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GREVE INTRODUÇÃO A negociação coletiva, ao cumprir seus objetivos gerais e específicos, alcança uma situação de pacificação no meio econômico- profissional em que atua. Contudo, no transcorrer de seu desenvolvimento ou como condição para fomentar seu início, podem os trabalhadores veicular instrumento direto de pressão e força, a greve, aparentemente contraditório à própria ideia de pacificação. A greve é, de fato, mecanismo de autotutela de interesses; de certo modo, é exercício direto das próprias razões, acolhido pela ordem jurídica. A autotutela traduz, inegavelmente, modo de exercício direto de coerção pelos particulares. Ela tem sido restringida ao longo do tempo sendo transferida ao Estado as diversas modalidades de uso coercitivo. O Direito do Trabalho apresenta, porém, essa notável exceção à tendência restritiva da autotutela: a greve. CONCEITO DE GREVE É a paralisação coletiva e temporária do trabalho a fim de obter, pela pressão exercida em função do movimento, as reivindicações da categoria ou mesmo a fixação de melhores condições de trabalho. A Lei 7.783/1989 (Lei de Greve), em seu art. 2º1, define a greve como sendo a suspensão coletiva, temporária e pacífica, total ou parcial, de prestação de serviços a empregador. O direito de greve é assegurado aos trabalhadores, devendo esses decidirem sobre a oportunidade de o exercer e sobre os interesses que devam por meio dele defender (art. 9º da CRFB/1988 e art. 1º da Lei 7.783/19892). Todavia, a greve deve ser exercida nos termos e limites definidos na Lei 7.783/1989, sob pena de ser considerada abusiva em eventual dissídio coletivo. NATUREZA JURÍDICA 1 Art. 2º Para os fins desta Lei, considera-se legítimo exercício do direito de greve a suspensão coletiva, temporária e pacífica, total ou parcial, de prestação pessoal de serviços a empregador. 2 Art. 1º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender. Parágrafo único. O direito de greve será exercido na forma estabelecida nesta Lei. Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender. § 1º - A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade. § 2º - Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas da lei. A Constituição reconhece o direito de greve como um direito fundamental de caráter coletivo, resultante da autonomia privada coletiva inerente às sociedades democráticas. É direito que resulta da liberdade de trabalho, mas também se configura como manifestação relevante da chamada autonomia privada coletiva. Não há dúvida quanto à greve ser, originalmente, uma modalidade de autotutela, de coerção coletiva. Contudo, sua consagração nas ordens jurídicas democráticas, como direito fundamental, conferiu-lhe não somente força, mas também civilidade. CARACTERIZAÇÃO São traços característicos da greve: Caráter coletivo do movimento – a greve diz respeito a movimento necessariamente coletivo, e não de caráter apenas individual; Sustação provisória de atividades contratuais – a greve tem seu núcleo situado em torno da sustação provisória de atividades laborativas pelos trabalhadores, em face de seu respectivo empregador ou tomador de serviços; Exercício coercitivo coletivo de direito – a greve é meio de autotutela, é instrumento direto de pressão coletiva. O Direito do Trabalho em face da diferenciação socioeconômica e de poder entre empregador e empregado reconheceu na greve um instrumento politicamente legítimo e juridicamente válido para permitir, ao menos potencialmente, a busca de um relativo equilíbrio entre esses seres; Objetivos – a greve é mero instrumento de pressão, que visa propiciar o alcance de certo resultado concreto em decorrência do convencimento da parte confrontada. É movimento que, em geral, visa objetivos de natureza econômico-profissional ou contratual-trabalhista. A Constituição Federal de 1988 conferiu amplitude ao direito de greve vez que determinou competir aos trabalhadores a decisão sobre a oportunidade de exercer o direito, assim como decidir a respeito dos interesses que devam por meio dele defender (caput do art. 9º, CRFB/88); Enquadramento