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A biogeografia na geografia escolar, uma reflexão a partir de livros didáticos de ensino médio

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A BIOGEOGRAFIA NA GEOGRAFIA ESCOLAR: UMA REFLEXÃO A PARTIR DE 
LIVROS DIDÁTICOS DE ENSINO MÉDIO1 
 
Ivan de Matos e Silva Junior2 
Davi Santos Araújo3 
Odicleide Coutinho do Nascimento4 
 
GT2 – Educação e Ciências Humanas e Socialmente Aplicáveis 
 
Resumo: Nos cursos superiores de formação de professores de Geografia, as práticas de ensino de 
biogeografia têm empreendido leituras cientificistas e dicotômicas, o que tem reverberado na educação 
geográfica escolar. Compreendendo a Geografia como componente curricular que integra as análises 
integradas entre natureza e a sociedade, tendo como foco o espaço geográfico, o presente artigo 
pretende apresentar as abordagens dos conteúdos de biogeografia veiculados em livros didáticos de 
Geografia de Ensino Médio, afim de identificar as perspectivas adotadas, e sobretudo, se as mesmas 
dão conta de uma leitura socioambiental. Trata-se de um estudo teórico, pautado em levantamento 
bibliográfico concernente à Geografia escolar. Dentre alguns resultados, constatou-se, ao longo das 
publicações didáticas, uma significativa incorporação de temas e conceitos de biogeografia filiados às 
questões ambientais, embora não incorporem fundamentalmente uma abordagem socioambiental. 
 
Palavras-chave: Geografia escolar. Biogeografia. Livro didático. Ensino médio. 
 
 
BIOGEOGRAPHY IN SCHOOL GEOGRAPHY: A REFLECTION ON SECONDARY 
SCHOOL TEXT BOOKS 
 
Abstract: In higher education courses that qualify geography teachers, the teaching of biogeography 
has taken on scientisic and dichotomous attitudes and practices, which then reverberate in geography 
education in schools.Understanding geography as a school curriculum subject which integrates an 
analysis of both nature and society, with a focus on geographic space, this article aims to identify and 
present the perspectives concerning biogeography found in secondary school geography textbooks, in 
order to identify whether a social-environmental approach is used.This is a theoretical study based on 
the literature concerning school geography. The results demonstrate that throughout the textbooks, 
although there is significant incorporation of biogeography themes and concepts aligned with 
environmental issues, a socio-environmental approach has not been fundamentally incorporated. 
 
Keywords: School geography. Biogeography. Text book. Secondary school. 
 
 
 
1 O presente artigo é fruto de pesquisa em nível de iniciação científica em Geografia, financiada pelo Instituto 
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia. 
2 Doutorando em Ensino, Filosofia e História das Ciências (UFBA/UEFS). Mestre em Geografia (UFBA), 
Especialista em Gestão Ambiental (FACCEBA) e Licenciado em Geografia (UEFS). Professor de Geografia do 
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia campus Salvador, além de líder do grupo de 
pesquisa Geopraxis – A Prática do Ensino e da Pesquisa em Geografia do IFBA. Email: ivan.matos@ifba.edu.br 
3 Estudante do curso de Licenciatura em Geografia da UFBA. É integrante do grupo de pesquisa Geopraxis – A 
Prática do Ensino e da Pesquisa em Geografia do IFBA - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da 
Bahia, campus Salvador. Email: davi.araujo@gmail.com. 
4 Estudante do curso de Licenciatura em Geografia do IFBA. É integrante do grupo de pesquisa Geopraxis – A 
Prática do Ensino e da Pesquisa em Geografia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia, 
campus Salvador. Email: odicleide@ifba.edu.br. 
Introdução 
 
A biogeografia é o campo do saber que historicamente estuda a distribuição das espécies 
vegetais e animais na superfície terrestre, sendo que sua abordagem na geografia escolar 
aparece, na maioria das vezes, atrelada aos conteúdos da geografia física, fato que aponta a 
dicotomização do saber geográfico, resultado dos problemas epistemológicos da Ciência 
Geográfica. De acordo com Capel (1980) apud Figueiró (2011), o percurso epistemológico da 
Geografia deu-se a partir de um movimento semelhante ao de um pêndulo, entre 
posicionamentos positivistas e historicistas, em que as abordagens partiam desses extremos e 
não se conectavam. Mas nem sempre foi assim. Dentro da história da biogeografia, 
aconteceram várias tentativas de integrar a perspectiva dos fenômenos naturais aos fenômenos 
sociais. Segundo RATZEL(1990) apud Albuquerque, E.S .et al (2004, p.144): 
 
