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A classe Cestoda compreende um interessante grupo de parasitos, hermafroditas, de tamanhos variados, encontrados em animais vertebrados. Apresenta o corpo achatado dorsoventralmente, é provida de órgãos de adesão na extremidade mais estreita, a anterior; sem cavidade geral, e sem sistema digestório. Os cestoides mais frequentemente encontrados parasitando os humanos pertencem à família Taenidae, na qual são destacadas Taenia solium e Taenia saginata (popularmente conhecidas como ‘solitárias’). Elas são responsáveis pelo complexo teníase-cisticercose, que pode ser definido como um conjunto de alterações patológicas causadas pelas formas adultas e larvares nos hospedeiros. VERME ADULTO: A Taenia sp. apresenta corpo achatado dorsoventralmente em forma de fita, dividido em escólex (cabeça), colo (pescoço) e estróbilo (corpo). São de cor branca leitosa com a extremidade anterior bastante afilada de difícil visualização. Escólex: pequena dilatação, situada na extremidade anterior, funcionando como um órgão de fixação do cestoide à mucosa do ID humano. Apresenta 4 ventosas formadas de tecido muscular. Colo: porção mais delgada do corpo onde as células estão em intensa multiplicação; é a zona de crescimento ou de formação de proglotes. Estróbilo: é o restante do corpo do parasito. A estrobilização é progressiva, ou seja, à medida que cresce o colo, vai ocorrendo a delimitação das proglotes e cada uma delas inicia a formação de seus órgãos. Assim, quanto mais afastado do escólex, mais evoluídas são as proglotes. As proglotes são subdivididas em: (a) Jovens: são mais curtas do que largas e já apresentam o início do desenvolvimento dos órgãos genitais masculinos, que se formam mais rapidamente que os femininos (protandria); (b) Maduras: possuem os órgãos reprodutores completos e aptos para a fecundação. (c) Grávidas: estão situadas mais distantes do escólex. São mais compridas que largas e internamente os órgãos reprodutores vão sofrendo involução enquanto o útero se ramifica, ficando repleto de ovos. Essas proglotes sofrem apólise (desprendimento espontâneo do estróbilo). Em T. solium, são eliminadas passivamente com as fezes de 3-6 anéis unidos. Em T. saginata as proglotes são eliminadas separadamente, entre as evacuações, contaminando a roupa íntima do hospedeiro. O tegumento que reveste a superfície do corpo dos cestoides é formado por um citoplasma de natureza sincicial, sem núcleos, rico em mitocôndrias, diminutos vacúolos e vesículas. Externamente, uma membrana celular reveste o citoplasma e desempenha um importante papel metabólico, pois constitui a interface parasito-hospedeiro, através do qual se dão todas as trocas nutritivas e excreção dos resíduos metabólicos. Didaticamente, a teníase e a cisticercose são duas entidades mórbidas distintas, causadas pela mesma espécie, porém com fase de vida diferente. Teníase: alteração provocada pela presença da forma adulta da T. solium ou T. saginata no ID do HD, os seres humanos; Cisticercose: alteração provocada pela presença da larva nos tecidos de HI normais, suínos e bovinos. Hospedeiros anômalos (cães, gatos, macacos, humanos) podem albergar a forma larvar da T. solium. MORFOLOGIA OVOS: esféricos. São constituídos por uma casca protetora, embrióforo, que é formado por blocos piramidais de quitina unidos entre si por uma substância cementante que lhe confere resistência no meio ambiente. Internamente encontra-se o embrião hexacanto (oncosfera), provido de três pares de acúleos e dupla membrana. CISTICERCO: T. solium: é constituído de uma vesícula translúcida com líquido claro, contendo invaginado no seu interior um escólex com 4 ventosas, rostelo e colo; T. saginata: difere apenas pela ausência do rostelo. A parede da vesícula dos cisticercos é composta por 3 membranas: cuticular (externa); celular (intermediária) e reticular (interna). No SNC humano, o cisticerco pode se manter viável por vários anos. Durante este tempo, observam-se modificações anatômicas e fisiológicas até a completa calcificação da larva: - Estágio vesicular: o cisticerco apresenta membrana vesicular delgada e transparente, líquido vesicular incolor e hialino e escólex