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APG 06 - HELMINTOS INTESTINAIS

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1 
 
 
Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
Objetivos 
1- Estudar a epidemiologia, etiologia, ciclo de vida, 
fatores de risco, fisiopatologia, manifestações 
clínicas, diagnóstico e tratamento das doenças 
causadas pelos principais helmintos patogênicos. 
DOENÇAS: Esquitossomose, Ascardidíase, Enterobiose e 
Teníase. 
Helmintos 
↠ Os helmintos são organismos multicelulares complexos 
alongados e bilateralmente simétricos. Eles são 
consideravelmente maiores que os protozoários parasitas 
e quase sempre são macroscópicos, variando em 
tamanho de menos de 1 mm a 1 m ou mais. A superfície 
externa de alguns vermes é recoberta por uma cutícula 
protetora, a qual é acelular e pode ser lisa ou possuir 
projeções, espinhos ou tubérculos. A cobertura protetora 
dos vermes achatados (platelmintos) é denominada 
tegumento (MURRAY, 2017). 
↠ Frequentemente, os helmintos possuem estruturas de 
fixação elaboradas, como ganchos, ventosas, dentes ou 
placas. Essas estruturas estão normalmente localizadas na 
região anterior e podem ser úteis na classificação e 
identificação dos organismos (MURRAY, 2017). 
↠ Os helmintos são separados em dois filos, os 
Nematelmintos e os Platelmintos (MURRAY, 2017). 
Nematelmintos 
↠ O filo dos Nematelmintos consiste nos vermes 
cilíndricos, os quais possuem corpos cilíndricos. O sexo 
dos nematoides é separado, e esses organismos 
apresentam um sistema digestivo completo. Os 
nematelmintos podem ser parasitas intestinais ou infectar 
o sangue e os tecidos (MURRAY, 2017). 
Platelmintos 
↠ O filo dos Platelmintos consiste nos vermes achatados, 
os quais apresentam corpos que se assemelham a folhas 
ou se parecem com segmentos de fita. Os Platelmintos 
podem ser subsequentemente divididos em trematódeos 
e cestoides (MURRAY, 2017). 
• Trematodas, ou trematódeos, apresentam 
corpos com aspecto de folha. A maioria é 
hermafrodita, com órgãos sexuais masculinos e 
femininos em um único corpo. O sistema 
digestivo é incompleto e apenas apresenta 
tubos em forma de saco. Os ciclos de vida são 
complexos; caramujos servem como primeiros 
hospedeiros intermediários, e outros animais ou 
plantas aquáticas atuam como segundos 
hospedeiros intermediários. 
• Cestoides, ou vermes em forma de fita, 
apresentam o corpo composto de fitas de 
proglotes ou segmentos. Todos são 
hermafroditas e não apresentam sistema 
digestivo, absorvendo nutrientes através das 
paredes do corpo. Os ciclos de vida de alguns 
cestoides são simples e diretos, enquanto os de 
outros são complexos e requerem um ou mais 
hospedeiros intermediários. 
 Os helmintos ou “vermes” são subdivididos em três grupos: 
nematoides (“vermes fusiformes”), trematódeos (“vermes chatos”) e 
cestoides (“vermes em fita”) (MURRAY, 2018). 
TREMATÓDEOS 
↠ Os trematódeos são conhecidos desde a Antiguidade. São 
helmintos muitos abundantes, geralmente visíveis a olho nu, que 
parasitam todos os grupos de vertebrados (FEREIRA, 2020). 
↠ Os trematódeos digenéticos são vermes achatados 
dorsoventralmente e quase sempre providos de ventosas, 
estruturas importantes para sua fixação ao seu hábitat no 
hospedeiro definitivo (FEREIRA, 2020). 
↠ Os trematódeos da infraclasse Digenea são endoparasitas 
obrigatórios, com ciclos de vida complexos, que envolvem pelo 
menos dois hospedeiros distintos; são, portanto, heteróxenos. 
São responsáveis por doenças humanas de grande prevalência 
em diversas regiões do mundo, várias delas claramente 
associadas à pobreza (FEREIRA, 2020). 
Esquistossomose 
↠ Das 22 espécies de esquistossomos descritas até o 
momento, sete são frequentemente encontradas no ser 
humano (FEREIRA, 2020). No Brasil, descreve-se o 
adoecimento por Schistosoma mansoni (SIQUEIRA-
BATISTA, 2020). 
↠ A esquistossomose é provocada pelo platelminto 
trematódeo Schistosoma mansoni, que possui como 
hospedeiro intermediário o caramujo do gênero 
Biomphalaria, sendo popularmente conhecida como “mal 
do caramujo” ou “barriga d ́água” (ANDRADE et. al., 
2022). 
EPIDEMIOLOGIA 
↠ É responsável por importante morbimortalidade, 
alterando o desenvolvimento dos enfermos jovens, bem 
como, algumas vezes, reduzindo a capacidade de trabalho 
APG 06 – ESTUDANTE EM AÇÃO 
2 
 
 
Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
dos adultos, representando, por conseguinte um grave 
problema de saúde pública (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
↠ No Brasil, existem cerca de seis milhões de portadores 
desta helmintíase. Por ter relação com estados de 
vulnerabilidade social e com situações de más condições 
sanitárias, são moléstias que fazem parte do grupo das 
doenças tropicais negligenciadas. Assim, torna-se um 
grande desafio a ser enfrentado coletivamente 
(SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
↠ Durante os anos de 2010 a 2017 o Brasil registrou um 
total de 76.862 casos de esquistossomose, os quais 
apresentaram-se em declínio ao longo dos anos 
(ANDRADE et. al., 2022). 
 
↠ Houve uma prevalência significativa no sexo masculino 
(61,11%), o que é apontado em outros estudos e pode estar 
relacionado ao maior tempo de atividades de lazer em 
local de exposição ao agente causador da 
esquistossomose, tornando-os mais vulneráveis 
(ANDRADE et. al., 2022). 
↠ Os cincos estados brasileiros com maiores números 
de casos são listados, sendo responsáveis por 
aproximadamente 93,6% (n=71.915) dos casos. O fato 
destas regiões possuírem um maior número de estados 
com alta taxa de infecção é devido a presença de um 
habitat ideal para o Biomphalaria spp., hospedeiro 
intermediário para o Schistosoma mansoni, sendo comum 
de ser encontrado nas coleções hídricas naturais e 
nas coleções hídricas artificias, favorecendo assim a 
sobrevivência do caramujo (ANDRADE et. al., 2022). 
 
 
 
ETIOLOGIA 
ASPECTOS MORFOLÓGICOS 
↠ Os trematódeos passam por diferentes etapas de 
evolução, desde o hospedeiro invertebrado até o 
vertebrado (vermes adultos, ovos, miracídios, 
esporocistos, cercárias e esquistossômulos) (SIQUEIRA-
BATISTA, 2020). 
 
↠ Os metazoários adultos habitam o sistema porta 
hepático, com destaque para a veia mesentérica inferior. 
A fêmea, em fase adulta, tem característica mais alongada 
e pode ser encontrada em uma fenda do corpo do 
macho, denominada canal ginecóforo. Sua longevidade é, 
em geral, de três a cinco anos, podendo chegar a 25 
anos (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
↠ O gênero Schistosoma abrange helmintos 
trematódeos, com sexos separados (dioicos). O 
tegumento de um helminto adulto é constituído por uma 
camada sincicial de células anucleadas, recoberta por uma 
espessa citomembrana heptalamelar, renovada 
constantemente. Os patógenos alimentam-se de sangue, 
consumindo diariamente uma quantidade significativa de 
hemácias. Os produtos não aproveitados na digestão são 
eliminados através da boca, pois este invertebrado não 
tem ânus (de fato, apresenta um tubo digestório 
incompleto). Os solenócitos são células especializadas na 
excreção. Trematódeos do gênero Schistosoma também 
não apresentam sistema circulatório (SIQUEIRA-BATISTA, 
2020). 
 
 
B e C. Morfologia dos vermes adultos de Schistosoma mansoni: em B, observa-se o par de 
ventosas (uma oral e outra ventral, esta também conhecida como acetábulo) que caracteriza 
os trematódeos; em C, observa-se um casal de vermes adultos, com a fêmea (mais escura) 
alojada no canal ginecóforo do macho. 
3 
 
 
Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
CICLO DE VIDA 
↠ O ciclo biológico do S. mansoni é complexo, sendo 
composto por duas fases parasitárias: uma no hospedeiro 
definitivo (vertebrado/humano) e outra no intermediário 
(invertebrado/caramujo) (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
 Em condições favoráveis se completa em torno de 80 dias. Há, 
ainda, duas passagens de larvas de vida livre no meio aquático, que se 
alternam com as fases parasitárias. No H. sapiens, o ciclo mostra-se 
sexuado, e o período decorrido entre a penetração das cercárias e o 
encontro de ovos nas fezes é de cercade 40 dias. No molusco, o 
ciclo é assexuado e também dura, aproximadamente, 40 dias 
(SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
↠ Os vermes adultos vivem nos vasos do sistema porta 
hepático do hospedeiro vertebrado. A cópula resulta da 
justaposição dos orifícios genitais masculino e feminino, 
quando a fêmea está alojada no canal ginecóforo (fenda 
longitudinal, no macho, para albergar a fêmea e fecundá-
la). Uma fêmea coloca cerca de 300 ovos por dia, que só 
amadurecem uma semana depois, quando conterão, em 
seu interior, o miracídio formado. Alguns ovos alcançam a 
corrente sanguínea, enquanto outros chegam ao lúmen 
intestinal através da submucosa (SIQUEIRA-BATISTA, 
2020). 
 Esses ovos exibem caracteristicamente uma espícula lateral 
grande. A casca do ovo, bastante rígida, é também porosa, o que 
possibilita a liberação de substâncias produzidas pelo embrião em 
formação em seu interior e a entrada de nutrientes (FEREIRA, 2020). 
 
