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1 Felipe Altimari 4 – Ciclo menstrual e SOP Problema: Hormônios à flor da pele... Diagnosticada aos 16 anos de idade, a norte americana Miranda Nodine, 28 anos, resolveu parar de tentar se livrar dos pelos excessivos em seu corpo, uma das causas do distúrbio hormonal que provoca o crescimento indesejado de pelos com madrão masculino no rosto (face), no peito (tórax), nas pernas e nas costas. A jovem, que mora na Virginia, contou ao “Daily Mail” que no começo ficava desesperada em esconder sua condição e que gastava até 5 horas se depilando e escolhendo roupas que cobrissem suas pernas, colo e ombros. Obesidade, irregularidade menstrual com ciclos oligomenorréicos, infertilidade, hipertensão e acantose nigricans são sintomas que acompanham a vida da norte-americana. Assim como Miranda, cerca de 10% das mulheres sofrem do mesmo problema Objetivos: 1-Caracterizar o ciclo menstrual 2-Caracterizar a SOP . 2 Felipe Altimari CICLO MENSTRUAL INTRODUÇÃO Define-se ciclo menstrual normal como aquele com 28 ± 7 dias, fluxo durando 4 ± 2 dias, e perda média de 20 a 60 ml de sangue. Por convenção, o primeiro dia de sangramento vaginal é considerado o primeiro dia do ciclo menstrual. Os intervalos entre ciclos menstruais variam entre as mulheres e, com frequência, em uma mesma mulher em épocas diferentes de sua vida reprodutiva. O ciclo menstrual varia menos entre 20 e 40 anos de idade. Quando observado sob a perspectiva da função ovariana, o ciclo menstrual pode ser definido em fase folicular pré-ovulatória e fase lútea pós-ovulatória. As fases correspondentes no endométrio denominam-se fase proliferativa e fase secretora. Para a maioria das mulheres, a fase lútea do ciclo menstrual é estável, durando entre 13 e 14 dias. Consequentemente, variações no período do ciclo normal geralmente resultam de variações na duração da fase folicular. EIXO HIPOTÁLAMOHIPÓFISE-GÔNADAS O clico menstrual é consequência da interação entre 3 entidades anatômicas: hipotálamo, hipófise, ovário e útero. Embora seja evidente que o hipotálamo desempenha um papel central na iniciação do ciclo menstrual, está igualmente claro que a ciclicidade endócrina é consequência da relação de feedback entre a secreção ovariana e o eixo hipotálamo-hipófise. O útero desempenha um papel eminentemente passivo, apesar de sua importância na concepção. Hipotálamo GnRH Hipófise LH FSH Ovários Estrógeno Progesterona Hipotálamo O hipotálamo encontra-se na base do cérebro, imediatamente acima da junção dos nervos ópticos. Seus neurônios são especialmente importantes na produção dos hormônios: hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH), hormônio liberador do hormônio de crescimento (GHRH), hormônio liberador de corticotrofinas (CRF), hormônio liberador de tireotrofinas (TRH). Em relação à produção do GnRH, O hipotálamo é influenciado tanto por sinais extrínsecos e intrínsecos ao SNC, quanto pelo controle do ovário. A influência exercida pela secreção ovariana sobre o hipotálamo é denominada de feedback, sendo este positivo quando os esteroides ovarianos estimulam a produção do GnRH, e negativo quando a secreção ovariana inibe a produção do GnRH. Além disso, o próprio GnRH controla sua produção, agindo diretamente no hipotálamo, então quando está disponível em grande quantidade ele atua reduzindo sua produção, já quando está presente em níveis baixos, age estimulando sua liberação. O hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH), produzido no hipotálamo, exerce papel obrigatório no controle da secreção de gonadotrofinas, como o próprio nome indica. Sendo responsável pela indução da liberação destas substâncias pela hipófise anterior. O hipotálamo apresenta ciclos característicos de liberação de seus produtos (GnRH, TRH, ACTH etc.) devido a centros tipo marcapasso. Algumas dessas substâncias são liberadas periodicamente. Outras, em ciclos circadianos, que podem estar relacionados a situações fisiológicas, como o ciclo do sono ou ingestão de alimentos, entre outros estímulos. Quanto à função reprodutiva, o GnRH é o principal hormônio. Na mulher, ele é liberado de uma forma pulsátil, sendo sua periodicidade e amplitude críticas para determinar a liberação correta e fisiológica do FSH e LH (produzidos na adenohipófise). Na menina, o centro hipotalâmico encontra-se bloqueado até o período da puberdade, quando ocorre sua liberação por razões ainda não bem estabelecidas, supondo-se haver a participação de fatores ambientais, dos opióides endógenos, do peso corporal e da quantidade de gordura corporal, entre outros. Hipófise É uma glândula neuroendócrina situada na sela túrcica, e é dividida em adeno-hipófise e neuro-hipófise. Adeno-hipófise é responsável pela secreção dos hormônios: Folículo-estimulante (FSH) e luteinizante (LH), Hormônio estimulante da tireoide (TSH) Hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) Hormônio de crescimento (GH) Prolactina (PRL) Já a neuro-hipófise secreta ocitocina e vasopressina. O GnRH age nas células gonadotróficas da hipófise anterior (adeno-hipófise), estimulando-as a sintetizar e secretar na corrente sanguínea tanto o FSH quanto o LH. No entanto, a secreção de LH é, essencialmente, caracterizada por um pico no meio do ciclo menstrual. Já a secreção de FSH caracteriza-se por um aumento na fase folicular inicial, um platô na fase lútea e acentuada elevação na fase lútea tardia. Ou seja, as gonadotrofinas são secretadas de forma pulsátil, com frequência e amplitude que variam de acordo com a fase do ciclo. Os hormônios esteroides, como o estradiol e a progesterona, ou fatores ovarianos não-esteroides, como a inibida, são os moduladores da secreção de LH e FSH. O padrão pulsátil de liberação das gonadotrofinas é diretamente relacionado à secreção pulsátil de GnRH, mas a 3 Felipe Altimari modulação da amplitude e da frequência são consequências do feedback dos esteroides ovarianos no hipotálamo e na hipófise. Ovários O ovário em funcionamento normal sintetiza e secreta hormônios esteroides sexuais – estrogênios, androgênios e progesterona – com padrão de controle preciso que, em parte, é determinado pelas gonadotrofinas hipofisárias, FSH e LH. Os produtos secretórios mais importantes da biossíntese de esteroides pelos ovários são a progesterona e o estradiol. Entretanto, o ovário também secreta estrona, androstenediona e 17a-hidroxiprogesterona. Os hormônios esteroides sexuais desempenham papel importante no ciclo menstrual preparando o útero para implantação do óvulo fertilizado. Se a implantação não ocorrer, a esteroidogênese ovariana declina, o endométrio degenera e ocorre a menstruação. Útero A parede uterina consiste em três camadas: Serosa, a camada mais externa; Miométrio, constituído de ML; e Endométrio, a camada mais interna, subdividida em estroma e glândulas. As alterações cíclicas, induzidas pelos hormônios ovarianos, só se manifestam na camada mais superficial endométrio. FISIOLOGIA DO CICLO MENSTRUAL Podemos dividir, de uma forma didática, o ciclo menstrual em 2 ciclos que interagem e são interdependentes: ovariano e endometrial (menstrual). A duração do ciclo menstrual é determinada pela variação na duração da fase folicular, ou seja, o tempo necessário para que o folículo se desenvolva e atinja sua maturidade. Ciclo Ovariano O ciclo ovariano pode ser dividido em três fases: 1. Fase folicular, 2. Fase ovulatória 3. Fase lútea. 