Foi com F. Ratzel, na obra Antropogeografia, escrita ainda em fins do séc. XVIII, 
que surgiu uma das primeiras tentativas de propor um estatuto científico para a 
Biogeografia, assentado justamente numa visão integrada ao social. Ratzel entendia 
que a Geografia teria como tema principal a influência que as condições naturais 
exercem na humanidade e, consequentemente, na história dos povos. Para o “pai da 
geopolítica”, o estudo da ação dos elementos naturais sobre a evolução da sociedade 
seria o objeto primordial da pesquisa antropogeográfica; em seguida, viria o estudo 
da distribuição das sociedades humanas no globo para, finalmente, ser então 
possível o entendimento da formação dos territórios. (2004, p. 144) 
 
Apesar do seu pensamento, Ratzel não alcançou esse objetivo, pois o método científico da 
época impusera a ideia positivista de distanciamento entre sujeito e objeto, acontecimento 
que, na biogeografia, ocasionou um maior distanciamento entre as temáticas físico-naturais e 
as sociais. Entretanto, na atualidade, esse paradigma científico vem sendo questionado, pois já 
não é possível conceber o conhecimento de forma fragmentada, e todo esse processo tem 
ressoado na Geografia em que: 
 
os problemas contemporâneos produzidos pelo acelerado processo de globalização 
da natureza (Porto Gonçalves, 2006), pautado pela ‘crise de saberes’ e práticas 
científicas fragmentadas(Riojas,2003) tem levado a geografia a um debate 
ontológico, recuperando o sentido original do fazer geográfico enquanto prática de 
uma ‘ciência aberta’( Reybaud,1976), ou seja, uma ciência capaz de dialogar com a 
complexidade, articulando aportes de diferentes naturezas na busca do entendimento 
do seu objeto ( FIGUERÓ, 2011,p.18). 
 
E, dentro desse contexto, a biogeografia deve aproximar-se mais de uma perspectiva geo-bio-
sociocultural (FIGUEIRÓ, 2011), uma vez que já não cabe à biogeografia apenas analisar a 
distribuição espacial das espécies, como tem feito historicamente, pautada apenas em 
abordagens físico-naturais. O espaço globalizado e de relações extremamente flexíveis requer 
da biogeografia um posicionamento que acolha o fator antrópico em suas análises, como 
elemento decisivo nos padrões distributivos de biodiversidade, o que qualificaríamos como 
biogeografia cultural, ou seja, a Biogeografia passa a inserir o homem e suas ações como 
objeto de estudo, não prescindindo do meio físico (FIGUEIRÓ, 2015, SIQUEIRA, 2012). 
A partir desses pressupostos, a geografia escolar e o livro didático não podem estacionar no 
paradigma científico que está sendo questionado, eles devem remodelar-se e trazer dentro de 
seus escopos uma abordagem integradora da Ciência Geográfica e do ensino de temáticas 
biogeográficas. 
 
Sabe-se que, na educação brasileira, o recurso didático mais utilizado é o livro didático, e no 
ensino de Geografia essa realidade não é diferente. Segundo Pina (2009), a história do livro 
didático no Brasil aparece entrelaçada com a história das disciplinas escolares. À medida que 
a disciplina avançava, os livros didáticos eram criados. Ainda de acordo com Choppin (2004) 
apud Pina(2009), o livro didático exerce 4 funções essenciais: a de referência, a de 
instrumento, a ideológica ou cultural e a função documental. Dessa forma, o livro didático 
tinha a função de currículo, de definir os conteúdos das aulas, e, sobretudo, assumir a função 
guia ou o manual do professor, bem como a função de incutir nos usuários,uma cultura, uma 
ideologia proveniente das classes dominantes, assumindo, dessa forma, o papel de controlar o 
processo de ensino-aprendizagem. Assim como também tem a função de documento, pois 
pode documentar o currículo e a ideologia vigente de uma época. 
 