↠ De fato, após a postura, cerca da metade destes ovos 
é eliminada pelas fezes, a partir de um processo de 
ulceração dos tecidos do hospedeiro definitivo, com vistas 
a alcançar o lúmen intestinal. A outra metade tem uma 
parte retida na parede do intestino e outra que retorna 
para a circulação sanguínea e aloja-se em diferentes 
tecidos, em especial no fígado. Tal processo pode gerar 
efeitos locais ou sistêmicos (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
 A inflamação que a presença dos ovos desperta no hospedeiro, 
especialmente pela liberação de glicoproteínas antigênicas, resulta em 
ruptura da parede da vênula, liberando os ovos nos tecidos 
perivasculares e finalmente no lúmen intestinal. Parte dos ovos 
eliminados, no entanto, fica retida no tecido fibroso resultante da 
inflamação em torno das vênulas, sem chegar ao lúmen intestinal 
(FEREIRA, 2020). 
 No ambiente externo, com boa luminosidade, a eclosão dos 
ovos depende do contato com água doce; a baixa concentração de 
cloreto de sódio é um fator crítico para desencadear o processo de 
eclosão. A temperatura da água deve situar-se entre 10°C e 37°C 
(FEREIRA, 2020). 
↠ Ao entrar em contato com a água, os ovos maduros 
“incham”, eclodem e liberam larvas ciliadas, denominadas 
miracídios (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
↠ O miracídio de formato oval e revestido por 
numerosos cílios é o primeiro estágio de vida livre do 
Schistosoma. Eles ocorrem em locais onde não há rede de esgotos 
tratados e as fezes contaminadas são lançadas indevidamente em rios 
e lagos, tendo a chance de nadar ao encontro do 
hospedeiro intermediário, o caramujo (gênero 
Biomphalaria, no caso do S. mansoni). Essa forma 
apresenta grande capacidade de locomoção e afinidade 
quimiotática para moluscos, sendo que sua garantia de 
sobrevida depende diretamente do encontro com o 
hospedeiro intermediário. Assim, dá continuidade ao ciclo 
evolutivo do parasito (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
 Na extremidade anterior do miracídio, encontra-se uma estrutura 
conhecida como papila apical ou terebratório, onde se situam as 
terminações das glândulas adesivas e da glândula de penetração. A 
localização do hospedeiro intermediário é facilitada pela secreção, 
pelos caramujos, de glicoconjugados que estimulam a movimentação 
dos miracídios. Tanto os miracídios como os caramujos são atraídos 
pela luz (ou seja, apresentam fototaxia positiva), fator que facilita seu 
encontro no ambiente aquático. A luminosidade parece também 
estimular a exposição, pelo molusco, de sua massa cefalopodal, que é 
o sítio mais comum de penetração dos miracídios (FEREIRA, 2020). 
 
4 
 
 
Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
 O contato com o tegumento do molusco induz uma mudança 
estrutural na papila apical do miracídio, que assume a forma de ventosa. 
Ocorre a descarga do conteúdo das glândulas adesivas, principalmente 
enzimas proteolíticas, que digerem os tecidos do hospedeiro. Cerca da 
metade dos miracídios que penetraram consegue desenvolver-se no 
interior do molusco (FEREIRA, 2020). 
↠ Ao penetrar nas partes moles do molusco, o miracídio 
perde parte de suas estruturas. As células remanescentes 
reorganizam-se e, em 48 horas, transformam-se em um 
saco alongado repleto de células germinativas. Esse saco 
é o esporocisto. Os esporocistos primários geram os 
secundários ou esporocistos-filhos e as células 
germinativas, destes últimos, são transformadas em 
cercarias (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
 Nesse processo, formam-se inicialmente aglomerados de células 
germinativas nas paredes do esporocisto primário, que se organizam 
dando origem a septos. A partir deles, formam-se os esporocistos 
secundários ao final de 2 semanas após a penetração, desde que sob 
uma temperatura ideal entre 25°C e 28°C. Ao final de 3 semanas, os 
esporocistos secundários migram ativamente até o hepatopâncreas 
do caramujo, um local rico em nutrientes; mais raramente, a glândula 
reprodutiva do caramujo, chamada de ovotéstis, é também alvo de 
migração, podendo haver castração do hospedeiro. Cerca de 4 a 7 
semanas após a penetração, originam-se, a partir de esporocistos 
secundários, numerosas formas larvárias, conhecidas como cercarias 
(FEREIRA, 2020). 
 
 Aproximadamente 1.000 a 3.000 cercárias, resultantes desse 
processo de reprodução por poliembrionia, são eliminadas por dia. Um 
único miracídio chega a originar 300.000 cercárias, todas do mesmo 
sexo. Os esporocistos secundários podem originar não somente 
cercárias, mas também novas gerações de esporocistos filhos, que 
produzirão mais cercárias e uma nova geração de esporocistos, e 
assim por diante (FEREIRA, 2020). 
↠ A cercária, segunda fase de vida livre do helminto, 
atravessa a parede do esporocisto, migrando para as 
partes moles mais externas do caramujo. Essa larva tem 
corpo e cauda, e é adaptada à vida aquática. Os 
hospedeiros intermediários começam a eliminá-las após 4 
a 7 semanas da infecção pelos miracídios, situação que 
se mantém por toda a vida (aproximadamente, um ano) 
(SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
 As cercárias deixam os moluscos seguindo um ritmo circadiano, 
com maior eliminação nas horas com maior luminosidade e mais 
quentes do dia. Entretanto, cercárias de isolados de S. mansoni 
provenientes de roedores podem ser mais frequentemente eliminadas 
no início da noite, provavelmente como uma adaptação ao 
comportamento do hospedeiro definitivo (FEREIRA, 2020). 
 Apresentam uma ventosa oral e uma ventosa ventral, esta 
maior e crucial para a fixação na pele do hospedeiro definitivo durante 
o processo de penetração. Seu hábitat são as coleções de água doce, 
onde elas permanecem viáveis por um curto espaço de tempo. 
Precisam encontrar o hospedeiro vertebrado em 24 a 36 horas, tarefa 
facilitada pela agitação na água criada pela presença de animais e seres 
humanos, que estimula sua locomoção (FEREIRA, 2020). 
↠ As cercárias são atraídas pelo calor do corpo e pelos 
lipídios da pele humana; a penetração na cútis é 
consumada entre os folículos pilosos, com o auxílio das 
secreções histolíticas das glândulas de penetração e pela 
ação mecânica devido aos movimentos intensos da larva. 
Esta se acopla à pele por meio de suas duas ventosas. 
Nesse processo, que pode durar até 15 minutos, a 
cercária perde sua cauda, e após atravessar a pele do 
hospedeiro se transforma em esquistossômulo 
(SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
 Localizado o hospedeiro, a penetração na pele dá-se com o 
auxílio de proteases secretadas por glândulas de penetração, 
localizadas em sua extremidade cefálica. A cauda das cercárias é 
deixada para trás logo no início da penetração, que dura poucos 
minutos. O corpo transforma-se em esquistossômulo, que atravessa a 
epiderme e a derme e chega aos vasos sanguíneos e linfáticos da 
pele e do tecido subcutâneo. Transformações dramáticas ocorrem 
rapidamente, especialmente no tegumento, para garantir a sobrevida 
do esquistossômulo. A membrana da cercária, recoberta por espesso 
glicocálix, é substituídapor um epitélio multilamelar, ao qual são 
incorporadas moléculas do hospedeiro. Esse epitélio, com extensas 
microvilosidades, será responsável pela nutrição do esquistossômulo e 
por sua defesa contra a resposta imune humoral do hospedeiro, 
mediada por anticorpos circulantes e componentes do sistema 
complemento (FEREIRA, 2020). 
5 
 
 
Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
↠ Os esquistossômulos aclimatam-se às características 
orgânicas do meio interno humano, passando pelo tecido 
subcutâneo. Ao entrarem em um vaso, grande parte 
deles é alcançada pelo sistema imunológico do hospedeiro. 
Aqueles que conseguem escapar são transportados de 
maneira passiva até o coração direito, os pulmões, as 
veias pulmonares, o coração esquerdo, o sistema porta e 
as veias mesentéricas, até chegarem às alças intestinais, 
principalmente do sigmoide e do reto (SIQUEIRA-
BATISTA, 2020). 
↠ Os esquistossômulos alcançam o sistema porta, seja 
por via sanguínea seja por meio transtissular. Uma vez aí 
alojados, são nutridos e desenvolvem-se, evoluindo para 
formas unissexuadas, machos e fêmeas, 28 a 30 dias após 
a penetração. Em seguida, migram, acasalados, pelo 
sistema porta, até a área de abrangência da artéria 
mesentérica inferior, local onde farão a oviposição. 
Quarenta dias após a infecção do hospedeiro, em média, 
os ovos podem ser notados no material fecal. Assim, 
completa-se o ciclo evolutivo do helminto (SIQUEIRA-
BATISTA, 2020). 
 A maturação sexual ocorre primeiramente nos machos. O 
macho, com 6 a 12 mm de comprimento, acasala-se com uma fêmea 
de aparelho reprodutor ainda imaturo, dobrando seu corpo em volta 
do dela e formando um canal virtual denominado canal ginecóforo. A 
fêmea tem corpo mais afilado e alongado, aproximadamente cilíndrico, 
com 15 mm de comprimento. O macho, ao secretar hormônios no 
canal ginecóforo, estimula o amadurecimento do aparelho reprodutor 
da fêmea. Após o acasalamento, ocorre a migração do casal no 
contrafluxo da circulação sanguínea, em direção às veias e vênulas do 
plexo mesentérico. Nessa migração, o macho fixa alternadamente sua 
ventosa oral e dorsal no endotélio dos capilares para movimentar o 
casal. Quando o casal chega às vênulas do plexo mesentérico inferior, 
inicia-se a oviposição. Os primeiros ovos são encontrados nas fezes 6 
a 8 semanas após a infecção. Os adultos vivem em média 3 a 10 anos, 
podendo chegar a 3 décadas de sobrevida. Os ovos permanecem nos 
tecidos por cerca de 20 dias; se não eliminados nas fezes até o final 
desse período, ocorre a morte do miracídio em seu interior (FEREIRA, 
2020). 
 
