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Resumo do texto - O Tribunal Penal Internacional e o Tribunal de Nuremberg Aspectos Históricos e Jurídicos

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O trabalho analisado, “O Tribunal Penal Internacional e o Tribunal de Nuremberg: Aspectos Históricos e Jurídicos” (2021), pondera a contribuição do Tribunal de Nuremberg para a humanidade, sobretudo no contexto de prevenir novas atrocidades. Nessa perspectiva, faz-se necessário revisitar o passado e compreender que a intolerância, por exemplo, colabora para o caos social, político e internacional. Além disso, a obra reflete sobre os aspectos históricos que ensejaram na criação do Tribunal Penal Internacional, idealizado para punir delitos mais repugnantes.
Em uma primeira análise, considera-se que, diante dos inúmeros conflitos internacionais, o Tribunal Penal Internacional (TPI) tornou-se consideravelmente expressivo, com o objetivo de promover justiça e condenar os indivíduos suspeitos de cometer crimes contra os direitos humanos. No mesmo sentido, o Tribunal de Nuremberg, de grande importância para o atual estágio civilizatório, desempenhou o papel de delimitar a responsabilidade penal aos autores de graves violações aos direitos humanos.
A criação do Tribunal Penal Internacional (TPI) foi aprovada em 1998, e o respectivo tribunal tem caráter excepcional e complementar, ou seja, sua jurisdição fica condicionada à incapacidade ou à omissão do sistema judicial interno. O TPI limita-se a julgar somente os crimes mais graves cometidos por indivíduos, como, por exemplo, os crimes contra a humanidade e os crimes de agressão. Já o Tribunal de Nuremberg foi estabelecido entre os anos de 1945 e 1946 para julgar alguns dos conflitos ocorrido no período da segunda guerra mundial.
Para melhor compreensão do tema discutido no trabalho, os autores estruturaram a obra em três capítulos. O primeiro capítulo contextualiza o período pós-segunda guerra mundial com o Tribunal de Nuremberg. O segundo capítulo, por sua vez, aborda o Tribunal Penal Internacional, sua criação, os crimes de sua competência, a segurança jurídica internacional e a proteção internacional dos direitos humanos. Por fim, o terceiro capítulo evidencia casos de grande repercussão que seriam passíveis de apreciação pelo TPI, quais sejam: o holocausto nazista, o apartheid e a segregação racial nos Estados Unidos.
Dada a devida introdução acerca do que se trata o texto de referência, o primeiro ponto que merece destaque é a o contexto histórico em que está inserido o início das atividades inerentes ao Tribunal de Nuremberg e sua responsabilidade no tange ao Direito Internacional e na efetivação dos Direitos Humanos. 
A Segunda Guerra Mundial que deu início no ano de 1939 e teve fim em 1945, foi um dos eventos mais sangrentos existentes na história mundial, sendo marcado pelas violações às garantias fundamentais da pessoa humana, com morte de milhões de civis como também de soldados que estavam na linha de frente do conflito, além destes, é lamentavelmente lembrada pelo genocídio de milhões de Judeus e outros povos vistos como minorias durante Holocausto, causado pelos nazistas comandantes e defensores da raça ariana na Alemanha, visto que o objetivo principal dos Nazistas na guerra, era a soberania de um único povo, onde o simples “ser” e até mesmo “pensar” diferente era motivo para barbáries, nesse cenário. 
	Com o término do conflito bélico em 1945, visto o reconhecimento tardio, somente com o fim da segunda guerra mundial, em punir aqueles responsáveis pelos crimes de guerra cometidos, foi criado pela Conferência de Londres o Tribunal Militar Internacional, autorizado a indicar os acusados do cometimento de crimes contra a paz, crimes contra a humanidade e crimes de guerra, foi formado por representantes das 4 grandes potências da época, Estados Unidos, Grã-Bretanha, União Soviética e França, que forneceram para formar o tribunal, um juiz e um promotor cada. 
Ocorre que no dia 20 de novembro de 1945, o Tribunal foi mudado para o Palácio da Justiça de Nuremberg, criando assim o “Tribunal de Nuremberg”, que teve grande influência no Direito Penal Internacional.