normal; pode permanecer ativo por tempo indeterminado ou iniciar processo degenerativo a partir da resposta imune do hospedeiro; - Estágio coloidal: líquido vesicular turvo e escólex em degeneração alcalina; - Estágio granular: membrana espessa, gel vesicular apresenta deposição de cálcio e o escólex é uma estrutura mineralizada de aspecto granular; - Estágio granular calcificado: o cisticerco apresenta- se calcificado e de tamanho bem reduzido. T. solium T. saginata PROGLOTES GRÁVIDAS T. solium T. saginata Escólex - Globoso - Com rostro - Com dupla fileira de acúleos - Quadrangular - Sem rostro - Sem acúleos Proglotes - Ramificações uterinas pouco numerosas, de tipo dendrítico; - Saem passivamente com as fezes - Ramificações uterinas muito numerosas, de tipo dicotômico - Saem ativamente no intervalo das defecações Cisticerco Apresenta acúleos Não apresenta acúleos Capacidade de levar à cisticercose humana Comprovada Não foi comprovada Ovos Indistinguíveis Indistinguíveis Fase adulta: Intestino delgado humano; Cisticerco: T. solium: tecido subcutâneo, muscular, cardíaco, cerebral e nos olhos de suínos e acidentalmente em humanos e cães; T. saginata: tecidos dos bovinos; Os humanos parasitados eliminam as proglotes grávidas cheias de ovos para o exterior. As proglotes se rompem no meio externo (por efeito da contração muscular ou decomposição de suas estruturas), liberando milhares de ovos no solo. Em ambientes úmidos, os ovos têm grande longevidade e mantêm- se infectantes por meses. Um HI (suíno para T. solium e bovino para T. saginata) ingere os ovos. Os embrióforos (casca de ovo) sofrem a ação da pepsina no estômago; no intestino as oncosferas sofrem a ação dos sais biliares, que são de grande importância para sua ativação e liberação. Uma vez ativadas, as oncosferas liberam-se do embrióforo e penetram nas vilosidades intestinais com o auxílio dos acúleos. Permanecem nesse local por 4 dias para adaptarem-se às condições fisiológicas do hospedeiro. Em seguida penetram nas vênulas, atingindo as veias e os vasos linfáticos, sendo então transportadas a todos os órgãos e tecidos do organismo até atingirem o local de implantação por bloqueio do capilar. Posteriormente, atravessam a parede do vaso, instalando-se nos tecidos circunvizinhos. No interior dos tecidos, perdem os acúleos (exceto em T. solium) e cada oncosfera transforma-se em um pequeno cisticerco , que ao final de 4-5 meses de infecção atinge 12 mm de comprimento. As oncosferas desenvolvem-se para cisticercos em qualquer tecido mole, mas preferem aqueles de maior movimentação e oxigenação (mm. Como masseter, língua, coração e o cérebro). Permanecem viáveis nos músculos por alguns meses e o cisticerco da T. solium, no SNC, por alguns anos. A infecção humana ocorre pela ingestão de carne crua/mal cozida de porco ou boi infectado. O cisticerco ingerido sofre a ação do suco gástrico, evagina-se e fixa-se na mucosa do ID, transformando- se em uma tênia adulta. Três meses após a ingestão do cisticerco, inicia-se a eliminação de proglotes grávidas. TENÍASE: HD (ser humano) infecta-se ao ingerir carne suína ou bovina crua ou mal cozida, infectada pelo cisticerco de cada espécie de Taenia. CISTICERCOSE HUMANA: é adquiridapela ingestão acidental de ovos viáveis da T. solium que foram eliminados nas fezes de portadores de teníase; Os mecanismos possíveis de infecção humana são: Autoinfecção externa: ocorre em portadores de T. solium quando eliminam proglotes e ovos de sua própria tênia levando-os à boca pelas mãos contaminadas ou coprofagia; Autoinfecção interna: poderá ocorrer durante vômitos ou movimentos retroperistálticos do intestino, possibilitando a presença de proglotes grávidas ou ovos de T. solium no estômago. Após a ação do suco gástrico e posterior ativação, as oncosferas voltariam ao ID, desenvolvendo o ciclo auto-infectante; Obs.: esta forma de infecção é pouco aceita pelos profissionais de saúde; Principais diferenças entre T. solium e T. saginata HABITAT CICLO BIOLÓGICO TRANSMISSÃO Heteroinfecção: ocorre quando os humanos ingerem alimentos ou água contaminados com os ovos da T. solium disseminados no ambiente através das dejeções de outro indivíduo. Devido ao longo