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Geovana Sanches, TXXIV ANEMIA HEMOLÍTICA SÍNDROME ANÊMICA AGUDA As anemias hemolíticas se enquadram nas síndromes anêmicas agudas, nas quais o valor da hemoglobina pode não ser tão baixo, mas a clínica depende da velocidade de instalação. Isso pois, o tempo para instalação de mecanismos compensatórios é muito curto, de forma que o paciente se apresentará sintomático. O exemplo mais comum de síndrome anêmica aguda é o sangramento agudo, na qual a perda de grandes quantidades de sangue leva a alteração dos sinais vitais. Dentro da hematologia, a síndrome anêmica aguda é encontrada nas anemias hemolíticas, sobretudo nos episódios de hemólise. Sintomatologia • Taquicardia: normalmente é o primeiro sintoma a se manifestar. Pode ocorrer inclusive no repouso • Dispneia em repouso ou aos mínimos esforços, que pode ou não estar associado a queda de saturação de oxigênio (depende da concentração da hemoglobina, doenças pulmonares associadas, etc) • Precórdio hiperdinâmico, com ictus cordis proeminente acompanhado ou não de sopro sistólico (decorrente da hiper- dinâmica cardiovascular) • IC de alto débito: baixa perfusão tecidual de sangue e, consequentemente, de oxigênio, mesmo sem alterações cardíacas. O paciente cursa com sintomas de insuficiência cardíaca, os quais são extintos após retorno aos níveis normais de hemácia • Hipotensão em casos muito graves, sendo mais comum em quadros de hemorragia aguda • Icterícia: pode estar presente ou não nas anemias hemolíticas, mas quando presente auxilia no diagnóstico de hemólise. Vale lembrar que a identificação de icterícia em pacientes afrodescendentes pode ser dificuldade. Além disso, quando presente, a icterícia pode mascarar a palidez. o Bilirrubina < 3 mg/dL à não há icterícia identificável ao exame físico; o Bilirrubina ≥ 3 mg/dL à paciente pode-se apresentar ictérico. ÍNDICES HEMATIMÉTRICOS Ao identificarmos uma anemia, o primeiro passo é solicitar a dosagem de reticulócitos. Quando encontramos uma alta contagem dessas células estamos diante de uma anemia hiperproliferativa, cujas possibilidades etiológicas são por sangramento agudo ou por anemia hemolítica, seja esta adquirida ou hereditária. O padrão mais encontrado para anemias hemolíticas é normocítico e normocrômico, mas as que se enquadram nessa classificação também podem ser macrocíticas a depender da quantidade de reticulócitos presentes, tendo em vista que essa célula é maior que as hemácias maduras. RETICULÓCITOS Os reticulócitos são células precursoras das hemácias e, além disso, marcam a atividade medular. O proeritroblasto vai adquirindo hemoglobina em seu citoplasma e o núcleo vai amadurecendo (coloração muda do mais eosinofílico para o mais basofílico) e se condensando. Quando o núcleo é expulso da célula, ainda há RNA em seu interior, o que caracteriza os reticulócitos. A partir do momento da expulsão do material genético remanescente, a célula está madura e então é denominada hemácia. No sangue periférico, o reticulócito é morfologacamente muito semelhante à hemácia, mas a partir de colorações especiais (como azul de cresil brilhante) é possível identificar seu formato mais arredondado e o RNA no interior. Geovana Sanches, TXXIV Em decorrência da necessidade de coloração especial, a contagem de reticulócitos não está contida no hemograma, sendo necessário solicitar um exame a parte. Correção dos reticulócitos A porcentagem de reticulócitos mostrada no resultado do exame precisa ser corrigida. Isso pois, paciente que apresenta diminuição da contagem de hemácias (como nas anemias) pode ter a contagem de recitulócitos superestimada caso esse valor não seja levado em consideração. Sendo assim, para avaliação dos reticulócitos, é preciso avaliar o valor absoluto e o valor corrigido de acordo com o número total de hemácias. Faz-se necessário duas correções no valor percentual: • Índice de reticulócitos corrigidos (IRC) o % reticulócitos x Ht/40 (ou Hb/15) • Índice de produção reticulocitária o IRC/2 o O denominador é variável de acordo com a porcentagem do hematócrito. Está relacionada ao tempo de maturação do reticulótico, tendo