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AULA 06 - OBRIGAÇÕES

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AULA 06 – CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES (CONTINUAÇÃO) 
1. A obrigação de dar coisa incerta:
Entre as obrigações de dar, se encontram: a obrigação de dar coisa certa e a obrigação de dar coisa incerta.
A coisa incerta, pela letra do Código Civil, é especificada em gênero e quantidade. Tem-se somente, portanto, que individualizar posteriormente esse objeto.
A obrigação de dar coisa incerta não se confunde com a obrigação alternativa, uma vez que nesta a escolha se dá entre prestações já pré-determinadas (ex: A tem que dar a B um carro ou 30 mil reais). 
Em regra, não há que se falar em perda ou deterioração da coisa na obrigação de dar coisa incerta pois o objeto não está concretamente determinado (coisa em abstrato), podendo ser substituído – o gênero não perece como regra. Caso essa premissa seja prejudica, poderá, nesse sentido, falar em perda ou deterioração da coisa na obrigação de dar coisa incerta. 
A deterioração da coisa certa por culpa do devedor mantém o dever deste prestar. A deterioração da coisa certa sem culpa do devedor adimple a obrigação.
A deterioração da coisa incerta (como no caso de uma forte chuva que estraga uma safra rara de vinho da qual A pretendia adquirir uma garrafa) extingue a obrigação – por se tratar de uma safra rara, torna-se extremamente difícil substituir a coisa quando o próprio gênero pereceu. 
A escolha da prestação, em regra, será realizada pelo devedor, o qual deve observar a boa-fé objetiva (padrão ideal de conduta vinculado a usos e costumes) e a regra do meio-termo (mediae aestimationis): não deve dar a pior coisa, mas não se encontra obrigado a dar a melhor coisa (mas pode dar essa melhor coisa se quiser, por exemplo, agraciar o credor com foco em futuros negócios). 
O universo geral de possibilidades da prestação pode se tornar um universo específico quando as partes têm acesso a um recorte mais aprofundado. Por exemplo: A tem a obrigação de vender um boi a B (A não pode dar o boi mais magro que tiver – X -, por exemplo). Agora, se B visitar a fazenda de A e constatar a presença somente de bois magrinhos, pode ser que X seja aceito de acordo com a regra do meio-termo. A regra do meio-termo passa a ser analisada a partir desse recorte (universo específico = fazenda de A).
A cientificação do credor não é o mero aviso, mas sim o fornecimento a este de elementos que o permitam, tanto quanto o devedor, identificar qual a coisa escolhida. Ex: Supondo que A tem cinco cães e B quer adquirir um, alertado por A de que o valor do cão Y é 2X. Após um surto de doença, quatro dos cães morrem. Considerando que B ainda não tenha tido contato com o cão Y, A tentará alegar a B de que o sobrevivente é o cão Y que custa 2X (possibilidade de fraude contra credores).
Somente após B ter ciência exata do cão que queria é que a obrigação de dar coisa incerta se converterá à obrigação de dar coisa certa. 
Cientificação: Aviso + Concessão de elementos suficientes para identificar a coisa.
2. A obrigação pecuniária:
A obrigação pecuniária é aquela em que a prestação devida é a transferência de determinado valor monetário. 
Ex: Compõe a essência de contratos como o de locação, operações bancárias e dos títulos de crédito.
Ex: Pagamento por perdas e danos. 
Ex: Pagamento por criptomoedas. 
Divergência doutrinária acerca do enquadramento da obrigação pecuniária:
· Para alguns, trata-se de um subtópico da obrigação de dar coisa certa;
· Outros autores afirmam que trata-se de uma categoria independente e diferenciada da obrigação de dar (Maurício Requião adere a essa visão); 
Embora se assemelhem às obrigações de dar, principalmente a de dar coisa incerta, a obrigação pecuniária constitui uma categoria autônoma. 
O dinheiro é só o suporte do valor colocado pelo governo sobre ele. Ex: Uma nota de 50 reais é uma mera folha de papel, mas apresenta um valor a ela relacionada. Por outro lado, as moedas em desuso (como o cruzado e o cruzeiro) apresentam importância real somente a nível de colecionador. 
Não importa a coisa em si, mas o valor a ela atribuído. 
Não se pode jamais converter uma obrigação pecuniária em uma obrigação de dar coisa certa. 
A tradição não é essencial, mas sim acidental. 
Consoante o art. 315, CC, o pagamento das obrigações pecuniárias se dá com base no seu valor nominal. Todavia, se admite a correção do valor devido para que até o momento do pagamento seja mantido o seu valor real (funcional). 
Medida protetiva da moeda nacional: O pagamento das obrigações pecuniárias no território brasileiro se dá com a moeda em curso (art. 318, CC). 