variável de seu prazo de duração – o enquadramento jurídico do prazo de duração do movimento paredista é variável conforme o ordenamento jurídico. Regra geral, o mencionado prazo é tratado como suspensão do contrato de trabalho (art. 7º, Lei 7.783/893). Isso significa que os dias parados, em princípio não são pagos, não se computando para fins contratuais o mesmo período. Em contrapartida, o empregador não pode dispensar o trabalhador durante o período de afastamento (e nem alegar justa causa pela adesão à greve, após o retorno do obreiro – Súmula 316 do STF4). Entretanto, caso se trate de greve em função de não cumprimento de cláusulas contratuais e regras legais (Ex.: não pagamento e atrasos reiterados de salários; más condições ambientais) pode-se falar na aplicação da regra genérica da exceção do contrato não cumprido. Nesse caso, seria cabível enquadrar-se como mera interrupção o período de duração da greve. O enquadramento suspensivo não é rigoroso, podendo ser modificado. A própria Lei 7.783/1989 em seu art. 7º prevê que o instrumento normativo regente do final do movimento pode convolar em simples interrupção da prestação o lapso temporal que inicialmente seria enquadrado como suspensão. DISTINÇÕES A greve como instrumento de pressão não se confunde com: Figuras próximas ou associadas – condutas que são instrumentos para a própria realização do movimento paredista. Piquetes – meios pacíficos tendentes a persuadir ou aliciar trabalhadores a aderirem à greve (art. 6, I da Lei 7.7835); 3 Art. 7º Observadas as condições previstas nesta Lei, a participação em greve suspende o contrato de trabalho, devendo as relações obrigacionais, durante o período, ser regidas pelo acordo, convenção, laudo arbitral ou decisão da Justiça do Trabalho. Parágrafo único. É vedada a rescisão de contrato de trabalho durante a greve, bem como a contratação de trabalhadores substitutos, exceto na ocorrência das hipóteses previstas nos arts. 9º e 14. 4 Súmula 316 – STF A simples adesão à greve não constitui falta grave. 5 Art. 6º São assegurados aos grevistas, dentre outros direitos: I - o emprego de meios pacíficos tendentes a persuadir ou aliciar os trabalhadores a aderirem à greve; II - a arrecadação de fundos e a livre divulgação do movimento. § 1º Em nenhuma hipótese, os meios adotados por empregados e empregadores poderão violar ou constranger os direitos e garantias fundamentais de outrem. § 2º É vedado às empresas adotar meios para constranger o empregado ao comparecimento ao trabalho, bem como capazes de frustrar a divulgação do movimento. § 3º As manifestações e atos de persuasão utilizados pelos grevistas não poderão impedir o acesso ao trabalho nem causar ameaça ou dano à propriedade ou pessoa. Operação tartaruga e/ou excesso de zelo – configuram modalidades coletivas de redução da produção utilizadas como pressão para reivindicação imediata ou ameaça para futuro movimento mais amplo Formas de pressão social – a greve é uma forma de pressão social, entretanto, podem existir outras modalidades de pressão. É o que ocorre, por exemplo, com o boicote. A boicotagem é a conduta de convencimento da comunidade para que restrinja ou elimine a aquisição de bens ou serviços de determinada(s) empresa(s). Condutas ilícitas de pressão – há condutas de pressão e/ou coerção claramente ilícitas, quer se trate de um contexto de greve ou não. É o que se passa com a sabotagem. Trata-se de conduta intencionalmente predatóriado patrimônio empresarial, como mecanismo de pressão para alcance de pleitos trabalhistas ou reforço de greve. São seus exemplos a quebra de máquinas, o desvio de material, a produção de peças imprestáveis, entre outros. REQUISITOS A ordem infraconstitucional estabelece alguns requisitos para a validade do movimento grevista. Em seu conjunto não se chocam com o sentido da garantia constitucional, apenas civilizam o exercício de direito coletivo de tamanho impacto social. São requisitos: Ocorrência de real tentativa de negociação antes da deflagração da greve – frustrada a negociação coletiva ou verificada a impossibilidade de recurso à via arbitral abre-se caminho ao movimento de paralisação coletiva (art. 3º, caput, da Lei 7.7836); Aprovação da respectiva assembleia de trabalhadores – a lei respeita os critérios e formalidades de convocação e quórum assembleares fixados no correspondente estatuto sindical (art. 4º, da Lei 7.7837); 6 Art. 3º Frustrada a negociação ou verificada a impossibilidade de recursos via arbitral, é facultada a cessação coletiva do trabalho. Parágrafo único. A entidade patronal correspondente ou os empregadores diretamente interessados serão notificados, com antecedência mínima de 48 (quarenta e oito) horas, da paralisação. 