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Formas infinitas e maravilhosas Uma ave faminta precisaria olhar com muita atenção para detectar esta la-garta da mariposa Synchlora aerata, que se mistura bem com as flores sobre as quais ela se alimenta. O disfarce é melhorado pelo instinto da lagarta por “decoração” – ela cola pedaços de pétalas de flores no seu corpo, transfor- mando-se no seu próprio plano de fundo (Figura 22.1). Essa distinta lagarta é membro de um grupo diverso de mais de 120 mil espécies de insetos lepidópteros (mariposas e borboletas). Todos os lepidópte- ros passam por um estágio juvenil caracterizado por cabeça bem desenvolvida e várias peças bucais de mastigação: as eficientes e vorazes “máquinas de ali- mentação” que chamamos de lagartas. Quando adultos, todos os lepidópteros compartilham outras características, como três pares de pernas e dois pares de asas cobertas por pequenas escamas. Mas os vários lepidópteros também se diferenciam uns dos outros. Como pode haver tantas lagartas e borboletas diferentes e o que causa suas semelhanças e diferenças? A lagarta que se auto- decora e seus vários parentes muito próximos ilustram as observações-chave sobre a vida: d As maneiras espetaculares pelas quais os organismos se adaptam à vida no seu meio.1 d As várias características compartilhadas da vida. d A rica diversidade da vida. 1Aqui e ao longo deste texto, o termo meio refere-se a outros organismos, assim como aos aspectos f ísicos dos arredores de um organismo. Figura 22.1 Como esta lagarta se protege dos predadores? 22 Descendência com Modificação: Uma Visão Darwiniana da Vida C O N C E I T O S - C H A V E 22.1. A revolução darwiniana contestou visões tradicio- nais de uma Terra jovem habitada por espécies imutáveis 22.2. A descendência com modi- ficação por seleção natural explica as adaptações dos organismos, bem como a uniformidade e a diversida- de da vida 22.3. A evolução é sustenta- da por uma quantidade expressiva de evidências científicas BIOLOGIA DE CAMPBELL 463 Há mais de um século e meio, Charles Darwin desen- volveu uma explicação científica para essas três observa- ções. Quando publicou suas hipóteses no livro A origem das espécies, Darwin provocou uma revolução científica – a era da biologia evolutiva. Por ora, vamos definir evolução como descendência com modificação, expressão utilizada por Darwin ao pro- por que as várias espécies que vivem na Terra descendem de espécies ancestrais diferentes das espécies atuais. A evo- lução pode também ser definida, mais precisamente, como uma alteração na composição genética de uma população que ocorre de geração para geração (ver Capítulo 23). Também podemos encarar a evolução de duas ma- neiras diferentes, mas relacionadas: como padrão e como processo. O padrão de modificação evolutiva é revelado por dados oriundos de diferentes disciplinas científicas incluindo biologia, geologia, f ísica e química. Esses dados são fatos – observações do mundo natural. O processo da evolução consiste nos mecanismos que produzem o pa- drão de mudança observado. Esses mecanismos represen- tam causas naturais dos fenômenos naturais que observa- mos. Assim, o poder da evolução como teoria unificadora é a sua habilidade em explicar e conectar a vasta gama de observações do mundo vivo. Como todas as teorias gerais em ciência, continuamos a testar a nossa teoria da evolução, examinando se ela pode explicar tanto as novas observações como os resultados experimentais. Neste e nos capítulos seguintes, vamos exa- minar como descobertas em curso modelam a nossa visão atual do padrão e processo de evolução. Para começar, pri- meiro vamos refazer a busca de Darwin para explicar as adaptações, a uniformidade e a diversidade do que ele cha- mou de as “infinitas e maravilhosas formas de vida”. CONCEITO 22.1 A revolução darwiniana contestou visões tradicionais de uma Terra jovem habitada por espécies imutáveis O que levou Darwin a contestar as visões correntes de sua época sobre a Terra e seus seres vivos? Darwin desenvol- veu sua proposta revolucionária ao longo do tempo, in- fluenciado pelo trabalho de outros cientistas e por suas viagens (Figura 22.2). Como veremos, suas ideias também têm profundas raízes históricas. 1809 Lamarck publica suas hipóteses de evolução. 1798 Malthus publica “Ensaio sobre o princípio da população”. 1812 Cuvier publica seus extensivos estudos sobre fósseis de vertebrados. 1830 Lyell publica Princípios de geologia. 1858 Enquanto estudava espécies no arquipélago malaio, Wallace (mostrado acima em 1848) envia as suas hipóteses sobre a seleção natural para Darwin. 1859 O livro A origem das espécies é publicado.1844 Darwin escreve seu ensaio sobre descendência com modificação. 1795 Hutton propõe teoria do gradualismo. 1809 Nascimento de Charles Darwin. 1831–1836 Darwin viaja ao redor do mundo no HMS Beagle. 1790 1870 Iguana- -marinha nas Ilhas Galápagos. Esboço de um sapo-voador, por Wallace. Figura 22.2 Contexto histórico da vida e das ideias de Darwin. 464 REECE, URRY, CAIN, WASSERMAN, MINORSKY & JACKSON Scala naturae e a classificação das espécies Muito antes de Darwin nascer, vários filósofos gregos su- geriram que a vida poderia mudar gradualmente ao longo do tempo. Mas um filósofo de grande influência na jovem ciência ocidental, Aristóteles (384-322 a.C.), considerou as espécies como unidades fixas (incapazes de sofrer mudan- ças). Por meio de suas observações da natureza, Aristóteles reconheceu certas “afinidades” entre os organismos. Con- cluiu que as formas de vida poderiam ser organizadas em uma “escada” ou escala com aumento de complexidade, mais tarde chamada de scala naturae (escala da vida). Cada forma de vida, perfeita e permanente, tinha o seu determi- nado lugar nessa “escada”. Essas ideias coincidiram com o criacionismo, mencio- nado no Velho Testamento, que postula que as espécies foram individualmente desenhadas por Deus e, portanto, são perfeitas. No século XVIII, muitos cientistas interpre- taram a adaptação dos organismos aos ambientes como evidência de que o Criador desenhou cada espécie com uma finalidade. Um desses cientistas foi Carolus Linnaeus (1707-1778), f ísico e botânico sueco que procurou classificar a diversi- dade da vida, em suas palavras, “para a grande glória de Deus”. Linnaeus desenvolveu o sistema binomial de de- signar organismos de acordo com gênero e espécie (como Homo sapiens para humanos), o qual ainda é utilizado. Ao contrário da hierarquia linear observada na scala naturae, Linnaeus utilizou um sistema de classificação em grupos, reunindo espécies semelhantes em categorias gerais. Por exemplo, espécies semelhantes são agrupadas no mesmo gênero, gêneros semelhantes são reunidos na mesma famí- lia e assim por diante (ver Figura 1.12). Linnaeus não relacionou as semelhanças entre as es- pécies a um parentesco evolutivo, mas sim a seu padrão de criação. No entanto, um século mais tarde, Darwin argumentou que a classificação deveria ter como base as relações evolutivas. Também observou que cientistas que usavam o sistema lineano muitas vezes agrupavam os organismos de maneira que refletia essas relações. Ideias sobre mudança ao longo do tempo Entre outras fontes de informação, Darwin retirou mui- tas de suas ideias do trabalho de cientistas que estuda- vam fósseis, restos ou traços, de organismos do passado. Muitos fósseis são encontrados em rochas sedimentares formadas por areia e lama depositadas no fundo do mar, de lagos e de outros ambientes aquáticos (Figura 22.3). Novas camadas de sedimento cobrem as antigas camadas e as comprimem em camadas de rocha chamadas de estra- tos. Os fósseis de um determinado estrato fornecem pistas sobre organismos que povoavam a Terra quando aquela determinada camada foi formada. Mais tarde, o estrato su- perior (mais jovem) pode ser erodido, revelando um estra- to mais profundo (mais antigo) que estava enterrado. A paleontologia – o estudodos fósseis – foi am- plamente desenvolvida pelo cientista francês Georges Cuvier (1769-1832). Ao examinar estratos geológicos perto de Paris, Cuvier observou que quanto mais antigo o estrato, mais distintas eram as formas de vida em compa- ração aos organismos atuais. Ele também observou que espécies novas surgiam de uma camada para outra, ao passo que outras não eram mais encontradas. Então su- geriu que as extinções deveriam ser comuns na história da vida. No entanto, Cuvier se opôs firmemente à ideia de evolução. Cuvier especulou que cada limite entre os estratos representava um evento repentino catastrófico, como uma enchente, que destruiu muitas espécies que viviam naquela área. Ele propôs que essas regiões, mais tarde, eram repovoadas por espécies imigrantes diferen- tes de outras áreas. Em contraste, outros cientistas sugeriram que mu- danças profundas poderiam ocorrer por conta do efeito cumulativo de um processo lento, mas contínuo. Em 1795, o geólogo escocês James Hutton (1726-1797) sugeriu que as características geológicas da Terra poderiam ser expli- cadas por um mecanismo gradual, como os vales formados por rios. Charles Lyell (1797-1875), o principal geólogo da época de Darwin, incorporou o pensamento de Hutton no seu princípio que postulava que os mesmos processos geológicos operam no mesmo ritmo tanto hoje quanto no passado. As ideias de Hutton e Lyell influenciaram fortemen- te o pensamento de Darwin. Darwin concordou que, se as mudanças geológicas resultam de ações lentas, mas contí- nuas, e não de eventos repentinos, a Terra deveria ser mui- to mais antiga do que a idade amplamente aceita de alguns milhares de anos. Um exemplo disso seria o tempo gasto por um rio para formar um cânion por erosão. Mais tarde, ele sugeriu que talvez processos lentos e sutis pudessem também produzir mudanças biológicas substanciais. No entanto, Darwin não foi o primeiro a aplicar a ideia de mu- dança gradual à evolução biológica. Estrato velho com fósseis antigos Estrato jovem com fósseis recentes 1 Rios carregam sedimento para o mar e banhados. Ao longo do tempo, camadas de rochas sedimentares (estratos) se formam debaixo da água. Alguns desses estratos possuem fósseis. 