1. Fase Folicular/ proliferativa A fase folicular, ou proliferativa, é a 1ª fase do ciclo menstrual, e ocorre do 1º dia da menstruação até o dia do pico de LH. Durante esta fase, ocorre uma sequência ordenada de eventos, que assegura que um número apropriado de folículos se desenvolva e esteja pronto para a ovulação. O resultado final desse desenvolvimento folicular é, comumente, um único folículo maduro viável, o qual passará pelos estágios de folículo primordial, folículo primário, folículo pré-antral, antral e pré- ovulatório. Este processo ocorre ao longo de 10 a 14 dias. O sinal para o recrutamento folicular inicia-se na fase lútea do ciclo anterior, com a diminuição da progesterona, do estradiol e da inibina A. Como consequência, o feedback negativo sobre o FSH é liberado, observa-se então seu aumento nos primeiros dias da fase folicular. Este aumento é o sinal para o recrutamento folicular. Aproximadamente 15 ou mais folículos são recrutados a cada ciclo. Desenvolvimento Folicular: O desenvolvimento folicular inicia-se com os folículos primordiais gerados durante a vida fetal. Esses folículos nada mais são que oócitos suspensos na primeira divisão meiótica, circundados por uma camada única de células granulosas achatadas. São separados do estroma por uma membrana basal delgada. Os folículos pré-ovulatórios são avasculares. Consequentemente, são criticamente dependentes da difusão e, no final do seu desenvolvimento, de junções comunicantes para obtenção de nutrientes e eliminação de excretas metabólicas. A difusão também permite a passagem dos precursores de esteroides da camada de células tecais para a camada de células da granulosa. No estágio seguinte do desenvolvimento, as células da granulosa se tornam cuboides e aumentam em número para formar uma camada pseudoestratificada. Nesse momento, o folículo é denominado folículo primário. Uma importante mudança que ocorre nesta fase é a diferenciação das células do estroma em teca interna e teca externa, que independe da estimulação pelas gonadotrofinas. Há um padrão de crescimento limitado, que pode ser rapidamente seguido de atresia. Esse padrão só é interrompido se, a partir deste estágio, o grupo de folículos responder a uma elevação do FSH e ser incentivado ao crescimento. A cada ciclo menstrual, na fase lútea do ciclo precedente, a diminuição da progesterona, do estradiol e da inibina A, resultante da regressão do corpo lúteo, possibilita a elevação do FSH por feedback negativo, alguns dias antes da menstruação, o que permite o recrutamento folicular. Quando ocorre um crescimento folicular final e aumento significativo no número de células da granulosa, incentivado pelo FSH, surge o folículo secundário ou pré-antral. Caracteristicamente, nesse estágio, células da granulosa tornam-se cuboidais e apresentam-se em várias camadas. Secretam uma matriz glicoproteica, chamada de zona pelúcida. As células da granulosa do folículo pré-antral são capazes de sintetizar todas as três classes de esteroides, no entanto, são produzidos significativamente mais estrogênios. A produção de estrogênio pelo folículo pré-antral é explicada pelo sistema de 2 células, 2 gonadotrofinas. Nos folículos pré-antrais e antrais, os receptores para o LH estão presentes apenas nas células da teca, e os receptores para o FSH apenas nas células da granulosa. As células da teca, a partir da entrada do colesterol induzida pelo LH, são capazes de produzir androgênios, que são transportados às células da granulosa e lá são convertidos em estrogênios, através da aromatização induzida pelo FSH. 4 Felipe Altimari Com o desenvolvimento em curso, e sob a influência sinérgica do estrogênio e do FSH, ocorre um aumento na produção do líquido folicular, que começa a se acumular entre as células da granulosa, que posteriormente se une, formando uma cavidade cheia de líquido rico em estrogênios produzidos pelas células da granulosa, esta cavidade é conhecida como antro. O folículo passa então a ser denominado folículo terciário ou antral. As células da granulosa que circundam os oócitos passam a ser chamadas de cumulus ooforus. O folículo que possui a maior taxa de proliferação da granulosa, contém concentrações de estrogênio mais elevadas e, consequentemente, possui oócitos de melhor qualidade. Na presença de FSH, o estrogênio passa a ser o elemento dominante no líquido folicular. Na ausência de FSH, o androgênio predomina. E um microambiente androgênico opõe-se à proliferação da granulosa e acarreta degeneração do oócito, gerando a atresia. Os estágios iniciais do desenvolvimento (até o folículo 2ªrio) não exigem estimulação de gonadotrofinas e, por isso, são ditos “independentes de gonadotrofinas”. A maturação folicular final exige a presença de quantidades adequadas de LH e FSH na circulação e, portanto, diz-se que é “dependente de gonadotrofinas”. No estágio final do desenvolvimento folicular, as células da granulosa tornam-se maiores e as da teca ricamente vascularizadas, e folículo é então denominado de pré- ovulatório. Aproximando-se da maturação, o folículo pré- ovulatório produz quantidades cada vez maiores de estrogênio. Durante a fase folicular tardia, o estrogênio eleva-se rapidamente, atingindo seu pico cerca de três dias antes da ovulação. O início do pico de LH ocorre um dia depois que o pico de estrogênio é atingido. É importante salientar que a concentração e o tempo de duração da elevação do estradiol são determinantes para a liberação do LH. Para tanto, a concentração de estradiol deve ser maior do que 200 pg/ml, que deve persistir por aproximadamente 50 horas. Figura 2. Alterações nos níveis de gonadotrofinas em um ciclo menstrual normal. Atuando através de seus receptores, o LH promove luteinização das células da granulosa no folículo dominante, resultando na produção de progesterona. Há, então, um pequeno aumento na produção de progesterona que começa a ser detectado 12 horas antes da ovulação, e receptores para este esteroide começam a surgir nas células da granulosa. A progesterona facilita o feedback positivo do estrogênio, agindo diretamente na hipófise e contribuindo para a elevação do FSH e do LH, observada no meio do ciclo menstrual. As células da teca dos folículos em atresia, sob ação do LH, aumentam a produção de androgênio, elevando os níveis deste no plasma. ESTÁGIO FOLÍCULO PROMORDIAL FOLÍCULO PRIMÁRIO FOLÍCULO SECUNDÁRIO FOLÍCULO TERCIÁRIO FOLÍCULO PRÉ- OVULATÓRIO SELECIONADO (FOLÍCULO DOMINANTE) Atividade Repouso Crescimento Crescimento, pré- antral Crescimento, antral Crescimento rápido Tamanho ≈ 0,03 mm ≈ 0,04 – 0,1 mm ≈ 0,01 – 0,2 mm ≈ 0,2 – 2 mm ≈ 5 mm até 20-30 mm Ovócito Pequeno ovócito primário (DNA 4n) Ovócito 1ªrio aumentado Ovócito 1ªrio aumentado Ovócito 1ªrio