Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
SOCIEDADE DE ENSINO SUPERIOR DE SERRA TALHADA FACULDADE DE INTEGRAÇÃO DO SERTÃO – FIS Aluna: Giovanna Brenda L. Alves Prof. Me. Bruno Celso Disciplina: Ciência Política Curso: 1º período de Direito – Noturno – 2018 O individualismo: uma perspectiva antropológica da ideologia moderna DUMONT, Louis. O individualismo: uma perspectiva antropológica da ideologia moderna. Tradução de Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Rocco, 1985. (Gênese 1) Palavras-chave: Indivíduo, holismo, cristianismo, igreja, estado, hierarquia, extramundano, intramundano, individualismo,. Conteúdo: “O homem que procura a verdade última abandona a vida social e as suas imposições para se consagrar ao seu progresso e ao seu destino próprios.” Página 35 “O homem é um indivíduo-em-relação-com-Deus, o que significa, para o que nos interessa, um indivíduo essencialmente fora-do-mundo.” Página 36 “A vida mundana será assim contaminada pelo elemento extramundano até que finalmente a heterogeneidade do mundo por completo se desvaneça.” Página 41 “O fim último está numa relação ambivalente com a vida no mundo, porque o mundo onde o cristão peregrina nesta vida é ao mesmo tempo um obstáculo e uma condição para a salvação.” Página 45 “Pouca importa a quem pertence a propriedade contanto que seja utilizada para bem de todos, e antes de mais dos necessitados.” Página 46 “Empiricamente, um povo é um agrupamento de seres racionais unidos pelo amor em comum por alguma coisa, por valores comuns, diríamos nós, e é melhor ou pior conforme os seus valores são melhores ou piores.” Página 49 “Cristianizar deste modo a justiça é não só obrigar a razão a inclinar-se perante a fé, mas força-la a reconhecer um parentesco com ela, é ver na fé qualquer coisa como a razão elevada a uma potência superior.” Página 50 “O estado é feito de indivíduos, ao passo que só a igreja seria um organismo.” Página 51 “Com reivindicação de um direito inerente ao poder político, é introduzido uma mudança na relação entre o divino e o terreno: o divino pretende agora reinar sobre o mundo por intermédio da igreja e a igreja torna-se mundana num sentido em que até então o não era.” Página 59 “Com Calvino, a dicotomia hierárquica que caracterizava o nosso tempo de estudo chega ao fim. O elemento mundano antagônico, ao qual até então o individualismo devia dar algum lugar, desaparece inteiramente na teocracia de Calvino.” Página 62 “O indivíduo está agora no interior do mundo e o valor individualista reina sem restrição nem limitação.” Página 62 Resumo: O texto de Louis Dumont tem uma importância fundamental para se discutir o individualismo e a modernidade. O autor procura relacionar a modernidade com o individualismo. Ele faz uma importante diferenciação entre o indivíduo como sujeito empírico e como valor moral, afirmando que o individualismo é o valor fundamental da sociedade moderna. Para entender o pensamento de Dumont é fundamental observar a oposição entre “holismo” e “individualismo”, uma vez que o individualismo e o valor básico da sociedade moderna ao passo que o holismo é o valor predominante das sociedades tradicionais. Nas chamadas sociedades tradicionais, o indivíduo não é marcado pelo mesmo valor que o destaca moral que na sociedade moderna individualista. Apesar disto, do ponto de vista histórico, esta sociedade surgiu, a partir do desenvolvimento das sociedades tradicionais. Essa visão demonstra que o individualismo para nascer, precisou estar em antagonismo à sociedade holista. O problema esta em saber o porquê disso, para Dumont, isto acontece porque o individualismo surge como uma espécie de suplemento a ela. Esta espécie de “suplemento” não é o individualismo da sociedade moderna e sim outra forma de individualismo. O individualismo do mundo moderno é o de “indivíduo-no-mundo” enquanto “que o das sociedades tradicionais é o do “indivíduo-fora-do-mundo”. O autor traça assim um caminho que percorre a filosofia antiga, o cristianismo e sua história, até chegar ao ponto máximo da ruptura: Calvino. Ele vai tentar comprovar sua tese colocando o caso da Índia e remontando a história do cristianismo, que, de acordo com ele, proporcionam o ponto de partida do individualismo, pois mostra o surgimento do renunciante, do indivíduo estranho ao mundo. Calvino, segundo Dumont, traz uma proposta inovadora, e transforma o individuo-fora- do-mundo em individuo-no-mundo e assim individualismo passa a reinar sem ressalvas nem restrições. Isto acontece por que o homem, para Calvino, é impotente ante a onipotência de Deus, e que a vontade D’este elege determinados homens e censura outros, sendo que a tarefa do eleito a fidelidade comprova a eleição. O escolhido, desta forma, exerce sua vontade de ação. É também na figura do renunciante na Índia que Dumont vê a possibilidade de se entender a origem do individualismo. A hipótese de Dumont é a seguinte: o renunciante na Índia é responsável pelas inovações religiosas e possui uma plena independência. De acordo com Dumont, “o renunciante basta-se a si mesmo, só se preocupa consigo mesmo. O pensamento dele é semelhante ao do indivíduo moderno, mas com uma diferença essencial: nos vivemos no mundo social, ele vive fora deste. Foi por isso que chamei o renunciante indiano um ‘indivíduo-fora-do-mundo’. Comparativamente, nos somos ‘indivíduos-no- mundo’, indivíduos mundanos; ele é um indivíduo extra-mundano”. Assim, em meio a uma analise bem mais detalhada e fundamentada, Dumont percorre a transição de uma sociedade holista à sociedade individualista moderna. O individualismo só pode surgir em uma sociedade tradicional (holista) em oposição a ela e, ao mesmo tempo, servindo-lhe como espécie de suplemento. Isto ocorre, inicialmente, com o individualismo- fora-do-mundo (extra mundo) que acaba se transformando em individualismo mundano, onde o indivíduo passa a estar presente no mundo. É daí que Dumont retira a sua hipótese: o individualismo surge numa sociedade holista em contraposição a ela. Mas também como um elemento suplementar a ela, ou seja, como “indivíduo-fora-do-mundo”. Por conseguinte, numa sociedade holista, o individualismo surge negando o mundo social, ou seja, como negação da sociedade holista. Somente na sociedade moderna é que o individualismo deixará de ser “fora-do-mundo” para ser “no-mundo”. O individualismo seria, nesta perspectiva, uma ideologia moderna e signo da modernidade em contraposição ao tradicionalismo das sociedades holistas.
Compartilhar