FISIOPATOLOGIA 
 A etiopatogenia da esquistossomose mansônica depende da 
interação entre H. sapiens e helminto. Com relação ao S. mansoni, 
algumas características são determinantes, como a cepa, a fase de 
evolução, a intensidade e o número de infecções. No que diz respeito 
ao hospedeiro, destacam-se os seguintes quesitos: a constituição 
genômica, o órgão predominantemente lesado, o padrão alimentar, a 
etnia, a sensibilização prévia, as infecções associadas (HIV, HTLV-I, vírus 
das hepatites B e C, entre outras), o tratamento específico e o padrão 
imunológico do indivíduo (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
 O ciclo do S. mansoni apresenta características distintas 
em diferentes órgãos e tecidos. As mudanças de etapas “funcionam” 
como uma maneira do helminto “burlar” o sistema imune do 
hospedeiro, exigindo deste último díspares respostas para as distintas 
fases do ciclo (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
↠ A penetração ativa da pele ou da mucosa, executada 
pelas cercárias, independentemente da integridade dessas 
estruturas, pode desencadear variadas alterações locais. 
Do ponto de vista imunológico, a resposta do hospedeiro 
é ativada, com a consequente inflamação, por vezes 
significativa, caracterizada por um aumento da produção 
de citocinas pró-inflamatórias, como fator de necrose 
tumoral alfa (TNF-α), interleucina-1 (IL-1) e interferona 
gama (IFN-γ), o que expressa um tipo de resposta Th1 ao 
helminto. A resposta imunológica a partir dessa reação 
inflamatória é capaz de destruir uma quantidade 
significativa de cercárias e esquistossômulos na pele, 
produzindo microscopicamente um infiltrado inflamatório 
agudo discreto, predominantemente composto por 
granulócitos, inclusive eosinófilos. Assim, muitos pacientes 
apresentam lesões de urticária e prurido nas partes do 
corpo que entram em contato com a água contendo 
cercarias (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
↠ No que diz respeito à regulação da resposta imune 
inata ao esquistossômulo na pele, um aspecto importante 
é a produção local de citocinas – interleucinas 6, 10 e 12 
(IL-6, IL-10 e IL-12) – e de quimiocinas CCL3, CCL4 e 
CCL11. O período pré-patente, ainda na fase aguda, 
completa-se com a produção de ovos – isto é, a 
oviposição. Mais tarde, acontece a migração dos ovos 
para diferentes tecidos, o que resulta em reações de 
hipersensibilidade de tipo IV, caracterizada pela formação 
do granuloma esquistossomótico. Este último 
desempenha um duplo papel na resposta imune aos 
helmintos - por apresentar função de proteção, mas 
também por suas implicações na patogênese da EM - 
cuja característica importante é a substituição do 
predomínio da resposta do tipo Th1, típica do período 
pré-patente. Além disso, é altamente contrarregulada por 
IL-10. A capacidade proliferativa dos linfócitos e o tamanho 
6 
 
 
Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
do granuloma diminuem, levando a menos danos nos 
tecidos pela resposta imune (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
↠ As alterações vasculares pulmonares relacionadas à 
esquistossomose mansônica caracterizam-se por achados 
clássicos de remodelação vascular associados a outras 
formas de hipertensão pulmonar, como hipertensão 
arterial pulmonar idiopática. Isso inclui as modalidades de 
remodelação endotelial concêntrica, excêntrica, dilatada 
(ou angiomatoide) e plexiforme, bem como o 
espessamento da adventícia. Um infiltrado inflamatório 
perivascular também é proeminente, caracterizado por 
linfócitos T, mastócitos e células dendríticas, sendo 
descrita a participação da resposta Th2 (SIQUEIRA-
BATISTA, 2020). 
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 
• Dermatite cercariana; 
• Esquistossomose aguda sintomática (febre de Katayama); 
• Esquistossomose crônica: forma intestinal, hepatointestinal 
e hepatoesplênica. 
COMPLICAÇÕES: Hipertensão pulmonar e cor pulmonale, lesão renal, 
neuroesquistossomose, forma pseudoneoplásica. 
↠ A primeira evidência clínica da penetração de cercárias 
de S. mansoni, bem como de cercárias de outras espécies 
que não são capazes de se desenvolver completamente 
no homem, é a ocorrência de prurido transitório 
acompanhado de exantema papular. Esse quadro, 
conhecido como dermatite cercariana, ocorre 
imediatamente após a exposição às cercárias. Não exige 
exposição prévia ao parasito para manifestar-se e 
decorre da morte das cercárias que tentam penetrar na 
pele. Geralmente dura de 2 a 3 dias, podendo-se observar 
febre baixa e episódios transitórios de urticária durante 2 
semanas (FEREIRA, 2020). 
 
↠ A infecção aguda pode ser assintomática, assim como 
levar a quadros graves, dependendo da intensidade de 
infecção e da resistência do indivíduo. Quadros agudos 
sintomáticos, chamados de febre ou síndrome de 
Katayama, são mais comuns em crianças ou em 
indivíduos que não residem nas áreas endêmicas; 
ocorrem mais frequentemente quando a carga infectante 
é intensa (FEREIRA, 2020). 
↠ O quadro agudo pode manifestar-se de modo 
inespecífico, com febre, cefaleia, prostração, anorexia e 
náuseas. Tosse e broncospasmo podem ocorrer, assim 
como dores abdominais e diarreia, às vezes com fezes 
mocussanguinolentas (FEREIRA, 2020). 
ESQUISTOSSOMOSE MÂNSONICA CRÔNICA 
 Findada a fase aguda, o quadro clínico regride, 
permanecendo a maioria dos pacientes assintomáticos. As 
manifestações clínicas podem retornar futuramente, sobretudoem razão de repetidas exposições do indivíduo a reinfecções - 
nos focos endêmicos, com aumento da carga parasitária - e da 
história natural da doença, a qual pode progredir para quadros 
de evolução crônica (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
↠ A apresentação clínica nas formas crônicas de 
esquistossomose é variável. Muitos pacientes com 
esquistossomose crônica em áreas endêmicas são 
assintomáticos. Os desfechos clínicos dependem da frequência de 
exposição e da carga parasitária resultante, da resposta inflamatória 
desencadeada pelos ovos ou antígenos liberados, da idade do 
hospedeiro e de fatores imunogenéticos ainda não bem 
compreendidos. A esquistossomose intestinal pode ser assintomática 
por anos (FEREIRA, 2020). 
↠ Podem-se relatar dores abdominais, episódios de 
diarreia intermitente, com presença ocasional de muco ou 
sangue nas fezes. A sintomatologia é geralmente 
inespecífica. As lesões pseudoneoplásicas do cólon representam 
uma complicação importante, porém rara (FEREIRA, 2020). 
↠ A forma hepatointestinal inicialmente tem quadro 
clínico também pobre, mas, além dos sintomas digestivos, 
observa-se aumento de volume do fígado, que se torna 
palpável, principalmente à custa do lobo esquerdo 
(FEREIRA, 2020). 
↠ Com o passar do tempo e a deposição de ovos no 
parênquima, ocorre fibrose hepática, mas ainda não há 
necessariamente hipertensão portal e esplenomegalia. O 
fígado encontra-se aumentado e endurecido à palpação 
e os exames de imagem desse órgão mostram fibrose 
moderada a intensa. A fibrose hepática esquistossomótica 
não acarreta intensas perdas de função hepática; em 
geral, os hepatócitos e a estrutura lobular são preservadas 
(FEREIRA, 2020). 
7 
 
 
Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
↠ A hipoalbuminemia resultante da perda de função 
hepática, associada à hipertensão portal, leva à formação 
de ascite, sinal que explica um dos nomes populares da 
esquistossomose no Brasil: barriga d’água. É possível 
também ocorrer icterícia (FEREIRA, 2020). 
 
 Uma das complicações mais comuns das formas 
hepatoesplênicas é o acometimento renal, que decorre da deposição 
de imunocomplexos nos glomérulos renais, acarretando perda de 
proteína pela urina de intensidade variável em 10 a 15% dos pacientes 
com a forma hepatoesplênica da esquistossomose (FEREIRA, 2020). 
↠ Nas formas crônicas de esquistossomose, a lesão 
histopatológica básica é o granuloma que se desenvolve 
em torno dos ovos, no fígado e no espaço perivascular 
da parede intestinal, ocasionando posteriormente fibrose 
periportal (FEREIRA, 2020). 
 