aumentado A meiose completa-se para formar o ovócito 2ªrio (2n) e o corpúsculo polar (2n) Zona pelúcida* Aparece Presente Presente Presente Células da granulosa Células precursoras Camada única. O nº de células aumenta 3-6 camadas Múltiplas camadas Aumento no número de células Antro Desenvolve-se no interior da camada de células da granulosa e é preenchido com líquido Aumento do tamanho Lâmina basal Presente Presente Presente Presente Presente Teca Aparece e começa a formar duas camadas Camada interna: células secretoras e pequenos vasos sanguíneos Camada externa: TC, ML, grandes vasos sanguíneos Vascularização Aparece Vasos sanguíneos na teca Aumenta Tabela 1. Desenvolvimento folicular até a ovulação – * A zona pelúcida é uma capa de glicoproteínas que protege o ovócito 5 Felipe Altimari 2. Fase Ovulatória A ovulação acontece como consequência da ação simultânea de diversos mecanismos que ocorrem no folículo dominante, estimulando sua maturação e induzindo a rotura folicular. Somente o folículo que atinge seu estágio final de maturação é capaz de se romper. O marcador fisiológico mais importante da aproximação da ovulação é o pico do LH no meio do ciclo, o qual é precedido por aumento acelerado do nível de estrogênio. Sabe-se que o folículo pré-ovulatório produz, com a síntese crescente de estradiol, seu próprio estímulo ovulatório. O pico de estradiol estimula o pico de LH e, consequentemente, a ovulação. O início do pico de LH ocorre 32 a 36 horas antes da ovulação. No momento da ovulação, dentro do microambiente do folículo dominante, ocorrem 3 fenômenos principais: Recomeço da Meiose: O oócito permanece em meiose I até a onda de LH, quando ocorre a retomada da meiose e o oócito torna-se apto para fertilização. Portanto, o pico de LH faz o oócito reassumir a meiose, estimula a síntese de prostaglandinas e luteiniza as células da granulosa que, por sua vez, sintetizam a progesterona. Este processo de retomada da meiose é mais uma interrupção da inibição do que propriamente um fenômeno estimulado. O oócito reassume a maturação nuclear, acontece a transição da prófase I para a metáfase I e a extrusão do primeiro corpúsculo polar na metáfase II. Estes fatos ocorrem em sincronia com a maturação citoplasmática e da zona pelúcida no preparo para a fecundação. A meiose só se completa após a penetração do espermatozoide e a liberação do segundo corpúsculo polar. Luteinização: Um pequeno aumento da progesterona ocorre 12 a 24 horas antes da ovulação. Este aumento da progesterona antes da ovulação tem importância na indução da onda de FSH e LH, pelo aumento do feedback positivo do estradiol na ação desses hormônios. O pico do FSH acompanhado do LH não ocorre sem um aumento pré-ovulatório nos níveis da progesterona. Por outro lado, a elevação progressiva na progesterona pode atuar de modo a terminar o pico de LH, pois, sob concentrações mais elevadas, é exercido um efeito de feedback negativo. Além de seus efeitos centrais, a progesterona aumenta a distensibilidade da parede folicular. A parede torna-se delgada e estirada, e a expulsão do oócito ocorre após a ação de enzimas proteolíticas que digerem o colágeno. A produção dessas enzimas é induzida pela ação das gonadotrofinas (LH e FSH) e da progesterona. Ovulação: O processo de ovulação é comparado a uma reação inflamatória, na medida em que ambos envolvem componentes, como neutrófilos, histamina, bradicinina, enzimas e citocinas. Desde a fase folicular, sob ação das gonadotrofinas no folículo, há acúmulo de prostaglandinas E e F e produção de grande quantidade de fator ativador de plasminogênio, consequentemente plasmina e outras proteases, as quais ativam a colagenase que irá digerir o colágeno presente na parede do folículo, o que facilita a liberação do oócito. O FSH e LH estimulam também a produção e o depósito de ácido hialurônico em volta do oócito e dentro da coroa radiada, dispersam e separam o complexo cúmulo-oóforo da membrana da granulosa. Sob ação sinérgica das prostaglandinas E e F e do LH, acontece contração das células musculares da parede folicular, já enfraquecida, com extrusão do oócito, ocorrendo, dessa forma, a ovulação. Paralelamente às mudanças estruturais que ocorrem durante o processo ovulatório, que envolvem a ação das proteases, ocorrem modificações importantes no fluxo sanguíneo do ovário. Vários mediadores produzidos e liberados pelo ovário após o pico pré-ovulatório de LH, como as prostaglandinas, a histamina, os neuropeptídios e o óxido nítrico, exercem um efeito sobre o sistema vascular do folículo. Observa-se, então, um aumento do fluxo sanguíneo intrafolicular, além de um aumento na permeabilidade capilar. A rotura folicular se acompanhar de eliminação do óvulo e do líquido folicular para a cavidade peritoneal. Pode haver uma irritação local e, consequentemente, a dor abdominal referida por algumas mulheres. Tão logo isso ocorra, o óvulo é apreendido pelas fímbrias tubárias, e fica à mercê dos movimentos das tubas e do epitélio ciliar. Estudos ultrassonográficos realizados em mulheres demonstraram que a ovulação não ocorre em lados alternados, mas ocorre aleatoriamente em qualquer ovário (Baird, 1987). 3. Fase Lútea ESTÁGIO CORPO LÚTEO CORPO ALBICANTE PÓS-LUTEAL Atividade Secreta hormônios Nenhuma Tamanho Ovócito Nenhum Nenhum Zona pelúcida* Nenhuma Nenhuma Células da granulosa Convertidas em células lúteas As células lúteas degeneram Antro Preenchido com células migratórias Nenhum Lâmina basal Desaparece Teca Convertidas em células lúteas As células lúteas degeneram Vascularização Aumenta Desaparece Tabela 2. Fase lútea. * A zona pelúcida é uma capa de glicoproteínas que protege o ovócito Uma vez liberado o oócito, a estrutura dominante passa a se chamar corpo lúteo. Antes da ruptura do folículo e liberação do óvulo, as células da granulosa começam a aumentar de tamanho e assumem um aspecto caracteristicamente vacuolado, associado ao acúmulo de um pigmento amarelado, a luteína. O aumento na vascularização local favorece o aporte do LDL-colesterol, substrato importante na síntese de progesterona. Sob influência de fatores que induzem a angiogênese, os capilares penetram na granulosa, atingem a cavidade central e, usualmente, preenchem-na com sangue. O funcionamento lúteo normal requer um desenvolvimento folicular pré-ovulatório adequado, sobretudo 6 Felipe Altimari um estímulo apropriado de FSH e um ininterrupto apoio tônico do LH, o que resulta em síntese e secreção adequada de estradiol e progesterona. Sabe-se da necessidade de estrogênio para a síntese de receptores de progesterona no endométrio. O estrogênio da fase lútea é necessário para que ocorram as alterações induzidas pela progesterona no endométrio após a ovulação. Uma quantidade inadequada de receptores de progesterona pode levar a uma preparação inadequada do endométrio, e representar, portanto, uma possível causa de abortamento precoce. A cada pulso de LH existe um aumento na concentração de progesterona. A progesterona atua tanto centralmente quanto no interior do ovário, na supressão de novos crescimentos foliculares. Estes pulsos de LH são maiores no início da fase lútea e diminuem gradativamente até valores baixos na fase lútea tardia, que favorece a atuação de fatores que levam à luteólise. Como consequência, o corpo lúteo entra em processo de degeneração. Caso ocorra gravidez, o hCG mantém o funcionamento lúteo até que a esteroidogênese placentária se estabeleça plenamente. Ciclo ovariano Fase folicular Desenvolvimento folicular Foliculo primordial Folículo 1ªrio Folículo pré-antral Folículo antral Folículo pré-ovulatório Fase ovulatória Ovulação a partir do pico de LH Recomeço da meiose Luteinização Ovulação Fase lútea Dominação do corpo lúteo após liberação do oócito Figura 3. Anatomia ovariana e fases de desenvolvimento folicular. Figura 4. Controle hormonal do ciclo menstrual. AMH – Hormônio Antimulleriano. 