7 Art. 4º Caberá à entidade sindical correspondente convocar, na forma do seu estatuto, assembléia geral que definirá as reivindicações da categoria e deliberará sobre a paralisação coletiva da prestação de serviços. § 1º O estatuto da entidade sindical deverá prever as formalidades de convocação e o quorum para a deliberação, tanto da deflagração quanto da cessação da greve. § 2º Na falta de entidade sindical, a assembléia geral dos trabalhadores interessados deliberará para os fins previstos no "caput", constituindo comissão de negociação. Aviso prévio à parte adversa (empregadores envolvidos ou seu respectivo sindicato) – O aviso será dado, regra geral, com antecedência mínima de 48 horas da paralisação (art. 3º, § único da Lei 7.783); Em se tratando de serviços ou atividades essenciais, o prazo será de 72 horas da paralisação (art. 13 da Lei de Greve8). Nesse caso a comunicação deverá contemplar não apenas os empregadores, como também o público interessado. Atendimento às necessidades inadiáveis da comunidade, no contexto de greve em serviços ou atividades essenciais (art. 9º, § 1º, da CRFB c/c arts. 10, 11, e 12 da Lei de Greve9) DIREITOS E DEVERES DOS GREVISTAS São direitos dos grevistas: Utilização de meios pacíficos de persuasão; Arrecadação de fundos por meios lícitos; Livre divulgação do movimento; Proteção contra a dispensa por parte do empregador; Proteção contra a contratação de substitutos pelo empregador. São deveres dos grevistas: 8 Art. 13 Na greve, em serviços ou atividades essenciais, ficam as entidades sindicais ou os trabalhadores, conforme o caso, obrigados a comunicar a decisão aos empregadores e aos usuários com antecedência mínima de 72 (setenta e duas) horas da paralisação. 9 Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender. § 1º - A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade. Art. 10 São considerados serviços ou atividades essenciais: I - tratamento e abastecimento de água; produção e distribuição de energia elétrica, gás e combustíveis; II - assistência médica e hospitalar; III - distribuição e comercialização de medicamentos e alimentos; IV - funerários; V - transporte coletivo; VI - captação e tratamento de esgoto e lixo; VII - telecomunicações; VIII - guarda, uso e controle de substâncias radioativas, equipamentos e materiais nucleares; IX - processamento de dados ligados a serviços essenciais; X - controle de tráfego aéreo; XI compensação bancária. Art. 11. Nos serviços ou atividades essenciais, os sindicatos, os empregadores e os trabalhadores ficam obrigados, de comum acordo, a garantir, durante a greve, a prestação dos serviços indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade. Parágrafo único. São necessidades inadiáveis, da comunidade aquelas que, não atendidas, coloquem em perigo iminente a sobrevivência, a saúde ou a segurança da população. Art. 12. No caso de inobservância do disposto no artigo anterior, o Poder Público assegurará a prestação dos serviços indispensáveis. Assegurar a prestação de serviços indispensáveis às necessidades inadiáveis da comunidade, quando realizada greve em serviços ou atividades essenciais; Organizar equipes para manutenção de serviços cuja paralisação provoque prejuízos irreparáveis ou que sejam essenciais à posterior retomada de atividades pela empresa; Não fazer greve após celebração de convenção ou acordo coletivos ou decisão judicial relativa ao movimento; Respeitar direitos fundamentais de outrem; Não produzir atos de violência, quer se trate de