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Direitos humano

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1. INTRODUÇÃO
Este capítulo procura perceber como é que os direitos humanos foram enquadrados nas várias Constituições que foram aprovadas em Moçambique, sem descurar alguns outros instrumentos legais relevantes e relacionados com a questão dos direitos humanos e igualdade de gêneros. Para fazer isso, foram analisadas as três Constituições que até hoje o país conheceu, aprovadas pelo Parlamento, a de 1975, logo após a obtenção da independência, a de 1990, da “viragem” democrática, mas ainda com evidentes marcas do passado marxista-leninista, finalmente a de 2004, a mais clara em termos de divisão dos poderes e respeito pelos direitos humanos, assim como a mais ambígua ao trazer contradições bastante evidentes entre os princípios enunciados e a organização do Estado, concentrada nas mãos do Presidente da República.
Fatores históricos e culturais têm uma influência muito relevante no que diz respeito à maneira como as instituições públicas lidam com os direitos humanos dos seus cidadãos. No caso de Moçambique, o fato de o Estado nas suas diferentes ramificações constituir uma das entidades que mais viola os direitos humanos encontra, como seu pano de fundo, por um lado uma história secular baseada na violência por parte do colonizador diante das populações inermes, juntamente com a violência de uma guerra civil brutal de 16 anos que fez mais de um milhão de mortos, associada a práticas legais de total desrespeito dos direitos humanos por parte do Estado.
A Constituição de Moçambique consagra a igualdade de direitos para homens e mulheres. O Estado Moçambicano aderiu à Convenção das Nações Unidas para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra Mulheres (CEDAW).
1.1 Objectivo geral
· Entender os direitos humanos e igualdade do gênero
1.2 Objectivos específicos
· Descrever os principais direitos humanos
· Igualdade de gênero
· Factos da igualdade de gênero
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2. Direitos Humanos
Os direitos humanos são normas que reconhecem e protegem a dignidade de todos os seres humanos. Os direitos humanos regem o modo como os seres humanos individualmente vivem em sociedade e entre si, bem como sua relação com o Estado e as obrigações que o Estado tem em relação a eles.
A lei dos direitos humanos obriga os governos a fazer algumas coisas e os impede de fazer outras. Os indivíduos também têm responsabilidades: usufruindo dos seus direitos humanos, devem respeitar os direitos dos outros. Nenhum governo, grupo ou indivíduo tem o direito de fazer qualquer coisa que viole os direitos de outra pessoa.
Os direitos humanos são uma garantia de valores de abrangência universal. O objetivo é garantir o mínimo para a vida humana ser digna e respeitada segundo as próprias liberdades.
Direitos humanos são os direitos e liberdades básicas de todos os seres humanos, independentemente da sua raça, sexo, nacionalidade, etnia, idioma, religião ou qualquer outra condição. Os direitos humanos incluem o direito à vida e à liberdade, liberdade de opinião e expressão, o direito ao trabalho e à educação, todos têm direito a estes direitos, sem discriminação.
2.1.1 Direitos Humanos na Constituição de 1975 – Moçambique
A Constituição de 1975 foi a primeira a ser aprovada na história de Moçambique independente. Na altura, Moçambique denominava-se “República Popular de Moçambique” e todos os órgãos, desde o Parlamento até o Tribunal, continham, nas suas definições oficiais, o adjetivo “popular”. Na época histórica em questão, a palavra “popular” tinha um significado bem preciso: remontava a uma conceção de Estado e de sociedade em que apenas uma força, que supostamente detinha a larga representação da população, podia legitimamente interpretar os interesses, anseios, desejos de toda a nação. Isto queria dizer que o regime político aceite e em vigor na altura era de tipo monopartidário, muito próximo ao posicionamento ideológico socialista que, no xadrez mundial, identificava-se com o bloco soviético.