2 À medida que o nível de água muda e o mar desce, os estratos e seus fósseis são expostos. Figura 22.3 Formação de estrato sedimentar com fósseis. BIOLOGIA DE CAMPBELL 465 A hipótese evolutiva de Lamarck Durante o século XVIII, alguns naturalistas sugeriram que a vida evoluía à medida que os ambientes mudavam. Mas somente um propôs um mecanismo para como a vida muda ao longo do tempo: o biólogo francês Jean-Baptiste de Lamarck (1744-1829). Infelizmente, Lamarck é lem- brado hoje não por sua visão pioneira de que mudanças evolutivas explicam padrões em fósseis e a adaptação dos organismos a seus ambientes, mas pelo mecanismo incor- reto que ele propôs. Lamarck publicou sua hipótese em 1809, o ano em que Darwin nasceu. Comparando espécies vivas com fósseis, descobriu o que pareciam ser linhas de descendência, cada linha representada por uma série de fósseis antigos e re- centes que levariam à espécie atual. Lamarck explicou a sua descoberta utilizando dois princípios que eram bastante aceitos na época. O primeiro foi o princípio do uso e desu- so. Esse princípio postulava que partes do corpo utilizadas extensivamente se tornam maiores e mais fortes, e aquelas que não são usadas acabam atrofiando. Como exemplo ele citou a girafa esticando o seu pescoço para alcançar folhas nos ramos mais altos das árvores. O segundo princípio foi o da herança de características adquiridas que defendia que um organismo poderia passar essas modificações à prole. Lamarck explicou que o pescoço musculoso e longo da girafa teria evoluído ao longo de várias gerações desses animais que esticavam seu pescoço cada vez mais. Lamarck também pensou que a evolução acontecia porque os organismos tinham força inata para se tornarem mais complexos. Darwin rejeitou essa ideia, mas também acreditou que variações poderiam ser introduzidas no pro- cesso evolutivo por meio da herança de características adquiridas. Atual- mente, nosso conhecimento de genética refuta esse mecanismo: experimentos mostram que as características adquiridas pelo uso durante a vida do indi- víduo não são herdadas do modo proposto por Lamarck (Figura 22.4). Lamarck foi muito criticado por suas ideias, especial- mente por Cuvier, que negava que as espécies poderiam evoluir. Lamarck, no entanto, reconheceu que a corres- pondência entre organismos e meio ambiente pode ser ex- plicada por mudanças evolutivas graduais e, também, por propor mecanismos para testar essas mudanças. REVISÃO DO CONCEITO 22.1 1. Como as ideias de Hutton e Lyell influenciaram o pensamen- to de Darwin sobre evolução? 2. FAÇA CONEXÕES Uma hipótese científica deve ser tes- tável (ver Conceito 1.3). Aplicando esse critério, as expli- cações de Cuvier sobre o registro fóssil e as hipóteses de Lamarck sobre evolução são científicas? Explique a sua res- posta para cada caso. Ver respostas sugeridas no Apêndice A. CONCEITO 22.2 A descendência com modificação por seleção natural explica as adaptações dos organismos, bem como a uniformidade e a diversidade da vida No início do século XIX, acreditava-se que as espécies não sofriam modificações desde a sua criação. No entanto, algu- mas dúvidas sobre essa condição imutável das espécies esta- vam aparecendo, mas ninguém poderia prever a tempestade que se formaria no horizonte. Como Charles Darwin acen- deu o estopim para uma visão revolucionária da vida? A pesquisa de Darwin Charles Darwin (1809-1882) nasceu em Shrewsbury, no Oeste da Inglaterra. Desde menino, apresentou grande in- teresse pela natureza. Quando não estava lendo livros so- bre natureza, estava pescando, caçando, andando a cavalo ou colecionando insetos. O pai de Darwin, que era médi- co, não conseguia ver grande futuro para o seu filho como naturalista, então o matriculou na Faculdade de Medici- na de Edimburgo. No entanto, Charles achava a medicina entediante, e a cirurgia, antes do surgimento da anestesia, horripilante. Ele abandonou os estudos de medicina e en- trou na Universidade de Cambridge com a intenção de ser tornar um clérigo (naquela época, na Inglaterra muitos cientistas pertenciam à Igreja). Em Cambridge, Darwin se tornou um protegido do re- verendo John Henslow, professor de botânica. Logo após a formatura de Darwin, Henslow recomendou-o ao capitão Robert FitzRoy, que preparava o barco de pesquisa HMS Beagle para uma longa viagem ao redor do mundo. Darwin pagaria as suas despesas e faria companhia ao jovem capi- tão. FitzRoy aceitou Darwin por sua escolaridade e tam- bém por serem de mesma classe social e quase da mesma idade. Figura 22.4 Características adquiridas não podem ser herdadas. Este bonsai foi “treinado” por meio da poda para não crescer. No entanto, sementes desta árvore produzem prole de ta- manho normal. 466 REECE, URRY, CAIN, WASSERMAN, MINORSKY & JACKSON A viagem do Beagle Darwin embarcou no Beagle na Inglaterra em dezembro de 1831. A missão inicial era catalogar trechos pouco co- nhecidos da costa da América do Sul. Darwin passou a maior parte do tempo em terra observando e coletando milhares de animais e plantas sul-americanos. Ele obser- vou características que tornavam esses animais e plantas adaptados a diversos ambientes, como as florestas úmidas do Brasil, os pampas da Argentina e as montanhas dos Andes. Darwin também observou que as plantas e ani- mais de regiões temperadas da América do Sul eram mais parecidos com espécies do mesmo continente que vivem nos trópicos do que com espécies de regiões temperadas da Europa. Além disso, os fósseis que ele encontrou, em- bora diferentes das espécies existentes, eram caracteristi- camente sul-americanos, parecidos com as espécies exis- tentes no continente. Darwin também dedicou muito tempo daviagem es- tudando sobre geologia. Apesar das crises de enjoo, ele leu Princípios de geologia, de autoria de Lyell, a bordo do Beagle. Ele acompanhou de perto as mudanças geo- lógicas causadas por um terremoto na costa do Chile, presenciando também que as rochas ao longo da costa tinham sido movidas vários metros para cima. Ao encon- trar fósseis de organismos marinhos nas montanhas dos Andes, Darwin sugeriu que rochas contendo esses fósseis deveriam ter chegado ao topo das montanhas por meio de uma série de terremotos similares ao que ele presen- ciou. Essas observações reforçaram o que ele havia lido no livro de Lyell, que a evidência f ísica não apoia a visão tradicional de uma Terra estática e com apenas alguns milhares de anos. O interesse de Darwin por espécies ou fósseis encon- trados em uma área foi estimulado pela parada do Beagle nas Ilhas Galápagos, arquipélago vulcânico, localizado perto do Equador (Figura 22.5). Darwin ficou fascina- do pelos estranhos organismos que habitavam as ilhas. Os pássaros coletados incluíam vários tipos de tordos que, embora semelhantes, pareciam pertencer a espécies dife- rentes. Alguns eram endêmicos de uma ilha, e outros eram encontrados em ilhas adjacentes. Além disso, embora os animais de Galápagos fossem parecidos com algumas es- pécies existentes no continente sul-americano, a maioria não tinha sido registrada em nenhum outro lugar do mun- do. Darwin, então, sugeriu que Galápagos teria sido colo- nizada por organismos que saíram do continente sul-ame- ricano, diversificaram-se e deram origem a novas espécies habitantes das várias ilhas. O foco de Darwin na adaptação Durante a viagem no Beagle, Darwin observou muitos exemplos de adaptações, características dos organis- mos que aumentam a sua capacidade de sobrevivên- cia e reprodução em ambientes específicos. Mais tarde, à medida que revisou as suas observações, ele passou a perceber que as adaptações ao ambiente e a origem de novas espécies são processos fortemente relacionados. Era possível uma nova espécie se originar de uma forma ancestral por acúmulo gradual de adaptações a diferentes ambientes? Por meio de estudos desenvolvidos anos após a viagem de Darwin, biólogos concluíram que foi exata- mente isso que ocorreu ao grupo de tentilhões de Galápa- gos (ver Figura 1.20). Os vários bicos e comportamentos dos tentilhões são adaptações aos alimentos específicos disponíveis nas ilhas que eles habitam (Figura 22.6). Darwin entendeu que a explicação para essas adaptações era essencial para a compreensão da evolução. Suas expli- cações de como essas adaptações surgiram estão centra- lizadas no conceito de seleção natural, processo no qual indivíduos com certas características herdadas tendem OCEANO PACÍFICOPinta Genovesa As Ilhas Galápagos EquadorMarchena Fernandina Pinzon Santa Fé São Cristóvão Florenza Isabela Santa Cruz Ilhas Daphne Santiago Espanhola 0 4020 Quilômetros OCEANO ATLÂNTICO OCEANO PACÍFICO AMÉRICA DO NORTE Darwin em 1840, após o retorno da viagem. AMÉRICA DO SUL Grã- -Bretanha A nd es Cabo Horn Cabo da Boa Esperança Brasil Argentina Chile Equador Arquipélago malaio ÁFRICA EUROPA HMS Beagle no porto. Tasmânia AUSTRÁLIA Nova Zelândia OCEANO PACÍFICO Figura 22.5 A viagem do HMS Beagle (dezembro de 1831 a outubro de 1836). BIOLOGIA DE CAMPBELL 467 a sobreviver e se reproduzir mais do que indivíduos por causa dessas características. No início da década de 1840, Darwin já tinha detalha- do os principais aspectos de sua hipótese. Ele organizou todas as suas ideias em 1844, quando escreveu um longo artigo sobre descendência com modificação e o seu prin- cipal mecanismo, a seleção natural. No entanto, estava receoso de publicar as suas ideias, aparentemente porque previa o tumulto que elas causariam. À medida que adiava a publicação do seu artigo, ele continuava a agregar evi- dências que sustentariam a sua hipótese. Pela metade da década