período em que as tênias parasitam o paciente, podem causar fenômenos tóxicos alérgicos, através de substâncias excretadas, provocando hemorragias através da fixação na mucosa, destruir o epitélio e produzir inflamação com infiltrado celular com hipo ou hipersecreção de muco. O acelerado crescimento do parasito requer considerável suplemento nutricional, o que leva a uma competição com o hospedeiro – consequências: tonturas, astenia, apetite excessivo, náuseas e vômitos, alargamento do abdome e perda de peso. Obstrução intestinal provocada pelo estróbilo ou a penetração de uma proglote no apêndice, embora raras, já foram relatadas em pacientes parasitados por T. saginata. A cisticercose humana é responsável por graves alterações nos tecidos, e grande variedade de manifestações. (a) Cisticercose muscular ou subcutânea: é em geral assintomática. Os cisticercos desenvolvem uma reação local; e com a morte do parasito há tendência à calcificação. Quando numerosos cisticercos instalam-se em músculos esqueléticos, podem provocar: dor, fadiga e cãibra. No tecido subcutâneo, ele é palpável, em geral indolor e pode ser confundido com cisto sebáceo. (b) Cisticercose cardíaca: pode resultar em palpitações e ruídos anormais ou dispneia quando os cisticercos se instalam nas válvulas; (c) Cisticercose das glândulas mamárias: forma rara. Pode apresentar-se como um nódulo indolor ou ainda como uma tumoração associada a processos inflamatórios; (d) Cisticercose ocular: o cisticerco instala-se na retina; a larva se desenvolve aí provocando o descolamento ou perfuração, atingindo o humor vítreo. As consequências são: reações inflamatórias que provocarão opacificação do humor vítreo, sinéquias posteriores da íris, uveítes e/ou até pantoftalmias. Essas alterações podem provocar perda parcial ou total da visão e às vezes, desorganização intraocular e perda do olho. O parasito não atinge o cristalino mas pode levar à sua opacificação (catarata); (e) Neurocisticercose: (as oncosferas apresentam um grande tropismo 79-96% pelo SNC); suas manifestações dependem do tipo morfológico, número, localização, fase de desenvolvimento do parasito, além das respostas imunes do hospedeiro. Da conjunção destes fatores, resulta um quadro pleomórfico, com uma multiplicidade de sinais e sintomas neurológicos. - cisticercos parenquimatosos: processos compressivos, irritativos, vasculares e obstrutivos; - cisticercos nos ventrículos: podem causar obstrução do fluxo do líquido cefalorraquidiano, hipertensão intracraniana e hidrocefalia; - calcificações (forma cicatricial da neurocisticercose): estão associadas às epilepsias. As crises epilépticas são as manifestações mais frequentes. TENÍASE: Diagnóstico clínico: o diagnóstico clínico é difícil, pois a maioria dos portadores é assintomática e, quando os sintomas existem, eles são muito semelhantes ao de outras parasitoses intestinais. Diagnóstico laboratorial: é feito pela pesquisa de proglotes e mais raramente, de ovos de tênia nas fezes pelos métodos rotineiros ou pelo método da fita adesiva. Para o diagnóstico específico, deve ser feita a ‘tamização’ para que as proglotes possam ser recolhidas e então identificadas com base na morfologia da ramificação uterina. A detecção de antígenos (ELISA) de ovos de tênias nas fezes melhorou sobremaneira o diagnóstico. Estudos recentes mostraram que o PCR é sensível e tem aplicação promissora. CISTICERCOSE: Seu diagnóstico tem como base aspectos clínicos, epidemiológicos e laboratoriais. Assim, são de grande importância relatos como procedência do paciente, criação inadequada de suínos, hábitos de higiene, ingestão de carne de porco mal cozida,.. No diagnóstico laboratorial pesquisa-se o parasito por meio de observações anatomopatológicas das biopsias, necropsias e cirurgias. O cisticerco ainda pode ser identificado em exame oftalmoscópico de fundo de olho. O diagnóstico de neurocisticercose é fundamentado em exames de LCR, neuroimagem e PATOGENIA E SINTOMATOLOGIA TENÍASE CISTICERCOSE DIAGNÓSTICO detecção de Acs no soro. Atualmente, a TC e o exame do LCR são considerados os melhores para a determinação diagnóstica da neurocisticercose. As tênias são encontradas em todas as partes do mundo