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Atividade 03 - A prisão do devedor de alimentos em tempos de pandemia (TJRS E STF) - Karoline Schoroeder Soares

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE - FURG 
FACULDADE DE D IREITO – CURSO DE D IREITO 
Direito Processual Civi l III 
 
 
 Karoline Schoroeder Soares - 127827 
 
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• AT I V I D A D E AVA L I AT I VA D O 2 º B I M E S T R E 
 
A PRISÃO DO DEVEDOR DE ALIMENTOS EM TEMPOS DE PANDEMIA – 
DE ENCONTRO AO ENTENDIMENTO DO TJRS, STJ E STF 
 
Em uma lista de debates impactantes do meio jurídico originado pela 
pandemia do coronavírus um dos temas é sobre a possibilidade de prisão do dever 
de alimentos. Nesse sentido, é de notório saber que, em que pese a pensão 
alimentícia devesse ser prioridade no que concerne as obrigações do alimentante, é 
rotineiro o não cumprimento de tal obrigação, acarretando, portanto, em prejuízo 
para a parte que depende dos alimentos devidos. Ademais, o vírus COVID-19 é de 
alta proliferação e concomitantemente o risco de contaminação nas penitenciárias 
também, logo, o Poder Judiciário restou compelido a pensar em soluções para tentar 
amenizar a situação atual. 
Dessa forma, em março de 2020 o Conselho Nacional de Justiça fez a 
Recomendação nº 62, de 17 de março de 2020, dispondo, em seu artigo 6°, que “os 
juízes considerassem a possibilidade de que a prisão civil em face de dívidas alimentícias se 
desse de forma domiciliar, em atenção aos riscos da disseminação da doença” e, por 
conseguinte, o Superior Tribunal de Justiça passou a decidir da mesma forma, assim 
como consta o Informativo de Jurisprudência nº 671. 
Não obstante, com o avanço jurisprudencial, o Congresso Nacional acabou 
por dispor no artigo 15 da Lei 14.010/2020 que: “Até 30 de outubro de 2020, a prisão 
civil por dívida alimentícia, prevista no art. 528, § 3º e seguintes da Lei nº 13.105, de 16 de 
março de 2015 (Código de Processo Civil), deverá ser cumprida exclusivamente sob a 
modalidade domiciliar, sem prejuízo da exigibilidade das respectivas obrigações.”, o que 
acarretou em mais segurança e previsibilidade, para a situação que se tornou 
obrigatória e não apenas recomendável, referente a prisão domiciliar do devedor de 
pensão alimentícia. 
Diante disso, é perceptível que o tempo estimado para a vigência do artigo 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm#art528%A73
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm#art528%A73
 
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15 da Lei 14.010 esgotou ainda em 2020, já que a data prevista no artigo foi de 30 
de outubro de 2020. Entretanto, o CNJ prorrogou a vigência das disposições 
previstas na Recomendação 62/2020, tendo em vista que a durabilidade da 
pandemia está sendo além do que fora imaginado, assim como a Recomendação n.º 
78, de 15 de setembro de 2020, que prorrogou a vigência das disposições da 
Recomendação 62/2020 por mais 06 (seis) meses, bem como o entendimento de 15 
de março de 2021, onde a instituição (CNJ), por meio da Resolução n.º 91 prolongou 
as disposições da Recomendação 62/2020 até 31 de dezembro de 2021. 
Todavia, em 03 de novembro de 2021, o CNJ aprovou, por meio da 
Recomendação 122/2021, a retomada dos decretos de prisões de devedores de 
alimentos, em especial daqueles que se recusassem a se vacinar para adiar o 
pagamento da dívida. Nesse sentido, o conselheiro Luiz Fernando Keppen afirmou 
que: “crianças e adolescentes continuam sofrendo com o recorrente inadimplemento, 
porquanto o direito à liberdade e saúde do devedor tem prevalecido sobre a 
subsistência e dignidade das crianças e adolescentes, muito embora sejam a parte 
vulnerável da relação” 
Indo de encontro ao tema tratado, é de amplo conhecimento que a 
oportunidade de ocorrer a prisão em regime fechado com a falta do pagamento de 
alimentos é uma das medidas mais combativas para que o crédito se satisfaça. À 
vista disso, a retomada a esse meio de repressão ao inadimplemento da obrigação 
pode vir a garantir um pagamento mais ágil dos pensionamentos em atraso. 
No que tange ao entendimento do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, 
pode-se perceber que a nova recomendação do CNJ está sendo seguida, entretanto, 
tal fato não impede que decisões contrárias ao entendimento sejam proferidas, 
tendo em vista que a recomendação do CNJ não estabelece obrigatoriedade legal, 
pois não vincula a decisão do magistrado, logo, a decisão ficaria a critério de cada 
magistrado. Vejamos os últimos entendimento do TJRS: 
 
AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. PLEITO 
DE REFORMA DA DECISÃO QUE DECRETOU A PRISÃO CIVIL DO 
 
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EXECUTADO. DESCABIMENTO. DECISÃO MANTIDA. Não há falar em 
perda da atualidade da dívida, pois o cálculo abarca prestações devidas 
durante o ano de 2021. Cabível a prisão civil do devedor de alimentos em 
regime fechado, considerando a mudança no cenário pandêmico do estado, 
diante do avanço da vacinação contra o covid-19 no Rio Grande do Sul, 
com uma redução sensível nos casos de infecção, internações e óbitos, e 
em observância à nova recomendação do CNJ, no sentido de retomada 
da prisão do devedor de alimentos, considerando o contexto nacional e 
estadual da pandemia, e a necessidade de garantir a subsistência de 
crianças e adolescentes privadas da verba alimentar. AGRAVO DE 
INSTRUMENTO DESPROVIDO.(Agravo de Instrumento, Nº 70085203099, 
Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: José Antônio 
Daltoe Cezar, Julgado em: 15-12-2021). 
 
AGRAVO DE INSTRUMENTO. FAMÍLIA. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA 
DE ALIMENTOS PELO RITO DA PRISÃO. CUMPRIMENTO DA PENA EM 
REGIME DOMICILIAR, COMO MEDIDA EXCEPCIONAL PREVENTIVA AO 
COVID-19. Tratando-se de dívida de alimentos, não havendo o pagamento 
do débito parcelado, correta a ordem de prisão do devedor. Em face da 
amplitude e dos impactos provocados pela pandemia da COVID-19, os 
presos por dívida alimentar, em todo o território nacional, devem cumprir 
pena em regime domiciliar, como medida excepcional preventiva 
à pandemia pelo Coronavírus - COVID-19. Manutenção da decisão que 
decretou a prisão civil em regime domiciliar. Precedentes do TJRS e STJ. 
Agravo de instrumento desprovido. (Agravo de Instrumento, Nº 
52440110620218217000, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, 
Relator: Carlos Eduardo Zietlow Duro, Julgado em: 09-12-2021) 
 
HABEAS CORPUS. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. 
PRESTAÇÃO ALIMENTAR. PRISÃO CIVIL. REGIME FECHADO. 
DENEGAÇÃO DA ORDEM. POR CONTA DA SITUAÇÃO EXCEPCIONAL 
QUE SE VIVE EM DECORRÊNCIA DA PANDEMIA DE COVID-19, COM 
ALTO RISCO DE CONTÁGIO ESPECIALMENTE QUANDO HÁ 
AGLOMERAÇÃO DE PESSOAS – AGLOMERAÇÃO ESTA QUE SE 
MOSTRA INEVITÁVEL QUANDO SE TRATA DE ESTABELECIMENTO 
PRISIONAL -, ESTE COLEGIADO PASSOU A DELIBERAR QUE, 
ENQUANTO PERDURASSE A PANDEMIA, DEVERIAM FICAR 
SUSPENSAS AS PRISÕES DE DEVEDORES DE ALIMENTOS. O DEVIDO 
CUMPRIMENTO, EM REGIME FECHADO, DEVERIA OCORRER TÃO 
LOGO SUPERADA ESSA SITUAÇÃO EXCEPCIONAL. DAÍ TER SIDO 
DEFERIDO O PEDIDO LIMINAR NESTE HABEAS CORPUS. CONTUDO, 
DIANTE DO ABRANDAMENTO DA PANDEMIA, DO AVANÇO DA 
VACINAÇÃO E DA PRIORIDADE DA SUBSISTÊNCIA ALIMENTAR DAS 
CRIANÇAS E DOS ADOLESCENTES, O CONSELHO NACIONAL DE 
JUSTIÇA, NA 95ª SESSÃO DO PLENÁRIO VIRTUAL, REALIZADA NO 
PERÍODO DE 14.10.2021 A 22.10.2021, RESOLVEU PELA PUBLICAÇÃO 
DE NOVA RECOMENDAÇÃO (ATO NORMATIVO 0007574-
69.2021.2.00.0000), DE RELATORIA DO CONSELHEIRO LUIZ 
FERNANDO TOMASI KEPPEN, “ORIENTANDO OS MAGISTRADOS A 
VOLTAREM A DECRETAR A PRISÃO CIVIL DOS DEVEDORES DE 
PENSÃO ALIMENTÍCIA, EM ESPECIAL DAQUELES QUE SE RECUSAM A 
SE VACINAR PARA ADIAR O PAGAMENTO DA DÍVIDA”, CONFORME SE 
VERIFICA DA NOTÍCIA DE 29.10.2021, CONSTANTE EM NOTÍCIAS CNJ/ 
AGÊNCIA CNJ DE NOTÍCIAS. ASSIM, PONDERANDO OS VALORES EM 
LIÇA, E DIANTE DA SITUAÇÃODE INADIMPLÊNCIA DO 
PACIENTE/EXECUTADO, NENHUMA IRREGULARIDADE/ILEGALIDADE 
 