 
 Formam-se inicialmente granulomas inflamatórios grandes, ricos 
em eosinófilos, com um centro necrótico. Os primeiros granulomas 
tendem a involuir, e os próximos granulomas a se formarem em torno 
de ovos recém-chegados são progressivamente menores, com mais 
fibrose e predomínio de macrófagos sobre eosinófilos em sua periferia. 
Os granulomas que se formam em torno de ovos maduros no pulmão 
e no intestino, no entanto, não exibem esse padrão de substituição 
progressiva por lesões menores. Quando há grande quantidade de 
ovos nos tecidos, os granulomas frequentemente se fundem, 
originando uma lesão inflamatória difusa (FEREIRA, 2020). 
↠ Os granulomas são progressivamente ocupados por 
camadas concêntricas de colágeno. Citocinas de tipo TH2, 
como IL-13, parecem desempenhar um papel central 
nesse processo. Além disso, as células estreladas são 
fundamentais: uma vez ativadas, transformam-se em 
fibroblastos hepáticos produtores de colágeno, o principal 
tipo celular responsável pela fibrose (FEREIRA, 2020). 
↠ Na forma hepatoesplênica compensada, junto dos 
sintomas digestivos e gerais já relatados nas formas 
intestinal e hepatointestinal - como sensação de plenitude 
gástrica pós-prandial, azia, dor abdominal vaga e difusa - 
associam-se a hipertensão portal e a esplenomegalia, 
podendo evoluir com fenômenos hemorrágicos, como 
hematêmese e melena, sem manifestação de doença 
hepatocelular e, portanto, sem a presença de lesão 
significativa do parênquima hepático (SIQUEIRA-BATISTA, 
2020). 
 Frequentemente são descritas associações da 
esquistossomose a outras infecções bacterianas e virais. O exemplo 
mais conhecido são as bacteriemias crônicas por Salmonella enterica, 
em pacientes com esquistossomose hepatoesplênica. Essas bactérias, 
bem como outras enterobactérias, alojam-se no tegumento e no trato 
digestório dos vermes adultos, o que dificulta sua erradicação se a 
esquistossomose não for tratada simultaneamente. Os mecanismos 
pelos quais a interação entre as infecções por Schistosoma e 
Salmonella favorece a persistência da infecção bacteriana 
permanecem indefinidos, especulando-se sobre possíveis alterações 
na produção de anticorpos específicos e na capacidade de ativação 
de macrófagos, em decorrência da infecção por Schistosoma 
(FEREIRA, 2020). 
↠ Além disso, cerca de 20 a 30% dos pacientes 
apresentam comprometimento do sistema nervoso 
central (neuroesquistossomose), seja diretamente pelo 
parasita ou indiretamente pela deposição de complexos 
imunes circundantes (ANDRADE et. al., 2022). 
DIAGNÓSTICO 
↠ A suspeita diagnóstica de EM deve surgir a partir de 
dados epidemiológicos e clínicos. Por ter apresentações 
clínicas heterogêneas, muitas vezes com sintomatologia 
vaga, os exames laboratoriais são fundamentais para 
Lesão histopatológica básica da esquistossomose crônica, o granuloma 
em torno dos ovos depositados no fígado. 
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Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
confirmação diagnóstica dos casos da moléstia (SIQUEIRA-
BATISTA, 2020). 
EXAME CLÍNICO 
↠ Poliadenopatia e hepatoesplenomegalia dolorosas são 
achados de exame físico (FEREIRA, 2020). 
PARASITOLÓGICO DE FEZES 
 Na fase aguda da infecção, relacionada à migração e ao 
amadurecimento dos vermes, normalmente não são encontrados 
ovos nas fezes; o diagnóstico, portanto, exige o uso de métodos 
laboratoriais indiretos. Na esquistossomose crônica, as principais 
estratégias diagnósticas baseiam-se no achado de ovos de S. mansoni 
nas fezes ou em tecidos (FEREIRA, 2020). 
↠ A mais utilizada é a técnica de Kato-Katz, a qual 
possibilita a visualização e a contagem dos ovos por 
grama de fezes, fornecendo um indicador quantitativo 
que permite avaliar a intensidade da infecção e a eficácia 
do tratamento. Há também a técnica de Lutz ou Hoffman, 
Pons e Janer (HPJ), que usa métodos de sedimentação 
espontânea. Em geral, observam-se ovos contendo 
miracídios bem formados e viáveis. Os ovos dos helmintos 
começam a ser eliminados nas fezes a partir da sexta semana após a 
infecção, ou seja, a partir de 40 dias após a entrada da cercária no 
organismo humano. O Kato-Katz é o método escolhido para 
os inquéritos coproscópicos de rotina nas áreas 
endêmicas e em investigações epidemiológicas 
(SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
EXAMES LABORATORIAIS 
PESQUISA DE ANTÍGENOS: O alvo principal é antígeno 
circulante catódico, que pode ser detectado na urina de 
indivíduos infectados com o uso de um teste rápido em 
forma de cartão impregnado com anticorpos monoclonais 
de captura. O POC-CCA é similar a um teste de gravidez. 
Uma gota de urina é depositada na fita; se aparecer um 
traço vermelho após alguns minutos, o teste é 
considerado positivo. Quando aplicado a populações expostas a 
baixos níveis de transmissão, como aquelas encontradas no Brasil, o 
método detecta até seis vezes mais portadores de infecção do que 
o exame de fezes convencional, baseado no exame de uma única 
amostra pelo método de Kato-Katz. Sua principal limitação 
consiste na interpretação de traços muito leves, 
considerados duvidosos pelo examinador. O método, ainda 
que baseado em antígeno de S. mansoni, também 
possibilita o diagnóstico de infecção por S. japonicum e S. 
mekongi (FEREIRA, 2020). 
MÉTODOS MOLECULARES: Diversos métodos moleculares de 
diagnóstico, normalmente derivados da reação em cadeia 
da polimerase(PCR), mostram-se muito superiores ao 
exame de fezes quanto à sensibilidade. Detecta-se DNA 
do parasito, de modo qualitativo ou quantitativo, em 
amostras de fezes, soro ou plasma de pacientes. Uma 
importante limitação está no fato de os exames 
permanecerem positivos por semanas ou mesmo meses 
após o tratamento, o que sugere a possibilidade de 
liberação prolongada de DNA do parasito de ovos retidos 
nos tecidos do hospedeiro. O custo e a relativa 
complexidade do método representam outras sérias 
limitações para uso em larga escala, especialmente em 
países endêmicos (FEREIRA, 2020). 
MÉTODOS IMUNOLÓGICOS: As reações imunológicas são 
mais empregadas na fase crônica da doença (mostram-
se positivas a partir do 25ª dia). Sua importância aumenta 
com a progressão (cronicidade) da entidade nosológica. 
Os principais ensaios são: (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
• a intradermorreação (apropriada para inquéritos 
epidemiológicos e para o diagnóstico dos 
doentes não oriundos de área endêmica, com 
quadro sugestivo de estarem apresentando 
alterações relacionadas à fase pré-postural); 
• a imunofluorescência indireta, 
• a técnica imunoenzimática (enzyme-linked 
immunosorbent assay – ELISA); 
• o ELISA de captura. 
 No âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) “estão disponíveis 
a Imunofluorescência Indireta (IFI) com pesquisa de IgM e o Ensaio 
imunoenzimático (ELISA)” (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
AVALIAÇÃO INESPECÍFICA 
↠ O hemograma mostra leucocitose com eosinofilia 
intensa, com contagens chegando a mais de 1.000 
eosinófilos/mm3 de sangue, que despertam a atenção do 
clínico para o possível diagnóstico (FEREIRA, 2020). 
↠ Pode ocorrer elevação das enzimas hepáticas, como 
as transaminases e a gamaglutamiltransferase. Acredita-se 
que esse quadro seja causado pela deposição de 
imunocomplexos em diversos órgãos e tecidos (FEREIRA, 
2020). 
TRATAMENTO 
↠ Apesar dos poucos fármacos disponíveis para o 
tratamento da EM, a terapêutica caracteriza-se por alta 
eficácia e reduzido risco de efeitos adverso (SIQUEIRA-
BATISTA, 2020). 
↠ O tratamento quimioterápico da moléstia por meio de 
medicamentos de baixa toxicidade, como o praziquantel 
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Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
e a oxamniquina, deve ser preconizado para a maioria dos 
pacientes com presença de ovos viáveis nas fezes ou na 
mucosa retal (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
 Por ser uma doença de curso crônico e evolução lenta, não 
impondo urgência para a instituição da terapêutica, recomenda-se 
aguardar até o pós-parto para iniciar o tratamento das gestantes 
(SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
PRAZIQUANTEL: parece afetar o funcionamento do tegumento e da 
musculatura dos vermes adultos, provavelmente por inibição da 
bomba de sódio/potássio dos esquistossomos, levando a um grande 
influxo de cálcio. É eficaz contra vermes maduros, mas não contra 
formas imaturas, de todas as espécies de esquistossomos de interesse 
médico (FEREIRA, 2020). 
↠ Entre as décadas de 1970 e 1990, empregava-se no 
Brasil a oxamniquina, em doses de 15 mg/kg de peso para 
adultos e 20 mg/kg de peso para crianças. Esse 
medicamento, que pode produzir efeitos colaterais, como 
sonolência, tontura e convulsões, não está atualmente 
disponível no mercado nacional (FEREIRA, 2020). 
OBS.: Entre os novos medicamentos em avaliação quanto à eficácia, 
destacam-se os derivados da artemisinina e a mefloquina, ambos 
habitualmente utilizados contra a malária. Esses medicamentos, ao 
contrário do praziquantel, parecem mais ativos contra os vermes 
imaturos do que contra os adultos, abrindo a possibilidade de seu uso 
combinado (FEREIRA, 2020). 
PREVENÇÃO 
De modo geral, as intervenções disponíveis para o controle da 
esquistossomose baseiam-se: (FEREIRA, 2020). 
• na eliminação de vermes adultos que parasitam o ser 
humano, mediante o emprego de praziquantel no 
tratamento de infecções confirmadas pelo exame 
parasitológico ou na quimioterapia preventiva em 
populações expostas a elevados níveis de transmissão; 
• na eliminação dos hospedeiros intermediários por meio de 
controle biológico (com o uso de caramujos competidores 
e peixes e outros animais aquáticos que se alimentam de 
caramujos), controle químico (com o uso de moluscicidas) 
ou saneamento ambiental; 
• na prevenção da infecção de caramujos a partir de 
miracídios provenientes das fezes humanas, mediante a 
melhoria de instalações sanitárias e a educação sanitária; 
• na redução de risco de infecção entre seres humanos, 
evitando seu contato com a água contaminada. 
 Programas voltados para a erradicação de espécies do caracol 
têm sido tentados, ainda que eles sejam alvo de críticas. Em geral, a 
abordagem não resulta na erradicação completa e é difícil de 
sustentar-se, pois, o repovoamento por caramujos pode ocorrer muito 
rapidamente. Programas educacionais também têm um papel 
importante para o enfrentamento da helmintíase. Adolescentes foram 
o foco principal nesses programas, por serem a faixa etária com a 
maior intensidade de infecção (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
 
NEMATÓDEOS 
↠ Os nematódeos ou nematoides são helmintos cilíndricos e 
alongados, com tamanho variando entre 0,2 mm e 6 m, 
geralmente com simetria bilateral, pertencentes ao filo 
Nematoda. Existem dezenas de milhares de espécies de 
nematódeos de vida livre que vivem na água e no solo; são os 
metazoários mais abundantes na Terra. O parasitismo parece 
ter surgido em diversos momentos da evolução dos 
nematódeos (FEREIRA, 2020). 
↠ De modo geral, os helmintos tendem a induzir uma 
polarização da resposta imune do hospedeiro para um padrão 
TH2, com níveis elevados de IgE e eosinofilia pronunciada 
(FEREIRA, 2020). 
↠ A estrutura básica de um nematódeo adulto pode ser 
descrita como um tubo que contém outro tubo em seu interior. 
O tubo externo corresponde à membrana externa do verme, 
recoberta por um tegumento ou cutícula elástica, acelular, com 
estrutura relativamente complexa. O tubo interno corresponde 
ao trato digestório, que nos nematódeos compreende uma 
cavidade bucal, seguida do esôfago e de um longo intestino, 
estrutura tubular revestida por uma única camada de epitélio 
colunar com microvilos proeminentes, que termina em uma 
cloaca (FEREIRA, 2020). 
↠ Os nematódeos intestinais de interesse médico, com 
exceção das formas parasitárias de Strongyloides stercoralis, 
são dioicos – ou seja, apresentam sexos separados. Em geral, 
os machos são menores que as fêmeas (FEREIRA, 2020). 
 
