificação, quanto ao seu grau de risco relacionado com fatores de manutenção, depreciação, saúde, segurança, funcionalidade, comprometimento da vida útil e perda de desempenho. A inspeção predial deve ser planejada de acordo com a tipologia da edificação, levando em consideração as características construtivas, a qualidade da documentação entregue ao inspetor e o nível de inspeção a ser realizado. O planejamento da vistoria deve ser iniciado com uma entrevista com o responsável pela edificação, seja ele 20 UNIDADE I │ ENGENHARIA DE DIAGNÓSTICO o síndico, o administrador ou o gestor predial com a temática sobre os aspectos cotidianos da manutenção do imóvel. Pela Norma de Inspeção Predial do Ibape, a metodologia consiste em: determinar o nível de inspeção; verificar e analisar toda a documentação fornecida pelo solicitante da inspeção; obter informações de usuários, responsáveis, proprietários e gestores da edificação; vistoriar os itens mais recorrentes citados pelos entrevistados; classificar as anomalias e falhas vistoriadas e as não conformidades com a documentação examinada; classificar e analisar as anomalias e falhas quanto ao grau de risco; definir prioridades; estabelecer recomendações técnicas; e, por fim, estabelecer as responsabilidades e a quem estas competem. A documentação solicitada pelo inspetor aos gestores da edificação deve ser de natureza administrativa, técnica, de manutenção e de operação da edificação. Pode acontecer de o imóvel não possuir todas essas documentações solicitadas, o que, em algumas circunstâncias, pode comprometer a inspeção predial, cabendo ao inspetor adequar a documentação disponível a sua necessidade. Os quadros 5, 6 e 7 evidenciam as documentações que devem ser solicitadas de acordo com sua natureza. Quadro 5. Documentação solicitada de natureza administrativa. AD M IN IS TR AT IV A Instituição, Especificação e Convenção de Condomínio. Regimento Interno do Condomínio. Alvará de Construção Auto de Conclusão. IPTU. Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA). Alvará do Corpo de Bombeiros. Ata de instalação do condomínio. Alvará de funcionamento. Certificado de Manutenção do Sistema de Segurança. Certificado de treinamento de brigada de incêndio. Licença de funcionamento da prefeitura. Licença de funcionamento do órgão ambiental estadual. Cadastro no sistema de limpeza urbana. Comprovante da destinação de resíduos sólidos etc.. Relatório de danos ambientais, quando pertinente. Licença da vigilância sanitária, quando pertinente. Contas de consumo de energia elétrica, água e gás. Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO). Alvará de funcionamento. Certificado de Acessibilidade. Fonte: Adaptado de Norma de Inspeção Predial do Ibape (2012). 21 ENGENHARIA DE DIAGNÓSTICO │ UNIDADE I Quadro 6. Documentação solicitada de natureza técnica.TÉ CN IC A Memorial descritivo dos sistemas construtivos. Projeto executivo. Projeto de estruturas. Projeto de Instalações Prediais:. Instalações hidráulicas. Instalações de gás. Instalações elétricas. Instalações de cabeamento e telefonia. Instalações do Sistema de Proteção Contra Descargas. Instalações de climatização. Combate a incêndio. Projeto de Impermeabilização. Projeto de Revestimentos em geral, incluindo fachadas. Projeto de paisagismo. Fonte: Adaptado de Norma de Inspeção Predial do Ibape (2012). Quadro 7. Documentação solicitada de manutenção e operação. M AN UT EN ÇÃ O E OP ER AÇ ÃO Manual de Uso, Operação e Manutenção (Manual do Proprietário e do Síndico). Plano de Manutenção e Operação e Controle (PMOC). Selos dos Extintores. Relatório de Inspeção Anual de Elevadores (RIA). Atestado do Sistema de Proteção a Descarga Atmosférica (SPDA). Certificado de limpeza e desinfecção dos reservatórios. Relatório das análises físico-químicas de potabilidade de água dos reservatórios e da rede. Certificado de ensaios de pressurização em mangueiras. Laudos de Inspeção Predial anteriores. Certificado de ensaios de pressurização em cilindro de extintores. Relatório do acompanhamento de rotina da Manutenção Geral. Relatórios dos Acompanhamentos das Manutenções dos Sistemas. Específicos, tais como: ar-condicionado, motores, antenas, bombas, CFTV, equipamentos eletromecânicos e demais componentes. Relatórios de ensaios da água gelada e de condensação de sistemas de ar condicionado central. Certificado de teste de estanqueidade do sistema de gás. Relatórios de ensaios preditivos, tais como: termografia, vibrações mecânicas etc.. Relatórios dos Acompanhamentos das Manutenções dos Sistemas Específicos, tais como: ar-condicionado, motores, antenas, bombas, CFTV, equipamentos eletromecânicos e demais componentes. Cadastro de equipamentos e máquinas. Fonte: Adaptado de Norma de Inspeção Predial do Ibape (2012). Depois de colhidos todos os documentos e as informações com proprietários e gerência administrativa, é chegado o momento de desenvolver o diagnóstico das anomalias encontradas na edificação. 22 CAPÍTULO 3 Diagnóstico das patologias De modo geral, as construções estão sujeitas à ação de diversos agentes degradadores, como água, variações de temperatura, presença de sais solúveis, poluição e biodeterioração. As edificações também sofrem com processos de degradação provocados por erros humanos nas diferentes fases da sua construção (concepção, projeto, execução e utilização). Além disso, ainda podem ser afetadas por desastres naturais. Dessa forma, faz-se necessário analisar o tipo e o nível de deterioração dos elementos construtivos e identificar as suas causas, de modo a proceder à reabilitação e a evitar, se possível, a progressão dessas anomalias. Identificar causas a partir de efeitos não é fácil, quer pela dificuldade em estabelecer relações correspondentes entre ambos, quer pela coexistência de diversos pares de causa-efeito que, por vezes, condicionam-se mutuamente e se confundem. Para reconhecer o estado patológico dos materiais e realizar o diagnóstico de anomalias, são necessárias várias técnicas in loco ou laboratoriais. Podemos dividir as técnicas quanto ao grau de destruição (destrutivas e não destrutivas), aos princípios em que se baseiam, aos resultados obtidos, aos elementos ou materiais a