7 Felipe Altimari Ciclo Endometrial Em um ciclo menstrual ovulatório ocorrem alterações anatômicas e funcionais específicas nos componentes glandulares, vasculares e estromais do endométrio. O endométrio pode ser dividido, do ponto de vista morfológico, na camada funcional, que compreende os 2/3 superiores, e na camada basal, que compreende o terço inferior. A finalidade da camada funcional é preparar-se para a implantação do embrião em fase de blastocisto. Na fase proliferativa do ciclo menstrual, a produção aumentada de estrógenos provoca a reconstrução e o crescimento do endométrio. Na fase anterior, a descamação menstrual provocará a perda tecidual que será reconstituída nesta fase. As glândulas representam a porção mais responsiva do endométrio à ação estrogênica. A princípio, elas são estreitas e tubulares, revestidas por células de epitélio colunar baixo. Mitoses tornam-se proeminentes e observa-se a pseudo- estratificação, as glândulas tornam-se alongadas e um pouco tortuosas. Um revestimento epitelial contínuo é formado de face para a cavidade endometrial. O componente estromal evolui a partir de sua condição menstrual através de um breve período de edema para um estado final semelhante a um sincício frouxo. As arteríolas espiraladas tornam-se finas. Todos os componentes tissulares demonstram proliferação, com pico nos dias 8 a 10 do ciclo. Esta proliferação é marcada por aumento da atividade mitótica. O ciclo endometrial pode ser dividido em 3 fases histológicas, determinadas pelos diferentes estímulos dos hormônios produzidos pelos ovários: endométrio menstrual, endométrio proliferativo, endométrio secretor. O endométrio menstrual caracteriza-se por uma ruptura irregular do endométrio, que ocorre pela interrupção da secreção das glândulas endometriais na ausência de implantação embrionária. Esta sequência de eventos ocorre devido ao término da vida funcional do corpo lúteo, o que ocasiona a redução da produção de estrogênio e progesterona. A diminuição dos níveis desses hormônios leva a reações vasomotoras, à perda decidual e à menstruação. Os espasmos vasculares levam à isquemia e à perda de tecido. Há também ruptura de lisossomas e liberação de enzimas proteolíticas que provocam destruição local adicional de tecido. Prostaglandinas são produzidas durante todo o ciclo menstrual, mas apresentam maior concentração no período menstrual. A PGF2-α é um potente vasoconstrictor que intensifica os espasmos arteriolares, causa isquemia adicional do endométrio e leva à ocorrência de contrações miometriais. Estas contrações podem servir para expelir fisicamente o tecido endometrial que descama do útero. O fluxo menstrual é um resultado dos efeitos combinados da vasoconstricção prolongada, colapso tecidual, estase vascular e reparação induzida pela ação estrogênica. A camada basal do endométrio permanece intacta, e pode assim iniciar a reparação da camada funcional. O endométrio proliferativo corresponde à fase folicular no ovário. Após 3 a 4 dias de menstruação, o endométrio inicia sua regeneração, e cresce rapidamente em resposta ao estímulo estrogênico. No início, as glândulas endometriais são pequenas, tubulares e curtas. No final desta fase, tornam-se alongadas e tortuosas. O estroma é denso. Outra característica importante é o aumento das células ciliadas e microvilosas, importantes para a fase seguinte do endométrio, a fase secretora. O endométrio secretor corresponde à fase lútea no ovário. Caracteriza-se pela atuação da progesterona produzida pelo corpo lúteo em contraposição à ação estrogênica. As glândulas endometriais se encontram em processo progressivo de dilatação, tornando-se cada vez mais tortuosas. O estroma é edemaciado. Os vasos sanguíneos apresentam-se espiralados. As células das glândulas endometriais formam vacúolos característicos, contendo glicogênio. No início, estes vacúolos aparecem sob o núcleo e depois seguem em direção à luz glandular. O estroma permanece inalterado até o sétimo dia após a ovulação, quando se inicia edema progressivo do tecido. Nesse mesmo período, a atividade secretora das glândulas costuma ser máxima e o endométrio já se encontra preparado para a implantação do blastocisto. A expressão de receptores de estrogênio e progesterona também varia durante o ciclo menstrual. A concentração de Receptores de Estrogênio é alta na fase proliferativa e diminui após a ovulação, o que reflete a ação supressiva da progesterona sobre estes receptores. A concentração de Receptores de Progesterona é máxima durante a fase ovulatória, o que reflete a indução desses receptores pelo estradiol. Eles reduzem muito nas glândulas na fase lútea, mas continuam presentes no estroma. Ciclo endometrial Endométrio menstrual Descamação irregular do endométrio devido à redução de estrógeno e progesterona Endométrio proliferativo Regeneração do endométrio após a descamação Endométrio secretor Preparação para que o embrião possa se implantar A imagem abaixo resume as fases do ciclo ovariano ocorrendo em concomitância com o ciclo endometrial, controlado pelos hormônios gonadotróficos. Figura 5. Controle gonadotrófico dos ciclos ovariano e endometrial. 8 Felipe Altimari 9 Felipe Altimari CILO MENSTRUAL 1º dia da menstruação = 1º dia do ciclo Duração aproximada: 28 dias Regulação endócrina: Hipotálamo: GnRH Hipófise: FSH e LH Ovários: estrogênio, progesterona, estrona, androstenediona e 17 α- hidroxiprogrsterona FISIOLOGIA: CICLO OVARIANO Fase folicular Fase ovulatória 1ª fase do ciclo menstrual: Ocorre do 1º dia da menstruação até o dia do pico de LH Dura cerca de 10 a 14 dias Aumento acelerado do nível do estrogênio pico do LH (32 a 36 horas antes da ovulação) Folículo primordial: Gerados durante a vida fetal: oócitos suspensos na 1ª divisão meiótica Avasculares Cel. granulosas achatadas Recomeço da meiose Luteinização: aumento progesterona onda de FSH e LH (12 a 24 horas antes da ovulação) Folículo primário: Cél da granulosa cuboides e + numerosas Diferenciação da teca interna e teca externa Ovulação: prostaglandinas + LH contração das células musculares da parede folicular Folículo pré-antral: Aumento significativo no nº de cél. da granulosa: Cel. da granulosa tornan-se cuboides e apresentam-se em várias camadas São capazes de sintetizar 3 