Ascaridíase 
↠ A ascaridíase – também conhecida por ascaridiose, 
ascaríase ou ascariose – é uma enfermidade provocada 
pelo helminto Ascaris lumbricoides, pertencente ao filo 
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Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
Nematoda, a qual acomete o intestino delgado humano, 
sendo considerada um grande problema de saúde pública 
(SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
↠ Popularmente, o helminto também é conhecido como 
“lombriga” ou “bicha”. Na família Ascarididae, na qual o A. 
lumbricoides está incluído, também são encontradas espécies de 
importância veterinária, como o Ascaris suum que infecta o intestino 
delgado de suínos, e o Ascaris ovis, o qual acomete ovinos. Há uma 
grande controvérsia na literatura científica se a ascaridíase seria ou 
não uma zoonose, haja vista a existência de relatos de casos de 
infestação humana pelo A. suum (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
IMPORTANTE: Ascaris lumbricoides é geralmente considerado um 
parasito estenoxeno, que infecta exclusivamente seres humanos. No 
entanto, há evidências de infecção natural de seres humanos por A. 
suum, parasito de suínos. Como as diferenças morfológicas entre A. 
lumbricoides e A. suum são mínimas (somente em 1952 foram 
descritas diferenças sutis nos dentículos labiais das duas espécies), 
vêm-se empregando marcadores moleculares para estudar a 
distribuição de variantes de Ascaris entre populações humanas e 
suínas em diferentes contextos epidemiológicos (FEREIRA, 2020). 
EPIDEMIOLOGIA 
↠ Aascaridíase - entidade nosológica cosmopolita de 
distribuição geográfica mundial - concentra-se 
principalmente em regiões tropicais e subtropicais, onde 
o clima quente e úmido confere melhores condições de 
sobrevivência no ambiente para o ovo do helminto 
(SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
↠ De acordo com a Organização mundial da Saúde 
(OMS), estima-se que mais de um bilhão de pessoas 
estejam infectadas pelo A. lumbricoides (SIQUEIRA-
BATISTA, 2020). 
↠ No Brasil, essa parasitose está presente em todas as 
regiões e é frequente em crianças, especialmente 
naquelas de idade escolar, sejam elas de origem urbana 
ou rural. Este alto índice está intimamente ligado a fatores 
socioeconômicos, sanitário-ambientais e de educação e 
pode produzir consequências prejudiciais no que tange 
ao desenvolvimento físico e cognitivo desses infantes 
(SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
BRASIL: com maior prevalência no Norte e no Centro-Oeste, seguidos 
pelo Nordeste, pelo Sudeste e pelo Sul, nessa ordem (SIQUEIRA-
BATISTA, 2020). 
FATORES DE RISCO 
↠ As condições de higiene da população também são 
importantes para propagação dessa helmintíase. Nessa 
lógica, os locais que têm saneamento básico ineficiente 
apresentam maior facilidade de transmissão do 
metazoário, já que a fonte de infecção é o próprio ser 
humano, que deposita os ovos larvados no ambiente por 
meio da defecação (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
↠ Um aspecto cultural que contribui para a disseminação 
dessa helmintíase é a utilização de fezes humanas como 
fertilizante no cultivo de hortaliças e frutas. Esse costume, 
associado à incorreta higienização dos alimentos, é um 
dos principais fatores de propagação dessa verminose 
em longas distâncias, inclusive para locais de saneamento 
adequado (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
↠ Além de alimentos contaminados, como frutas, 
verduras e legumes, os ovos desse parasito também 
podem ser transmitidos por chuva, vento, partículas de 
poeira, insetos e até mesmo mãos mal higienizadas. As 
crianças na fase oral do desenvolvimento, que levam a 
mão à boca frequentemente e que, muitas vezes, 
brincam no chão, são particularmente vulneráveis a essa 
parasitose, às vezes com cargas parasitárias bastante 
expressivas (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
ETIOLOGIA 
↠ A ascaridíase é causada por parasitos do gênero 
Ascaris e espécie Ascaris lumbricoides (SIQUEIRA-
BATISTA, 2020). 
ASPECTOS MORFOLÓGICOS 
↠ As principais características que definem esse helminto 
são: corpo alongado, cilíndrico, fino e com extremidades 
afiladas; cobertura de cutícula lisa, brilhante e que contém 
duas linhas claras distribuídas longitudinalmente; ausência 
de segmentação e de ventosas; coloração que 
geralmente admite um branco-marfim ou um leve rosado, 
quando localizado no lúmen intestinal do hospedeiro; e 
duas extremidades, uma anterior e outra posterior 
(SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
 
Morfologia de exemplares 
adultos de Ascaris 
lumbricoides. A fêmea (A) 
apresenta extremidade 
posterior retilínea, enquanto o 
macho (B), um pouco menor, 
apresenta extremidade 
posterior curva, com uma 
espícula. 
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Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
↠ Os vermes adultos são cilíndricos, afilando-se 
gradualmente nas extremidades anterior e posterior. As 
fêmeas adultas podem chegar a mais de 40 cm de 
comprimento (porém, geralmente têm 20 a 35 cm) e 3 
a 6 mm de diâmetro; os machos maduros medem 15 a 
31 cm de comprimento e 2 a 4 mm de diâmetro 
(FEREIRA, 2020). 
 Ademais, há dismorfismo sexual na espécie, com a fêmea 
exibindo sua extremidade posterior cônica e retilínea e o macho 
apresentando-a um pouco mais afunilada e encurvada para a superfície 
ventral (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
↠ Os vermes adultos habitam o lúmen do intestino 
delgado humano, onde se alimentam e copulam. A fêmea 
deposita cerca de 200.000 ovos por dia, que são 
eliminados nas fezes. Seu par de túbulos genitais, que 
compreendem útero, receptáculo seminal, oviduto e 
ovário, enovelam-se nos dois terços distais do verme e 
podem conter até 27 milhões de ovos (FEREIRA, 2020). 
 Os ovos imediatamente expelidos são brancos. Entretanto, tais 
estruturas absorvem pigmentos biliares das fezes e adquirem logo 
uma coloração marrom-acastanhada, podendo ser férteis ou inférteis 
(SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
↠ Os ovos férteis recém-eliminados são ovoides e 
medem 45 a 75 μm por 35 a 50 μm. São geralmente 
recobertos por uma casca externa albuminosa espessa, 
uma camada intermediária também espessa e uma 
membrana vitelina interna, muito pouco permeável. Esse 
revestimento complexo torna os ovos extremamente 
resistentes no meio externo (FEREIRA, 2020). 
 A camada albuminosa, no entanto, pode estar ausente em alguns 
ovos férteis, conhecidos como decorticados (FEREIRA, 2020). 
 
 
↠ Os ovos recém-eliminados ainda não são infectantes 
(FEREIRA, 2020). 
 Quando encontram condições favoráveis de 
temperatura (em torno de 25°C, variando de 22 a 30°C), umidade e 
oxigenação no solo, os ovos férteis tornam-se infectantes em cerca 
de 3 semanas, após duas mudas das larvas contidas em seu interior 
(FEREIRA, 2020). 
↠ As fêmeas eliminam também ovos inférteis, 
geralmente alongados, que medem 88 a 94 μm por 39 
a 44 μm e não apresentam a camada externa 
albuminosa. No interior dos ovos inférteis, encontra-se 
uma massa amorfa de protoplasma com grânulos de 
diversos tamanhos. Esses ovos, produzidos por fêmeas 
não fertilizadas, são frequentemente eliminados nas fezes, 
mas degeneram no meio externo, sem se tornarem 
infectantes (FEREIRA, 2020). 
 Os ovos férteis são postos com o envoltório mais espesso, 
apresentam formato ovoide e são relativamente menores que os 
inférteis, que apresentam formato mais alongado. Os ovos inférteis são 
observados quando ocorre a infecção do hospedeiro apenas por 
fêmeas, quando fêmeas jovens que não passaram pelo processo de 
fecundação iniciam a oviposição e quando o número de fêmeas na 
população parasitária é significativamente maior que o número de 
machos (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
ALIMENTAÇÃO DO PATÓGENO: O patógeno se alimenta dos 
macronutrientes (carboidratos, proteínas e lipídios) já digeridos em sua 
forma monomérica no lúmen intestinal do hospedeiro; mas, igualmente 
possuem, caso necessário, as enzimas específicas para a digestão 
dessas substâncias. Outrossim, eles também se nutrem de vitaminas, 
principalmente A e C (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
CICLO DE VIDA 
↠ O ciclo evolutivo do A. lumbricoides é monoxênico, isto 
é, envolve apenas um hospedeiro. A fecundação dos milhares 
de óvulos produzidos diariamente pela fêmea ocorre por meio da 
cópula com o verme masculino. Os ovos, ainda não embrionados, são 
liberados através das fezes para o ambiente, onde se tornam 
embrionados caso este ofereça condições favoráveis, como: 
temperaturas em torno de 27°C, com variações de aproximadamente 
3°C para cima ou para baixo; umidade e presença de oxigênio 
(SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
↠ Os ovos embrionados dão origem ao primeiro estágio 
larval (L1) em cerca de 15 dias; após mais 7 dias, acontece 
a evolução para o segundo estágio larval (L2). Nessas 
duas primeiras etapas, as larvas são rabditoides e ainda 
não são infectantes. Somente após a evolução para o 
terceiro estágio (L3), que é filarioide, as estruturas 
larvares tornam-se infectantes, podendo permanecer no 
solo por até sete anos. Para que isso aconteça, a larva, 
ainda no interior do ovo, reduz significativamente seu 
metabolismo e somente completa o seu ciclo quando 
deglutida (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
↠ Após a ingestão, os ovos atravessam o tubo 
gastrintestinal, para eclodir ao chegarem no intestino 
delgado. O rompimento do ovo ocorre devido às 
condições ambientais encontradas no local. Sobre isso, pode-
se citar o papel das substâncias contidas na bile, da temperatura, do 
pH e, principalmente, da concentração de dióxido de carbono. As 
larvas L3, após saírem do ovo, migram para ointestino 
grosso e alcançam as correntes linfática e sanguínea após 
atravessarem a parede intestinal na altura do ceco. Em 
Os ovos eliminados nas fezes (A) tornam-se embrionados (B) em cerca de 3 semanas; alguns ovos inférteis, 
que contêm em seu interior uma massa amorfa de protoplasma, são também eliminados (C). 
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Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
seguida, migram na direção dos pulmões, ao passarem, 
sequencialmente, pela circulação porta, pelo fígado, pela 
veia cava inferior, pelo coração e pela artéria pulmonar 
(SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
 