A partir desse referencial, é possível perceber todas as relações abstratas e complexas que 
envolvem o processo de produção, escolha e uso dos livros didáticos. Em se falando de 
intencionalidades, não é possível deixar de pensar no grande enfoque da Geografia Escolar 
em determinados conteúdos e no quadro dicotômico que ela reflete. Inúmeras coleções 
didáticas empreendem setorizações, a partir de referenciais teóricos da Geografia Tradicional 
de forte tradição positivista, apesar das inúmeras iniciativas e esforços de renovação de seu 
ensino na atualidade; esforços esses tributários da década de 1970, com a incorporação da 
Geografia Crítica na década de 1970, de forte alinhamento com pressupostos teóricos de 
cunho marxista (MORAES, 2002). 
 
Desse modo, a produção do material didático para o ensino de Geografia no Brasil ainda 
continua dentro do paradigma tradicional cartesiano, o que tem reverberações nas práticas de 
ensino de conteúdos, especialmente aqueles considerados de geografia física, a exemplo da 
biogeografia, climatologia, geomorfologia, geologia, geomorfologia, hidrogeografia e 
pedologia. 
 
É a partir da necessidade de discutir e enfatizar o encaminhamento integrado do ensino de 
Biogeografia na Geografia Escolar que se torna fundante a análise de livros didáticos. Sabe-se 
que o ensino de temáticas biogeográficas ocupa a parte das abordagens físico-naturais 
estanques que não levam em consideração a importância do fator humano nos processos de 
distribuição e conservação das espécies animais e vegetais (FIGUEIRÓ, 2015). Logo, torna-se 
oportuna a transição do ensino de uma biogeografia físico-natural para uma biogeografia que 
incorpore a dimensão socioambiental, própria da Geografia, e de criar as condições de 
problematizar o ensino de geografia, a partir de abordagens de natureza interdisciplinar. No 
entanto, longe de trazer um aprofundamento da querela antiga entre a geografia física e 
humana, o presente artigo propõe-se a apresentar e trazer alguns elementos que, de alguma 
forma, tensionam, internamente, tal querela, a partir da análise de uma biogeografia em livros 
escolares, que se apresenta anacrônica e filiada ainda ao paradigma cartesiano. 
 
 
Metodologia 
 
O presente artigo é resultado da pesquisa intitulada “A natureza da biogeografia no ensino de 
geografia: uma análise a partir dos livros didáticos do ensino médio”, realizada no período de 
2013-2014, que teve como propósito avaliar o panorama atual dos estudos da natureza na 
geografia escolar, a partir dos conteúdos de biogeografia veiculados nos livros didáticos. 
Atendendo às orientações sinalizadas ao longo da pesquisa de iniciação científica, o presente 
artigo traz uma análise de livros didáticos, a partir dos conceitos e temas levantados que 
tenham aderência com a biogeografia. Para tanto, a presente reflexão baseou-se 
fundamentalmente na leitura de livros e artigos tanto no campo do ensino da Geografia como 
nos aspectos teórico-conceituais de biogeografia. Após o conhecimento e aprofundamento 
das referências, partiu-se para seleção dos livros de análise, atendendo o critério da 
temporalidade da publicação. 
 
Após seleção, procurou-se diagnosticar os conteúdos de geografia física, especialmente da 
biogeografia, empregados nos livros didáticos. Além disso, diante desse levantamento 
qualitativo, procurou-se investigar o conceito de biogeografia e a importância da mesma no 
ensino de geografia, bem como investigar se os livros didáticos selecionados criam condições 
ou possibilidades didático-pedagógicas de diálogo da biogeografia com os demais conteúdos 
da chamada geografia física e humana. Além disso, foi investigado o currículo dos autores, a 
fim de perceber se há correlação entre a trajetória acadêmica dos mesmos e a trajetória de 
constituição dos livros didáticos em apreço. 
 