classes de esteroides (mais estrogênios) Aumento na produção do líquido folicular Fase Lútea Cél. da tea e da granulosa são convertidas em cél. lúteas Aumento da secreção de estrogênio, progesterona e inibina: inibem FSH e LH Antral: Cavidade cheia de liquido Possui a maior taxa de proliferação da granulosa Rico em estrogênios produzidos pelas cél. da granulosa Fase Lútea tardia: da secreção de estrogênio e progesterona Pré-ovulatório: Cél. da granulosa tornan-se maiores Cel. da teca ricamente vascularizadas Produz quantidades cada vez maiores de estrogênio FISIOLOGIA: CICLO ENDOMETRIAL Endométrio menstrual Endométrio secretor Endométrio proliferativo Ausencia de implantação embrionária: interrupção da secreção das glândulas endometriais: Ruptura irregular do endométrio Corresponde à fase lútea no ovário: atuação da progesterona produzida pelo corpo lúteo em contraposição à ação estrogênica Corresponde à fase folicular no ovário O endométrio cresce rapidamente em resposta ao estímulo estrogênico Redução da produção de estrogênio e progesterona Glandulas endometriais progressivo de dilatação, tornando-se cada vez mais tortuosas: atividade secretória máxima Há aumento das cél. ciliadas e microvilosas Maior produção de prostaglandinas VASOCONSTRICÇÃO Isquemia adicional do endométrio e leva à ocorrência de contrações miometriais Início: glândulas endometriais são pequenas, tubulares e curtas Vasos sanguíneos apresentam-se espiralados Final: glândulas endometriais tornam-se alongadas e tortuosas . 10 Felipe Altimari SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS A SOP é uma patologia muito prevalente nas mulheres em idade reprodutiva (menacme). Para pensar em SOP, é importante que você conheça o quadro clínico da doença. Lembre-se dos critérios diagnósticos, principalmente do mais utilizado (Rotterdam). O tratamento deve ser individualizado, focando as principais queixas da paciente. DEFINIÇÃO É uma síndrome caracterizada por: Ciclos anovulatórios ou oligo-ovulação, Hiperandrogenismo e Múltiplos pequenos cistos ovarianos. No passado, já recebeu o nome de síndrome de Stein- Leventhal. Atualmente, a SOP é considerada uma doença metabólica, pois, além das manifestações ginecológicas, essa patologia pode cursar com alterações lipídicas, DM, obesidade, HAS, aumento do risco cardiovascular, entre outros fatores. EPIDEMIOLOGIA A SOP é a endocrinopatia mais comum na menacme (idade fértil) e a causa mais comum de anovulação crônica, infertilidade por fator ovulatório, hiperandrogenismo e hirsutismo. A prevalência pode chegar a 10% das mulheres em idade reprodutiva. É mais comum em mulheres com hiperandrogenismo (80% delas têm SOP) e infertilidade (até um terço tem SOP). ETIOLOGIA Ainda é desconhecida, mas muito provavelmente tem origem genética multifatorial e poligênica. Alguns estudos sugerem envolvimento de genes que controlam a síntese de androgênios e a resistência à insulina. FISIOPATOLOGIA Não é totalmente esclarecida. O hiperandrogenismo (aumento de hormônios masculinos) tem papel importante, e o que levaria ao hiperandrogenismo e à anovulação crônica são alterações ovarianas, do eixo hipotálamo-hipófise, adrenais e até de tecidos periféricos (ex.: gordura). Algumas alterações envolvidas na fisiopatologia da SOP são alterações na liberação pulsátil de GnRH, produzindo inversão na relação LH/FSH (na SOP, há aumento dessa relação, geralmente > 2:1). Lembrando que o LH estimula a secreção de androgênios nas células tecais do ovário. Além disso, essa diminuição relativa do FSH pode diminuir a atividade da aromatase nas células da granulosa, reduzindo a conversão de androgênio em estrogênio. Em outras palavras, o ovário tem mais dificuldade em transformar seu microambiente androgênico em estrogênico. O ambiente mais androgênico impede o desenvolvimento folicular normal, induzindo a atresia folicular prematura. Ou seja, os folículos não se desenvolvem adequadamente. Esses múltiplos folículos em vários estágios de desenvolvimento, junto com a hiperplasia estromal, levam a um aumento ovariano bilateral. Os androgênios também podem aumentar a secreção de LH e diminuir a de FSH pela hipófise. A ausência de desenvolvimento folicular adequado resulta em um quadro de anovulação (clinicamente, apresenta-se por oligomenorreia ou amenorreia secundária). Como há anovulação crônica, não há corpo lúteo. Sem corpo lúteo, não há progesterona produzida em quantidade adequada. Sem a progesterona, não há oposição ao estrogênio, que fica estimulando continuamente o endométrio. Esse estímulo crônico do endométrio pelo estrogênio aumenta o risco de hiperplasia de endométrio e é uma causa de sangramento uterino irregular. A longo prazo pode levar ao carcinoma de endométrio. O fígado é responsável por produzir uma proteína chamada SHBG (globulina carreadora de hormônios sexuais), que se liga à testosterona sérica, reduzindo sua fração livre ativa. Tanto o excesso de testosterona quanto a hiperinsulinemia reduzem a produção hepática de SHBG, propiciando hiperandrogenismo. Então, com o aumento da testosterona, há diminuição do SHBG, levando a um aumento da testosterona livre/biodisponível circulante. A resistência insulínica tem um papel importante na SOP (encontrada em até 50% das SOP), contribuindo para a atresia folicular nos ovários e para o desenvolvimento da acantose nigricans na pele. Ela pode aparecer por anormalidades genéticas e/ou aumento o tecido adiposo. A resistência à insulina e a hiperinsulinemia parecem estar relacionadas também a um aumento androgênico sérico e a uma diminuição do SHBG. Pacientes obesas têm maior produção estrogênica em sua periferia. Devemos lembrar também que há aromatase no tecido adiposo – ela faz a conversão periférica de andrógenos em estrógenos. É também na periferia que, sob a ação da 5 α-redutase, a testosterona é transformada em di-hidrotestosterona (DHT), o androgênio mais potente e que não é mais aromatizado em estrogênios. A DHT é responsável pelo fenótipo andrógeno, explicando o aparecimento de hirsutismo na SOP. Pode haver aumento de androgênios produzidos nas adrenais. Exemplo: SDHEA (sulfato de deidroepiandrosterona). O aumento de androgênios séricos aumenta o risco de alterações metabólicas, como dislipidemias, além de propiciar quadros de acne e hirsutismo. A resistência à insulina e o hiperinsulinismo compensatório podem estar presentes tanto em mulheres magras quanto em obesas com SOP. Figura 1. Fisiopatologia da síndrome dos ovários policísticos. 