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ARTIGO Eficácia do Regime Militar Face a Constituição de 1946

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1 
 
 
A CONSTITUCIONALIDADE DO REGIME MILITAR FACE À CONSTITUIÇÃO 
DE 1946. 
 
Karine Pinheiro Barbosa1 
Thiala Kércia Barbosa Romualdo de Souza2 
Francisco Valdovir Holanda de Almeida3 
 
 
RESUMO 
 
O presente estudo teve por objetivo analisar a constitucionalidade do Regime Militar (1964-
1985), sob o paradigma da Constituição de 1946. Para tanto, empreendeu-se pesquisa 
bibliográfica e documental, interdisciplinarmente, fazendo-se um retrospecto sobre o 
período pré-Regime Militar, nos Governos de Jânio Quadros e João Goulart (Jango), 
situados em uma crise político-institucional, com vistas aos levantes sociais: de um lado, 
movimentos com inclinações de socialistas (esquerda) e do outro, com perfil capitalista 
(direita), culminando em conflitos, agravadas pelas propostas reformistas mais incisivas 
adotadas por João Goulart, e suas relações diplomáticas com países socialistas, temendo 
uma possível instauração do socialismo no Brasil. No estopim dessa “convulsão” 
sociopolítica, o cargo de Presidente da República foi declarado vago pelo Congresso 
Nacional, enquanto Jango visitava a China maoista, pretexto que alçou os militares ao 
poder novamente. Nesse diapasão, analisa-se a intervenção buscando a previsão 
Constitucional da posse de Castello Branco no Art. 177 da CEUB, de 1946, a qual se 
destinam as Forças Armadas, defender e garantir a ordem da pátria, visando prevenir a 
intervenção comunista/socialista, porém, a legalidade do Regime, que perpetuou durante 21 
(vinte e um) anos, não se pode deduzir que a manutenção das forças militares no poder foi 
legítima. 
 
Palavras-chave: Constituição; Regime Militar; Presidente; Comunismo; Forças Armadas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 Graduanda do curso de Direito do Centro Universitário Católica de Quixadá - UNICÁTOLICA 
2 Graduanda do curso de Direito do Centro Universitário Católica de Quixadá - UNICÁTOLICA e 
Licenciatura Plena em História da Faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão Central – 
FECLESC/UECE. 
3Orientador, Bacharel em Direito pela Unicatólica, Especialista em Direito Tributário; Direito Previdenciário; 
Direito do Trabalho; Licenciatura Plena em Biologia; Docente do curso de Direito do Centro Universitário 
Católica de Quixadá. 
 
2 
 
 
ABSTRACT 
 
The present study aimed to analyze the constitutionality of the Military Regime (1964-
1985), under the paradigm of the 1946 Constitution. For this purpose, a bibliographical and 
documentary research was undertaken, interdisciplinarily, with a retrospective on the pre-
Regime period (Jango), situated in a political-institutional crisis, with a view to social 
upheavals: on the one hand, movements with socialist inclinations (left) and on the other, 
with a capitalist profile (right) , Culminating in conflicts, aggravated by the more incisive 
reformist proposals adopted by João Goulart, and his diplomatic relations with socialist 
countries, fearing a possible instauration of socialism in Brazil. In the face of this 
sociopolitical "convulsion", the office of President of the Republic was declared vacant by 
the National Congress, while Jango visited Maoist China, a pretext that raised the military 
to power again. In this tuning, the intervention is analyzed seeking the Constitutional 
forecast of the possession of Castelo Branco in Art. 177 of the CEUB, of 1946, which is 
intended for the Armed Forces, to defend and guarantee the order of the mother country, 
aiming to prevent communist / socialist intervention , But the legality of the regime, which 
it perpetuated for 21 (twenty-one) years, can not be deduced that the maintenance of the 
military forces in power was legitimate. 
 