 
1 A biogeografia no livro didático de geografia 
 
Entendendo que todo livro didático se configura como uma produção cultural, que apresenta 
em si uma concepção curricular de sujeito e de sociedade (PONTUSCHKA, 2009), procurou-
se realizar a escolha por década e autores diferentes. Esse resgate temporal foi entendido 
como algo necessário, no intuito de perceber se há permanências de conteúdos e temas, como 
também se houve mudanças teórico-conceituais. Vale ressaltar que, no caso brasileiro, a 
escolha do livro didático está condicionada aos critérios adotados pelo MEC, através do 
Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). Desse modo, foram selecionados livros da 
década de 1980, 1990, 2000 e 2010, conforme indicação abaixo: 
 
 
 
 
Título: 
 O espaço geográfico: 
geografia geral e do 
Brasil. 
Ano de publicação: 
1980 
Autoria: 
 Igor Antônio Gomes 
Moreira. 
Título: 
Geografia: uma análise do 
espaço geográfico 
Ano de publicação: 1990 
Autoria: 
 Pedro Coimbra e José 
Tibúrcio. 
Título: 
 Conexões: estudos de 
geografia geral e do 
Brasil. 
Ano de publicação: 
2000 
Autoria: 
 Lygia Terra et al. 
Título: 
Geografia Geral e do 
Brasil: espaço geográfico e 
globalização. 
Ano de publicação: 2012. 
Autoria: 
Eustáquio de Sene e João 
Carlos Moreira. 
Figura 1: Livros didáticos adotados na pesquisa 
 
Antes mesmo da apresentação sucinta de cada publicação didática assinalada acima, faz-se 
necessário trazer algumas considerações gerais das obras estudadas, especialmente quanto à 
formação dos autores e, por consequência, à produção regional dessas obras didáticas. Esses 
aspectos são igualmente relevantes, uma vez que apresentam reverberações significativas 
quanto à abordagem da Natureza e, especialmente, dos conteúdos de biogeografia nos livros 
didáticos. Uma primeira consideração diz respeito à formação dos autores. Todos apresentam 
formação em Geografia, uns com inclinações de pesquisa voltadas para a geografia humana, 
outros com predileções endereçadas à geografia física. 
 
Embora toda publicação didática deva atender às prerrogativas do MEC, ainda assim, é 
possível identificar prioridades relacionadas às grandes subáreas de pesquisa em Geografia. 
Nesse sentido, os conteúdos físico-naturais, especialmente os de natureza biogeográfica, 
ficam, em parte, à mercê dos campos temáticos dos autores. Outro aspecto importante, que 
reflete na proposta curricular desses livros, está relacionado ao espaço de formação desses 
profissionais, sendo a maioria proveniente do Centro-Sul do país, correspondendo 
fundamentalmente à localização dessas editoras. Em poucas ou raras vezes, reconhece-se o 
resgate de outras realidades regionais, de forma mais aprofundada. Os livros procuram 
resgatar, de forma geral, a realidade brasileira e mundial, mas não criam satisfatoriamente 
abordagens que resgatem as particularidades regionais, especialmente quanto às 
fitofisionomias dos lugares de vivência dos estudantes, tornando-os distantes de seus 
contextos de vida. Tal fato recai na questão das abordagens físico-naturais, a partir da 
problematização das peculiaridades locais até particularidades regionais, nacionais e mundiais 
(MATOS, 2013). Além disso, tais abordagens físicas, sob tratamento didático-pedagógico, 
devem atender a noção de que “só é possível entender as temáticas físico-naturais como 
natureza apropriada e transformada quando compreendemos como são a gênese e a dinâmica 
físico-natural desse ambiente e como ela e a sociedade formam uma totalidade” (MORAIS, 
2013, p. 22). 
 
Deste modo, a descrição e análise dos livros, que se apresentam a seguir, refletem, no âmbito 
dos conteúdos de biogeografia, esse quadro desigual da produção do livro didático no país, 
embora admita-se que importantes avançossurgiram em sua apresentação, a forma como 
aborda os conteúdos, facilitando a compreensão de temas e conceitos próprios da Geografia. 
O livro “O espaço geográfico: geografia geral e do Brasil”, publicado na década de 1980, de 
autoria do professor Igor Antônio Gomes Moreira, resgata, em sua parte introdutória, a 
compreensão da Geografia enquanto ciência, identificando conceitos, concepções e princípios 
metodológicos aplicados no campo da Geografia. Seguindo uma corrente tradicional da 
Geografia, o livro expressa, em primeiro plano, todos os conteúdos da geografia física, depois 
os conteúdos da geografia humana. Essa dicotomização está presente nessa publicação 
didática, tendo em vista a influência do cartesianismo na Geografia acadêmica e 
especialmente reproduzida nas instituições escolares. Desse modo, é possível identificar os 
conteúdos de biogeografia inclusos, em sua maioria, no bloco da geografia física, ganhando 
destaque especial na abordagem das paisagens naturais. 
 