Entretanto, a política moçambicana, a partir da primeira Constituição de 1975, nunca foi tão clara e explícita diante do posicionamento ideológico, aparentemente socialista e marxista, mas com muitas nuances de cunho mais “democrático”, pelo menos ao nível dos relacionamentos internacionais. Moçambique tinha um leque bastante variegado e diversificado de aliados por toda parte do mundo, sendo a palavra de ordem a de “fazer mais amigos” (Zeca, 2015).
A Constituição de 1975 coloca-se, do ponto de vista dos direitos políticos, num patamar de tipo democrático-progressista, muito mais do que abertamente socialista. De fato, todos os cidadãos maiores de 18 anos têm direitos políticos ativos e passivos (art. 26), assim como as mulheres que estejam nessas condições (art. 27). Onde, nos direitos políticos, é visível o restringimento das possibilidades efetivas de opção, até esta se reduzir apenas a um partido, é na composição da Assembleia Popular (art. 37). Aqui, apenas membros da Frelimo ou do Governo nacional ou provincial expressão também da Frelimo pode ser eleitos, supostamente independentes, que devem ser escolhidos pelo Comité Central da Frelimo” (art. 37).
Esta breve análise da Constituição de 1975 coloca muitas interrogativas mais do que clarificar questões fundamentais em volta dos direitos humanos logo após a obtenção da independência. A garantia dos direitos humanos, a partir dos direitos civis, foi claramente estabelecido; mas a história de Moçambique demonstra que, pelo contrário, na realidade houve violações brutais dos direitos fundamentais, o que parece entrar em choque com o ditado constitucional.
2.1.2 Direitos Humanos e Constituição da Viragem Democrática de 1990- Moçambique
O primeiro elemento que é preciso realçar em jeito de premissa deste ponto, é o clima em que a Constituição de 1990 foi aprovada em Moçambique. Nesta altura, o país ainda se encontrava dilacerado pela guerra civil, apesar de as negociações com a Renamo já terem iniciado, rumo à uma paz não muito longínqua.
Diante do cenário anterior, a FRELIMO, único partido representado na Assembleia Popular, resolve aprovar uma Constituição completamente nova, rejeitando os princípios do Estado socialista derivantes do conjunto da Constituição de 1975, a Reforma de 1978 e as medidas tomadas a partir de 1979.
É provável que a morte de Samora Machel, em 1986, tenha acelerado o processo de saída gradual do sistema socialista e a entrada no sistema ocidental, que o antigo Presidente já tinha começado, com a adesão às instituições de Bretton Woods (nomeadamente Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional), em 1984, com a implementação de um programa de ajustamento estrutural, em 1987, conhecido como Programa de Reabilitação Económica (PRE), depois corrigido em Programa de Reabilitação Económica e Social (PRES). Várias expressões críticas foram levantadas ao analisar estes programas e o seu impacto social fortemente negativo (Hanlon, 1991; Abrahamsson & Nilsson, 1995), até teorizar um verdadeiro processo de “normalização” ou “disciplinarização” do país, além das suas opções económicas (Macamo, 2003).
Na verdade, o “povo” viu esta transição brusca e repentina completamente de fora, sem algum envolvimento, assistindo às mudanças estruturais do país duma forma passiva, não havendo, entre a Constituição de 1975 e a de 1990, do ponto de vista da participação da sociedade local, nenhuma diferenciação (Mondlane, 2012).
2.1.3 Direitos Humanos na Constituição de 2004 - Moçambique
A Constituição de 2004 representa a última etapa, até agora, do reformismo constitucional moçambicano. Diferentemente da anteriores, trata-se da primeira carta constitucional votada por um parlamento multipartidário, em que, portanto, a Frelimo não era a representante exclusiva do povo. Esta caraterística faz-se sentir imediatamente no texto da nova Constituição, quer no preâmbulo, quer nos princípios que propõe, melhor definidos e mais claramente orientados para o liberalismo e a democracia pluralista.
