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Introdução ao Direito Empresarial UNIDADE 1

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Introdução ao Direito Empresarial UNIDADE 5
Caro estudante, a partir de agora iniciamos, efetivamente, os nossos estudos. Partindo do Direito e da Legislação Empresarial, nosso objetivo é fazê-lo compreender a dinâmica jurídica que circunda a atividade empresarial em nosso país.
Você já deve estar imaginando que existe uma série de regras e procedimentos para que uma determinada atividade possa ser prestada no nível da organização empresarial, não é mesmo? Pois bem, você tem toda a razão! O modelo jurídico brasileiro encontra-se baseado fortemente nas leis, então aprovadas pelo Congresso Nacional. A partir delas é que são estruturadas as condições que precisam ser atendidas para a prática empresarial organizada. 
Há uma grande preocupação do Estado brasileiro quanto à normatização básica da atividade empresarial, de modo que esta consiste em um importante fator de desenvolvimento econômico, seja no que se refere à geração de renda e emprego, até mesmo nas questões tributárias. 
Isso não significa, necessariamente, que o Estado controla absolutamente a atividade empresarial, mas sim que há normas consideradas como indispensáveis para um mínimo de padronização e segurança jurídica, isto é, algo que indica o interesse de que as empresas e a atividade empresarial disponham de elementos de estabilidade, os quais, inclusive, favorecem a adequada prestação de serviços e o fornecimento de bens no mercado.
O conhecimento das normas relacionadas ao chamado Direito Empresarial é de fundamental importância, pois é a partir delas que as ideias serão formatadas à luz do que a legislação brasileira considera como uma atividade organizada. O interesse dessa proteção legal, como você já pode imaginar, é, além daqueles que mencionamos, o de proporcionar tranquilidade e segurança tanto para aqueles que empreendem, como para aqueles que desejam figurar como investidores, bem como para todos aqueles que trabalharão no nível da gestão empresarial, auxiliando e assessorando na tomada de decisões. 
Não é razoável conhecermos os direitos em uma e noutra situação, para que o emprego de recursos e de esforços valha à pena?
Pois então, caro aluno, é partindo dessas premissas que iniciamos a nossa caminhada. Onde, afinal, podemos encontrar as normas de direito empresarial que mais nos interessam? O que é um empresário individual e uma sociedade empresária? Quais são os tipos societários previstos na legislação brasileira?
Introdução da Aula
Qual o foco da aula?
Construir uma base teórica sobre o funcionamento e os principais elementos do direito empresarial.
Objetivos gerais de aprendizagem
Ao longo desta aula, você irá:
· Entender de onde vêm os preceitos que regem o direito empresarial brasileiro.
· Definir, juridicamente, o que constitui um empresário.
· Conhecer as diferenças legais entre Empresário Individual, EIRELI e as sociedades.
Situação Problema
Caro estudante, a partir de agora iniciamos, efetivamente, os nossos estudos. Partindo do Direito e da Legislação Empresarial, nosso objetivo é fazê-lo compreender a dinâmica jurídica que circunda a atividade empresarial em nosso país. 
Você já deve estar imaginando que existe uma série de regras e procedimentos para que uma determinada atividade possa ser prestada no nível da organização empresarial, não é mesmo? Pois bem, você tem toda a razão. O modelo jurídico brasileiro encontra-se baseado fortemente nas leis, então aprovadas pelo Congresso Nacional. A partir delas é que são estruturadas as condições que precisam ser atendidas para a prática empresarial organizada. 
Há uma grande preocupação do Estado brasileiro quanto à normatização básica da atividade empresarial, de modo que esta consiste em um importante fator de desenvolvimento econômico, seja no que se refere à geração de renda e emprego, até mesmo nas questões tributárias. Isso não significa, necessariamente, que o Estado controla absolutamente a atividade empresarial, mas sim que há normas consideradas como indispensáveis para um mínimo de padronização e segurança jurídica, isto é, algo que indica o interesse de que as empresas e a atividade empresarial disponham de elementos de estabilidade, os quais, inclusive, favorecem a adequada prestação de serviços e o fornecimento de bens no mercado.
O conhecimento das normas relacionadas ao chamado Direito Empresarial é de fundamental importância, pois é a partir delas que as ideias serão formatadas à luz do que a legislação brasileira considera como uma atividade organizada. O interesse dessa proteção legal, como você já pode imaginar, é, além daqueles que mencionamos, o de proporcionar tranquilidade e segurança tanto para aqueles que empreendem, como para aqueles que desejam figurar como investidores, bem como para todos aqueles que trabalharão no nível da gestão empresarial, auxiliando e assessorando na tomada de decisões. Não é razoável conhecermos os direitos em uma e noutra situação, para que o emprego de recursos e de esforços valha à pena?
Pois então, caro aluno, é partindo dessas premissas que iniciamos a nossa caminhada. Onde, afinal, podemos encontrar as normas de direito empresarial que mais nos interessam? O que é um empresário individual e uma sociedade empresária? Quais são os tipos societários previstos na legislação brasileira?
Aqui começaremos a tratar especificamente do conteúdo do nosso curso. Daqui em diante, iniciaremos o estudo dos aspectos primordiais que constituem o seu interesse no campo da Introdução ao Direito Empresarial. Para isso, caminharemos desde as noções basilares da legislação brasileira, indicando seus caminhos e apresentando seus conceitos, até a caracterização da empresa e da atividade empresarial, inclusive explorando os variados tipos societários existentes no direito brasileiro.
Você deve entender, desde já, que o Direito Empresarial é uma realidade bastante presente no cotidiano da nossa sociedade e, assim, profundamente ligado às suas perspectivas profissionais. Portanto, é importantíssimo que você conheça os seus principais institutos, porque certamente lidará com essas inquietações que, afinal de contas, acometem muitas pessoas com espírito empreendedor.
Imagine que você, juntamente com dois amigos que estão concluindo o curso de graduação, tiveram a ideia de empreender em uma loja de suplementos alimentares no centro da cidade de Belvedere, um local bastante atrativo para comércio dessa natureza, tendo em vista a existência de uma academia recém-instalada nas proximidades.
Cada um possui determinada quantia em dinheiro para investimento. O problema é que seus amigos não sabem ainda o que precisarão fazer para conseguirem realizar a ideia da loja de suplementos. Não pensaram se precisarão ou não constituir uma empresa, como ficará a questão do capital a ser oferecido por cada um para o objetivo comum, eventual divisão de participação e mesmo como será a administração. Também têm muitas dúvidas sobre qual o tipo societário que deverão optar, até mesmo visando, lá na frente, a um sistema de tributação que seja mais favorável ao porte do negócio.
Além disso, como funcionará o relacionamento jurídico do negócio (da loja) com a locação do ponto e com seus fornecedores? Como será que isso funciona? Na hipótese de você, na qualidade de administrador, ficar incumbido para resolver essas questões, quais seriam suas orientações?
Você já deve ter percebido que diversos são os conceitos e informações legais que permeiam as dúvidas dos seus amigos. Tais dúvidas são de extrema importância, pois a partir da resposta dada a eles poderemos falar em um negócio regular ou irregular, sob o ponto de vista legal, algo que poderá acarretar sérias consequências patrimoniais, inclusive pessoais para todos, frustrando, assim, a ideia original.
Ao longo do estudo a seguir, discutiremos todos os pontos relevantes para o deslinde dessas inquietações, que a partir de agora também podem ser origem das suas próprias dúvidas.
Então, vamos lá!
Fontes primordiais do Direito Empresarial
Caro aluno, no trato das normas atinentes ao Direito Empresarial,a primeira fonte que nos surge, no Brasil, é o chamado Código Comercial, que é do ano de 1850.
Aqui uma anotação precisa ser feita, de natureza terminológica. Com o advento do Código Civil de 2002 (CC/02) não mais utilizamos a expressão “Direito Comercial”, contudo a expressão, hoje mais aceita e também utilizada pela legislação contemporânea, de “Direito Empresarial”. Isso se dá porque o Direito Empresarial é mais amplo que o Comercial, de modo que alcança a integralidade do exercício profissional em atividades econômicas organizadas, tanto para a produção, quanto para a circulação de bens e serviços. (TEIXEIRA, 2018). 
Apesar de o Código Civil de 2002 ser uma fonte privilegiada para que consultemos as normas básicas da legislação empresarial, a possibilidade inicial para que ocorra a organização das atividades econômicas decorre da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB/88). É nesse documento jurídico, político e social que se encontram os principais elementos que caracterizam o Estado Democrático de Direito, o Estado brasileiro em si, com a previsão de direitos e garantias de várias espécies. Dentre eles, os mais importantes para o nosso estudo, neste momento, relacionam-se às liberdades econômicas (CRUZ, 2018; VIDO, 2019).
Note que o texto da Constituição possui diversos princípios que animam, inspiram a legislação infraconstitucional (tanto o CC/02, como as demais leis relativas à matéria empresarial, como teremos oportunidade de ver em breve). É somente porque há a garantia de princípios ligados às liberdades econômicas e profissionais que, efetivamente, as empresas existem e se organizam desta ou daquela maneira, à luz dos critérios então esmiuçados pelas variadas legislações (FILKELSTEIN, 2016).  
______
💭 Reflita
Os princípios jurídicos consistem em elementos que devem ser seguidos tanto na interpretação dos dispositivos legais quanto na aplicação do Direito, sendo o horizonte de compreensão para a concretização do Direito em sua materialização nas análises práticas e no cotidiano empresarial. Como é determinada, na prática, a aplicação de um princípio jurídico?