Nesse passo, o Tribunal de Nuremberg, como já citado, foi criado com o intuito de julgar crimes contra a paz, crimes contra a humanidade e crimes de guerra, visando punir as atrocidades cometidas pelos Nazistas, porém, esse modelo de Justiça, foi muito criticado na época, tendo em vista que feria o Princípio da Anterioridade da Lei penal, pois as atrocidades cometidas pelos Nazistas, ocorreram antes da criação do Tribunal, ou seja, não havia Lei para punir os Nazistas na época do ocorrido, não tendo portanto, crime a ser punido, de acordo com os críticos da época.
	Ademais, houveram críticas políticas ao Tribunal de Nuremberg caracterizado como de exceção, sendo pregado que “vencedores estariam julgando os vencidos”, foi então nomeado de “Tribunal dos vencedores contra os vencidos”, muito pelo fato do Tribunal ter sido criado posterior as condutas incriminadoras.
	Noutro passo, foi reconhecido por Paloma Pirez Valério (2006), que “o Tribunal de Nuremberg foi a vingança dos vencedores sobre os vencidos, tendo em vista que o mundo estava sedento por Justiça naquele momento, e esperava uma punição severa para todas as atrocidades cometidas pelos Nazistas, e para que fosse reestabelecida a paz mundial, se fez necessárias tais punições”. (O Tribunal Penal Internacional e o Tribunal de Nuremberg: Aspectos Históricos e Jurídicos p.77 e 78).
	Em se tratando do contexto geopolítico no mundo no período pós-segunda guerra, este se encontrava em situação delicada, visto a existência de inúmeros conflitos internacionais causados pela nomeada Guerra Fria, que consistiu em uma disputa ideológica, não ocorrendo embate militar entre os Estados Unidos da América que defendia a expansão capitalista e a antiga União Soviética que pregava o socialismo, porém, em contraponto as duas potencias alimentaram conflitos em outros países. Todavia, esse período caracterizou-se pelo desenvolvimento de instituições competentes para processar e julgar as graves violações do direito internacional humanitário.
	Dessa maneira, o Tribunal de Nuremberg serviu de inspiração para diversos outros tribunais, tais como o Tribunal de Tóquio, o Tribunal de Ruanda e o Tribunal da ex Iugoslávia, sendo estes Tribunais ad hoc, que de forma geral foram criados no intuito de julgar crimes com relação aos acontecimentos da segunda guerra, e de futuras guerras que viessem a ocorrer.
	Portanto, o Tribunal de Nuremberg, teve grande importância no Direito Penal Internacional, pois dele que derivaram as principais Leis e posteriores tribunais que garantiam a efetivação dos direitos humanos e direitos fundamentais, além, da punição dos autores dos crimes praticados durante conflitos internacionais, imperioso para a amenizar o sentimento de impunidade que se tinha antes da Segunda Guerra Mundial. 
Em 1994, foram iniciadas as negociações para o estabelecimento de um Tribunal Penal Internacional permanente, que tivesse competência sobre os crimes mais graves praticados contra a humanidade. 
Por meio de dois comitês constituídos pela Assembleia Geral da ONU, entre os anos 1951 e 1953, foram apresentados projetos de estatuto para o futuro tribunal. Contudo, devido à chamada “guerra fria”, os trabalhos de criação do tribunal ficaram suspensos até o ano de 1989. 
Nesse contexto, entre 1995 e 1998, a Assembleia Geral das Nações Unidas convocou dois comitês para produção do denominado “texto consolidado” do Projeto do Estatuto para a criação de um Tribunal Penal Interacional. O Comitê ad hoc para a Criação de um Tribunal Penal Internacional discutiu, em 1995, as principais questões substanciais e administrativas, mas não iniciou as negociações nem a redação. Em 1996, o comitê ad hoc foi substituído pelo Comitê Preparatório para a Criação de um Tribunal Penal Internacional, o qual realizou várias reuniões, submetendo à Conferência Diplomática em Roma um Projeto de Estatuto e um Projeto de Lei Final com 116 artigos, representando uma multiplicidade de opções quanto a dispositivos inteiros ou ainda determinadas palavras e expressões. Assim, foi aprovadaa criação do Tribunal Penal Internacional na Conferência, em 17 de julho de 1998. 
Cabe salientar que a jurisdição do Tribunal Internacional é adicional e complementar à do Estado, ficando condicionada à incapacidade ou à omissão do sistema judicial interno. O TPI tem competência para julgar quatro categorias de crimes, a saber: crime de genocídio, crimes contra a humanidade, crimes de guerra e crime de agressão, sendo eles crimes mais graves que afetam a comunidade internacional.