No seio dos artigos fundamentais que fundam a Constituição de 2004, jáno art. 2 encontram-se novas e decisivas alterações. São introduzidos dois parágrafos, que determinam a orientação duma boa parte da nova carta constitucional: esses dois parágrafos estabelecem a superioridade da Constituição relativamente a todos os atores, individuais e coletivos, que atuam em Moçambique, a partir do Estado e das normas jurídicas específicas. O art. 3 realça e determina com mais força um tal conceito, introduzindo duma forma explícita o princípio do Estado de Direito Democrático, ausente na Constituição de 1990.
O capítulo II da constituição de 2014 inicia logo com a parte relativa à liberdade de expressão e informação, que reproduz, nas suas linhas essenciais, o Título II da Constituição de 1990, salvo o fato que a Lei de Imprensa ainda não tinha sido aprovada na altura da aprovação da segunda Constituição. Diante deste novo cenário, os direitos de expressão resultam melhor detalhados, mediante a introdução dum artigo novo (o nr. 49), inteiramente dedicado a Direitos de antena, de resposta e de réplica política.
O que ainda representa um nó crítico na Constituição de 2004 é a organização do Estado. Neste caso, embora não querendo analisar de forma profunda esta parte da nova Constituição, convém assinalar o seguinte:
· O princípio da separação dos poderes é explicitamente estabelecido. Por exemplo, os juízes são completamente independentes e apenas devem obediência à lei (art. 217); passível 2. O princípio da descentralização e desconcentração dos poderes é também patente, delineando os vários níveis institucionais de que o Estado é composto, embora, por exemplo do ponto de vista financeiro, os órgãos descentralizados, inclusive os municípios, gozam duma autonomia muito relativa em relação ao centro;
· Os poderes do Presidente da República continuam os mesmos, a partir da nomeação dos principais juízes dos vários tribunais, do Primeiro-ministro juntamente com todos os outros membros do executivo, dos reitores e vice-reitores das universidades públicas, dos chefes de Estado-Maior, de todo o corpo diplomático, do Governador e Vice-Governador do Banco Central. 
Outras nomeações, tais como a do Presidente do Conselho Superior da Comunicação Social, o único órgão de controlo da comunicação social moçambicana, e do Presidente do Conselho Superior da Magistratura Judicial, que controla a atividade de todos os juízes do país, cujo presidente é o Presidente do Supremo Tribunal, competem também ao Presidente da República, desta forma acabando desmentindo, de facto, aqueles princípios de subdivisão dos poderes enunciados na Constituição.
2.1.4 A Situação dos Direitos Humanos em Moçambique nos Últimos Anos (2015-2017)
O quadro dos direitos humanos em Moçambique nos últimos anos (2015-2017) pode ser traçado a partir ainda do mecanismo de avaliação da HRC (Human Rights Council das Nações Unidas), na sua segunda etapa de revisão (HRC, 2016), fortalecido com alguns relatórios de importantes ONGs internacionais. 92 Em janeiro de 2016, depois de vários encontros com as autoridades moçambicanas, o governo de Maputo recusou 14 das 210 recomendações provenientes do HRC, e ficou para dar resposta sobre outras 38. 
Vale a pena aqui recordar algumas das recomendações que o governo moçambicano aceitou apenas parcialmente, para passar a seguir às recomendações que não foram aceites. Acima de tudo, a liberdade de expressão: neste caso, as autoridades moçambicanas aceitaram parcialmente a recomendação, excluindo a possibilidade de despenalizar a difamação, que, portanto, continuará a ser considerada como um crime.
Em segundo lugar, a questão da discriminação contra aos homossexuais: se é verdade que a Constituição proíbe (art. 35) qualquer tipo de discriminação com base na orientação sexual, é também de realçar que o governo moçambicano rejeitou a possibilidade de legalizar a LAMBDA, uma organização da sociedade civil que há anos pauta pelo respeito e promoção dos direitos dos homossexuais em Moçambique, alegando primeiro que os direitos privados desta minoria sexual sempre foram respeitados, e segundo que o fato de a LAMBDA não ter reconhecimento legal não impede que possa levar a cabo as suas atividades no seio do país.