______
A atividade empresarial, de um modo amplo, acha-se conectada profundamente com os seguintes princípios: 
livre iniciativa (CRFB/88, art. 1º, IV e art. 170, caput); 
liberdade de concorrência (CRFB/88, art. 170, IV); 
função social da empresa (CRFB/88, art. 5º, XXII e art. 170, III) e 
liberdade de associação (CRFB/88, art. 5º, XVII e XX). 
Há também outros tantos princípios elaborados pela doutrina especializada, como: preservação da empresa; autonomia patrimonial da sociedade empresária; subsidiariedade da responsabilidade dos sócios pelas obrigações sociais e; limitação da responsabilidade dos sócios pelas obrigações sociais (CHAGAS, 2019).
Como você pode perceber, os princípios que se encontram ligados à atividade empresarial, seja do empresário ou da sociedade empresária, dizem respeito à ampla possibilidade de empreender no contexto da sociedade moderna. Algo que não é apenas fruto do desenvolvimento natural das sociedades capitalistas, mas tem a ver com a dinamização quanto à oferta de produtos e serviços, com a identificação de oportunidades de negócios e de desenvolvimento econômico e social.
A liberdade empresarial, embora minimamente regulada quanto a alguns de seus aspectos constitutivos e formais, permite que a alocação de recursos movimente a economia de um país, gerando renda, emprego e mais oportunidades nas variadas cadeias produtivas. Os benefícios do empreendedorismo que se consolida na prática empresarial efetiva são muitos (VENOSA; RODRIGUES, 2017).
O que é um empresário?
Agora que conhecemos um pouco sobre as fontes primordiais do Direito Empresarial, o que, afinal de contas, entende-se por empresário?
Segundo o art. 966 do CC/02, empresário é quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens e serviços. Importante atentar para o fato de que algumas atividades estão expressamente excluídas do conceito de empresário, como aquelas referidas no parágrafo único do art. 966 do CC/02 em comento, que são os seguintes casos: quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda que com o concurso de auxiliares ou colaboradores. Tais atividades, como visto, estão excluídas. No entanto, se tais atividades constituírem elemento de empresa, poderão estar incluídas no conceito de empresário (NEGRÃO, 2018).
O conceito de empresário é aplicado tanto para a pessoa física quanto para a pessoa jurídica. Porém, caso a pessoa física esteja inserida na definição apresentada segundo o art. 966 do CC/02, isto é, que exerça profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens e serviços, o nome recebido será o de empresário individual. Por outro lado, caso seja uma pessoa jurídica que atue do mesmo modo, será chamada de sociedade empresária (que é gênero e comporta várias espécies que veremos em breve) ou uma empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI).
Assim, temos que o conceito de empresário é, na verdade, um gênero, que comporta as seguintes espécies:
Empresário individual. 
Sociedade empresária.
EIRELI.
O art. 966 do Código Civil analisa o empresário por um critério subjetivo, considerando, portanto, a atividade organizada para a circulação de bens ou serviços. Isso porque antigamente só se considerava efetivamente um empresário ou uma atividade empresarial quem desempenhasse algumas das opções previstas no antigo Código Comercial. Mas, com o advento dos novos entendimentos e, sobretudo, da livre iniciativa e liberdade de concorrência, o critério objetivo não poderia mais ser utilizado. A característica agora é a de uma atividade organizada, que pode ser nos mais variados ramos, como, no exemplo da nossa situação problema, uma loja de suplementos alimentares. 
A partir do conceito de empresário, podemos perceber quais são os elementos formadores do critério legal para uma atividade empresária. 
Primeiro o profissionalismo, que tem como característica a habitualidade, isto é, a continuidade da atividade. 
Em segundo lugar, a atividade econômica, ou seja, a finalidade lucrativa do negócio (não se exige o lucro real, mas apenas a intenção de lucrar). 
Em terceiro, a organização, que se consubstancia na reunião articular dos chamados fatores de produção, sendo eles: mão de obra, capital, matéria-prima e tecnologia. 
Por fim, em quarto lugar, a produção ou circulação de bens e serviços.
 
Empresa é a atividade econômica organizada para produção ou circulação de bens e serviços, que é realizada, como vimos, pelo empresário individual, pela sociedade empresária ou pela EIRELI. 
Apesar de o conceito legal de empresa não excluir atividades ou pessoas, a lei acaba por fazer algumas ressalvas, como indicado no parágrafo único do art. 966 do CC/02. 
São aquelas atividades as quais, ainda que possuam interesse lucrativo, econômico, não articulam todos aqueles fatores de produção destacados. Assim, é o que acontece nos casos das profissões de natureza intelectual (científica, artística ou literária). O motivo pelo qual são excluídos do conceito de empresário se dá porque nesses casos a organização empresarial (que é aspecto fundamental para o conceito de empresário) assume uma posição secundária, de modo que o essencial aí será o caráter pessoal da prestação dos serviços (SANCHEZ, 2018).
Tal regra aplica-se tanto para as situações do profissional liberal, que é aquele que atua sozinho (um advogado, por exemplo), como no caso de uma sociedade uniprofissional (quando vários profissionais liberais se reúnem para a prestação dos seus serviços). Neste último caso, podemos chamar tais sociedades de sociedades comuns. Caso haja, futuramente, nesse exemplo, a organização dos fatores de produção, aí sim poderão ser consideradas como sociedades empresárias (TEIXEIRA, 2018).
Comece a notar que a diferença, inicialmente, entre um empresário individual e uma sociedade é o aspecto ligado àreunião e ao encontro de vontades. Obviamente que o empresário individual presta sozinho a atividade empresária e, como se pode perceber, a sociedade demanda um acordo de vontades tendentes a uma finalidade (empresarial, lucrativa). 
Assim, o art. 982 do CC/02 dispõe que:
“Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro, e simples as demais. 
Parágrafo único. Independentemente do seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações e, sociedade simples, a cooperativa.” (BRASIL, 2002)
Como visto, a lei exclui do âmbito da atividade empresária algumas situações, ligadas aos profissionais liberais. Porém, se o exercício dessas profissões (atividades) constituir elemento de empresa, isto é, quando a atividade não for o núcleo, mas sim algo complementar, que cede espaço a outras atividades maiores, com natureza empresarial, não haverá problema. O que não é possível é um profissional liberal empresário ou uma sociedade empresária de profissionais liberais em que a atividade prestada (o objeto social) principal seja o próprio trabalho de natureza artística, literária e intelectual, prestados diretamente e com pessoalidade. 
É o caso clássico quando tais atividades se acharem integradas em um objeto mais amplo, relativo à prática empresarial, como um veterinário que atende no seu consultório, que fica dentro de um pet shop, que também lhe pertence. Outro exemplo interessante, e hoje bastante comum, são as franquias que oferecem serviços odontológicos, caracterizadas por uma oferta para uma clientela indistinta, sem a pessoalidade típica do profissional liberal.
______
📝 Exemplificando
Imagine que um dentista, um psicólogo e um advogado, que se conhecem desde os tempos da faculdade, finalmente estejam formados e, como estão no início de carreira, decidem dividir os custos de um local, para que possam atender os seus clientes.
Como são profissionais liberais, eles não se enquadram, especificamente, no conceito estudado de empresário, motivo pelo qual não poderiam constituir uma sociedade empresária para efeito de promover seus serviços. 
Por outro lado, podem constituir uma sociedade simples apenas para efeito de regular eventuais obrigações relacionadas ao local de trabalho, regulando situações negociais em comum entre eles e perante terceiros.
Caso não optem por isso, será como uma sociedade despersonificada, em que as responsabilidades perante terceiros, caso assumidas, serão suportadas de maneira ilimitada por cada um deles.
EIRELI
Caro aluno, refletiremos agora sobre a existência de outras figuras empresariais que ofereçam outras possibilidades sobre a questão da responsabilidade patrimonial. 
Para que muitas pessoas pudessem sair da situação da informalidade, surgiu no Brasil a figura da empresa individual de responsabilidade limitada, que é, basicamente, a figura do empresário individual (embora também possa ser constituída por outra pessoa jurídica, uma sociedade limitada, por exemplo), que constituirá uma pessoa jurídica com patrimônio próprio e personalidade jurídica apartada do seu criador (NEGRÃO, 2018). 
A inovação trazida a partir da inserção da figura da empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI) certamente surtiu efeitos para além do específico campo do Direito Empresarial. A EIRELI tem o condão primordial de retirar da clandestinidade e assim regularizar a situação de milhões de profissionais que se mantinham à margem do sistema legal. Também é forçoso reconhecer os seus benefícios econômicos, sobretudo no que tange ao aumento do número de empresas ofertando bens e serviços, que, por sua vez, podem contribuir para alavancar o dinamismo do mercado quanto à concorrência, quanto à arrecadação tributária e, claro, quanto à valorização dos empreendimentos de pequeno porte. 
Como se deve notar, a EIRELI precisa observar os requisitos e parâmetros gerais das sociedades empresárias insertos nos artigos 966 e 1195 do CC/02, além dos 4 (quatro) específicos presentes no novo artigo 980-A. São eles: 
· (I) possuir apenas um sócio detentor da integralidade do capital social; 
· (II) capital social integralizado no ato de instituição da empresa e no montante equivalente de pelo menos 100 (cem) salários-mínimos; 
· (III) a utilização da expressão “EIRELI” no nome empresarial, seja ao final da firma ou da denominação social (critério diferenciador das demais empresas); 
(IV) limitação à participação de cada pessoa em apenas uma empresa individual de responsabilidade limitada, isto é, quem for sócio de uma EIRELI pode ser sócio de outras empresas individuais ou ser sócio em empresas de outras espécies, contudo não mais do que uma EIRELI.
