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RESUMO: COMITÊS DE ÉTICA EM PESQUISAS COM SERES HUMANOS Fernanda Oliveira INTRODUÇÃO O texto “Comitê de Ética em Pesquisas com Seres Humanos”, de Zoboli e Spinetti, é o nono capítulo do livro Bioética Clínica, organizado por Siqueira, Zoboli e Kipper. As autoras têm por objetivo fazer um breve levantamento histórico, nacional e internacional, dos precedentes dos comitês de ética em pesquisas com seres humanos e discutir suas atuações, funções, protocolos e responsabilidades. HISTÓRICO 1900 – O senador norte-americano Jacob H. Gallinger propõe, sem sucesso, que toda a pesquisa precisaria ser licenciada pelo Distrito de Columbia. 1901 – O governo da Prússia elaborou um documento que previa que todos os procedimentos diagnósticos ou terapêuticos realizados com seres humanos deveriam ser aprovados pelo diretor da instituição médica e que os registros deveriam ser arquivados como prova de que todas as condições foram obedecidas. 1931 – Desenvolvida por médicos alemães, é implementada a Lei Nacional, com diretrizes a respeito de riscos e benefícios, danos decorrentes da pesquisa, consentimento informado, atenção aos vulneráveis, mecanismos de controle e responsabilização, protocolo de pesquisa e relevância social da pesquisa. Esta lei, contudo, não foi capaz de conter as atrocidades dos experimentos com seres humanos durante a Segunda Guerra Mundial. 1946 – Após as atrocidades cometidas em pesquisas com seres humanos durante a Segunda Guerra Mundial, foi elaborado o Código de Nuremberg, considerado o grande marco da discussão sobre ética em pesquisa com seres humanos. 1964 – A fim de revisar e suplementar as diretrizes do Código de Nuremberg, foi implementada pela Associação Médica Mundial a Declaração de Helsinque, voltada às pesquisas biomédicas, que trouxe grandes avanços e é até hoje um referencial. 1974 – Motivados por diversas denúncias de má conduta ética em pesquisa com seres humanos nos Estados Unidos, foi elaborado o Relatório de Belmont, que definiu os princípios éticos básicos que deveriam sustentar pesquisas bioéticas: respeito, beneficência e justiça. Nesse mesmo ano, foi criada a Comissão Nacional para Proteção de Sujeitos Humanos em Pesquisas Biomédicas e de Comportamento. 1982 – Em conjunto com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Conselho para a Organização Mundial de Saúde (CIOMS) emitiu as Diretrizes Internacionais Propostas para a Pesquisa Biomédica em Seres Humanos, que estabelecem normas e mecanismos éticos. 1988 – No Brasil, a resolução 01/1988 estabelecia normas com ênfase nas pesquisas biomédicas e farmacológicas, instituindo a exigência de Comitês de Ética em Pesquisa (CEPs) em universidades, centros de pesquisa e instituições. 1991 – Visando maior abrangência de pesquisas epidemiológicas com vacinas e medicamentos, o CIOMS criou o Guia Internacional para Análise Ética de Estudos Epidemiológicos. 1996 – A resolução CNS/MS 196/1996 é considerada o grande marco da ética em pesquisa no Brasil, baseando-se em documentos nacionais e internacionais e estabelecendo normas éticas e regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos, além de incorporar os quatro princípios básicos da ética principialista: autonomia, beneficência, não-maleficência e justiça. PROTOCOLO DE PESQUISA O Protocolo de Pesquisa é um documento ou conjunto de documentos que deve contemplar a descrição da pesquisa em seus aspectos fundamentais, informações ao sujeito de pesquisa, qualificação dos pesquisadores e instâncias responsáveis, sendo uma parte do Projeto de Pesquisa. Este documento permite ao pesquisador organizar sua proposta de trabalho e elaborar um projeto de pesquisa correto e ao CEP que possa desempenhar sua função de avaliar e emitir um parecer. O Protocolo de Pesquisa é composto por: folha de rosto, descrição dos propósitos, apresentação das hipóteses, revisão bibliográfica, detalhamento