depredação de bens, quer sejam ofensas físicas ou morais a alguém. GREVE NOS SERVIÇOS E ATIVIDADES ESSENCIAIS A greve é um direito, mas não constitui um direito absoluto dos trabalhadores. Por isso, no confronto com outros direitos deve sofrer restrições impostas pela necessidade de serem preservados super direitos. A Constituição ao tratar da greve, determina que a lei disponha sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade em relação aos serviços e atividades essenciais, sujeitando os que abusarem do direito de greve às penas da lei (art. 9º da CRFB). Mas além dessas limitações, outras decorrem do próprio ordenamento constitucional, que consagra, dentre outros, os princípios referentes à dignidade humana, ao direito à vida, à liberdade, à segurança, e à propriedade. Esse entendimento é universal, a própria declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948 proclamou que o direito de greve deve ser “exercido em conformidade com as leis de cada país” sendo que elas podem prever limitações “no interesse da segurança nacional ou da ordem pública, ou para a proteção dos direitos e liberdades de outrem. A Lei 7.783/1989 regulamentou o art. 9º da Constituição e previu dois tipos de serviços ou atividades que não podem parar durante a greve, ainda que deflagrada na conformidade dos procedimentos legais: “(...) serviços cuja paralisação resultem em prejuízo irreparável, pela deterioração irreversível de bens, máquinas e equipamentos, bem como a manutenção daqueles essenciais à retomada das atividades da empresa quando da cessação do movimento” (art. 9º da lei de Greve) “Art. 11. Nos serviços ou atividades essenciais, os sindicatos, os empregadores e os trabalhadores ficam obrigados, de comum acordo, a garantir, durante a greve, a prestação dos serviços indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade. Parágrafo único. São necessidades inadiáveis, da comunidade aquelas que, não atendidas, coloquem em perigo iminente a sobrevivência, a saúde ou a segurança da população.” Na primeira hipótese a finalidade é evitar dano irreparável à empresa; na segunda é a de preservar direitos fundamentais do ser humano. O art. 10 da Lei de Greve especifica objetivamente, como essenciais, os seguintes serviços ou atividades: “São considerados serviços ou atividades essenciais: I - tratamento e abastecimento de água; produção e distribuição de energia elétrica, gás e combustíveis; II - assistência médica e hospitalar; III - distribuição e comercialização de medicamentos e alimentos; IV - funerários; V - transporte coletivo; VI - captação e tratamento de esgoto e lixo; VII - telecomunicações; VIII - guarda, uso e controle de substâncias radioativas, equipamentos e materiais nucleares; IX - processamentode dados ligados a serviços essenciais; X - controle de tráfego aéreo e navegação aérea; XI compensação bancária. XII - atividades médico-periciais relacionadas com o regime geral de previdência social e a assistência social; XIII - atividades médico-periciais relacionadas com a caracterização do impedimento físico, mental, intelectual ou sensorial da pessoa com deficiência, por meio da integração de equipes multiprofissionais e interdisciplinares, para fins de reconhecimento de direitos previstos em lei, em especial na Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência); XIV - outras prestações médico-periciais da carreira de Perito Médico Federal indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade. XV - atividades portuárias.” http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm Em princípio parece ser um rol exaustivo, mas em face do disposto no parágrafo, qualquer outro serviço ou atividade cuja paralisação coloque “em perigo iminente a sobrevivência, a saúde ou a segurança da população” deve ser, igualmente, enquadrado entre os essenciais, que não devem ser interrompidos. Como já mencionado, nos serviços e atividades essenciais o aviso prévio da greve deve ser comunicado com a antecedência mínima de 72 horas. GREVE NO SETOR PÚBLICO O conceito de greve construiu-se, em princípio, enfocando as relações de caráter privado, situadas no âmbito do contrato de emprego ou de outras relações de prestação laborativa de caráter privado. A Constituição Federal de 1988 foi pioneira no Brasil a garantir ao servidor público civil o direito à livre associação sindical (art. 37, VI10). Em coerência, também se referiu ao movimento paredista no âmbito da administração pública observada a seguinte regra: o direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em lei complementar. Posteriormente, a Emenda Constitucional n.