que se aplicam, aos objetivos principais e ao tipo de tecnologia utilizada. Quando uma edificação apresenta uma quantidade significativa de anomalias, não é possível partir para os reparos sem um diagnóstico preciso sobre as correções necessárias antes de dar início aos serviços de reparo. Estudo-diagnóstico é o conjunto de procedimentos destinados a garantir o conhecimento conciso a respeito de uma edificação sob a ótica do seu estado de conservação, segurança e causas das anomalias detectadas. O diagnóstico auxilia também na reabilitação dos edifícios, embasando as decisões a serem tomadas nas correções aplicadas. Para fechamento de todo diagnóstico, a inspeção deverá ser levada a fundo. Toda edificação possui particularidades e características especiais, por isso para cada caso é necessária uma metodologia diferente. Além disso, o inspetor necessita de um grande conhecimento não apenas sobre as técnicas construtivas, mas também sobre as características e o comportamento estrutural dos materiais, da forma de execução e da colocação correta dos fatores que podem influir na compatibilidade dos projetos e, consequentemente, na execução. 23 ENGENHARIA DE DIAGNÓSTICO │ UNIDADE I Princípios gerais de um diagnóstico A realização de um diagnóstico é imprescindível para a correta intervenção e correção sobre o objeto construído. Diagnosticar uma edificação nada mais é do que inspecioná- la para detectar anomalias e falhas. Essa atitude permite identificar os problemas e, com os recursos disponíveis, identificar causas que possivelmente deram origem aos defeitos, prever com segurança consequências futuras e propor soluções que venham a mitigar esses problemas. Um diagnóstico só se torna válido quando suas soluções propostas para mitigar os problemas encontrados promovem o desaparecimento ou a estagnação da progressão das anomalias e dos defeitos encontrados. A lentidão de alguns fenômenos inerentes ao comportamento das construções faz com que um diagnóstico respeite a perspectiva temporal. Metodologia de um diagnóstico O diagnóstico de uma edificação é algo que envolve muita cautela, uma vez que se trata da análise de patologias de natureza distinta, o que exige do profissional que fará a inspeção um conhecimento generalizado, que tende a se tornar especializado pela especificidade de causa de cada anomalia. Dessa forma, o estudo-diagnóstico inicia-se de forma generalista, necessitando do conhecimento multidisciplinar em várias áreas, como: geotecnia, estruturas, implantação, fundação, alvenaria, revestimento, isolamento térmico, acabamentos e instalações, o que é contraditório para um especialista. Por isso, em um diagnóstico, muitas vezes faz-se necessário o envolvimento de uma equipe de especialistas para que cada um siga de modo aprofundado em sua área de conhecimento. Diante da contradição apresentada, para se chegar a um diagnóstico surgem vias a serem percorridas durante uma inspeção, sendo elas: » Empírica: via em que o estudo se baseia exclusivamente no saber de experiência do profissional inspetor, sem nenhum aprimoramento ou aprofundamento técnico-científico. » Científica: via em que o diagnóstico é baseado cientificamente e com aprofundamento técnico-científico nas causas patológicas. » Combinação de ambas anteriores: significa aliar experiência e conhecimento do inspetor com meios complementares científicos. 24 UNIDADE I │ ENGENHARIA DE DIAGNÓSTICO Assim, com as três vias apresentadas entende-se que a melhor delas para formular um diagnóstico bem fundamentado é, sem dúvida, a terceira, por levar em consideração a experiência de quem analisa, alicerçada pelo conhecimento científico. Como já mencionado anteriormente, cada edificação possui suas características individuais e particularidades, necessitando, assim, de uma metodologia específica para cada caso a ser diagnosticado, porém existem metodologias desenvolvidas que pode ser combinadas e aplicadas para cada caso, são elas: análise de informações (desenhadas e escritas), realização de questionário, visita ao interior e exterior da edificação, realização de registros fotográficos das anomalias identificadas, medidas in loco e em laboratório e testes de sondagem. » Análise das informações (desenhadas e escritas): plantas gerais da edificação, especificações técnicas das áreas comuns e de trabalhos já desenvolvidos. » Realização de questionário: nesse momento, por meio de questionários aplicados a moradores e gestores da edificação é que será possível detectar as anomalias que mais desagradam os usuáriosdo sistema construtivo. » Visita ao interior e exterior da edificação: inspeção nas áreas externas e internas da edificação. » Realização de registros fotográficos das anomalias identificadas: veículo de grande importância quando não apresentadas em plantas as não conformidades. » Medidas in loco e em laboratório: averiguação do grau da anomalia, podendo ser no local inspecionado ou em testes de laboratório. » Teste de sondagem: permite caracterizar a composição dos elementos quando necessário. Segundo Ferreira (2010), todo diagnóstico deve apresentar, ao final da realização dos trabalhos, um relatório com as anomalias e medidas mitigadoras propostas, seguindo a ordem de apresentação abaixo: » Introdução. » Descrição dos elementos construtivos em análise. » Descrição das patologias. 25 ENGENHARIA DE DIAGNÓSTICO │ UNIDADE I » Resultado das sondagens, medições e suas interpretações. » Fatores que causaram as patologias. » Metodologia para o trabalho de reabilitação. » Medidas mitigadoras e sanadoras para as anomalias encontradas. O diagnóstico vem sendo entendido como o mecanismo à procura de explicações para causas patológicas, mediante a análise dos efeitos provocados, mas há situações em que essas causas são muito mais próximas e notoriamente conhecidas, como o caso das catástrofes naturais que causam anomalias nas edificações. Em tais casos, a simplicidade do diagnóstico é evidente, não seguindo necessariamente uma metodologia aprofundada, sendo muitas vezes suficiente uma análise empírica. Análise documental Para o diagnóstico, após a realização da inspeção visual, é chegada a hora de reunir toda a documentação existente a plantas, execução e utilização do objeto inspecionado para analisar o que essa documentação poderá vir a contribuir para um bom fechamento do diagnóstico. Segundo Ferreira (2010), essa coleta de informações é feita distinguindo três grandes áreas de informação, sendo elas: » da construção, dos elementos e dos materiais; » dos envolventes e das ações da estrutura; » do comportamento da construção. O estudo e a caracterização da edificação envolvem: » o levantamento de sua geometria, dos materiais constituintes e de suas anomalias; » a avaliação das propriedades e a detecção das falhas e anomalias. A análise documental tem por objetivo avaliar e compreender a forma como a edificação interage, de forma particular e com seus elementos individualizados, sob o ponto de vista estrutural, quando submetida a forças e acelerações endógenas e exógenas. 