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Myllena Assis Sousa Pires – 5° Período de Medicina Morfofisiologia Adrenal As adrenais ou suprarrenais, são órgãos localizados nos polos superiores de cada rim, sendo dividias em córtex e em medula. a) Córtex: proveniente do mesoderma, possui localização periférica e é responsável pela produção de esteroides, sendo dividido em zonas. ▪ Reticulada: sintetiza esteroides sexuais ▪ Fasciculada: produz cortisol ▪ Glomerulosa: síntese de aldosterona b) Medula: proveniente das cristas neurais, se localiza no centro da glândula e produz as catecolaminas (adrenalina e noradrenalina) Córtex Adrenal Produz os esteroides a partir de um substrato em comum, o colesterol, que pode ser captado diretamente da circulação ou produzido pelas células adrenais a partir de moléculas de acetil- coA, que são convertidas em acetato e, depois em colesterol. A primeira molécula após o colesterol é a pregnenolona, sendo primordial para a síntese dos mineralocorticoides, glicocorticoides e dos esteroides sexuais. 21-OHase, enzima, quando não há sua atividade, não haverá conversão de progesterona em deoxicorticoesterona, ocorrendo um déficit de aldosterona, além de deficiência de cortisol pela não conversão de 17-hidroxiprogesterona em deoxicortisol. A síntese de andrógenos é semelhante na adrenal (zona reticulada) e nas gônadas. Zona Glomerulosa Responsável pela formação dos mineralocorticoides, sendo seu produto a aldosterona. O principal estímulo à produção deste é a angiotensina II. A aldosterona é um hormônio com diversas ações, sendo as principais a reabsorção de sódio e a excreção de potássio nos túbulos distais e ductos coletores. ▪ A produção da mesma também é regulada pela elevação dos níveis séricos de potássio e, em menor escala, pelo ACTH. Zona Fasciculada Ocorre a síntese dos glicocorticoides, sendo a molécula final o cortisol. • Manutenção da homeostase frente ao estresse Hipercortisolismo e Hipocortisolismo Myllena Assis Sousa Pires – 5° Período de Medicina • Regulação de diversos processos fisiológicos, inclusive quanto à imunidade • Tende a manter a perfusão tecidual através da melhora no tônus vascular • Controle da glicemia em períodos jejunais (aumenta a resistência periférica à insulina, reduzindo o consumo de glicose pelos tecidos) • Em sua deficiência, encontraremos hipotensão e hipoglicemia • Em excesso, hipertensão e hiperglicemia O cortisol é secretado de maneira pulsátil e possui ritmo circadiano. • Valores maiores às 8 da manhã: cortisol sérico coletado (diagnostico de insuficiência adrenal) • Valores menores próximo à meia noite: cortisol salivar entre 23/24h (verificar se há quebra do ciclo circadiano como em Cushing) O cortisol também possui atividade mineralocorticoide. A isoenzima 11 beta hidroxiesteroido desidrogenase tipo 2 converte o cortisol em cortisona, impedindo que o cortisol estime os receptores de mineralocorticoides. A metabolização do cortisol ocorre no fígado, por meio de vários processos, sendo seus produtos excretados pelos rins. Zona Reticulada Sitio secundário de produção de esteroides sexuais, cuja síntese é estimulada pelo ACTH. A partir da 17- hidroxipregnenolona, são produzidas a DHEA e depois o SDHEA, sendo esta majoritariamente adrenal, portanto, em situações de aumento excessivo, devem ser investigadas tumores ou hiperplasia adrenal congênita. Além disso, a diminuição de androgênios proveniente das adrenais, leva à redução dos caracteres sexuais secundários, com perda de pelos em axilas e região genital. Medula Adrenal Há a produção de catecolaminas, responsáveis por modular as repostas ao estresse e, estimulada por meio do SNS. É inervada pelo nervo esplâncnico, que