Não é necessária a criação de uma categoria específica para as obrigações pecuniárias no Código Civil. Basta que a posição doutrinária e jurisprudencial atente para as particularidades inerentes a essa obrigação.
3. A obrigação de fazer:
Na obrigação de fazer não há a entrega de coisa, assim como na obrigação de não fazer.
A regulamentação da obrigação de fazer é parecida com a obrigação de não fazer (evidenciando o papel que a transferência de propriedade exerce no nosso ordenamento jurídico – obrigação de dar). 
Exemplo de obrigação de fazer: A contrata B para pintar um quadro. B presta o serviço. 
Uma obrigação de fazer pode ser sucedida de uma obrigação de dar. No exemplo citado, após pintar o quadro, B deve entregá-lo a A. 
Se B sequer pintou o quadro, A pode alegar o descumprimento da obrigação de fazer (ensejou perdas e danos). 
Se B pintou o quadro, mas não entregou a A, este pode alegar o descumprimento da obrigação de dar. 
A obrigação de fazer fungível x a obrigação de fazer infungível: Distinção pautada na necessidade (obrigação de fazer infungível ou personalíssima) ou não (obrigação de fazer fungível) da obrigação ser realizada por um sujeito específico. Emergem polêmicas discussões, a luz do caso concreto, se uma determinada obrigação de fazer é fungível ou infungível. 
Ex: Se um público comprou um ingresso para assistir a um show da banda A e, no dia, o show foi realizado pela banda B. É nítido o descumprimento da obrigação de fazer, por esta ser personalíssima.
Ex: Caso o evento acima se desse em um festival, o qual é formado por diversas bandas (principais e secundárias – A, B, C, D...), o inadimplemento seria relacionado a uma obrigação de fazer fungível. Caso algumas pessoas compraram ingressos só para prestigiar a banda A e esta foi substituída pela banda E, tem-se uma discussão travada acerca da obrigação de fazer ser fungível ou infungível. 
Ex: Se os alunos de uma faculdade querem cursar Direito Civil e o professor que iria lecionar a disciplina foi substituído, tem-se uma obrigação de fazer fungível pois o contrato é sobre ter aula da disciplina e não necessariamente do professor X (embora X possa ter influenciado na escolha da disciplina por parte de alguns alunos). 
Ex: No caso de um curso de extensão coordenado pelo professor X, caso este seja substituído, tem-se uma obrigação de fazer infungível. O mesmo raciocínio vale para uma cirurgia a ser realizada pelo médico Y e não pelo seu assistente 
CAPÍTULO II
 Das Obrigações de Fazer
Art. 247 – CC: Incorre na obrigação de indenizar perdas e danos o devedor que recusar a prestação a ele só imposta, ou só por ele exeqüível.
Art. 248 – CC: Se a prestação do fato tornar-se impossível sem culpa do devedor, resolver-se-á a obrigação; se por culpa dele, responderá por perdas e danos.
Art. 249 – CC: Se o fato puder ser executado por terceiro, será livre ao credor mandá-lo executar à custa do devedor, havendo recusa ou mora deste, sem prejuízo da indenização cabível.
Parágrafo único. Em caso de urgência, pode o credor, independentemente de autorização judicial, executar ou mandar executar o fato, sendo depois ressarcido. 
· Inadimplemento sem culpa (art. 248 – CC): Obrigação resolvida. Extingue-se a obrigação; 
· O art. 247 do Código Civil se refere à obrigação de fazer infungível, enquanto o art. 249 se assemelha à obrigação de fazer fungível; 
· A obrigação de planos de saúde é uma obrigação de fazer (uma cirurgia, por exemplo). Há uma intensajuridicialização na área da saúde, uma vez que constantemente liminares forçam o plano de saúde a autorizar certos procedimentos. Pode-se impor uma multa ao plano a cada dia de descumprimento (medida alternativa ao pagamento de perdas e danos); 
· No caput do art. 249 não há uma autotutela pois há a dependência de autorização judicial, fazendo o parágrafo único uma ressalva (exceção) no que concerne ao caso de urgência. Ex: A contratou um encanador para consertar um vazamento e este não comparece. A pode solicitar que a companhia envie outro funcionário em virtude do caráter emergencial de se reparar o domicílio (risco iminente de danos patrimoniais); 
4. A obrigação de não fazer: 
Constantemente presentes em nosso dia-dia, ainda que imperceptíveis. 
Cláusula de exclusividade: Qualquer cláusula em que contexto for impõe uma obrigação de não fazer. Ex: Um contrato impõe que o ator A só pode aparecer no canal X (implícita a obrigação de não aparecer nos demais canais). 