Pode-se notar com tranquilidade que a questão da responsabilização patrimonial do sócio na modalidade empresarial aqui tratada é limitada, isto é, seus bens pessoais não respondem pelas obrigações da empresa. A grande vantagem da EIRELI, com efeito, é a identificação separada dos patrimônios, elemento definitivo, insculpido no novel artigo 980-A do CC/02.
Devemos perceber que apesar da separação patrimonial consagrada, a técnica da desconsideração da personalidade jurídica pode ser aplicada à EIRELI e, desta maneira, responsabilizar e atingir o patrimônio pessoal do administrador ou criador consoante a situação fática, justamente porque “aplicam-se à empresa individual de responsabilidade limitada, no que couber, as regras previstas para as sociedades limitadas” (§6º do art. 980-A do CC/02).
Futuramente, estudaremos a desconsideração da personalidade jurídica, não se preocupe! Apreendemos que se trata de conclusão lógica, pois, com efeito, não haveria como vislumbrarmos hipótese em que, preenchidos os requisitos, a EIRELI estivesse livre ou que pudesse esquivar-se da desconsideração da personalidade jurídica a fim de que o patrimônio do criador ou administrador respondesse por atos por estes praticados.
Quanto ao capital social, o entendimento é o de que somente fazem jus à limitação da responsabilidade os empreendimentos que demandem capital inicial superior a 100 (cem) salários mínimos. Destarte, a fixação do capital inicial mínimo também visou dificultar que a EIRELI fosse constituída para fraudar a legislação trabalhista, tal como vem sendo utilizado o regime jurídico do microempreendedor individual (MEI), previsto no art. 68 da Lei Complementar nº 123/2006.
O nome empresarial é o elemento identificador do empresário ou da sociedade empresária (arts. 1.155 a 1.168 do CC/02). Da mesma maneira que ocorre com a sociedade limitada (art. 1.158 do CC/02). Porém, em vez de constar ao final a expressão “limitada” ou sua abreviatura (“Ltda.”), neces.- sário que conste a expressão “EIRELI”, que é justamente a abreviatura de “empresa individual de responsabilidade limitada”.
A criação de uma empresa individual de responsabilidade limitada poderá ocorrer de duas maneiras, ou originariamente ou de modo derivado ou posterior. O § 3º do art. 980-A do CC/02 preceitua que a empresa individual de responsabilidade limitada também poderá resultar da concentração das quotas de outra modalidade societária em um único sócio, independentemente das razões que motivaram tal concentração. Assim, a Instrução Normativa nº 118/2011 do Departamento Nacional de Registro de Comércio regulamenta especificamente a transformação de empresário individual em EIRELI e vice-versa.
______
🔁 Assimile
EIRELI – Empresa Individual de Responsabilidade Limitada. Possui a vantagem da proteção patrimonial. Vale relembrar os requisitos para a sua constituição: 
· (I) possuir apenas um sócio detentor da integralidade do capital social; 
· (II) capital social integralizado no ato de instituição da empresa e no montante equivalente de pelo menos 100 (cem) salários- -mínimos; 
· (III) a utilização da expressão “EIRELI” no nome empresarial, seja ao final da firma ou da denominação social (critério diferenciador das demais empresas); 
· (IV) limitação à participação de cada pessoa em apenasuma empresa individual de responsabilidade limitada, isto é, quem for sócio de uma EIRELI pode ser sócio de outras empresas individuais ou ser sócio em empresas de outras espécies, contudo não mais do que uma EIRELI.
Sociedades empresárias
Ao lado do empresário individual e da EIRELI, também há no ordenamento jurídico brasileiro alguns tipos societários. Vamos conhecê-los?
Embora as sociedades sejam constituídas por meio de pessoas jurídicas, os conceitos não se confundem. Isso porque não é toda pessoa jurídica que será uma sociedade, bem como há casos de sociedades que não são constituídas por meio de uma pessoa jurídica. Curioso, não é? 
Quer dizer que o direito brasileiro segue o conceito tradicional de sociedade, isto é, a união entre duas ou mais pessoas, físicas ou jurídicas, para a prática de atividades econômicas, cujo objetivo fundamental seja a obtenção de lucro, que será partilhado pelos sócios.
Há, portanto, aquelas sociedades que são personificadas (por meio de pessoa jurídica) e as não personificadas (que não têm personalidade própria, distinta dos sócios).  
Vale lembrar que a personalização da sociedade traz alguns benefícios, como: 
· (I) titularidade para a celebração de negócios em nome próprio; 
· (II) titularidade em processos judiciais (responde em nome próprio); 
· (III) autonomia patrimonial (possui patrimônio próprio e destacado da figura dos sócios, pessoas físicas). 
Mas quando será que a sociedade adquire personalidade jurídica? Já demos algumas pistas ao longo da nossa caminhada. Segundo o art. 985 do CC/02, a sociedade adquire personalidade jurídica quando ela faz o registro do seu ato constitutivo no órgão próprio (Junta Comercial). 
Já as sociedades não personificadas, como você já sabe, não se constituem por meio de pessoa jurídica. Vamos conhecê-las?
1. Inicialmente, você deve conhecer a figura da sociedade em comum (art. 986 do CC/02), que nada mais é do que uma sociedade formada por duas ou mais pessoas, com prática de atividade econômica e repartição dos resultados, porém, sem que tenha havido o competente registro. Não se trata de uma sociedade ilícita, contudo, como não há pessoa jurídica, as obrigações eventualmente contraídas recairão sobre o nome dos sócios, os quais responderão solidariamente pelas obrigações sociais.  
Em seguida temos a chamada sociedade em conta de participação (art. 991 do CC/02), que é muito comum no ramo imobiliário. Nela, há a presença de duas figuras: o sócio ostensivo (podendo ser uma pessoa física ou jurídica, que exerce o objeto social da sociedade, possui responsabilidade exclusiva e age em seu nome individual) e o sócio oculto ou participante (que pode ser uma pessoa física ou jurídica, que somente participa dos resultados). O detalhe importante é que somente o sócio ostensivo é que responde perante terceiros, de maneira ilimitada. O patrimônio dessa sociedade é especial, 20 o que também vale para a sociedade em comum, isto é, só gera efeito em relação aos próprios sócios. O patrimônio serve para o fim almejado pela sociedade e não para responder perante terceiros (como o patrimônio de uma sociedade personificada responderia). 
Vamos, agora, conhecer os tipos de sociedades personificadas? Essas podem ser: sociedade em nome coletivo; sociedade em comandita simples; sociedade em comandita por ações; sociedade anônima e; sociedade limitada. 
A sociedade em nome coletivo, sociedade em comandita simples e a sociedade limitada encontram-se plenamente disciplinadas pelo CC/02. As sociedades anônimas estão reguladas pela Lei nº 6.404/76, lei esta que é aplicada, na sua maior parte, à sociedade em comandita por ações.
Vale lembrar que as sociedades personificadas podem ser de tipo simples ou empresária. 
As sociedades podem ser simples (CC/02, art. 997) porque o seu objeto é alguma atividade civil, que não é organizada de maneira empresarial (com todos aqueles elementos vistos); havendo tal organização, será uma sociedade empresária (que necessariamente só poderá ser de algum dos tipos supra listados). 
Interessante notar que as regras para as sociedades simples, contidas no CC/02, aplicam-se de modo subsidiário às sociedades empresárias, quando lhes faltar normatização específica. A sociedade simples (S/S) é interessante para quem não é empresário (se for atividade empresária não pode ser simples). Essa sociedade admite o chamado sócio de trabalho ou serviço (que não entra com dinheiro na sociedade, mas sim com o seu trabalho – algo que será impossível nas demais espécies). 
O registro da sociedade simples é feito no Cartório de Registro das Pessoas Jurídicas (e não na Junta Comercial). Desse modo, a sociedade simples é meramente contratual e seus regimes de constituição e dissolução estão todos no CC/02. O capital é dividido em quotas, que assegura direito de percepção de lucros e garante status de sócio, com poder de voto, fiscalização, participação nas deliberações etc. A responsabilidade dos sócios na sociedade simples perante a sociedade é subsidiária (caso haja uma cobrança perante a sociedade, esta é quem primeiro responde e, somente se não tiver patrimônio suficiente é que responderão os sócios de maneira pessoal), ilimitada (se a sociedade não tiver patrimônio, os sócios é que respondem) e proporcional (cada sócio responde com seu patrimônio pessoal na proporção da suas quotas sociais).
A sociedade em nome coletivo (art. 1.039 do CC/02), bastante difícil de ser encontrada na prática. Pode ser tanto empresária, quanto simples. O grande problema deste tipo societário é quanto à responsabilidade. Integrada por sócios pessoas físicas, todos respondem, solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais. Porém, de acordo com o parágrafo único do art. 1.039 do CC/02, sem prejuízo da responsabilidade perante terceiros, podem os sócios, no ato constitutivo, ou por unânime convenção posterior, limitar entre si a responsabilidade de cada um. Então, relativamente às obrigações da sociedade, externas, contraídas em nome desta, a responsabilidade dos sócios será ilimitada, de modo que, caso apareça uma dívida contra a sociedade, não restando patrimônio algum para saldá-la, os sócios responderão pessoalmente de maneira solidária (o credor poderá cobrar a totalidade da dívida de um ou de outro). Entre os sócios, por outro lado, poderá haver disposição diversa, uma repartição de responsabilidade que somente terá efeito entre eles. 
Na sociedade em comandita simples (art. 1.045 do CC/02) há dois tipos de sócios: os comanditados (pessoas físicas, responsáveis solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais) e os comanditários (obrigados somente pelo valor da sua quota, isto é, responsabilidade limitada). No contrato social de uma comandita simples as categorias são qualificadas. Os comanditados são aqueles que administram e têm poderes de gestão da sociedade. Já os comanditários não decidem, pois são apenas sócios de investimento, sob a promessa de uma participação nos lucros. 