em vista que quanto antes essa célula é liberada, maior a quantidade de RNA ela terá e mais tempo demorará para que ela se torne uma hemácia. o Em situações normais, com Ht= 45%, os reticulócitos levam 24h para se tornarem hemácias. Quando analisada a porcentagem, o normal é que encontremos um reticulócito entre 0.5 e 2%. Se o paciente apresentar anemia, não consideramos valor de normalidade, sendo que acima de 2% temos anemia hiperproliferativa e abaixo de 2%, anemia hipoproliferativa. Caso o laboratório já nos forneça o número absoluto, a correção não se faz necessária e, nesse caso, se o número total de reticulócitos for maior que 100.000, já configura aumento dessas células, independente da porcentagem. Exemplos à Hb de 8,2, com reticulócito de 2,8% • Paciente anêmico, devemos fazer a correção; • IRC= % de ret x Hb/15= 2,8 x 8,2/15 o IRC= 1,5 • Índice de produção reticulocitária= IRC/2 o 1,5/2= 0,75% o Anemia hipoproliferativa à Hb de 13,2 com reticulócito de 8% • IRC= % de ret x Hb/15= 8 x 13,2/15 o IRC= 7,04 • Índice de produção reticulocitária o 7,04/2= 3,52% o Hiperproliferação sem anemia à hemólise compensada • Obs.: nesse caso, o denominador deveria ser alterado para 1.5, tendo em vista que o Ht está próximo de 39,6 (3 vezes o valor da hemoglobina). Como já mencionado, os reticulócitos são um marcador da atividade medular. Seus valores devem ser interpretados junto à análise da taxa hemoglobina e do quadro clínico do paciente. Pacientes que apresentam anemia, mas o reticulócito está dentro do valor de normalidade, essa anemia é hipoproliferativa. Caso a medula estivesse em condições adequadas, ela estaria reagindo e produzindo uma maior quantidade de células vermelhas, aumentando, assim, o número de reticulócitos. HEMÓLISE Hemólise é a destruição patológica das hemácias, que ocorre na periferia, ou seja, fora da medula óssea. Diferencia-se da hemocaterese, a qual é a destruição fisiológica das hemácias senescentes. A sobrevida média normal das hemácias é de 120 dias e, a diminuição nessa referência pode estar relacionada a alguma patologia (nem toda hemólise é patológica). Todavia, a medula óssea saudável consegue expandir sua produção, lançando mais eritrócitos ao sangue periférico e impedindo que o indivíduo curse com anemia. Essa expansibilidade é capaz de impedir a anemia em casos de diminuição da sobrevida para Geovana Sanches, TXXIV até 30 dias, ao que denominamos hemólise compensada. Para valores inferiores a este, por mais que a medula óssea expanda sua produção ao máximo, o nível de hemácias não será reposto. Motivo da hemólise • Anormalidade na membrana do eritrócito o Microeritrocitose hereditária • Anormalidade nas enzimas eritrocitárias o Deficiência da enzima G6PD • Fatores externos às hemácias o Alta de anticorpos o Microangiopatia o Drogas o Doenças virais • Anormalidade na hemoglobina o Hemoglobinopatias § Anemia falciforme § Talassemias Consequências da hemólise Com a destruição das hemácias na periferia, a hemólise pode evoluir com anemia. Isso gera um estímulo à produção de eritropoietina nos rins, hormônio responsável por estimular a medula óssea a produzir eritrócitos. Assim, há hiperplasia eritróide, ou seja, hiper- proliferação da série vermelha na medula. Em decorrência desse aumento na produção, há grande liberação de reticulócitos na periferia, acima do basal, o que pode ser identificado através de exames de sangue. Provas de hemólise Em uma suspeita de anemia hemolítica, além do hemograma, é necessário avaliar as provas de hemólise. Para confirmar o diagnóstico, elas devem estar positivas e o paciente deve apresentarclínica compatível. • Reticulócitos (função medular) • DHL ou LDH (desidrogenase lática) • Bilirrubina • Haptoglobina Desidrogenada lática A DHL ou LDH é uma enzima que atua no ciclo de conversão do ácido lático em ácido pirúvico no ambiente intracelular. É um marcador de proliferação e lesão celular, de forma que, se aumentado, há produção ou destruição exacerbada de células, podendo ocorrer os dois em conjunto. Isoladamente, a DHL aumentado não é necessariamente marcador de hemólise. Ela pode estar elevada também nas neoplasias em