de 1850, Darwin descreveu suas ideias a Lyell e a alguns outros cientistas. Lyell, apesar de não estar conven- cido da existência de evolução, sugeriu que Darwin publi- casse as suas ideias antes que alguém chegasse às mesmas conclusões e as publicasse primeiro. Em junho de 1858, as previsões de Lyell se tornaram realidade. Darwin recebeu um manuscrito de Alfred Rus- sel Wallace (1823-1913), naturalista inglês que estava tra- balhando nas ilhas do Pacífico Sul do arquipélago malaio (ver Figura 22.2). Wallace havia desenvolvido uma hipóte- se de seleção natural semelhante a de Darwin. Ele pediu a Darwin para avaliar o seu artigo e também para enviá-lo a Lyell se merecesse ser publicado. Darwin concordou e escreveu para Lyell dizendo: “Você tinha razão... Nunca vi uma coincidência tão grande... toda a minha originalidade, qualquer que fosse, foi destruída”. Lyell e um colega apre- sentaram o artigo de Wallace junto com trechos do artigo de Darwin, não publicado e escrito em 1844, à Linnean Society of London em 1o de julho de 1858. Darwin rapi- damente terminou o seu livro com o título de Sobre a ori- gem das espécies por meio da seleção natural (amplamente conhecido como A origem das espécies) e publicou-o no ano seguinte. Embora Wallace tivesse publicado as suas ideias antes de Darwin, ele o admirava e achava que, como Darwin havia desenvolvido a ideia de seleção natural, ele deveria ser conhecido como seu principal descobridor. Em aproximadamente uma década, o livro de Darwin com suas hipóteses tinha convencido a maioria dos bió- logos de que a diversidade da vida é um produto da evo- lução. Darwin obteve sucesso onde outros evolucionistas não conseguiram, principalmente porque apresentou um mecanismo científico plausível com lógica perfeita e uma avalanche de evidências. A origem das espécies No seu livro, Darwin acumulou evidências de que três observações amplas sobre a natureza – a uniformidade e a diversidade da vida e a correspondência entre os organis- mos e seu hábitat – resultaram de descendentes com mo- dificação pela seleção natural. Descendência com modificação Na primeira edição de A origem das espécies, Darwin nun- ca utilizou a palavra evolução (embora a palavra final do livro seja “evoluiu”). Ao contrário, ele discutiu a descen- dência com modificação, a expressão que resume a sua percepção da vida. Os organismos compartilham várias características, levando Darwin a perceber a uniformidade na vida. Ele atribuiu a uniformidade da vida à descendên- cia de todos os organismos de um ancestral comum que viveu em um passado distante. Também considerou que, como os descendentes desse organismo ancestral viveram em vários hábitats, eles teriam acumulado diversas mu- danças, ou adaptações, que os adaptaria a modos de vida específicos. Darwin sugeriu que durante longos períodos, a descendência com modificação levaria a uma rica diver- sidade de vida que se observa atualmente. Darwin vislumbrou a história da vida como uma árvore, com muitos ramos que saíam de um tronco co- mum para as pontas de novos galhos (Figura 22.7). Neste diagrama, as pontas dos galhos, marcados de A-D, repre- sentariam vários grupos de organismos atuais, enquanto os galhos não marcados representam os grupos extintos. (a) Dieta de cactos. O bico longo e afiado do tentilhão dos cactos (Geospiza scandens) ajuda a ave a rasgar e comer as flores e a polpa dos cactos. (b) Dieta de insetos. O tentilhão verde canoro (Certhidea olivacea) utiliza o seu bico pontudo para se alimentar de insetos. (c) Dieta de sementes. O tentilhão grande do solo dos Galápagos (Geospiza magnirostris) tem bico grande adaptado para quebrar sementes que caem das plantas. Figura 22.6 Três exemplos da variação no bico dos ten- tilhões de Galápagos. As ilhas Galápagos abrigam mais de 12 espécies de tentilhões relacionadas entre si, presentes, às vezes, em apenas uma ilha. As diferenças mais marcantes entre eles são os bicos adaptados a dietas específicas. FAÇA CONEXÕESRevise a Figura 1.20. A qual das outras duas espécies mostradas acima o tentilhão comedor de cactos está mais relacionado (ou seja, com qual deles o comedor de cactos comparti- lha um ancestral recente mais comum)? 468 REECE, URRY, CAIN, WASSERMAN, MINORSKY & JACKSON Cada bifurcação da árvore representaria um ancestral de todas as linhas evolutivas que posteriormente se ramifi- cariam nesse ponto. Darwin postulou que esses processos de ramificação, junto com eventos de extinção do passado, poderiam explicar as grandes lacunas morfológicas que, às vezes, existem entre grupos relacionados de organismos. Como exemplo, consideramos as três espécies de elefantes atuais: o elefante asiático (Elephas maximus) e duas espécies de elefantes africanos (Loxodonta africana e L. cyclotis). Essas espécies relacionadas entre si são muito semelhantes, pois compartilham a mesma linha de descen- dência até a recente separação do ancestral comum, como mostrado no diagrama de árvore na Figura 22.8. Observe que sete linhagens relacionadas aos elefantes foram ex- tintas nos últimos 30 milhões de anos. Desse modo, não existem espécies vivas que completem essa lacuna entre os elefantes e os parentes mais próximos, os peixes-boi e os híraces. Essas extinções não são incomuns. De fato, muitos ramos da evolução, mesmo os maiores, são casos extintos: os cientistas estimam que mais de 99% de todas as espécies que já existiram estão hoje desaparecidas. Como mostrado na Figura 22.8, os fósseis das espécies extintas podem do- cumentar a divergência dos grupos atuais “preenchendo” as lacunas entre eles. Seleção artificial, seleção natural e adaptação Darwin propôs o mecanismo de seleção natural para expli- car os padrões observáveis de evolução. Ele construiu seu argumento cuidadosamente, de modo a persuadir o leitor mais cético. Primeiro, discutiu exemplos conhecidos de cruzamento seletivo de plantas e animais domesticados. Os humanos têm modificado outras espécies ao longo de gerações por meio da seleção e do cruzamento de indiví- duos com características desejadas – processo chamado de seleção artificial (Figura 22.9). Como resultado da seleção artificial, plantas cultivadas e animais de rebanho ou estimação apresentam pouca semelhança com os seus ancestrais selvagens. 3460 24 Milhões de anos atrás Anos atrás 5,5 2 104 0 †Barytherium †Mamute †Stegodon †Platybelodon †Mammuthus †Deinotherium †Moeritherium Elephas maximus (Ásia) Loxodonta africana (África) Loxodonta cyclotis (África) Hyracoidea (híraces) Sirenia (peixes-boi e parentes) Figura 22.8 Descendência com modificação. Esta árvore evolutiva dos elefantes e seus parentes baseia-se principalmente em fósseis – sua anatomia, ordem de surgimento nos estratos e dis- tribuição geográfica. Observe que a maioria dos ramos de descen- dentes termina em extinção (marcado pelo símbolo de adaga †). (A linha do tempo não está em escala.) ? Com base na árvore apresentada, aproximadamente quanto viveu o mais recente ancestral compartilhado por mamutes (Mammuthus), elefantes asiáticos e elefantes africanos? Figura 22.7 “Eu penso...”. Neste esquema de 1837, Darwin previu o padrão de ramificação da evolução. Ramifi- cações que terminam em galhos marcados com A-D representam determinados grupos de organismos vivos; todas as outras ramifica- ções representam grupos extintos. BIOLOGIA DE CAMPBELL 469 Darwin então descreveu que um processo similar ocorre na natureza. Ele usou como base para seu argumen- to duas observações, das quais fez duas inferências: Observação #1: Membros de uma população ge- ralmente variam em suas características herdadas (Figura 22.10). Observação #2: Todas as espécies são capazes de produzir uma prole maior do que o ambien- te pode suportar (Figura 22.11) e vários desses descendentes não conseguem sobreviver e se re- produzir. Inferência #1: Indivíduos que herdaram caracte- rísticas, que conferem maior probabilidade de sobrevivência e reprodução em certo ambiente, tendem a deixar mais descendentes do que outros indivíduos. Inferência #2: Essa diferença na habilidade dos indivíduos em sobreviver e reproduzir levará ao acúmulo de características favoráveis na popula- ção ao longo de gerações. Como essas duas inferências sugerem, Darwin ob- servou uma importante relação entre a seleção natural e a capacidade dos organismos “produzirem” muitos des- cendentes. Ele começou a fazer essa conexão após ler o artigo do economista Thomas Malthus que sugeria que a maior parte do sofrimento da humanidade – doença, fome e guerra – seria consequência do potencial de cres- cimento da população humana mais rápido do que o alimento ou outros recursos. De forma similar, Darwin entendeu que a capacidade de gerar muitos descenden- tes era característica de todas as espécies. Somente uma pequena porção dos ovos postos, dos filhotes nascidos Brócolis Couve-rábanoMostarda selvagemCouve-flor Repolho Seleção do broto apical (ponta) Seleção da inflorescência e caule Seleção dos brotos laterais Seleção dos caulesSeleção das folhas Couve-de- -bruxelas Figura 22.9 Seleção artificial. Estes vegetais foram selecionados de uma espécie selvagem de mostarda do campo. Com a seleção de diferentes par- tes da planta, melhoristas obtiveram estes resultados divergentes. Figura 22.10 Variação em uma população. Os indivíduos nesta população de joaninhas variam em cor e padrão de pintas. A seleção natural atua nessa variação apenas se (1) forem herdáveis e (2) afetarem a habilidade das joaninhas em sobreviver e se reproduzir. Figura 22.11 Su- perprodução de prole. Um único esporângio de fungo pode produzir bi- lhões de esporos. Se to- dos esses esporos e seus descendentes sobrevives- sem até a maturidade, cobririam toda a superfí- cie ao redor da Terra. Nuvem de esporos e das sementes dispersas completam o seu desenvolvi- mento e deixam os seus próprios descendentes. O res- tante não reproduz devido