Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ÉTICA EM SAÚDE P r o f ª . : P s i . E l d i a d o s S a n t o s A r a ú j o p r o f e s s o r a e l d i a @ g m a i l . c o m Observa-se que a palavra ética passou a fazer parte do vocabulário do homem comum e está sempre na mídia, demonstrando a vigência de uma preocupação urgente e universal. A este respeito, Cortina (2003, p. 18) afirma que: “embora a ética esteja na moda, e todo mundo fale dela, ninguém chega realmente a acreditar que ela seja importante, e mesmo essencial para viver”. •Afinal, o que devemos entender por ética? •Esse não é um assunto tradicional dos filósofos e pensadores? •O que significa ética hoje? •Como a ética pode ser útil ou interferir em nossas vidas cotidianas e na prática da saúde? Ética X Moral A ética, hoje, é compreendida como parte da Filosofia, cuja teoria estuda o comportamento moral e relaciona a moral como uma prática, entendida por Cortella (2007, p. 103) como o “exercício das condutas”. Além disso, é entendida como um tipo ou qualidade de conduta que é esperada das pessoas como resultado do uso de regras morais no comportamento social. O que se entende por moral? Existe diferença entre ética e moral? A moral é entendida como um conjunto de normas para o agir específico ou concreto. Assim, constitui-se de valores e preceitos ligados aos grupos sociais e às diferentes culturas, determinando o que é ou não aceito por este grupo. Por sua vez, a palavra “moral” vem do latim mos, que tanto pode significar “costume” como “caráter” ou gênero de vida. A ética discute os valores que se traduzem em existências humanas mais felizes, mais realizadas, com mais bem-estar e qualidade de vida. Além disso, busca os valores que signifiquem dignidade, liberdade, autonomia e cidadania. O termo ética, deriva do grego ethos (caráter, modo de ser de uma pessoa). As duas estão entrelaçadas! A Filosofia Moral distingue entre ética e moral. Ética tem a ver com o "bom": é o conjunto de valores que aponta qual é a vida boa na concepção de um indivíduo ou de uma comunidade. Moral tem a ver com o "justo": é o conjunto de regras que fixam condições equitativas de convivência com respeito e liberdade. Éticas cada qual tem e vive de acordo com a sua; moral é o que torna possível que as diversas éticas convivam entre si sem se violarem ou se sobreporem umas às outras. Por isso mesmo, a moral prevalece sobre a ética. No terreno da ética estão as noções de felicidade, de caráter e de virtudes. As decisões de qual propósito dão sentido vida, que tipo de pessoa eu sou e quero vir a ser e qual a melhor maneira de confrontar situações de medo, de escassez, de solidão, de arrependimento etc. são todas decisões éticas. No terreno da moral estão às noções de justiça, ação, intenção, responsabilidade, respeito, limites, dever e punição. A moral tem tudo a ver com a questão do exercício do direito de um até os limites que não violem os direitos do outro. As duas coisas, claro, são indispensáveis. Sem moral, a convivência é impossível. Sem ética, é infeliz e lamentável. História da ética Éticas do ser Sócrates: a excelência humana se revela pela atitude de busca da verdade. Isso significa abandonar atitudes dogmáticas e céticas e assumir a atitude crítica que só se deixa convencer pelo melhor argumento. A verdade habita no fundo de nós mesmos e podemos atingi-la pela introspecção e o diálogo. Embora a verdade encontrada pelo método maiêutico (parto de idéias) é sempre provisória, ela é um achado que ultrapassa simplesmente as fronteiras da comunidade que se vive. Sócrates professa o intelectualismo moral, pois quem conhece o bem sente-se impelido a agir bem e quem age mal é porque é um ignorante. História da ética Platão: propõe uma utopia moral no livro A República. A virtude correspondente da alma racional é a prudência e a sabedoria; da alma irascível é a fortaleza e o valor; da parte concupiscível do apetite, a virtude da moderação. A virtude da justiça harmoniza as diferentes virtudes tanto na cidade quanto na alma. Aristóteles: É o primeiro filósofo a elaborar tratados sistemáticos de ética como a Ética a Nicômaco. Ele se pergunta “Qual é o fim último de todas as atividades humanas?” Este fim não pode ser outro que a eudaimonia (felicidade como auto-realização), a vida boa e feliz. A partir daí investiga o que é a felicidade. Por exemplo, a virtude da coragem é o equilíbrio entre a covardia e a temeridade. Mas uma pessoa virtuosa precisa viver numa sociedade regida por boas leis, porque o logos não só nos capacita para a vida intelectual teórica e a vida pessoal prática, mas também para a vida social, pois a ética não pode desvincular-se da política. Idade Média Agostinho