Terceiro: sobre a certeza do direito à terra por parte dos camponeses, Moçambique concordou, mas negou a possibilidade de uma atribuição definitiva da terra com base nos direitos das comunidades indígenas que, segundo o governo de Maputo, não existem no território moçambicano.
2.1.5 Declaração Universal dos Direitos Humanos
A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) é um documento marco na história dos direitos humanos. Elaborada por representantes de diferentes origens jurídicas e culturais de todas as regiões do mundo, a Declaração foi proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em Paris, em 10 de dezembro de 1948, por meio da Resolução 217. A Assembleia Geral como uma norma comum a ser alcançada por todos os povos e nações. Ela estabelece, pela primeira vez, a proteção universal dos direitos humanos.
Desde sua adoção, em 1948, a DUDH foi traduzida em mais de 500 idiomas, o documento mais traduzido do mundo e inspirou as constituições de muitos Estados e democracias recentes. 
A DUDH, em conjunto com o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e seus dois Protocolos Opcionais (sobre procedimento de queixa e sobre pena de morte) e com o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e seu Protocolo Opcional, formam a chamada Carta Internacional dos Direitos Humanos.
Eles incluem a Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio (1948), a Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial (1965), a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (1979), a Convenção sobre os Direitos da Criança (1989) e a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2006), entre outras.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) é um documento que foi elaborado pela Organização das Nações Unidas (ONU) com o objetivo de determinar e assegurar todos os direitos básicos e as liberdades dos seres humanos, independentemente de onde vivem, da renda que detêm, da religião que professam, da etnia a que pertencem, do gênero, da orientação sexual e de outros aspectos que tornam cada indivíduo único.
O documento visa, também, à promoção do respeito universal a essas liberdades humanas, tendo como principal meio a educação bem como o reconhecimento e aplicação do texto da DUDH por parte dos Estados e territórios signatários.
"Os artigos da DUDH abrangem todos os aspectos da vida em sociedade e reforçam a igualdade e a equidade de tratamentos a que todos os seres humanos têm direito, o que é muito bem sintetizado no Artigo I do documento:
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.
2.2 Igualdade de gênero 
A igualdade de género  ou gênero  (também chamada de igualdade entre os sexos ou igualdade sexual) é um conceito que define a busca da igualdade entre os membros dos dois gêneros humanos, homens e mulheres. Em suma, é a equidade entre os gêneros, buscando combater as muitas formas de injustiça e desigualdade que existem no mundo. Tais injustiças e desigualdades atingem principalmente mulheres e meninas, levando a discriminações e diversas formas de violência. Enquanto o conceito pode referir-se às diferenças sociais entre homens e mulheres, estende-se a todo o espectro da identidade de gênero.
A Igualdade entre mulheres e homens é uma questão de direitos humanos e uma condição de justiça social, sendo igualmente um requisito necessário e fundamental para a igualdade, o desenvolvimento e a paz. A Igualdade de Género exige que, numa sociedade, homens e mulheres gozem das mesmas oportunidades, rendimentos, direitos e obrigações em todas as áreas. Devem e beneficiar das mesmas condições:
· no acesso à educação
· nas oportunidades notrabalho e na carreira profissional
· no acesso à saúde
· no acesso ao poder e influência
Tendo em conta as desigualdades e grandes assimetrias que persistem, a promoção da igualdade passa, um pouco por todo o mundo, pelo empoderamento das mulheres e pela melhoria da sua saúde sexual e reprodutiva, nomeadamente o acesso a planeamento familiar efetivo. Noutro nível de decisão, a introdução da perspectiva de género nas políticas é uma das ferramentas fundamentais de combate às desigualdades.
O empoderamento visa o equilíbrio de poder entre homens e mulheres, ao criar as condições para que a mulher seja autónoma nas suas decisões e na forma de gerir a sua vida.