estimula a liberação de adrenalina e noradrenalina. ▪ Síntese de adrenalina: ocorre a partir da noradrenalina e essa conversão é realizada pela enzina feniletanolamina-n-metiltransferase. ▪ Cortisol amplifica a resposta adrenérgica por aumentar a transcrição do gene dessa enzima e mantê-la funcionalmente estável. O estresse desencadeia processos adaptativos, com alterações comportamentais, inibição de funções vegetativas e maior disponibilidade de energia. Além da medula, apesar de raro, podemos encontrar o mesmo tipo de tecido em qualquer ponto da migração das células da crista neural. • Tecidos extramedulares se proliferam, gerando tumores: paragangliomas Myllena Assis Sousa Pires – 5° Período de Medicina • Tumores da medula adrenal: feocromocitomas Eixo Hipotálamo-Hipófise-Adrenal O principal hormônio atuante no córtex é o ACTH, por meio do estímulo do hormônio corticotrófico (CRH). O CRH é sintetizado no hipotálamo em reposta ao estresse e atrelado ao ritmo circadiano, conduzido pelo relógio biológico localizado no núcleo supraquiasmático, que é controlado pela melatonina, produzida pela pineal. CRH atua nas células corticotróficas hipofisárias, levando a secreção de POMC que é clivada em ACTH e MSH. O cortisol também é importante para manter o trofismo e atividade da medula, tanto que em situações de Hipocortisolismo, ocorre a diminuição da secreção de catecolaminas. Hipercortisolismo (Síndrome de Cushing) Conjunto de distúrbios cujo ponto em comum é o excesso de glicocorticoides, seja de origem endógena ou exógena. • Endógena: produção excessiva pelas adrenais, autônoma da suprarrenal – SC ACTH independente • Exógena: uso de corticosteroides – SC ACTH dependente • Iatrogênica ou factícia: uso prolongado de glicocorticoides A principal causa de SC ACTH dependente é o adenoma hipofisário produtor de ACTH, condição denominada doença de Cushing. OBS: a síndrome envolve todos os distúrbios com excesso de glicocorticoides, dentre os quais está a doença de Cushing. Manifestações clínicas O excesso de cortisol leva a prejuízos metabólicos, funcionais e cognitivos. a) Ação contrarreguladora de insulina de ação lenta: estados de jejum prolongado, há aumento da secreção de cortisol, levando a maior disponibilização de substratos para a gliconeogênese e menor utilização periférica da glicose. Hiperglicemia associada à resistência à insulina. b) Ação catabólica: cortisol estimula a proteólise. Assim, há perda muscular levando à fraqueza muscular proximal. c) Ganho ponderal e hiperlipidemia: cortisol também estimula a lipólise, liberando ácidos graxos em circulação, que são depositados principalmente na região abdominal, ocasionando obesidade centrípeta. Esse acúmulo também pode ocorrer em outras áreas, como a giba e fácies de lua cheia. Elevados níveis circulantes de ácido também resultam em dislipidemias, principalmente hipertrigliceridemia. d) Ação tônus vascular: cortisol aumenta a responsividade dos vasos à adrenalina, estimula a produção hepática de angiotensinogênio e pode atuar nos receptores mineralocorticoides nos rins, levando maior reabsorção de sódio, o que pode levar aumento Myllena Assis Sousa Pires – 5° Período de Medicina da sede. Resultam em HAS e maior risco de doenças cardiovasculares. Ocasiona feedback negativo de ACTH e de vasopressina, limitando a ação deste último no néfron distal, com consequente menor reabsorção de água, portando, poliúria. Cortisol é capaz de estimular os receptores mineralocorticoides nos rins, promovendo maior reabsorção de sódio e excreção de potássio. e) Ação pró-coagulante: cortisol induz o aumento de fatores de coagulação, principalmente o VII e o von Willebrand, além de diminui a atividade fibrinolítica, resultando em hipercoagulabilidade e risco aumentado de TEV. f) Alterações hematológicas: ocorre mobilização de granulócitos da medula óssea para o sangue periférico, levando a neutrofilia. Aumentam a suscetibilidade a infecções.