Além disso, os conteúdos de interesse biogeográfico encontram-se em outros capítulos 
relacionados aos demais fatores naturais. Ainda que situado do contexto das temáticas físico-
naturais, não assinala diálogos internos com essas temáticas. A biogeografia, vez ou outra, 
aponta algumas relações pontuais, mas pouco significativas com a pedologia (estudo dos 
solos) e das rochas (geologia). O diálogo interno da biogeografia com os demais campos da 
geografia física é confirmado com a climatologia, especialmente quando se aborda a temática 
das coberturas vegetais, assinalando como algo importante para o equilíbrio bioclimático. No 
âmbito da chamada geografia humana, a única possibilidade de interface com a biogeografia é 
sugerida quando o tema do desmatamento e da queimada resgata a importância da 
preservação e conservação desses recursos naturais. 
 
O livro “Geografia: uma análise do espaço geográfico”, publicado na década de 1990, de 
autoria dos professores Pedro Coimbra e José Tibúrcio, resgata, na introdução da obra, a 
compreensão da Geografia enquanto ciência, identificando especialmente o compromisso 
socioambiental do geógrafo na atualidade. Diferentemente do livro anterior, quanto à 
distribuição dos conteúdos das temáticas físico-naturais e humanas, percebe-se 
estruturalmente que os autores procuram problematizar primeiro os conteúdos da geografia 
humana, sendo que as temáticas que dizem respeito à natureza são apresentadas ao final e de 
forma segmentada. Ainda que fragmentada, uma contribuição diferente desse livro quanto às 
temáticas de interesse biogeográfico está atrelada à sinalização de temáticas da zoogeografia, 
enquanto um dos capítulos do livro. Isso é importante pontuar, porque não há uma tradição da 
Geografia, especialmente da geografia física, em dar visibilidade às temáticas de interesse 
zoogeográficos, ficando a cargo da Biologia. Isso é verdade, pois a tradição geográfica em 
biogeografia está vinculada às questões das distribuições espaciais das coberturas vegetais, ou 
seja, da fitogeografia, dentro de uma visão mais macroscópica (SIQUEIRA, 2012). Essa 
dicotomização entre geografia física e humana, como fica assinalada nesta obra, reserva para 
a biogeografia sua abordagem mais incisiva nas temáticas físico-naturais, situadas ao final da 
publicação didática. 
 
Ainda assim, nas questões de interesse da geografia humana, são abordadas, ainda que 
timidamente, temáticas de interesse ambiental, em que a biogeografia é apresentada quanto se 
refere às práticas de fitocídio, tais como supressão vegetal via queimadas e desmatamento. 
Além disso, os conteúdos de interesse biogeográfico encontram-se em outros capítulos 
relacionados aos demais fatores naturais. Ainda que predominantemente situada do contexto 
das temáticas físico-naturais, a biogeografia dialoga, fundamente, entre si e especialmente 
com a climatologia. A biogeografia, vez ou outra, aponta algumas relações pontuais, mas 
pouco significativas, com a pedologia e a geologia. O diálogo interno da biogeografia com os 
demais campos da geografia física diz respeito à climatologia, especialmente quando a 
temática das coberturas vegetais é assinalada como algo importante para o equilíbrio 
bioclimático, como ficou assinalado pela obra anterior. 
 