º 19/98 alterou a expressão lei complementar para lei específica (art. 37, VII11). O Supremo Tribunal Federal, durante a década de 1990, examinando a matéria, por diversas vezes, entendeu tratar-se o art. 37, VII, de norma de eficácia limitada, isto é, norma que depende da emissão de uma lei futura para alcançar plena eficácia. Com tais decisões, o direito de greve dos servidores públicos ainda não seria válido no país enquanto não editada lei regulando a matéria. Ressalte-se que até os dias atuais ainda reside essa omissão legislativa. Como se trata de norma de eficácia limitada muitos Mandados de Injunção12 foram impetrados. Nesses Mandados de Injunção o Congresso foi comunicado de sua omissão legislativa, contudo, permaneceu inerte. Entretanto, no ano de 2007 o Supremo, principalmente no Mandado de Injunção de n.º 708, decidiu que, enquanto não editada lei específica para regulamentar a greve dos servidores públicos, será a ela aplicada a Lei 7.783/89 no que for cabível. 10 Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: VI - é garantido ao servidor público civil o direito à livre associação sindical; 11 Art. 37 - VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em lei específica; 12 Mandado de injunção é uma ação constitucional que pede a regulamentação de uma norma da Constituição Federal, quando os poderes competentes não o fizeram. O pedido é feito para garantir o direito de alguém prejudicado pela omissão. O processo e o julgamento do mandado de injunção competem ao STF quando a omissão na elaboração da norma regulamentadora for do presidente da República, Congresso Nacional, Câmara dos Deputados, Senado Federal, Mesa de uma dessas Casas legislativas, Tribunal de Contas da União, um dos tribunais superiores, Supremo Tribunal Federal. Caso o pedido seja acolhido, o Supremo apenas comunica ao responsável pela elaboração da lei que ele está “em mora legislativa”, ou seja, deixou de cumprir sua obrigação. Dessa forma, a decisão do Supremo não tem força de obrigar o Congresso Nacional a elaborar a lei. Vejamos notícia a esse respeito: “Notícias STF Quinta-feira, 25 de Outubro de 2007 Supremo determina aplicação da lei de greve dos trabalhadores privados aos servidores públicos. O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu hoje (25), por unanimidade, declarar a omissão legislativa quanto ao dever constitucional em editar lei que regulamente o exercício do direito de greve no setor público e, por maioria, aplicar ao setor, no que couber, a lei de greve vigente no setor privado (Lei nº 7.783/89). Da decisão divergiram parcialmente os ministros Ricardo Lewandowski (leia o voto), Joaquim Barbosa e Marco Aurélio, que estabeleciam condições para a utilização da lei de greve, considerando a especificidade do setor público, já que a norma foi feita visando o setor privado, e limitavam a decisão às categorias representadas pelos sindicatos requerentes. A decisão foi tomada no julgamento dos Mandados de Injunção (MIs) 670, 708 e 712, ajuizados, respectivamente, pelo Sindicato dos Servidores Policiais Civis do Estado do Espírito Santo (Sindpol), pelo Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Município de João Pessoa (Sintem) e pelo Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário do Estado do Pará (Sinjep). Os sindicatos buscavam assegurar o direito de greve para seus filiados e reclamavam da omissão legislativa do Congresso Nacional em regulamentar a matéria, conforme determina o artigo 37, inciso VII, da Constituição Federal. (...) Na votação do Mandado 708, do Sintem, o relator, ministro Gilmar Mendes, determinou também declarar a