geral, infecções, IAM, hepatites, entre outros. Bilirrubina Nos casos de hemólise, há aumento da bilirrubina indireta, tendo em vista que não há nenhuma alteração no fígado. O que ocorre é que, mesmo que o fígado esteja exercendo sua função, a quantidade de bilirrubina indireta gerada em decorrência da destruição de hemoglobina está muito aumentada, de forma que há uma sobrecarga. Isso é diferente nas hepatopatias, nas quais a excreção da bilirrubina direta está prejudicada, promovendo um extravasamento dessa substância para a corrente sanguínea e consequente acúmulo. Haptoglobina A hemoglobina livre é muito tóxica para os vasos (possui radical de oxigênio, promovendo oxidação), de forma que há necessidade de tamponamento para evitar lesões. Para tal, temos a haptoglobina, proteína produzida no fígado e que tem como função se ligar irreversivelmente a hemoglobina. Em situações de hemólise, em que há aumento da destruição de hemácias e grandes quantidades de hemoglobina livre, há maior demanda de haptoglobina. Com isso, ao realizarmos o exame para sua dosagem, encontraremos os níveis de haptoglobina livre diminuídos em todos os tipos de hemólise. Tipos de hemólise A hemólise pode ser intravascular ou extravascular, a depender do local em que ocorre. Geovana Sanches, TXXIV Extravascular A hemólise extravascular ocorre no sistema retículo-endotelial (principalmente no baço), ou seja, no mesmo local em que se dá a hemocaterese. Todavia, esse processo está aumentado. • Onde ocorre? o Macrófagos, sobretudo esplênicos • O que ocorre? o Aumento da destruição das hemácias pela via normal • O que acarreta? o Anemia o Icterícia o Bilirrubinúria ausente ou discreta (não há eliminação de bilirrubina na urina tendo em vista que a hemoglobina entra em seu ciclo de reabsorção) • Laboratório o Provas de hemólise positivas o Microesferócitos (alteração de forma) no esfregaço de sangue periférico. Intravascular A hemólise intravascular ocorre no interior dos vasos, local em que isso não deveria ocorrer fisiologicamente. Há liberação de hemoglobina livre, mecanismo que leva as microangiopatias. • Onde ocorre? o Dentro dos vasos • O que ocorre? o Destruição das hemácias dentro da circulação, com liberação de Hb livre • O que acarreta? o Anemia geralmente sem icterícia § Há pouco aumento nos níveis de bilirrubina devido a degradação em local inadequado. o Lesão endotelial e microangiopatia § Formação de microtrombos o Hemoglobinúria (a Hb livre na corrente sanguínea é filtrada pelos rins e eliminada) • Laboratório o Provas de hemólise positivas o Esquizócitos ou outras formas no ESP, devido a quebra da hemácia quando ao passar pela microcirculação TIPOS DE ANEMIA HEMOLÍTICA Ao identificarmos uma anemia hiperproliferativa (sem sangramento agudo) associada as provas de hemólise positivas, temos certeza de que estamos diante de uma anemia hemolítica. Dentro desse grupo, temos as adquiridas e as hereditárias. ANEMIAS HEMOLÍTICAS ADQUIRIDAS As anemias hemolíticas adquiridas são caracterizadas por sintomas agudos típicos, em pacientes que possuem fatores de risco ou predisposição. Para esses pacientes, a história familiar pode ser ou não positiva, não tendo grande importância. CAUSAS • Idiopáticas: correspondem a 50% dos casos e são decorrentes da produção de anticorpos contra a hemácia o Maior acometimento em mulheres jovens e durante a gravidez • Hemólise secundária o Outros distúrbios imunes § Especialmente LES o Doenças infecciosas § Principalmente hepatite B e C • Medicações • Pacientes oncológicos o É mais comum nos que possuem leucemia linfocítica crônica PRINCIPAIS EXEMPLOS • AHAI: anemia hemolítica autoimune • SHU: síndrome hemolítica urêmica • PTT: púrpura trombocitopênica trombótica • Induzida por medicação CLASSIFICAÇÃO DE ACORDO COM O TIPO DE HEMÓLISE Extravascular • Epidemiologia: mulheres jovens Geovana Sanches, TXXIV • Outras morbidades associadas, como LES • Clínica apenas de Sd. anêmica aguda • Provas de hemólise + Commbs direto • Não há esquizócitos • Exemplo: AHAI Intravascular • Epidemiologia o Indivíduos jovens ou mais velhos o Grande destaque para as gestantes • Em geral, sem morbidades