↠ Nos pulmões, essas larvas sofrem nova mudança e 
evoluem para L4, estágio que é alcançado em média 
cerca de 8 dias após a ingestão dos ovos. As larvas L4 
então rompem os capilares pulmonares, ganhando acesso 
aos alvéolos, local onde elas amadurecem de L4 para L5. 
Dos alvéolos, as larvas L5 migram, sequencialmente, em 
direção à faringe, passando pela árvore brônquica, 
traqueia e laringe. Nesse ponto, elas são envolvidas pelo 
muco ali existente, o que lhes confere resistência ao 
ambiente ácido do estômago. Podem, então, ser expelidas 
do hospedeiro, a partir do reflexo da tosse, ou deglutidas. 
Nesse caso, quando chegam ao intestino delgado, se 
fixam e amadurecem dando lugar às formas adultas, 
concluindo seu ciclo biológico (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
FISIOPATOLOGIA 
↠ Sua fisiopatologia envolve os danos teciduais, a 
resposta imunológica desencadeada pelo hospedeiro e a 
obstrução mecânica provocada pelo parasito (SIQUEIRA-
BATISTA, 2020). 
RESPOSTA IMUNIE 
De modo geral, os helmintos tendem a induzir uma polarização da resposta 
imune do hospedeiro para um padrão TH2, com níveis elevados de IgE e 
eosinofilia pronunciada, além de estimular o desenvolvimento de células T 
reguladoras (FEREIRA, 2020). 
As células epiteliais do trato digestório são as primeiras células do hospedeiro a 
entrarem em contato com as larvas infectantes dos nematódeos, uma vez 
quebrada a barreira mucosa, mas as moléculas do parasito reconhecidas e as 
vias de sinalização utilizadas para iniciar uma resposta inflamatória não são 
plenamente conhecidas. Há, entretanto, evidência da importância do fator de 
transcrição nuclear NF-κβ no desencadeamento de respostas imunes TH2 em 
camundongos infectados com Trichuris muris; animais incapazes de utilizar essa 
via de sinalização não conseguem eliminar as infecções. Interleucina (IL)-25, IL-
33 e a linfopoietina estromal tímica (TSLP, do inglês thymic stromal 
lymphopoietin), também conhecidas como alarminas, são as citocinas derivadas 
de células epiteliais capazes de induzir a liberação de IL-4, IL-13, IL-9 e IL-5 de 
diferentes fontes, dentre as quais as células linfoides inatas do tipo 2 (ILC2, do 
inglês type 2 innate lymphoid cells) e linfócitos TH2, além de eosinófilos e 
basófilos. Por sua vez, IL-4 e IL-13 suprimem a ativação de macrófagos, 
resultando em diminuição da população de macrófagos clássicos M1, e 
estimulam sua diferenciação em macrófagos ativados de modo alternativo, 
também conhecidos como macrófagos M2 (FEREIRA, 2020). 
Há diversos mecanismos que contribuem para a expulsão de nematódeos 
intestinais. As mucinas produzidas pelas células caliciformes imobilizam os 
vermes, facilitando seu revestimento por proteínas tóxicas provenientes de 
granulócitos e células epiteliais e por anticorpos do hospedeiro. O peristaltismo 
intestinal, aumentado na vigência de inflamação, termina por expelir os 
helmintos (FEREIRA, 2020). 
As respostas TH2, com a produção de IL-4, IL-13, IL-9, IL-5 e IL-21, estão 
associadas à expulsão dos vermes em modelos experimentais de infecção 
primária em camundongos, mas os nematódeos desenvolveram uma variedade 
de mecanismos para induzir respostas regulatórias que favorecem sua 
sobrevivência no hospedeiro por longos períodos e reduzem o efeito deletério 
da inflamação. Algumas moléculas solúveis, ainda mal caracterizadas, produzidas 
e liberadas pelos vermes adultos, bloqueiam a liberação de citocinas pró-
inflamatórias, especialmente IL-12, por células dendríticas, bem como a 
expressão de moléculas coestimulatórias, como CD40, CD80 e CD86, 
estimulando a produção de IL-10 e fator de transformação do crescimento-β 
(em inglês, transforming growth factor, [TGF]-β) em vez de citocinas e 
quimiocinas pró-inflamatórias, como a IL-12, o fator de necrose tumoral (tumor 
necrosis factor, TNF)-α e a proteína quimiotática de monócitos (monocyte 
chemoattractant protein, MCP)-1 (FEREIRA, 2020). 
 
 
 
 
 
 
As células dendríticas com características regulatórias favorecem a expansão 
de células T reguladoras (Treg) e suprimem a diferenciação de populações de 
células TH1 e TH17 efetoras. Enquanto os macrófagos M1 produzem grandes 
quantidades de citocinas pró-inflamatórias e espécies reativas de oxigênio e 
nitrogênio capazes de eliminar patógenos intracelulares, os macrófagos M2, 
abundantes nas infecções por helmintos, secretam IL-10 e TGF-β e expressam 
níveis elevados de arginase-1, com potente ação anti-inflamatória. As respostas 
regulatórias induzidas durante a infecção pelos parasitos afetam não somente 
a resposta específica ao nematódeo, mas podem limitar a resposta imune 
contra antígenos não relacionados. Desse modo, a infecção por nematódeos 
Regulação da resposta imune do hospedeiro por helmintos. 1. A lesão tecidual por vermes adultos estimula a produção 
de alarminas (IL-33, IL-25 e TSLP), que promovem a produção de citocinas do tipo TH2 por células linfoides inatas do 
tipo 2 (ILC2,) e linfócitos TH2, além de eosinófilos e basófilos. Por sua vez, IL-4 e IL-13 suprimem a ativação clássica de 
macrófagos, o que resulta em diminuição da população de macrófagos M1, e estimulam sua diferenciação em 
macrófagos ativados de modo alternativo, também conhecidos como macrófagos M2. Enquanto os macrófagos M1 
produzem grandes quantidades de citocinas pró-inflamatórias e espéciesreativas de oxigênio e nitrogênio, os macrófagos 
M2 secretam moléculas com potente ação anti-inflamatória. 2. Antígenos solúveis dos vermes adultos estimulam a 
liberação de TGF-β e IL-10 por células dendríticas, inibindo a produção de IL-12 e de moléculas coestimulatórias (CD40, 
CD80 e CD86). As células dendríticas com características regulatórias favorecem a expansão de células T CD4 
reguladoras (Treg), de células TH2 efetoras e de células reguladoras TH1 (Tr1), além de suprimirem a diferenciação de 
populações de células TH1 e TH17 efetoras. 3. A infecção por helmintos parece favorecer a produção de células 
dendríticas reguladoras a partir de precursores da medula óssea, incapazes de desencadear respostas efetoras TH1. 
13 
 
 
Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
intestinais pode suprimir a resposta contra outros patógenos, aumentando a 
gravidade de doenças, como hepatites virais, AIDS, tuberculose e malária. Por 
outro lado, as infecções por helmintos podem modular o desenvolvimento de 
manifestações alérgicas, como asma e eczema. O efeito imunomodulador dos 
helmintos serve de base à hipótese da higiene, segundo a qual a redução da 
exposição a helmintos e outros patógenos na infância, em décadas recentes, 
poderia resultar em um sistema imune desequilibrado e hiper-reativo. Essa seria 
uma das explicações para o aumento de prevalência de uma série de doenças 
de base inflamatória em países desenvolvidos ao longo das últimas décadas. Tal 
efeito imunomodulador fundamenta o uso experimental de nematódeos 
intestinais pouco patogênicos para o ser humano para tratar doenças alérgicas 
e inflamatórias, bem como para reduzir as consequências indiretas da 
inflamação crônica, como a obesidade e as doenças cardiovasculares (FEREIRA, 
2020). 
↠ A migração das larvas descrita no ciclo evolutivo do A. 
lumbricoides pode provocar lesões teciduais. Isso porque, 
quando o número de larvas não é muito grande e o 
hospedeiro é imunocompetente, a reação imunológica 
permanece restrita ao sítio de ação, e muitas larvas sãodestruídas pela ação de macrófagos e eosinófilos 
(SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
↠ Porém, se o enfermo está imunodeprimido ou a 
infestação tem maior magnitude, lesões mais graves 
podem ser observadas nos locais de passagem e 
instalação do metazoário. Nesse contexto, são destacadas 
micro-hemorragias e reações de hipersensibilidade do tipo 
I, desencadeadas pelo sistema imune em resposta à 
presença do helminto no organismo. Além disso, pode-se 
observar hepatomegalia, que, em geral, regride em 
poucos dias nos casos com passagem de grande número 
de larvas pelo fígado (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
↠ Os danos teciduais no pulmão – causados pela 
migração larval – ativam as respostas imunológicas inata, 
celular e humoral. Nesse processo, um intenso processo 
inflamatório eosinofílico se desenvolve no local da 
migração. A degranulação dessas células, com a liberação 
de mediadores inflamatórios e com a consequente reação 
inflamatória, caracteriza uma pneumonite no hospedeiro, 
expressa clinicamente como síndrome de Löffler 
(SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
↠ O Ascaris lumbricoides adulto, ao se fixar à mucosa da 
parede intestinal, pode causar úlceras ou erosões, que 
justificam a espoliação por meio de perda de sangue e 
de proteínas. Também acontece a liberação de 
substâncias antigênicas no trato intestinal, mas estas são 
mais toleradas pelo sistema imunológico do hospedeiro. A 
resposta imunológica dirigida ao A. lumbricoides adulto, à 
semelhança do que ocorre nas fases larvárias, também 
envolve reação eosinofílica, periférica e tecidual, além de 
mediações por células Th1 (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
↠ As alterações patológicas mais características da 
ascaridíase relacionam-se com a capacidade de o helminto 
migrar para outros locais, causando a obstrução mecânica 
total ou parcial no intestino delgado, nas vias biliares e no 
ducto pancreático principal. Também são descritos, com menor 
frequência, geralmente em infecções maciças, casos de obstrução nos 
ouvidos, no nariz e nos canais lacrimais. Além disso, já foram relatados 
raríssimos casos de invasão renal por vermes adultos e de abscesso 
cerebral pela migração de larvas (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 
↠ Em geral, a ascaridíase é assintomática ou 
oligossintomática, com evolução benigna. Porém, pode 
evoluir para casos mais graves e com complicações, 
como naquelas situações nas quais ocorre obstrução 
intestinal ou biliar. Clinicamente, as queixas mais descritas 
são dor abdominal, diarreia e náuseas (SIQUEIRA-
BATISTA, 2020). 
Em infecções de baixa intensidade, três a quatro vermes, o hospedeiro 
não apresenta manifestação clínica. Já nas infecções médias, 30 a 40 
vermes, ou maciças, 100 ou mais vermes, podemos encontrar as 
seguintes alterações: (NEVES et. al., 11ª ed.). 
• ação espoliadora: os vermes consomem grande quantidade 
de proteínas, carboidratos, lipídios e vitaminas A e C, 
levando o paciente, principalmente crianças, a subnutrição 
e depauperamento físico e mental; 
• ação tóxica: reação entre antígenos parasitários e 
anticorpos alergizantes do hospedeiro, causando edema, 
urticária, convulsões epileptiformes etc.; 
• ação mecânica: causam irritação na parede e podem 
enovelar-se na luz intestinal, levando à sua obstrução. As 
crianças são mais propensas a este tipo de complicação, 
causada principalmente pelo menor tamanho do intestino 
delgado e pela intensa carga parasitária; 
• localização ectópica: nos casos de pacientes com altas 
cargas parasitárias ou ainda em que o verme sofra alguma 
ação imitativa, a exemplo de febre, uso impróprio de 
medicamento e ingestão de alimentos muito 
condimentados o helminto desloca-se de seu hábitat normal 
atingindo locais não-habituais. Aos vermes que fazem esta 
migração dá-se o nome de "áscaris errático". 
 A existência ou não de sinais e sintomas da helmintíase 
no Homo sapiens reflete, em alguma medida, a intensidade da carga 
parasitária. A maioria dos pacientes imunocompetentes não apresenta 
sintomas, visto que tem cargas parasitárias menos elevadas (SIQUEIRA-
BATISTA, 2020). 
PRINCIPAIS MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DA ASCARIDÍASE 
ÓRGÃO ACOMETIDO MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 
FÍGADO E VIAS BILIARES Hepatomegalia, 
hiperglobulinemia, mal-estar 
geral, febre 
 