 
Keywords: Constitution; Military regime; President; Communism; Armed forces. 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
O tema trazido é de real importância, pois o presente artigo traz uma motivação diante de 
alguns desafios e dúvidas encontrados pelos ingressantes na área Jurídica. Ao fazer uma 
abordagem histórica, encontramos momentos de crise financeira e desestabilização, 
trazendo fortes consequências ao longo dos anos antecedidos ao Regime Militar. Foram 
analisadas as situações políticas e econômicas caracterizadas, em cada governo e os 
motivos que tornaram a tomada de poder essenciais e constitucionais para o contexto 
histórico na época, tomando como base a Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 
1946, analisando a culminância de cada governo e a situação política para que se chegasse a 
ocupação militar. 
 
Assim, este artigo irá analisar a Constituição de 1946, buscando deduzir se a ocupação do 
poder presidencial pelos militares foi constitucional ou não, e se no decorrer do regime isso 
se perpetuou ou se houveram alterações. 
 
Inicialmente será apresentada a historicidade do Brasil, começando por JK e seu governo, 
caracterizado por uma crise econômica, fruto de um plano equivocado que gerou grandes 
3 
 
 
consequências. Em seguida, serão analisados os governos de Jânio Quadros e João Goulart, 
abordando a continuidade da crise financeira, as características presentes em cada gestão e 
a grande repressão militar, com apoio civil, por medo de uma possível aliança comunista, 
agravada no governo de Jango. 
 
Na segunda parte, será apresentada a Constituição de 1946, começando por seus momentos 
históricos e finalizando com a análise dos resultados obtidos através do Art. 177, onde 
“destinam-se as Forças Armadas a Pátria e garantir os poderes constitucionais, a lei e a 
ordem”, concluindo que a ocupação dos militares foi constitucional. 
 
 
 
 
 
 
1. MOMENTOS PRÉ-REGIME MILITAR 
 
 
Os momentos históricos pré-regime militar são marcados, principalmente, pelo 
impedimento do governo de Café Filho causado por problemas de saúde4 e suspeita de 
envolvimento na conspiração para evitar a posse de Juscelino Kubitschek e de João 
Goulart, eleitos, respectivamente, presidente e vice-presidente por voto direto em outubro 
de 1954, vindo, assim, a assumir o presidente da Câmara dos Deputados, Carlos Luz e logo 
depois seu vice, Nereu Ramos. A União Democrática Nacional exigiu novas eleições sob a 
alegação de que JK não conseguira a maioria absoluta dos votos, mesmo assim o general 
Lott garantiu que JK e Jango tomassem posse em 31 de janeiro de 1956, dando-se, assim, o 
primeiro “golpe da legalidade”. (GARSCHAGEN. 2015.) 
 
Juscelino Kubitschek5 ficou famoso por suas realizações na área econômica brasileira e por 
sua política de nacionalismo desenvolvimentista. Observa-se sua aproximação pragmática a 
uma economia mista, visando uma taxa de crescimento alta e rápida nos setores públicos e 
privados, dando maior ênfase às indústrias básicas e de bens de capital. (SKIDMOR. 1982) 
 
Em consequência da forte atuação do governo na economia, não tardaram a surgir às 
dificuldades, tais como o endividamento junto ao Fundo Monetário Internacional. 
(HOUAISS, 1979). Ocasionando vários problemas, tais como: o aumento de gastos 
públicos, desestabilização monetária, inflação, aumento de impostos, desequilíbrio da 
balança comercial e subsídios e concessão de empréstimos. Sendo acusado de corrupto e 
economicamente inepto, JK findou o seu governo em 31 de janeiro de 1961. (LINHARES, 
1990) 
 
4 Um distúrbio cardiovascular. 
 
5 Conhecido como o segundo presidente que conseguiu ocupar o cargo inteiro depois de 1945. 
4 
 
 
 
 
 
1.1. GOVERNO JÂNIO QUADROS 
 
 
Jânio Quadros, com seu carisma populista, conseguiu vencer as eleições para presidente da 
República em 03 de outubro de 1960 com a maioria dos votos (48%), e João Goulart, 
novamente, como vice-presidente. (GARSCHAGEN, 2015) 
 