Inicialmente, o TPI foi criado para o julgamento de crimes que basicamente se caracterizam pela hostilidade e violência do homem contra o próprio homem. Todavia, em 15 de setembro de 2016 o Tribunal inovou ao anunciar que irá processar e julgar crimes ambientais. 
Nesse sentido, um documento foi criado, trazendo as prioridades para a seleção dos casos pela Corte. Assim, cabe abordar os crimes citados pelo Estatuto de Roma. 
O artigo 6º do Estatuto trata acerca do crime de genocídio, entendendo-o como sendo qualquer ato praticado com a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso, como: homicídio de membros do grupo; ofensas graves à integridade física ou mental de membros do grupo; sujeição intencional do grupo a condições de vida com vista a provocar a sua destruição física, total ou parcial; imposição de medidas destinadas a impedir nascimentos no seio do grupo e transferência, à força, de crianças do grupo para outro grupo.
Seguidamente, artigo 7º do Estatuto de Roma prevê o “crime contra a humanidade”. De acordo com o referido artigo, entende-se por crime contra a humanidade os atos de Homicídio; Extermínio; Escravidão, Deportação ou transferência forçada de uma população; Prisão ou outra forma de privação da liberdade física grave, em violação das normas fundamentais de direito internacional, Tortura; Agressão sexual, escravatura sexual, prostituição forçada, gravidez forçada, esterilização forçada ou qualquer outra forma de violência no campo sexual de gravidade comparável; Perseguição de um grupo ou coletividade que possa ser identificado, por motivos políticos, raciais, nacionais, étnicos, culturais, religiosos ou de gênero, ou em função de outros critérios universalmente reconhecidos como inaceitáveis no direito internacional; Desaparecimento forçado de pessoas; Crime de apartheid; Outros atos desumanos de caráter semelhante, que causem intencionalmente grande sofrimento, ou afetem gravemente a integridade física ou a saúde física ou mental.
O artigo 8º do Estatuto de Roma, por sua vez, prevê o crime de guerra. Tal artigo abrange violações graves à Convenção de Genebra, abrangendo quaisquer dos seguintes atos, dirigidos contra pessoas ou bens protegidos nos termos da Convenção, a saber: homicídio doloso; tortura ou outros tratamentos desumanos, incluindo experiências biológicas; o ato de causar intencionalmente grande sofrimento ou ofensas graves à integridade física ou à saúde; destruição ou apropriação de bens em larga escala, quando não justificadas por quaisquer necessidades militares e executadas de forma ilegal e arbitrária; o ato de compelir prisioneiro de guerra ou outra pessoa sob proteção a servir nas forças armadas de potência inimiga; privação intencional de prisioneiro de guerra ou de outra pessoa sob proteção do seu direito a julgamento justo e imparcial; deportação ou transferência ilegais, ou a privação ilegal de liberdade; e tomada de reféns.
No que compete aos crimes relacionados com a destruição do meio ambiente, exploração de recursos naturais e apropriação ilegal de terras, observa-se que a expansão do foco relacionado ao julgamento de determinados crimes ambientais só demonstra a preocupação da comunidade mundial com a ciência do Direito Ambiental e com o meio ambiente. Caracterizando um avanço na preservação do futuro do planeta, pois, com essa mudança, sinaliza-se a ausência de impunidade para as catástrofes ambientais.
Ainda, cabe relatar que, como não existe definição precisa sobre o crime de agressão que seja suficiente para servir de elemento constitutivo de crime e para fundamentar a responsabilidade penal internacional dos indivíduos, acabou-se por dificultar a inclusão dessa espécie delituosa no Estatuto de Roma. Contudo, com base no parágrafo 2º do artigo 5º do Estatuto de Roma, o Tribunal Penal Internacional poderá exercer a sua competência sobre o crime de agressão quando for aprovada disposição que defina esse crime e enuncie as condições para o exercício dessa competência.
Com a criação do TPI, o holocausto nazista, o apartheid e a segregação racial nos Estados Unidos passaram a ser passíveis de apreciação pelo tribunal. Esses casos configuram os acontecimentos mais emblemáticos de crimes contra a humanidade, crimes de guerra e crime de agressão. Nesse contexto, cabe relatar acerca de tais atrocidades. 