omissão do Legislativo e aplicar a Lei 7.783, no que couber, sendo acompanhado pelos ministros Cezar Peluso, Cármen Lúcia, Celso de Mello, Carlos Britto, Carlos Alberto Menezes Direito, Eros Grau e Ellen Gracie, vencidos os ministros Ricardo Lewandowski, Joaquim Barbosa e Marco Aurélio.” Portanto, antes dessa decisão do STF toda greve exercida pelos servidores públicos era ilegal e, assim sendo, acarretava o desconto dos dias não trabalhados (salvo, convencionado em contrário). Ressalte-se que, mesmo sendo greve ilegal, não era cabível a demissão do servidor grevista, vez que demissão é penalidade aplicável às infrações graves. Após essa decisão do Supremo no MI n.º 708 o servidor público que fizer greve, nos termos da Lei 7.783/89, estará fazendo greve legal. LOCAUTE OU LOCKOUT Conceito Segundo o Professor Maurício Godinho13 “Locaute é a paralisação provisória das atividades da empresa, estabelecimento ou setor, realizada por determinação empresarial, com o objetivo de exercer pressões sobre os trabalhadores, frustrando negociação coletiva ou dificultando o atendimento a reivindicações coletivas obreiras”. Trata-se, portanto, da paralisação do trabalho ordenada pelo próprio empregador para frustrar ou dificultar o atendimento das reivindicações dos trabalhadores. Também se insere nessa figura o ato do empregador para exercer pressão perante as autoridades em busca de alguma vantagem econômica. Ilustrativamente, podemos mencionar o exemplo das greves de transportes coletivos patrocinadas pelas próprias empresas, objetivando pressionar a administração pública a conceder reajustes de tarifas. Caracterização A tipicidade do locaute envolve 4 elementos combinados: Paralisação empresarial – seja no âmbito amplo de toda a empresa, seja no plano mais restrito de um de seus estabelecimentos, ou até mesmo uma simples subdivisão intraempresarial; Ato de vontade do empregador – a paralisação há de resultar de decisão do próprio empresário, sob pena de escapar à tipicidadedo locaute; Tempo de paralisação – de maneira geral essa paralisação é temporária; Objetivos por ela visados – a paralisação tem o objetivo de produzir pressão sobre os trabalhadores, visando enfraquecer ou frustrar suas reivindicações grupais ou a própria negociação coletiva. Isto é, tem objetivos anticoletivos,. Distinções O locaute não se confunde com outros tipos de paralisações empresariais, tais como: Fechamento da empresa por falência (art. 449, CLT14); 13 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 7. ed., São Paulo: LTr. 2008. 14 Art. 449 - Os direitos oriundos da existência do contrato de trabalho subsistirão em caso de falência, concordata ou dissolução da empresa. Factum Principis (art. 486, CLT15); Nestes dois casos, a paralisação tende a ser definitiva e não provisória como ocorre no Locaute. Outrossim, a paralisação deriva de causa própria não tendo intuito malicioso do empregador de provocar pressão a fim de frustrar reivindicações operárias. Fechamento definitivo – esta decisão é interna de seus controladores e é considerada inerente ao poder empregatício; Paralisações temporárias resultantes de caso fortuito ou força maior (art. 61, § 3º, CLT16); Paralisações por férias ou licenças remuneradas coletivas determinadas pelo empregador em vista de situações adversas do mercado econômico ou outro fator relevante (art. 133,II, CLT17); Todas essas situações enfocadas são meras interrupções contratuais que não trazem prejuízo contratual ao empregado. São inerentes ao jus variandi do empregador. Assim, o que diferencia o Locaute dessas paralisações é, sobretudo, o objetivo malicioso da paralisação: arrefecer pleitos coletivos dos empregados. Regência Jurídica – O Locaute tende a ser genericamente proibido, mesmo em se tratando de ordens jurídicas democráticas. É que este mecanismo de autotutela empresarial é considerado um instrumento desmesurado, desproporcional a uma razoável defesa dos interesses empresariais. Afinal os empregadores já têm a seu favor inúmeras prerrogativas de caráter coletivo asseguradas pela ordem jurídica. § 1º - Na falência constituirão créditos privilegiados a totalidade dos salários devidos ao empregado e a totalidade das indenizações a que tiver direito. § 2º - Havendo concordata na falência, será facultado aos contratantes tornar sem efeito a rescisão do contrato de trabalho e conseqüente indenização, desde que o empregador pague, no mínimo, a metade dos salários que seriam devidos ao empregado durante o interregno. 