a predadores, fome, doença ou a condições f ísicas do ambiente, como salinidade ou temperatura. As características de um organismo podem influen- ciar não somente o seu próprio desempenho, mas tam- bém o quanto a sua prole conseguirá lidar com condições adversas do ambiente. Por exemplo, um organismo deve possuir características que confiram à sua prole vantagem para escapar de predadores, em obter alimentos e tolerar condições f ísicas do ambiente. Quando essas vantagens aumentam o número de descendentes que sobrevivem e se reproduzem, as características favoráveis provavelmen- te irão aparecer em frequência alta na próxima geração. Assim, ao longo do tempo, a seleção natural ligada a fa- tores como predação, ausência de alimento ou condições f ísicas adversas pode aumentar a proporção de caracterís- ticas favoráveis na população. Com que rapidez essas mudanças ocorrem? Darwin sugeriu que, se a seleção artificial pode gerar grandes mu- danças em um período relativamente curto, então a sele- ção natural deveria ser capaz de promover modificações substanciais nas espécies ao longo de várias centenas de gerações. Mesmo se as vantagens de uma característica herdada sobre outra forem pequenas, as variações vanta- josas irão acumular gradualmente na população, e as va- riações menos favoráveis diminuirão. Ao longo do tempo, esse processo irá aumentar a frequência de indivíduos com adaptações favoráveis e assim aperfeiçoar a relação do or- ganismo com o seu ambiente. Seleção natural: um resumo Vamos agora recapitular as ideias principais da seleção natural: d A seleção natural é um processo em que os indivíduos com certa característica herdada sobrevivem e se re- produzem em uma taxa maior em comparação com outros indivíduos, devido a essas características. d Ao longo do tempo, a seleção natural pode melhorar a re- lação do organismo com o seu ambiente (Figura 22.12). d Se o ambiente se modifica, ou se os indivíduos mudam para um novo ambiente, a seleção natural talvezleve à adaptação dos organismos a essas novas condições, podendo originar novas espécies. Um ponto importante, mas sutil, é que embora a sele- ção natural ocorra por meio de interações entre organis- mos individuais e seu ambiente, os indivíduos não evoluem. É a população que evolui ao longo do tempo. Um segundo ponto importante é que a seleção na- tural pode aumentar ou diminuir apenas aquelas ca- racterísticas herdáveis que diferem entre os indivíduos em uma população. Dessa forma, mesmo que uma ca- racterística seja herdável, se todos os indivíduos em uma população forem geneticamente idênticos para aquela característica, a evolução por seleção natural não pode ocorrer. Em terceiro lugar, relembre que fatores ambientais variam geograficamente ao longo do tempo. Uma caracte- rística favorável em certo espaço e tempo talvez não seja importante – ou até mesmo seja deletéria – em outros momentos e locais. A seleção natural está sempre agindo, mas as características favoráveis dependem do contexto ambiental. A seguir, vamos explorar as observações que susten- taram a visão darwiniana de evolução por meio de seleção natural. REVISÃO DO CONCEITO 22.2 1. Como o conceito de descendência com modificação explica a uniformidade e a diversidade da vida? 2. E SE.. .? Se você descobrisse um fóssil de mamífero extin- to que viveu nos Andes, diria que ele se parece mais com os atuais mamíferos das florestas sul-americanas ou com aqueles das montanhas africanas? Explique. 3. FAÇA CONEXÕES Reveja a relação entre genótipo e fenó- tipo (ver Figuras 14.4 e 14.6). Suponha que, em determi- nada população de ervilhas, as flores com fenótipo para cor branca são favorecidas pela seleção natural. Prediga o que aconteceria, ao longo do tempo, com a frequência do alelo p na população e explique seu raciocínio. Ver respostas sugeridas no Apêndice A. c Forma de uma flor na Malásia c Forma de folha em Bornéu b Forma de bicho-pau na África do Sul Figura 22.12 Camuflagem como exemplo de adaptação evolutiva. Espécies relacionadas de insetos da ordem Mantodea (louva-a-deus) apresentam cores e formas diversas evoluídas em am- bientes distintos. ? Explique como estes louva-a-deus demonstram as três observa- ções-chave sobre a vida introduzidas no início do capítulo: a com- binação entre organismo e seu ambiente, unidade e diversidade. BIOLOGIA DE CAMPBELL 471 CONCEITO 22.3 A evolução é sustentada por uma quantidade expressiva de evidências científicas No livro A origem das espécies, Darwin mostrou várias evidências que sustentavam o conceito de descendência com modificação. No entanto, como ele mesmo conside- rou, existem casos em que faltam evidências. Por exemplo, Darwin se referiu à origem das plantas com flores como “um mistério abominável” e lamentou a ausência de fósseis que mostrasse de que modo grupos de organismos deram origem a novos grupos. Nos últimos 150 anos, novas descobertas têm com- pletado várias lacunas identificadas por Darwin. A origem das plantas com flores, por exemplo, é mais bem com- preendida (ver Capítulo 30), e muitos fósseis indicando a origem de novos grupos de organismos foram descobertos (ver Capítulo 25). Nesta seção, consideramos quatro tipos de dados que documentam o padrão de evolução e ilumi- nam seu processo: observações diretas da evolução, homo- logia, registro fóssil e biogeografia. Observações diretas de mudança evolutiva Biólogos têm documentado mudanças evolutivas em milha- res de estudos científicos. Vamos examinar alguns desses es- tudos ao longo desta unidade, começando por dois exemplos. Seleção natural em resposta a espécies introduzidas Animais que se alimentam de plantas, chamados de her- bívoros, muitas vezes se adaptam para que se alimentem com mais eficácia a partir de fontes primárias de alimento. O que ocorre quando os herbívoros trocam para uma nova fonte de alimento com características diferentes? Uma oportunidade para estudar essa questão na natu- reza é observada nos percevejos-do-saboeiro, que utilizam seu “bico”, um aparelho bucal oco em forma de agulha, para se alimentar de sementes localizadas dentro das frutas de várias plantas, inclusive do saboeiro (Sapindus sapinaria). No sul da Flórida, o percevejo-do-saboeiro (Jadera hae- matoloma) se alimenta de sementes de uma planta nativa da família das sapindáceas, o balãozinho (Cardiospermum corindum). Entretanto, na Flórida Central, o balãozinho se tornou raro. Com isso, nessa região agora esses percevejos se alimentam das sementes da árvore-da-chuva-dourada (Koelreuteria elegans), espécie recém-introduzida da Ásia. Os percevejos-do-saboeiro se alimentam de forma mais eficaz quando o comprimento do seu bico alcança o local onde as sementes se encontram dentro da fruta. A fruta da árvore-da-chuva-dourada consiste em três ló- bulos chatos, e suas sementes estão bem mais próximas à superf ície da fruta do que as sementes das frutas redondas e rechonchudas do balãozinho nativo. Essas diferenças le- varam os pesquisadores a predizer que em populações que se alimentam na árvore-da-chuva-dourada, a seleção natu- ral resultaria em bicos mais curtos do que aqueles em po- pulações que se alimentam do balãozinho (Figura 22.13). Figura 22.13 Pesquisa A alteração da fonte de alimento pode resultar na evolução por seleção natural? Estudo de campo Os perce- vejos-do-saboeiro se alimentam com mais eficiência quando o comprimento do seu “bico” é quase o mesmo da profundi- dade das sementes dentro da fruta. Scott Carrol e colaborado- res mediram o comprimento do bico nas populações do perceve- jo-do-saboeiro que se alimenta- vam de balãozinho nativo. Eles também mediram o comprimen- to dos bicos nas populações que se alimentam na árvore-da-chu- va-dourada introduzida. Os pes- quisadores então compararam as medidas com as de espécimes em museus coletadas nas duas áreas antes da introdução da árvore-da-chuva-dourada. Percevejo-do-saboeiro com o bico inserido na fruta do botãozinho nativo Resultados Os comprimentos dos bicos são mais curtos nas po- pulações que se alimentam das espécies introduzidas do que nas populações que se alimentam de espécies nativas, nas quais as se- mentes estão localizadas mais profundamente. A média do com- primento dos bicos nos espécimes de museu de cada população (indicada pelas setas vermelhas) era similar ao comprimento dos bicos nas populações que se alimentam das espécies nativas. N úm er o de in di ví du os 10 Em espécies nativas, balãozinho nativo (sul da Flórida) Bico 8 6 4 0 2 10 Nas espécies introduzidas, árvore-da-chuva-dourada (Flórida Central) Média para espécimes de museu 8 6 4 0 2 6 7 8 9 Comprimento do bico (mm) 10 11 Conclusão Os espécimes de museu e dados atuais sugerem que a alteração no tamanho da fonte de alimento do percevejo- -do-saboeiro pode resultar na evolução por seleção natural para adaptação do tamanho do bico. Fonte: S.P. Carroll e C. Boyd, Host race radiation in the soapberry bug: natural history with the history, Evolution 46:1052-1069 (1992). E SE. . .? Dados de estudos adicionais mostraram que quan- do ovos do percevejo-do-saboeiro de uma população alimentada no balãozinho nativo eram criados em frutas da árvore-da-chuva- -dourada (ou vice-versa), o comprimento dos bicos do inseto adulto combinava com aquele da população da qual os ovos eram obtidos. Interprete os resultados. 