11 Felipe Altimari QUADRO CLÍNICO A procura por um médico geralmente ocorre por pelo menos um desses três quadros: Ciclos anovulatórios: pode se apresentar com quadros de sangramento uterino irregular, oligomenorreia e até amenorreia secundária. Hiperandrogenismo: hirsutismo e acne (lembrando que a SOP é a principal causa de hiperandrogenismo na mulher). Não é comum a virilização (clitoromegalia, alteração de voz, aumento de massa muscular). Nesses casos, devemos investigar outras causas, tais como tumores adrenais ou ovarianos virilizantes (produtores de androgênios). Infertilidade: SOP é responsável por até 80% dos casos de infertilidade por anovulação. MENSTRUAÇÃO/ DIA A DIA MÉDICO Metade das meninas apresentam irregularidade menstrual nos dois primeiros anos após a menarca em razão da imaturidade do eixo hipotálamo-hipófise-ovário, não sendo portadoras de SOP! Relembrando a fisiopatologia: Anovulação crônica → sem ovulação, não há corpo lúteo → não há produção de progesterona → não há a queda de progesterona no final do ciclo, que desencadearia a menstruação → oligomenorreia/ amenorreia. Portanto, nessas pacientes, podemos fazer o teste da progesterona. Teste da Progesterona: administra-se progesterona por 7 a 10 dias. Após a sua suspensão, espera-se que ocorra menstruação. Havendo menstruação, é possível afirmar que havia estímulo estrogênico sobre o endométrio; porém, a falta de ovulação (se não ovula, não tem corpo lúteo, não produz progesterona) impediu a ocorrência da menstruação. Portanto, um teste da progesterona positivo significa que a paciente tinha um quadro de anovulação! Além de oligomenorreia/amenorreia, as pacientes com SOP podem apresentar quadros de sangramento disfuncional (termo cada vez menos usado). Vale relembrar as causas de sangramento uterino anormal: PALM COEIN. Na SOP, ficaríamos com o “O”: causas ovulatórias de sangramento uterino. Nessas pacientes, ele geralmente é intenso e imprevisível. Na SOP, o endométrio é cronicamente estimulado pelo estrogênio sem a oposição da progesterona. Isso leva a uma proliferação endometrial. O endométrio espessado pode ficar instável, resultando em sangramento com padrão imprevisível. A longo prazo, há riscos de hiperplasia de endométrio e até câncer de endométrio. Amenorreia secundária ocorre quando existem ciclos menstruais prévios, porém ocorre ausência de pelo menos 3 ciclos menstruais em mulheres com ciclos regulares ou ausência de menstruação por, pelo menos, seis meses em mulheres com ciclos irregulares. Oligomenorreia: ciclos com intervalos maiores que 35 dias entre as menstruações. HIPERANDROGENISMO O hirsutismo é a manifestação clínica mais comum do hiperandrogenismo. Outros sinais que podem surgir são acne, seborreia e alopecia de padrão androgênico (frontal). Acne: A acne se deve ao bloqueio da abertura folicular por hiperceratose, produção excessiva de sebo, proliferação de Propionibacterium acnes comensal e inflamação por ação androgênica. 12 Felipe Altimari Alopecia: A alopecia ocorre devido a ação da 5-α redutase no folículo piloso, gerando queda do cabelo. Hirsutismo: O hirsutismo é o excesso de pelos de padrão masculino (grosso e pigmentados) na mulher. Dentro do folículo piloso, a testosterona é convertida em di-hidrotestosterona (DTH) pela enzima 5 alfa-redutase. A testosterona e, principalmente, a DTH são os responsáveis por engrossar e enegrecer os pelos de áreas sensíveis a androgênios. A quantificação da distribuição de pelos pode ser feita utilizando a Escala de Ferriman- Gallwey, que possui 9 imagens com diferentes padrões de hirsutismo, sendo que o seu grau é pontuado de 0 a 4. De acordo com as novas recomendações da ASRM e ESHRE, a pontuação para considerar o hirsutismo varia de acordo com a etnia da paciente, sendo considerados o valor de 4 para orientais ou 6 para outras etnias. Figura 3. Escala de Ferriman-Gallwey para avaliação do hirsutismo. A virilização não é uma manifestação comum da SOP. Portanto, em mulheres com sintomas como aumento de massa muscular, diminuição das mamas, aumento do clitóris e engrossamento da voz, deve-se investigar outras causas de hiperandrogenismo, principalmente tumorais. Hipertecose ovariana: forma mais grave da SOP, caracterizada por hiperandrogenismo grave e, ocasionalmente, sinais evidentes de virilização, como clitoromegalia, calvície frontal e alteração da voz. Medicamentos como esteroides anabolizantes, metoclopramida, metildopa, testosterona e progestágenos podem gerar hirsutismo em mulheres. Por isso, devemos estar atentos ao uso dessas substâncias quando estivermos diante de um quadro de hirsutismo. OBESIDADE É comum (mas não obrigatório) a presença de obesidade (IMC > 30). Está presente em até 50% das pacientes com SOP. Geralmente, há padrão androide (central) de obesidade, com aumento da relação cintura- quadril. Esse tipo de alteração é um fator de risco independente para doença cardiovascular e DM 2. Não se engane, ela pode surgir tanto em pacientes magras quanto obesas com SOP. RESISTÊNCIA À INSULINA Um sinal clássico é a acantose nigricans. É um marcador cutâneo da resistência insulínica. A resistência à insulina leva à hiperinsulinemia, que provavelmente estimula o crescimento de queratinócitos e fibroblastos dérmicos, levando a essas alterações. São caracterizadas por alteração cutânea espessa, pigmentada e aveludada. Podem ser encontradas na região cervical (nuca), axilas, abaixo das mamas, face interna das coxas e vulva. DIABETES TIPO 2 E INTOLERÂNCIA À GLICOSE Podem surgir independentemente da obesidade. Mulheres com SOP apresentam risco elevado de desenvolver DM tipo 2 e intolerância à glicose devido à disfunção das células β-pancreáticas presente nessa patologia. DISLIPIDEMIA Pode ocorrer em até 2/3 das pacientes com SOP. Novamente, não se engane pelo fenótipo. Mesmo as magras podem ter dislipidemia, com aumento de LDL e triglicérides e redução do HDL. HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA Mais comum na SOP, principalmente em pacientes mais velhas, próximas ao fim da menacme. SÍNDROME METABÓLICA (SM) É caracterizada por obesidade, resistência à insulina, dislipidemia e hipertensão arterial. Tem risco aumentado para doenças cardiovasculares (IAM, AVC) e diabetes tipo 2. Critérios da SM pela NCEP/ATP III (deve ter pelo menos 3 dos 5 critérios): Obesidade abdominal (circunferência abdominal ≥ 88 cm em mulheres). Triglicérides ≥ 150 mg/dL (ou em uso de medicações para triglicérides). HDL < 50 mg/dL em mulheres. PA ≥ 130x85 mmHg (ou em tratamento para HAS). Glicemia de jejum ≥ 100 mg/dL (ou em TTO para DM). INFERTILIDADE Aqui a causa são os ciclos anovulatórios. Se não ovula, não tem como engravidar! A SOP é responsável por até 80% dos casos de infertilidade por fator ovulatório. NEOPLASIA DE ENDOMÉTRIO Mulheres com SOP tem 3 x mais chance de desenvolver neoplasias endometriais devido ao quadro de anovulação crônica associado à estimulação estrogênica sem oposição progestágena. Quadro clínico Hiperandrogenismo Oligomenorreia Ciclos anovulatórios Hipertensão arterial sistêmica Amenorreia secundária Hirsutismo Dislipidemia Alopecia Seborreia Infertilidade Acne Obesidade Síndrome metabólica Sangramento uterino anormal 13 Felipe Altimari DIAGNÓSTICO A SOP é considerada um diagnóstico de exclusão. O principal critério utilizado é o de Rotterdam (ter dois de três, excluindo outras causas): Ciclos anovulatórios: oligomenorreia ou disfunção menstrual (ex.: ciclo > 42 dias). Entende-se por alteração no ciclo menstrual a ausência de menstruação por um período de 90 dias ou mais ou a presença de um número de ciclos menstruais menor ou igual a 9 por ano Hiperandrogenismo laboratorial ou