Jânio chegou à presidência da República de forma muito veloz. Em São Paulo saiu da 
suplência de vereador para a Presidência da República, onde exerceu, sucessivamente, os 
cargos de prefeito (1953 a 1955) e governador do Estado (1955-1959). Tinha um estilo 
político próprio,baseado em um discurso moralizador, conquistando votos ao se apresentar 
como alguém que não pertencia à elite política tradicional. (NAPOLITANO, 2013) 
 
Herdando do governo anterior uma inflação de 25% ao ano e uma dívida externa alta para a 
época (1 bilhão e 365 milhões de dólares), Jânio adotou um programa de ajuste das finanças 
públicas e organização de controles de crédito para reduzir os gastos do governo, 
congelamento dos salários e redução de emissões de papel-moeda, permitindo empréstimos 
externos. (GARSCHAGEN, 2015) 
 
Segundo Bruno Garschagen (2015): 
 
“As decisões pareciam ser acertadas, mas o resultado foi diferente 
do esperado. Apesar de a arrecadação ter aumentado 
“consideravelmente no trimestre seguinte”, as despesas, ao 
contrário do que fora planejado, aumentaram “nas mesmas 
proporções, enfraquecendo o programa de ajuste das finanças 
públicas”. 
Há três possíveis explicações para isso: a inexistência de 
instituições adequadas para as decisões tomadas, a limitação dos 
instrumentos de política econômica e de técnicos na época e a 
necessidade de Jânio de adotar medidas populistas para estimular 
o crescimento econômico e assim agradar empresários e a 
população, mas que inviabilizam o projeto de estabilização.” 
 
 
Apesar de todo o esforço, a crise interna já estava plantada. Sem o apoio da população, 
Jânio perdeu toda a sua credibilidade. Investiu nos planos, mas não haviam estruturas 
necessárias e pessoas capacitadas que pudessem ser usadas em favor do Estado, causando 
um fraco desempenho na economia. 
 
Adotando, assim, uma política externa independente e restabelecendo relações 
democráticas com países comunistas, apoiando o governo cubando de Fidel Castro e 
condecorando, no Brasil, o guerrilheiro Che Guevara, Jânio perdeu todo o apoio político. 
5 
 
 
Via, então, como único meio de salvação a renúncia, esperando que o Congresso não 
aceitasse e tivesse o amparo da população. Sentindo-se traído, saiu do poder no dia 25 de 
agosto de 1961, onde o Congresso aceitou sua renúncia e impôs o sistema parlamentarista 
na tentativa de limitar o poder do novo presidente. (GARSCHAGEN, 2015) 
 
 
 
 
 
 
1.2. GOVERNO JOÃO GOULART 
 
 
Após a renúncia de Jânio, o poder efetivo passou para as mãos de três ministros militares: 
General Odílio Denys6, Brigadeiro Moss7 e o Almirante Silvio Heck8. Estes declararam 
Estado de Sítio 9 tentando impedir a posse de João Goulart. O Congresso, no entanto, 
negou-se a vetar a posse de Jango, em vez disso, a Comissão do Congresso recomendou a 
criação de um sistema parlamentar. (SKIDMOR, 1982) 
 
Como estava em visita oficial à China no dia da renúncia, João Goulart encontrou 
dificuldades em assumir o cargo quando regressou. Não sendo bem visto por militares, 
políticos e conservadores, houve uma tentativa de impedimento sob a justificativa de que 
seu governo seria uma ameaça à ordem do país. Entretanto, no dia 2 de setembro, foi 
aprovada uma ementa constitucional que permitia a participação popular, optando por um 
dos sistemas políticos de governo propostos, presidencialismo ou parlamentarismo. 
(MAIA, 2008) 
 
 A vitória de Goulart, com mais de 10 milhões de votos, e a vitória do bloco de esquerda 
nas eleições regionais em 1962, dava por fim a curta experiência do parlamentarismo no 
Brasil. (GARSCHAGEN, 2015) 
 