em que a população tem o hábito de comer carne de porco ou de boi crua ou mal cozida; Pelos hábitos alimentares de certos povos, as teníases podem ser mais comuns ou raras – A T. saginata é rara entre os hindus, que não comem carne bovina e a T. solium é rara entre judeus e muçulmanos, porque não comem carne suína; Seres humanos, suínos, cães e macacos têm sido descritos como portadores de cisticercos da T. solium; Tanto a T. solium quanto a T. saginata têm larga distribuição no Brasil, devido às precárias condições de higiene de grande parte da população, métodos de criação extensiva dos animais e o hábito de ingestão de carne de porco pouco cozida ou assada. Em várias localidades ainda é comum a criação de suínos livres ou confinados em locais precários, próximos das habitações, nas quais a privada, ou esgoto, às vezes tem ligação direta com esse local; Criações extensivas de suínos em áreas urbanas são passíveis de contaminação por ovos de tênia, pois nestes locais o contato dos animais com dejetos humanos é mais frequente. Devido ao hábito corporfágico do animal, o ciclo se fecha facilmente. Da mesma forma, pode ocorrer a infecção de bovinos em ambientes contaminados por fezes de portadores de teniose; Contaminação por esgotos in natura de rios ou córregos que fornecem água aos animais; Resistência dos ovos às condições adversas do ambiente - fundamental para a disseminação da doença; pois essas formas infectantes podem permanecer viáveis por meses em regiões de clima quente e úmido; Contaminação humana por ovos de T. solium – principalmente por heteroinfecção; A teníase é uma doença infecciosa potencialmente erradicável – isso em função de algumas características: Ciclo biológico requer humanos como HD; Dejeções humanas de portadores de teníase é a fonte de contaminação para os animais; Inexistência de reservatórios para a infecção na natureza; Medidas definitivas que permitem a profilaxia desses parasitos são: Impedir o acesso do suíno e do bovino às fezes humanas; Melhoramento do sistema dos serviços de água, esgoto ou fossa; Tratamento em massa dos casos humanos nas populações-alvo; Instituir um serviço regular de educação em saúde, envolvendo as professoras primárias e líderes comunitários; Estimular a melhoria do sistema de criaçãode animais; Inspeção rigorosa da carne e fiscalização dos matadouros; Obs.: OMS : critério para o aproveitamento de uma carcaça no matadouro – 1 a 5 cisticercos a carcaça pode ser consumida desde que seja tratada por congelamento (- 15º.C); 6-20 cisticercos só pode ser consumida se dor tratada para enlatados, e cozida a 120º.C por uma hora; acima de 20 cisticercos, descartada. TRATAMENTO DA TENÍASE: niclosamida e praziquantel. A niclosamida leva à imobilização da tênia, facilitando sua eliminação com as fezes. Uma hora após a ingestão dos últimos comprimidos, o paciente deve ingerir 2 colheres de leite de magnésio para facilitar a eliminação das tênias inteiras e evitar a autoinfecção interna. Efeitos colaterais dos medicamentos: cefaleia, dor de estômago, náuseas, tonturas (pouca duração); TRATAMENTO DA NEUROCISTICERCOSE: praziquantel e albendazol. O principal objetivo do tratamento farmacológico é a destruição simultânea de múltiplos cisticercos, controlando um eventual surgimento de reação inflamatória com corticosteroides. Esta estratégia evitaria i prolongamento do processo inflamatório decorrente da degeneração dos múltiplos cistos em diferentes momentos e proporcionaria melhor evolução clínica que a história natural da NCC; TRATAMENTO SINTOMÁTICO: a maioria dos pacientes com NCC apresenta crises epilépticas e a administração de medicamentos anti-epilépticos (fenitoína e carbamazepina) auxilia a controlar as crises. Pelo fato da inflamação ser uma manifestação conspícua nas várias formas clínicas da NCC, os costicosteroides desempenham importante papel no tratamento sintomático da meningite, encefalite cisticercótica e angeíte; TRATAMENTO CIRÚRGICO: seu papel tem declinado com o passar do tempo. Cistos gigantes e cisticercose medular devem ser tratados preferencialmente através da remoção cirúrgica. EPIDEMIOLOGIA PROFILAXIA TRATAMENTO
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