▪ Linfopenia e eosinopenia: uma vez que há retorno dos linfócitos e dos eosinófilos aos órgãos linfáticos, nos quais ocorre apoptose dessas células. g) Alterações dermatológicas: o ganho ponderal excessivo leva à distensão da pele, com o aparecimento de estrias violáceas. ▪ Atrofia cutânea (redução dos queratinócitos e fibroblastos): leva a maior friabilidade, dificuldade de cicatrização e ao desenvolvimento de equimoses. ▪ Adelgaçamento da pele também permite maior visualização dos vasos, o que leva a pletora. ▪ Na ACTH dependente: hiperpigmentação mucocutânea. ▪ Excesso de ACTH: síntese de MSH, que leva à hiperpigmentação de dobras e de áreas mais expostas ao sol. SÓ OCORRE NA DEPENDENTE, POIS DEPENDE DA PRODUÇÃO DE POMC. h) Alterações ósseas: diminuição da absorção intestinal de cálcio, à redução da formação óssea e ao aumento da reabsorção óssea de cálcio, resultando em perda de massa óssea, com consequente, osteopenia/osteoporose. i) Predisposição à nefrolitíase: ocasiona hipercalciúria, hiperuricosúria e hiperoxalúria, aumentando a formação de cálculos renais. j) Alterações oftalmológicas: mais comuns na SC iatrogênica e incluem glaucoma e catarata. ▪ Catarata: cortisol se liga a proteínas do cristalino ▪ Glaucoma: aumento da pressão intraocular k) Distúrbios neuropsiquiátricos: labilidade emocional, depressão, insônia, ansiedade e déficit de memória. Diagnóstico Myllena Assis Sousa Pires – 5° Período de Medicina A dexametasona é o glicocorticoide de escolha, pois não interfere na dosagem do cortisol. SC ACTH Dependente e Independente Quando o excesso é produzido de forma autônoma, ocorre feedback negativo no hipotálamo, que interrompe a secreção de CRH e consequentemente há diminuição de ACTH. Níveis elevados de ACTH ou inapropriadamente normais em uma situação de Hipercortisolismo, sugere a presença de tumores produtores de ACTH e mais raro de CRH. Conduta na Acth independente Níveis baixos de ACTH associados ao hipercortisolismo, devemos investigar as adrenais. A Independente corresponde a 20% e as causas mais frequentes são os adenomas e o carcinoma adrenal. É MANDATÓRIA A TC DE ABDOME. Uma vez confirmado o hipercortisolismo, o próximo passo é a dosagem de ACTH. Conduta na Acth dependente 80% dos casos, sendo a etiologia mais frequente o adenoma hipofisário produtor de ACTH (doença de Cushing). O padrão ouro é o cateterismo de seios petrosos, pois viabiliza a localização do tumor na doença. Quando realizamos o diagnostico de doença de Cushing pelos testes discriminatórios, solicita-se depois RM de sela túrcica. Myllena Assis Sousa Pires – 5° Período de Medicina Etiologia SC ACTH Independente 20% dos casos. Causa mais frequente o adenoma e o carcinoma adrenal SC + virilização importante = Pensar em carcinoma adrenal SC ACTH Dependente Dentre a dependente, temos: a) Doença de Cushing: caracterizado pela presença de um adenoma hipofisário produtor de ACTH. A maioria é microadenoma (<1cm), cursando geralmente níveis inapropriadamente normais de ACTH. b) Secreção ectópica de ACTH: 10-15% das causas. Ocorre devido à produção de ACTH por tumores malignos, principalmente carcinoma pulmonar de pequenas células. Tais neoplasias produzem o precursor do ACTH (POMC) em quantidades exageradas, o que se encontra a hiperpigmentação mucocutânea. ▪ A hipocalemia, visto que o excesso de ACTH hiperestimula o córtex adrenal a produzir cortisol, cuja quantidade ultrapassa a capacidade de metabolização pela 11-beta, gerando estimulação