de Tagaste: Para ele, os filósofos gregos estavam certos ao afirmar que a moral deve ajudar a conseguir uma vida feliz, Mas eles não souberam encontrar a chave da felicidade humana que se encontra no encontro amoroso com Deus Pai. A moral é necessária, porque precisamos encontrar o caminho de volta para a Cidade de Deus da qual nos extraviamos por ceder às tentações egoístas. Tomás de Aquino: Ele tenta conciliar as principais contribuições de Aristóteles com a revelação judaico-cristã contida na Bíblia. Para Tomás, a felicidade perfeita está em contemplar a verdade que se identifica com o próprio Deus. Aqui entra o papel das virtudes, principalmente a virtude intelectual da prudência em semelhanças as características de essência e existência A ética não é e nem pode ser neutra! A ética não se identifica com nenhum código moral, mas isso não significa que ela seja neutra diante dos diferentes códigos, pois ela é crítica dos costumes morais. A ética tem uma tripla função: 1) esclarecer o que é a moral, quais são seus traços específicos; 2) fundamentar a moralidade, ou seja, procurar averiguar quais são as razões que conferem sentido ao esforço dos seres humanos de viver moralmente; 3) aplicar aos diferentes âmbitos da vida social os resultados obtidos nas duas primeiras funções, de maneira que se adote uma moral crítica em vez da subserviência a um código. A moral dogmatiza com seus códigos, enquanto que a ética argumento criticamente. Não há totalitarismo em exigir argumentação, mas é totalitário dogmatismo da mera autoridade, das pretensas evidências, das emoções e das metáforas. Filosofar é argumentar. Para a filosofia antiga e medieval, centrada no ser, a moralidade era entendida como uma dimensão do ser humano. A filosofia moderna tem como referência não mais o ser, mas a consciência e a moralidade é uma forma peculiar de consciência. Bioética O início da Bioética se deu no começo da década de 1970, com a publicação de duas obras muito importantes de um pesquisador e professor norte- americano da área de oncologia, Van Rensselaer Potter. Propôs um novo ramo do conhecimento que ajudasse as pessoas a pensar nas possíveis implicações (positivas ou negativas) dos avanços da ciência sobre a vida (humana ou, de maneira mais ampla, de todos os seres vivos). Sugeriu que se estabelecesse uma “ponte” entre duas culturas, a científica e a humanística, guiado pela seguinte frase: “Nem tudo que é cientificamente possível é eticamente aceitável”. Conceito Um dos conceitos que definem Bioética (“ética da vida”) é que esta é a ciência “que tem como objetivo indicar os limites e as finalidades da intervenção do homem sobre a vida, identificar os valores de referência racionalmente proponíveis, denunciar os riscos das possíveis aplicações” (LEONE; PRIVITERA; CUNHA, 2001). O progresso científico não é um mal, mas a “verdade científica” NÃO pode substituir a ética. Todos nós sofremos influências do ambiente em que vivemos, sejam elas históricas, culturais ou sociais. O paternalismo hipocrático - Pirâmide social Ao longo da história, a estrutura da sociedade deixou de ser piramidal, mas essa postura “paternalista”, ou seja, na qual os profissionais da saúde são considerados “pais”, ou melhores que os seus pacientes, ainda hoje épercebida com frequência. Destacamos três modalidades que exercem atualmente grande influência na reflexão ética: A) o individualismo, B) o hedonismo, C) o utilitarismo. Individualismo Essas relações determinam limites às liberdades individuais e impõem responsabilidades diante das consequências dos atos individuais na vida dos outros. Os vínculos nos fortalecem, a independência nos fragiliza. Não podemos falar de “liberdade” sem considerar a “responsabilidade” dos nossos atos. Na lógica hedonista, a supressão da dor e a extensão do prazer constituem o sentido do agir moral. Na reflexão ética, o predomínio dessa lógica hedonista faz com que o conceito de “vida” fique reduzido a essas expressões sensoriais de dor e prazer. A “qualidade de vida” para o hedonismo é interpretada como eficiência econômica, consumismo desenfreado, beleza e prazer da vida física. Ficam esquecidas as dimensões mais profundas da existência, como as interpessoais, as espirituais e as religiosas. Hedonismo Utilitarismo Nessa perspectiva, as nossas ações se limitam a uma avaliação de “custos e benefícios”. O referencial “ético” para as decisões é ser bem-sucedido; o insucesso é considerado um mal. Só o que é útil tem valor. Em princípio, valoriza-se algo positivo: o justo desejo de que nossas ações possam ser frutíferas. Mas o problema desse raciocínio utilitarista é que, com facilidade, pode-se entender que “só o que é útil tem valor”.
Compartilhar