A sociedade limitada (Ltda), prevista a partir do art. 1.052 do CC/02, que é o tipo mais comum quando da constituição de uma pessoa jurídica com finalidades empresárias. Ela oferece menor burocracia e possui o diferencial da limitação da responsabilidade. Cada sócio terá a obrigação de integralizar sua parte para a formação do capital social, conforme a previsão em contrato social (de acordo com o que foi subscrito, isto é, comprometido por cada um dos sócios). 
Aqui não é possível a integralização com trabalho, serviço, mas apenas com patrimônio (dinheiro, bens). A responsabilidade dos sócios é subsidiária, limitada, solidária (apenas quanto à integralização do capital social). O limite da responsabilidade é o capital social. Logo, se surgir alguma cobrança contra a sociedade limitada e esta não detiver a integralidade do valor da dívida, o que eventualmente restar para pagamento não atingirá os patrimônios dos sócios. 
Para entender bem isso, consideremos o exemplo de haver uma execução judicial de uma dívida no valor de R$ 1.000.000,00 contra a sociedade.Mas o capital social desta sociedade limitada fictícia é de apenas R$ 100.000,00. Indaga-se: se a execução conseguir alcançar esses R$ 100.000,00 (que estão lá, integralizados na empresa), os outros R$ 900.000,00 restantes da dívida recairão sobre o patrimônio pessoal dos sócios? Não! Isso porque a responsabilidade dos sócios, como visto, é limitada ao valor do capital social. 
Agora, imagine que a sociedade tenha gasto todo o seu capital social, simplesmente sumiram aqueles R$ 100.000,00. Aparece uma cobrança judicial de R$ 1.000.000,00 contra a sociedade. Neste caso, o patrimônio dos sócios será atingido? Sim, mas apenas no limite do capital social, logo os R$ 100.000,00 (o credor suportará um prejuízo com os outros R$ 900.000,00 restantes).
A responsabilidade é, ainda solidária, pela integralização do capital social. Isso significa, na segunda parte do exemplo, que se não houver capital disponível na sociedade para responder pelas obrigações contraídas pela sociedade, o eventual credor poderá cobrar, no limite do capital social da sociedade, a integralidade do valor de um ou de todos os sócios. É porque todos são responsáveis solidariamente pela integralização (o patrimônio efetivo disponível na sociedade) e a solidariedade é quando é possível cobrar toda uma dívida de um sócio, mesmo que ele tenha menos quotas sociais (na prática, esse sócio que acabará arcando com o prejuízo, cobrará os demais, proporcionalmente). 
Até agora vimos as sociedades compostas, sobretudo, por pessoas. Há dois tipos de sociedades, que veremos a partir de agora, caracterizadas justamente pela prevalência do capital. São as sociedades de capital, em que surgem as figuras das ações e dos os acionistas. Existe um órgão federal de regulamentação destes tipos societários, que é feito pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). 
A sociedade anônima (S/A) é, regida pela Lei nº 6.404/76, assim, uma sociedade de capitais, cujo capital é dividido em ações, o que permite ampla negociação no mercado. A responsabilidade dos acionistas é limitada ao preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas. A sociedade anônima pode ser fechada (se não negociar valores mobiliários no mercado de capitais) ou aberta (caso realize a venda de valores mobiliários no mercado de capitais). O mercado de capitais é o local onde ocorre a negociação de valores mobiliários das sociedades anônimas de capital aberto. 
A sociedade em comandita por ações segue basicamente o que foi falado sobre a comandita simples, com a diferença de o tratamento ser por ações e não por quotas. Segue, igualmente, a lei da sociedade anônima, a Lei nº 6.404/76. 
Estimado aluno, percorremos um bom caminho até aqui, não é mesmo? Aprendemos bastante e estamos na trilha do Direito Empresarial. Mas ainda há o que ser estudado! Vamos em frente!
Conclusão
Muito bem! Agora que percorremos os principais tópicos introdutórios do Direito Empresarial, temos perfeitas condições de voltar a refletir sobre a situação prática que levantamos no início dessa aula, não é mesmo?
Se você se lembrar, falamos de um grupo no qual você pertence, no qual todos se conheceram ao longo da faculdade e quando estavam prestes a terminar, decidiram sair de seus empregos e formar uma empresa em conjunto. Afinal, de contas, esse era um sonho manifestado por vocês e, como têm um bom relacionamento, espírito de equipe e perfil empreendedor, nada mais razoável do que acreditar nesse sonho. 
A partir de então, pensaram em montar uma loja de suplementos alimentares. Mas diversas dúvidas surgiram, pois não saberiam nem por onde começar, apesar de terem vagas ideias quanto às peculiaridades legais que envolvem uma atividade empresarial. 
Neste ponto, seus amigos indicaram você, na qualidade de administrador, para resolver esses problemas, indicando-lhes os caminhos adequados. 
Como é pretendido praticar uma atividade organizada, com todos os elementos característicos da atividade empresária, à luz da legislação em vigor, sobretudo porque visa à obtenção de lucros, chega-se à conclusão inicial de que a possibilidade se enquadra no perfil objetivo adotado pelo Direito Empresarial (organização dos fatores de produção mais lucratividade).  
Seguidamente, você pôde perceber que, no caso apresentado, seria oportuna a constituição de uma sociedade personificada, do tipo limitada. Isso porque será possível que vocês iniciem um negócio devidamente protegidos, relativamente aos seus patrimônios pessoais. Como cada um pode dispor de certa quantia em dinheiro para efeito de integralização do capital social, e sendo o valor suficiente para a abertura do negócio, é razoável que se elabore um contrato social, optando-se pela forma de administração da sociedade, que poderá ser livremente escolhida por vocês, distribuindo-se as quotas proporcionalmente à participação societária de cada um, isto é, proporcionalmente aos valores subscritos (prometidos em contrato) e também integralizados (efetivamente aportados na sociedade).  
Mas essa sociedade empresária do tipo limitada que, por enquanto, apenas existe no papel do contrato social, precisa nascer de algum jeito, certo? Nesse caso, deverá ser registrada na Junta Comercial do Estado, o que permitirá, posteriormente, que seja feita a inscrição na Receita Federal para obtenção de CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica) e abertura de conta bancária em nome da sociedade.
Assim, pronta a sociedade e devidamente registrada, com o capital integralizado, podem iniciar os investimentos concretos para abrir a loja de suplementos alimentares. Lembrando que a partir da existência jurídica da sociedade, as obrigações relativamente à locação de um ponto e perante fornecedores e futuros clientes será por intermédio da própria sociedade, que poderá até mesmo contratar funcionários.
Direito e legislação empresarial - AULA 02
Introdução da Aula
Qual o foco da aula?
Nesta aula, trataremos sobre os títulos de crédito, os princípios cambiais e as regras legais que os fundamentam.
Objetivos gerais de aprendizagem:
Ao longo desta aula, você irá:
Conceituar e classificar os principais títulos de crédito existentes.
Identificar e analisar os princípios cambiais.
Entender e contextualizar as aplicações dos principais títulos de crédito: letra de câmbio, nota promissória, duplicata e cheque.
Situação Problema
Olá, estudante!
Agora que já conhecemos os requisitos legais para a constituição de uma empresa, podemos dar seguimento aos nossos estudos, adentrando, de vez, em um dos grandes temas do Direito Empresarial Aplicado, que é aquele relativo aos chamados títulos de crédito.
Conforme veremos ao longo desta aula, os títulos de crédito fazem parte do cotidiano empresarial e o conhecimento quanto aos princípios cambiais e às regras legais que os fundamentam é de nuclear importância para você, até mesmo porque, caro aluno, se o objetivo da empresa é a geração de lucro para os seus sócios, a garantia de recebimento de valores é algo relevante de ser observado.
Na realidade de uma empresa, não é apenas por meio do dinheiro em espécie que são pagos os produtos ou bens fornecidos ou em troca dos serviços eventualmente prestados.
Há, no Direito Brasileiro, uma gama de opções que funcionam como instrumentos de pagamento das obrigações civis. Tais instrumentos poderão tanto ser utilizados pelos consumidores e clientes perante a empresa, quanto pela própria empresa na negociação com seus fornecedores e demais contratantes. 
Considere, por exemplo, dois títulos de crédito de proeminente presença na prática empresarial – dois títulos típicos, aliás – que são o cheque e a duplicata. O que esses títulos representam? Qual é a forma correta de cobrá-los? Diante do inadimplemento, o que se deve fazer? Quais as regras de constituição de um título dessa natureza? E quanto à letra de câmbio e nota promissória, além de todos esses questionamentos, quais são as formas de vencimentos?
Se não bastasse, caro aluno, há outros títulos, conhecidos como atípicos, que precisam se revestir de alguns elementos legais paraque tenham força executiva, isto é, para que possam ser cobrados extrajudicialmente ou judicialmente.  
Calma! Todas essas dúvidas serão resolvidas ao longo desta aula.
Vamos imaginar, para início de conversa, que a ideia de montar uma loja de suplementos, enfim, deu certo. A loja está funcionando a pleno vapor, os clientes estão aparecendo e alguns deles até podem ser considerados como fiéis e bons pagadores. Com isso, você, que está na qualidade de administrador da sociedade empresária, resolve que alguns clientes poderão pagar as mercadorias por meio de cheques, após a realização de um breve cadastro e consulta aos órgãos de proteção do crédito. 