A obra “Conexões: estudos de geografia geral e do Brasil”, publicada na década de 2000, de 
autoria dos professores Lygia Terra et al, apresenta uma abordagem do espaço geográfico, a 
partir do entendimento das técnicas, uma particularidade que distingue das outras publicações 
didáticas assinaladas anteriormente. Isso é importante ressaltar, uma vez que a temática da 
técnica assume uma centralidade fundante no tocante às novas formas e meios utilizados pelas 
sociedades para instrumentalizar-se e se apropriar da Natureza. As temáticas físico-naturais 
são apresentadas no meio do livro e dialogando com questões ambientais. Outro aspecto 
importante diz respeito à inserção mais ampliada das temáticas físico-naturais na geografia 
humana, por vezes, aparecendo no molde de boxes informativos, incluindo textos de jornais 
de circulação nacional, infográficos, gráficos e demais recursos visuais. Das publicações 
estudadas, esta última é a que apresenta um número maior de situações didático-pedagógicas 
que se aproximam de abordagens integradas em Geografia. 
 
Outro aspecto que merece destaque é que essa obra didática, da mesma forma que as outras, 
não aborda temas de interesse biogeográfico em contextos urbanos. A biogeografia, ainda 
nesse contexto, reporta-se ao recorte dos espaços rurais que vão desde a escala global à 
regional. A biogeografia abordada está atrelada predominantemente às temáticas da 
fitogeografia difusa nos aspectos naturais do espaço geográfico. Esse dado corrobora o fato de 
que, em geografia, há uma tradição de estudo aos aspectos fitogeográficos, enquanto a 
zoogeografia está mais amparada na biologia. Ainda assim, nas questões de interesse da 
geografia humana, são abordadas, ainda que timidamente, temáticas de interesse ambiental, 
em que a biogeografia é apresentada quanto se refere às práticas de supressão vegetal, via 
queimadas e desmatamento. Ainda que predominantemente situada do contexto das temáticas 
físico-naturais, a biogeografia dialoga de forma difusa com os conceitos e temas com aspectos 
da geografia física e geografia humana. 
 
A coleção didática “Geografia Geral e do Brasil: espaço geográfico e globalização”, publicada 
no ano de 2012, de autoria conjunta de Eustáquio de Sene e João Carlos Moreira, trata-se de 
uma publicação didática em 3 volumes. Fica evidente, mediante consulta ao sumário e a partir 
da análise do conteúdo dos volumes, que a geografia física e, particularmente, a biogeografia 
são bem representadas no primeiro volume da coleção, junto com conteúdo de cartografia e 
demais geotecnologias. As temáticas biogeográficas são apresentadas no diálogo com 
questões ambientais, especialmente relacionadas ao desmatamento e queimadas. A publicação 
didática apresenta boxes informativos, incluindo textos de jornais de circulação nacional, 
infográficos, gráficos e demais recursos visuais, que auxiliam na compreensão dos conteúdos, 
o que contrasta fundamentalmente com a primeira obra, restringindo-se apenas, por sua vez, 
em exercícios de fixação e glossário informativo. Da mesma forma que as publicações 
didáticas anteriores, essa obra não aborda temas de interesse biogeográfico em contextos 
urbanos; o que exigiria a inclusão desse tema em livros didáticos, dada sua importância 
socioambiental. 
 
Os outros dois volumes da coleção enfatizam os temas de interesse da chamada Geografia 
Humana. A natureza, ao longo desses volumes, é vista como recurso e, portanto, assume a 
condição de fator primordial para o desenvolvimento das nações. Esse posicionamento dos 
autores fica claro, especialmente nas questões de natureza energética,em que a biomassa e os 
biocombustíveis são colocados no âmbito do discurso como recursos alternativos. Nas 
questões de natureza agrária-rural, resgata-se a Revolução Verde e a questão da biorrevolução 
como signos de modelos agrários que repercutem negativamente os sistemas ecológicos e 
ambientais, especialmente nas coberturas vegetais e na biodiversidade. Como nas outras 
obras, a biogeografia reporta-se ao recorte dos espaços rurais que vão desde a escala global à 
regional. A biogeografia abordada está atrelada predominantemente às temáticas da 
fitogeografia difusa nos aspectos naturais do espaço geográfico. Esse dado corrobora o fato de 
que, em geografia, há uma tradição de estudo aos aspectos fitogeográficos, enquanto a 
zoogeografia está mais amparada na biologia. De forma semelhante à publicação anterior, é 
possível reconhecer o uso de infográficos e demais recursos imagéticos como recursos 
facilitadores da aprendizagem. 
 