Como presidente, tentou emplacar reformas sociais, econômicas e políticas que previam a 
geração de empregos e a diminuição da inflação para por fim à crise econômica, devendo 
tornar o país menos desigual e mais democrático. A tentativa de contornar a situação foi 
esvaziada, perdendo todo o apoio e sendo visto como um “incompetente administrativo” e 
irresponsável. (NAPOLITANO, 2013) 
 
 
 
6 Ministro de Guerra 
7 Ministro da Aeronáutica 
8 Ministro da Marinha 
9 Instrumento burocrático e político onde o Governo Federal suspende por um período temporário a atuação 
dos poderes legislativo e judiciário. 
6 
 
 
2. CRISE INSTITUCIONAL NO BRASIL 
 
 
Com o crescimento baixo, inflação acelerada e a perda dos investimentos externos, elites 
civis e grupo militares viam a intervenção para depor Goulart como a melhor solução para 
o país. (GARSCHAGEN, 2015) 
 
O país vivia um momento econômico muito grave, conforme descreve Elio Gaspari (2002): 
 
“Os investimentos estrangeiros haviam caído à metade. A inflação 
fora de 50% em 1962 para 75% no ano seguinte. Os primeiros 
meses de 1964 projetavam uma taxa anual de 140%, a maior do 
século. Pela primeira vez desde o fim da Segunda Guerra a 
economia registrara uma contração na renda per capita dos 
brasileiros. As greves duplicaram, de 154 em 1962, para 302 em 
63. O governo gastava demais e arrecadava de menos, acumulando 
um déficit de 504 bilhões de cruzeiros, equivalente a um terço total 
das despesas. Num país onde a tradição dava aos ministros da 
Fazenda uma média de vinte meses de permanência no cargo, 
Goulart dera pouco mais de seis meses a seus cinco ministros.” 
 
Jango vinha com a promessa de varrer a crise brasileira e acabar com a corrupção, mas o 
que estava ruim, começando no governo de JK, começou a piorar, trazendo um grande 
aumento na inflação e grandes consequências na economia. 
 
Nessas condições, Goulart, com o apoio das organizações sindicais, dos nacionalistas e dos 
partidos de esquerda, passou a buscar força nas ruas com manifestações de massa e 
comícios. Procurou diminuir a participação de empresas estrangeiras, cessando os 
investimentos externos, e seguiu as orientações do FMI (Fundo Monetário Internacional). 
(LINHARES, 1990) 
 
2.1 LEVANTES SOCIAIS E “AMEAÇA VERMELHA” 
 
 
No dia 13 de março de 1964, em frente ao Edifício Central do Brasil, no Rio de Janeiro, 
reunindo mais de 150 mil pessoas, Goulart realizou um comício onde predominava no 
palanque os líderes comunistas e no meio do povo, faixas com símbolos comunistas e 
pinturas que retratam este pensamento político fazendo acusações à elite política e 
pressionando os adversários e membros do Congresso, anunciando uma série de leis, entre 
elas a lei da Reforma Agrária, e a assinatura de dois decretos. (GARSCHAGEN, 2015) 
 
O primeiro declarava: 
 
7 
 
 
“De interesse social para fins de desapropriação as áreas rurais que 
ladeiam os eixos rodoviários federais, os leitos das ferrovias 
nacionais, e as terras beneficiadas ou recuperadas por 
investimentos exclusivos da União em obras de irrigação, 
drenagem e açudagem, atualmente inexploradas ou exploradas 
contrariamente à função social da propriedade, e dá outras 
providências.” 
 