prévias • Pêntade clínica clássica (PTT) • Provas de hemólise + coombs negativo + esquizócitos em sangue periférico • Outras alterações laboratoriais o PTT: insuficiência renal discreta, sintoma neurológico o SHU: insuficiência renal grave • Exemplos: PTT e SHU ESTUDO DA ANEMIA HEMOLÍTICA ADQUIRIDA Início súbito dos sintomas de síndrome anêmica aguda, associada as provas de hemólise positivas. Os seguintes exames devem ser realizados: • Esfregaço de sangue periférico • COOMBS o Utilizado para AHAI, provando a presença do anticorpo • Prova de Eluato o Quando o COOMBS é negativo e ainda há suspeita de anemia auto- imune, esse exame pode ser solicitado • Pesquisar causas secundárias • Microesferocitose hereditária ANEMIA HEMOLÍTICA AUTOIMUNE IDIOPÁTICA (AHAI) A AHAI é induzida por ligação de auto anticorpos ou ativação do complemento na superfície das hemácias, promovendo destruição das hemácias no sangue periférico. O auto anticorpo não tem função de destruir a hemácia diretamente, mas sim sinalizar para que haja destruição dessas células. Sendo assim, o mecanismo de hemólise é sempre extravascular, a partir dos macrófagos no sistema reticuloendotelial. Há dois mecanismos básicos: • Mecanismo I: ocasionada por anticorpos IgG (quente) • Mecanismo II: ocasionada por anticorpos IgM (frio) Essa anemia pode ser primária ou secundária. No caso das primárias, a doença em si é a anemia hemolítica, com produção de auto anticorpos contra as hemácias. Já nas AHAIs secundárias, o paciente apresenta outra condição clínica subjacente, como doenças autoimunes (sobretudo lúpus eritematoso sistêmico), doenças infecciosas ou medicamentos. A epidemiologia aponta maior acometimento em mulheres jovens, sendo a faixa principal entre a quarta e quinta década de vida. O principal fator de risco é a presença de outras doenças auto-imunes, as quais não tem relação direta com a AHAI, mas demonstram que o paciente apresenta alterações prévios em seu sistema imunológico. MECANISMO I: A QUENTE As AHAI a quente são ocasionadas pelo IgG, o qual é dito um anticorpo quente devido a temperatura ótima de reatividade ser 37ºC, ou seja, ocorrerá mais hemólise nessa temperatura. O IgG promove a opsonização das hemácias, o que promove a fagocitose das mesmas nos macrófagos esplênicos (hemólise extravascular). Anemia hemolítica por IgG O aspecto clínico pode variar desde hemólise compensada (sem anemia) até cor anêmico (IC de alto débito). • 50% não tem causa definida à AHAI • 50% secundária à alguma doença, sendo parte do seu quadro clínico à “AHAI secundária” o Lúpus eritematoso sistêmico o Neoplasias, em destaque LLC o Doenças linfoproliferativas Geovana Sanches, TXXIV o Doenças infecciosas § Hepatite B § Hepatite C § Pneumonia p/ Mycoplasma • Ocorre mais a frio o Doenças inflamatórias intestinais o Outras colagenoses o Drogas § Antibióticos • Vancomicina • Cefalosporina de 3º geração § Outras MECANISMO II: A FRIO As AHAIs a frio são ocasionadaspelo IgM, o qual é dito um anticorpo frio devido a temperatura ótima de reatividade ser 4ºC. Apesar desta ser a melhor temperatura, isso não significa que é a única, tendo em vista que o IgM consegue reagir em outras temperaturas. Todavia, como o anticorpo não está trabalhando com sua reatividade máxima, temos normalmente um quadro mais brando quando comparado a AHAI a quente, na qual o anticorpo possui temperatura ideal para sua ação. O IgM se liga as hemácias e ativa o sistema complemento até formação do C3b, o qual atua como agente opsonizador. A partir disso, no sistema retículo-endotelial (principalmente no fígado), há hemólise extravascular. DIFERENCIAÇÃO A quente A frio 70,3% de todos os casos de AHAI Rara Mulheres jovens = Sexos Pacientes mais isosos Mais aguda e com níveis menores de Hb Geralmente mais insidioso Temp ótima a 37º Temp ótima a 4º IgG IgM ACHADOS CLÍNICOS • Palidez cutânea (Síndrome anêmica) • Icterícia (Síndrome Ictérica) o Lembrar que a icterícia subestima a palidez • Habitualmente sem colúria o Bilirrubina indireta não é eliminada na urina • Discreta esplenomegalia o Não é sinal obrigatório ACHADOS LABORATORIAIS Índices hematimétricos • Normocítica (pode ser