Ocorre que alguns desses clientes começam a se tornar inadimplentes, comprometendo o fluxo de recebimentos da empresa e causando um grande prejuízo. Alguns títulos, aliás, foram mal preenchidos ou faltam informações dos devedores. Inclusive, há cheques que foram apresentados para pagamento de maneira antecipada (antes do acordado com o cliente) e voltaram sem provisão de fundos. 
Na qualidade de administrador responsável pela empresa, você deverá articular uma solução para essa situação, que já se tornou generalizada. Nesse caso, como você deverá proceder?
Antes de responder, note que precisamos apresentar alguns conhecimentos que ajudarão você a formular a melhor alternativa e, inclusive, ajudar a empresa a evitar passivos futuros relacionados aos títulos de crédito que passou a aceitar como pagamento de seus produtos.
Seja para corrigir a situação apresentada, seja para prevenir riscos de perda financeira futura, vamos caminhar pelo Direito Empresarial, desvendando mais esse horizonte do nosso entendimento.
Vamos lá!
Títulos de crédito e princípios cambiais
Olá! A partir de agora começaremos a estudar as espécies de títulos de crédito.
Aqui, vamos nos concentrar nos principais, aqueles que mais aparecem no dia a dia. São eles: 
· a letra de câmbio; 
· a nota promissória (Decreto nº 57.663/66 – Lei Uniforme de Genebra); 
· a duplicata (Lei nº 5.474/68); e 
· o cheque (Lei nº 7.357/85).
Mas devemos nos lembrar que no Código Civil Brasileiro, a partir do artigo 887, há também um tratamento a respeito dos títulos de crédito. Por força do art. 903 do CC/02, somente na ausência de disposição diversa em lei especial é que os títulos de crédito serão regidos pelo Código Civil. Se há uma lei especial para determinado título, deveremos aplicar a respectiva legislação. O Código Civil será aplicado quando tais leis não tratarem 28 de algum tema, o que significa uma aplicação subsidiária (primeiro a lei especial, depois o CC/02).
Para que possamos bem compreender os títulos de crédito, como toda matéria do Direito, é preciso que você conheça alguns princípios relacionados a esta temática. São os chamados princípios cambiais ou cambiários. 
1) Princípio da cartularidade: vem da expressão “cártula”, segundo o qual o crédito encontra-se representado e materializado em um documento (um título). Um cheque ou uma nota promissória representam um crédito, inscrito em um documento, em um papel. Interessante mencionar que a transferência do título – pensemos em um cheque – é imprescindível que o documento físico, que materializa o crédito, seja efetivamente transferido, por exemplo, de uma pessoa para a outra. Essa ideia da transferência do título será importantíssima para que você possa, eventualmente, promover a execução judicial do título, por exemplo. É preciso, nesse caso, apresentar e portar o documento físico. Em alguns casos, no entanto, podemos falar em certa flexibilização do princípio da cartularidade. É o caso dos títulos de crédito eletrônicos. Vejamos sobre o assunto o art. 889, §3º do CC/02, segundo o qual autoriza-se que o título seja emitido dos caracteres criados em computador ou meio técnico equivalente. A chamada duplicata virtual é um título de crédito eletrônico e constitui uma exceção ao princípio da cartularidade.
2) Princípio da literalidade: segundo este, somente possui validade para o Direito Cambiário aquilo que está literalmente escrito no respectivo documento (título). Então, se em um cheque lança-se o valor de cem reais, é este o valor que vale.
3) Princípio da autonomia: As relações cambiais são consideradas como autônomas e independentes entre si. Dessa maneira, eventual vício em uma relação atinente ao título não afetará outra. 
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📝 Exemplificando
Vamos supor, por exemplo, que Tácito esteja vendendo o seu carro por 10 mil reais e Cícero aceita o preço. Mas Cícero quer dar uma nota promissória com vencimento para dali a seis meses e já levar o carro, pois alega impossibilidade de pagamento no ato. Tácito acaba aceitando e entrega o carro para Cícero em troca da nota promissória, cujo pagamento deverá ocorrer dentro de seis meses, como combinado. 
A nota promissória é um título de crédito, como você já sabe, que estampa literalmente um crédito. Agora, Tácito é credor de Cícero. O que deu origem à emissão da promissória foi uma compra e venda do carro. 
Imagine que Cícero, eventualmente, alegue que o carro apresentou uma série de problemas e que não pagaria a nota promissória. Tácito diz que Cícero tem que pagar a nota promissória de qualquer jeito. Isso acaba se tornando um processo judicial movido por Tácito contra Cícero. Neste caso, como há uma relação direta entre os dois quanto à formação do título (compra e venda), Cícero poderá defender-se no processo alegando que o carro comprado apresenta defeitos e que, afinal, não é razoável que ele seja obrigado a pagar a nota promissória. 
Porém – e aqui está a questão da autonomia -, imagine que Tácito tenha transferido, de boa-fé, a nota promissória para uma outra pessoa, para Murilo. Entre Murilo e Cícero não há relação nenhuma. A pergunta aqui é: pode Murilo executar (cobrar) a nota promissória independentemente da questão dos problemas com o carro, segundo as alegações de Cícero?
Sim! Isso se dá porque as relações cambiais são autônomas. A relação entre Cícero e Murilo (nova, decorrente da transferência) são autônomas. Murilo pode, enfim, cobrar tranquilamente de Cícero o valor da nota promissória.
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4) Princípio de abstração: com isso, aprendemos que essa autonomia dos títulos de crédito também faz surgir a noção de abstração, isto é, a não vinculação a nada além do que está no documento, quando ocorre a transferência de boa-fé do título.
Com tais princípios, estamos prontos para conhecer o conceito de título de crédito, dado pelo jurista Cesare Vivante (apud MAMEDE, 2019, p. 12), que é o “documento necessário para o exercício do direito, literal e autônomo nele mencionado”. Esse é o próprio conceito adotado pelo CC/02, em seu artigo 887, segundo o qual título de crédito é o “documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei” (BRASIL, 2002).
Classificação dos títulos de crédito
Caro aluno, a partir de agora veremos a classificação dos títulos de crédito.
Quanto ao modelo, o título pode ser vinculado ou livre. Vinculado é o título que precisa observar alguns requisitos específicos exigidos pela legislação, como a forma e a formatação. Há um padrão. Por exemplo, a duplicata e o cheque são títulos vinculados (possuem forma adequada segundo o estipulado pelo Conselho Monetário Nacional). 
Já o título livre não precisa de nenhuma forma específica. A nota promissória é o grande exemplo. Qualquer pedaço de papel (que contenha as informações necessárias) pode servir para uma nota promissória (NEGRÃO, 2018).
Quanto às hipóteses de emissão, o título pode ser causal, que precisa de uma causa específica que dê razão para a sua emissão. É o caso da duplicata, que só pode ser emitida em duas situações: compra e venda mercantil ou decorrente de prestação de serviço. Também pode ser limitado, que não precisa de causa específica; no entanto, podem haver algumas limitações. A letra de câmbio, por exemplo, não cabe no caso de uma compra e venda mercantil, pois para essa hipótese, segundo a legislação, é aplicávela duplicata. Por último, o título pode ser não-causal, isto é, prescinde de uma causa determinada para sua emissão, como são os casos, no geral, das figuras da nota promissória e do cheque. 
Quanto à estrutura, o título pode ser: ordem de pagamento e promessa de pagamento.
Quanto à ordem de pagamento, aparecem as figuras daquele que dá a ordem para o destinatário, que efetuará a ordem para o tomador ou beneficiário do título. A letra de câmbio, a duplicata e o cheque são exemplos.
Promessa de pagamento, diferente da situação anterior, possui apenas duas figuras: o promitente ou subscritor (quem faz a promessa) e o tomador beneficiário (quem receberá a promessa, o credor). Exemplo é a nota promissória. 
Quanto à circulação, poderá ser: ao portador, nominativo, que pode ser à ordem ou não à ordem.
Ao portador é o título no qual não há identificação do beneficiário, ou seja, ele circula livremente, com a mera entrega do documento (juridicamente chamada de tradição, a entrega). Desde a Lei 8.021/90 não se admite mais título ao portador, salvo se a lei especial trouxer essa permissão. Do contrário, não é admitida (MAMEDE, 2019).
No título nominativo é identificado o beneficiário. Pode ser à ordem, quando sua transferência se dá por endosso e tradição. Nesse caso, quem endossa o título responde pelo pagamento, pela solvência do crédito.
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📝 Exemplificando 
Se, por exemplo, Caio transfere e endossa um cheque para Mário e o cheque retorna sem provisão de fundos, Mário poderá propor uma ação judicial contra Caio, a fim de que este seja obrigado a responder pela dívida.
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Diferente é o título nominativo não à ordem, em que não há transferência por endosso, mas por mera cessão civil. Na cessão civil, quem transfere não responde pelo pagamento do título.
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🔁 Assimile
Endosso é a transferência do crédito a outra pessoa, com a tradição (entrega física) da posse da cártula. Endossante é quem transfere, e endossatário, quem recebe. Assim, há dois efeitos desse ato: transfere a titularidade do crédito, do endossante para o endossatário, e torna o endossante corresponsável pelo pagamento do título. 
O endosso pode ser dado no verso do título, bastando uma assinatura. Pode ser também no anverso (frente do título), mas neste caso precisará de uma assinatura e uma expressão de identificação (exemplo: endosso a Carlos; transfiro a Paulo).
O endosso pode ser em branco (quando não identifica o endossatário) ou em preto (que possui a identificação do endossatário). Se não colocar o nome de alguém na expressão “endosso a…”, está em branco, sem identificação do endossatário. Mas, se é colocado, por exemplo, “endosso a Carlos”, tem-se o endossatário identificado, em preto.