26 UNIDADE I │ ENGENHARIA DE DIAGNÓSTICO Métodos de ensaios Algumas vezes, para chegar ao diagnóstico preciso de uma edificação, é preciso realizar ensaios in loco ou em laboratório. Esses ensaios são divididos em dois grandes grupos: destrutivos e não destrutivos. A seguir, serão diferenciados e elencados alguns exemplos e situações de aplicação para cada um. Ensaios mecânicos destrutivos Os ensaios mecânicos realizados em materiais sólidos são procedimentos que compreendem testes, cálculos, gráficos, consultas, tudo isso respaldado normativamente. Realizar ensaios em um material sólido é submetê-lo a situações que simulam o esforço extremo que o objeto pode alcançar em condições reais de uso. São divididos em dois grandes grupos, destrutivos e não destrutivos. Destrutivos são aqueles que deixam algum sinal no objeto ou que retiram parte deste para submetê- lo ao ensaio, mesmo que não inutilize a peça como um todo. São importantes porque é dessa forma que se verifica a qualidade do material, garantindo confiabilidade e segurança ao usuário. A figura a seguir ilustra os tipos mais comuns de ensaios realizados em materiais sólidos. Figura 7. Ensaios destrutivos. Ensaios destrutivos Ensaio de compressão Ensaio de dureza Ensaio de flexão Fonte: Elaborada pelo autor (2020). Ensaios de compressão consistem na aplicação de uma carga compressiva, em uma única direção, em uma dada parte do objeto em estudo. Esse ensaio é executado quando se deseja determinar a deformação linear, a resistência à compressão, o módulo de elasticidade, a tensão de escoamento, a deformação sob compressão. É realizado por meio de uma prensa hidráulica que permite a transmissão de cargas para o corpo de prova por meio de pratos de compressão vertical, paralelos ao eixo vertical da máquina, conforme figura 8. 27 ENGENHARIA DE DIAGNÓSTICO │ UNIDADE I Figura 8. Prensa hidráulica e medidor de deformações digital. Fonte: Almeida (2012). Ensaios de dureza são realizados com a inserção de uma ponta penetradora no objeto com a finalidade de medir a resistência à penetração quando aplicada uma carga no corpo de prova. A dureza é influenciada por outras propriedades, como o módulo de elasticidade e a viscoelasticidade do material. Figura 9. Durômetro. Fonte: Afinko Soluções em Polímeros (2017). O ensaio de flexão é a aplicação de uma carga em dada parte de certa barra de geometria padronizada. Esse ensaio é utilizado para determinar a resistência à flexão, o módulo de elasticidade, a deformação sob flexão. Essas propriedades são importantes para o controle de qualidade e para avaliar o desempenho dos materiais plásticos quando submetidos a uma carga de flexão. 28 UNIDADE I │ ENGENHARIA DE DIAGNÓSTICO Figura 10. Máquina de ensaio de flexão em sólido. Fonte: Afinko Soluções em Polímeros (2017). Os ensaios mecânicos destrutivos são utilizados em diversos segmentos, não apenas em edificações com deformidades, mas também por institutos de pesquisas, produtores de equipamentos e materiais elétricos, de saúde e segurança humana, brinquedos infantis e artigos de festa, agências governamentais, construção civil, entre outros. Ensaios não destrutivos Os ensaios não destrutivos (END) são definidos como testes realizados para o controle de qualidade em peças acabadas ou semiacabadas para detecção de anomalias por meio de princípios físicos definidos sem prejudicar a posterior utilização do objeto inspecionado nem a extração da peça para análise. Os END permitem a detecção de descontinuidades encontradas no interior do material. Esses ensaios são norteados pela aplicação de energia física de modo a não causar danos ao objeto inspecionado, não causando também prejuízos no funcionamento posterior da peça. Pode ocorrer que os END deixem algum vestígio de utilização nas peças, mas este não influencia no funcionamento do objeto. Os END são utilizados para garantir a qualidade exigida do produto em questão, evitar interrupção de serviços essenciais na utilização da peça, garantir o fator de segurança e, consequentemente, a prevenção de acidentes. Dentre os principais motivos para utilização dos END, destacam-se: capacidade de detecção de descontinuidades ou defeitos em diferentes dimensões, posições e formatos; determinação das propriedades físicas dos materiais, tais como propriedades ópticas, elétricas, magnéticas e mecânicas, por meio da avaliação estrutural de componentes (microestrutura e estrutura da matriz). 29 ENGENHARIA DE DIAGNÓSTICO │ UNIDADE I Os ensaios não destrutivos mais utilizados em materiais sólidos são: ultrassom, radiografia, partículas magnéticas e líquidos penetrantes. O ultrassom em sólidos consiste em utilizar um equipamento dotado de dois transdutores que emitem pulsos ultrassônicos (ondas sonoras) por meio do objeto. Essas ondas atravessam as regiões mais densas da peça, contornando os espaços vazios e as descontinuidades. Assim, é medido o tempo para que uma onda atravesse a peça, e, quanto mais longo for o tempo, maior foi o caminho pelo qual as ondas atravessaram, o que indica maior incidência de descontinuidades. Figura 11. Aparelho digital de ultrassom para sólidos. Fonte: Direct Industry (2020). O método de detecção de deformidades por radiografia consiste na avaliação de uma dada região de um material sólido que apresenta diferença em espessura ou densidade comparada com uma região vizinha. A capacidadedo processo em detectar falhas com pequenas espessuras em planos perpendiculares ao feixe dependerá da técnica de ensaio realizada. Descontinuidades como vazios e inclusões que apresentam uma espessura variável em todas as direções são facilmente detectadas, desde que não sejam muito pequenas em relação à espessura da peça. O ensaio é feito da seguinte forma: o aparelho de radiografia é colocado em frente à deformidade, e o filme, ao fundo da peça, sendo, dessa forma, possível avaliar a profundidade e gravidade do dano em questão. 