clínico (acne, hirsutismo ou alopecia). Deve-se pontuar esse critério quando houver pelo menos um dos seguintes achados: acne, hirsutismo e alopecia de padrão androgênico ou hiperandrogenismo laboratorial. O hiperandrogenismo laboratorial ocorre quando há elevação de pelo menos um androgênio, que pode ser testosterona total, androstenediona e/ou sulfato de desidroepiandrosterona sérica (SDHEA). Ovários policísticos ao USG. Com relação à presença de ovários policísticos à USG, deve ter mais de 20 folículos antrais de tamanho entre 2 e 9 mm, em pelo menos um dos ovários ou volume ovariano maior ou igual a 10 cm3. Não deve ser considerado o ovário que apresente folículo dominante ou corpo lúteo. Nesses casos, o exame deve ser repetido. Figura 5. USG evidenciando ovário de aspecto policístico e hipertrofia do estroma ovariano. Outro critério que pode ser utilizado é o da AE-PCOS (ter as duas e excluir outras causas): Hiperandrogenismo (clínico e/ou laboratorial). Disfunção ovulatória e/ou ovários policísticos. Apesar de ser chamada de síndrome dos ovários policísticos, a presença deles não é necessária para o diagnóstico. Outro dado interessante é que a USG com ovários policísticos pode aparecer em 20% a 30% das mulheres normais. Ou seja, o fato de ter ovários policísticos à USG isoladamente também não faz o diagnóstico. Novos estudos têm usado o hormônio antimulleriano (HAM) como método diagnóstico, com evidências de boa correlação entre os seus níveis e a contagem de folículos, volume ovariano e distribuição periférica dos folículos. Com base nesses estudos, o HAM está sendo contado para substituir a USG; no entanto, devido a discrepâncias no ponto de corte entre esses estudos, o HAM ainda não é utilizado como critério diagnóstico. Em adolescentes, os critérios diagnósticos para SOP são controversos, visto que nesse período da vida os sinais e sintomas sugestivos da SOP podem ser confundidos com os que ocorrem na puberdade normal. De um modo geral, novos consensos recomendam que, para o diagnóstico de SOP, as adolescentes devem estar presentes os 3 critérios citados no consenso de Rotterdam, e não dois, como nos adultos. No entanto, para essa faixa etária a morfologia ovariana não considerada, e o hiperandrogenismo implica necessariamente a presença de hirsutismo ou hiperandrogenemia. Além disso, mesmo que preencha esses critérios, é recomendado que o diagnóstico feito na adolescência seja revisto após oito anos da menarca ou até postergado para depois dos 18 anos completos. Neste caso, deve-se tratar os sintomas como distúrbio menstrual e hirsutismo, independentemente do diagnóstico definitivo de SOP. INVESTIGAÇÃO HISTÓRIA Avaliar idade de início, tempo de história, padrão menstrual, medicações, história familiar. EXAME FÍSICO Importante avaliar alguns critérios para a síndrome metabólica, como medida de PA e circunferência abdominal. Além disso, avaliar IMC (sobrepeso/obesidade) e procurar por sinais de hiperandrogenismo, como hirsutismo, acne e alopecia. E também por sinais de resistência à insulina, como acantose nigricans. 14 Felipe Altimari EXAMES COMPLEMENTARES Vamos solicitar exames que podem ajudar a fechar nosso diagnóstico e também alguns que ajudarão a excluir outras causas. 1. HORMÔNIOS Dosagem dos seguintes hormônios: LH, FSH, TSH, prolactina, testosterona total e livre, SDHEA, androstenediona, SHBG, 17-OH progesterona, BHCG. As alterações que podem ser encontradas são leve aumento de testosterona, androstenediona e SDHEA e diminuição de SHBG, além de relação LH/FSH > 2:1. TSH e prolactina têm que estar normais. Grandes aumentos de testosterona (> 200 ng/mL) podem estar relacionados a tumores virilizantes produtores de androgênio. Do mesmo modo, o SHDEA (sulfato de diidroepiandrosterona) é de produção exclusiva adrenal. Portanto, níveis muito acima do normal podem indicar tumores de adrenais. 17-OH Progesterona é um precursor do cortisol. Pode estar aumentada em casos de hiperplasia adrenal congênita (forma tardia), na deficiência da 21-hidroxilase. Na periferia, é convertida em androgênios. O βHCG tem o intuito de excluir gestação nas pacientes com amenorreia. A progesterona pode ser dosada e deve mostrar níveis baixos, compatíveis com anovulação. Os estrogênios não precisam ser dosados. Caso sejam, pode haver aumento da estrona. Tabela 1. Diagnósticos diferenciais dos quadros de hiperandrogenismo. Modificado de Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), 2018. Diagnósticos diferenciais de hiperandrogenismo Investigação Disfunções tireoidianas Dosagem de hormônio tireoestimulante (TSH) e/ou T4 livre. Hiperprolactinemia Dosagem de prolactina Tumor ovariano produtor de androgênio Dosagem de testosterona total ou livre Tumor adrenal Dosagem de deidroepiandrosterona sulfatada (DHEA-S) Hiperplasia adrenal congênita Dosagem de 17-alfa hidroxiprogesterona (17OHP) Insuficiência ovariana primária Dosagem de hormônio folículo- estimulante (FSH) 2. AVALIAÇÃO METABÓLICA Devem ser solicitadas dosagem de colesterol e frações (atenção especial ao LDL e HDL) e triglicérides. Para a resistência à insulina, glicemia de jejum e teste de tolerância oral à glicose em duas horas. A insulina basal pode ser dosada e se mostrará aumentada em 1/3 das pacientes. Além disso, deve-se verificar dados de exame físico como peso, altura, IMC, pressão arterial e circunferência abdominal. 3. USG PÉLVICO De preferência por via transvaginal (se já tiver relação sexual). Os achados para a SOP: 12 ou mais folículos medindo 2 a 9 mm de diâmetro ou volume ovariano aumentado (> 10 mL). DIAGNÓTICOS DIFERENCIAIS Os mais comuns e que devem ser descartados: Gestação, hipotireoidismo, hiperprolactinemia, hiperplasia adrenal congênita (forma tardia), tumor ovariano, tumor adrenal, síndrome de Cushing. CONSEQUÊNCIAS DE LONGO PRAZO As principais: Risco de doenças cardiovasculares pela associação com síndrome metabólica. Hiperplasia de endométrio/câncer de endométrio. TRATAMENTO Deve ser individualizado conforme a queixa. 1. MODIFICAÇÕES DE ESTILO DE VIDA: Por mais incrível que pareça, a simples perda de peso, com atividade física e dieta, já pode restaurar os ciclos ovulatórios (regulariza os ciclos menstruais e aumenta a taxa de gestação). Além disso, ajudam no controle da dislipidemia e na prevenção de doenças cardiovasculares e de diabetes tipo 2. 2. IRREGULARIDADE MENSTRUAL: Aqui o intuito é induzir ciclos menstruais regulares. As “pílulas” terão efeito muito importante no tratamento, não tendo “mera” ação contraceptiva. O uso de anticoncepcionais hormonais combinados (AHCO) a produção adrenal e ovariana de androgênios através da supressão do LH pelo componente progestínico. Além disso, o componente estrogênico aumenta a produção hepática de SHBG, diminuindo a testosterona biodisponível. Outro ponto benéfico é o efeito antagonista da progesterona sobre o endométrio proliferativo, reduzindo o risco de hiperplasia endometrial/câncer de endométrio. Métodos de progesterona isolada também podem ser utilizados de forma contínua. O DIU de levonorgestrel (Mirena) pode até ajudar na questão menstrual e com proteção ao endométrio, mas, por não ter ação sistêmica, não tratará a SOP. 3. HIPERANDROGENISMO: Aqui os contraceptivos combinados também vão atuar. Lembre-se de que o componente estrogênico aumenta a produção hepática de SHBG, diminuindo os androgênios livres. Além disso, pode-se usar uma pílula com progesterona com ação antiandrogênica (ex.: ciproterona). Uma pílula famosa com ciproterona é a Diane 35. Outras medicações: Finasterida: inibidor da 5-alfa-redutase. 