Deve-se lembrar que o endosso parcial (quanto a apenas uma parte do valor que consta no título) é nulo. Somente é possível, portanto, o endosso total (isto é, da integralidade do valor que consta no título). Também há o chamado endosso impróprio. No endosso impróprio não ocorre a transferência do crédito, apenas do título. Pode ser de dois tipos: endosso-mandato e endosso-caução. No endosso-mandato, transfere-se o título para fins de cobrança. No endosso-caução, transfere-se o título para fins de garantia (TEIXEIRA, 2018).
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O CC/02, no art. 921, faz menção a título nominativo, mas em um sentido adicional. Segundo esse dispositivo, o título nominativo é aquele emitido em favor de pessoa cujo nome conste no registro do emitente, quer dizer, o nome do beneficiário não está escrito no título, porém deve aparecer no registro daquele que o emitiu. Como o CC/02 permite a criação de títulos de crédito atípicos, é possível que seja criado um título, que será registrado em livro próprio, com o nome do credor; quando este credor transferir o título para outrem, haverá o registro desta operação de transferência, com o nome daquele para quem se transferiu. É uma hipótese mais difícil de acontecer, todavia, possível.
Por fim, vale ressaltar que os títulos de crédito a serem estudados a seguir (letra de câmbio, nota promissória, duplicata e o cheque) são títulos executivos extrajudiciais, de acordo com o art. 784 do Código de Processo Civil Brasileiro. Quer dizer que, como títulos executivos extrajudiciais, os títulos de crédito têm à sua disposição um procedimento mais rápido para a cobrança judicial, desde que respeitados os respectivos prazos prescricionais nas leis especiais de cada um.
Letra de câmbio
Agora que vimos as características gerais dos títulos de crédito, caminharemos para o estudo dos principais títulos. Vamos lá!
Regulada pelo Decreto nº 57.663/66, trata-se de um título resultante de relações de crédito entre duas ou mais pessoas, por meio do qual aquela designada como sacador determina a ordem de pagamento a uma outra pessoa, que é o sacado, seja em favor deste ou de terceira pessoa (que é o tomador ou beneficiário), relativamente ao valor previsto e nas condições especificadas. 
Suponha que a pessoa Y está devendo certa quantia à pessoa X. X emite uma letra de câmbio determinando que Y o pague. Agora imagine que X esteja devendo a Z; X, então, emite uma letra de câmbio para que Y (que deve a X) pague diretamente a Z. 
O que precisamos saber é sobre os atos cambiais existentes no âmbito da letra de câmbio. O primeiro dele é o chamado saque, que é o ato de criação ou emissão de um título de crédito. Como a letra de câmbio é uma ordem de pagamento, há três figuras: 
· quem dá a ordem (sacador); 
· quem recebe a ordem (sacado); e 
· o tomador beneficiário.
Quem dá a ordem será chamado de sacador; quem recebe a ordem será chamado de sacado. Então, diante do último exemplo dado, o X será o sacador, que dá a ordem para o sacado, Y, pagar Z, que é o tomador beneficiário. Quando X emite essa ordem para Y, ele o procura e pergunta se concorda ou não com tal ordem. Nesse momento, surge um outro ato cambial importante, que é o chamado aceite.
O aceite nada mais é do que o ato pelo qual há concordância com uma ordem de pagamento dada, que é um ato privativo do sacado (ninguém mais pode aceitar, apenas ele). Se houver aceite, o sacado é aceitante. Na oportunidade de o sacado efetuar o aceite, ele se torna o principal devedor do título. No exemplo dado, se Y der o aceite, ele se torna devedor principal do título, enquanto que o X, sacador, será corresponsável. Note, no entanto, que na letra de câmbio o aceite é facultativo. O sacado pode, assim, recusar o aceite. Porém, nessa situação, se houver a recusa do aceite, isso resultará em dois efeitos: vencimento antecipado do título; e o sacador se torna o devedor principal (FILKESTEIN, 2016).
O aceite poderá ser parcial. Nesse caso, poderá ser: 
· limitativo (quanto ao valor – o sacado não aceita o valor total inicialmente previsto, assumindo a obrigação principal em relação ao que ele efetivamente concordou) ou 
· modificativo (quanto às condições do título, modificando, por exemplo, a data do vencimento antes estipulada). 
E quanto ao endosso, será que é possível na letra de câmbio? Será que é possível a transferência da letra de câmbio? Sim! Quem endossa, na letra de câmbio, é corresponsável pelo pagamento do título, pela sua solvência (SANCHEZ, 2018). 
Além disso, é possível aparecer a figura do aval, que segundo o art. 30 do Decreto nº 57.663, poderá ser total ou parcial, relativamente ao valor.
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🔁 Assimile
Aval: trata-se de um ato cambiário resultante da manifestação unilateral de vontade, por meio da qual uma pessoa, física ou jurídica, chamada avalista, compromete-se a pagar determinado título de crédito, nas mesmas condições que o devedor originário ou codevedor do mesmo título, então, avalizado. O avalista é um garantidor do pagamento do título. 
Para que o aval seja dado em um título de crédito, duas opções são possíveis: uma assinatura simples no anverso do título, ou assinatura acompanhada de expressão identificadora no verso (ex. Avalizo a…; por aval a…).
Aval poderá ser em branco (sem identificação do avalizado) ou em preto (o avalizado está identificado).
O avalé um ato cambiário autônomo, que subsiste ainda que, por exemplo, o avalizado faleça, a empresa entre em falência, o avalizado seja incapaz etc. 
Como o avalista se compromete ao pagamento do título junto com o devedor do título, ele poderá ser executado diretamente pelo credor, não havendo o chamado benefício de ordem.
Interessante que, se o avalista for casado, somente poderá prestar o aval com autorização do respectivo cônjuge, exceto no regime de separação total dos bens. 
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Quanto ao vencimento, a letra de câmbio pode ser: 
· à vista (exigida a qualquer tempo); 
· data certa (fixada, por exemplo, para dali a 20 dias); 
· a certo termo de data (é o número de dias a partir de uma data inicial, por exemplo, 20 dias a partir da emissão); 
· a certo termo de vista (é o número de dias a partir da data do aceite) (SANCHEZ, 2018). 
Por fim, para executar o devedor principal e eventual avalista, na letra de câmbio, o prazo é de três anos (prazo prescricional) do vencimento; para codevedor ou avalista de codevedor, o prazo será de um ano contado do protesto.
Nota promissora e duplicata
Passamos, agora, a estudar a nota promissória. Trata-se de uma promessa pura e simples de pagamento feita pelo emitente a outra pessoa, beneficiário, de quantia determinada, em seu favor ou de outra pessoa, nas condições especificadas no título.
Assim como a letra de câmbio, a nota promissória também está disciplinada no Decreto nº 57.663/66.
Não há aceite na nota promissória, pois como é uma promessa não há ordem de pagamento.
Logo, o devedor principal é o emitente da nota, isto é, o subscritor – aquele que realiza a promessa de pagamento. 
O endosso é perfeitamente possível, nos mesmos moldes do que foi estudado quanto à letra de câmbio. Da mesma forma, as mesmas regras do aval, já estudadas, são aplicáveis à nota promissória. 
Quanto ao vencimento, poderá ser: à vista; data certa; a certo termo de data – seguem o já estudado. Mas, quanto ao vencimento a certo termo de vista, o prazo não será contado a partir do aceite, porque não há aceite na nota promissória, porém será contado a partir do visto. 
Exemplo: se K emitir uma nota promissória em nome de M, com vencimento a certo termo de vista, isto significa que M apresentará o título a K, que oporá o visto, a partir do qual correrá o prazo estipulado, portanto.
Quanto à prescrição para executar judicialmente a nota promissória, seguem-se os mesmos prazos da letra de câmbio (VENOSA; RODRIGUES, 2017). 
Trataremos, a partir daqui, da duplicata, que está disciplinada na Lei nº 5.474/68. É uma ordem de pagamento causal, que resulta de uma compra e venda mercantil ou prestação de serviço. Há, assim, as figuras do sacador, sacado e do tomador beneficiário. 
Suponha que uma empresa vendeu certa mercadoria e precisa receber. O vendedor dá uma ordem de pagamento para que o devedor efetue o pagamento, mas é preciso que se emita uma fatura (uma nota fiscal). Para que o credor execute ou transfira essa fatura em um título de crédito é preciso duplicar as informações ali constantes em um título, que é justamente a duplicata (isso porque a fatura ou nota fiscal não reúne os elementos legais de um título de crédito, para que possa servir de base para um protesto ou uma execução, por exemplo). A duplicata (um espelho) contém todas as informações da fatura (que é elemento indispensável) (VENOSA; RODRIGUES, 2017).
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💭 Reflita
Caso ocorra a perda ou o extravio de uma duplicata, seria possível a emissão de uma outra via? Em caso positivo, como seria chamada essa nova via?
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Na duplicata, o aceite é obrigatório. O sacado, por conseguinte, está obrigado a dar o aceite. Somente em algumas hipóteses, segundo os art. 8º e 21 da Lei nº 5.474/68, é que poderá haver recusa do aceite, quais sejam: em caso de avaria, não recebimento da mercadoria e em caso de não prestação do serviço; em caso de vício ou defeito de quantidade ou qualidade do produto ou serviço; e em caso de divergência quanto ao prazo, preço e condições de pagamento.
Quanto ao endosso, o art. 25 da Lei nº 5.474/68 diz que se aplicam as mesmas regras já vistas da letra de câmbio. 
No que se refere ao aval, prevalece o entendimento de que se aplicam as mesmas regras da letra de câmbio. Já no que se refere ao vencimento, a duplicata pode ser: à vista ou com data certa, apenas. 