De acordo com os dados do FNUAP, o Fundo das Nações Unidas para Desenvolvimento da População, proporcionalmente há mais mulheres pobres que homens. Ou seja: a pobreza é feminina. As desigualdades são óbvias em todas as áreas, como a saúde e educação.
Por outro lado, por razões fisiológicas e/ou sociais, as mulheres são mais vulneráveis a problemas de saúde sexual e reprodutiva. Os níveis de mortalidade e morbilidade materna permanecem elevados, constituindo uma forte preocupação nos países mais pobres.
Melhorar a educação e a saúde sexual e reprodutiva é vital para a diminuição da pobreza e melhoria de vida das pessoas que compõem as famílias. Existe uma relação direta entre a saúde da mulher, o seu empoderamento, o nível de educação e as condições de vida da sua família.
O nível de educação de uma mulher determina fortemente o padrão de vida da sua família bem como a educação, futuro e potenciais oportunidades dos seus filhos e filhas. As mulheres, principalmente nos países em desenvolvimento, exercem um papel central na sobrevivência e economia da família, quer como sustento, quer como responsáveis pela gestão da vida e recursos da família. Quando as mulheres, principalmente as que não estão em situação de pobreza e exclusão, não podem trabalhar por incapacidade ou doença, a sobrevivência da sua própria família está em causa.
2.2.1 Factos da desigualdade
A desigualdade de gênero é um problema antigo, porém atual. Desde os primórdios da humanidade, a maioria dos povos caminhou para o desenvolvimento de sociedades patriarcais, em que o homem detinha o poder de mando e decisão sobre a família. Esse modelo foi transposto do âmbito familiar privado para o âmbito público, fazendo com que sistemas políticos desenvolvessem-se pelo comando masculino.
Durante muito tempo, a mulher foi excluída da participação efetiva nos espaços públicos, do trabalho fora do âmbito doméstico e da possibilidade de desenvolvimento científico e intelectual por meio da educação formal, além de estarem submetidas (isso ainda ocorre) ao poder de homens de sua família, em geral seus pais e maridos. Eis a seguir alguns factos em descrevem essa desigualdade:
· As mulheres têm uma esperança de média de vida mais elevada que os homens, o que torna o apoio social muitas vezes insuficiente, dado que as mulheres estão sempre sobrecarregadas com o apoio a terceiros. Os cuidados de crianças, doentes e velhos recaem predominantemente sobre as mulheres.
· As mulheres e crianças são as grandes vítimas da exploração sexual.
· O desemprego afeta mais mulheres que homens.
· Por estarem mais sobrecarregadas, com a multiplicidade de tarefas domésticas e trabalho, as mulheres sofrem com a indisponibilidade de tempo para cuidar delas próprias.
· As políticas e serviços de saúde não estão ainda adaptados às necessidades de um género com “menos” tempo.
· De acordo com a Organização Mundial de Saúde, as mulheres manifestam maiores níveis de ansiedade e de depressão. Situações muitas vezes despoletadas pela pressão da vida quotidiana e não tanto com fatores biológicos.
· A violência doméstica afeta sobretudo as mulheres.
· Os salários para as mesmas funções são mais elevados para homens do que para mulheres.
· As mulheres contribuem para a economia através de trabalho remunerado, mas também através de trabalho não remunerado realizado em casa, mas as tarefas domésticas são simbolicamente desvalorizadas.
2.2.2 Promoção da igualdade de género
O sucesso das políticas e das medidas destinadas a apoiar ou a reforçar a promoção da igualdade entre os sexos e a melhoria do estatuto das mulheres, deve basear-se na integração de uma perspectiva de género nas políticas gerais relacionadas com todas as esferas da sociedade, assim como na implementação, a todos os níveis, de ações com suporte institucional e financiamento adequado.
A questão da igualdade de género adotou alguns objetivos estratégicos e respetivas medidas que têm orientado os governos na implementação de políticas de promoção da igualdade de género.