Desapropriando as terras disponíveis das margens das rodovias e açudes que pertenciam ao 
governo. 
O segundo estatizava as refinarias particulares de petróleo em atividade no país, alegando 
que as empresas devem pertencer ao povo. (GARSCHAGEN. 2015) 
 
Após os decretos e a Revolta dos Marinheiros, que aconteceu no dia 25 de março, onde a 
Associação estava traçando parcerias com comunistas, a população, que era contra o 
governo de João Goulart e contra o comunismo, respondeu com uma passeata de um 
milhão de pessoas, as “Marchas de Deus e pela Família”, e outra prevista para o dia 1° de 
abril no Rio. (BALEEIRO, SOBRINHO, 2001) 
 
 
 
 
2.2. DESTITUIÇÃO DE JOÃO GOULART 
 
 
Levando à manifestação de tropas, na madrugada do dia 31, levantaram-se em armas, sob o 
comando do general Olímpio Mourão Filho (1900-1972), o estado de Minas Gerais, 
seguido por Pernambuco, Rio e São Paulo. Jango esperava ter o apoio do 2° exército, 
governado pelo General Amaury Kruel, seu amigo pessoal. (BALEEIRO, SOBRINHO, 
2001). Mas as tropas não encontraram resistência e os que estavam apoiando Jango, 
passaram a aderir o movimento rebelde. 
 
Com a governabilidade frágil, inflação em alta e uma crise complexa e profunda. O general 
Olympio Mourão Filho derruba o governo federal. (COUTO, 1999) 
No dia 1° de abril,sendo deposto por uma Revolta Militar, com a perda dos aliados e a 
pressão dos que eram contrários ao governo, o presidente fugiu para o sul do país e, no dia 
4, foi para o exílio em Uruguai e depois Argentina, onde faleceu em 1976, vítima de um 
infarto. (GARSCHAGEN, 2015) 
Nos dias consecutivos à fuga do Presidente, houveram reuniões para decidir o futuro do 
Brasil e para buscar saídas para contornar a crise. A Constituição determinava novas 
eleições dentro de 30 dias, se os cargos de presidência e vice-presidência estivessem vagas. 
Enquanto alguns discutiam a sucessão do governo, os militares pressionavam para que o 
legislativo fosse “limpo” dos elementos considerados “inaceitáveis”. Com a aceitação da 
8 
 
 
pressão por meio dos militares, a legislação daria amplos poderes para expurgar o 
funcionalismo civil e revogar mandatos das legislaturas federais e estaduais. Assumindo 
assim, um Ato Institucional como Supremo Comando Revolucionário. (CASTRO, 2014) 
 
 
 
 
3. A CONSTITUIÇÃO DE 1946 
 
A constituição dos Estados Unidos do Brasil de 18 de setembro de 1946, foi criada para 
restaurar a pureza da doutrina norte-america e a soberania do Poder Judiciário em questão 
ao controle da constitucionalidade, após o fim do regime de Getúlio Vargas e de sua 
deposição pelos militares. Com o fim da 2º Grande Guerra Mundial aumenta um 
sentimento de valorização do regime democrático em todo o mundo. Na Assembleia 
Constituinte convocada para a reformulação da nova constituição, todos os debates usaram 
como base a Constituição de 1934. Essa nova Constituição tinha como base a democracia-
social. (CUNHA JÚNIOR. 2013) 
Assim a Constituição passava por mudanças, como descreve Aliomar Baleeiro e Barbosa 
Lima Sobrinho (2001): 
 
“Reformas, propriamente, não se continham nos textos 
constitucionais, que não faziam mais, tanto em 1934, como em 
1946, do que resumir o que já vinha expresso na legislação 
ordinária e, sobretudo, no Código de 1932, que tem, na evolução de 
nosso direito eleitoral, a função de uma espécie de marco 
revolucionário, equiparável, pela sua importância, pelo seu alcance, 
pela sua influência, àquela famosa Lei Saraiva, que em 1881 
conseguira instituir o voto direto, quebrando a tradição de um 
regime em diversos graus de votação, que datava de pleitos 
anteriores à própria independência nacional.” 
Sendo assim podemos ter a constituição de 1946 como a segunda mais democrática, 
perdendo, no entanto para a constituição de 1988. Pode-se ainda dizer, que todos os direitos 
para quebrar a tradição do regime, como o direito ao voto direto, foram garantidos ao povo. 
 