30 UNIDADE I │ ENGENHARIA DE DIAGNÓSTICO Figura 12. Ensaio não destrutivo por radiografia. Fonte Filme Descontinuidade Radiação Fonte: Andreucci (2014). O END por partículas magnéticas consiste em submeter um objeto a um campo magnético. Na região em que for formado o campo magnético, há indicação de descontinuidade ou falta de continuidade das propriedades do material. A aglomeração do campo magnético favorecerá visualização do formato e da extensão da descontinuidade. Figura 13. Aparelho magnético para detecção de deformidades em sólidos. Fonte: KRAS (2020). Por fim, o ensaio por meio de líquidos penetrantes consiste em fazer penetrar um líquido na abertura da descontinuidade; após a remoção do excesso de líquido da superfície, faz-se o líquido retido sair da descontinuidade por meio de um revelador. A imagem da descontinuidade fica, então, desenhada sobre a superfície. 31 ENGENHARIA DE DIAGNÓSTICO │ UNIDADE I Figura 14. Ensaio de detecção de falhas por meio de líquido penetrante. Fonte: Koten Engenharia (2020). A definição entre a escolha do método de ensaio a ser utilizado está vinculada a diversos fatores, tais como: material a ser inspecionado, tipo de propriedade a ser verificada, custo de realização do ensaio, mão de obra especializada, instalações para realização do ensaio, entre outros. 32 UNIDADE IIGESTÃO DA ENGENHARIA CAPÍTULO 1 Gerenciamento de projetos Segundo o Project Management Institute (PMI), define-se projeto como “um empreendimento único que deve apresentar um início e um fim claramente definidos e que, conduzidos por pessoas, possa atingir seus objetivos, respeitando os parâmetros de prazo, custo e especificações (qualidade e escopo)”. Dessa forma, entende-se que projeto é todo empreendimento com características definidas, possuindo começo e fim, sendo conduzidos por pessoas com o objetivo de alcançar metas previamente definidas. Existem várias situações que podem dar início a um projeto, são elas: necessidade de melhoria de um projeto já existente; necessidade de criação de um novo produto demandado pelo mercado; criação de produtos únicos nunca pensados nem desenvolvidos. No âmbito organizacional, também se faz necessário o início de alguns projetos, sejam eles decorrentes de mudanças dentro da organização ou de necessidades de melhorias internas. Gerir um projeto é um conjunto de práticas, princípios e técnicas aplicadas para administrar um grupo de projetos e controlar cronogramas, custos, riscos e desempenhos para alcançar as necessidades de um cliente final. A gestão de projetos compreende duas etapas: planejamento e controle de projetos. Quando se deseja criar algo, é fundamental planejar em detalhes aquele objeto e pensar nas características inerentes ao correto desempenho daquele produto ou serviço. Aliado a isso, é necessário o controle estruturado que acompanhe todo o processo, desde a criação até o produto concebido. 33 GESTÃO DA ENGENHARIA │ UNIDADE II Figura 15. Gestão de Projetos. Gestão de Projetos Controle de Projetos Planejamento de Projetos Fonte: Campos (2012). Segundo Campos (2012), o ciclo de vida de um projeto é composto por quatro etapas: concepção, planejamento, execução/controle e fechamento ou conclusão. A figura 16 evidencia o ciclo de um projeto. Figura 16. Ciclo de vida de um projeto. Planejamento Final Execução / Controle Concepção Nível da atividade Tempo Fonte: Campos (2012). » Concepção: identificação de necessidades, estabelecimento da viabilidade, definição de alternativas, desenvolvimento de orçamentos e cronogramas e definição da equipe de trabalho. » Planejamento: programação dos recursos humanos, materiais e financeiros, estudos e análises, geração de protótipos, análise de resultados e obtenção de aprovação da execução. » Execução/controle: ocorrência das atividades programadas, monitoração e controle, reajustes que se fizerem necessários. 34 UNIDADE II │ GESTÃO DA ENGENHARIA » Final ou fechamento: encerramento do projeto, aceitação, treinamento do pessoal operacional e realocação dos recursos. O controle do processo não se faz apenas na terceira fase do ciclo de vida do projeto, ao longo do processo é necessário o controle constante, pois a falta de controle durante as etapas pode levar o processo ao caos. Durante a elaboração do projeto, é necessário que ocorra o alinhamento e acordo entre equipe planejadora, cliente e gerência em relação aos objetivos a serem alcançados, pois objetivos bem traçados e claros evitam erros e possíveis retrabalhos. A comunicação entre as partes envolvidas no projeto precisa ser efetiva e constante, acontecendo durante e depois das tarefas, visando esclarecer a todos, auxiliando no desempenho geral, evitando comentários inoportunos e distorcidos entre os envolvidos no desenvolvimento do projeto. É fundamental o apoio da gerência do projeto seja por meio de suporte e promoção de diálogos, de participação geral e, especialmente, por assegurar que o estabelecido seja cumprido, isto é, posto em prática. Segundo Campos (2012), todo projeto necessita seguir alguma metodologia para alcançar os objetivos traçados, as quais podem ser: » Estratégia: metodologia utilizada para lidar com problemas finitos. » Doutrina: é a forma de raciocinar sobre a utilização de recursos e a realização de objetivos, com os seguintes princípios: › É uma solução ou método de trabalho que se aplica a determinados problemas, situações ou tipos de atividades. › A aplicação do método depende da natureza intrínseca do problema ou da situação. › A tarefa básica da Administração de Projetos é assegurar a orientação para um resultado que resolva um problema. › Controlar custos e prazos são condições básicas para se alcançar o resultado. › Os princípios da Administração de Projetos aplicam-se a todos os tipos de projetos. A escala de sofisticação e técnicas varia com a dimensão de cada projeto em questão. 