15 Art. 486 - No caso de paralisação temporária ou definitiva do trabalho, motivada por ato de autoridade municipal, estadual ou federal, ou pela promulgação de lei ou resolução que impossibilite a continuação da atividade, prevalecerá o pagamento da indenização, que ficará a cargo do governo responsável. § 1º - Sempre que o empregador invocar em sua defesa o preceito do presente artigo, o tribunal do trabalho competente notificará a pessoa de direito público apontada como responsável pela paralisação do trabalho, para que, no prazo de 30 (trinta) dias, alegue o que entender devido, passando a figurar no processo como chamada à autoria. § 2º - Sempre que a parte interessada, firmada em documento hábil, invocar defesa baseada na disposição deste artigo e indicar qual o juiz competente, será ouvida a parte contrária, para, dentro de 3 (três) dias, falar sobre essa alegação. § 3º - Verificada qual a autoridade responsável, a Junta de Conciliação ou Juiz dar-se-á por incompetente, remetendo os autos ao Juiz Privativo da Fazenda, perante o qual correrá o feito nos termos previstos no processo comum. 16 Art. 61 - Ocorrendo necessidade imperiosa, poderá a duração do trabalho exceder do limite legal ou convencionado, seja para fazer face a motivo de força maior, seja para atender à realização ou conclusão de serviços inadiáveis ou cuja inexecução possa acarretar prejuízo manifesto. § 3º - Sempre que ocorrer interrupção do trabalho, resultante de causas acidentais, ou de força maior, que determinem a impossibilidade de sua realização, a duração do trabalho poderá ser prorrogada pelo tempo necessário até o máximo de 2 (duas) horas, durante o número de dias indispensáveis à recuperação do tempo perdido, desde que não exceda de 10 (dez) horas diárias, em período não superior a 45 (quarenta e cinco) dias por ano, sujeita essa recuperação à prévia autorização da autoridade competente. 17 Art. 133 - Não terá direito a férias o empregado que, no curso do período aquisitivo: II - permanecer em gozo de licença, com percepção de salários, por mais de 30 (trinta) dias; Por isso, o Locaute é considerado um instrumento de autotutela de interesses empresariais socialmente injusto. Não há contradição na ordem jurídica ao acatar o instrumento de greve (autotutela coletiva dos trabalhadores) e negar validade ao locaute (autotutela coletiva dos empresários). Enquanto a greve é o principal mecanismo de pressão dos trabalhadores, os empresários gozam de diversos instrumentos de pressão coletiva. A Lei 7.783/1989, em seu artigo 1718 proíbe expressamente o locaute vez que o mesmo conspira contra o exercício dos direitos sociais, contra as noções de segurança, bem-estar, dignidade da pessoa humana, valor social do trabalho entre outros princípios constitucionais. Efeitos Jurídicos Sendo prática proibida no país a sua realização em descumprimento à Constituição e à Lei de Greve provoca como consequências: O período de afastamento do obreiro será considerado mera interrupção da prestação de serviços. Assim, todas as parcelas contratuais serão devidas ao empregado no lapso temporal de desenvolvimento do locaute. O locaute constitui falta empresarial por descumprimento do contrato e da ordem jurídica. Sendo grave a falta, a ser verificada no caso concreto, poderá ensejar a ruptura contratual por justa causa do empregador. 18 Art. 17. Fica vedada a paralisação das atividades, por iniciativa do empregador, com o objetivo de frustrar negociação ou dificultar o atendimento de reivindicações dos respectivos empregados (lockout). Parágrafo único. A prática referida no caput assegura aos trabalhadores o direito à percepção dos salários durante o período de paralisação.
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