3.1. PREVISÃO CONSTITUCIONAL PARA A SUCESSÃO PRESIDENCIAL 
9 
 
 
 
Apesar da forte resistência dos militares João Goulart sobe à presidência, aprova-se a EC nº 
04 de 02 de setembro de 1961, essa que reduzia o poder do presidente implantava o 
parlamentarismo no Brasil, o que durou pouco tempo em razão da aprovação no Congresso 
Nacional após plebiscito popular a EC nº 06 de 23 de janeiro de 1963, que era contra o 
sistema parlamentar, revogando a emenda 04. (CUNHA JÚNIOR. 2013) 
A constituição de 1946 manteve o presidencialismo, porém o Poder Executivo mudou, 
agora o Vice-Presidente da República seria o substituto do Presidente, como podemos ver 
nos Artigos: 78 e 79.10 
Algo fora do normal também pode ser visto nessa nova Constituição assim como descreve 
Flávia Lages de Castro (2014): 
“Uma questão envolvendo a vice-presidência também causa 
estranheza para o modelo atual. O Vice era também o Presidente do 
Senado Federal, portanto do congresso. Isso poderia ser uma 
ingerência do Executivo no Legislativo, mas, conforme afirmado 
anteriormente, o Vice-Presidente não fazia parte do Poder 
Executivo: Art.61. O Vice-Presidente da República exercerá as 
funções de Presidente do Senado Federal, onde só terá voto de 
qualidade.” 
João Goulart foi presidente até 1964, os militares conseguiram alcançar seu objetivo, tirar 
Jango da presidência. O general Mourão Filho exigiu sua renúncia. A Revolução de 1964 
foi inegavelmente um golpe de Estado organizado pelos militares descontentes com as 
políticas reformistas que João Goulart vinha fazendo. (CUNHA JÚNIOR. 2013.) Logo os 
militares por causa do momento político, capitalismo versus socialismo, Guerra-Fria, 
tensões internas e reformas populistas, temiam que Jango implantasse o comunismo no 
Brasil, fazendo com que seu governo virasse uma ditadura comunista como as que estavam 
surgindo ao redor do mundo. 
Jango naquele momento aparecia em comícios com líderes comunistas notórios e viam-se 
inúmeras faixas com slogans comunistas. (BALEEIRO, SOBRINHO. 2001.) O apoio ao 
golpe cresce entre os empresários, maior parte da imprensa e igreja, e da classe média e 
rica. Os militares prometiam em seus discursos o fim do comunismo, a salvação da 
democracia e o fim da corrupção. (COUTO. 1999.). Logo toda a classe conservadora 
apoiava e via com bons olhos a ocupação militar, o que tornou mais fácil a posso de um 
militar na presidência. 
 
10 Art. 78. “O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da República.” 
Art. 79. “Substitui o Presidente, em caso de impedimento, e sucede-lhe, no de vaga,o Vice-Presidente da 
República.” 
10 
 