Os objetivos encontram-se divididos em seis grandes áreas:
Mulheres e pobreza
· Rever, adotar e manter políticas macro econômicas e estratégias de desenvolvimento que tenham em conta as necessidades das mulheres e apoiem os seus esforços para superar a pobreza;
· Rever a legislação e o processo administrativo para assegurar às mulheres a igualdade de direitos e de acesso aos recursos económicos;
· Proporcionar às mulheres o acesso aos mecanismos e instituições de poupança e crédito;
· Desenvolver metodologias com base no género e realizar investigação sobre feminização da pobreza.
Educação e formação das mulheres
· Assegurar a igualdade de acesso à educação;
· Eliminar o analfabetismo entre as mulheres;
· Aumentar o acesso das mulheres à formação profissional, à ciência e tecnologia e à educação permanente;
· Desenvolver uma educação e uma formação não discriminatórias;
· Atribuir recursos suficientes para a execução e acompanhamento das reformas educativas;
· Promover a educação e a formação ao longo da vida.
Mulheres e saúde
· Aumentar o acesso das mulheres, ao longo do seu ciclo de vida, a informação, cuidados e serviços de saúde adequados, acessíveis e de boa qualidade;
· Reforçar os programas de prevenção que promovam a saúde das mulheres;
· Desenvolver iniciativas que tenham em conta o género para fazer face às doenças sexualmente transmissíveis, ao HIV/SIDA, e às questões de saúde sexual e reprodutiva;
· Promover a investigação e difundir informação sobre a saúde das mulheres;
· Aumentar os recursos e acompanhar a evolução da saúde das mulheres.
Violência contra as mulheres
· Adoptar medidas integradas para prevenir e eliminar a violência contra as mulheres;
· Estudar as causas e as consequências da violência contra as mulheres e a eficácia das medidas preventivas;
· Eliminar o tráfico de mulheres e prestar assistência a mulheres vítimas de violência devido a prostituição e tráfico.
Mulheres e economia
· Promover a independência e os direitos económicos das mulheres, incluindo o acesso ao emprego, a condições de trabalho adequadas e ao controle dos recursos económicos;
· Facilitar o acesso das mulheres, em condições de igualdade, aos recursos, ao emprego, aos mercados e ao comércio;
· Proporcionar serviços comerciais, formação e acesso aos mercados, informação e tecnologia, particularmente às mulheres com baixos rendimentos;
· Reforçar a capacidade económica e as redes comerciais das mulheres;
· Eliminar a segregação profissional e todas as formas de discriminação no emprego;
· Fomentar a harmonização das responsabilidades das mulheres e dos homens no que respeita ao trabalho e à família.
Mulheres no poder e tomada de decisão
· Adoptar medidas que garantam às mulheres a igualdade de acesso e a plena participação nas estruturas de poder e de tomada de decisão;
· Aumentar a capacidade de participação das mulheres na tomada de decisão e na liderança;
· Criar ou reforçar os mecanismos nacionais e outros organismos governamentais;
· Integrar a perspectiva de género na legislação, nas políticas, programas e projetos oficiais;
· Promover formas não violentas de resolução dos conflitos e reduzir a incidência de violações de direitos humanos em situações de conflito;
· Promover a contribuição das mulheres para a criação de uma cultura de paz;
· Proporcionar proteção, assistência e formaçãoàs mulheres refugiadas e a outras deslocadas que precisem de proteção internacional dentro do próprio país;
· Proporcionar assistência às mulheres das colónias e dos territórios sem autonomia.
3. CONCLUSÃO 
Ao fazer o trabalho tive a conclusão de que a desigualdade entre homens e mulheres é uma marca cultural que aparece em todo o ocidente. As constituições estabelecem a igualdade como princípio fundamental da desigualdade, mas sabe-se que a igualdade constitucional não acaba com a discriminação entre homens e mulheres que tem acompanhado a história da civilização. A desigualdade entre os sexos é historicamente construída e sua face mais cruel é a violência praticada contra a mulher. 