macrocítica) • Normocrômica • Hiperproliferativa • Pode haver RDW aumentado devido ao aumento do número de reticulócitos na periferia (célula maior que a hemácia madura) Provas de hemólise positivas • Reticulócitos aumentados • DHL aumentada • Bilirrubina aumenta, às custas da indireta • Haptoglobina diminuída Teste de COOMBS O teste de COOMBS ou teste de antiglobulina direta (TAD) pode ser realizado de duas formas: direto ou indireto. O teste de COOMBS direto avalia a presença de anticorpos ligados as hemácias. Para sua realização, o soro anti-imunoglobulina é inserido no sangue do paciente e, caso o anticorpo esteja presente, haverá ligação desses dois compostos, promovendo aglutinação e decantação das hemácias à teste positivo. Esse método é o utilizado para identificar a AHAI. No teste de COOMBS indireto, retira-se plasma do paciente e mistura com hemácias que possuem antígenos de membrana conhecidos, ou seja, há avaliação de anticorpos presentes no soro. Caso o soro do paciente apresente anticorpos para Geovana Sanches, TXXIV esses antígenos, ocorrerá ligação a membrana da hemácia, com aglutinação e decantação à teste positivo. Esse método é utilizado, por exemplo, para identificar doença hemolítica do recém- nascido (ocasionada por incompatibilidade do fator RH, sendo a mãe RH negativo e o recém- nascido, RH positivo). Esfregaco de sangue periférico • Esferócitos • Pontilhado basofílico • Policromasia • Presença de eritroblastos (hemácias imaturas, ainda com núcleo) Rastreio de causas secundárias • Sorologias o Hepatite B e C, HIV • História clínica e exame físico compatível com neoplasia • FAN e questionamento sintomático o Para identificação de LES • Medicamentos Caso todas as indagações no rastreio de causas secundárias sejam negativas, estamos diante de uma AHAI primária (ou idiopática). TRATAMENTO DA AHAI Na crise • Buscar a causa de base • Não transfundir hemácias o Atiça sistema auto-imune o No cor anêmico ou em casos muito graves pode ser indicada a transfusão após imunossupressão § Deve-se tentar tratar com glicocorticoide e imunoglobulina antes • Corticoide oral ou venoso, dependendo da gravidade • Imunoglobulina o Situações extremamente graves o Situações refratárias, em que não há resposta ao corticoide o As imunoglobulinas preenchem os sítios dos macrófagos, inibindo a destruição das hemácias A longo prazo A partir da instalação da AHAI, ela não é curável, sendo necessário o seu controle. O tratamento a longo prazo é indicado para pacientes corticodependentes, com intolerância ou efeito colateral grave do corticoide, múltiplas recaídas de AHAI ou hemólise contínua, mesmo que leve. Os medicamentos em questão não são indicados para uso na crise hemolítica aguda. • Rituximabse • Esplenectomia • Outros imunossupressores o Medicamentos de segunda linha AHAI RESUMIDAMENTE... • Classificação: o Normo/normo o Hiperproliferativa • Tipo de hemólise: extravascular • Fisiopatologia: anticorpos contra hemácias o Quente: IgG o Frio: IgM • Clínica: aguda, taquicardia, astenia, palidez, icterícia, precórdio hiperdinâmico, cor anêmico • Diagnóstico: o Provas de hemólise positivas o Teste de COOMBS (prova autoimunidade) • Buscar causas secundárias: imunológicas, infecciosas, câncer... Geovana Sanches, TXXIV • Casos graves: alta dose de corticoide EV + imunoglobulina • Muito grave ou cor anêmico: corticoide EV e/ou imunoglobulina, seguido de transfusão • Tratamento crônico: rituximab, esplenectomia, outros imunossupressores e corticoide nas recaídas ANEMIA HEMOLÍTICA MICROANGIOPÁTICA MICROANGIOPATIA Microangiopatia (micro= pequeno; angio= vasos; patia= doença) se refere ao comprometimento da microcirculação. Há lesão endotelial com formação de trombos, os quais geram obstrução do lúmen. Durante a passagem das hemácias por esse local estreito, elas são lesadas e sofrem fragmentação, os quais são visualizados no sangue periférico como esquizócitos. Esquizócitos no ESP CAUSAS DE ANEMIA HEMOLÍTICA MICRO- ANGIOPÁTICA COM PLAQUETOPENIA O mesmo mecanismo de lesão às hemácias se dá nas plaquetas, causando plaquetopenia associada a anemia. Primárias • Púrpura trombocitopênica trombótica o