dos mineralocorticoides, com consequente excreção renal de potássio e hipocalemia. SC Iatrogênica Excluir o uso de glicocorticoides. O excesso de glicocorticoide leva ao feedback negativo no hipotálamo, que interrompe a secreção de CRH, com consequente queda no ACTH. Alguns corticosteroides que interferem nos valores de cortisol basal, como a prednisona e hidrocortisona, levando ao seu “aumento”, enquanto outros, como dexametasona, não alteram os valores do cortisol sérico/salivar. Dexametasona, fludrocortisona e betametasona, por exemplo, possuem atividade mineralocorticoide residual por serem resistentes à metabolização em cortisona pela enzima 11-B HSD tipo 2, podendo encontrar hipocalemia associada. • Indivíduos em uso de prednisona >3 semanas precisam da retirada gradual, uma vez que o excesso bloqueia o HHA; assim, a suspensão abrupta pode desencadear insuficiência adrenal. PseudoCushing Algumas condições estão relacionadas à hiperativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, com aumento de CRH, levando ao hipercortisolismo fisiológico, com ou sem manifestações. Tratamento Hipocortisolismo (Doença de Addison) Distúrbio caracterizado pelo Hipocortisolismo, estando associado ou não à deficiência de mineralocorticoides e de andrógenos adrenais. Quando: a) Intrínseco: insuficiência adrenal primária (comprometimento de todo o córtex adrenal, havendo deficiência de cortisol, aldosterona e andrógenos). Myllena Assis Sousa Pires – 5° Período de Medicina Devido a deficiência de aldosterona, teremos hiponatremia e hipercalemia, característica presente apenas na primaria. b) Comprometimento é do eixo HH: insuficiência adrenal central, que engloba a secundária (se disfunção hipofisária) e terciária (disfunção hipotalâmica). O déficit é na produção de ACTH, assim, apenas as zonas fasciculada e reticulada serão comprometidas. A forma mais frequente é o uso prolongado de glicocorticoides, levando à inibição do eixo hipotalâmico-hipofisário. Manifestações clínicas Diferenciação entre primária e central Além da hipercalemia, presente na primária devido à deficiência de aldosterona, também encontraremos hiperpigmentação mucocutânea, geralmente em dobras. Deficiência de cortisol → leva ao feedback positivo no hipotálamo → secreta CRH que atua na hipófise → produção de POMC → clivada em ACTH e MSH → hiperpigmentação devido MSH. Primaria: não há comprometimento hipofisário (alto ACTH) em resposta ao feedback + exercido pelo Hipocortisolismo. Central: eixo hipotalâmico-hipofisário acometido, níveis baixos ou inapropriadamente normais de ACTH Etiologia 1. Insuficiência Adrenal Primária a) Adrenalite autoimune: principal causa, caracterizada por destruição imunomediada do córtex adrenal. b) Adrenalite infecciosa c) Metástases d) Doenças congênitas e) Drogas indutoras de insuficiência adrenal 2. Insuficiência adrenal central As patologias acometem a hipófise e o hipotálamo, levando ao déficit de ACTH. A causa mais comum é a suspensão abrupta de glicocorticoides, levando a insuficiência terciária a) Doenças autoimunes; mutações b) Pan hipopituitarismo: tumores, infecções, hipofisite linfocítica, hemorragia, síndrome de Sheehan Diagnóstico ▪ Dosagem de cortisol sérico (entre 7/8h da manhã) e do ACTH Myllena Assis Sousa Pires – 5° Período de Medicina Tratamento A crise adrenal é constituída por desidratação, letargia, dor abdominal difusa, náuseas, vômitos e hipotensão, associados à hiponatremia. A administração da hidrocortisona deve ser feita por via EV: a) Adultos: bolus inicial de 100mg, seguido por manutenção de 50mg 6/6h b) Crianças: bolus inicial de 50mh/m2, seguido por manutenção de 50-100 mg/24h
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