Na execução judicial de uma duplicata, temos duas situações. Se houver aceite, tudo bem. Se não houver aceite, nas situações informadas (isto é, em caso de avaria, não recebimento da mercadoria e em caso de não prestação do serviço; em caso de vício ou defeito de quantidade ou qualidade do produto ou serviço; e em caso de divergência quanto ao prazo, preço e condições de pagamento), é preciso que haja uma cumulação de elementos: duplicata, protesto e o comprovante de entrega da mercadoria ou da prestação do serviço. 
O prazo prescricional para executar o devedor principal ou avalista é de três anos do vencimento. Se é para executar codevedor ou avalista, o prazo será de um ano a partir do protesto (VENOSA; RODRIGUES, 2017).
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🔁 Assimile
Duplicata virtual: influenciada principalmente pelo desenvolvimento da eletrônica e da informática e a fim de viabilizar um procedimento célere, a duplicata vem sendo utilizada pelo meio eletrônico, sendo assim conhecida como duplicata virtual. Para que o título surta efeito é necessária a data de emissão; indicação precisa dos direitos que confere e assinatura do emitente (assinatura digital). Esse modelo de título é caracterizado pelo lançamento em meio magnético. A duplicata é remetida a uma instituição financeira, que emite um boleto bancário e encaminha aos sacados, para que assim efetuem o pagamento. Portanto, não tem a necessidade da materialização da duplicata em papel. Existe o entendimento dos Tribunais que não é necessário o título ser cartularizado, exatamente por ser considerado um documento eletrônico.
O aceite se dará pela assinatura eletrônica a qual fará a validação do próprio documento, conforme fundamentado pelo art. 8º da Lei nº 9.492/97 cumulado com o art. 889, § 3º, do CC/02. Respeitados os requisitos que a lei impõe, os títulos de crédito produzidos por meio eletrônico não perdem o caráter de título executivo extrajudicial, o que permite ao credor maior segurança no recebimento do seu crédito. Quanto à execução do título, é perfeitamente possível, contanto que devidamente acompanhada dos instrumentos de protesto e dos comprovantes de entrega da mercadoria e da prestação do serviço, o que assegura a executividade do título eletrônico.
Cheque
Finalmente, vamos ao estudo do cheque, que está disciplinado na Lei nº 7.357/85. Trata-se de um título de crédito pelo qual uma pessoa, emitente ou sacador (correntista), a partir de prévia provisão de fundos em poder de banco ou instituição financeira congênere, designado como sacado, dá contra este uma ordem incondicionada de pagamento à vista, em seu próprio benefício ou em favor de terceiro, designado tomador beneficiário (credor). 
O cheque é ordem de pagamento à vista. Mas imagine que seja pós-datado (usualmente pré-datado), para dali a cinco meses. Se o beneficiário apresentar o título imediatamente, o banco (sacado) pagará da mesma maneira, pois é título de crédito à vista. Ocorre, no entanto, que essa apresentação antecipada é uma conduta desleal, pois o combinado foi outra data. Por tal motivo, segundo o Superior Tribunal de Justiça, caracteriza dano moral a apresentação antecipada do cheque (VIDO, 2019).
Como não há aceite no cheque, havendo fundo disponível e apresentado o cheque, o banco ou instituição financeira deverá pagá-lo.
Quanto ao endosso, segue as mesmas regras da letra de câmbio: assinatura no verso do cheque ou assinatura acompanhada de uma expressão identificadora no anverso. Também poderá ser em preto (identificado) ou em branco (sem identificação). Ademais, não há limitação para o endosso. Igualmente, não é possível o endosso parcial, apenas total. 
O aval também será possível, total ou parcial. Será, como visto, noanverso (com simples assinatura) ou no verso (assinatura acompanhada de expressão identificadora). Será em preto ou em branco, nas regras já estudadas (VIDO, 2019). 
Importante quanto ao cheque é a questão da apresentação para o respectivo pagamento. O prazo de apresentação será de 30 dias (se for da mesma praça) ou 60 dias (se for de praça diferente), contados da data da emissão. Se o cheque for oriundo de São Paulo, por exemplo, mas apresentado em Brasília (praças diferentes), o prazo é de 60 dias, portanto (CRUZ, 2018). 
O estudo dos prazos é para fins de contagem da prescrição, isto é, o tempo de que o credor dispõe para executar judicialmente o título. Mas atente-se: só é possível a execução do endossante se o cheque tiver sido apresentado dentro do prazo legal, segundo o art. 47, II, da Lei nº 7.357/85. Quanto ao emitente e seus avalistas, sem problema. A vedação da lei é quanto ao endossante.
É possível que o credor apresente o cheque para pagamento e o banco (sacado) faça a devolução indevida do cheque, quando, por exemplo, ocorre um equívoco administrativo e o banco não verifica o saldo suficiente para a cobertura da ordem. Segundo o Superior Tribunal de Justiça, a simples devolução indevida do cheque caracteriza dano moral (NEGRÃO, 2018).
E a sustação do cheque? Tem-se a chamada contraordem ou revogação, que é dada pelo emitente e somente produz efeitos depois do prazo de apresentação do cheque. A outra modalidade de sustação é a oposição ou simplesmente sustação. Neste caso, tanto o emitente quanto o portador legitimado terão tal possibilidade. Aliás, essa oposição poderá ocorrer até mesmo durante o prazo de apresentação, diferentemente da modalidade anterior. 
Tema de relevância é a questão da execução do cheque por meio judicial. Nesse caso, o prazo prescricional é de seis meses contados do fim do prazo de apresentação para o ajuizamento da ação em face do emitente e seu avalista. Caso seja uma execução contra o endossante e seu avalista, o prazo será de seis meses a contar do protesto ou da declaração da Câmara de Compensação.
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⭐ Dica
Segundo a Lei nº 10.214/2001, Câmara de Compensação é uma central ou mecanismo de processamento central por meio do qual as instituições financeiras acordam trocar instruções de pagamento ou outras obrigações financeiras (como valores mobiliários). As instituições liquidam os instrumentos trocados em um momento determinado com base em regras e procedimentos da Câmara de Compensação. Em alguns casos, a Câmara de Compensação pode assumir responsabilidades significativas de contraparte, financeiras ou de administração do risco para o sistema de compensação.
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Na hipótese de o cheque encontrar-se prescrito, também é possível, assim como para as demais espécies de títulos de crédito, o manejo da chamada ação monitória, que considera o título prescrito, então não executável por procedimento mais célere, como um instrumento de dívida civil. 
Com isso, caro aluno, encerramos o estudo dos títulos de crédito, buscando os fundamentais e mais relevantes aspectos que permitirão a utilização desses importantes instrumentos no âmbito da prática empresarial. 
Conclusão
Muito bem! Percorremos até aqui um caminho muito interessante, repleto de conhecimentos indispensáveis no que se refere aos títulos de crédito. Com isso, você poderá otimizar muito mais o recebimento decorrente das vendas de sua empresa, caso ela forneça bens de consumo, ou em razão dos serviços que presta. 
No caso que destacamos, vimos que a loja de suplementos está dando tão certo que, para alguns clientes, foi dada a oportunidade de realizar pagamentos por meio de títulos de crédito, como o cheque. Porém, alguns clientes estão inadimplentes e devido à falta de controle e conhecimento por parte dos outros sócios da loja (sociedade empresária), resta dificultado o recebimento dos créditos, porque alguns títulos, aliás, foram mal preenchidos ou faltam informações dos devedores. Inclusive, há cheques que foram apresentados para pagamento de maneira antecipada (antes do acordado com o cliente) e voltaram sem provisão de fundos. Nesta situação hipotética, na qualidade de administrador da sociedade empresária, você ficou responsável pela correção e instrução quanto aos procedimentos que deveriam ser adotados a partir de então. Vamos lá? 
Se você acompanhou o nosso percurso até aqui, será capaz de entender que o cheque possui uma sistemática própria, que é aquela de lei especial, a Lei nº 7.357/85, a qual deverá ser obrigatoriamente observada. Como o cheque é uma ordem de pagamento à vista, os campos da assinatura e do beneficiário tomador devem estar preenchidos. 
Posteriormente, em casos de compras de grande vulto é possível a exigência de um avalista do emitente (devedor originário), o que permitirá maior chance de recebimento forçado (judicial) na hipótese de inadimplência (caso o cheque seja devolvido pelo sacado – instituição financeira – sem provisão de fundos). 
Ademais, como o cheque é um título de crédito, você deverá informar aos demais sócios da empresa que o valor deverá ser preenchido de modo bastante claro, em respeito ao princípio da literalidade. 
Em seguida, esclareça que apesar de o cheque ser uma ordem de pagamento à vista, é possível que ele seja pós-datado (o famoso cheque pré-datado do dia a dia), em que o emitente coloca a expressão “bom para…” no anverso do título. Muito embora não haja previsão legal para essa prática, nada impede que, caso o cheque seja apresentado para pagamento, o sacado concretize a ordem. No entanto, tal prática apesar de não violar a lei cambiária, viola a boa-fé objetiva no que se refere às relações comerciais, de modo que, segundo o Superior Tribunal de Justiça, configura dano moral a apresentação antecipada do cheque pós-datado. Por tal motivo, você deverá recomendar, enfaticamente, que os prazos de apresentação para pagamento sejam estritamente respeitados, para não gerar o risco de um grave passivo judicial em função da configuração do dano moral respectivo. 