35 GESTÃO DA ENGENHARIA │ UNIDADE II » Habilidade: todas as pessoas que participam de projetos, como gerentes de equipes ou integrantes técnicos de equipes, devem estar familiarizadas com os princípios, os conhecimentos e as técnicas da Administração de Projetos. » Disciplina: por meio dessa metodologia, é possível identificar e sistematizar as áreas mínimas de conhecimento entre as partes envolvidas no projeto, contribuir para a formação de uma linguagem comum e fornecer suporte para programas de treinamento e educação referente à Administração de Projetos. Como já mencionado, todo projeto possui um ciclo de vida. Associados a esse ciclo, surgem componentes para auxiliar o planejamento, o acompanhamento e o controle – por exemplo, o cronograma. Todo projeto é composto de muitas tarefas, sendo essas pequenas ou não. Um cronograma é a disposição gráfica do tempo necessário para executar cada tarefa e, ao final, o demonstrativo do tempo total estimado a ser gasto no desenvolvimento do projeto como um todo. De modo geral, a duração de um projeto é calculada a partir da data zero de início das tarefas, para depois serem estabelecidas a data real de início, as fases intermediárias e a data final prevista. A tabela 1 exemplifica um cronograma. Tabela 1. Cronograma de desenvolvimento de projeto. Cronograma de Desenvolvimento de Projeto MESES MARÇO ABRIL MAIO JUNHO Desenvolvimento de escopo do Projeto X XEntrega de versão 00 do Projeto X X Desenvolvimento da Janela OpenGL X X Modelagem de objetos primitivos com o OpenGL X X X Modelagem de objetos no Maya, para ser inserido no cenário X X Implementação de loader para objetos do Maya X X X Desenvolvimento da lógica do jogo X X X X Entrega de versão 01 (Wireframe) X Aperfeiçoamento da modelagem e da lógica do jogo X X X X Criação do sistema de iluminação X X X X X X Entrega da versão 02 X Texturização do cenário X X X X X Entrega da versão final X Fonte: Campos (2012). 36 UNIDADE II │ GESTÃO DA ENGENHARIA Além do planejamento de tarefas em uma sequência lógica, faz-se necessário o acompanhamento e controle do trabalho em desenvolvimento. Para isso, é possível utilizar uma ferramenta chamada Gráfico de GANTT, que representa o tempo necessário (previsto ou real) como uma barra em um gráfico. Em alguns casos, pode-se utilizar gráficos simples e outros um pouco mais elaborados, até alcançar outros maiores e bem complexos, que podem ser feitos por meio de softwares mais ou menos avançados, como o MS Project da Microsoft. Figura 17. Gráfico de GANTT simples. Atividade A Atividade B Atividade C Atividade D Tempo Jun Jul Ago Set Out Nov Fonte: Adaptado de UFPE (2020). Tabela 2. Gráfico de GANTT elaborado. ID TASK NAME START FINISH DURATION 29/9/2007 19/10/2007 8/11/2007 28/11/2007 18/12/2007 7/1/2008 27/1/2008 1 Escolha e definição do projeto 29/9/2007 5/10/2007 7 ___ 2 Documentos de visão 6/10/2007 29/10/2007 24 ________ 3 Estudo do Projeto 6/10/2007 16/10/2007 11 ____ 4 Estudo da Arte 6/10/2007 16/10/2007 11 ____ 5 Elaboração dos documentos de visão 17/10/2007 29/10/2007 13 _____ 6 Elaboração da apresentação intermediária 25/10/2007 29/10/2007 5 ___ 7 Escolha da metodologia de levantamento de requisitos 30/10/2007 14/11/2007 16 ______ 8 Realização das atividades de levantamento de requisitos 15/11/2007 21/12/2007 37 ___________ 9 Documentos de requisito 5/12/2007 4/1/2008 31 ________ 10 Segunda apresentação do trabalho 13/12/2007 17/12/2007 5 __ Fonte: Adaptado de Campos (2012). 37 GESTÃO DA ENGENHARIA │ UNIDADE II A grande vantagem dos gráficos de GANTT é a representação visual, de maneira simples, possível de acompanhar o teórico (estabelecido) versus o executado (o real que está acontecendo). A partir daí, o gestor responsável pelo projeto poderá tomar as decisões que achar convenientes para corrigir as distorções, sempre na busca de um melhor resultado. Tratando-se de gerenciamento de projetos, os custos internos relativos ao seu desenvolvimento não poderiam deixar de ser abordados, pois são de vital importância para determinar a viabilidade de um projeto por influenciarem diretamente no preço de venda do produto. É razoavelmente fácil quantificar alguns custos como matéria-prima, mão de obra direta e indireta, material de consumo, aluguéis, impostos, taxas, energia elétrica, água, porém é preciso ficar atento a alguns custos que são embutidos e muitas vezes não quantificados, como: custos operacionais, custos de distribuição, custos de testes, custos de software, entre outros. 38 CAPÍTULO 2 Gerenciamento de obras Após o desenvolvimento e a elaboração de todo o projeto, inclusive do cronograma, de um empreendimento civil, seja ele de natura pública ou privada, é chegado o momento de executá-lo, etapa que tem por finalidade adequar, modificar, recuperar ou construir uma edificação. Antes de iniciar qualquer obra, deve haver a formalização do contrato entre as partes interessadas (cliente e executor), documento que estabelece o interesse das partes, os direitos e as obrigações recíprocas. Todo contrato é dirigido por dois princípios: o da lei entre as partes (lex inter partes) e o da observância do pactuado (pacta sunt servanda). O primeiro impede a alteração do que as partes convencionaram, e o segundo as obriga a cumprir fielmente o que avençaram e prometeram reciprocamente. O conteúdo do contrato é a vontade das partes expressas no momento de sua formalização, porém existem cláusulas que são fixas, de acordo com a fidelidade do objeto, os direitos, as obrigações, os encargos e as responsabilidades dos contratantes. É inerente a todo contrato possuir cláusulas essenciais e cláusulas acessórias: as primeiras fixam as condições fundamentais para sua execução, as segundas não afetam o conteúdo negocial, podendo ser omitidas. Como já dito anteriormente, contratos de obras são aqueles cujo objeto acordado consiste em construção, reforma, fabricação, recuperação ou ampliação de determinado bem. Dessa forma, existem quatro formas contratuais de obras que possuem pactos e modalidades distintas, sendo elas: » empreitada por preço global, quando o preço ajustado leva em consideração a obra como um todo; como se trata de empreitada, pode o empreiteiro contribuir apenas com seu trabalho ou pode também fornecer os materiais, aplicável aqui o art. 610o do Código Civil (CC); » empreitada por preço unitário, no qual o preço leva em conta determinadas unidades da obra a ser realizada; » empreitada integral (art. 6o, VIII, “e”), em que se contrata um empreendimento em sua integralidade, compreendendo todas as etapas das obras, os serviços e as instalações; » Tarefa, quando se ajusta mão de obra para pequenos trabalhos, por preço certo, com ou sem fornecimento de materiais (art. 6o, VIII, “d”). 