472 REECE, URRY, CAIN, WASSERMAN, MINORSKY & JACKSON De fato, o comprimento dos bicos é mais curto nas popula- ções que se alimentam na árvore-da-chuva-dourada. Pesquisadores também estudaram a evolução do comprimento dos bicos nas populações dos percevejos- -do-saboeiro que se alimentam de plantas introduzidas na Louisiana, Oklahoma e Austrália. Em todos esses locais, a fruta da planta introduzida é maior do que a fruta da plan- ta nativa. Dessa forma, em populações que se alimentam das espécies introduzidas nessas regiões, foi predito pelos pesquisadoresque a seleção natural resultaria na evolução de um comprimento de bico mais longo. As alterações observadas nos comprimentos dos bicos têm consequências importantes. Na Austrália, por exem- plo, o aumento do comprimento do bico praticamente dobrou a forma com a qual os percevejos-do-saboeiro po- diam se alimentar das sementes das espécies introduzidas. Além disso, uma vez que dados históricos mostram que a árvore-da-chuva-dourada chegou à Flórida Central a ape- nas 35 anos antes dos estudos científicos terem iniciado, os resultados demonstram que a seleção natural pode levar à rápida evolução em uma população selvagem. A evolução de bactérias resistentes a medicamentos Um exemplo da seleção natural em curso que afeta nossas vidas é a evolução de patógenos (vírus e outros organismos causadores de doenças) resistentes a medicamentos. Esse é um problema particular que ocorre com bactérias e vírus, pois cepas resistentes desses patógenos podem se reprodu- zir de forma acelerada. Considere a evolução da resistência a medicamentos na bactéria Staphylococcus aureus. Uma em cada três pessoas carrega essa espécie na sua pele ou nas suas passagens nasais sem efeitos negativos. Entretanto, certas variedades genéti- cas (cepas) dessa espécie, conhecidas como S. aureus resis- tente à meticilina (MRSA), são patógenos admiráveis. A úl- tima década observou um aumento alarmante nas formas virulentas de MRSA como o clone USA300, uma cepa que pode causar a “doença comedora de carne” e infecções po- tencialmente fatais (Figura 22.14). Como o clone USA300 e outras cepas de MRSA se tornaram tão perigosas? A história inicia em 1943, quando a penicilina se tor- nou o primeiro antibiótico amplamente utilizado. Desde então, a penicilina e outros antibióticos têm salvo milhões de vidas. Entretanto, em 1945, mais de 20% da cepa de S. aureus observadas nos hospitais já eram resistentes à pe- nicilina. Essas bactérias tinham uma enzima, a penicilina- se, que podia destruir a penicilina. Os pesquisadores então desenvolveram antibióticos que não eram destruídos pela penicilinase, mas algumas populações de S. aureus desen- volviam resistência a cada novo fármaco em poucos anos. Então, em 1959, os médicos começaram a usar o po- deroso antibiótico meticilina, mas em dois anos começa- ram a aparecer cepas de S. aureus resistentes à meticilina. Como essas cepas resistentes surgiram? A meticilina atua desativando a proteína que a bactéria utiliza para sinteti- zar sua parede celular. Entretanto, diferentes populações de S. aureus apresentaram variações na intensidade na qual seus membros são afetados pelo medicamento. Em particular, alguns indivíduos são capazes de sintetizar sua parede celular usando uma proteína diferente que não foi afetada pela meticilina. Esses indivíduos sobreviveram aos tratamentos com meticilina e se reproduziram em taxas mais altas do que outros indivíduos. Com o tempo, esses indivíduos resistentes tornaram-se cada vez mais comuns, levando à disseminação dos MRSA. C as os a nu ai s co m M RS A em h os pi ta is (m ilh ar es ) 0 300 250 400 350 200 50 100 150 ‘99‘93 ‘94 ‘95 ‘96 ‘97 ‘98 Ano ‘00 ‘01 ‘02 ‘03 ‘04 ‘05 (b) Infecções por MRSA, graves o suficiente para resultar em admissões hospitalares, aumentaram muito nas últimas décadas. 2.500.000 2.750.000 2.250.000 2.000.000 1.750.000 1.500.000 1.250.000 1.000.000 750.000 500.000 250.000 pares de base Mapa cromossômico do clone USA300 de S. aureus 1 Resistência a meticilina Habilidade em colonizar hospedeiros Gravidade da doença aumentada Troca gênica e produção de toxinas aumentadas (dentro da espécie) Legenda para adaptações O cromossomo circular do clone USA300 foi sequenciado e contém 2.872.769 pares de base de DNA. Regiões destacadas em cores diferentes do azul contêm genes que aumentam a virulência da cepa (ver legenda). (a) A maioria das infecções por MRSA é causada por cepas que surgiram recentemente, como o clone USA300. Resistente a múltiplos antibióticos e muito contagiosa, esta cepa e seus parentes mais próximos podem causar infecções letais da pele, pulmões e sangue. Como mostrado aqui, os pesquisadores identificaram áreas-chave no genoma do USA300 que codificam adaptações que causam suas propriedades virulentas. Figura 22.14 O aumento da resistência de Staphylococcus aureus à meticilina (MRSA). E SE. . .? Alguns medicamentos que estão sendo desenvolvidos têm como alvo específico o S. aureus e o matam; outros diminuem o crescimento de MRSA, mas não o matam. Com base em como a seleção natural trabalha e no fato de que as espécies bacterianas podem trocar genes, explique por que cada uma dessas estratégias pode ser eficaz. BIOLOGIA DE CAMPBELL 473 Inicialmente, os MRSA podiam ser controlados por antibióticos que agiam de forma diferente da meticilina. Mas isso se tornou menos eficaz, pois algumas cepas de MRSA são resistentes a múltiplos antibióti- cos, provavelmente porque a bactéria pode trocar genes com membros de sua própria espécie ou com outras. Assim, as cepas de hoje, com resistência a múltiplos fármacos podem ter surgido com o tempo, à medida que cepas MRSA resistentes a diferentes an- tibióticos foram trocando genes. Os exemplos do S. aureas e do perceve- jo-do-saboeiro destacam dois pontos-chave sobre a seleção natural. Primeiro, a seleção natural é um processo de adaptação, não um mecanismo de criação. Um medicamento não cria patógenos resistentes; ele seleciona indivíduos resistentes que já estão presentes na população. Segundo, a seleção natural de- pende do momento e do local. Ela favorece aquelas características em uma população geneticamente variável que fornecem vanta- gens no meio ambiente atual. O que é benéfico em determi- nada situação pode não ter utilidade ou mesmo ser danoso em outra. O comprimento do bico que combina com o ta- manho da fruta tropical comida pelos membros da popu- lação de determinado percevejo é favorecido pela seleção. Entretanto, um comprimento adequado de bico para uma fruta de certo tamanho pode ser desvantajoso quando o in- seto está se alimentando de uma fruta de outro tamanho. Homologia Um segundo tipo de evidência da existência da evolução vem da análise de semelhanças entre diferentes organismos. Como vimos, a evolução é um processo de descendência com modificação: as características presentes em um organismo são alteradas (por seleção natural) em seus descendentes ao longo do tempo, à medida que enfrentam diferentes con- dições ambientais. Como resultado, espécies relacionadas podem ter características semelhantes mesmo que apresen- tem diferentes funções. Essas semelhanças resultantes de um ancestral comum são chamadas de homologias. Como descreveremos nesta seção, uma compreensão da homologia pode ser utilizada para fazer predições testáveis e explicar as observações que poderiam ser confusas. Homologias anatômicas e moleculares A percepção da evolução como processo modelador leva a crer que espécies relacionadas compartilham caracte- rísticas semelhantes – e elas compartilham mesmo. Cla- ro, espécies intimamente relacionadas compartilham as características utilizadas para determinar seu parentesco, mas também compartilham muitas outras características. Algumas dessas características compartilhadas só fazem sentido no contexto da evolução. Por exemplo, os mem- bros anteriores de todos os mamíferos, incluindo huma- nos, gatos, baleias e morcegos, mostram o mesmo arranjo de ossos que vai do ombro às pontas dos dedos, apesar de serem utilizados para diferentes funções, como levantar objetos, caminhar, nadar e voar (Figura 22.15). Essa sur- preendente semelhança anatômica seria muito improvável se essas estruturas tivessem se originado em cada espécie. Esses esqueletos básicos de braços, patas dianteiras, nada- deiras e asas de diferentes mamíferos são estruturas ho- mólogas que representam variações de um mesmo tema estrutural presente noancestral comum. A comparação de estágios iniciais do desenvolvimen- to em diferentes espécies de animais mostra homologias anatômicas adicionais não visíveis em organismos adultos. Por exemplo, todos os vertebrados têm uma cauda em po- sição posterior ao ânus e também estruturas chamadas de bolsas faríngeas em algum estágio do seu desenvolvimen- to (Figura 22.16). Essas bolsas faríngeas homólogas se transformam em estruturas com funções muito diferentes, Ser humano Úmero Rádio Ulna Carpos Metacarpos Falanges Gato Baleia Morcego Figura 22.15 Membros anteriores de mamíferos: estruturas homólo- gas. Mesmo adaptados a diferentes funções, os membros anteriores de todos os ma- míferos são constituídos dos mesmos elementos básicos do esqueleto: um osso grande (roxo), conectado a dois ossos menores (cor de laranja e bege), ligado a vários ossos pequenos (amarelo), então conectados a vários metacarpos (verde), e a aproximada- mente cinco dígitos, cada um composto por falanges (azul). Embrião de galinha (MO) Embrião humano Arcos faríngeos Cauda pós-anal Figura 22.16 Semelhanças anatômicas em embriões de vertebrados. Em algum estágio do desenvolvimento embrionário, todos os vertebrados apresentam cauda localizada posteriormente ao ânus (chamada de cauda pós-anal), assim como arcos faríngeos (na garganta). A descendência a partir de um ancestral comum pode explicar essas semelhanças. 