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SE VERIFICA NO DECRETO PRISIONAL, EM REGIME FECHADO. 
ORDEM DENEGADA. UNÂNIME. (Habeas Corpus Cível, Nº 
52166389720218217000, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, 
Relator: Luiz Felipe Brasil Santos, Julgado em: 02-12-2021). 
 
Entretanto, o Supremo Tribunal Federal não proferiu nenhum entendimento 
sobre o assunto, diferentemente do Superior Tribunal de Justiça. Desse modo, a 3ª 
Turma do Superior Tribunal de Justiça entendeu que é possível a retomada gradual 
do regime fechado nas prisões como forma de obrigar o devedor a pagar o débito. 
Não obstante, o Ministro Moura Ribeiro mencionou, em julgamento de habeas 
corpus, que: “É importante retomar o uso da medida coativa da prisão civil, que se 
mostra, sem dúvidas nenhuma, um instrumento eficaz para obrigar o devedor de 
alimentos a adimplir com as obrigações assumidas". 
Por todo o exposto, o assunto tratado demonstra a constante mudança das 
decisões proferidas no âmbito jurídico e que o mais importante será sempre analisar 
o caso concreto e a situação pela qual o país se encontra. Sendo assim, é de notório 
entendimento que o direito busca sempre pela solução do impasse das partes a fim 
de, no tema tratado, adimplir os pagamentos em atraso das pensões alimentícias 
para que aqueles que dependem dos alimentos devidos tenham o seu direito 
assegurado e resguardado. 
 
REFERÊNCIAS 
BRASIL, Lei n.º 14.010, de 10 de junho de 2020, 2020. Disponível em: < 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/lei/L14010.htm> Acesso em: 
09 de setembro de 2021. 
“O dilema da prisão do devedor de alimentos em tempos de Covid-19”. 
Revista Consultor Jurídico, 04 de novembro de 2020. 
“A execução da pensão alimentícia em tempos de Covid-19”. Revista 
Consultor Jurídico, 29 de maio de 2021. 
“STJ: Melhora da pandemia permite regime fechado por dívida alimentícia”. 
Migalhas, 26 de dezembro de 2021. < 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE - FURG 
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Direito Processual Civi l III 
 
 
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https://www.migalhas.com.br/quentes/357072/stj-melhora-da-pandemia-permite-
regime-fechado-por-divida-alimenticia > 
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Recomendação Nº 62 de 17/03/2020. 
Brasília: CNJ, março, 2020. 
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Recomendação Nº 78 de 15/09/2020. 
Brasília: CNJ, setembro, 2020. 
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Recomendação Nº 91 de 15/03/2021. 
Brasília: CNJ, março, 2021. 
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Recomendação Nº 122 de 
03/11/2021. Brasília: CNJ, novembro, 2021.

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