39 GESTÃO DA ENGENHARIA │ UNIDADE II É importante salientar que termos como atrasos, inflações anuais, elevações do mercado, desvalorização da moeda ou do aumento geral de salários no período de vigência do contrato devem ser convencionados entre as partes, mantendo, dessa forma, o equilíbrio financeiro que liga a atividade contratada ao encargo financeiro correspondente. As formas contratuais têm como objetivo facilitar o acordo entre as partes envolvidas no projeto, porém muitas vezes não é possível cobrir as eventualidades que surgem no decorrer do processo executivo, sendo essa a maior crítica aos regimes contratuais padronizados. Durante o desenvolvimento do contrato, deve-se observar de quem serão determinadas responsabilidades, como: responsabilidade pelo projeto; compra dos materiais; construção; se o comissionamento será de uma única organização ou será dividido em várias organizações independentes; se o construtor principal vai gerenciar tanto o projeto quanto a construção, ou só será responsável pelo gerenciamento com a construção realizada por terceiros; e qual será o mecanismo de pagamentos. Em contratos por empreitada por preço global, o valor é pré-estabelecido com o executor da tarefa, incluindo todos os serviços a serem realizados. O pagamento pode ser realizado em uma só parcela, ao final da execução do trabalho, ou em parcelas com datas definidas para serviços de longa duração. Não liberando pagamentos parciais, o contratante obriga o executor a terminar o serviço o quanto antes. Nesse método, é possível trabalhar com as chamadas Ordens de Serviço, uma prática que facilita a vida do executor e do contratante, agiliza os pagamentos e simplifica a gestão de mão de obra terceirizada. Nesse método, a contratante limita-se a inspecionar, realizar medições e garantir a qualidade dos processos executados, não utilizando de sua engenharia tradicional para executar o serviço. Nessa forma contratual, a contratada deve obter informaçõessuficientes para realizar uma oferta de preço global, pois receberá um valor fixo previamente estabelecido, o que não impede o estabelecimento de cláusulas de correção monetária, e, como são frequentes as modificações de escopo, geralmente são incluídas no contrato algumas cláusulas que regulam a prestação de serviços adicionais, bem como sua forma de remuneração, chamadas de aditivos de contrato. Apresenta como vantagens a exigência de menores custos de administração e o oferecimento de maiores garantias comerciais à contratante, ao mesmo tempo em que permite melhor comparação entre propostas concorrentes. Já as desvantagens 40 UNIDADE II │ GESTÃO DA ENGENHARIA envolvem as seguintes situações: obriga a definição prévia do projeto e o escopo antes da concorrência; pode implicar preços mais altos para refletir fatores de segurança; os riscos podem reduzir o número de concorrentes qualificados; a elaboração da proposta é mais demorada; não favorece a melhor qualidade; tende a gerar conflitos e disputas entre as partes a respeito da abrangência do escopo. Na forma contratual preço unitário, o contratado é remunerado pelo serviço realizado, medido por preços unitários definidos previamente. Esse método traz problemas às vezes, porque o contratado não cumpre os prazos estabelecidos pelo contratante. Como forma de evitar problemas com esse tipo de regime contratual, temos: negociar com o empreiteiro a execução de recortes, arremates e requadros dentro dos preços unitários contratados, evitando fazer medições separadas para esses serviços menores; colocar no contrato penalidades caso o empreiteiro não cumpra os prazos estipulados, se o fato correr por sua culpa exclusiva. O contratante deve ficar atento aos detalhes executivos do serviço, pois, como forma de adiantar este, o contratante o executa com poucos funcionários e tende a querer realizá-lo de forma mais rápida, não atentando para detalhes como arremates, recortes, requadros, entre outros serviços que requerem mais atenção e tempo. A empreitada integral é quando o contratado realiza a atividade em sua totalidade, compreendendo todas as etapas das obras, dos serviços e das instalações necessárias, sob inteira responsabilidade da contratada até a sua entrega ao contratante em condições de entrada em operação, atendidos os requisitos técnicos e legais para sua utilização em condições de segurança estrutural e operacional e com as características adequadas às finalidades da contratação. A empreitada global difere-se da empreitada integral, pois, na última, o contratante recebe do contratado o objeto em plena condição de uso, enquanto na primeira é executada uma parte do projeto em si. A tarefa é uma modalidade contratual em que o contratado fixa preço pela hora trabalhada de cada profissional (encarregado, oficial, meio-oficial, servente), e o contrato é remunerado pelo tempo gasto na realização do serviço. Essa forma contratual é comum em obras em que o escopo de serviços é indefinido ou se torna difícil definir as quantidades de tarefas a executar, ou ainda em casos em que os serviços são muito demorados e, por isso, o pagamento por etapas ou preços unitários não compensaria financeiramente o contratado. Nesse tipo de regime contratual, o contratante deve ficar atento, pois, como são pagos serviços por hora-homem, pode acontecer de o empreiteiro atrasar a entrega do 41 GESTÃO DA ENGENHARIA │ UNIDADE II serviço. A depender dos preços acertados, a