Na perspectiva temporal, ou seja, observando a evolução de conceitos e temas biogeográficos 
ao longo das 4 publicações didáticas, reconheceu-se que houve um avanço na exposição de 
conceitos mais filiados às questões ambientais, mas ainda muito filiadas às perspectivas 
físico-naturais. O conceito de conservação e biodiversidade aparece aos poucos. O que 
significa um avanço do ponto de vista teórico-conceitual, uma vez que a temática da 
conservação, em especialmente da conservação da biodiversidade, sempre estive ancorada no 
campo das ciências biológicas. Esse dado sugere a necessidade de estudos no campo da 
biogeografia cultural em espaços urbanos e a ampliação do tema da conservação da 
biodiversidade nos estudos geográficos, já que este apresenta uma abordagem, por vezes, 
incipiente nos livros didáticos. Faz-se necessário, sobretudo, introduzir nas publicações 
didáticas, especialmente em livros do Ensino Médio, a temática da biogeografia urbana, 
atrelada aos riscos de desastres associados às práticas de supressão vegetal, dada sua 
inexistência na proposta curricular dessas obras. 
 
 
2 Considerações finais 
 
O estudo dos livros didáticos indicou uma significativa abordagem de temas e conceitos de 
interesse biogeográfico tanto na subárea da geografia física quanto na geografia humana, 
sendo que há uma predominância dos conteúdos no campo da geografia física. A biogeografia 
é apresentada de forma transversal no campo da geologia, geomorfologia, hidrogeografia e 
especialmente da climatologia. Um aspecto importante diz respeito à veiculação dos 
conteúdos de paleobiogeografia tão somente na abordagem geológica, em que tais conteúdos 
são explicitados especialmente na escala geológica do tempo. A biogeografia ecológica ainda 
que perpasse os demais campos da geografia física, ganha corpo de forma mais explicita nas 
questões ambientais, em que são abordados os impactos de natureza antropogênica em 
espaços rurais. 
 
Na perspectiva temporal, ou seja, observando a evolução de conceitos e temas biogeográficos 
ao longo das 4 publicações didáticas, reconheceu-se que houve um avanço na exposição de 
conceitos mais filiados às questões ambientais, mas ainda muito filiadas às perspectivas 
físico-naturais. O conceito de conservação e biodiversidade aparecem aos poucos. O que 
significa um avanço do ponto de vista teórico-conceitual, uma vez que a temática da 
conservação e, especialmente da conservação da biodiversidade, sempre estiveram ancoradas 
no campo das ciências biológicas. 
 
Os livros não sinalizaram ou problematizaram conteúdos de biogeografia urbana, o que a 
priori, indica a necessidade de inserção de temas e conceitos, especialmente a temática da 
arborização urbana e das florestas urbanas e suas implicações bioclimáticas e 
socioambientais. Desse modo, surge a necessidade de estudos no campo da biogeografia em 
espaços urbanos e a ampliação do tema da conservação da biodiversidade nos estudos 
geográficos, já que este apresenta uma abordagem, por vezes, incipiente nos livros didáticos. 
Faz-se necessário, sobretudo, introduzir nas publicações didáticas, especialmente em livros do 
Ensino Médio, a temática da biogeografia urbana, atrelada aos riscos de desastres associados 
às práticas de supressão vegetal, dada sua inexistência na proposta curricular dessas obras. 
 
 
Referências 
 
ALBUQUERQUE, E.S et al. A nova natureza do mundo e a necessidade de uma Biogeografia 
social. Geosul, v.19, n.38, 2004. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/geosul/ 
Acesso em: 15 de ago. 2015. 
 
FIGUEIRÓ, A. S. Tradição e mudança em geografia física: apontamentos para um diálogo 
interno. In: FIGUEIRÓ, A. S.; FOLETO, E. (Orgs.). Diálogos em Geografia Física. Santa 
Maria: Editora UFSM, 2011. 
 
______. Biogeografia: dinâmicas e transformações da natureza. São Paulo: Oficina de 
Textos, 2015. 
 
MATOS, I. A biogeografia vista do lado de cá. In: SEABRA, G (Org.). Educação 
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