Boa parte dos bares e restaurantes tem contratos que se comprometem a não vender produtos de outra marca. Por exemplo, no local em que se vende Guaraná Antártica, geralmente não se vende Coca-Cola e sim, Pepsi. 
O sigilo profissional também representa uma obrigação de não fazer. Ex: T trabalha em uma empresa e conhece o modo de trabalho dela. T não pode divulgá-lo mesmo após a sua desvinculação da empresa (dever de fidelidade). 
Cláusulas de não concorrência também são obrigações de não fazer. Ex: X é dono dos mercados A e B. X resolve vender B para um grupo ainda pouco experiente. X não pode abrir logo depois um mercado C para concorrer com B. 
Cláusulas de raio correspondem a cláusulas de não concorrência delimitada geograficamente. Ex: Tantos metros do negócio A, o negócio B não poderá se estabelecer. 
A obrigação de não fazer é, geralmente, aquela que mais dura em comparação com as obrigações de fazer e de dar (cumprimento mais continuado) – como no caso do sigilo inerente a um profissional que já deixou a empresa. 
CAPÍTULO III
 Das Obrigações de Não Fazer
Art. 250 – CC: Extingue-se a obrigação de não fazer, desde que, sem culpa do devedor, se lhe torne impossível abster-se do ato, que se obrigou a não praticar.
Art. 251 – CC: Praticado pelo devedor o ato, a cuja abstenção se obrigara, o credor pode exigir dele que o desfaça, sob pena de se desfazer à sua custa, ressarcindo o culpado perdas e danos.
Parágrafo único. Em caso de urgência, poderá o credor desfazer ou mandar desfazer, independentemente de autorização judicial, sem prejuízo do ressarcimento devido.
· Sem culpa do devedor, extingue-se a obrigação no caso de inadimplemento. Ex: A realiza ato que não deveria em virtude de coação realizada pelo Poder Público; 
· No caso de descumprimento que gera a responsabilidade, seguir-se-á a lógica da obrigação de fazer já estudada. Ex: Caso A, ator da empresa X, atue na empresa Y, A deverá arcar com perdas e danos (não tem, em um número significativo de ocasiões, como se desfazer o que já foi feito = desfazimento impossível); 
5. A obrigação alternativa:
A obrigação alternativa é aquela obrigação na qual o devedor (como regra) deverá escolher entre duas ou mais prestações. 
É possível que haja uma obrigação alternativa simultaneamente com uma cumulativa, embora não seja comum. Ex: A deve escolher X ou Y, mais Z. 
Ex: O professor Maurício Requião se obrigou a dar uma aula ou dar um livro. Caso ele escolha dar a aula, cumprirá com a obrigação, assim como cumprirá no caso de dar um livro. 
O poder de escolha do devedor é limitado entre as prestações previamente definidas.
A obrigação alternativa não se confunde com a obrigação de dar coisa incerta. A escolha na obrigação de dar coisa incerta, também, como regra, cabe ao devedor, o qual deve selecionar um meio-termo. 
Na obrigação alternativa, contudo, não se aplica a regra do meio-termo, mas é muito raro que se haja a escolha entre coisas de valores tão díspares (um celular e um apartamento, por exemplo). 
Na obrigação alternativa, geralmente, as prestações apresentam o mesmo poder, pouco importando o valor econômico. 
CAPÍTULO IV
Das Obrigações Alternativas
Art. 252 – CC: Nas obrigações alternativas, a escolha cabe ao devedor, se outra coisa não se estipulou.
§ 1 o Não pode o devedor obrigar o credor a receber parte em uma prestação e parte em outra.
§ 2 o Quando a obrigação for de prestações periódicas, a faculdade de opção poderá ser exercida em cada período.
§ 3 o No caso de pluralidade de optantes, não havendo acordo unânime entre eles, decidirá o juiz, findo o prazo por este assinado para a deliberação.
§ 4 o Se o título deferir a opção a terceiro, e este não quiser, ou não puder exercê-la, caberá ao juiz a escolha se não houver acordo entre as partes. 
Supondo que o professor Maurício Requião se obrigou a dar uma aula ou dar um livro. Consoante o parágrafo 1º do art. 252, ele não pode decidir, por exemplo, dar meia aula e meio livro, pois assim se estaria criando uma terceira prestação. Destarte, o poder de escolha do devedor é limitado entre as prestações previamente definidas.
Trata-se de uma obrigação periódica (§2º), a título exemplificativo, pagar boleto de aluguel. Não se confunde, vale o alerta, no caso de parcelamento do pagamento de um produto (como na compra de um pedaço de carne). 