produtividade dos funcionários alocados deve ser alta, para compensar os valores pagos por administração, o que raramente acontece. A principal vantagem dessa modalidade contratual é a eliminação da necessidade de ser ter uma definição completa do serviço a ser executado, e a principal desvantagem é a exigência do maior rigor. Apresentados os regimes contratuais, não se pode esquecer da garantia a ser colocada no contrato caso algumas das partes venha a descumprir o acordado inicialmente. Essa garantia pode ser apresentada de diferentes formas, sendo elas: » Caução: garantia de manutenção da proposta, ou seja, a de que o contratado manterá as condições por ele definidas em sua proposta, caso seja declarado vencedor. » Retenção: destina-se ao pagamento de eventuais multas ou débitos que ocorram ao longo da execução do contrato. » Multa: garantia contratual na qual se aplica uma penalidade de valor pecuniário ao contratado, por causa de descumprimentos de obrigações contratuais assumidas. » Seguro: garantia coberta por uma apólice emitida por uma entidade seguradora legalmente constituída e autorizada a funcionar no país; a apólice é o espelho de um contrato de seguro, no qual são especificadas condições de caráter geral, especial ou particular. Definido o regime contratual, as cláusulas e as garantias, é chegado o momento da formalização. Muitos contratados não leem os contratos antes de assinar, considerando-os uma mera formalidade, o que é um grande erro. Hedley (2002) considera importante uma sequência de passos para ajudar o contratado a rever as condições da obra e saber se realmente possui capacidade técnica para realizá-la antes da assinatura do contrato: » Revisar a proposta: rever com a equipe os custos, as necessidades de recursos, e confirmar preços com fornecedores. » Rever todas as plantas e relatórios: muitas vezes, o empreiteiro faz as estimativas de preços sem conhecer os projetos completos. » Rever todas as especificações: além das plantas, o tipo de acabamento, as solicitações e os critérios de medição são de fundamental importância. 42 UNIDADE II │ GESTÃO DA ENGENHARIA » Visitar o local da obra: alguns canteiros possuem limitações sérias de espaço, obrigando o empreiteiro a utilizar guindastes e gruas para mover o material; problemas com o acesso também afetam a produção e a logística do canteiro. » Revisar a programação da obra: se o empreiteiro fez algum cronograma estimativo para orçar a obra, deve revisar as estimativas de tempo, para ter certeza de ser possível concluir o contrato no prazo. » Completar uma lista de checagem do projeto: o empreiteiro deve conferir se o contrato está claro no que diz respeito ao escopo, aos prazos, aos marcos intermediários, às exigências de materiais, ferramentas, equipamentos, segurança do trabalho, entre outros. » Verificar recursos do projeto: levantar a capacidade financeira do contratante para arcar com a obra e verificar se seu capital de giro é suficiente para mobilizar a sua equipe e mantê-la até (no mínimo) a primeira medição. » Ler todo o contrato: além de uma leitura acurada, procurar sempre a orientação de um advogado. » Executar o contrato: depois de toda essa revisão, o empreiteiro estará muito mais seguro para executar o contrato. Contratos bem feitos e acordados adequadamente são essenciais para o sucesso de um projeto. No momento da contratação, deve-se buscar eximir todas as dúvidas existentes no processo. O escopo tem que ser bem definido, assim como as obrigações de cada parte. Os responsáveis pela contratação devem ter maturidade e experiência suficientes para avaliar prazos e preços. No mercado da construção civil, é comum a contratação de serviços por preços e prazos inexequíveis. Essa prática é adotada por contratados que buscam, de forma irresponsável, a obtenção do lucro a qualquer custo. Essas empresas adotam uma arriscada estratégia de reverter os prejuízos com reivindicações financeiras ao longo da execução das obras, por isso é necessário bastante cuidado ao escolher os seus contratantes. Contrato firmado não é sinônimo de riscos, problemas e conflitos exauridos. Risco é todo evento incerto que poderá trazer efeito positivo ou negativo sobre o projeto. Gerenciar o risco é identificar, analisar e avaliar respostas adequadas para riscos 43 GESTÃO DA ENGENHARIA │ UNIDADE II encontrados. Segundo Nunes (2013), os riscos diferem de acordo com o tipo do projeto, mas, de modo geral,são classificados em: » Riscos de mercado: predições do mercado sobre demanda de energia, consumo de petróleo e atividade econômica são a base para o início dos estudos de viabilidade de grandes projetos de engenharia. Múltiplos cenários são avaliados com o objetivo de analisar o retorno do empreendimento em sua vida útil, e a habilidade de prognosticar demanda varia com o tipo e com atributos específicos de cada projeto. » Riscos financeiros: esses representam a primeira dificuldade em grandes projetos, que é a de atrair potenciais investidores e obter financiamentos, já que quem vai investir analisa o potencial de retorno e os riscos do empreendimento. Nesse caso, devem ser analisados os riscos de alta de preços devido a crises em setores específicos. » Riscos tecnológicos: grandes empreendimentos mostram uma grande variedade de riscos tecnológicos que refletem suas dificuldades de engenharia (por exemplo, demolições) e seu grau de inovação. Alguns riscos são inerentes ao projeto e às tecnologias empregadas, mas pode acontecer que, embora as tecnologias sejam testadas e conhecidas, sua interação com os elementos naturais encontrados em uma determinada obra pode ser a causa de riscos. » Riscos de construção: representam todas as dificuldades que o contratante, o contratado e os subcontratados encontram na execução dos projetos. » Riscos operacionais: referem-se à possibilidade de que a planta contratada não obtenha o desempenho esperado ou satisfaça o desempenho mínimo ou os dados garantidos especificados no contrato. » Riscos regulatórios: grandes empreendimentos dependem de leis e normas produzidas por agências regulatórias, as quais controlam o retorno do investimento e definem as práticas do mercado. Alguns dos riscos estão associados com fatores macroeconômicos, outros com dificuldades burocráticas. As agências governamentais, especialmente ligadas ao meio ambiente, podem atrasar ou até suspender projetos simplesmente negando ou demorando a liberar licenças sem maiores justificativas. 