 
“Brasília, 9 de abril de 1964. A cúpula militar baixa ato 
institucional que dá poderes excepcionais ao governo, inclusive os 
de suspensão arbitraria de direitos políticos e de cassação de 
mandatos populares. Há uma escalada de cassações em nome da 
democracia e do combate à subversão e à corrupção. É a ruptura 
com o sistema político democrático implantado no final de 1945- 
imediatamente após a queda da ditadura Vargas (1930-45) – e 
formalmente pactuado na Constituição de 1946. E também i inicio 
da institucionalização do regime autoritário. (COUTO.1999.)” 
Observa-se a principio que a ocupação militar não parecia ofensiva, estava apenas cassando 
mandatos de pessoas que ameaçavam o propósito maior, a democracia, e assim obedecendo 
ao sistema político democrático da Constituição de 1946. 
Couto ainda enfatiza o começo do regime autoritário: 
“Brasília, 11 de abril de 1964. O Congresso Nacional elege novo 
presidente deposto. É o marechal Humberto de Alencar Castello 
Branco, principal líder do movimento militar, de linha moderada, 
referência principal do chamado Grupo da Sorbonne, ligado à 
Escola Superior de Guerra. Depois dele virão mais quatro generais-
presidentes indicados pelas Forças Armadas e eleitos 
indiretamente: Costa e Silva (1967-69), Emílio Garrastazu Médici 
(1969-74), Ernesto Geisel (1974-79) e João Baptista de Oliveira 
Figueiredo (1979-85). (COUTO. 1999.)” 
Castello Branco assumiu o poder amparado nos artigos: 179 e 177 da Constituição de 1946, 
onde explicitava que eles deviam garantir a ordem e defender a Pátria de qualquer ameaça, 
principalmente de regimes ditatoriais como era o caso naquele momento da China 
comunista, onde Goulart tinha simpatizantes, e assim poderia implantar no Brasil.11 
 
11Art.177. Destinam-se as Forças Armadas a defender a Pátria e a garantir os poderes constitucionais, a lei e a 
ordem. 
 Art.179. Os problemas relativos à defesa do País serão estudados pelo Conselho de Segurança Nacional e 
pelos órgãos especiais das Forças Armadas, incumbidos de prepará-las para a mobilização e as operações 
militares. 
§1º O Conselho de Segurança Nacional será dirigido pelo Presidente da República, e dele participarão, no 
caráter de membros efetivos os ministros de Estado e os chefes de Estado-Maior que a lei determinar. Nos 
impedimentos, indicará o Presidente da República o seu substituto. 
§2º A lei regulará a organização, a competência e o funcionamento do Conselho de Segurança Nacional. 
 
 
 
11 
 
 
 
3.2. CONSTITUCIONALIDADE DA POSSE DE CASTELLO BRANCO 
 
Analisando assim o Art.177, vemos que a posse de Castello Branco foi constitucional. Seu 
governofoi marcado pelo combate à corrupção e à subversão, recuperação da economia e 
das finanças públicas. Até meados de 1967, sempre apresenta a intervenção militar como 
corretiva e temporária. Castello Branco foi eleito pelo Congresso Nacional de forma 
constitucional e previsto em lei. (COUTO. 1999.) 
Mas essa realidade tende a mudar com o general Costa e Silva, ministro do Exército, o 
mesmo não abre mão da permanência dos militares no poder, e se impõe como sucessor. 
Castello Branco induz o Congresso a elaborar nova Constituição, que assim incorpora os 
principais comandos da legislação autoritária, elegendo assim o presidente de forma 
indireta. (COUTO. 1999.). Nota-se a partir de então, que no ato da criação dessa nova 
constituição a intervenção militar toma novos caminhos. 
No governo de Costa e Silva a tensão aumenta, a violência cresce, as forças de segurança 
passam a reagir, os grupos de esquerda aderem à luta armada. Em dezembro de 1968, o 
congresso baixa o AI-512. Está dado o começo do regime militar autoritário, para muitos o 
 