Ao longo da construção deste trabalho deparou-se com questões relacionadas com o conhecimento, a finalidade, o objecto ou alvo dos direitos humanos, nomeadamente no contexto socio cultural em Moçambique. Tais questões, mais outras tantas que não foram aqui levantadas, mostraram que Moçambique é um dos países que ainda precisa de fazer muito trabalho com a finalidade de criar uma cultura, quer social quer académica, em volta dos direitos humanos. É paradigmático de quanto longo e dificultoso ainda seja o caminho para a plena afirmação de uma cultura de respeito da dignidade e das peculiaridades de cada ser humano.
A violência contra a mulher é o atestado desrespeito aos Direitos Humanos invocados por todas declarações. Portanto, faz-se necessário romper com os limites postos pelas relações de poder imbricadas, ressaltando-se o compromisso do Estado em prover e assegurar que os direitos humanos não sejam violados, observando as particularidades e transformações políticas, econômicas, culturais e sociais, buscando a real efetivação dos mecanismos que primam pela igualdade, tendo em vista um projeto societário emancipatório, apontando para a construção de uma sociedade sem desigualdades de classe, gênero e raça/etnia ou, pelo menos, com menor desigualdade.
Porém, a tarefa de expandir a cultura dos direitos humanos em Moçambique, não deve estar somente nas mãos dos académicos, mas em todas as instituições e meios passiveis de o fazer como por exemplo nas escolas do ensino básico, nas universidades, nas instituições de formação profissional, etc. Por exemplo, os currículos dos vários graus de ensino deveriam englobar a dimensão dos direitos humanos como matéria obrigatória e ao mesmo tempo transversal para todos os níveis.
4. REFERÊNCAS BIBLIOGRÁFICAS
1. ABRAHAMSSON, H. & NILSSON, A. (1995). Mozambique: the troubled transition – from socialist construction to free market capitalism. London: Zen Books 
2. AI (Amnesty International) (2008). Licença para matar. London: Amnesty International 
3. AI (Amnesty International) (2009). Thirteen die in Mozambican police cell, 20 March 2009. Disponível em: http://www.refworld.org/docid/49c7455b1.html 
4. AI (Amnesty International) (2015). Deadly Force. Use of Lethal Force in the United States. Executive Summary. New York: Amnesty International USA 
5. AI (Amnesty International) (2018). Mozambique 2017-2018. Disponível em: https://www.amnesty.org/en/countries/africa/mozambique/report-mozambique/ 
6. AIM (Agência de Informação de Moçambique) (2012).
7. ARNAÇA, F. (2017). Queremos documentar e não lamentar violações. Notícias, 18/12/2017, p. 2 
8. ARTIFONI, E. (1998). Storia medievale. Roma: Donzelli 
9. ASANTE, M.K. (1980). Afrocentricity: The Theory of Social Change. Chicago: African American Images 
10. ASANTE, M.K. (2000). The Egyptian Philosophers. Philadelphia: African American Imae 
11. Banco Mundial já canta e dança. Savana, 08/02/2008 
12. BASSANELLI SOMMARIVA, G. (2013). Il codice teodosiano e il codice giustiniano posti a confronto. “Mélanges de l’École Française de Rome”, 125 (2)
ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO	1
1.1 Objectivo geral	1
1.2 Objectivos específicos	1
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA	2
2.Direitos Humanos	2
2.1.1 Direitos Humanos na Constituição de 1975 – Moçambique	2
2.1.2 Direitos Humanos e Constituição da Viragem Democrática de 1990- Moçambique	3
2.1.3 Direitos Humanos na Constituição de 2004 - Moçambique	4
2.1.4 A Situação dos Direitos Humanos em Moçambique nos Últimos Anos (2015-2017)	5
2.1.5 Declaração Universal dos Direitos Humanos	6
2.2 Igualdade de gênero	7
2.2.1 Factos da desigualdade	9
2.2.2 Promoção da igualdade de género	10
3. CONCLUSÃO	13
4. REFERÊNCAS BIBLIOGRÁFICAS	14
2

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