No caso de pluralidade de optantes (pluralidade de pessoas com direitos de escolha), eles, em conjunto, terão que decidir via deliberação. A escolha precisa, de acordo com o Código Civil, ser unânime. 
Segundo o parágrafo 4º, se o direito de escolha for concedido a terceiro, saindo do devedor, caso esse direito retorne, não retorna ao devedor e sim ao consenso entre as partes. No caso de não acordo entre as partes, a escolha caberá a juiz. 
Art. 253 – CC: Se uma das duas prestações não puder ser objeto de obrigação ou se tornada inexeqüível, subsistirá o débito quanto à outra.
Art. 254 – CC: Se, por culpa do devedor, não se puder cumprir nenhuma das prestações, não competindo ao credor a escolha, ficará aquele obrigado a pagar o valor da que por último se impossibilitou, mais as perdas e danos que o caso determinar.
Art. 255 – CC: Quando a escolha couber ao credor e uma das prestações tornar-se impossível por culpa do devedor, o credor terá direito de exigir a prestação subsistente ou o valor da outra, com perdas e danos; se, por culpa do devedor, ambas as prestações se tornarem inexeqüíveis, poderá o credor reclamar o valor de qualquer das duas, além da indenização por perdas e danos.
Art. 256 – CC: Se todas as prestações se tornarem impossíveis sem culpa do devedor, extinguir-se-á a obrigação.
Os demais dispositivos do Código Civil que tratam da obrigação alternativa discorrem sobre o inadimplemento. 
No caso de culpa do devedor, deve-se considerar vários fatores. Ex: A tinha que entregar um celular ou um notebook, mas o celular foi danificado. A obrigação pode ser cumprida com o notebook, já que a escolha cabe ao devedor (A). 
Se o credor de A tivesse o poder de escolha e quisesse escolher o celular. Se o credor de A escolher a prestação subsistente (notebook), não houve prejuízo. Agora, se o credor de A tivesse escolhido o celular (prestação perdida), A deve arcar com perdas e danos somado ao valor equivalente.
No caso da impossibilidade do cumprimento de todas as prestações (A quebrar o celular e depois o notebook), o devedor deverá pagar o equivalente, perdas e danos em relação à última que foi impossibilitada (art. 254, CC) – neste caso, em relação ao notebook. 
No que tange à perda de uma prestação acontece com culpa e a outra acontece sem culpa, o Código não disciplina. Para Maurício Requião, deve-se seguir a lógica do art. 254, embora não seja um consenso doutrinário, justamente em virtude da lacuna no Código Civil. 
6. A obrigação facultativa:
Em síntese, o devedor pode se omitir da obrigação.
Quando a obrigação é criada, há uma única prestação (não há alternatividade). 
Ex: Descoberta (encontrar coisa alheia). Quando alguém devolve algo que pertence ao dono,este terá uma obrigação para com o responsável por achar o objeto (recompensa de, no mínimo, 5% do valor da coisa + indenização pelas despesas com a conservação e transporte da coisa). Todavia, o próprio artigo que discorre sobre a recompensa faculta tal obrigação ao dono: “se o dono não preferir abandoná-la”. 
Art. 1.234 – CC: Aquele que restituir a coisa achada, nos termos do artigo antecedente, terá direito a uma recompensa não inferior a cinco por cento do seu valor, e à indenização pelas despesas que houver feito com a conservação e transporte da coisa, se o dono não preferir abandoná-la.
(grifos nossos)
7. Atividade a ser corrigida na próxima aula:
Fernanda é credora de um notebook a ser entregue por Guilherme e Lara. Juliana é credora de mil reais de Fellipe e Carlos, devedores solidários. Partindo das duas situações acima: 
a) analise como deve se dar o pagamento e a diferença dos fundamentos. 
Guilherme e Lara, consoante o art. 259, CC, serão obrigados, individualmente pela dívida toda (notebook) para com Fernanda. O devedor que pagar a dívida, sub-roga-se no direito do credor em relação ao coobrigado. 
Fellipe e Carlos apresentam uma obrigação pecuniária para com Juliana. Juliana pode exigir a quantia integral de qualquer um dos dois, uma vez que são devedores solidários. Posteriormente, após o adimplemento da obrigação, Fellipe e Carlos podem deliberar e chegar a um consenso. 
b) caso um dos devedores morra, deixando dois herdeiros, como isso influenciaria no cumprimento da obrigação em cada um dos caso.
Para que Juliana possa exigir a quantia financeira dos herdeiros de Fellipe ou de Carlos, tal conduta deve ser celebrada mediante instrumento público (art. 288 – CC). No caso envolvendo Fernanda, os herdeiros de Guilherme ou Lara terão a faculdade de adimplir a obrigação (art. 299 – CC).

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