44 UNIDADE II │ GESTÃO DA ENGENHARIA » Riscos sociais: referem-se à possibilidade de a proprietária do empreendimento encontrar oposição de movimentos sociais organizados (Movimento dos Sem Terra – MST; Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB; movimentos indígenas) e outros grupos de pressão (Organizações não Governamentais). Esses riscos podem ser minimizados ou evitados com a participação dos grupos de interesse na elaboração do projeto. » Riscos de concessão: envolvem a possibilidade de que os governantes decidam renegociar os valores de contratos, concessões, direitos de propriedade, quedas de tarifas, entre outros, em virtude de crises econômicas e mudanças políticas. » Riscos de jurisdição: em muitos países, existe uma superposição de atribuições das agências reguladoras e de vários níveis da organização política (órgãos federais, estaduais e municipais). Conflitos em projetos muitas vezes não são originados por questões técnicas ou gerenciais, mas, sim, por questões de relações interpessoais, por isso é importante manter um ambiente de franqueza e confiança, fixar tarefas, responsabilidades, objetivos e metas, prazos e níveis de qualidade, com bastante clareza, em cooperação com a equipe, e estabelecer eficiente nível de comunicação interna, com especial atenção para a retroalimentação (feedback) sobre os resultados apresentados. Um projeto exige do gestor e de sua equipe posturas, técnicas e conhecimentos muito diversificados, mas esses devem ser ajustados como peças de uma máquina de precisão. 45 CAPÍTULO 3 Vistorias Como já mencionado anteriormente, vistoria é a constatação técnica de determinado fato, condição relativa a um edifício. As patologias estão presentes há muito tempo na construção civil, seja na forma de infiltrações, vestígios de umidade, trincas, fissuras, rachaduras, desprendimento de pintura, entre outras manifestações. Dessa forma, é necessário realizar manutenção periódica dos elementos construtivos para conservação do sistema estrutural. A manutenção preventiva faz-se importante por evitar gastos excessivos em reparos que poderiam ser corrigidos anteriormente caso fossem detectados em tempo hábil. Toda vistoria em um empreendimento tem por finalidade constatar de maneira visual, ensaio in loco ou em laboratório as não conformidades técnicas, as anomalias e as falhas presentes na edificação em geral, mapeando-as em projeto, classificando-as quanto à natureza, relacionando-as quanto ao grau de risco, bem como elaborando um padrão de execução para a manutenção em concordância com a ordem de urgência escalar das patologias. Vistorias em edificações podem acontecer em diferentes fases do seu desenvolvimento. O fato de serem realizadas no início ou fim do processo não inviabiliza ou anula as demais. Toda vistoria gera como produto um laudo, o qual, assim como a vistoria, deve seguir as fases de execução do empreendimento. Como forma de facilitar as atividades, há cinco principais tipos de vistorias: vistoria confrontante de obras; vistorias especiais em obras; vistoria programada de edificações; vistoria para comercialização de imóveis usados; vistoria para imóveis locados. Vistorias confrontantes de obra, também conhecidas como vistoria cautelar de vizinha, ocorrem antes do início da execução da obra propriamente dita e têm por objetivo vistoriar tecnicamente as condições da região ao redor da obra, sejam elas físicas, ambientais ou socioeconômicas, como forma de resguardar ambas as partes, construtora e vizinhança, caso venha a ocorrer qualquer tipo de dano no imóvel vistoriado. Esse tipo de vistoria, além de resguardar ambas as partes, também preza por manter a relação harmônica entre construtora e vizinhança por indicar a preocupação do executor com as edificações ao redor da edificação a ser executada. Esse tipo de inspeção resguarda a vizinhança por verificar a situação atual do imóvel, anterior ao início da obra circunvizinha, e situação final após obra executada, permitindo um comparativo entre os estados de conservação anterior e posterior 46 UNIDADE II │ GESTÃO DA ENGENHARIA e, caso surja ou agrave-se alguma anomalia, e a construtora seja apontada como causadora ou agravante das patologias, possa ser responsabilizada pelos reparos. A vistoria cautelar de vizinhança pode se tornar algo complexo, pois, além da parte física e das não conformidades detectadas no imóvel, é necessário incluir os detalhes de cada situação, como as características gerais e técnicas do local, situação do terreno e segurança local. No momento da vistoria, algumas perguntas podem ser norteadoras, como: “Há rachaduras em alguma parede do imóvel? Há indícios de infiltração em algum cômodo? Como é o funcionamento da rede de esgoto no local? Há pisos, azulejos ou cerâmicas rachadas/trincadas no imóvel?”. A resposta a essas perguntas gerará o laudo de vistoria cautelar de vizinhança, devendo indicar, por cômodos, onde cada anomalia está localizada. Vistorias especiais em obras acontecem quando fatos incomuns ocorrem, fatos esses que se tornam incomuns por sofrerem mudança repentina ou variação de tempo, além de resguardar as informações relevantes para clientes e empresas no futuro. Nesse tipo de vistoria, dois tipos de caracterização tornam-se relevantes: interrupção dos serviços da obra ou acidentes. Independentemente da natureza da interrupção dos serviços da obra, o motivo provavelmente estará relacionado a falhas, inadimplência ou ocorrência de deficiência em algum quesito, sendo necessária, dessa forma, a interrupção até que a situação seja regularizada. Para caracterizar os acidentes, tudo aquilo que estiver relacionado a eles deve ser identificado, sejam os danos, as proporções, as inadequações, a situação prévia do local e as possíveis causas para o ocorrido. Vistorias programadas de edificações acontecem de maneira planejada no decorrer da obra em execução e
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