do projeto com material e métodos, casuística, resultados esperados e bibliografia. A metodologia e bem suportada é a base para o desenvolvimento de uma pesquisa ética e um dos pontos cruciais para a análise ética dos CEPs. No projeto deverá constar, ainda, as responsabilidades do pesquisador, da instituição promotora e do patrocinador e os critérios para suspensão ou encerramento da pesquisa. Além disso, deverão estar detalhadas as instalações, centros, comunidades e/ou instituições onde será desenvolvida a pesquisa e garantidos espaços que não constranjam os envolvidos. Os possíveis problemas decorrentes da pesquisa devem, na medida do possível, ser antecipados pelo pesquisador. Recursos, fontes, destinação, forma e valor da remuneração devem ser detalhados em um orçamento financeiro, de acordo com a regulamentação vigente. Os resultados de toda e qualquer pesquisa desenvolvida, ainda que desfavoráveis, devem ser divulgados – e a forma de divulgação destes deve constar no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). No protocolo, devem constar, se for o caso, qual será a destinação dos materiais secundários ou biológicos utilizados. Também deverão ser caracterizados e descritos os planos e procedimentos de recrutamento e os critérios de inclusão e exclusão, descrição dos possíveis riscos, danos, benefícios, comprometimentos, fidelidade, possibilidade e gravidade, além das medidas de minimização de riscos, segurança e proteção e garantia da confidencialidade. Também devem ser anexados para análise do CEP os currículos dos pesquisadores, Termo de Compromisso do Pesquisador Responsável e da Instituição, autorização para realização da pesquisa na instituição, e o TCLE, que deve ser claro e adequado. Todos os documentos necessários ao Protocolo de Pesquisa garantem o desenvolvimento científico sólido, honesto e ético. COMITÊS DE ÉTICA EM PESQUISA Os CEPs fundamentam-se na transversalidade de saberes concernentes à sociedade, à integridade e à integridade dos sujeitos de pesquisa e à integridade da ciência. Toda a pesquisa envolvendo seres humanos deve ser submetida à um CEP e todas as instituições que realizam pesquisas com seres humanos devem sediar um ou mais CEPs. O CEP deve ter, no mínimo, sete membros e ser multi e transdisciplinar, com integrantes da saúde, das exatas, sociais e humanas, inclusive juristas teólogos, filósofos, sociólogos, bioeticistas, representantes da comunidade e consultores. Os CEPs devem ter total independência na tomada de decisões e manter confidenciais todas as informações que receberem. Não podem sofrer pressão de quaisquer instituições ou sujeitos, devem se isentar de envolvimento financeiro e não podem comprometer o objetivo primário da análise dos projetos. Os CEPs têm papel consultivo e educacional, fomentam a reflexão acerca da prática ética e deve primar pelo zelo pelos direitos do sujeito de pesquisa. QUESTÕES PARA APRIMORAMENTO DOS CEPs Falta de definição: CEPs são instâncias burocráticas ou reflexivas? Recusa de submissão à análise dos CEPs: muitas instituições e academias não aceitam a análise de seus projetos pelos CEPs, temendo a exposição e a incompetência do CEP. Escolha dos membros: muitos profissionais não se voluntariam a participar dos CEPs, o que acarreta em uma repetição dos mesmos membros que estão disponíveis. Falta de entendimento: muitos CEPs ainda não conseguiram compreender a função do representante do usuário, em parte por sua falta de formação acadêmica. Demora nos pareceres: a demora para redação dos pareceres implica em atrasos consideráveis nas pesquisas. Falta de quórum: também acarreta em atraso para o desenvolvimento de pesquisas. BIBLIOGRAFIA ZOBOLI, E.; SPINETTI, S. Comitês de ética em pesquisas com seres humanos. In: SIQUEIRA, J. E.; ZOBOLI, E.; KIPPER, D. J. (orgs.). Bioética clínica. São Paulo, SP: Gaia, 2008.
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