De acordo com a ideologia nazista, a Alemanha deveria superar todos os entraves que impediam a formação de uma nação composta por seres superiores e segundo essa mesma ideia, o povo legitimamente alemão era descendente dos arianos. Dessa forma, o governo de Adolf Hitler passou a pregar o ódio contra aqueles que impediam a pureza racial dentro do território alemão. 
A perseguição aos judeus, as principais vítimas do nazismo, passou por várias fases: emigração forçada, expulsão, isolamento em guetos, prisão em campos de concentração e extermínio. Os campos nazistas eram compostos por fome, privação do sono, trabalho brutal, sadismo, falta de necessidades básicas e, principalmente, o extermínio em massa. Cabe salientar que não só os judeus foram alvo do nazismo, mas também os ciganos, homossexuais e eslavos.
Nesse sentido, o projeto nazista gerou um imaginário baseado em identidade nacional coletiva e excludente, que justificava o extermínio do outro. O nazismo deixou vestígios para a reconstrução, pela história, desse passado de terror.
O apartheid, por sua vez, se refere a uma política racial implantada na África do Sul. A minoria branca, os únicos com direito a voto, detinha todo poder político e econômico no país, enquanto os negros não detinham de direitos sociais, econômicos e políticos. O apartheid não permitia o acesso dos negros às urnas, proibindo-os de adquirir terras na maior parte do país, sendo obrigados a viver em zonas residenciais segregadas, proibição de circulação de negros em determinadas áreas das cidades, criação de sistema diferenciado de educação para as crianças, além do que casamentos e relações sexuais entre pessoas de diferentes etnias também eram proibidos. 
Com o intuito de acabar com o apartheid, surgiram movimentos liderados, principalmente, por Nelson Mandela e Oliver Tambo. Por toda a África do Sul eclodiram movimentos estudantis e organizações lutando pela causa negra. 
O número de protestos, casos de violência contra a minoria branca, atentados e greves se tornava cada vez maior. Nelson Mandela e alguns companheiros do CNA foram transferidos para a prisão Pollsmoor, em 1982, este foi o primeiro indício de que o Governo Sul-Africano percebeu que o Apartheid estava se enfraquecendo e deveriam tomar providências. 
O Apartheid foi considerado crime contra a humanidade pelo Estatuto de Roma, sendo classificado no artigo 7º, pois foi um sistema que possuía várias características que são condenadas pelo Estatuto.
No que compete a segregação racial nos Estados Unidos, é necessário compreender o processo de formação dos Estados Unidos da América, formados por colonos ingleses chamadas de “treze colônias”, tendo as colônias do Sul diferentes das do Norte, enquanto no Norte predominou o modelo de pequena propriedade privada, no Sul prevaleceu o da grande propriedade de terras e da monocultura acertando o uso do trabalho escravo, mais precisamente de escravos negros do continente africano. Assim no período em que predominou a escravidão no Sul dos Estados Unidos, não eram considerados como indivíduos portadores de direitos, os negros escravos eram considerados mercadoria de seus donos.
Com a Guerra Civil Americanaveio o término do modelo escravocrata, entrando nela o conflito os Estados do Norte, ou União, comandados, pelo Presidente, Abraham Lincoln, e os autoproclamados, “Estados Confederados do Sul, pretendendo fundar uma confederação separatista. A guerra terminou com a vitória do Norte, assim resultando com abolição da escravatura. 
Após a guerra começou o processo de reconstrução do país e a reincorporação dos estados do Sul, aparecendo as primeiras tentativas da “implementação das políticas segregacionistas”. 
Logo, quando terminou a guerra formou-se a organização racista e nesse período de segregação tinha lugares públicos onde eram separados para brancos e para negros (como bairros, escolas, banheiros e ambientes de trabalho), impulsionando-se uma nítida divisão em função da cor da pele. Onde negros eram desprezados, agredidos e humilhados, sendo vedado direitos e oportunidades. 
Apenas em 1964, Lyndon Johnson presidente dos Estados Unidos, com a assinatura da Lei de Direitos Civis pôs fim da segregação racial em todo país, estabelecendo ao menos formalmente.
Por todo o exposto, frente às inúmeras violações de direitos humanos ocorridas no século XX, a obra finaliza salientando que o Tribunal Penal Internacional foi o resultado de um longo processo de responsabilização dos seus autores, movido por sentimento universal de justiça. Além do que, o Tribunal contribuiu para o desenvolvimento do Direito Penal Internacional, revelando-se marco nas relações internacionais.

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