Além de tudo isso, você deverá lembrar aos sócios acerca dos prazos de apresentação do cheque para pagamento, sendo 30 dias para mesma praça ou 60 dias para praças diferentes. O término desse prazo faz iniciar a contagem de um outro prazo, o chamado prazo prescricional, que será de seis meses para que se empreenda a execução direta do cheque na Justiça, tendo em vista que ele é um título executivo extrajudicial. Ultrapassado esse prazo, no entanto, será possível o manejo de outras ações, como a ação monitória, que considera o cheque prescrito como prova pré-constituída de uma dívida civil.
Mas até aí você já ajudou o suficiente! Com as suas recomendações técnicas, a empresa conseguirá articular da melhor maneira o controle de recebimentos e a gestão da inadimplência, favorecendo, assim, a própria saúde do negócio.
Falência e recuperação judicial da empresa AULA 03
Introdução da Aula
Qual o foco da aula?
Os processos relacionados às crises que levem uma empresa a não cumprir com suas obrigações contratuais.
Objetivos gerais de aprendizagem:
Ao longo desta aula, você irá:
· Abordar a questão da falência e da recuperação judicial da empresa.
· Conceituar a falência e entender suas consequências.
· Conceituar e entender os processos de recuperação judicial e extrajudicial.
· Discutir as hipóteses de desconsideração da personalidade jurídica.
Situação Problema
Olá, estudante! 
Iniciamos mais uma aula sobre o Direito e a Legislação Empresarial.
O que é mais importante nesta aula, caro aluno, é pensarmos na situação da empresa que passa por crise financeira. Essa crise está ligada à eventual incapacidade de a empresa cumprir com as obrigações assumidas, fazendo com que os débitos que detenha superem a sua capacidade de adimplemento (pagamento). 
Sabe-se que não é fácil manter uma empresa, assegurando sua boa “saúde”, pois há vários elementos contingentes do cotidiano que interferem nas atividades, sobretudo os problemas de natureza econômica e jurídica, como a redução da capacidadede consumo, alta carga tributária, passivos trabalhistas, dentre tantos outros.
O objetivo aqui é o de apresentar os instrumentos legais que possibilitam o restabelecimento da empresa, como é o caso da recuperação (judicial ou extrajudicial), ou, quando realmente não há mais jeito, porém é preciso satisfazer o crédito dos credores, a hipótese da falência. 
Isso serve para mostrar que o Direito Empresarial possui uma preocupação e um tratamento jurídico que vai desde a constituição da empresa até o seu fim mais inoportuno, no caso da falência. Essa preocupação do Direito e do Estado tem uma razão especialmente econômica de ser: afinal, as empresas constituem importante vetor da economia nacional, gerando e distribuindo renda, criando postos de trabalho e dinamizando o fluxo de capitais.
Suponha, neste sentido, que a empresa que você constituiu com seus amigos de faculdade esteja passando por um sério momento de crise financeira. Há um grande passivo relacionado ao pagamento dos fornecedores, bem como há dívidas de origem trabalhista e fiscal. O interesse de vocês é a continuidade da atividade empresária, mas, para tanto, será necessário tomar algumas providências, permitindo enxergar um horizonte no qual seja possível adimplir com todas as obrigações então assumidas, porém até o momento não satisfeitas. Os credores não param de enviar notificações de cobrança e, além de tudo, os juros e a correção monetária somente pioram com o passar do tempo. Considerando a necessidade de uma reformulação do gerenciamento da empresa, como você, na qualidade de administrador, orientaria para a resolução dessa grave crise?
Pois bem, para tanto será necessário mobilizar uma série de conceitos e articular diversas informações. 
Vamos lá!
Falência: pressupostos
Começaremos esta aula tratando do instituto da falência, disciplinada pela Lei nº 11.101/2005. 
Na hipótese de uma relação entre credor e devedor, o credor possui diversas possibilidades para buscar a satisfação dos seus créditos. Ele pode, por exemplo, promover cobrança judicial por meio de uma ação de execução, uma ação monitória, assim como pode ajuizar uma ação de falência. Com essa ação, se decretada a falência, reconhecido estará o estado de insolvência do devedor (isto é, quando seu passivo supera o seu ativo e a sua capacidade de recuperar-se). Além disso, será encerrada a atividade da empresa e reunidos todos os seus ativos, que serão colocados a cargo de um administrador judicial nomeado que procederá a sua avaliação e venda. O produto dessa venda, ou seja, o montante obtido, será utilizado para pagamento de todos os credores do devedor falido e não apenas daquele que eventualmente tenha proposto a ação, conforme uma determinada ordem de preferência dos créditos (MAMEDE, 2019). 
Assim, de acordo com Ricardo Negrão (2018), a falência é um processo de execução coletiva, em que a integralidade do patrimônio de um empresário ou sociedade empresária declarados falidos é arrecadado (reunido), com o objetivo de pagar a universalidade de credores. 
Trata-se de um processo judicial bastante complexo que compreende a arrecadação dos bens, sua administração e conservação, assim como a verificação minuciosa dos créditos, para posterior liquidação (venda) dos bens e realização de rateio entre os credores, de acordo com a ordem de preferência estabelecida pela legislação, no art. 83 da Lei de falência (NEGRÃO, 2018). Ademais, há a previsão de diversos crimes que podem ser cometidos pelo devedor falido, de modo que a Lei nº 11.101/2005 prevê as respectivas hipóteses nas quais haverá punição. É, por conseguinte, um instituto do Direito Empresarial muito sério e que pode acarretar muitas consequências, inclusive penais (FILKELSTEIN, 2016).
Mas, quem pode ser autor de uma ação de falência, quem poderá ajuizá-la? 
A primeira hipótese é a da chamada autofalência, quando o próprio devedor confessa o estado de insolvência, percebendo a impossibilidade de pagar suas dívidas. Nos termos do art. 105 da Lei nº 11.101/2005: “O devedor em crise econômico-financeira que julgue não atender aos requisitos para pleitear sua recuperação judicial deverá requerer ao juízo sua falência, expondo as razões da impossibilidade de prosseguimento da atividade empresarial […]” (BRASIL, 2005).
Assim, somente é possível quando o devedor estiver em estado de crise econômico-financeira e não ser caso de recuperação judicial (pois se esta couber, pelo princípio da preservação da empresa, deve-se intentá-la antes da falência). 
Além da autofalência, a Lei 11.101/2005, prevê em seu art. 97:
Podem requerer a falência do devedor: I – o próprio devedor, na forma do disposto nos arts. 105 a 107 desta Lei; II – o cônjuge sobrevivente, qualquer herdeiro do devedor ou o inventariante; III – o cotista ou o acionista do devedor na forma da lei ou do ato constitutivo da sociedade; IV – qualquer credor. (BRASIL, 2005, [s.p.])
Assim, o pedido de falência (que é feito judicialmente) também pode resultar de manifestação por parte dos sócios ou acionistas da empresa. Pode ocorrer relativamente ao espólio de um empresário individual, cuja manifestação judicial partirá do cônjuge sobrevivente, do herdeiro ou até do inventariante. 
Por fim, como regra geral para a realização do pedido judicial de falência de uma empresa, qualquer credor poderá ajuizar a respectiva ação. No entanto, se este credor que vier a promover a ação de falência, for empresário, sociedade empresária ou EIRELI, somente poderá ajuizar a ação caso esteja devidamente registrado na Junta Comercial. 
Este requisito não se aplica para a autofalência – ainda que não haja registro (sociedade em comum e sociedade sem registro) é possível a autofalência. Caso o credor não tenha domicílio no Brasil, precisará prestar caução (garantia) para promover a ação de falência (isso serve para evitar desonestidade no momento do ajuizamento da falência, que, aliás, se no final do processo o juiz perceber que não é caso de falência, condenará o autor da ação ao pagamento de indenização contra o suposto devedor contra o qual se intentou o pedido falimentar). 
É interessante mencionar que a Fazenda Pública, caso tenha crédito tributário para receber, não poderá propor ação de falência contra o devedor, pois dispõe de mecanismos próprios para esta cobrança (CRUZ, 2018). 
E quem poderá ser réu da ação de falência? Poderão ser sujeitos passivos: o empresário individual, a sociedade empresária e a EIRELI. O art. 2º da Lei nº 11.101/2005 traz duas hipóteses de exclusão (não poderão sofrer ação falimentar). 
· No primeiro grupo, tem-se as figuras totalmente excluídas (em nenhuma hipótese sofrerão ação falimentar), que são: as empresas públicas e as sociedades de economia mista (entidades integradas por dinheiro público). 
· No segundo grupo, tem-se as figuras parcialmente excluídas, quais sejam: instituições financeiras, cooperativas de crédito, sociedades de capitalização, operadoras de consórcio, seguro, planos de saúde e previdência complementar – são parcialmente excluídas pois não é possível o ajuizamento de uma ação falimentar diretamente contra estas instituições, porém, como elas estão sujeitas à possibilidade de liquidação extrajudicial (regida pela Lei nº 6.024/1974), o liquidante (nomeado pelo Banco Central) é quem poderá, eventualmente, pedir a falência.
Além disso, em que local deverá ser proposta a ação de falência? Ela deverá ser proposta na Justiça Comum Estadual, no local do principal estabelecimento do devedor ou da filial da empresa que tenha sede fora do Brasil, de acordo com o art. 3º da Lei nº 11.101/2005.
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📝 Exemplificando
Imagine que determinado credor pretenda ajuizar ação de falência contra a empresa AXY, que possui sede no município de Resende, no Estado do Rio de Janeiro. O credor, no entanto, tem domicílio ou sede no município de Guaratinguetá, que fica no Estado de São Paulo. Em qual local esse credor poderá formular o pedido de falência da empresa AXY? Seria em Guaratinguetá-SP ou em Resende-RJ? A ação deverá ser proposta em Resende-RJ,

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