Deficiência da atividade de ADAMTS13 § Adquirida ou hereditária • Síndrome hemolítico-urêmica o Induzida por Shiga toxina • Mediada por complemento o Ativação descontrolada da via alternativa do complemento § Adquirida ou hereditária • Mediada por drogas o Anticorpo mediado ou por toxicidade dose-dependente • Mediada por distúrbios na coagulação o Hereditária: mutações em genes relacionados à trombomodulina; plasminogênio; DGKE • Metabolismo Associados a outras alterações sistêmicas • Pré-eclâmpsia; Eclâmpsia, HELLP o Hipertensão severa • Hipertensão maligna o Infecções sistêmicas • Câncer disseminado o Metástase microvascular • Transplante de medula óssea ou órgãos sólidos o Coagulação intravascular disseminada PÚRPURA TROMBOCITOPÊNICA TROMBÓTICA (PTT) A PTT é uma microangiopatia com aumento da agregação plaquetária e consequente hemólise intravascular associada a microtrombose. Está diretamente associada a deficiência de metaloproteinase ADAMTS 13, a qual pode ser autoimune (maior parte dos casos) ou hereditária (óbito ainda na infância). Fisiopatologia A partir da lesão do endotélio de pequenos vasos, há exposição do colágeno subendotelial, o qual é altamente trombogênico. Assim, há formação de trombos e consequente obstrução no caminho da hemácia, provocando sua fragmentação. O ADAMTS 13 é responsável pela clivagem do fator de Von Willebrand (FVW), cuja função é aderir as plaquetas entre si e com o endotélio. Na deficiência dessa metaloproteinase, não há clivagem do VW, o qual é uma molécula muito grande. Essas grandes moléculas, então, passam a circular no sangue, promovendo uma resposta trombótica muito mais intensa que o habitual. A agregação plaquetária e microangiopatia decorrentes desse processo promovem hemólise intravascular com liberação de hemoglobina no Geovana Sanches, TXXIV meio. Vale lembrar que a hemoglobina livre contém radicais de oxigênio, os quais são tóxicos para o endotélio e promovem sua lesão. Com isso, forma-se um ciclo de agregação plaquetária, microangiopatia e lesão endotelial. Vale ressaltar que os microtrombos, além das alterações locais, podem se soltar e promover lesões à distância. Condições clínicas predisponentes à PTT • Idiopáticas o Maior parte dos casos • Gestação o Normalmente é necessária ainterrupção da gravidez devido ao quadro clínico da mãe • Infecções agudas o Urosepse o Pneumonia • Outras doenças autoiumes • Transplantes o Sobretudo de órgãos sólidos • Cânceres • Medicações Pêntade clássica A púrpura trombocitopênica trombótica é uma síndrome, ou seja, é definida através dos sintomas clássicos: • Trombocitopenia o Com as grandes moléculas de VW, há uma resposta muito maior à lesão endotelial, com formação de trombos em todo o organismo. Isso consome as plaquetas, gerando trombocitopenia • Anemia hemolítica microangiopática o Prova de hemólise positiva o COOMBS negativo o Presença de esquizócitos no ESP • Alterações neurológicas o Variam de cefaleia discreta à AVC • Comprometimento renal discreto o Microvasculatura abundante nos rins o Paciente não evolui à diálise • Febre Em geral, os pacientes apresentam todos os 5 componentes da pêntade clássica, mas um deles eventualmente pode estar ausente. Todavia, não existe PTT sem anemia hemolítica micro- angiopática. A doença é sempre aguda, não existindo evolução crônica. Mesmo com tratamento adequado, a taxa de mortalidade chega a 30%. Sintomas clínicos • Síndrome anêmica aguda o Cansaço, dispneia, taquipneia, cor anêmico, precordio hiperdinâmico (pode evoluir com sopro sistólico) • Sintomas neurológicos o Cefaleia o Confusão mental o Crises convulsivas o Déficits neurológicos focais • Pode haver petéquias ou outros sangramentos o Normalmente não há petéquias, a não ser que sejam provocadas Laboratório O diagnóstico laboratorial confirmatório de PTT é pouco acessível, sendo o diagnóstico essencialmente sindrômico. Alguns exames podem auxiliar no diagnóstico e confirmar a suspeita: • Presença de esquizócitos na periferia + Provas de hemólise positivas + Anemia+ Coombs direto negativo o Os quatro fatores associados ditam anemia hemolítica microangiopática Geovana Sanches, TXXIV • Trombocitopenia • Coagulograma: TP, TTPA e fibrinogênio normais (não adefa fatores da coagulação) o Plaquetopenia + exclusão de outros distúrbios hemorrágicos o Caso o coagulograma esteja alterado, é mais provável que o diagnóstico seja CIVD • Ureia e creatinina elevados o Comprometimento renal de leve a moderado O único exame confirmatório para a doença é identificação de ADAMTS 13 diminuída, mas sua dosagem é extremamente difícil, tendo em vista que é um componente muito fluido na circulação (há muitos resultados falso-positivos). Apesar disso, não precisamos do exame para confirmar o diagnóstico de PTT, sendo que este é sindrômico e dado pela pêntade clássica. Sangue periférico No sangue periférico, podem ser encontrados eritroblastos, caso a hemólise seja mais grave. Outros achados são a policromasia (hemácias maiores e mais basofílicas) e pontilhado basofílico. Os esquizócitos também estão presentes, mas vale ressaltar que nem toda anemia que possui esquizócito é PTT, sendo necessária a confirmação clínica. As anemias carenciais, por exemplo, também podem apresentar esquizócitos no esfregaço de sangue periférico. Tratamento Algumas vezes, a PTT apresenta quadro clínico tão intenso que não há tempo hábil para tratamento. Em outros casos, a doença pode ser refratária. O principal e, muitas vezes, o único tratamento consiste na plasmaferese, procedimento a partir do qual há remoção dos grandes multímeros de FVW pela aférese e resosição de fluidos com plasma fresco congelado (PFC). Para realizar o procedimento, é necessário implantar cateter no indivíduo e separar os componentes sanguíneos: as hemácias e as plaquetas são devolvidas e o plasma é substituído por um que possua níveis normais de ADAMTS 13 e FVW. Essa “filtração” do plasma deve ser feita até que o indivíduo para de hemolisar. Associado a plasmaferese, faz-se a imunossupressão do paciente, com doses de 1 mg/kg/dia de corticoide; eventualmente faz-se rituximab. É um tratamento anexo, pois o único tratamento capaz de salvar a vida do paciente é a plasmaferese. Não é adequado transfundir plaquetas em nenhuma hipótese, tendo em vista que isso aumentará a trombose e diminuirá ainda mais a chance de vida desse paciente. A transfusão de plasma isolado pode ser realizado caso a plasmaferese não esteja disponível. Essa transfusão deve ser uma medida temporária, até que o paciente possa ser transferido e realize a plasmaferese. O tratamento não inclui trombolíticos pois a doença cursa com microtrombose e esses medicamentos atuam apenas sobre macrotromboses. Outro fator é que há contra- indicação total desses medicamentos para níveis de plaqueta abaixo de 100.000, pois há risco de sangramento e morte do paciente. O período médio de tratamento para pacientes com PTT primária é de 2 a 3 semanas, até que o paciente volte a produzir ADAMTS 13, mas eventualmente ela pode estar relacionada a outras doenças, alterando-se as estatísticas. A PTT adquirida é sempre uma doença aguda, sendo que ou ela regride ou o paciente vem a óbito. Podem ocorrer casos recidivantes da doença, o que apresenta um prognóstico muito ruim. Resumindo PTT... • Classificação Geovana Sanches, TXXIV o Normo/normo o Hiperproliferativa • Tipo de hemólise: intravascular • Fisiopatologia: deficiência de ADAMTS 13 à circulação de multímeros ultra grades de Von Willebrand à hemólise intravascular e fragmentação de hemácias + microangiopatia • Clínica: síndrome anêmica aguda +/- sintomas neurológicos +/- sintomas hemorrágicos • Laboratório: o Provas de hemólise + esquizócitos no sangue periférico + COOMBS negativo o Insuficiência renal leve a moderada o Plaquetopenia • Diagnóstico: pêntade clássica • Tratamento: plasmaferese, corticoide, suportivo (pode fazer plasma). Não transfundir plaqueta. SÍNDROME HEMOLÍTICA-URÊMICA A SHU é uma doença decorrente da deposição de toxinas, em especial na microcirculação renal. Acomete especialmente crianças, após duas ou três semanas de um quadro infeccioso. A ocorrência em adultos não é impossível, porém rara. O paciente não cursa com quadro neurológico e pode ou não ter febre e/ou leucocitose. O quadro mais importante é de insuficiência renal, com