474 REECE, URRY, CAIN, WASSERMAN, MINORSKY & JACKSON como brânquias em peixes e partes das orelhas e da gar- ganta em humanos e outros mamíferos. Algumas das mais intrigantes homologias estão rela- cionadas com estruturas com pouca ou nenhuma impor- tância para o organismo. Essas estruturas vestigiais são remanescentes de estruturas que apresentavam funções importantes nos organismos ancestrais. Por exemplo, o esqueleto de algumas cobras apresenta vestígios de pelve e ossos das patas provenientes de ancestrais que caminha- vam. Outro exemplo é a presença de olhos escondidos em- baixo de escamas em espécies cegas de peixes de cavernas. Não esperaríamos encontrar essas estruturas vestigiais se cobras e peixes cegos de cavernas tivessem uma origem se- parada dos outros animais vertebrados. Biólogos também observam semelhanças entre orga- nismos em nível molecular. Todas as formas de vida uti- lizam o mesmo código genético, sugerindo que todas as espécies descendem de um ancestral comum que já uti- lizava esse código. Mas as homologias moleculares vão além de um código compartilhado. Por exemplo, organis- mos tão diferentes como humanos e bactérias comparti- lham genes herdados de um ancestral comum muito dis- tante. Alguns desses genes homólogos adquiriram novas funções, enquanto outros, como aqueles que codificam subunidades ribossomais utilizadas na síntese proteica (ver Figura 17.17), mantiveram suas funções originais. Também é comum que organismos tenham genes que per- deram sua função, mesmo que os genes homólogos nas espécies relacionadas sejam totalmente funcionais. Assim como as estruturas vestigiais, parece que esses “pseudoge- nes” inativos podem estar simplesmente presentes porque seu ancestral comum os tinha. Homologias e “pensamento filogenético” Algumas características homólogas, como o código genético, são comparti- lhadas por todas as espécies, pois elas remetem a um passado ancestral, ao pas- so que outras evoluídas recentemente são compartilhadas apenas por um pe- queno grupo de organismos. Considere como exemplo os tetrápodes (do grego, tetra, quatro, e podo, pé), o grupo de vertebrados formado por anf íbios, ma- míferos e répteis (incluindo as aves – ver Figura 22.17). Todos os tetrápodes têm membros com dígitos (ver Figura 22.15), enquanto outros vertebrados não os têm. Assim, características homólogas formam um padrão agrupado: toda vida compartilha a camada mais profunda, e cada grupo sucessivo menor adicio- na suas próprias homologias, que serão compartilhadas com grupos maiores. Esse padrão agrupado é exatamente o que se espera de descendência com mo- dificação a partir de ancestral comum. Biólogos geralmente representam o padrão de descen- dência de ancestrais comuns com uma árvore evolutiva, diagrama que reflete as relações evolutivas entre grupos de organismos. Analisaremos detalhadamente no Capítulo 26 como as árvores evolutivas são construídas, mas agora ve- remos como interpretar e utilizar essas árvores. A Figura 22.17 representa a árvore evolutiva dos tetrápodes e dos seus parentes vivos mais próximos, os peixes pulmonados. Neste diagrama, cada bifurcação re- presenta o ancestral comum de todas as espécies descen- dentes. Por exemplo, os peixes pulmonados e os tetrápodes descendem do ancestral 1 , enquanto mamíferos, lagartos e cobras, crocodilos e aves descendem do ancestral 3 . As três homologias que aparecem na árvore – membros com dígitos, o âmnio (membrana embrionária protetora) e as plumas – formam um padrão esperado. Os membros com dígitos estavam presentes no ancestral comum 2 e, consequentemente, são encontrados em todos os descen- dentes desse ancestral (os tetrápodes). O âmnio estava pre- sente apenas no ancestral 3 e, assim, só é compartilhado por alguns tetrápodes (mamíferos e répteis). As plumas es- tavam presentes somente no ancestral comum 6 e, assim, só são encontradas em aves. Para explorar ainda mais esse “pensamento filogenéti- co”, observe que na Figura 22.17 os mamíferos são coloca- dos mais perto dos anf íbios do que das aves. Isso poderia levar à conclusão de que os mamíferos são mais relaciona- dos a anf íbios do que a aves. No entanto, os mamíferos são parentes mais próximos das aves do que dos anf íbios, pois mamíferos e aves compartilham um ancestral comum mais recente (ancestral 3 ) do que mamíferos e anf íbios (ances- Peixes pulmonados Anfíbios Mamíferos Lagartos e cobras Crocodilos Avestruzes Gaviões e outras aves Âmnio Tetráp o d es A m n io tas A ves Membros dos tetrápodes Penas 1 2 3 4 5 6 Cada ramificação representa o ancestral comum das linhagens que começam ali ou à direita do número. O traço vertical representa uma característica homóloga compartilhada por todos os grupos localizados à direita do traço. Figura 22.17 Pensamento filogenético: informações fornecidas em uma árvo- re evolutiva. Esta árvore evolutiva dos tetrápodes e seus parentes vivos mais próximos, os peixes pulmonados, é baseada em características anatômicas e em sequências de DNA. As barras roxas representam a origem de três homologias importantes, cada uma evoluindo apenas uma vez. As aves estão agrupadas e evoluíram a partir de répteis; assim, o grupo de organismos chamado de “répteis” tecnicamente inclui as aves. ? Os crocodilos estão mais relacionados aos lagartos ou às aves? Explique sua resposta. BIOLOGIA DE CAMPBELL 475 tral 2 ). O ancestral 2 também é o ancestral comum mais recente das aves e anf íbios, tornando os mamíferos e aves igualmente relacionados aos anf íbios. Por fim, observe que a árvore na Figura 22.17 apresenta o momento relativo dos eventos, mas não a data real. Assim, podemos concluir que o ancestral 2 viveu antes do ancestral 3 , mas não sabe- mos quando isso ocorreu. Árvores evolutivas são hipóteses que resumem a nossa compreensão de padrões de descendência. Nossa confian- ça nessas relações, assim como nas hipóteses, depende da consistência dos dados. No caso da Figura 22.17, a árvore é apoiada por vários bancos de dados, incluindo dados ana- tômicos e sequências de DNA. Desse modo, biólogos acre- ditam que essa árvore reflita de maneira exata a verdadeira história evolutiva desse grupo. Os cientistas podem utilizar essas bem apoiadas árvores evolutivas para fazer previsões específicas e curiosas sobre os organismos (ver Capítulo 26). Uma causa diferente de semelhança: Evolução convergente Embora organismos com parentesco próximo comparti- lham características devido à sua descendência comum, organismos de parentescodistante podem se parecer por uma razão distinta: a evolução convergente, ou seja, a evolução independente de características semelhantes em diferentes linhagens. Vamos tomar o exemplo dos mamí- feros marsupiais, muitos dos quais vivem na Austrália. Os marsupiais são diferentes de outro grupo de mamífe- ros – os eutérios – poucos dos quais vivem na Austrália. (Os eutérios completam o desenvolvimento embrionário no útero, enquanto os marsupiais nascem como embriões e completam o desenvolvimento em uma bolsa externa). Alguns marsupiais australianos têm “sósias” eutérios com adaptações similares. Por exemplo, o marsupial australiano que ocorre em florestas, conhecido como petauro-do-açú- car ou planador-do-açúcar (Petauros breviceps), é super- ficialmente bastante parecido com os esquilos voadores, eutérios planadores que vivem nas florestas da América do Norte (Figura 22.18). Mas o petauro-do-açúcar tem muitas outras ca- racterísticas que o tornam um marsupial, muito mais próximo de cangurus e outros marsupiais do que de esquilos voadores e outros eutérios. Novamente, a nossa com- preensão de evolução pode explicar essas observações. Embora tenham evoluído in- dependentemente a partir de ancestrais dis- tintos, esses dois mamíferos adaptaram-se a ambientes similares de modo similar. Nesses exemplos em que as espécies compartilham características por evolução convergen- te, diz-se que a semelhança é análoga, e não homóloga. As características análogas compartilham funções similares, mas não ancestrais comuns, enquanto as caracterís- ticas homólogas compartilham ancestrais comuns, mas não necessariamente função similar. O registro fóssil O terceiro tipo de evidência para a evolução vem dos fós- seis. O registro fóssil mostra que organismos que viveram no passado são diferentes dos organismos atuais, e, tam- bém, que muitas espécies já se extinguiram. Fósseis tam- bém demonstram que mudanças evolutivas ocorreram em diversos grupos de organismos. Para dar um exemplo en- tre centenas possíveis, os pesquisadores observaram que o osso pélvico no fóssil do peixe esgana-gata se tornou bas- tante reduzido em tamanho com o tempo em alguns dife- rentes lagos. A natureza consistente desta alteração sugere que a redução no tamanho do osso pélvico possa ter sido conduzida por seleção natural. Os fósseis podem revelar a origem dos novos grupos de organismos. Um exemplo é o registro fóssil dos cetá- ceos, a ordem de mamíferos que inclui baleias, golfinhos e botos. Alguns desses fósseis (Figura 22.19) forneceram uma linha de suporte inesperada para uma hipótese com Figura 22.18 Evolução con- vergente. A habilidade de planar evoluiu independentemente nestes dois grupos distantes de mamíferos. Maioria dos mamíferos Cetáceos e ungulados de casco bipartido (a) Canis (cão) (b) Pakicetus (c) Sus (porco) (d) Odocoileus (cervo) Figura 22.19 Ossos do tornozelo: um pedaço do quebra-cabeças. A com- paração de fósseis com exemplos atuais de astrágalo (tipo de osso do tornozelo) in- dica que os cetáceos estão relacionados de maneira mais próxima aos ungulados de casco bipartido. (a) Na maioria dos mamíferos, o astrágalo tem o formato semelhante ao osso do cão, com uma proeminência dupla em uma das extremidades (setas ver- melhas), mas não na extremidade oposta (seta azul). (b) Os fósseis mostram que os primeiros cetáceos Pakicetus possuíam um astrágalo com proeminências duplas em ambas as extremidades, um formato normalmente observado apenas nos porcos (c), cervos (d) e outros ungulados de casco bipartido. AMÉRICA DO NORTE AUSTRÁLIA Esquilo voador Petauro- -do-açúcar 476 REECE, URRY, CAIN, WASSERMAN, MINORSKY & JACKSON base em dados de sequências de DNA: os cetáceos são parentes próximos dos ungulados de casco bipartido, um grupo que inclui cervos, porcos, camelos e vacas. O que mais os fósseis podem nos contar sobre as ori- gens dos cetáceos? Os cetáceos mais antigos viveram de 50 a 60 milhões de anos atrás. O registro