15 Felipe Altimari Espironolactona: acaba atuando como um antiandrogênio, diminuindo a síntese de testosterona e inibindo a enzima 5-alfa-redutase do folículo capilar → diminui a conversão de androstenediona e testosterona em di-hidrotestosterona, que é mais potente. Lembre-se de que é um antagonista da aldosterona (cuidado com o potássio). Deve-se evitar na gestação (feminiliza um feto masculino). Cosmético (depilação, laser etc.). Métodos de depilação e epilação (retirada inteira dos pelos) também podem ser empregados. A depilação é a técnica mais utilizada; no entanto, efeitos colaterais como irritação da pele podem surgir. Dentre as técnicas de epilação, pode-se usar a retirada mecânica dos pelos com pinça, cera e laser ou retirar permanentemente com a destruição térmica dos folículos pilosos. É comum em pacientes com SOP problemas psicológicos, como ansiedade e depressão, devido ao impacto do hiperandrogenismo na feminilidade e autoestima, sendo necessária uma abordagem multidisciplinar entre com profissionais ligados à saúde mental. 4. INFERTILIDADE: Perda de peso isoladamente pode levar a ciclos ovulatórios e aumentar as taxas de gestação. Indução de ovulação com citrato de clomifeno é considerada técnica de reprodução de baixa complexidade. É utilizada por cinco dias. Deve ser realizada USG de acompanhamento e orientar o melhor dia para o coito. Pode provocar gestação múltipla e hiperestímulo ovariano, complicação da indução ovulatória em que há grande aumento do volume ovariano e perda de líquido do espaço intravascular para o extravascular devido ao aumento da permeabilidade vascular. Pode surgir ascite, derrame pleural, hemoconcentração, fenômenos tromboembólicos e insuficiência renal). A indução da ovulação também pode ser realizada com gonadotrofinas, antiandrogênicos e inibidores da aromatase. Técnicas de alta complexidade: fertilização in vitro (lembre-se de que SOP tem risco de síndrome de hiperestímulo, como citado anteriormente). 5. DRILLING OVARIANO: É um procedimento cirúrgico que consiste na cauterização laparoscópica ovariana com eletrodo monopolar. Poderia aumentar as taxas de ovulação e gestação e ajudaria na diminuição dos androgênios ovarianos. Cada vez menos utilizado. Pode levar à perda de reserva ovariana. 6. RESISTÊNCIA INSULÍNICA: Metformina atua suprimindo a glicogênese hepática, aumentando a sensibilidade periférica à insulina e diminuindo a absorção intestinal de glicose. Também pode ajudar na ovulação. Alguns estudos apontam que, com o uso da metformina, além da melhora no perfil metabólico, está associada a redução da secreção de androgênios, melhorando assim o ciclo menstrual. Com isso, esse medicamento pode ser usado no tratamento de segunda linha para melhora das irregularidades menstruais em mulheres com SOP. Tratamento Medicamentoso Não medicamentoso Hirsutismo Antiandrogênio: Acetato de ciproterona Mudanças de estilo de vida Redução do peso corporal Melhora da alimentação Atividade física Irregularidade menstrual Anticoncepcionais hormonais combinados Depilação/Epilação Distúrbios metabólicos Acompanhamento psicológico Infertilidade: Citrato de Clomifeno, Metformina SOP Etiologia Origem genética multifatorial poligênica Fisiopatologia Alteração na liberação do GnRH Aumento da relação LH/FSH Aumento dos androgênios Redução do FSH Redução da aromatase Redução dos estrogênios Atresia folicular SANGRAMENTO UTERINO ANORMAL Quadro clínico HIRSUTISMO OLIGOMENORREIA INFERTILIDADE DISLIPIDEMIA SEBORREIA AMENORREIA SECUNDÁRIA ALOPECIA ACNE Diagnóstico Critérios de Rotterdam USG Exames laboratoriais para exclusão Tratamento Antiandrogênio:: Acetato de ciproterona Anticoncepcionais hormonais combinados Mudanças de estilo de vida Metformina DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Alguns diagnósticos diferenciais para a SOP, principalmente quando o sintoma principal é o hirsutismo. Para relembrar: Hirsutismo: excesso de pelos de padrão masculino na mulher. Virilização: além do hirsutismo, inclui outros sinais masculinizantes, como clitoromegalia, calvície, alteração de voz, aumento de massa muscular. Os exames laboratoriais vão nos ajudar muito no diagnóstico: a) Exames laboratoriais: Avaliar níveis de androgênios: SDHEA (sulfato de diidroepiandrosterona): produzida somente nas adrenais. Se há aumento importante de SDHEA, provavelmente há tumor de adrenal. 16 Felipe Altimari 17-OH Progesterona: é um precursor do cortisol. Pode estar aumentada em casos de hiperplasia adrenal congênita (forma tardia), na deficiência da 21-hidroxilase. Na periferia, é convertida em androgênios. Testosterona: produzida tanto nos ovários quanto nas adrenais. Na SOP, pode aumentar discretamente. Um aumento importante é relacionado ao tumor ovariano. SOP História → início gradual, irregularidade menstrual e anovulação. Infertilidade. Exame físico → hirsutismo, acne, obesidade, acantose nigricans. Laboratorial → normal ou ↑ testosterona; ↑ LH; ↓ SHBG. Imagem → USG com padrão micropolicístico ou ↑ volume ovariano. Tratamento → clínico (ex.: AHCO). TUMOR DE ADRENAL Tríade do tumor de adrenal → virilização de início abrupto, ↑↑ SHDEA, massa abdominal/ flanco. História → início rápido. Exame físico → virilização. Laboratorial → ↑↑ SHDEA. Imagem → TC ou RM massa abdominal/flanco. Tratamento → cirurgia para remoção do tumor. TUMOR OVARIANO VIRILIZANTE Tríade do tumor ovariano virilizante (Sertoli-Leydig) → virilização de início abrupto, ↑↑testosterona, massa pélvica. História → início rápido. Exame físico → virilização; massa pélvica/anexial. Laboratorial → ↑↑ testosterona. X Imagem → USG pélvico: massa anexial. Tratamento → cirurgia para remoção do tumor. HIPERPLASIA ADRENAL CONGÊNITA (DEFICIÊNCIA DE 21- HIDROXILASE) – FORMA TARDIA Tríade da hiperplasia adrenal congênita → hirsutismo de início gradual, ↑ 17-OH Progesterona, exame físico normal. História → início gradual; secundária ou terciária; irregularidade menstrual e anovulação. Pode ter puberdade precoce e baixa estatura. Pode ter antecedente familiar (autossômica recessiva). Exame físico → hirsutismo sem virilização. Laboratorial → ↑ ↑ 17-OH Progesterona. Tratamento → clínico com reposição de corticoide. IDIOPÁTICO Tríade idiopática (↑ da atividade da 5-alfa-redutase): hirsutismo de início gradual, exame normal, exames laboratoriais normais. História → início gradual. Pode ter antecedente familiar. Fertilidade e menstruação normais. Exame Físico → hirsutismo sem virilização. Laboratorial → normais. Tratamento → clínico. Ex.: espironolactona VO ou cremes.
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