 
12 Art. 5º - A suspensão dos direitos políticos, com base neste Ato, importa, simultaneamente, em: (Vide 
Ato Institucional nº 6, de 1969) 
 I - cessação de privilégio de foro por prerrogativa de função; 
 II - suspensão do direito de votar e de ser votado nas eleições sindicais; 
 III - proibição de atividades ou manifestação sobre assunto de natureza política; 
 IV - aplicação, quando necessária, das seguintes medidas de segurança: 
 a) liberdade vigiada; 
 b) proibição de frequentar determinados lugares; 
 c) domicílio determinado, 
§ 1º - O ato que decretar a suspensão dos direitos políticos poderá fixar restrições ou proibições relativamente 
ao exercício de quaisquer outros direitos públicos ou privados. (Vide Ato Institucional nº 6, de 1969) 
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/AIT/ait-06-69.htm#art2
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/AIT/ait-06-69.htm#art2
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/AIT/ait-06-69.htm#art2
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golpe dentro do golpe. O AI-5 suspende todos os direitos civis comuns. (COUTO. 1999.). 
Dessa maneira uma ocupação legal e constitucional, passa a ser uma ditadura, um regime 
autoritário e violento. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Visto as previsões na Constituição de 1946, a situação política e econômica do país, as 
ameaças de invasões comunistas, o pedido de estado de sítio pelo então Presidente João 
Goulart, os simpatizantes políticos associados a Jango e toda uma manifestação comunista 
contra sua destituição, podemos deduzir que o ato em si, dos militares assumirem a 
presidência foi constitucional, pois era o papel dos mesmos defender o país e manter a 
ordem, e um governo comunista naquela situação, só afundaria mais a economia e a ordem 
brasileira, para isso os militares tinha o apoio da maior parte da população. 
 Contudo, essa constitucionalidade não demorou muito para acabar, eis que surge o 
segundo golpe em dezembro de 1968, quando Costa e Silva fecha o Congresso e cria o AI-
5, esse dá quase poder absoluto ao presidente e seus efeitos não passam pela apreciação 
judicial, tirando todos os direitos à liberdade da população e proibindo manifestações que 
fossem contra o Regime Militar. 
 
 § 2º - As medidas de segurança de que trata o item IV deste artigo serão aplicadas pelo Ministro de 
Estado da Justiça, defesa a apreciação de seu ato pelo Poder Judiciário. (Vide Ato Institucional nº 6, de 
1969) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/AIT/ait-06-69.htm#art2
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/AIT/ait-06-69.htm#art2
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Com as manutenções na Constituição, a legislação autoritária e ditatorial, eleições indiretas 
e o AI-5, o governo militar passou de uma posse constitucional para inconstitucional, ou 
seja, com abusos exercidos por parte dos militares para evitarem uma ditadura comunista, 
eles acabaram criando um regime ditatorial, algo maior que um golpe, acabaram fazendo o 
que deveriam evitar. 
Podemos então dizer que a intervenção militar foi constitucional, no entanto, no decorrer 
dos anos por meio do regime autoritário, das abusivas reformas na Constituição e 
autoritarismo exacerbado foi tornando-se inconstitucional. 
REFERENCIAS 
 
BALEEIRO, Aliomar e SOBRINHO, Barbosa Lima. Constituições Brasileiras 
:1946/Aliomar Baleeiro e Barbosa Lima Sobrinho. – Brasília: Senado Federal e Ministério 
da Ciência e Tecnologia, Centro de Estudos Estratégicos, 2001. 
CASTRO, Flávia Lages de, História do Direito Geral e Brasil, 10° edição – Rio de Janeiro: 
Lumen Juris, 2014. 
COUTO, Ronaldo Costa, Memória Viva do regime militar- Brasil: 1964-1985/Ronaldo 
Costa Couto .- Rio de Janeiro: Record, 1999. 
CUNHA JÚNIOR, Dirley da- Curso de Direito Constitucional, 7º edição – Salvador, Bahia: 
JusPODIVM, 2013. 
HOUAISS, Antônio – Enciclopédia Mirador Internacional, 1° edição - São Paulo – 1979. 
LINHARES, Maria Yedda - HISTORIA GERAL DO BRASIL, 9° edição, 1991, Rio de 
Janeiro: Campos, 1990. 
MAIA, Raul - ESTUDANTE NOTA 10, 1° reimpressão, São Paulo, 2009. 
NAPOLITANO, Marcos - 1964: Histórias do Regime Militar Brasileiro, 1° edição, São 
Paulo, 2013. 
SKIDMOR, Thomas E. – Brasil: de Getúlio Vargas a Castelo Branco, 1930-1964, 7° 
edição, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982. 
 
SITES: 
 
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www.camara.gov.br 
www.planalto.gov.br 
 
 
http://www.camara.gov.br/
http://www.planalto.gov.br/

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