fóssil indica que antes disso a maioria dos mamíferos era terrestre. Embo- ra cientistas acreditem que as baleias e outros cetáceos se originaram de mamíferos terrestres, há pouca evidência fóssil sobre como a estrutura dos membros dos cetáceos se modificou ao longo do tempo, levando à perda dos mem- bros posteriores e o desenvolvimento de nadadeiras e de nadadeiras caudais. No entanto, nas últimas décadas, uma série de fósseis surpreendentes vem sendo descoberta no Paquistão, Egito e América do Norte. Esses fósseis docu- mentam etapas na transição da vida da terra para a água, preenchendo algumas das lacunas entre os cetáceos atuais e seus ancestrais (Figura 22.20). Coletivamente, as descobertas de fósseis recentes do- cumentam a origem de um dos principais grupos de ma- míferos, os cetáceos. Essas descobertas também mostraram que os cetáceos e seus parentes vivos próximos (hipo- pótamos, porcos e outros ungulados de casco bipartido) são muito mais diferentes uns dos outros do que são os Pakicetus dos ungulados de cas- co bipartido primitivos, como os Diacodexis. Padrões similares são observados em fósseis que do- cumentam as origens de outros novos grupos principais de orga- nismos, incluindo os mamíferos (ver Capítulo 25), plantas com flores (ver Capítulo 30) e tetrápo- des (ver Capítulo 34). Em cada um desses casos, o registro fóssil mostra que, com o tempo, des- cendentes com modificações produziram diferenças cada vez maiores entre os grupos de organismos relacionados, resultando na diversidade da vida observada atualmente. Biogeografia Um quarto tipo de evidência da evolução vem da biogeo- grafia, o estudo científico das distribuições geográficas das espécies. As distribuições geográficas dos organismos são influenciadas por muitos fatores, incluindo a deriva conti- nental, o movimento lento dos continentes da Terra ao longo do tempo. Há 250 milhões de anos, esses movimentos reu- niram todos os continentes em um só, chamado de Pangeia (ver Figura 25.16). Há cerca de 200 milhões de anos, a Pangeia começou a se dividir; e há 20 milhões de anos os continentes, da forma que conhecemos hoje, estavam a poucas cen- tenas de quilômetros da sua posição atual. Podemos utilizar nosso conhecimento sobre evolução e deriva continental para prever onde fósseis de diferentes grupos de organismos podem ser encontrados. Por exemplo, os cientistas construíram árvores evolutivas para cavalos com base em dados anatômicos. De acordo com essas árvores e com a idade dos ancestrais dos cavalos, cientistas estimam que o gênero (Equus) do cavalo atual se originou há cinco mi- lhões de anos na América do Norte. Na- quela época, a América do Norte e a do Sul estavam próximas do seu local atual, mas não eram conectadas, o que dificultava a expansão dos cavalos entre os continentes. Assim, pode-se prever que os fósseis mais antigos de Equus só poderiam ser encon- trados no continente em que o grupo se originou, ou seja, a América do Norte. Essa e outras previsões para diferentes grupos de organismos têm se mostrado verdadei- ras, fornecendo mais evidências à evolução. Também podemos utilizar a nossa compreensão sobre a evolução para explicar dados biogeográficos. Por exemplo, ilhas geralmente têm muitas espécies endêmi- cas de plantas e animais, ou seja, espécies não encontradas em outro lugar do mundo. Assim como Darwin descreveu no livro A origem das espécies, a maioria das espé- †Dorudon †Rodhocetus †Pakicetus Hipopótamos Outros angulados de cascos bipartidos Cetáceos vivos Ancestral comum dos cetáceos Milhões de anos atrás 60 50 40 30 0 Legenda para ossos da pelve e dos membros inferiores dos cetáceos Pélvis Fêmur Tíbia Pé Figura 22.20 A transição para a vida no mar. As linhagens dos cetáceos está destacada em amarelo no diagrama da árvore evolutiva acima. Múltiplas linhas de evidência sustentam a hipótese de que os cetáceos evoluíram a partir de mamíferos terrestres. Fósseis documentaram a redução,com o tempo, nos ossos da pelve e dos membros posteriores de ancestrais cetáceos extintos, incluindo Pakicetus, Rodhocetus e Dorudon. Dados da sequência de DNA sustentam a hipótese de que os cetáceos são mais estreitamente relacionados aos hipopótamos. ? O que aconteceu primeiro durante a evolução dos cetáceos: alterações na estrutu- ra dos membros inferiores ou a origem das nadadeiras caudais? Explique. 20 cm Diacodexis, um un- gulado de casco bi- partido ancestral. BIOLOGIA DE CAMPBELL 477 cies insulares é parente próxima de espécies continentais ou de espécies da ilha mais próxima. Ele explicou a sua ob- servação sugerindo que as ilhas são colonizadas por espé- cies do continente mais próximo. Por fim, esses colonizado- res dão origem a novas espécies, à medida que se adaptam aos novos ambientes. Esse processo também explica como duas ilhas com ambientes semelhantes em lugares distintos do mundo não são colonizadas por espécies semelhantes, mas sim por espécies parecidas com as do continente mais próximo, em que o meio em geral é diferente. O que é teórico no ponto de vista de Darwin sobre a vida? Certas pessoas rejeitam as ideias de Darwin sob o pretex- to de serem “apenas teóricas”. Entretanto, de acordo com o que foi mostrado ao longo deste capítulo, o padrão de evolução – a observação de que a vida evoluiu ao longo do tempo – tem sido diretamente documentado e sustentado por várias evidências. As explicações de Darwin sobre o processo de evolução – de que a seleção natural é a causa principal do padrão observado de mudança evolutiva – re- fletem uma grande quantidade de dados. Os efeitos da se- leção natural também podem ser observados e testados na natureza. Um desses experimentos está descrito no Exercí- cio de Habilidades Científicas. O que, então, é teórico no que diz respeito à evolução? Não vamos esquecer que o significado científico do termo teoria é muito diferente do significado coloquial. O uso colo- quial da palavra teoria é semelhante ao que os cientistas cha- mam de hipótese. Em ciência, a teoria é muito mais abran- gente do que a hipótese. Uma teoria, assim como a teoria da evolução por seleção natural, engloba muitas observações, ex- plicando e integrando uma grande variedade de fenômenos. EXERCÍCIO DE HABILIDADES CIENTÍFICAS Fazendo e testando predições A predação pode resultar em seleção natural para os padrões de coloração em barrigudinhos (guppies)? O que sabemos sobre evolução se modifica constantemente uma vez que novas observações levam a novas hipóteses e ainda a novas maneiras de testar nossa compreensão sobre teoria evolutiva. Considere os barrigudinhos selvagens (Poecilia reticulata) que vivem em lagos conectados por córregos na ilha caribenha de Trinidad. Os barrigudi- nhos machos possuem padrões de cores bastante variados, que são controlados por genes que são expressos somente nos machos adul- tos. As fêmeas dos barrigudinhos escolhem machos com padrões de cores vibrantes como parceiros com mais frequência do que os machos com uma coloração menos intensa. Mas a coloração in- tensa que atrai as fêmeas também torna os machos mais evidentes aos predadores. Os pesquisadores observaram que nos lagos com poucas espécies predadoras, o benefício das cores vibrantes parece “vencer” e os machos são mais coloridos do que nos lagos onde a predação é mais intensa. O killifish, predador dos barrigudinhos, preda barrigudi- nhos jovens que ainda não apresentaram sua coloração adulta. Os pesquisadores previram que se os barrigudinhos com cores fracas eram transferidos para um lago com killifish apenas, final- mente os descendentes destes barrigudinhos seriam mais colori- dos (por causa da preferência das fêmeas pelos machos de cores intensas). Como o experimento foi feito Pesquisadores transferiram 200 barrigudinhos de um lago contendo o peixe-joaninha, predadores intensos dos barrigudinhos, para um lago contendo killifish, pre- dadores menos ativos que predam principalmente barrigudinhos jovens. Os pesquisadores rastrearam o número de pontos de cor intensa e o total da área desses pontos nos barrigudinhos machos em cada geração. Dados a partir do experimento Após 22 meses (15 gerações), os pesquisadores compararam os dados de padrões de cor para as populações original e transferida. 12 10 8 6 4 2 0 Á re a de p on to s co lo rid os (m m 2 ) População original População transferida 12 10 8 6 4 2 0 N úm er o de po nt os c ol or id os População original População transferida Interprete os dados 1. Identifique os seguintes elementos da ciência com base em hipóteses neste exemplo: (a) questão, (b) hipótese, (c) predição, (d) grupo-controle e (e) grupo experimental. (Para informações adicionais sobre a ciência baseada em hipóteses, veja o Capítulo 1 e a Revisão das Habilidades Científicas no Apêndice F.) 2. Explique como os tipos de dados que os pesquisadores esco- lheram coletar permitiu que eles testassem sua predição. 3. (a) Quais conclusões você teria a partir dos dados apresentados acima? (b) Quais questões adicionais você teria para determi- nar a força dessa conclusão? 