Abscesso hepático: febre, dor 
no hipocôndrio direito, icterícia. 
Leucocitose, geralmente com 
14 
 
 
Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
desvio para a esquerda. 
Elevação variável de AST e 
ALT. Coleção intra-hepática 
visualizada à US 
 
Hepatite: pródromo de febre, 
mal-estar, hiporexia, mialgias, 
náuseas. Dor leve no 
hipocôndrio direito, associada a 
hepatomegalia, icterícia, colúria, 
hipocolia. Elevação de AST e 
ALT, mais importantes que FA 
e GGT 
 
Colangite: icterícia, febre e dor 
no hipocôndrio direito. 
Hipotensão arterial sistêmica e 
rebaixamento do nível de 
consciência em situações de 
maior gravidade. Elevação de 
FA e GGT mais importante 
que de AST e ALT. US pode 
mostrar dilatação de via biliar 
principal 
PULMÃO Síndrome de Löffler: febre, 
tosse (escarro com cristais de 
Charcot-Leyden), 
broncospasmo, dispneia, sibilos, 
dor retroesternal, hemoptise, 
edema pulmonar, opacidades 
“migratórias” à radiografia de 
tórax e, em alguns casos, 
insuficiência respiratória 
 
Pneumonia: febre alta, mal-
estar, tosse produtiva, dor 
pleurítica, taquipneia, fadiga 
INTESTINO Abdome proeminente, dor 
abdominal em cólica, diarreia, 
náuseas, vômitos, anorexia, 
desnutrição 
 
Obstrução mecânica: distensão 
abdominal, parada de 
eliminação de flatos e fezes, 
peristalse de luta, vômitos 
fecaloides, intensa dor 
abdominal, isquemia intestinal, 
perfuração intestinal com 
peritonite fecal, 
intussuscepção, vólvulo 
 
Apendicite aguda: dor difusa 
ou periumbilical, que 
posteriormente se localiza no 
quadrante inferior direito do 
abdome, progressiva, associada 
a febre, náuseas, vômito. 
Peritonite fecal em caso de 
supuração. 
 
↠ Vale ressaltar que, em casos de desnutrição, a falta de 
substâncias necessárias para a sobrevivência do helminto 
faz com que ele se alimente da própria parede intestinal 
do hospedeiro, ocasionando sangramento com baixa 
velocidade, o qual causa anemia ferropriva. Nessa situação, 
possivelmente, a suplementação de ferro pode ser 
necessária (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
↠ A ação tóxica proveniente das reações antígenos-
anticorpos no hospedeiro pode desencadear urticária e 
edema. Outras manifestações clínicas, como sono 
intranquilo, ranger de dentes e quadros de mudança 
comportamental (irritação), também foram relatadas em 
infestações por helmintos do gênero Ascaris (SIQUEIRA-
BATISTA, 2020). 
↠ As gestantes e as crianças merecem atenção especial, 
pois, A. lumbricoides compete pelo alimento e lesa o 
epitélio intestinal, o que diminui a absorção de nutrientes 
essenciais, podendo ocasionar falhas no desenvolvimento 
adequado dos fetos e dos pré-escolares (SIQUEIRA-
BATISTA, 2020). 
 Em crianças, é comum a apresentação de alterações 
cutâneas como manchas esbranquiçadas e circulares no corpo, 
conhecidas popularmente como “pano branco” (deve-se destacar que 
há outras enfermidades, como a ptiríase versicolor, que também são 
conhecidas popularmente pela denominação “pano branco”). Embora 
haja controvérsia quanto ao aparecimento desses sinais, tal 
despigmentação parece estar associada ao consumo das vitaminas A 
e C pelo parasito. Desse modo, com o devido tratamento e a 
consequente eliminação do helminto, tais sinais cutâneos tendem a 
desaparecer (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
DIAGNÓSTICO 
CLÍNICO 
↠ A ascaridíase geralmente se desenvolve de modo 
assintomático; por essa razão, o diagnóstico ao exame 
clínico é muitas vezes de difícil estabelecimento. Além 
disso, quando existem sintomas, eles são inespecíficos e 
não possibilitam a caracterização apenas em bases 
clínicas. O mesmo ocorre com as manifestações 
obstrutivas da doença - obstrução intestinal,pancreatite 
aguda, colangite aguda -, que ocorrem de maneira 
semelhante às outras etiologias dessas alterações 
(SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
 Desse modo, o diagnóstico da ascaridíase é obtido encontrando-
se ovos do helminto no exame parasitológico de fezes, o que é 
relativamente fácil de executar qualquer que seja a técnica de exame 
empregada, devido à grande capacidade de oviposição da fêmea do 
A. lumbridoides, de cerca de 200.000 ovos por dia (SIQUEIRA-
BATISTA, 2020). 
 
 
15 
 
 
Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
EXAME PARASITOLÓGICO DE FEZES 
↠ As técnicas empregadas para análise do material fecal 
compreendem métodos qualitativos e quantitativos. Os 
quantitativos oferecem uma pesquisa mais precisa, pois é 
possível correlacionar a produção de ovos à carga 
parasitária (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
↠ Os ensaios qualitativos mais utilizados são: método do 
esfregaço espesso de celofane, desenvolvido por Kato e 
Miurae, e as técnicas de Lutz ou de Hoffman, Pons e 
Janer. Para a análise quantitativa, destacam-se as técnicas 
desenvolvidas por Stoll e Hausheer, Barbosa e Kato-Katz 
(SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
 O método Kato-Katz é o procedimento que a OMS 
recomenda tanto para diagnóstico individual como para a quantificação 
do parasito e a produção de dados epidemiológicos, por se tratar de 
um exame simples e eficiente na detecção dos ovos no material fecal 
(SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
 
 Nos casos de infecção do hospedeiro apenas por A. lumbricoides 
macho, ou no período larval desse helminto, não haverá presença de 
ovos nas fezes, e o exame parasitológico será sempre negativo 
(SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
 As técnicas de sorologia não são indicadas para o 
diagnóstico de Ascaris, pois esses testes ainda são pouco sensíveis 
para essa parasitose (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
HEMOGRAMA 
↠ No hemograma, é possível detectar eosinofilia, 
principalmente na fase larvária da doença, em geral não 
ultrapassando 20% na contagem diferencial. Esse é um 
traço comum das parasitoses que têm em seu ciclo 
evolutivo a fase pulmonar (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
MÉTODOS COMPLEMENTARES 
↠ A radiografia abdominal – simples ou contrastada – 
pode detectar a presença do A. lumbricoides em sua fase 
adulta no hospedeiro, principalmente nos casos de 
obstrução intestinal. Nas infecções unissexuadas (macho), 
ela é uma alternativa para o diagnóstico dessa helmintíase 
(SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
 
↠ Na imagem, é possível perceber o “novelo” de 
parasitos nas alças intestinais, por vezes repletas de gás. 
Em alguns casos, em imagem obtida pelo contraste, 
verifica-se até mesmo a anatomia característica desse 
helminto. No entanto, a sensibilidade desse método no 
diagnóstico da ascaridíase é baixa (SIQUEIRA-BATISTA, 
2020). 
↠ Outros métodos de diagnóstico por imagem 
(ultrassonografia, tomografia computadorizada) também 
podem ser empregados para a suspeição da ascaridíase. 
Os sinais apresentados são os mesmos observados na 
radiografia convencional; porém, em alguns casos, 
consegue-se melhor definição da anatomia do verme 
aprimorando a especificidade e sensibilidade dos métodos 
(SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
 
TRATAMENTO 
↠ O tratamento da ascaridíase deve incluir, além dos 
medicamentos anti-helmínticos, medidas de educação e 
melhoria das condições de acesso à saúde, sem as quais 
Radiografia abdominal 
após ingestão de bário 
num paciente com 
ascaridíase: 
Os vermes adultos 
surgem no duodeno 
como uma massa 
emaranhada (áreas 
pretas) dentro do 
branco do meio de 
contraste. 
16 
 
 
Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
as taxas de reinfecção permanecerão elevadas, anulando 
a médio prazo os efeitos do tratamento farmacológico 
(SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
↠ Há, no mercado, muitos fármacos capazes de tratar a 
infecção por A. lumbricoides, com índices de sucesso 
próximos de 100%. A escolha do medicamento deve 
considerar principalmente o perfil de efeitos colaterais e 
o custo, especialmente em situações em que se planeja 
tratamento de massa em determinada população. Todos 
os pacientes diagnosticados devem ser tratados, mesmo 
os assintomáticos e aqueles com carga parasitária baixa 
(SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
MEDICAMENTOS PARA O TRATAMENTO DA ASCARIDÍASE INTESTINAL, 
MECANISMO DE AÇÃO E EFICÁCIA 
MEDICAMENTO MECANISMO DE 
AÇÃO 
EFICÁCIA 
ALBENDAZOL Impede a divisão 
celular e inibe a 
captação de 
glicose pelo 
parasito 
Níveis de cura e 
redução de ovos 
superiores a 
95% 
MEBENDAZOL Bloqueia a 
captação de 
glicose e 
aminoácidos 
pelos helmintos 
Níveis de cura e 
redução de ovos 
entre 94 e 98% 
LEVAMISOL Promove 
contração 
espástica seguida 
de paralisia 
muscular 
Níveis de cura 
próximos a 93% 
PAMOATO DE PIRANTEL Causa a paralisia 
espástica do 
helminto 
Níveis de cura e 
redução de ovos 
próximos a 100% 
IVERMECTINA Inibe a 
transmissão de 
impulsos 
nervosos no 
verme, 
provocando 
paralisia 
Pouco 
investigada para 
a ascaridíase; 
porém, há 
registros de sua 
eficácia em 
vários estágios 
do ciclo evolutivo 
PIPERAZINA Provoca paralisia 
flácida do 
parasito 
Níveis de cura 
em torno de 
90% 
NITAZOXANIDA Inibe a 
polimerização da 
tubulina no 
parasito e o 
metabolismo 
energético 
anaeróbio 
Níveis de cura 
em torno de 71 a 
100% 
 