evolução para diálise. A SHU atípica é um distúrbio do sistema de complemento, que destrói as hemácias e causa angiomicropatia difusa. SHU x PTT SHU PTT Insuficiência renal pronunciada Comprometimento renal menos pronunciado Não há quadro neurológico Quadro neurológico (cefaleia, convulsão, RNC) História de infecção prévia - E. coli produtora de Shiga toxina - Pneumonia por pneumococo produtor de neuroaminidase Associada a condições graves, doenças infecciosas ou doenças reumatológicas Pode haver leucocitose Pode ter associação com a gestação Pode haver febre Pode haver febre Pêntade clássica ANEMIAS HEMOLÍTICAS HEREDITÁRIAS As anemias hemolíticas hereditárias possuem diferentes mecanismos de hemólise entre si. São quadros crônicos que apresentam diversas agudizações prévias ou múltiplos episódios agudos. PRINCIPAIS EXEMPLOS • Síndromes falciformes • Talassemias • Deficiência de G6PD • Microesferocitose hereditária ESTUDO DA ANEMIA HEMOLÍTICA HEREDITÁRIA Os pacientes com anemias hemolíticas hereditárias normalmente apresentam manifestações clínicas além da anemia e vem com história de transfusão prévia. • Eletroforese de Hemoglobina o Utilizada para diagnóstico das hemoglobinopatias (síndrome falciforme e talassemias) • Teste do pezinho o Detecta anemia falciforme e talassemia beta • Esfregaço de sangue periférico • Teste de fragilidade osmótica o Testa a fragilidade da hemácia em ambiente hiper-osmolar • Ekatacitometria o Exame pouco disponível o Capaz de encontrar proteínas específicas na membrana do eritrócito e determinar qual o tipo de hemácia em questão • Dosagem da atividade de G6PD o Avaliaa função enzimática • Provas de falcização o Induz as hemácias a falcizarem caso haja tendência o Muito utilizado nos casos de anemia falciforme, apesar de não ser diagnóstico (eletroforese é quem confirma) DIAGNÓSTICO SINDRÔMICO NAS ANEMIAS HEMOLÍTICAS HEREDITÁRIAS Dentro das anemias hemolíticas hereditárias, há aquelas que são crônicas (oligo- sintomáticas) com episódios de agudização e as que apresentam episódios de síndrome anêmica aguda, geralmente não associados a síndrome anêmica crônica. Geovana Sanches, TXXIV Crônica • Síndromes falciformes • Talassemias Intermedia e Major o Talassemia minor quase não cursa com sintomas • Microesferocitose hereditária Aguda • Deficiência de G6PD • Microesferocitose hereditária o Há várias penetrâncias desse gene, de forma que ele pode se enquadrar no quadro crônico ou agudo HEMOGLOBINOPATIAS A hemoglobina é a molécula responsável pelo transporte de oxigênio dentro da hemácia. É formada por quatro cadeias de globina, cada uma combinada ao heme (ferro em estado ferroso que liga o oxigênio). As cadeias de globina recebem o nome com letras gregas: alfa, beta, gama e delta. Esquema da HbA1 Eletroforese de hemoglobina Normais • HbA1: 2 alfas + 2 betas o 97% das hemácias no adulto • HbA2: 2 alfas + 2 deltas o Cerca de 2% das hemácias no adulto • HbF: 2 alfas + 2 gamas o 1% das hemácias do adulto o É muito aumentada até os 6 meses § Maior afinidade pelo oxigênio, garantindo O2 ao feto. à Dica: todas as hemoglobinas normais possuem duas cadeias alfa e as outras duas seguem a ordem: beta, delta, gama. Tipos de hemoglobinopatia Alterações na cadeia de globina • HbS: defeito de cadeia beta o Anemia falciforme • HbC: defeito de cadeia beta o Assintomática • HbE: defeito de cadeia beta o Assintomática • Hemoglobinopatia B/S o Gene da talassemia beta + gene falciforme o Sintomatologia semelhante à anemia falciforme • Hemoglobinopatia S/C o Gene falciforme + HbC o Sintomatologia semelhante à anemia falciforme Diminuição ou ausência de produção • Talassemias Persistência da hemoglobina fetal • É assintomático Eletroforese de hemoglobina A Hb Bart é um tretâmero de cadeia beta, incompatível com a vida. Há morte intrautero ou até 1 mês após o nascimento. Pacientes que apresentam traço falciforme são assintomáticos. Em raros casos, considerando a melhor resposta possível no tratamento de anemia falciforme, há a última eletroforese representada. Esta também é compatível com persistência hereditária de hemoglobina fetal.
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