4. Prediga o que aconteceria se, após 22 meses, os barrigudinhos da população transferida fossem colocados de volta para o lago original. Descreva um experimento para testar sua predição. Dados a partir de: J.A. Endler, Natural selection on color patterns in Poecilia reticulata. Evolution 34:76-91 (1980). Lago contendo killifish, sem barrigudinhos previamente transferidos Barrigudinhos transferidos Lago contendo peixes-joaninhas e barrigudinhos 478 REECE, URRY, CAIN, WASSERMAN, MINORSKY & JACKSON Uma teoria unificadora como essa só se torna universalmente aceita depois que o seu conteúdo passa por testes experimen- tais e observacionais muito rigorosos (ver Capítulo 1). Como será demonstrado no restante desta unidade, com certeza esse é o caso da teoria da evolução por seleção natural. O ceticismo dos cientistas, ao continuarem a testar teorias, evita que essas ideias se tornem um dogma. Por exemplo, embora Darwin pensasse que a evolução fosse um processo muito lento, agora sabemos que novas espécies podem se formar em períodos de tempo relativamente cur- tos (poucos milhares de anos ou menos; ver Capítulo 24). Além disso, os biólogos evolutivos agora reconhecem que a seleção natural não é o único mecanismo responsável pela evolução. Dessa maneira, o estudo da evolução hoje é mais dinâmico do que nunca, pois os cientistas fizeram novas descobertas usando uma ampla variedade de abordagens experimentais e análises genéticas. Uma dessas biólogas é a Dra. Hopi Hoekstra, e você pode conhecer mais sobre o trabalho dela na entrevista no início desta unidade. Embora a teoria de Darwin atribua a diversidade da vida a processos naturais, os diversos produtos da evolução permanecem interessantes e inspiradores. Como Darwin escreveu na frase final do livro A origem das espécies: “Existe uma grandeza nessa visão a respeito da vida... [na qual] formas infinitas, belas e maravilhosas evoluíram e ainda estão evoluindo”. REVISÃO DO CONCEITO 22.3 1. Explique por que a seguinte frase está incorreta: “Os anti- bióticos causaram a resistência aos fármacos nos organis- mos MRSA”. 2. Como a evolução explica (a) membros anteriores semelhantes em mamíferos, mas com funções distintas, como mostra a Figura 22.15, e (b) o modo de vida semelhante de dois ma- míferos sem parentes próximo mostrado na Figura 22.18? 3. E SE.. .? Os dinossauros se originaram há 200-250 milhões de anos. Você esperaria que os primeiros fósseis de dinos- sauros apresentassem uma distribuição geográfica ampla (em muitos continentes) ou restrita (em apenas um ou pou- cos continentes)? Explique. Ver respostas sugeridas no Apêndice A. 22 Revisão do capítulo RESUMO DOS CONCEITOS-CHAVE CONCEITO 22.1 A revolução darwiniana contestou visões tradicionais de uma Terra jovem habitada por espécies imutáveis(p. 463-465) d Darwin propôs que a diversidade da vida surgiu de espécies ances- trais por seleção natural, um desvio radical das visões correntes. d Cuvier estudou fósseis, mas negou que a evolução ocorre; ele pro- pôs que eventos catastróficos repentinos no passado causavam o desaparecimento de espécies de uma área. d Hutton e Lyell observaram que mudanças geológicas podem resul- tar de mecanismos graduais que ocorreram no passado da mesma maneira que ocorre atualmente. d A hipótese de Lamarck sugeriu que as espécies evoluem, mas não há sustentação aos mecanismos propostos por ele. ? Por que a idade da Terra era importante para as ideias de Darwin sobre a evolução? CONCEITO 22.2 A descendência com modificação por seleção natural explica as adaptações dos organismos, bem como a uniformidade e diversidade da vida (p. 465-470) d As experiências de Darwin durante a viagem no Beagle originaram a ideia de que espécies novas se originam de formas ancestrais por meio do acúmulo de adaptações. Ele aperfeiçoou a sua teoria por vários anos e finalmente a publicou em 1859, depois de saber que Wallace havia chegado às mesmas conclusões. d No livro A origem das espécies, Darwin propôs que, ao longo de vas- tos períodos de tempo, os descendentes com modificações produzi- ram a rica diversidade da vida pelo mecanismo de seleção natural. Indivíduos em uma população possuem variação em relação às características herdáveis. Organismos produzem mais descendentes do que o meio pode comportar. Indivíduos bem-adaptados ao seu meio tendem a deixar mais descendentes do que outros indivíduos. Ao longo do tempo, características favoráveis se acumulam na população. Inferências e Observações ? Descreva como a superprodução e a variação herdável estão relacio- nadas à evolução por seleção natural. CONCEITO 22.3 A evolução é sustentada por uma quantidade expressiva de evidências científicas (p. 471-478) d Pesquisadores têm observado, em muitos estudos, a seleção natural resultando em evolução adaptativa. Esses estudos incluem popula- ções do percevejo-do-saboeiro e de MRSA. d Os organismos compartilham características em virtude de um ancestral comum (homologia) ou porque a seleção natural afeta BIOLOGIA DE CAMPBELL 479 de modo similar as espécies que evoluem em ambientes similares (evolução convergente). d Fósseis demonstram que organismos que viveram no passado são diferentes dos organismos atuais, que muitas espécies foram ex- tintas e que as espécies evoluíram ao longo do tempo. Os fósseis também documentam a origem da maioria dos novos grupos de organismos. d A teoria da evolução pode explicar os padrões biogeográficos. ? Resuma as diferentes linhas de evidência que sustentam a hipótese de que os cetáceos são descendentes dos mamíferos terrestres e tem uma relação próxima com os ungulados de casco bipartido. TESTE SEU CONHECIMENTO NÍVEL 1: CONHECIMENTO/COMPREENSÃO 1. Qual das alternativas abaixo não é uma observação ou inferência na qual a seleção natural se baseia? a. Existe variação herdável entre os indivíduos. b. Indivíduos menos adaptados nunca deixam prole. c. As espécies geralmente têm prole mais numerosa do que o meio pode suportar. d. Apenas uma fração da prole produzida por um indivíduo sobrevive. 2. Qual das seguintes observações ajudou Darwin a moldar o seu conceito de descendência com modificação? a. A diversidade de espécies diminui à medida que nos afasta- mos do Equador. b. Menos espécies vivem nas ilhas, em comparação com o continente mais próximo. c. As aves poderiam ser encontradas em ilhas mais distantes do continente do que a capacidade máxima de voo sem paradas. d. As plantas de clima temperado da América do Sul são mais parecidas com as plantas tropicas do mesmo continente do que com plantas de clima temperado da Europa. NÍVEL 2: APLICAÇÃO/ANÁLISE 3. Em seis meses de uso efetivo de meticilina para tratar infecções por S. aureus em uma comunidade, todas as novas infecções por S. aureus foram causadas por MRSA. Qual pode ser a explicação para isso? a. Um paciente deve ter sido infectado por MRSA de outra comunidade. b. Em resposta ao medicamento, o S. aureus começou a pro- duzir versões da proteína-alvo resistentes ao medicamento. c. Algumas bactérias resistentes ao medicamento estavam presentes no início do tratamento e a seleção natural au- mentou sua frequência. d. S. aureus evoluiu para vacinas resistentes. 4. Os membros superiores dos humanos e dos morcegos possuem esqueleto semelhante, ao passo que os ossos correspondentes nas baleias apresentam diferentes formas e proporções. No en- tanto, dados genéticos sugerem que os três organismos divergi- ram de um ancestral comum mais ou menos ao mesmo tempo. Qual das alternativas abaixo é a explicação mais provável para esses dados? a. A evolução dos membros superiores foi adaptativa em hu- manos e morcegos, mas não em baleias. b. A seleção natural no ambiente aquático resultou em mu- danças significativas na anatomia dos membros superiores das baleias. c. Os genes mutam mais rapidamente em baleias do que em humanos ou morcegos. d. As baleias não estão corretamente classificadas como ma- míferos. 5. Sequências de DNA em muitos genes humanos são semelhantes a sequências dos genes correspondentes em chimpanzés. A ex- plicação mais provável para esse resultado é: a. humanos e chimpanzés compartilham ancestral comum relativamente recente. b. humanos evoluíram de chimpanzés. c. chimpanzés evoluíram de humanos. d. a evolução convergente levou a similaridades no DNA. NÍVEL 3: SÍNTESE/AVALIAÇÃO 6. CONEXÃO EVOLUTIVA Explique por que características moleculares e anatômicas geral- mente se encaixam em um padrão similar de grupo. Além disso, descreva um processo capaz de impedir que isso aconteça. 7. PESQUISA CIENTÍFICA DESENHE Mosquitos resistentes ao pesticida DDT aparece- ram primeiro na Índia, em 1959, mas agora são encontrados em todo o mundo. (a) Desenhe um gráfico com os dados da tabe- la abaixo. (b) Construa, a partir do gráfico, uma hipótese para explicar por que os mosquitos resistentes ao DDT aumentaram rapidamente. (c) Sugira uma explicação para a resistência global ao DDT. Mês 0 8 12 Mosquitos resistentes* ao DDT 4% 45% 77% Fonte: C. F. Curtis et al., Selection for and against insecticide resistance and possible methods of inhibiting evolution of resistance in mosquitoes, Ecological Entomology 3:273–287 (1978). *Foram considerados resistentes aqueles mosquitos que não haviam morrido uma hora após a aplicação de uma dose de 4% de DDT. 8. ESCREVA SOBRE UM TEMA: INTERAÇÕES Escreva um ensaio sucinto (cerca de 100-150 palavras) analisan- do se as alterações ao ambiente f ísico de um organismo prova- velmente resultam em uma alteração evolutiva. Use um exemplo para dar suporte ao seu raciocínio. 9. SINTETIZE SEU CONHECIMENTO Esta formiga-pote-de-mel (gênero Myrmecocystus) pode arma- zenar alimento líquido dentro do seu abdome expansivo. Con- sidere outras formigas com as quais você tem familiaridade e explique como uma formiga-pote-de-mel dá o exemplo de três características-chave da vida: adaptação, unidade e diversidade. Ver respostas sugeridas no Apêndice A. ÇAP rur o k fi il,i:'JüIlff l1?": Os olhos são importantes Olhos não são essenciais à sobrevivência, Muitos ani- mais e todas as p antas vivem muito bem sem eles, En tretanto, mars de 90% dos anlmais têm o hos ou algum tipo de órgâo sensÍvel à luz e tê-los pode conÍerir uma va^tager selerva, Cerca de uma dúzia de tipos diferentes de olhos encontram-se entre os dlferentes an mals, inc uindo os olhos tipo câmera dos humanos e os o hos compostos de inseios, com milhares de unidades ndivlduals Na tentatlva de entender a orgen-r dessa varledade, cien tistas - começando com Charles Daru'rin - propuseram que os o hos evo uíram, independentemenie, inúmeras vezes em diferentes grupos de anlmals, e que cada me horamento na habilidade
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