 A migração do Ascaris para sítios não habituais pode ser 
desencadeada pela administração de medicamentos anti-helmínticos. 
São descritos casos de pancreatite aguda (relacionados com a 
migração do verme para o ducto de Wirsung), colecistite aguda e 
colangite aguda (relacionados com a migração para o canal colédoco) 
(SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
↠ Para a obstrução intestinal por A. lumbricoides, deve-
se inicialmente tentar o tratamento conservador com as 
seguintes medidas: (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
• dieta suspensa; 
• passagem de cateter nasogástrico (CNG) 
seguida de administração de piperazina (100 
mg/kg/dia), antiespasmódico e óleo mineral (40 
a 60 mℓ/dia). 
↠ Concomitantemente a esses procedimentos, realiza-
se a reposição hidreletrolítica necessária para a situação 
clínica. Em caso de insucesso, está indicada a laparotomia 
exploradora com enterotomia para retirada mecânica do 
bolo de A. lumbricoides (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
 Os indivíduos com diarreia devem observar cuidados 
com a hidratação oral, mantendo ingesta hídrica suficiente. Aqueles 
que se apresentam desidratados devem receber, prioritariamente, 
soro de reidratação oral com a fórmula preconizada pela OMS, ficando 
os fluidos parenterais reservados para os casos de maior gravidade, 
com ineficácia do tratamento oral ou intolerância a ele. Fracionar a 
alimentação do dia em mais horários ajuda a minimizar náuseas e os 
desconfortos epigástricos pós-prandiais (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
PREVENÇÃO 
A prevenção da ascaridíase depende de medidas de cuidado à saúde 
e de educação, reconhecendo-se a grande relevância dos aspectos 
culturais nesse processo. Assim, a destinação apropriada dos resíduos 
fecais, viabilizada por meio da construção de rede de água e esgoto, 
é fundamental (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
O conhecimento e a difusão das ações de educação em saúde 
potencializam o controle e a prevenção da ascaridíase. Desse modo, 
incorporar hábitos mais saudáveis – como lavar as mãos antes das 
refeições e higienizar, manusear e armazenar adequadamente os 
alimentos –, é uma ação que precisa ser amplamente trabalhada por 
meio de campanhas midiáticas e dos trabalhos escolares, sobretudo 
com crianças em idade escolar (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
Por último, o tratamento dos pacientes com ascaridíase é uma das 
maneiras mais significativas de controle e profilaxia. Interromper o ciclo 
de evolução do helminto é de grande valor para reduzir a prevalência 
dessa condição mórbida, bem como para minimizar a gravidade das 
infecções que acontecerem (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
Enterobíase 
↠ A enterobíase – também conhecida como oxiuríase 
– é uma enfermidadeparasitária causada pelo nematoide 
Enterobius vermicularis (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
EPIDEMIOLOGIA 
↠ É o helminto intestinal mais comum em países 
desenvolvidos. As crianças são mais frequentemente 
17 
 
 
Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
infectadas do que os adultos; a carga parasitária pode 
chegar à média de 5.000 a 10.000 vermes por paciente 
(FEREIRA, 2020). 
↠ Tem ocorrência comum em crianças na faixa etária 
de 5 a 10 anos, mas raramente acomete infantes antes 
do segundo ano de vida (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
↠ Essa parasitose apresenta alta incidência em países de 
clima temperado, inclusive naqueles com ampla cobertura 
de saneamento básico (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
↠ Enterobius vermicularis é um verme cosmopolita, 
particularmente comum em países de clima frio, cuja 
transmissão ocorre frequentemente no interior de 
unidades familiares e de instituições como creches, asilos 
etc (FEREIRA, 2020). 
 Tal fator pode estar relacionado com fatores culturais, 
como banhos e trocas de roupas íntimas menos frequentes 
(SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
ETIOLOGIA 
↠ Enterobius vermicularis foi descrito pela primeira vez 
por Lineu, em 1758, então denominado Oxyurus 
vermicularis (FEREIRA, 2020). 
ASPECTOS MORFOLÓGICOS 
↠ O hábitat de exemplares adultos de E. vermicularis é 
o ceco, bem como os segmentos adjacentes do intestino 
delgado e grosso, incluindo o apêndice ileocecal. Os seres 
humanos são seus únicos hospedeiros conhecidos 
(FEREIRA, 2020). 
↠ Em geral, os parasitos são meromiários, de coloração 
branca, filiformes e pequenos, porém com diferenças de 
tamanho entre macho e fêmea, assim como todas as 
espécies entre os nematoides. A cutícula protege contra 
ações externas e auxilia a locomoção, apresentando-se 
brilhante e estriada (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
↠ A fêmea adulta mede 8 a 13 mm de comprimento e 
0,3 a 0,5 mm de diâmetro, aparentemente, permanece 
no lúmen intestinal, junto ao revestimento mucoso que 
recobre o epitélio (FEREIRA, 2020). 
↠ As fêmeas, quando são fecundadas, reúnem cerca 
11.000 ovos em seus úteros. Estes se tornam distendidos 
por toda a massa ovular, ocupando a região bulbar 
esofágica até o início da cauda. Quando estão grávidas, 
elas se deslocam para o reto do hospedeiro, 
principalmente no período noturno – devido à 
temperatura mais baixa, nesse local, durante a noite – 
lançando seus ovos na região perianal. Sua longevidade 
está relacionada com sua oviposição, com duração de 35 
a 50 dias, quando o ciclo de vida do nematoide se 
completa (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
 Na região perineal, são expelidos os 5.000 a 17.000 (média de 
11.000) ovos existentes em seu útero; alguns destes misturam-se às 
fezes, enquanto os demais ficam retidos na pele da região perianal. A 
fêmea morre após a oviposição (FEREIRA, 2020). 
↠ Em algumas situações, as fêmeas morrem ao 
chegarem ao períneo, porém liberam seus ovos da 
mesma maneira, e estes dão continuidade a seu 
desenvolvimento (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). Em 
meninas e mulheres, pode penetrar na vagina (FEREIRA, 
2020). 
↠ Os ovos apresentam uma superfície viscosa que facilita 
sua aderência. Eles são compostos por três camadas 
incolores: a mais externa é de natureza albuminosa; a 
média, quitinosa; e a mais interna, lipoide e delgada. No 
interior do ovo, há uma larva formada, embrionária, que 
se desenvolve até o segundo estágio em anaerobiose. 
Entretanto, necessita de oxigênio para dar continuidade a 
seu desenvolvimento ao terceiro, ao quarto e ao quinto 
estádios. Este último é a forma infectante ao ser humano 
(SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
↠ Os machos são bem menores que as fêmeas (2 a 5 
mm de comprimento e 0,1 a 0,2 mm de diâmetro), e 
raramente são vistos (FEREIRA, 2020). 
 Acredita-se que a duração de vida do verme macho esteja 
limitada a apenas um coito com a fêmea (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
 
 Os ovos recém-eliminados tornam-se infectantes em 6 horas. 
Medem cerca de 50 a 60 μm por 20 a 30 μm; um lado de sua casca 
é achatado assimetricamente. A casca é relativamente espessa e 
Ovos e exemplares 
adultos de Enterobius 
vermicularis. Na 
representação 
esquemática de ovo 
(A), macho adulto (B) e 
fêmea adulta (C). 
Adaptadas de Rey, 2001. 
Ovo de Enterobius 
vermicularis eliminado 
nas fezes (D). 
18 
 
 
Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
incolor. Em condições ideais, os ovos permanecem viáveis no meio 
externo por até 13 dias (FEREIRA, 2020). 
CICLO DE VIDA 
↠ O metazoário E. vermicularis apresenta ciclo biológico 
monoxênico, e seu único hospedeiro, conforme já 
comentado, é o Homo sapiens (SIQUEIRA-BATISTA, 
2020). 
 
↠ Quando ingeridos, os ovos liberam uma larva L1 no 
duodeno, de 150 a 154 μm de comprimento. A larva 
rabditoide sofre duas mudas, provavelmente nas criptas 
da mucosa, antes de chegar ao jejuno e ao íleo superior 
(FEREIRA, 2020). 
↠ A cópula entre os vermes adultos ocorre no ceco. 
Todo o ciclo ocorre no lúmen intestinal, sem migração 
visceral. Cerca de 5 semanas depois da ingestão dos ovos 
(período que pode variar de 2 semanas a 2 meses) 
ocorre a primeira migração de fêmeas adultas para a 
região perianal, geralmente durante a noite, e a 
oviposição. As fêmeas vivem 1 a 3 meses, e os machos, 
cerca de 7 semanas (FEREIRA, 2020). 
↠ Quando grávidas, as fêmeas liberam seus ovos na região perianal 
do hospedeiro. Estes são maturados em 4 a 6 horas, na temperatura 
da superfície do corpo (cerca de 30°C). O intenso prurido 
perianal causado faz com que o paciente coce a região, 
facilitando a transferência dos ovos infectantes para a 
boca, através das mãos contaminadas (autoinfecção) 
(SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
↠ Um indivíduo suscetível que tenha as mãos 
contaminadas por ovos de um indivíduo infectado - por 
exemplo, por ocasião de um cumprimento - e que as 
leve a boca, poderá adquirir o patógeno e desenvolver a 
enterobíase. Ao serem ingeridos, os ovos eclodem no 
intestino delgado, liberando larvas que irão se desenvolver 
até a forma adulta, enquanto se movem para o ceco. Por 
fim, os vermes copulam e dão início a um novo ciclo 
(SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
 
 É importante ressaltar que os ovos podem ficam aderidos no 
ambiente, como nas roupas de cama da pessoa infectada. Tal fato 
promove uma intensa disseminação do helminto e a possibilidade de 
novas infecções (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 
FISIOPATOLOGIA 
↠ Os parasitos aderem à mucosa intestinal, causando um 
leve processo inflamatório, do tipo catarral, com possíveis 
pontos hemorrágicos. Geralmente, não há lesão 
anatômica, uma vez que não há penetração do verme 
na mucosa. A infecção pelos enteroparasitos, 
normalmente, gera uma resposta imunológica complexa 
e múltipla, apesar de a maioria dos humanos ter um 
sistema imunológico capaz de combater a infecção. 
Quando essa ocorre, pode provocar eosinofilia (SIQUEIRA-
BATISTA, 2020). 
↠ Tal condição deve-se à resposta imunológica Th2 
provocada, na qual a interleucina-4 (IL-4) e a interleucina-
5 (IL-5) são produzidas, estimulando também a produção 
de imunoglobulina E (IgE) pelos linfócitos B (SIQUEIRA-
BATISTA, 2020). 
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 
 Excepcionalmente, é possível encontrar vermes adultos na 
cavidade uterina, nas trompas, na cavidade peritoneal e na bexiga 
urinária. Não é raro o encontro de E. vermicularis no apêndice ileocecal, 
mas provavelmente não há uma relação causal com a apendicite 
aguda (FEREIRA, 2020). 
19 
 
 
Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
↠ A infecção por E. vermicularis costuma ser 
assintomática, tendo como sintoma mais comum o 
prurido na região perianal com periodicidade regular, que 
pode se tornar muito intenso, principalmente durante a 
noite - o que pode originar significativa dificuldade para 
dormir -, devido à migração dos parasitos fêmeas. Tal 
situação pode levar a uma irritação na região anal com 
proctite e vulvovaginite, pelo deslocamento das larvas 
para a região genital feminina,

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